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José Márcio Licerre
Foto: Brenda Cirino
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Formado em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, pela Fundação Armando Álvares Penteado(FAAP). Veio para Mato Grosso do Sul em 1977, trabalhava na Revista Grifo, onde conheceu o Professor Mario Ramires, montaram uma editora e agência de propaganda chamada Edimat. Ramires foi quem o avisou do concurso para professor na área de Planejamento Gráfico na UFMS. Licerre prestou o concurso e passou na segunda tentativa. Foi chefe de departamento, hoje é coordenador administrativo do CCHS.
“Quando chegou? Como era? Precisava de alguém que ensinasse essa parte de produção gráfica. Quando eu fiz a minha graduação, eu estudei com o professor Mario Ramires e a Marília Leite, que depois se conheceram melhor e se casaram. Eu fui para o Itaú em 74, trabalhar com o professor Ramires em uma divisão de material promocional. Eles vieram para o Mato Grosso do Sul, e resolveram fazer uma revista, a revista Grifo, e precisava de alguém para ajudar na área de produção gráfica. Me convenceram a vir para o MS, de 79 para 80. O curso começou em 89, e 93 eu vim, porque não tinha nenhum professor, prestei um concurso e não passei. Só fui passar em um segundo concurso. Já tinha agência de propaganda, o mercado de propaganda estava mudando muito. O Ramires me convenceu, ele falava “não, você tem que ir lá dar aula, ensinar isso para os alunos”. Comecei trabalhar aqui com uma turma do 3º ano, era turma de pessoal mais velho, não tinha nada de computador, estava começando a surgir a informática, computador era muito caro.
Veio chegar aqui quase 8 anos depois. Aí informatizou e ficou mais fácil trabalhar com os alunos. As primeiras turmas penaram muito porque não tinha condições. A professora Ruth Vianna conseguiu montar um laboratório de telejornalismo com aquelas máquinas mais modernas, graças a um projeto que ela fez no FNDE para ajudar a produzir aulas para as TVs educativas que estavam começando a ser formadas. A professora Maria Francisca Marcelo dava a parte de rádio, mas quem conseguiu comprar o primeiro transmissor para fazer rádio, como deveria ser feito, foi a professora Greicy Mara
França. A Anatel estava combatendo essas rádios piratas e funcionamos mais de 10 anos na 107,7. Tanto é que a sala Maria Francisca foi apelidada com o nome da professora por conta dessa história, ali funcionava a rádio. Tinha um professor substituto, o Robson Ramos, que era também do mercado, era gente que vinha dar aula aqui que tinha formação jornalística.
Ele veio dar aula depois que a professora Maria Francisca ficou doente e veio a falecer. Eu consegui com o professor Amaury duas bolsas, uma ficou com o D2 (Marcelo Pereira) e a outra com o Éder Yanaguita. Então o D2 tocava a rádio das 7h até a 13h da tarde, aí o Éder tocava da 13h às 19h quando começavam as aulas. O professor Robson vinha para fazer a aula que era assim, sabe onde era a salinha do David? Ali que era a cabine de som. Aquelas duas salinhas eram a parte de som e a parte de locução. E a sala de aula, que era do lado, transmitia a aula na rádio. O pessoal até falava que quem não vinha para a aula podia ligar o rádio e a ouvia em casa. Era muito legal. Foi um tempo bom.
E o Projétil?
Ah! Quando eu cheguei o professor Ramires já tinha feito a edição sete ou oito do Projétil. Eu vim trabalhar na terceira turma de Jornalismo. Quem fazia era o professor Mario Ramires, o Edson Silva e o Mauro Silveira. Eles sofriam muito para fazer o Projétil. O curso, como só funcionava à noite, na Universidade, dezoito horas não tinha mais ninguém aqui. A biblioteca fechava às vinte e uma horas. As condições de laboratórios eram bem precárias.
Demorou muito para ter essa estrutura que tem agora?
Demorou muito. Por exemplo, a redação foi feita graças ao apoio do FNDE. Aquele espaço onde hoje é o laboratório de Jornalismo Científico era o espaço da redação do Projétil. Era uma salona grande, e tinha um monte de carteiras com umas trinta máquinas de escrever, e uma mesa bem velha, que ficava no meio da sala e a gente usava para reunir os alunos. Quando todo mundo estava trabalhando, era aquele barulho de máquina de escrever. E as máquinas não eram muito iguais, tinham umas máquinas Remington, tinham umas Olivetti, então a lauda nunca dava para padronizar porque as máquinas eram diferentes. A gente pegava essas laudas, mandava para composição e montava as artes. Eu me lembro que consegui do curso de Artes uma prancheta que usávamos para montar as artes. Depois quando fomos montar o laboratório de telejornalismo, acabamos ocupando onde é o Núcleo de Jornalismo Científico. As máquinas foram para lá e quando vieram cinco computadores que conseguimos montar uma redação pequenininha. Os alunos digitavam os textos, e tinha um programinha que chamava Ventura, ele era o primórdio do Pagemaker, ele soltava os textos em coluna e imprimia na impressora. Aí já conseguia montar as artes finais, cortando e colando.
Sabe o Multimeios? Ali terminava a parede do anfiteatro do CCHS, fomos arrumando divisórias velhas e montando a sala. Chamava de favelinha, porque as divisórias eram tão velhas que parecia mesmo favela. Invadimos ali, depois conseguimos fazer aquele pedaço onde é o Multiuso e o Centro Acadêmico. O professor Edson conseguiu dinheiro com um projeto, e a gente tirou as divisórias e fizemos de alvenaria. Onde era a redação era tudo divisória velha, depois conseguimos umas divisórias de vidro. Quando dávamos aula, o pessoal passava para aula no laboratório de tele e ficava olhando o pessoal dentro da redação pelo vidro e ali funcionou muito tempo, e não tinham todos aqueles micros, vieram depois.
Vieram os equipamentos do Laboratório do Núcleo de Jornalismo Científico, mas demorou para fazer a obra, só saiu depois de dois anos e meio e o projeto já tinha acabado. O estúdio de rádio era terrível. Conseguimos pegar a sala anexa e montamos a sala de aula, a redação e parte técnica. Hoje, eu digo que a única coisa que não conseguiu é montar a redação do Projétil, que sempre funcionou na redação que é de todas as disciplinas. Como foi um curso que veio de fora para dentro, a gente considera uma boa estrutura, foi uma briga. Nós pegamos uma época em que o Fernando Henrique Cardoso queria privatizar as Universidades, então tem que parabenizar o Lula que devolveu isso, e trouxe mais Universidades, ampliou as vagas. Esse dinheiro todo para reformas vem por conta disso. E professor sempre foi uma dificuldade. Hoje, dizemos que o curso tem até uma estrutura razoavelmente boa para fazer ensino, mas durante uns quinze, dezoito anos, a estrutura era bem precária. Ainda tem coisa para arrumar, ainda falta professor e tem que melhorar as salas de aula.
Como foi a transição dos equipamentos manuais como datilografia para o computador?
Quando o pessoal inventou o PC, que era uma máquina de escrever, que ao invés de por papel você via tudo no monitor e a saída era uma impressora com jato de tinta, a máquina de escrever morreu. Foi muito rápido, foi coisa de cinco anos. E o PC custava muito caro. Antes, o pessoal escrevia, a gente pegava as laudas e através do cálculo de texto e de catálogos, você sabia mais ou menos como é que ia pedir o texto. Envia para uma empresa que chamava empresa de fotocomposição, que compunha. Eram máquinas enormes que soltavam os textos em tiras, de acordo com o que você tinha desenhado no gabarito de diagramação. Mandava compor os textos, tinham as pranchas que eram como o gabarito de diagramação, cortava, montava, isso ia para uma máquina enorme chamada de fotoliteira. Fazia todo o processo de impressão. Com o advento do PC, em seguida surgiu um programa chamado Ventura, que era o embrião do Aldus Pagemaker. O primeiro programa que instalamos na redação foi o Pagemaker. Só que, como a impressora a laser era pequenininha, desenhávamos as páginas e depois imprimíamos em pedaços e fazíamos as artes. Quando eu percebi isso, falei para minha esposa “vou ter que aprender esse negócio de computador, senão a gente vai morrer de fome”. Quando eu estava no curso, em 98, já estávamos fazendo as artes no
computador. A informática transformou essa parte da comunicação impressa. E os jornais se adaptaram muito rapidamente. Era caro comprar os programas e não tinha tanta pirataria. Lembro que o primeiro Pagemaker que a gente instalou veio de um jornal da Grande Dourados e eles tinham comprado. O professor Eron Brum que era muito amigo dos donos, falou “eu tenho que levar esse programa para Campo Grande para ensinar os alunos”. O pessoal fez uma cópia e trouxe. Porque não tinha como comprar. Eu aprendi um pouco com o professor Jorge Ijuim, e um pouco com o Éser Cáceres. Foram os dois que me ensinaram a trabalhar nesse programa na parte de fazer jornal. Comprei um tutorial e um IBM. Era legal. Tenho saudades desse IBM. Até o dia que oladrão entrou e levou ele embora.
Quais as principais mudanças que o curso sofreu nesses 25 anos?
As primeiras gerações dos alunos vinham fazer jornalismo porque queriam ser jornalistas. Era um pessoal mais maduro. E hoje muito pelo contrário, já é um pessoal mais novo, que não sabe muito bem o que está fazendo aqui no curso. Eu sinto um pouco isso. As primeiras gerações eram de alunos que também vinham pelo horário de funcionamento do curso porque era noturno, então já recebia alunos que estavam com mais idade, que vinham atrás de uma formação, de uma capacitação e que já estavam no mercado. Hoje é diferente do perfil do aluno que entrou há 25 anos. É claro, e os meios de comunicação não eram os mesmos de 20 – 25 anos. Hoje o mercado mudou, os meios de comunicação mudaram, a internet é uma coisa que está levando muita gente a trabalhar com comunicação desde cedo. Como vai ser ensinar comunicação para essa garotada que já está na rede social, essa tecnologia eles já vão dominar. Então o que vamos ensinar? Criação, como trabalhar o texto, porque mexer nos programas o pessoal já vai vir sabendo. Os professores vão ter que evoluir para poder trabalhar melhor essa questão.
Disciplinas que deu aula?
”Sempre foi Planejamento Gráfico e tinha outra que era Preparação de originais, Revisão, Provas e Videotextos. A gente resolveu incorporar, mas eu ainda explico a lauda, o cálculo de texto. Acho que o pessoal precisa ter noção disso.