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Capítulo Sétimo

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Prólogo

Prólogo

Capítulo Sétimo:

“Se Violão, Bebida e Serenata; e Belo Luar de Prata, São Companhias Para Reprovar”

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aquela tépida tarde de sexta feira, do dia 18 de

Nmaio, em que, junto aos colegas acadêmicos João Vitor, Jenifer Alves e Felipe Dias estive na Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, visitamos o Museu da Imagem e Som, MIS, antes de realizar a entrevista com a jornalista Joseane Fátima Gaboardi, gestora de eventos da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Na recepção, identificamo-nos. Expliquei o motivo de nossa visita e questionei se havia alguém disponível para conceder uma entrevista. — Então. É que nesses casos, era bom se tivessem marcado. —, explicou a recepcionista, muito atenciosa. — Pois é. Deveríamos. É que lembrei das vezes que vim aqui com o pessoal da UEMS e imaginei que iria ter alguém. — Ah, você conhece a Marinete? — Não. Quem é? — Ela é a coordenadora. —, explicou-me. Perguntei se seria possível falar com ela. Entrementes, descobrimos que Marinete Pinheiro e a maioria das possíveis fontes estavam em viagem para Festival da Cultura do Estado, em Corumbá. Agradeci a moça. Enquanto pensávamos em como iríamos encontrar uma nova fonte, adentramos no salão onde encontramos a Exposição Permanente Mulheres Protagonistas da Nossa História, com fotografias de 32 personalidades femininas do Estado. Assim, ficamos a contemplar as mulheres de nossa pesquisa de entremeio a tantas outras que foram importantes para Mato Grosso do Sul. De roldão, eu deixava-me quedar em intermitentes memórias de quando o curso de Artes Cênicas, Teatro e Dança da UEMS tomava aquele espaço na recepção dos calouros, durante as noites de eventos acadêmicos, todos entremeados

de arte, de poesia, de pequenos dramas e danças apresentadas pelos veteranos. Em especial, fui arrebatado pela reminiscência de uma das noites em que participei junto ao Erico Bispo, e a Luciana Slata, numa performance à guisa das danças macabras do período medieval onde. Sim. Ali. Naquela sala fechada pela porta alada. Ali onde a penumbra inequívoca de horrores transudava em todo o ambiente. Onde as sombras de nossos vultos projetados nas paredes sob a vergasta da luz de velas a pilha esperavam a mole que formava uma compacta plateia em roda da dança letal, ensandecida e torturante de Lady Macbeth. — “Aqui. Ainda há uma mancha de sangue!... Saí, mancha, maldita! Saí. Estou mandando! ” —, recitava sob a máscara negra que cobria totalmente o meu rosto. Postado na extremidade lateral oposta à minha a minha, também com o rosto coberto pela máscara negra, Erico tocava um berimbau, executando uma percussão de cortejo fúnebre causando alguns suspiros de tensão dos espectadores parados em roda de nós. — “Oh! Essas mãozinhas nunca ficarão limpas? —, eu prosseguia com o texto, enquanto. Verdade. No centro da roda formada pelo público, Luciana, de vestido vermelho dançava dramaticamente as angustia da Lady assassina. Produzindo, sob a luz tíbia das velas que bruxuleavam no chão, outros espectros contorcidos, como agonizantes figuras incógnitas, outras personagens que executavam a dança da morte. A morte. Sim. A morte terrível que se abalara sobre todo o reino tiranizado por Macbeth e sua esposa, personagens imortalizadas por Shakespeare que. Isso! Só podem receber o castigo de seus crimes genocidas pela ação dos mortos. Almas de suas vítimas que cobram a vida perdida. Tantas vidas! Mais do que as que se perderam nas mãos daqueles que poderiam evitar o massacre da pandemia do novo coronavírus? Não sei. Mas de todas as experiências artísticas, foi nessa memória que encontrei simbiose com as questões emergidas na CPI da pandemia tão noticiada neste instante em que reporto, neste capitulo, as consequências da pandemia durante cerca de um ano e cinco meses de restrições, dificuldades e lutas dos trabalhadores da cultua artística de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Os impactos da pandemia no setor cultural de Mato Grosso do Sul

Com o surgimento da pandemia no Brasil e a necessidade de medidas urgentes para impedir o aceleramento do contágio da população, o setor cultural artístico foi duramente atingido. Em 20 de março de 2020, Marcos Marcello Trad, prefeito de Campo Grande, lançou o Decreto Nº 14.209 suspendendo todos os serviços não essenciais públicos e privados na cidade por 15 dias. Era o primeiro de uma série de outros decretos com medidas restritivas que durariam mais de um ano. Categorizados como serviços não essenciais, o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais, o funcionamento de casas noturnas e demais localidades voltadas à realização de festas, eventos e recepções foram abaladas desde o primeiro decreto. Em decorrência, nas artes, os trabalhadores de áreas que, pela natureza, se manifestam em contato direto com o público, como a dança, a música e o teatro, foram alguns dos mais afetados. A ameaça de extinção dos trabalhos, dos grupos e casas de espetáculo por falta de renda, desencadeou uma comoção deste setor à espera de ações do poder público para a retomada das atividades. Assim, estabeleceu-se uma história de luta, solidariedade e diálogo dos artistas sul-mato-grossenses no enfrentamento à pandemia. História que pude acompanhar durante o Estágio Obrigatório junto a Assessoria de Imprensa da Fundação Estadual de Cultura, na disciplina de Ciberjornalismo II, e na elaboração deste livro, produto da disciplina de Projeto Experimental II, todos parte do Curso de Jornalismo da UFMS.

Música

Animadores de bailes, festas e bares, os músicos locais foram duramente atingidos pelas consequências das restrições. Para estes artistas, os decretos que alteravam a cada momento o fechamento e as reduções no funcionamento comercial das casas noturnas foram o pior momento da crise trazida pelo novo coronavírus. Em entrevista para esse livro, o acadêmico do penúltimo semestre do Curso de Música pela Rede de Educação da Congregação dos Missionários Claretianos, Willian Costa, que há 15 anos atua no cenário musical, relata algumas dessas dificuldades:

— Seguinte, esse fechamento foi terrível para todos aqueles que vivem da cultura, da música, etc. Conheci músicos que só não passaram fome porque tiveram apoio da família, mas a situação ficou extremamente ruim, pois o músico que vive de tocar na noite, em bares, eventos, etc., ficou sem ter de onde tirar o seu sustento. O que notamos agora é a categoria correndo atrás do prejuízo, tentando fechar o máximo de eventos possíveis para tentar reequilibrar as finanças —, conta o músico. Guitarrista e violonista, Willian Costa, que toca em algumas bandas e acompanha alguns artistas, ainda explica que a mobilização dos artistas musicais foi fundamental no enfretamento da crise: — Existe a união dos músicos, através do sr. Béko Santanegra, que é o presidente do SIMATEC/MS (Sindicato dos Músicos, Autores e Técnicos de Mato Grosso do Sul) e houve, durante todo o período da pandemia um auxílio por parte do SIMATEC aos artistas cadastrados na campanha. Houveram doações de cestas básicas; e, conforme relatado pelo próprio presidente Béko, até ajudar com valores para custos e despesas com energia, água, medicamentos e locomoção dos artistas cadastrados na campanha. —, informa Willian Costa. Durante o Laboratório de Ciberjornalismo II, ao lado dos companheiros acadêmicos Letícia Monteiro e Gustavo Bonotto, entrevistamos profissionais da área do teatro, dança e música, entre eles o músico aquidauanense Cris Sanfona, presidente da União dos Músicos de Mato Grosso do Sul, que também relatou o drama dos artistas locais: — Pela falta de trabalho, muitos colegas de profissão tiveram depressão, porque ficaram sabendo de notícia ruim, de gente próxima morrendo e não podendo trabalhar. O presente tá de um jeito e a gente não consegue ver o amanhã —, afirma Cris Sanfona. Cantora, bailarina e coreógrafa, Regina Bombom passou a usar o carro que transportava sua equipe para trabalhar desde o lockdown como motorista de Uber Pet. Para conseguir sobreviver financeiramente, a dançarina também começou a vender bombons. Para a artista, a crise dos profissionais da música está diretamente relacionada ao fechamento dos estabelecimentos de entretenimento ao vivo: — Eu fui atingida diretamente porque as casas que trabalho foram afetadas diretamente pela pandemia —, afirma.

Segundo a artista, mesmo para aqueles que ainda arranjam algum trabalho, há dificuldades econômicas devido às restrições, como a “prostituição” do setor musical, em razão da limitação do horário para o funcionamento do comércio. — O horário reduzido para as casas noturnas piorou o cachê dos artistas, então, tem que aceitar tocar por menos por causa da casa, uma situação muito crítica —, avalia a artista. Sem trabalho, os músicos — como outros setores da arte — precisaram recorrer ao poder público, momento em que os companheiros e a União dos Músicos conseguiram viabilizar alguns projetos de ajuda. No início, a entidade só pôde receber cestas básicas, mas, conforme relatou o presidente da associação, Cris Sanfona em entrevista realizada em meados de julho de 2021, no decorrer do processo foi aprovada a captação de recursos financeiros por meio de doações. — Aqui em Campo Grande temos aproximadamente 600 artistas cadastrados e no Estado 3000. Das ações realizadas conseguimos 6000 cestas básicas que puderam atender várias cidades, inclusive do interior —, declarou o músico. Cris Sanfona ainda esclareceu que as doações recebidas pela associação vieram principalmente dos artistas de renome, como Michel Teló. Medidas que não solucionavam de forma definitiva os problemas trazidos pelo isolamento contra o novo coronavírus, mas que amenizavam o sofrimento enquanto o poder público estruturava suas ações de emergência para o setor.

Dança

Para a dança, as consequências do isolamento também chegaram de surpresa, conforme relatou em entrevista para este livro o pesquisador, intérprete e criador, Marcos Flávio de Mattos da Cia Dançurbana: — Num dia antes a Dançurbana tinha realizado uma temporada com um público presencial. No dia seguinte, na segunda-feira, a gente já estava em lockdown. A partir daí a gente só foi se encontrar presencialmente este ano. Em agosto de dois mil e vinte e um, julho-agosto, se eu não estou enganado. Segundo o artista, o momento pediu adaptação, estudos e a necessidade de recorrer as tecnologias de comunicação: — Para nós, eu acho que foi um momento de aprendi-

zado para todo mundo. Para o Dançurbana, foi esse momento de pesquisar, de se aprofundar mais, de se reinventar e foi isso o que a gente fez durante esse período. Primeiro para pensar o coletivo, a força do coletivo. Porque acho que é uma característica do próprio Dançurbana. E depois, também, para a gente ter de força, para poder continuar. A gente se ajudar enquanto grupo que trabalha junto há muito tempo. Então acho que uma coisa potencializou a outra. Foi dessa maneira que o coletivo do qual eu faço parte se reinventou e buscou outras maneiras de continuar produzindo, mesmo nesse período tão turbulento que foi a pandemia. Que está sendo, ela só está mais amena. Mas acho que a dificuldade foi a falta de trabalho, o recurso para a sobrevivência. Então cada um tentou sobreviver da maneira que pôde, do jeito que pode, com ajudas. E acho que essa foi a maior dificuldade.

Teatro: O Espetáculo Pelas Redes Sociais

Outra atividade artística essencialmente presencial, os grupos de teatro tiveram de lidar com um cenário de caos e indecisão diante do isolamento imposto contra o avanço do novo coronavírus. — Houve suspensão de atividades, pois tudo parou e conosco não foi diferente —, afirma o ator e diretor do Teatral Grupo de Risco, Yago Garcia. À frente da Companhia de Artes Rob Drown, Erico Bispo conta que todas as atividades presenciais foram imediatamente suspensas, com os membros adotando as medidas de isolamento. Para o ator, o momento exigiu adaptação. — Nesse período mantivemos nossas ações online apenas, tanto ensaios e pesquisas, quanto oficinas abertas ao público e apresentações via videoconferência no YouTube ou Instagram. Ainda sob o impacto inicial das restrições, as companhias encontraram nas mídias sociais um escape para manter alguns trabalhos. Segundo Erico, houve um maior entendimento das plataformas de videoconferência por parte de coletivos artísticos que podem ser utilizados em futuros projetos. Nesse ponto, o teatro e a dança parecem dividir a mesma opinião. — Por conta do isolamento social, do não contato físico.

Da não relação presencial. Trabalhamos muito no modo online, ao vivo. Então, durante quase praticamente um ano e sete meses, a gente realizou esse trabalho. Durante a pandemia, nos primeiros meses, por exemplo, logo quando a gente entrou em lockdown —, relata o dançarino e coreografo do Dançurbana, Marcos Mattos. Professora da Licenciatura em Teatro no Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, UNEB, Senhor do Bonfim, Karina de Faria faz alguns apontamentos sobre as artes no período de pandemia em seu artigo Arte Pós-Pandemia: Novas Configurações na Relação Entre Público e Artistas. De acordo com a professora, a pandemia resultou em maior destaque para as artes que buscaram continuidade de seus trabalhos nas mídias digitais. “Não à toa, no Brasil, o consumo de conteúdos artísticos, via plataformas digitais, cresceu significativamente já no primeiro mês de distanciamento social”. Para o dançarino Marcos Mattos, a continuidade das atividades da Cia Dançurbana, só pôde ser realizada por meio da comunicação digital: — Em todos esses meses trabalhamos no modo online, ao vivo, por videochamadas, realizando os projetos. Nossos espetáculos foram, também, readaptados para o modo online, ao vivo. Porque a gente não queria que eles fossem capturados, ou fosse um registro do espetáculo, mas que houvesse um diálogo maior entre a dança e o audiovisual. Segundo a professora Karina de Faria, os grupos encontraram nessas ferramentas, novas formas de trabalho como no caso de estudos teóricos e práticos de maneira online. “É de se destacar, neste contexto, o fenômeno das lives, que tomaram de assalto o cotidiano das redes sociais e vem marcando o consumo de conteúdos artísticos, bem como o acesso a importantes discussões filosóficas e políticas”. Foi precisamente o caminho que seguiu a Companhia de Artes Rob Drown em 2020: — Mantivemos uma sequência de lives no perfil da companhia no Instagram, o Bate papo sobre cultura popular brasileira, onde conversamos com Mestres, Mestras, Brincantes e grupos que trabalham e vivem a cultura popular. Participamos de alguns festivais online tanto com lives, como enviando vídeos pré-gravados, além de manter nossos estudos internos com oficinas, e estudos teóricos em forma de vídeoconferência —, explica Erico Bispo.

Outra avaliação da doutora em Artes Cênicas, Karina de

Faria, é que as mídias sociais no contexto da pandemia, abriram caminho para os artistas menos conhecidos ampliar seu alcance de público. “Artistas de menor visibilidade que passam a encontrar instrumentos que lhes possibilitam uma maior projeção, capaz de, em certa medida, reconfigurar e ampliar o mapa das atrações e nomes que se apresentam nos cenários locais e nacional”. Mas, se por um lado as redes sociais são vistas por alguns como fontes alternativas para manter a agenda de espetáculos artísticos, por outro, essa ferramenta é um tabu quando se trata de atividade home office: — Em se tratando de teatro, somos um grupo bem tradicional, a maioria dos nossos espetáculos sugere rua, ou espaços alternativos, não pensávamos em ocupar por agora as mídias sociais ou algo assim, nem equipados estávamos pra isso, além do querer do grupo que realmente se interessa pelo teatro mesmo, esse que é olho no olho, esse que dá a cara a tapa, que vai até as comunidades e sente o calor, os odores, e a pele do junto com a batida do coração e a retina que hora diminui e hora se expande pra enxergar o espetáculo —, relata Yago Garcia. Na opinião de Erico Bispo, entretanto, o momento era de inovar: — Com o impedimento por força maior, cabe talvez a revisão de alguns conceitos pré-estabelecidos, uma descoberta de como as redes sociais, as transmissões de espetáculos e oficina nesse lugar não físico habitado por artistas e público pode vir a ser um propagador e um catalisador dessa energia que mantém a cena viva —, defende. Para Yago Garcia, é preciso não perder de vista as características do espetáculo teatral, segundo as quais, a peça desenrola-se sempre no presente. O ator ainda revela que tem necessidade de vivenciar esse fazer artístico que se desenrola diante e com participação do público: — Por mim, voltaria ao teatro corpo a corpo. Não sou de televisão ou mídias sociais. Cada vez eu quero mais fazer o teatro tradicional, sabe? E quando eu falo tradicional, é nos moldes, assim. Eu faço, e o público está ali presente, me vendo. Eu acho que cada arte tem a sua linguagem. E o teatro é essa coisa sanguínea. É corpo a corpo —, justifica. Embora de olho em novos horizontes, Erico Bispo não discorda:

— Claro que nas artes cênicas nada substitui o contato, o dividir o mesmo espaço, a troca física. Mas são possibilidades que se abrem.

Dificuldades

Utilizadas, inicialmente, com o objetivo de divulgar e registrar seus trabalhos, as mídias sociais das companhias e dos artistas sul-mato-grossenses têm sido uma ferramenta de sobrevivência e solidariedade nesse período. Por falta de recursos para o aluguel, água e luz, houveram grupos que perderam o seu espaço. Segundo a artista Fernanda Kunzler, que também integra o Teatral Grupo de Risco, o teatro foi ainda mais afetado: — Todos os outros setores de alguma forma deram continuidade ao trabalho, nós, mais especificamente do teatro, precisamos parar definitivamente, pois temos contato direto com o público —, justifica. A situação mobilizou membros da classe artística. Uma rede de solidariedade se estabeleceu com companhias teatrais cedendo espaço para o armazenamento de materiais além da arrecadação de cestas básicas para aqueles que tiravam sua renda exclusivamente da arte. — Estamos utilizando (as redes sociais) com ações emergenciais como campanha de vaquinha e bazar em prol do espaço —, afirma o artista cênico Leonardo de Castro, do grupo Circo do Mato, que em 2020 lançou, em sua página, a ação Precisamos do Nosso Respeitável Público. Outra companhia que usou as redes, foi o tradicional Teatral Grupo de Risco, que em 2021 completa 33 anos. — As ações que criamos foi para manutenção do espaço, como rifas e vaquinhas virtuais. O TGR, como em outros momentos, não fugiu à luta! Cooperamos como podemos, emprestamos nosso espaço para armazenamento e distribuição de cestas para artistas, ou levamos cestas doadas para artistas que não podiam sair de casa... —, conta o ator Yago Garcia, revelando o viés solidário entre as companhias. Em setembro de 2020, enquanto as ações solidárias eram realizadas, Fernanda Kunzler esperava uma queda de infectados pelo novo coronavírus que permitisse a retomada de ações de incentivo à cultura:

— Acreditamos que a gestão pública retome os investimentos na política pública para cultura e que se efetive a legislação em vigor de nossos marcos regulatórios (planos de cultura municipal, estadual e nacional). Com isso, poderemos pensar em projetos mais amplos para a sociedade — declarou a atriz.

Poder Público

Entre os meses de maio e junho de 2020, o Conselho dos Artistas se inteirou de que muitos iriam ficar sem trabalho devido ao fechamento imposto para deter o contágio do coronavírus. Sem previsão dos repasses públicos municipais e estaduais dos projetos aprovados, os representantes recorreram à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Sectur, de Campo Grande, para obter cestas básicas. — Nossa ação durante a pandemia foi essa. Quando chegou em meados de maio e junho que vimos que iriam ficar muitos sem trabalho e as coisas começaram todas a fechar. Tínhamos a previsão dos repasses dos recursos no município e não tinha ainda a divulgação do Estado dos projetos aprovados. Nós solicitamos, via Sectur, um auxílio de cestas básicas, pelo menos. E aí a começamos a fazer, cestas básicas para o teatro. Os seus colegiados ou os fóruns, começaram a articular isso também com as suas instituições representantes, a música fez isso, vimos uma movimentação. Mas, as áreas começaram a movimentar, no teatro conseguimos um auxílio de cesta básica com a Sectur. —, relata Fernanda Kunzler. Segundo o diretor-presidente da Fundação de Cultura do Estado, Gustavo Castello Cegonha, num primeiro momento a instituição também se viu impedida de agir devido às imposições de medidas de isolamento: — A Fundação de Cultura do Estado de Mato Grosso do Sul é uma pasta que lida com o trabalhador da cultura que foi a classe mais afetada durante a pandemia. São quase 16 meses que os trabalhadores ficaram sem poder trabalhar. Então, nós aqui da Fundação, ao mesmo tempo que tínhamos de fazer alguma coisa pela classe artística, também ficamos de mãos atadas. Porque nós não podíamos fazer eventos, causar aglomerações. Os Festivais de Inverno de Bonito, os Festivais América do Sul de Corumbá, foram todos prejudicados em função da pandemia —, justifica Cegonha.

Passado o primeiro susto, a Fundação de Cultura do Estado organizou debates com os segmentos artísticos, técnicos da instituição junto aos colegiados e setoriais artísticos, os chamados Grupos de Trabalhos, em busca de medidas que atenuassem os efeitos do isolamento social. — Na pandemia, a Fundação de Cultura estabeleceu uma linha de diálogo muito ampla com os colegiados, com o Fórum Estadual de Cultura e também com o Conselho Estadual de Cultura ao qual nós temos reuniões periódicas mensais —, afirma Gustavo Cegonha. Com integrantes indicados pelo Fórum Estadual de Cultura, os Grupos de Trabalhos se organizaram no início do avanço da covid-19 com a tarefa de pensar medidas emergenciais para o enfrentamento à crise decorrente da pandemia junto à Fundação de Cultura do Estado. Participante dos conselhos de teatro local, Fernanda Kunzler explica que os Grupos de Teatro formados dentro do Conselho dos Artistas locais iniciaram um diálogo junto ao Governo do Estado por meio da Fundação de Cultura em busca de medidas que antecedem as demandas do setor no período de pandemia. Durante a entrevista para a disciplina de Laboratório de Ciberjornalismo II em meados de julho de 2021, a atriz recordou o período de conversa com o setor público. — Sociedade civil e gestão pública, assim se deu os diálogos, nessas demandas, na cobrança, na construção, vendo como outros Estados estavam se pautando e se reconstruindo e formulando as leis, e reformulando e vendo possibilidades de dar assistência a esses trabalhadores das várias áreas das artes. Então isso ocupou todo o ano passado, de maio até o final do ano, as comissões todas, os fóruns, os conselhos, todos ficaram assim. Chegamos a fazer manifestação em frente à Fundação de Cultura, porque tinha que ter sido pago também um edital, chegamos a fazer manifestação também na Sectur. — A partir das propostas apresentadas, serão alinhadas de acordo com o valor previsto. É certo que nem tudo o que foi proposto pelos segmentos será atendido porque não há recurso suficiente para tudo. No momento estamos verificando o que poderá ser executado para elaborar os editais que passarão para a procuradoria jurídica da Fundação de Cultura e Conselho de Cultura —, explicou a gerente de difusão cultural da Fundação de Cultura do Estado, Soraia Ferreira.

Lei Aldir Blanc

Havia uma preocupação em torno da ausência de uma Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, específica para os trabalhadores do setor cultural artístico que garantisse recursos para a classe durante a pandemia. Conjunto das leis do trabalho que regulamentam as relações entre os trabalhadores e as empresas, seja no meio rural ou urbano, é a CLT que, entre outras coisas, determina resoluções como jornada de trabalho, horas extras, férias, FGTS etc... Portanto, nesse período começou uma mobilização nacional por uma medida que atendesse aos trabalhadores da cultura, conforme recorda Fernanda Kunzler: — Nesse mesmo processo, começou uma conversa. Aconteceu o falecimento do Aldir Blanc, e começou, no Congresso Nacional, uma conversa de se ver uma forma emergencial para dar assistência aos trabalhadores dessa área, porque era a única área informal que não tem CLT, por exemplo. Então não estamos assegurados por nenhuma Lei que pudesse fazer um salário emergencial como aconteceram com vários outros trabalhadores de outras áreas, setores que precisaram parar nesse período também. E aí iniciamos essas reuniões especificas, montamos comissões para tratar especificamente da Lei Aldir Blanc. Ver como ela poderia ser realizada na forma mais emergencial possível (que acabou saindo só no final de 2020, e esse ano de 2021), e também para debater a questão da manutenção dos espaços para não se perder —, relata a atriz. Aguardado desde o início da pandemia, o auxilio emergencial estipulado pela Lei 14.017 visava atender a trabalhadores da área de cultura afetados pela crise decorrente do novo coronavírus. Aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, em 29 de junho de 2020, esta lei foi batizada de Aldir Blanc, como homenagem ao compositor da Música Popular Brasileira, falecido em consequência da Covid-19 em 4 de maio de 2020 aos 73 anos. Segundo o diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Gustavo Cegonha, o Estado foi o primeiro contemplado com os recursos dessa Lei: — Nós tivemos também os recursos da Lei Aldir Blanc, que foram destinados 3 bilhões para o Brasil, aonde Mato Grosso do Sul, a Fundação de Cultura, recebeu 20 milhões e 500 mil reais e, mais 20 milhões e 500 mil reais para ser distribuídos para os municípios de forma proporcional. Não obstante, para alguns artistas do Estado, a demora na tomada das ações colaborou para o encerramento das ativi-

dades.

— Embora as saídas emergenciais para cultura não se deram de forma tão “emergencial” diante da necessidade, temos sim a expectativa que a Lei Aldir Blanc seja aplicada democraticamente aos trabalhadores e às trabalhadoras da cultura e aos espaços culturais —, declarou a atriz Fernanda Kunzler em setembro de 2020. Nos meses seguintes, a Fundação de Cultura do Estado começou a divulgar pelos canais e mídias sociais da instituição, a Lei Aldir Blanc estabelecida com alguns requisitos. Para receber o benefício, os trabalhadores deveriam estar inscritos em algum cadastro de cultura municipal, estadual ou federal, ter atuação profissional na área artística ou cultural nos últimos 24 meses e obedecer a outros critérios referentes ao auxílio emergencial de R$ 600,00, como ter renda familiar de até 3 salários mínimos ou R$ 522,50 por pessoa. A notícia foi bem recebida por companhias como o Teatral Grupo de Risco: — Estamos nos articulando para ter acesso aos direitos da nova Lei Aldir Blanc —, relatou Leonardo de Castro, também, em setembro de 2020. Entrevistado em julho de 2021, Erico Bispo revelou que optou por captar recursos com um projeto de música. Para ele, a ação amenizou as dificuldades dos trabalhadores menos conhecidos da arte. — Acho que abriu possibilidades e deu visibilidade para muitos artistas que até então não tinham espaço em editais maiores e festivais. Além, claro, de cumprir a função de auxílio no momento da pandemia. De acordo com a Lei Aldir Blanc, espaços vinculados a fundações, institutos ou instituições de empresas, incluindo casas ou espetáculos de teatro com financiamento exclusivo de grupos empresariais, assim como aqueles geridos pelo sistema “S” — SENAI, SESC e SEBRAE —, também não teriam direito ao auxílio. Além disso, o profissional da cultura e da arte, não poderia ter recebido o auxílio emergencial, nem ter emprego formal, nem receber benefício previdenciário ou assistencial, exceto o bolsa família, e ainda não ter nome restrito. Com 25 anos de carreira, a cantora, bailarina e coreógrafa Regina Bombom diz que nunca tinha passado por um momento tão delicado por não atender ao critério da Lei Aldir Blanc, ao dever o IPVA de seu veículo e ter o nome restrito.

— Um valor irrisório de R$500,00 ou R$600,00 e muita burocracia para receber esse dinheiro, que nem paga o IPVA do meu carro que é R$1200,00. Se eu fizer um levantamento, de 50 artistas, dois conseguiram pegar o dinheiro para ajudar. Em dezembro de 2020, o setor cultural e artístico do Estado ainda teve de enfrentar um novo problema com os recursos da Lei Aldir Blanc. Findava o prazo de distribuição dos recursos, a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul deveria devolver ao governo federal os valores não movimentados. — Nós conseguimos executar apenas 20% do recurso da Lei em 2020, porque foi uma Lei que foi construída de uma forma muito apertada, com pouco prazo para ser executada. Nós tivemos que seguir os prazos da Lei 8666, que é a Lei de licitações e contratos públicos —, lembra Gustavo Cegonha. Para a diretora e atriz do Teatral Grupo de Risco, Fernanda Kunzler, os atrasos na liberação dos editais e na implementação dos recursos da Aldir Blanc, foram a gota d’água para os trabalhadores da área: — Então, assim, aconteceu durante esse tempo de pandemia a gente ainda teve que fazer manifestação. Com todos os cuidados, mas tivemos que fazer porque senão as coisas não andam, não caminham, tivemos que fazer um enfrentamento muito grande na questão da devolução do recurso porque a própria gestão pública não sabia como lidar com o recurso aqui. Não sabia ir em qual fonte, as coisas mais burocráticas de repasse dos recursos, eles não sabiam fazer. Então eles queriam devolver muito dinheiro do tesouro e tivemos de buscar advogados aliados, estudar a Lei para poder avisar a gestão pública que ela não precisava devolver, entendeu? Então foi bastante trabalhoso esse processo, foi assim que se deu durante a pandemia de forma bem resumida —, descreve a atriz. Segundo o diretor-presidente da Fundação de Cultura do Estado, a situação foi contornada por meio de diálogo entre a instituição, que pediu extensão do prazo para a aplicação dos recursos junto ao governo federal: — O governo federal abril possibilidade de executar os outros restantes do recurso em 2021 e nós conseguimos, ainda contemplando aqueles mesmos trabalhadores de 2020 para entregar o seu produto de forma virtual e serem pagos a cada trabalhador R$16.860,00. O auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc, entretanto, não

foi o único que esteve disponível. Houveram também outras iniciativas pelo governo do Estado e da capital. De acordo com a atriz Fernanda Kunzler, durante os debates e capitalização dos recursos destinados à cultura pelo poder público, os Grupos de Trabalho tiveram o cuidado de setorizar cada ação: — Então foram feitas por meio do conselho do fórum de cultura e dos colegiados, comissões pertinentes a cada demanda. Se era da Lei Aldir Blanc, era uma demanda, se era os recursos emergenciais, outra.

Além da Aldir Blanc. Outros Recursos.

Num domingo, dia 6 de setembro de 2020, a Secretaria de Saúde do Estado, publicou os últimos números do contágio pelo novo coronavírus em Mato Grosso do Sul. De acordo com o Boletim, naquela época, o total de casos confirmados era de 53.491 infectados. Nas últimas 24 horas haviam sido registrados 161 novos casos de Covid-19 e a taxa de casos positivos testados foi de 23%. Treze pessoas haviam perdido a vida em decorrência do contágio. E, finalmente, embora em ascensão, as infecções pelo novo coronavírus haviam apresentado uma leve queda. Assim, era justificável que, naquele mesmo mês, a atriz e diretora do Teatral Grupo de Risco, Fernanda Kunzler, revelasse sua esperança de que junto à liberação dos auxílios pelo poder público, as tomadas de medidas de biossegurança permitissem a gradativa abertura para a retomada dos espetáculos, de modo que o Teatral Grupo de Risco se encontrava em ritmo de ensaio para atender ao Programa de Fomento ao Teatro, Fomteatro, lançado em outubro de 2019, pela Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande, SecTur. — Nós, estamos neste momento na pré-produção de um projeto teatral intitulado Para Além do Centro: 31 anos de Risco —, relatou. Aprovada no edital Fonteatro, em 2019, o projeto do Teatral Grupo de Risco previa apresentações de teatro gratuitas em nove bairros periféricos de Campo Grande. Junto as apresentações, o grupo também daria uma oficina aberta e realizaria a remontagem de um espetáculo. Os recursos, não obstante, só foram disponibilizados em 2020. — Acreditávamos que, com os passos cumulativos de 2019, pudéssemos organizar estruturalmente nossa produção e

manutenção durante até seis meses, que é o tempo mínimo da execução de um projeto —, contou Fernanda Kunzler. Segundo a secretária adjunta da Sectur, Clarice Benites, a pasta foi impedida de contratar artistas em virtude do Decreto nº14231, de 3 de abril de 2020, publicado e sancionada pelo prefeito Marcos Trad. As ações realizadas durante o período de março até dezembro de 2020 aconteceram em virtude das parcerias entre o setor público e privado. — Tivemos as lives em que o artista era remunerado com R$1000,00. A Lei Aldir Blanc, em que o município foi contemplado com um montante, inclusive, retiramos as declarações para que todos pudessem se inscrever, mesmo negativo. Muitos se inscreveram e receberam os valores que puderam dar uma amenizada nesta situação terrível —, declarou Clarice. Entrevistada no segundo semestre de 2019 durante a produção do radiodocumentário no Laboratório de Radiojornalismo II, a gerente dos Fundos de Investimento da Fundação Estadual de Cultura Solimar Alves falou sobre a implementação da Lei 5060: — Hoje eu estou como gerente do FIC, que é o Fundo de Investimentos Culturais do Estado. Estamos finalizando a regulamentação do capítulo da Lei 5060 que regulamenta essa parte do FIC, para que possamos liberar o edital ainda esse ano. E que possa esse edital vir a contribuir para que a comunidade do nosso Estado possa estar ampliando o seu fazer cultural e também colocando, divulgando, indo para fora, apresentando todas as manifestações que nós temos aqui. Entretanto, de acordo com a atriz Fernanda Kunzler, um atraso semelhante ocorre no âmbito estadual. — O Governo do Estado lançou o Fundo de Incentivo à Cultura em 2019 e só estão pagando este ano —, reclama. Questionado sobre as reclamações de repasses atrasados, o subsecretário da Fundação de Cultura, Eduardo Romero afirma que, não há, qualquer atraso no FIC e nos programas similares: — Quanto ao FIC e aos programas similares, não tem nenhum pagamento pendente que não esteja dentro do prazo e da programação. Resumo: não tem nenhum pagamento atrasado. Não tem ninguém que tenha feito ou participado de um edital, tenha sido contemplado e não tenha recebido. Todos os atrasos que houveram foram em função da pandemia, e todos foram sa-

nados e resolvidos porque foi só ajustes de planos de trabalhos. Mas não tem nada atrasado. Está todo mundo em dia, está todo mundo recebendo conforme os cronogramas de cada edital e de cada programa especifico. Também pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, o diretor-presidente Gustavo Cegonha afirma que o Estado trabalhou nesse período de pandemia com editais. — Nós não podemos causar aglomeração, então, desde quando começou a pandemia, nós praticamente trabalhamos com o auxílio emergencial estadual através dos editais MS Cultura Presente I e II, onde foram contemplados uma média de 850, 860 artistas. Na sequência, nós conseguimos entregar o edital do Som Na Concha para os músicos que foram selecionados através do edital, de forma virtual. No ano passado nós conseguimos executar. Nós fomos o primeiro Estado do Brasil que executou e entregou um auxílio emergencial estadual para o trabalhador da cultura através dos editais —, destaca. Com outros números de beneficiados, a gerente de difusão cultural da Fundação de Cultura do Estado, Soraia Ferreira, também destacou a rapidez do órgão em agir diante da ameaça da pandemia: — Fomos um dos primeiros Estados a publicar dois editais de emergência para auxiliar artistas e trabalhadores e trabalhadoras da área cultural. Esses editais foram com recursos do Governo do Estado. Foram atendidas mais de 700 pessoas —, recorda. Na análise do produtor, diretor e ator do grupo Urgente Cia, Vitor Samudio, o Governo do Estado tomou medidas importantes para o setor cultural desde o início da pandemia, como um auxílio emergencial no início do isolamento, em 2020. — São medidas importantes nesse momento em que as coisas se fragilizam e temos uma dimensão do papel do poder público e da importância das artes e da cultura para as pessoas, para os indivíduos, o coletivo. Outra medida adotada pela Fundação de Cultura do Mato Grosso do Sul foi a adoção de tecnologias que auxiliassem na implementação das medidas, conforme relata Gustavo Cegonha: — Em 2020 a Fundação de Cultura adquiriu uma plataforma chamada Mapas Culturais termos um mapeamento da quantidade de artistas que nós temos no Estado. Essa plataforma, ela serviu para cumprirmos o inciso 1 da Lei Aldir Blanc, que foi

o auxílio emergencial federal para os trabalhadores da cultura. Agora, nós estaremos usando a mesma plataforma para beneficiar a nível estadual o trabalhador da cultura. Em julho de 2020, o Mapa Cultural de Mato Grosso do Sul, apresou uma previsão de utilização de até R$3.230.000,00 no setor cultural, de R$1.800,00 em parcelas mensais no valor de R$ 600,00, possibilitando que 1800 trabalhadores da cultura tenham acesso ao apoio financeiro emergencial. De acordo com o mesmo Mapa, o Estado conta com 2731 artistas cadastrados no Sistema da Fundação de Cultura,107 espaços, 81 projetos e 54 oportunidades. Entrevistado em 20 de outubro de 2021, o músico Willian Costa considera que o auxílio ajuda, embora tenha demorado: — Tivemos a liberação de um fundo para a Cultura que está auxiliando músicos com o valor de R$600,00 divididos em 3 parcelas. Essa ajuda emergencial passou a ser disponibilizada no mês passado. Digamos que veio um pouco tarde, porém, de qualquer forma, é um auxílio —, relata. Com o avanço do número de vacinados e queda dos casos de internação por covid-19, o prefeito Marcos Trad estendeu o horário de circulação e funcionamento dos estabelecimentos para até às 23 horas no final de agosto de 2021. Para o músico Crys Sanfona, o novo cenário com a ampliação do horário para as 23 horas e a abertura dos setores de evento representa uma melhora para os artistas. — Saiu um anúncio que foram liberados os eventos fechados, shows, exposições e casamentos com público de 50% até 70%. Agora conseguimos ver, ali na frente, já está clareando, dando tudo certo, agora o poder público está lançando uma série de coisas boas. De fato, em 28 de junho de 2021, o governo do Estado anunciou a destinação de 763 milhões para os setores mais atingidos pela pandemia. Noticiado como megapocote pelos sites oficiais do governo estadual, o projeto incluía a retomada do setor cultural para o segundo semestre de 2021, com a reabertura de editais e a realização dos festivais parados devido ao avanço do novo coronavírus. — A partir de agora vão ser abertos os editais contemplando todas as áreas e deveremos deve disponibilizar o site do Mapa Cultural para o cadastro das pessoas que cumprem as regras e podem receber o auxílio emergencial —, informou Gustavo Cegonha.

Conforme o site Mapa Cultural, do Governo do Estado: “O Programa MS Cultura Cidadã, instituído pela Lei nº 5.688, de 7 de julho de 2021 e regulamentado pelo Decreto nº 15.728, de 14 de julho de 2021, integra o pacote de apoio do governo estadual Retomada MS, e prevê o uso de até R$ 3.230.000,00 (três milhões, duzentos e trinta mil reais), para concessão de apoio financeiro emergencial aos trabalhadores da cultura atingidos por restrições econômicas durante a pandemia da Covid-19”. — Foi aprovado um pacote do governo estadual de 78 milhões para 2021 e 2022. Esse pacote inclui a abertura de novos editais, a garantia do FIC 2021 e 2022. Um outro auxílio emergencial estadual, pagando R$1800,00 para cada trabalhador da cultura, dividido em 3 parcelas de R$600,00. E, também, a reforma de equipamentos culturais do Estado, como o Castelinho de Ponta Porã, a Casa do Artesão, o Centro Cultural José Octávio Guizzo, a Igreja Tia Eva, o MARCO, a Concha Acústica e etc. —, explicou o diretor-presidente da Fundação Estadual de Cultura. — O que nós entendemos como setor cultural, são todas as áreas que abrangem a cultura, como teatro, música, dança, circo, literatura, gastronomia, capoeira, moda e designer, patrimônio cultural, artesanato, entre outros —, completa, Gustavo Cegonha. Para o presidente da União dos Músicos, Crys Sanfona essas medidas revelam um momento mais favorável em virtude do empenho de todos os envolvidos pela causa. — O poder público, nessa reta final, começou a juntar mais, a viabilizar editais e auxílio pelo Estado, federal e também a prefeitura. Nessa retomada que todo mundo está falando, está crescendo essa ajuda para que retornemos mais firme, apesar de todo o prejuízo que tomamos nesse um ano e quatro meses. Sempre crítica, a atriz e diretora do Teatral do Grupo de Risco considera que as medidas são importantes, embora, ao contrário de outros setores trabalhistas beneficiados, para a cultura funcione mais como um contrato trabalhista: — Tivemos que trabalhar para receber. Nunca foi um auxílio. Sempre foi um contrato de trabalho, tanto no Estado, quanto no município. Porque não fomos lá e fizemos um cadastro, entendeu, para receber como aconteceu nas outras áreas. Nós tivemos que passar por uma seleção, um edital, mandar um produto para poder receber. Teve uma vez de RS600,00 na secretaria de cultura do município e teve também no Estado, acho que era de RS 800,00 ou RS600,00 em duas vezes, alguma coisa

assim. RS600,00 em três vezes, né. Três de RS600,00. Então todo esse processo durante a pandemia, nós tivemos que atuar nele. Ou para montar o edital, ou para montar um chamamento público, junto com as esferas competentes, com a gestão pública —, critica Fernanda Kunzler.

Pedregulho, Meu Amor

Ao termo do segundo semestre de 2021, o retorno gradativo das atividades presenciais regulares, a partir do alto número de imunizados contra o novo coronavírus aquecem o setor artístico cultural. Sem dispensar os protocolos de segurança contra a transmissão do novo coronavírus, o grupo de Erico Bispo tem planos de retomada. — Só agora no segundo semestre vamos retomar os ensaios/pesquisas presenciais, pois quase todos estão vacinados. Vimos o quanto estamos vulneráveis quando dependemos apenas de ações presenciais, de bilheteria ou de projetos que tenham isso como premissa para sobreviver. É importante abrir perspectivas e diversificar os formatos entregues ao público para que, independentemente da situação sanitária possa dar continuidade ao trabalho e sofrer o mínimo possível financeiramente. Para Fernanda Kunzler, o setor artístico é a classe que não teve descanso durante o isolamento social. — Atuamos durante toda a pandemia, para montar editais, ou um chamamento público junto às esferas competentes com a gestão pública. Para o Presidente do Sindicato dos Músicos, Autores e Técnicos de Mato Grosso do Sul, Beko Santanegra, ainda vai levar um tempo para mudar o quadro de estragos: — Estamos recomeçando abaixo do zero. Muitos estão endividados, e para se manter, venderam seus instrumentos e equipamentos. A flexibilização é um alívio. Mas, vai demorar para voltar ao normal. Tomara que tenhamos um natal tranquilo e cheio de paz. Se o natal é tempo é tempo de renovar as esperanças, o término das entrevistas é o momento onde os entrevistados

puderam declarar aquilo que julgaram importante ser dito sobre a cultura e a arte no Estado de Mato Grosso do Sul: — Qual seria a relevância da arte local para a cultura sul-mato-grossense? —, pergunto ao pesquisador e teatrólogo Fabrício Moser. — O teatro, como as outras artes, por sua história, ainda em revisão e expansão, compõe a identidade da cultura sul-mato-grossense, e suas principais marcas, sem dúvida, são a resistência de suas instituições, agentes, artistas e coletivos independentes, e o desejo, que surge através deles, através do teatro se conectar aos seres humanos que dividem esse mesmo território, ensinar sobre a vida e o mundo que nos cerca e sobre a busca de um futuro mais humano e socialmente menos desigual para o nosso Estado. Considerando o contexto da busca por uma identidade cultural dentro do regime militar questionei a historiadora e pesquisadora Susana Arakaki: — O que é fundamental que o sul-mato-grossense saiba sobre a presença e as ações do regime militar na região Estado? — Conhecer a fundo o que foi a ditadura militar no país e no estado. Do macro ao micro. O longo período de ditadura, 21 anos, marcou profundamente as gerações, de forma positiva e negativa. Estamos lidando constantemente com os dois, é um processo. O conhecimento vai ajudar no amadurecimento. Do ponto de vista do pesquisador e artista visual Marco Antônio Bessa, a questão da identidade está atrelada a auto identificação do mato-grossense-do-sul com as expressões do Estado:

— A arte será sul-mato-grossense na medida em que o sul-mato-grossense se ver nela: à medida que a arte for biogeográfica. Ao passo que as pessoas saibam perceber que a arte deixou de reproduzir outros lugares em detrimento dos locais da cultura sul-mato-grossense: múltiplos, pluricultural; plurilinguístico; pluridentitário; pluri em muitas coisas. Ao seu turno, o dançarino e coreógrafo Marcos Mattos considera a importância das artes para a existência humana evidenciada durante a pandemia:

— As artes, elas são libertadoras, elas são plurais, elas são subjetivas, mas elas. Ajudam a pessoa a se ver, a se encontrar enquanto ser humano. E eu fico pensando que, depois de uma pandemia como essa, de um vírus como esse que veio acabando com o ser humano, que foi o único ser vivo a qual ele conseguiu atingir, matar, machucar. Nós temos de ter aprendido alguma coisa. O que é que nós aprendemos? E como é que as artes podem nos ajudar nesse processo de aprendizagem, de sensibilização, de olhar para o outro, de observar que as necessidades são diferentes. Que nós vivemos num país muito desigual. Que devemos nos ajudar, que a gente tem que mudar os nossos hábitos para o meio ambiente poder sobreviver. Para que consigamos viver nele. Porque ele vai continuar e, enfim. E nós temos toda a tendência a sermos extintos. Então eu acho que a arte, ela vem nesse lugar, a dança, as artes visuais, a literatura, a música, o teatro. Acho que as artes estão nesse lugar, o lugar da sensibilização, da autocriação. Da reinvenção, do protesto, da crítica. Da gente olhar para o mundo em que vivemos. Uma arte que não. Que não diz sobre o seu momento atual, que não reflete o seu momento atual, talvez precise ser repensada. Então hoje, é isso o que eu entendo sobre a importância das artes, da dança. É isso. Erico avalia que a pandemia refletiu a importância e alcance da arte sul-mato-grossense: — O teatro sul-mato-grossense sobretudo nos últimos anos tem se fortalecido através dos espaços dos grupos e companhias, tanto na capital quanto em algumas cidades do interior, isso claro como uma ação de resistência, tendo em vista que os espaços públicos voltados para as artes cênicas diminuem ano a ano, e dessa forma mesmo sem o auxílio ou com pouquíssimo recursos e políticas públicas voltadas para as artes, é a força e união de coletivos e artistas que tem possibilitado ao público o acesso a arte e cultura. Durante a pandemia, sem a possibilidade das apresentações presenciais os artistas de MS têm mostrado através das redes sociais que tem alcance e reconhecimento nacional e internacional seja através de lives independentes ou de participações em festivais online. Deixando claro a importância de se ter investimentos e políticas públicas mais contundentes na área, dando aos grupos e artistas muito mais força para pautar ações dos órgãos responsáveis pela cultura no Estado.

De acordo com o jornalista e ator Expedito Di Montebranco, a questão das políticas públicas e da politicagem permanece como um dos maiores problemas históricos do trabalho artístico regional evidenciado pela demandada de artistas de fama nacional: — Falta política de governo meu amigo para mostrar nossa cara. Eu entrei no serviço público aos 11 anos, fui o primeiro Mirim de Campo Grande a ser empregado na época do ex prefeito Lúdio Coelho e fiquei no serviço público por 17 ou 18 anos saindo para viver de arte. Desde aquela época vejo o descaso e repito: As Secretarias e Fundações são empresas de eventos e só. Os artistas não são ouvidos e assim agem. Show dá público que gera voto. Teatro não dá tanto público justamente porque o próprio governo não quer, tanto é que o Teatro Aracy Balabanian foi fechado. Trabalhei com o Arquiteto Avedis Balabanian, irmão da atriz Aracy Balabanian e eu nunca vi a Aracy por aqui ou falar que era de MS. Ney Latorraca, Ney Matogrosso e tantos outros. Eles não falam justamente porque o sucesso foi por talento e por terem que abandonar esta terra e terem tido sucesso. Repito: Faltam duas coisas: Politica Cultural e união entre os artistas, aquela união que já tivemos quando éramos ruins de tudo. Hoje já estamos semiprontos e parece que ninguém ajuda o outro com medo de que ele vá. Com isso continuamos no anonimato, fazendo nossos trabalhos para os amigos verem. Marcos Mattos lista uma série de ações necessárias perante o problema: — Os recursos públicos destinados para a cultura ainda são insuficientes. É preciso ampliar isso, enquanto uma política pública de governo. De Estado, aliás, e não de governo. As ações deveriam, também, saírem do centro e irem para os bairros. A quantidade de editais e de recursos destinados para que os artistas consigam produzir precisa ser maior. E ao mesmo tempo, fomentar ou criar um mercado cultural paralelo a isso, que independa de editais que ao meu ver está ainda muito distante para a gente. Então eu acho que isso (a pandemia) pode ser. Pode ser não. Foi um processo de aprendizado para a gente, mas também tem que ser um processo de aprendizado para quem está no poder público, para quem está pensando em política pública. Para quem, está pensando em disseminação, circulação, difusão das artes. Dos bens artísticos. Então eu acho que é um alerta para

podermos pensar isso e. E como é que nós conseguimos, também, trabalhar de maneira que diminua a desigualdade social desse país, não só entre os artistas, mas todo mundo. Porque também foi isso o que a pandemia trouxe, destacou isso e levantou isso na nossa cara. Na perspectiva do músico Willian Costa a deficiência das políticas públicas também afetam o setor da música: — Nossa música é riquíssima, com influências da música fronteiriça, em especial a Polca, o chamamé, a guarânia, entre outros costumes e tradições advindos da imigração de outros povos, e temos muita coisa já produzida em nosso Estado de referência Nacional e que tem essa mescla de influências, mas que também apresenta uma identidade regional. Temos diversos compositores, interpretes, instrumentistas, produtores, professores de música, dos mais variados gêneros musicais e de muito talento e competência. O que precisamos é de Políticas Públicas que valorizem, que evidenciem e que contemple a toda classe musical de nosso Estado, mas também que além de trazer essa classe para a frente de trabalho, subsidiem espaços e condições para que estes possam viver de forma digna, e não esquecidos e largados a própria sorte. Temos aqui em nossa cidade o Sr. Carlos Luz, responsável por um grande acervo fonográfico o qual já tirou muito dinheiro de seu bolso com intuito de registrar, catalogar e arquivar tudo aquilo que é produzido por artistas de nossa terra, isso em relação a música, o que quero dizer com isso? Precisamos de investimento na área, para que o artista seja reconhecido, lembrado e respeitado por sua contribuição ao nosso Estado. Isto é o que precisa ser dito. Para a antropóloga e pesquisadora Marlei Sigrist a solução também passa pela união: — Eu não perco nunca a esperança. Por pior que esteja a situação eu acho que a esperança é sempre a última que morre. A gente tem que se dar as mãos, nos apoiar enquanto produtores culturais, artistas. Tentarmos através dessa união, dar a conhecer a nossa arte, o que nós fazemos aqui dentro do Estado. Tentar ganhar terrenos em outros espaços, apesar de, apesar do poder público, apesar de qualquer outra situação e irmos enfrentar com galhardia esse novo espaço cultural chamado Brasil que tem muito ainda a nos conhecer. Vamos botar mais força, mais lenha

na fogueira e não vamos ficar dependente aí do poder público. Acho que seria o grande lance agora nesse momento. A jornalista e coordenadora do MIS, Marinete Pinheiro considera a importância do apoio e da união por parte da população com relação aos artistas estaduais: — Minhas considerações também são no sentido de incentivar ainda mais os artistas, estamos vivendo tempos difíceis não somente na cultura, mas em vários aspectos da sociedade brasileira. Nos últimos anos tem sido muito difícil. Isso dá até um desanimo muitas vezes, mas eu acho que temos alternativas de continuar e de construir, num incentivo de pagar um ingresso num espetáculo local, de ir assistir um filme de um diretor local, compartilhar e frequentar, mesmo. Porque é comum você pagar um valor alto para ir num espetáculo que é de fora, do artista que é de fora e é uma contribuição importante do próprio público. Eles já receberam o incentivo para aquele espetáculo, mas o espetáculo precisa de público. As pessoas precisam ir até esses eventos, prestigiar, é uma contribuição muito grande para o trabalho do artista. Tem que haver essa colaboração e o entendimento de que a arte é nossa, a arte é produzida para nós e que por parte do artista, além desse esforço que é técnico, que é colaborativo existe um empenho muito pessoal dele ali e nós não sabemos dessas dores que eles sofrem, de falar assim: “puxa, acho eu vou desistir; acho que não vou dar conta”. Porque o artista é isso. Eles são uma superação constante. É a superação por falta de dinheiro, por falta de público, ou por falta de espaço para se apresentar e a falta, às vezes, de animo dele. Então, assim, ter um público, ter alguém que compartilha, ter alguém que convida, que paga um cachê, enfim. Isso é fundamental para mantermos a arte e a cultura do Mato Grosso do Sul que é muito rica. Que ainda tem muito para contribuir na formação desse Estado.

Para o produtor e ator da companhia de teatro Vitor Hugo Samudio, a falta de valorização das artes reflete no desconhecimento das potencias culturais de Mato Grosso do Sul: — Nós vivemos num estado muito rico. A diversidade cultural aqui é muito grande. Das linguagens, essa miscigenação, esse atravessamento das culturas, esse atravessamento das ideias, das possibilidades que é muito grande, é muito forte. Nós

temos um aspecto da cultura de raiz muito forte. Eu acho que vivemos num Estado, assim, muito bom, muito produtivo, pujante, de muita potência, mas que ainda precisa trabalhar algumas questões e aí quando vamos para o aspecto da cultura percebemos, além de tudo isso que eu disse, que tem o outro lado, que é o lado, assim, da não valorização. Ou de se condenar quem faz, da forma que faz, então, enquanto não conseguirmos harmonizar e não achar esse canal em que as coisas possam se encontrar e se entrelaçar não conseguiremos fortalecer a nossa cultura que é muito forte. É muito bonita, é muito pujante. Mas que, da mesma forma que ela se fortalece cada vez mais, ela também tem um espaço muito grande para ser fortalecida. Eu acho que Mato Grosso do Sul é o centro da América do Sul. Então isso era uma coisa que a poderia ser pensada por todos nós artistas, cidadãos, indivíduos, poder público. Quer dizer, estamos em um lugar estratégico: o centro, que é pujante. E, talvez poderíamos voltar o olhar mais para isso, porque se trabalharmos juntos com certeza, todo mundo vai ganhar junto, também. O cineasta Mhiguel Horta ressalta a resistência e a importância da história teatral do Estado: — Acho que o que eu poderia acentuar do teatro é que não temos uma grande tradição, mas ele nunca morreu. É um. Sempre tem uma resistência, sempre tem alguma turma fazendo, lembro de nomes importantes aqui, como a Conceição Leite, o Américo Calheiros que foi da Fundação de Cultura, Cristina Mato Grosso. E essa é a galera da minha escola, um povo que, sabe, que me trabalhava, um povo que acreditava em mim, também. Sabe, a minha descendência, a minha raiz está neles, foi com eles que aprendi muita coisa, eles me acolheram. Acho que a gente, tem um teatro voltado para nós mesmos, que não é muito universal, é muito regional. É isso o que eu penso tanto da arte quanto do cinema aqui. O meu quintal é universal como disse o dramaturgo, quando você fala da sua aldeia você fala do mundo também. E, as vezes quando fica muito bairrista, só aquela linguagem para aquele povo, a gente também não cresce, não abre as fronteiras. Assim, como na história dramática em que Cristina Mato Grosso e Cida Vilhalva interpretaram os córregos poluídos Prosa e Segredo, no Teatro Gil Vicente anexo do INECON, o que se percebe a partir destas derradeiras declarações é um desejo comum

por parte dos entrevistados de a cultura artística de Mato Grosso do Sul seja valorizada pelas instituições, pelo poder público e pela população que nessas expressões, encontra refletida a história, as características e os valores que constituem sua própria identidade.

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