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A Liberdade Começa por Ser Zero! | António Pinto Basto

Começo por tentar desmistificar uma coisa que, repetidamente se diz, à laia daquelas mentiras que tanto se repetem que até parece que se tornam verdades. Refiro-me àquela enorme falácia de que “Todos nascemos livres!”. Que total mentira! Nós nem escolhemos nascer! Não sabemos quando, como ou onde nascemos. Nem sequer sabemos o que é isso de nascer. Não temos liberdade para escolher os nossos pais, escolher a nossa nacionalidade, a primeira língua que aprendemos, o menu das nossas refeições, etc., etc. A liberdade começa por ser zero! À medida que se vai formando a nossa consciência, aí sim a liberdade vai começando a despontar em nós e, tal como tantos outros conceitos, vai-se desenvolvendo. Nascemos envolvidos nessa tal jaula e só começamos a ser livres quando descobrimos que a jaula é feita de pensamentos. E é claro que esse conceito de liberdade não se desenvolve igualmente para todas as pessoas. O conceito de liberdade não é fixo, não é objetivo, não é determinado por ninguém, não é imposto o que, neste caso, estaria desde logo em total contradição. Portanto, parece-me que resulta a liberdade ser qualquer coisa pessoal, ligada à sensibilidade. Pode, até, acontecer, isto como exemplo, que alguém se sinta mais feliz, sob as ordens de alguém, do que numa total liberdade tal como mais comummente a consideramos. Gandhi disse mesmo que existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência. E a liberdade deve estar fundamentalmente associada à felicidade. Li, algures, que a maior aspiração do ser humano é a liberdade, seguida de felicidade. E poderei citar o exemplo de um monge que usou a sua liberdade para abdicar de todos os prazeres do corpo e do espírito, para abraçar somente a Deus. E será que lhe falta algo para ser feliz?

A liberdade que não tenha um compromisso com a verdade e com a responsabilidade torna-se libertinagem. Fazer tudo o que se quer não é ser livre, é ser louco!

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Tal como tantas outras coisas, a liberdade parece, então, que tem limites. Ao optarmos por um direito - temos essa liberdade - há que ver qual é o dever a que ele nos obriga. Uso, propositadamente, o termo “obrigar”, por parecer que ele é contra a liberdade. Mas não é. Está associado. Ao usarmos a nossa liberdade estamos obrigados a usá-la devidamente e a cumprir as determinações que ela nos implicar. Manuel de Oliveira disse: “Hoje, a liberdade é tida como um direito absoluto. Mas não há liberdade absoluta. A liberdade não é, sequer, um direito. É, bem mais, um dever. Um dever que nos obriga a um respeito pelo próximo!”

E podemos recusar liberdades, também. Como disse Vergílio Ferreira: “Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua, não passa pelo decreto arbitrário dos outros.”

O que desejo para mim e para todos os meus queridos irmãos é que a nossa liberdade nos saiba fazer afastar de tudo o que nos faz mal.

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