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Carlos do Carmo e Xicofran - Dois artistas, um Rosto | Fernando Correia

Carlos do Carmo e Xicofran Dois Artistas, Um Rosto

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por Fernando Correia

Carlos do Carmo não quis dar vida à “adormecida” festa da passagem do ano, porque não achou merecido celebrar o tempo que passava, inexoravelmente, por ele.

Partiu nessa mesma noite de festejos proibidos, de fogo de artificio guardado no baú da saudade, de abraços evitados pelos homens e mulheres de sorrisos mascarados.

Partiu como nasceu, na tranquilidade do desconhecido sem saber que o destino tinha chegado e que estava ali mesmo, naquele lugar, naquela hora, sem perceber o que se passava à sua volta, sem gritos nem lágrimas.

Partiu como quem procura, como quem anseia, como quem quer um destino espiritual, achado único naquela noite de transformação.

A notícia, inesperada e imensa, deixou lágrimas nos canteiros da sua Lisboa, menina e moça, que o Município da capital converteu em hino, como se a sua alma passasse a habitar um viveiro de flores maduras, numa varanda de bairro popular.

Dali irão nascer flores de saudade, mas também verdes do futuro que a saudade esperançosa transmite aos eleitos da vida.

Xicofran, o pintor, o artista, o homem da sensibilidade nas pontas dos dedos, viu na dimensão do reencontro o rosto de Carlos do Carmo.

Rosto meio triste, meio feliz, com rugas de calma a marcar-lhe as mágoas, mas com os lábios a abrirem-se, em amor, a fim de pronunciarem a palavra certa. E da imagem fez um quadro.

E do quadro fez a história.

E a história foi oferecida à posteridade do entendimento das pessoas.

Não é certo que os vindouros, os passantes pela vida, os errantes das páginas dos livros, os que ouvem e não perguntam porque não sentem, tenham sempre presente o homem que deu ao fado uma dimensão universal, ajudando a que lhe conferissem o estatuto de património imaterial da humanidade.

Mas é certo que os traços profundos da sua arte perpetuam o Ser Humano que nos alvores do ano de 2021 partiu em busca do seu próprio destino, talvez amargurado pela incompreensão de alguns, mas virtualmente feliz pela mensagem de paz que deixou ao Mundo.

Carlos do Caro e Xicofran deram as mãos, entrelaçaram virtudes, plasmaram sorrisos fraternos e, no meio da ternura que só os eleitos compreendem, perpetuaram – se, um ao outro, numa tela de amor que ficará para o resto de todo o sempre.

O pintor quis oferecer a sua obra à “Soberana”, para que numa futura, mas breve, redistribuição de ternura, possa ser adquirida por alguém que compreenda a necessidade de transformar o produto da venda num acto de ajuda aos que mais precisam.

Carlos do Carmo ficará feliz quando souber que isso aconteceu.

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