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Robson Ramos
Graduado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Ermelino Robson Lima Ramos, integrou a primeira turma de alunos da UFMS e é um dos primeiros formados pelo curso que volta para lecionar. Trabalha há cerca de 35 anos com rádio em Campo Grande e em outras cidades. Foi professor substituto de Radiojornalismo, Cultura de Massa, Comunicação Rural e Comunicação Comparada.
“A oportunidade surgiu através dos concursos para professor substituto. Faz-se aquela avaliação, você dá uma aula para os professores que já fazem parte do quadro e aquele que é considerado o mais apto acaba sendo o escolhido. Para mim foi interessante ter voltado depois de ter feito o curso de Jornalismo por lá. Eu já exercia a profissão como locutor há muito tempo, e fiz o Jornalismo para não ficar por baixo em relação àqueles que se consideravam até melhores que os demais, porque tinham diploma ou provisonamento. Fiz na primeira turma de Jornalismo. Depois voltei para dar aula. Morava perto da Universidade. Foi um período interessante, no sentido de absorver também um pouco de energia da rapaziada nova, do idealismo, de estudando em uma escola pública fazer rádio como objetivo de transformação social, em um momento político interessante. Havia toda aquela mística da rádio alternativa, uma rádio que não tinha censura. Você podia dizer o que quisesse. A rádio começou como alternativa, e era de fato um laboratório bem deficiente em todos os sentidos. Não chegava a ser um laboratório, porque um laboratório tem que reproduzir as condições de trabalho que o aluno vai encontrar depois.
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Foto: Arquivo Pessoal
O problema é que nós tínhamos um sonoplasta surdo que se achava o dono do laboratório. Não queria que os alunos mexessem e nós liberamos para a gurizada mexer, aprender. Inventamos. Introduzimos por nossa conta na ementa, Introdução ao Radialismo. Abrimos espaço para todo mundo, com agendamento prévio para operar, falar no rádio. A gente tinha programação praticamente o dia todo. Do período da tarde até a noite, nós tínhamos alunos transmitindo. Inclusive a Glaura Vilalba, que está no ar pela TV Record, estava toda tarde lá. Fazia duas ou três vozes, era bacana. Nesse período houve uns enfrentamentos por conta desse sonoplasta surdo, acabei até me afastando um pouco do laboratório. Aí fizeram uma mobilização “Volta Robson”. Retornei e dei aula por dois anos. Com essa Introdução ao Radialismo, que eram as primeiras noções de rádio para quem nunca tinha feito rádio, e só depois então, os formatos jornalísticos. Fiz de novo o concurso para professor substituto, e aí já não se tinha uma rádio. Não havia mais professor, só tinha o laboratório e umas caixinhas de som espalhadas pelo corredor. Foi nesse período que nós conseguimos um convênio com a Rádio Educativa. Isso foi convênio meu, não iniciativa da Universidade. Toda terça-feira nós tínhamos um programa ao vivo feito pelos alunos do curso. Nós formamos, se eu não me engano, quatro ou cinco equipes. Todas elas atuavam nos dias de programa. Uma estava com o programa no ar, outra era responsável por repercutir o programa em um bar onde ele era ouvido, o Esquina 20, que nos permitiram colocar o som da Rádio Educativa e interagir com os clientes do bar sobre os assuntos que estavam sendo tratados. Eram sempre mesas redondas, debates em relação a um tema específico. Outro grupo ficava na Universidade avaliando o programa, tinha um grupo que ficava fazendo repercussão dos temas do programa para o site de notícias. Nós mandávamos a cada dez, quinze minutos o que estava acontecendo no programa e dos momentos mais interessantes. E isso nós fazíamos por nossa conta. A gente se reunia na Universidade, saía cada um com seu carro e levava três ou quatro colegas, eu levava mais alguns no meu carro. Isso na terça-feira. Na quarta-feira, nós avaliávamos como tinha sido o programa. Foi muito bacana o trabalho. Não retornei mais para a Universidade. Perdi o interesse, a motivação porque na segunda vez que eu estava dando aula lá a minha esposa adoeceu. Acabou internada no Hospital Universitário, e morreu de infecção hospitalar sem qualquer assistência de professor do curso de Medicina. Fiquei muito frustrado com isso, mas se vocês observarem tem uma placa onde eu sou paraninfo e outra placa que muito me
orgulha, onde eu sou nome de turma. Para mim, isso é importante demais, eu reencontro com os alunos no mercado de trabalho e tenho o maior orgulho deles. Rádio é o que sobra para quem não é nem bonito e nem intelectual. O bonitinho faz Jornalismo e vai para a TV, o intelectual faz Jornalismo para ir para o impresso. O que não é nem bonitinho e nem intelectual vai para o rádio, que é gostoso, não precisa ter cara boa. Na segunda fase que eu retornei e tal, no laboratório não era mais o sonoplasta surdo. Nós já tínhamos um técnico muito competente, que era o ” Granja. A mesma equipe que repercutia os debates da Rádio Educativa fazia uma divulgação para o site no dia anterior, tipo uma assessoria de imprensa, sobre qual seria o tema que os convidados debateriam.