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Traços de Luso-brasilidade Escrita | Ígor Lopes

Jornalista, Escritor e Social Media entre Brasil e Portugal

“Sim, a construção da identidade luso-brasileira acontece diariamente e quem sai com maiores “regalias” em termos de protagonismo e força é a nossa língua portuguesa, tão bem defendida pelo seu público falante. É importante perceber que a língua portuguesa é extremamente valiosa e que este código linguístico, que conta com milhões de falantes em todo o mundo, é utilizado, trabalhado e serve de integração em países cuja língua oficial não é a mesma falada pelos lusófonos.”

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Sim. Somos lusófonos!

Falamos e comunicamos por meio de um mesmo código linguístico. Sentimos na alma o desafio de internacionalizar a língua portuguesa. Através das palavras em português, somos capazes de conjugar desejos, criar poemas, construir pontes, distinguir destinos e unir pensamentos. Pode ser ao estilo de Camões, de Pessoa, de Saramago, de Florbela Espanca ou sob o repto de Machado de Assis, de Guimarães Rosa, de Cecília Meireles, de Lima Barreto.

Com ou sem acordo ortográfico, conseguimos perceber, entender os nossos anseios. Defendemos dogmas e nos sujeitamos à evolução natural da comunicação falada, escrita. A oralidade está no seio da nossa formação.

Por ser natural do Rio de Janeiro, e por trazer no sangue as ambições de todo lusodescendente, defendo a ligação entre o país que me viu nascer, Brasil, e o chamado país de acolhimento, Portugal, onde estão as minhas raízes familiares. Abordo essa conexão Brasil-Portugal na execução da atividade jornalística, na investigação académica e nos projetos literários.

É mais do que evidente que brasileiros e portugueses mantém laços históricos inegáveis, incontornáveis. Com o passar dos anos, esses dois povos uniram-se. A afetividade tornou-se no aspeto central dessa conexão. São um só povo, rodeado de história e aptidão por sentir o que são. E a língua portuguesa viabiliza esse cenário.

Uma das formas mais bem-sucedidas para se defender e promover qualitativamente a ligação entre esses dois países acontece no campo afetivo, onde gerações procuram conexões humanas entre o seu passado e o presente da sua família. Nos dias

atuais, é necessária essa integração e é cada vez mais visível que o que esses lusodescendentes consideram existir move a razão desse grupo, ao qual chamamos “luso-brasileiro”. É caso para se dizer que existe um paradoxo intrínseco nesse sentimento íntimo que só se existe no peito de brasileiros e portugueses.

Sim, a lusofonia continua viva!

Os luso-brasileiros, que são os lusodescendentes que vivem no Brasil, interiorizaram um modo de vida próprio. A forma de pensar e de agir não é nem brasileira nem portuguesa, é, portanto, luso-brasileira. Formado por imigrantes portugueses no Brasil, naturais de Portugal, ou que obtiveram nacionalidade portuguesa, ou ainda os que mantém ligações históricas, afetivas ou familiares com Portugal, os luso-brasileiros construíram, ao logo dos anos, uma forma única de vivenciarem “as suas culturas”, que são hoje fruto dessa interação da influência dos meios. Não são nem de um lado nem do outro, são culturas e raízes luso-brasileiras.

Essa influência, que possibilitou a existência um novo padrão, chegou à gastronomia, ao desporto, às tradições familiares, à música, ao entretenimento, à cultura, ao trabalho, às universidades, ao turismo, ao meio empresarial, à diáspora. Essa troca de experiências resultou na chamada “luso-brasilidade”, que se caracterizaria pela formação de um público, ou uma população, que vive e age em torno de padrões específicos caracterizados pela junção de aspetos culturais e sociais do Brasil e de Portugal. É sobretudo um modo de vida único, empírico.

E esse traço, apesar de sensorial, e de ser ainda alvo de estudos, facilitou discussões e avanços em torno da luta contra a xenofobia, da minimização dos estereótipos de ambos os lados, da compreensão das leis migratórias, do desenvolvimento e adequação da diplomacia entre as duas nações, na promoção comercial da língua portuguesa, na valorização e defesa do bem-comum. “Não somos de lá, nem de cá”!

Os luso-brasileiros, e, consequentemente, a luso-brasilidade, assumem traços muito próprios. Deixaram de ser apenas a comunidade portuguesa no Brasil. Estão integrados e interagem como se o oceano Atlântico fosse apenas uma pequena parcela de fronteira natural que os separa. Há aí uma clara valorização dos lusodescentes na América do Sul, e por que não no mundo?

Sim, a construção da identidade luso-brasileira acontece diariamente e quem sai com maiores “regalias” em termos de protagonismo e força é a nossa língua portuguesa, tão bem defendida pelo seu público falante. É importante perceber que a língua portuguesa é extremamente valiosa e que este código linguístico, que conta com milhões de falantes em todo o mundo, é utilizado, trabalhado e serve de integração em países cuja língua oficial não é a mesma falada pelos lusófonos.

Ah, sim. Somos lusófonos!

por Marco Silva

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