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Mauro César Silveira
Ex-professores
Durante as entrevistas com professores e alunos, muitos citaram os nomes dos ex-professores Mauro César Silveira, Jorge Kanehide Ijuim, Robson Ramos, Marcos Morandi e Eron Brum. As autoras tentaram contato com eles por e-mail, segue um breve relato de suas experiências na UFMS, com exceção de Marcos Morandi e Eron Brum, que não conseguimos o depoimento até o fechamento deste livro.
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Mauro César Silveira
Graduado em Jornalismo Gráfico e Audiovisual pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre e doutor em História Ibero-americana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mauro chegou no curso de Jornalismo em 1989. Sua primeira experiência como professor foi na UFMS. Foi repórter da IstoÉ, Veja e jornais diários do Rio Grande do Sul e recebeu diversos prêmios de Jornalismo, como o Esso e o Abril. Atualmente, é professor na Universidade Federal de Santa Catarina e ministra as disciplinas História do Jornalismo e Redação VII na graduação e Os primórdios do Jornalismo nos países do Cone Sul na pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Coordena o Grupo de Estudos de História do Jornalismo na América Latina.
Foto: Arquivo pessoal
“Qual foi o maior obstáculo enfrentado quando o senhor lecionava na UFMS? A falta de infraestrutura foi o maior obstáculo nos primeiros anos. Mas superamos - alunos e professores - as deficiências com garra e determinação. Ainda lembro que a primeira edição do Projétil gerou muita repercussão em Mato Grosso do Sul, destacando na capa os conchavos entre as oligarquias políticas do Estado. Alunos e professores chegaram a dar entrevista à TV Morena, comentando essa nova opção jornalística em Campo Grande. A improvisada redação, com carteiras apertadas e velhas máquinas de escrever, ficava em uma apertada (e quente) salinha ao lado do auditório do CCHS.
Lembra-se de algum fato diferente/interessante que tenha acontecido enquanto era professor na UFMS?
Foram muitos momentos emocionantes - com muitas conquistas, incluindo os sonhados laboratórios, depois de sucessivas ocupações do curso na Reitoria - e algumas situações pitorescas. Uma dessas cenas engraçadas que guardo na memória foi a reação de alguns professores do CCHS diante da chegada dos quatro primeiros professores do novo curso - na época, eu, o Edson Silva e os já falecidos Mario Ramires e Maria Francisca Marcelo, todos jornalistas. Um desses professores chegou a se queixar ao diretor do CCHS naquela época que “o pessoal do Jornalismo não trabalha muito, pois passa o dia inteiro lendo jornal e vendo televisão...” Naqueles primeiros anos, destinaram uma pequena sala, bem no meio do prédio, próxima à direção, onde contávamos apenas com um aparelho de TV e os jornais que levávamos de casa. Como estávamos na mira dos curiosos olhares dos professores das outras áreas, a novidade chamou atenção.
Como era estrutura física do curso em 2007? Quais foram as maiores conquistas de espaço que o jornalismo teve enquanto o senhor era professor aqui?
Penso que em 2007 a maior conquista em termos de espaço físico foi o laboratório de telejornalismo, que permitia a realização de bons programas veiculados na TV Universitária. Embora todos tenham se envolvido nessa luta, destaco o nome dos professores da área, Marcelo Cancio e Ruth Vianna, decisivos para essa conquista.
Sobre o perfil dos alunos, o senhor acha que mudou muito?
As turmas oscilam muito ano após ano. Quando retornei da Espanha, nos primeiros dias de setembro passado, por exemplo, tive uma agradável surpresa, depois de um ano desenvolvendo um projeto de pesquisa de pósdoutorado. O entusiasmo e a participação dos alunos é muito grande, incluindo uma disciplina que às vezes não empolga muitos acadêmicos de Jornalismo como História do Jornalismo. Estou muito animado depois do meu regresso. Afinal, os alunos e alunas são a razão de tudo.
Como o senhor recebeu a notícia da queda do diploma?
Recebi a notícia da queda da obrigatoriedade do diploma com uma certa indiferença, por mais surpreendente que isso possa parecer. Por um bom tempo, fui um ferrenho defensor da exigência do diploma para o exercício do Jornalismo no Brasil. Mas quando saiu essa decisão e perguntaram minha opinião, respondi que a dura realidade das últimas décadas mostrou que, como outros diplomas legais do país, incluindo decisões emanadas da Constituição Federal, a lei da obrigatoriedade do diploma nunca foi respeitada pelas empresas de comunicação, que sempre contrataram pessoas não formadas sob o eufemismo de “estágio”, que também era proibido. Então, quando uma lei que não era cumprida caiu, imaginei que a situação não mudaria muito, como de fato ocorreu. Os profissionais continuaram sendo muito explorados, a política de “estágios” seguiu firme e a preferência do mercado ainda recai sobre aqueles oriundos dos cursos de Jornalismo. Quer dizer, quase nada mudou. Infelizmente, os empresários de comunicação do país continuam tratando o Jornalismo como um negócio qualquer, sem nenhum compromisso social. Felizmente, as redes sociais e o novo cenário digital permitem outras experiências de Jornalismo, alternativas e colaborativas. ”