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Marcos Paulo da Silva

Foto: Brenda Cirino

“Eu queria que daqui a dez anos as pessoas vissem o curso de Jornalismo da UFMS como referência.”

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Formado em Jornalismo e mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fez doutorado-sanduíche na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e em Syracuse University, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Concluiu o doutorado no final de 2012, quando passou no concurso para professor na UFMS. No segundo semestre de 2013, assume a coordenação do curso.

“Professor, nos explique como foi sua chegada na UFMS. Em 2006, quando fazia mestrado, percebi que eu queria trabalhar com ensino. Comecei a cursar um doutorado de história na UNESP, mas queria trabalhar com ensino na área de comunicação. Fui para São Bernardo do Campo, solicitei uma bolsa parcial em uma faculdade particular e consegui integral, e fui viver só do doutorado. Fiz o chamado doutorado sanduíche, em 2011 lá na Universidade de Syracuse nos Estados Unidos. Quando voltei, me deparei com a reta final do doutorado, começou bater aquele desespero.O que seria do dia que eu defender o doutorado? Então, comecei a vasculhar empregos, concursos que pudesse prestar. Voltei em janeiro de 2012, e comecei a lecionar em Universidades pequenas, até que eu pudesse me encaixar em uma Universidade Federal. Mas não em qualquer uma e sim uma que tivesse estrutura. Ao ler a ementa do concurso eu disse, “esse concurso é para mim, é o que eu estou estudando”, mas eu estava nos Estados Unidos. E para minha surpresa, em novembro de 2012, eu abri o email e vi novamente a mesma ementa. E depois eu fiquei sabendo que era o mesmo e aquela vaga não tinha sido preenchida. Vim, porque era o que eu estudava, e aqui tinha mestrado, recém-inaugurado, mas um dos meus focos era lecionar em uma instituição que tivesse o mestrado, para que eu pudesse manter a pesquisa acadêmica, e não me limitar ao ensino. O concurso exigia o titulo de doutor, eu estava com a tese pronta e ainda não tinha defendido. Tinha que defender até dia 31 de janeiro, para dar tempo de tomar a posse. E foi um estresse muito grande. O meu orientador viajava no dia do natal e voltava dia 25 de janeiro. Ou seja, do dia 19 a 25 de dezembro eu tive que fechar minha banca, fazer os convites, enviar exemplares. Conseguimos fechar a banca, nos 47 do segundo tempo, com uma boa banca e 31 de dezembro eu defendi o doutorado, peguei a ata de aprovação. Comecei a carreira acadêmica, como todos os professores começam, com uma carga horária grande e peguei três disciplinas com o primeiro semestre.

Quais disciplinas ministra?

Sistemas de Comunicação, Redação, e Jornalismo, Cidadania e tecnologias. Mas foi muito legal, eu propus uma discussão mais teórica. É a única disciplina mais teórica do último ano.

Como é a experiência de ser coordenador com menos de dois anos de instituição?

É um cargo que exige muita dedicação, e muitas vezes acabam ficando com professores mais jovens na instituição. A vida acadêmica também te cobra muito, tem que dar aula, tem que corrigir trabalho, fazer prova, escre-

ver artigo para congresso, publicar em revista, ter projeto de pesquisa. Se você for fazer isso bem feito, leva tempo. A coordenação em si só, toma muito tempo. No ano passado, eu chegava às oito horas da manhã e saia às dez horas da noite. A coordenação de curso precisa resolver questões burocráticas e não só pedagógica. Outra coisa que toma muito tempo é a mediação entre alunos e alunos, alunos e docentes. Tem dia que eu brinco de adicional psicólogo e eu não estou reclamando disso, faz parte do trabalho. Tem muita coisa legal na coordenação também, mas tem muita coisa desgastante. O Silvio me ajudou muito nesse processo de transição de coordenador, como manusear o Siscad (Sistema que a UFMS utiliza para informar notas e frequências dos alunos). Quando se é coordenador, tem acesso a um monte de coisas a mais, como fazer a matricula dos alunos. Ano que vem vai ser um processo bastante importante, mudança de projeto pedagógico, quem entrou até 2014, vai concluir o curso como entrou.

Como o senhor vê o curso pra frente?

Quem entrar em 2015, entra em uma nova proposta. O curso passa a ser de manhã e tarde. Esse projeto pedagógico novo tem alguns elementos que não eram exigidos no projeto atual, por exemplo, semiótica, estágio obrigatório, o MEC recomenda que seja curricular. Foi minha obrigação saber a história. Lógico que eu não tenho a mesma memória de quem estava aqui nesse período, como o professor Edson, o professor Licerre e os outros professores que saíram daqui. Eu procurei me informar, mas meu propósito é visualizar daqui pra frente. Eu queria que as pessoas vissem no curso de Jornalismo da UFMS como referência. Que é diferente, que tem pesquisadores, mestrado, que tem determinada linha de pesquisa. Não é fácil, envolve muito capital humano. Eu estou muito disposto, e considero um bom curso. É um desafio, mas sem deixar de lado todo o legado. O curso de Jornalismo não é o mesmo de 25 anos atrás, Campo Grande não é a mesma de 25 anos atrás. O mercado jornalístico não é o mesmo e a realidade do país também não. Essas mudanças acabam refletindo na Universidade. Outro desafio é pensar no Jornalismo a partir da crise do próprio Jornalismo. Vivemos um período de crise de linguagens e suportes. Como sobreviver economicamente com todos esses modelos passando por abalos?

”Isso é para que os professores não se acomodem. Mais que ensinar o fazer jornalístico, temos que ensinar o pensar o fazer. Acho que esse é o grande desafio do curso daqui para frente.

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