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Marcelo Vicente Cancio Soares

“Com algumas experiências eu aprendi que eu sempre tenho que insistir com um aluno.”

Foto: Brenda Cirino

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Graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre e doutor em Ciência da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Universidade Autônoma de Barcelona. Após o retorno da Espanha e a saída do professor Mario Luiz Fernandes para o pós-doutorado, assume a coordenação do Mestrado em Comunicação.

“Como e quando foi sua chegada aqui? Eu comecei a trabalhar na UFMS em 1994, como professor substituto por dois anos. Depois retornei em 1996, fiz concurso e entrei como professor efetivo. Entrei dando aula de Telejornalismo, História da Imprensa e Comunicação Rural.

Como o senhor veio parar em MS?

Era uma época que estava difícil conseguir trabalho no Rio de Janeiro. Aqui era um Estado que tinha sido criado recentemente. Havia necessidade de profissionais não só na área de comunicação, mas de todas as áreas. E acho que vim na hora certa.

E as experiências que o senhor teve de mercado aqui?

Foram muito boas, porque rapidamente comecei a trabalhar na TV Morena e fiquei dez anos. Trabalhei como repórter, editor, apresentador, muito tempo no MS Rural e foi uma experiência fantástica para mim, eu queria trabalhar em televisão. Tive a oportunidade de trabalhar e agarrei com determinação. Depois trabalhei também na assessoria de Imprensa do Governo do Estado, na Empaer, na Fontoura Vídeo, na TV Educativa e aqui na Universidade.

O senhor sempre foi para essa área de televisão?

Meu maior período de trabalho foi em televisão, quase vinte anos de trabalho ligado à televisão, em telejornais. Na TV Educativa fiz programa rural, de educação, debates, entrevistas. Me pediram e eu fiz uma proposta de jornal, que eles não tinham. Foi criado o Jornal da TVE, em 1994. Naquela época, introduzimos uma questão que era diferente nos outros jornais que permitia a participação das pessoas. A partir de um tema central, sempre haviam dois entrevistados que debatiam e as pessoas em casa podiam ligar e fazer perguntas ao vivo para aqueles entrevistados. Naquele momento, isso foi uma diferença entre os telejornais que haviam na época. Hoje isso é mais comum. Era um jornal que tinha uma dinâmica, um retorno do telespectador muito interessante. Ele marcou uma divisão dentro da história do telejornalismo no MS, pela situação nova que criou. E eu tive a felicidade de criar o projeto, apresentar a ideia desse telejornal e depois ser o diretor de telejornalismo e apresentador.

Por que o senhor resolveu sair do mercado e vir dar aula?

Porque eu percebi que a televisão estava excluindo os profissionais mais antigos, para contratar profissionais mais novos, e não havia por parte

da emissora valorizar a experiência profissional,valorizar o trabalho que você realizava. Durante meu período na TV Morena, eu ganhei três prêmios de Jornalismo. E mesmo assim isso não importava para eles. Eu vi na Universidade um novo campo de trabalho. De atuar na área de Comunicação que antes não existia, o curso não existia ainda. A principio eu não pensava nisso, mas depois percebi que era um campo interessante que me permitia estudar mais, e realmente, depois que entrei aqui eu pude fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado. Se eu estivesse no mercado até hoje sei que não conseguiria. Com toda experiência profissional que eu tinha, isso ia me ajudar muito nesse novo desafio. Eu gostei, era um trabalho diferente, mas continuei dando aula e acompanhando os alunos. Eu deixei de fazer esse processo para ensinar os alunos a fazer isso. E essa nova função foi uma coisa que me deixou contente. Embora aqui tivesse deficiência de equipamentos, de mão-de-obra, cinegrafistas... mas me dava prazer. E depois ver os alunos no mercado e saber que suas primeiras gravações foram aqui no estúdio, isso dá uma satisfação pessoal. Com o passar do tempo, percebi que era o trabalho que eu devia investir e continuar exercendo.

Como se lembra da estrutura que tinha para ensinar tele?

Tinha equipamentos que precisavam de manutenção, e isso era um problema. Quando um dos equipamentos deixava de funcionar, era uma situação complicada. Tinha deficiência do estúdio, de lâmpada, de ar condicionado e lá esquentava absurdamente. Me lembro de ter comprado com dinheiro do meu bolso spots de iluminação, porque nunca resolvia. Os cinegrafistas eram contratados por três meses e tinha que fazer uma renovação por mais três meses e depois tinha que contratar outro. Também era um problema sério, porque quando ele começava a entender como era o funcionamento, porque com aluno é muito diferente, tem que trabalhar individualmente. O cinegrafista que vem do mercado para cá tem que saber que tem que ter muita paciência, muito cuidado porque não está trabalhando com profissional, está trabalhando com alunos e eles estão aprendendo. Tem que trabalhar toda a auto-estima do aluno para que ele perceba que aquilo é um processo de aprendizagem. Ele não está trabalhando profissionalmente, ele está aprendendo a fazer e o cinegrafista também tem que saber disso. Então tinha que trazer gente que tivesse paciência, que cuidasse do equipamento. Era um problema sério porque você fica seis meses com um cinegrafista, aí tem que trocar. Agora com esse processo de uma empresa que contrata e o cinegrafista fica à disposição, isso ajuda bastante. O curso de Jornalismo é um curso diferenciado, tem que fazer reportagem fora daqui, precisa de um veículo, precisa de um motorista, de telefo-

ne, de máquina fotográfica, precisa de equipamentos... Não é um curso de sala de aula, é um curso de ir buscar as coisas fora daqui. Durante muito tempo, a Universidade não entendia o curso tem características diferentes dos demais. A estrutura para atender isso foi muito deficiente. Se estraga um microfone, não pode levar seis meses para consertar, têm quarenta alunos para dar aula, que vão usar esse microfone. Essa estrutura operacional da Universidade foi muito falha, por uma série de fatores. Não tem uma agilidade como no mercado. Algumas coisas dificultavam as práticas que o curso tinha que ter. Isso realmente melhorou, nós temos um laboratório que está bem montado, com um ar condicionado que funciona, com iluminação, os materiais chegam com maior rapidez. Melhorou também a questão dos números de professores. Eu fui chefe de departamento em 2002 e fiz um levantamento de que precisaríamos ter um quadro de treze professores e o número de disciplinas pudessem ser distribuídas entre os professores sem sobrecarregar muito e que pudessem fazer pesquisa, participar de congresso, comissões e etc. Agora em 2014, que estamos próximos de chegar a esse número, sendo que nesse meio tempo foi criado o Mestrado, que aumentou a carga de trabalho dos professores. O Mestrado possibilita muitas coisas interessantes para o curso e para os alunos e até para os professores, mas ele aumenta a carga de trabalho sem que haja remuneração para isso. Ele dá aula no Mestrado como contribuição. Então os professores que atuam na graduação e mestrado sabem que vai aumentar a carga e vai ser um acréscimo de trabalho e não de remuneração.

Os professores, por mais que atuem, participem, dêem aula e tudo, eles não conseguem, o numero de solicitações exigidas à eles, às vezes não permite que consiga publicar em congressos. Eu acho que nosso curso de quando começou, ele deu um avanço em vários sentidos, na estrutura física, sala de professores, avançou no numero de professores, novos concursos, na criação do Mestrado, nas instalações, e isso reflete para vocês que são alunos, vocês terão mais professores, que prepararão melhor uma aula. Acho que o curso, nesse nível que está, vai avançar mais. Vem em um processo crescente de melhoria estrutural e de recursos humanos e de equipamentos, e a tendência é melhorar mais. Com equipamentos cada vez mais próximos da realidade do mercado.

Tem alguma história que marcou?

Me lembro de um caso que aconteceu com a Aline Maziero. Ela saiu e foi gravar uma passagem em uma escola e ela gravou, com toda a dificuldade dela. Ela me mostrou o material e eu falei “Aline, olha, eu tenho que dizer para você que bom não está”, eram erros de enquadramento, não ficou bem coordenado isso. Ela foi com a mãe dela de novo e gravaram novamente. E dei orientações sobre como devia fazer. Então, vou dizer para a Aline também, que ela mostrou para mim naquele dia que foi uma troca. Ela me mostrou vontade, determinação, coragem, ela me demonstrou um monte de coisa. E foi emocionante, porque ela me mostrou toda orgulhosa. Realmente tinha ficado melhor. Foi um aprendizado para ela e para mim também. Com algumas experiências, eu aprendi que eu sempre tenho que insistir com um aluno. Quantos alunos passaram por aqui, quantos estão trabalhando, ganhando a vida depois do ensinamento que ele teve aqui, bom ou ruim. Quando um aluno entra na Universidade, é o acumulo de conhecimento dele, não é uma aula ou outra, uma disciplina ou outra. Mas é o acumulo, cada coisa que ele assimila é que vai tornar esse aluno um cidadão que sairá daqui e nem percebe, mas esse acumulo possibilita que cada um siga uma carreira. O que a Universidade proporciona é um processo contínuo de ensinamento, conhecimento, de assimilação do aluno, que vai transformá-lo em um profissional. Ele demonstrou o conhecimento adquirido que foi passado por nós, professores. Esse conhecimento da Universidade é muito importante para a formação das pessoas. Os alunos entram aqui muito novos.

Como o senhor vê a mudança do perfil do estudante de jornalismo?

Eu vejo a mudança do aluno que entra no primeiro ano e quando sai no quarto ano. O primeiro ano, com cara de assustados, a maneira como se comportam, muitas brincadeiras, não dão muita importância para aquilo. Quando chega no quarto ano, na época das defesas dos TCCs, você percebe como o aluno amadureceu em quatro anos. Ele já viveu experiências e o jornalismo permite isso. Vocês se desenvolvem muito, escutam muita gente com experiência de vida falando, fazem matérias, escrevem... E isso vai incorporando. Quando chega ao quarto ano, tem uma mudança visível de comportamento, está mais preocupado que tem que entrar no mercado. Está mais amadurecido, está preocupado com a vida dele, e isso se repete. A diferença de 1994 para cá, que eu percebo era a diferença de idade. Eram

alunos mais maduros que já estavam no mercado. E hoje o perfil é muito mais novo. O perfil do aluno está mudando por conta das tecnologias, é uma mudança comportamental, a possibilidade de ter informações mais rápidas que tínhamos há vinte anos.

O senhor acha que o curso tem formado bons profissionais?

Sim, mas isso não depende só do curso, depende das pessoas. Mas com certeza. Tem pessoas que se sobressaem profissionalmente. Uma coisa fundamental que o curso proporcionou foi que existia uma geração de pessoas antes de existir o curso, que trabalhavam na área já fazia muito tempo, que não tinha uma preocupação com questões éticas, de redação.A mudança que houve foi da mentalidade que existia antes e depois do curso de Jornalismo. Então, começa-se a ter profissionais nas redações com outro tipo de comportamento, preocupação em fazer o processo jornalístico. Agora, com o Mestrado, alunos que se formaram há 15 anos estão voltando para se aprimorar. Daqui para frente, vamos ter gerações que passaram pela Universidade. O aluno que se formou, ao trabalhar com outros que também se formaram, terão uma preocupação com o conhecimento adquirido na Universidade. Vai depender do esforço, dedicação e caráter dele, e isso é falado no curso, de como ele deve agir profissionalmente, que deve ter espírito de equipe, que o jornalismo não se faz sozinho. O jornalista precisa ter muita disposição para ter um trabalho que tenha relevância na sociedade, se ele vai fazer isso ou não, vai depender de cada um. Depois que ele se forma, você não pode sair por ai apontando e dizer “olha, você está trabalhando mal”. Depende de cada um. O curso dá base e informações suficientes para que ele seja um profissional de bom para cima.

”São muitos profissionais que saíram e hoje estão no mercado, que hoje estão fazendo um trabalho muito legal, muito digno, correto, que tem valor social, que falam coisas importantes a serem ditas. E espero que vocês acompanhem isso e melhorem.

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