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Greicy Mara França

“Brigamos a vida inteira por isso.”

Foto: Arquivo pessoal

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Graduada em Matemática (FUCMAT), atual Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), com mestrado em Informática pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Iniciou a docência no curso de Computação e depois transferiu-se para o curso de Jornalismo em 1996. Foi três vezes coordenadora de curso.

“Como foi sua entrada na UFMS e posteriormente no curso de Jornalismo? Em 94, eu comecei a dar aula de informática aqui no curso, e eu tinha interesse em sair lá do departamento de computação. O jornalismo tinha interesse em ter um professor da área, a gente negociou e depois de duas tentativas eu consegui a remoção para cá.

Quais disciplinas trabalhou no início? E atualmente?

Na época eu só dava Informática, depois que eu fiz especialização e comecei a dar História da Imprensa. Depois do doutorado, eu dou Metodologia da Pesquisa, Planejamento da Pesquisa Jornalística, Jornalismo Cientifico, Jornalismo Ambiental e Comunicação e Saúde. Eu já trabalhei Comunicação Comparada, que hoje é a disciplina de Sistemas de Comunicação.

Já tinha algum interesse na área de jornalismo antes de vir para cá?

Não. Eu comecei dar aula e comecei a me envolver. Porque quando eu comecei, foi quando o curso teve o primeiro laboratório de informática. Um laboratório com cinco micros. Imagina um laboratório com cinco micros! Naquela época,você tinha que ligar em rede, o Márcio Licerre não estava conseguindo e pediu minha ajuda. Meu ex-marido ajudou também, nós colocamos o laboratório para funcionar. E com cinco micros, eu tinha que dar aula de noite até de madrugada, porque tinha que dividir a turma. Foi aí que começou meu envolvimento com o curso.

Como foram os períodos de coordenação do Jornalismo?

Três vezes. Assim que eu vim para cá, em 96, eu assumi a coordenação porque a coordenadora adotou uma criança e saiu de licença maternidade. Ninguém queria, então eu fiquei. Todas as vezes que eu peguei a coordenação, foi nessa situação. Na segunda vez, foi para substituir. Depois ninguém queria e jogaram para mim de novo. Mas como eu não tinha formação na área na época, foram na direção de centro consultar se eu podia assumir a coordenação novamente. Eles disseram que se ninguém quisesse eu podia. Acabei pegando de novo e agora não pego mais.

Mas essa “briga” para não assumir a coordenação é por causa de problema interno do curso ou é muita coisa para resolver?

É um abacaxi. É muita coisa para resolver e a burocracia da Universidade é uma desgraça.

Houve muitas desavenças entre o Jornalismo e outros cursos desde a criação. Você se lembra de algum episódio importante seja ele relacionado a desavenças entre cursos ou internas?

Quando eu entrei aqui, o Jornalismo e a Artes eram um departamento só, o Departamento de Comunicação e Artes (DAC). Ficava ali onde é o Projele. Depois construíram um bloco para Artes, a atual Unidade VIII (localiza-se em frente ao portão 20 do Morenão). Nós optamos por não ir para lá, porque nós iríamos enquanto sala de professores, os laboratórios ficariam aqui e o curso era noturno. Ou seja, se eu tivesse em uma sala lá e tivesse que vir dar aula, eu teria que vir no escuro. Eles foram para lá, nós entramos de férias e quando voltamos, a Universidade tinha leiloado aquele espaço do Projele. Não estávamos nem lá e nem aqui, estávamos no meio do corredor. Nós tínhamos feito uma vez uma reunião com a reitoria e tínhamos um documento por escrito que esse espaço ia ficar para nós. E com esse documento conseguimos garantir ali. Era para ficar tudo para nós e teríamos as quatro salas de aula do curso. O diretor de centro na época negociou e passou as salas de aula para frente sem nos comunicar. É uma briga de espaço desde que nós estamos aqui. Eu fui para o doutorado, quando eu voltei tinham dividido e criado o departamento de Jornalismo, que era, na época, onde hoje é a Secretaria Acadêmica. Aquela metade era onde ficava o Jornalismo. Tanto não tinha espaço, que quando voltei do doutorado, fiquei em uma mesinha na hemeroteca porque não tinha onde ficar. Depois eu acabei pegando a chefia do departamento que não tinha nem gratificação porque ninguém queria também, e eu dividia a sala com outro professor porque não tinha como ter uma sala só para chefe de departamento. Depois que as pró-reitorias foram lá para cima, a Direção de Centro viria para cá, e nós ficaríamos com todo o espaço. Só que lá na Secretaria Acadêmica tem um armário que fica a pasta de todos os alunos que um dia passaram pelo CCHS, e para desmontar e tirar ele dava muito trabalho e então eles negociaram com a gente. Nós viemos para cá e eles ficaram com o espaço lá, por isso hoje temos um espaço grande.

E com relação às salas de aula que o curso ainda não tem, tem alguma proposta para isso?

E nem vai ter. Porque a Universidade está criando os espaços para todo mundo, a unidade VI e o Multiuso são assim. Para não ficar nessa coisa, a sala é minha e ninguém usa, o que acontecia era isso.Tanto é que o

Multiuso não é de ninguém, ele está cadastrado na Pró-reitoria porque quem responde por aquele espaço é a Pró-reitoria. Hoje já estamos bem em termos de espaço, tem espaço no Multiuso e temos no mestrado.

A grade tem um período para ficar ou ela depende do MEC?

Quando eu entrei no Jornalismo, tinha uma normatização da grade, que tinha que ter tais disciplinas. Tanto que planejamento gráfico, uma disciplina que achávamos desnecessária porque podia condensar em outras, não podia tirar da grade. E quando eles liberaram isso, nós mudamos a grade para melhorar. E isso a gente manteve, e agora se institucionalizou que será bacharelado em Jornalismo, e não mais em Comunicação-habilitação. Então nós estávamos aguardando a aprovaçãopara mudar a grade. A partir do ano que vem, a grade é nova e o curso se chama bacharelado em Jornalismo.

Você participou da informatização do curso nos anos 90. Como foi? Houve muita dificuldade?

Brigamos a vida inteira por isso. Nós recebemos uma leva grande de computadores. Foi a primeira redação decente que tivemos. Dali ficamos só remendando computadores, até que um tempo atrás vieram computadores novos. Em termos de informatização foi sofrido. O que fez melhorar foi meu projeto do Núcleo de Jornalismo Científico. Esse projeto, foi encabeçado pelo Mauro Silveira e o Jorge Ijuim, que hoje estão na Federal de Santa Catarina, eu, o Márcio Licerre e o Davi Trigueiro. Fizemos reuniões lá com a Secretaria de Informática do Estado, eles nos apoiaram, tentamos o projeto e não deu. Depois foi tentado com o apoio do deputado Antônio Carlos Biffi, que conseguiu uma emenda parlamentar para aprovar o projeto. Foi aprovado, mas o dinheiro só veio um ano após. Quando a verba veio, o que tínhamos pedido de equipamento já estava tudo desatualizado. Fizemos um novo levantamento de material, mandamos para o Ministério da Ciência e Tecnologia para aprovação dessa compra. Foi aprovado, e nesse período o Mauro já tinha ido, porque ele passou em primeiro lugar no concurso, o Jorge tinha passado em segundo e foi por transferência e eu fiquei na responsabilidade do projeto. Eu comprei todos os equipamentos, só que a contrapartida da Universidade, que era a reforma do espaço, não foi feita. Esses computadores ficaram dois, três anos amontoados na minha sala. Eu e o Alfredo Lanari ficávamos na outra sala, instalei dez computadores aqui( na atual sala da Greicy e Lanari). Depois de um tempo, eu e o Licerre conseguimos que viessem computadores novos para a redação. E conseguimos a reforma do laboratório do Núcleo, que foi montado e nós ficamos com dois laboratórios, a sala da

frente, Multimeios, é do projeto.Eu equipei praticamente o curso inteiro. A impressora da secretaria é do meu projeto, vários professores têm computadores do meu projeto. A rádio estava sem computadores e eu cedi para Daniela Ota instalar para ter o laboratório de rádio. Quer dizer, o Núcleo por um bom tempo foi o que segurou o curso, em termos de laboratório, computadores.

Com relação ao novo projeto pedagógico que vai entrar em vigor no ano que vem, em que a nova grade pode beneficiar os novos alunos?

Aquelas disciplinas do sétimo semestre, Científico, Ambiental, Rural, passarão a ser optativas. Assim, você tem que optar a área que quer. Hoje você é obrigado a assistir aula, gostando ou não gostando. Eles estão começando a deixar o aluno mais solto para poder escolher. E eu acho que isso é uma grande vantagem para vocês. O Planejamento da Pesquisa passa a ser Projeto Experimental I e II. No I faz o projeto e qualifica e no II termina de desenvolver o seu TCC. E dessa forma, tendo uma disciplina que tem que qualificar o projeto, vai ter um professor te cobrando e você sabe que no final do semestre ou qualifica ou volta ano que vem. Isso vai ajudar o aluno a não ficar perdendo tempo.

Como você vê o curso hoje, em relação a todas as mudanças ocorridas, sejam elas pedagógicas e de estrutura... Há algo ainda que melhorar?

Melhorar, melhorou muito! É aquela história, você compra equipamento hoje e ano que vem já está defasado. Os laboratórios, com exceção talvez da rádio, o resto talvez já esteja tudo defasado. Segundo, o nosso maior problema é técnico. Laboratório nenhum aqui tem técnico. Porque os funcionários da Universidade não querem trabalhar. Chegamos em um ponto em que o técnico ficava sentado em uma sala com o data show, ele te dava o data show, a chave da sala, você assinava um papel, abria a porta e instalava. Se no meio da aula você precisasse de um técnico, não tinha. Eu falei para o pessoal “gente, se for para fazer isso, a gente não precisa de um técnico, você põe tudo na secretaria e cada um pega o seu.” Hoje é desse jeito, os data shows estão na secretaria. Agora que conseguimos um secretário, porque nem secretário tinha! Em termos de apoio técnico não temos nenhum. Eu tenho um data show que é do Núcleo, então não preciso ficar esperando. Mas temos que abrir a porta, temos que fechar a porta, se eu for a última a sair daqui tem que ligar o alarme.Eu não ganho para isso.Se eu me importo de fazer isso? Não, uma vez ou outra, mas virou lugar comum. Nossa grande defasagem sempre fo-

ram os técnicos. E professores, sempre na base do substituto. E muitas vezes não atendem as necessidades mas é o que tem. Agora o grande passo que a gente deu, foi o mestrado. Depois de anos!

Com relação ao quadro de professores, o curso está bom ou...

Considerando o que já foi, nós estamos bem. O que fez crescer foi a força do mestrado. Por exemplo, o Jorge foi embora e nós conseguimos depois de anos um concurso, porque como ele foi transferido, precisava vir uma vaga de lá para cá. O Mauro saiu, nós fizemos um concurso. Então nós perdemos professores. A Desiree Cipriano, Mauro, Jorge, já conta menos três. Teve a morte do Mario Ramires, a Ruth Vianna aposentou. Nós fomos repondo, fomos substituindo. Porque até certo momento, se você perdia um professor,o problema era seu. Hoje não. Se um professor morre, se um professor se aposenta, nós temos direito a um concurso. Então já é automático, se eu aposentar hoje,o curso já tem direito de abrir concurso na minha vaga. Então isso melhorou também.

O Jornalismo UFMS e o Jornalismo em si tem cumprido sua função social?

Eu acho que o curso tenta. O problema do jornalista é que ele tem que seguir as normas da empresa que ele está. Qualquer mídia você vai ter que seguir a linha editorial da empresa,não adianta dizer nada. A gente diz o que é o correto, agora o problema é você chegar no mercado e querer impor ” o que não está na linha editorial. A maioria das vezes ele não cumpre o papel social. Se você for analisar o jornal só tem desgraça. Só sensacionalismo. Cumpre o papel social em partes, mas não é só isso. Jornalismo não é só mostrar as tragédias.

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