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Mestrado - Mario Luiz Fernandes

Mestrado em Comunicação

Desde 2002, o curso de Jornalismo tenta a criação do Mestrado em Comunicação, porém sem sucesso. Em 2011, após a instituição de uma nova comissão coordenada pelo professor Mario Luiz Fernandes, adequação das instalações e do corpo docente é criado o novo curso de pós-graduação. Em entrevista, Fernandes relembra sua trajetória no Jornalismo e também como professor e primeiro coordenador do mestrado.

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Mario Luiz Fernandes

Formado em Comunicação SocialJornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, mestre e doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Com sua chegada e início do envolvimento com o curso, ele se interessa pela história do mestrado e toma a frente da comissão de criação.

“Como surgiu a ideia do Mestrado? Começou em fevereiro de 2002. Foi constituída uma comissão e o professor Mauro César Silveira era o coordenador. Na época, quando comecei a levantar a história do mestrado, o professor Mauro mandou uma síntese para mim. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é um órgão que autoriza, fiscaliza e que pode inclusive fechar os cursos, se eles não corresponderem às exigências. Por exemplo: número mínimo de oito professores doutores. A biblioteca deve ter pelo menos quatro mil títulos da área da comunicação e áreas afins. Os professores têm que ter um nível de publicação. São vários indicadores que a Capes leva em consideração para autorizar ou não um curso de mestrado ou de

doutorado. Veio uma comissão para cá, fizeram uma avaliação disso. Instalações físicas, por exemplo. Esse espaço é uma exigência da Capes. Em 2002, a Universidade não tinha essa estrutura. Desde o número de professores à biblioteca, não tinha uma série de coisas. Então não foi possível a UFMS montar um mestrado sozinha. O professor Mauro e a comissão foram até a UnB, a Universidade de Brasília, para criar uma modalidade de mestrado que a Capes chama de “Minter” ou “Minter dinter”. Nada mais é do que um mestrado em parceria com outras Universidades que já tenham mestrado ou doutorado, onde serão compartilhados professores. A Universidade chegou a fazer esse contato com a UnB de Brasília para fazer esse mestrado na modalidade de “Minter”. Lembro que quando cheguei, achei isso em algum lugar. Em 2005, a Universidade anunciou que ia ter mestrado, em parceria com a Universidade de Brasília. Já tinham assinado alguns protocolos, documentos com ambos os reitores. Parecia que a coisa estava toda encaminhada, mas de repente, no meio do caminho, o mestrado simplesmente não aconteceu. Estava praticamente confirmado. O Mauro foi para Santa Catarina, em 2007, então foi menos um professor. Depois o Jorge Ijuim também foi para Santa Catarina. Então são menos dois professores. E eram justamente os dois que estavam conduzindo o processo. Eu descobri mais tarde, em 2009, que foi criada uma outra comissão. A professora Ruth Vianna era coordenadora, mas eu lembro que a coisa não estava fluindo. Chegamos a fazer umas duas reuniões sobre o mestrado. Tomei a iniciativa, fiz alguns levantamentos, e comecei a levar materiais para a reunião para ver se começava a render alguma coisa. Tivemos um momento que foi delicado no curso. O professor Dercir Pedro de Oliveira, que era o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, chamou todos os professores do Jornalismo em uma reunião na sala dele e questionou a gente. A Capes estava em uma política de levar os mestrados e doutorados em Comunicação para o interior do país, porque a maioria deles está nas grandes capitais. Falamos para ele que tinha uma comissão que estava começando a fazer todo o levantamento da história, o projeto, e que essa comissão era coordenada pela professora Ruth. Só que o professor Dercir chamou todos os outros professores e não chamou ela. Ele destituiu a comissão que existia, apesar de nós, professores, termos avisado que tinha um processo em andamento, coordenado pela professora, e que não seria bacana atropelar o negócio. Mas o professor Dercir era um cara que tinha um jeito muito peculiar. Foi criada uma nova comissão e eu fiquei como coordenador. Em três,

quatro meses, nós montamos o projeto. Porque a Capes tem um prazo. Fiz os documentos, e eu levava para as reuniões o documento pronto. A gente ia lendo artigo por artigo, código por código, para a coisa poder agilizar. Tinha que levantar, por exemplo, o acervo bibliográfico da área de comunicação e áreas afins, infraestrutura, corpo de professores, grupos de pesquisa, produção intelectual dos professores. É um negócio meio trabalhoso. E nós conseguimos fazer isso em um tempo recorde. Porque o Dercir colocou essa pressão para a gente entregar o projeto e tivemos que fazer dentro desse espaço de tempo. Uma coisa interessante que o Mauro me mandou é que o nosso mestrado era para ser o primeiro Mestrado em Jornalismo do Brasil. Porque todos os mestrados que existem são em Comunicação. Se não me engano, em 2007 ou 2008, a Federal de Santa Catarina criou o primeiro mestrado especificamente em Jornalismo, e agora em 2014, eles criaram o primeiro doutorado em Jornalismo. São dois ou três mestrados que tem hoje, no Brasil, em Jornalismo, e todos começaram de 2007 para cá. Não se concretizou essa proposta, mas era a intenção. Em 2011, mandamos a nossa proposta para a Capes, veio novamente uma comissão aqui para avaliar as condições, ver se estava tudo nos conformes. Essa comissão ainda sugeriu mais algumas mudanças, fizemos novos ajustes, mandamos para uma segunda avaliação. Em abril de 2011 é que saiu a autorização. A ideia era começar em março de 2012, mas o professor Dercir novamente: “Não, vamos começar agora, por isso e por aquilo e tal e tal”. Então, quanto maior o número de cursos de pós-graduação que uma Universidade tem, mais verba ela recebe do Governo Federal. Criamos a primeira turma em agosto de 2011, que começou a se titular dois anos depois. Já estamos com a quarta turma e são dez alunos que entram cada ano.

Como está o mestrado hoje em questão de estrutura e de professores?

Temos uma estrutura física ótima. Porque não temos um grande número de alunos. Nós temos duas salas de aula, a coordenação, a secretaria, e uma sala aqui de orientação para os professores orientarem seus alunos. São coisas que a Capes exige. Um outro ponto que avançamos muito é a nossa biblioteca. Na área da comunicação, quem frequentava a biblioteca há dois anos percebe a mudança. Já solicitamos a compra de mais de 1.500 livros. Ainda não é o ideal. Eu sempre estou pedindo aos professores sugestões de livros, porque é sempre um professor que tem que pedir.

Corpo docente a gente também evoluiu bastante. O curso na graduação mesmo tinha quatro, cinco professores do Jornalismo. Fora colaboradores de outras áreas. Estamos em onze professores doutores. E no nosso núcleo do mestrado, nós temos ainda a professora Maria Luceli, que dá aula no Mestrado de Linguagens e para o nosso aqui também. O professor Álvaro Banducci, que é da Antropologia Social. Esse é um número muito bom, significativo. Considerando que a Capes exige o mínimo de oito. E outro fator também que é muito bom é a nossa produção acadêmica, a chamada produção intelectual. Acordamos para buscar o aperfeiçoamento. Nós tivemos a professora Márcia, o Gerson Martins, o Marcelo Cancio que fizeram pós-doutorado em Barcelona. E eu estou indo para o pós-doutorado em Portugal. Além desses pós-doutorados, tivemos outros professores que estiveram em Barcelona fazendo cursos de curta duração.

Já existe um projeto para o doutorado?

Tem a ideia do doutorado que é um pouco voltado à ideia do mestrado. Estamos encaminhando, na verdade, o processo de criação do doutorado em Comunicação no sistema de rede. É um doutorado formado pelo nosso mestrado, o da Federal de Goiás, o da Universidade Católica de Brasília e da Universidade Nacional de Brasília. A ideia é fazer esse doutorado dentro de uma instituição, chama Rede Pró Centro-Oeste, que é uma rede de pesquisa criada dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia. O Ministério criou três redes: uma no Centro-Oeste, uma no Norte e uma no Nordeste.

Por que o Ministério criou isso? O Ministério criou para promover o desenvolvimento científico nessas regiões que são mais carentes. Por que o Sul e o Sudeste já são as regiões mais ricas e têm as grandes Universidades e etc. Só que são redes criadas para a área de biotecnologia e biodiversidade. Mas o que tem a ver com Comunicação? Elas são redes para promover o desenvolvimento científico de um modo geral. Só que essa ideia do doutorado nasceu aqui. Uma conversa minha com o coordenador geral da Rede Pró Centro-Oeste, que é o professor Rui Caldas, que era o coordenador geral dessa rede e um dos assessores da equipe científica do ministro da Ciência e Tecnologia. No Brasil, se faz muita pesquisa, muito avanço tecnológico, e isso que se produz não chega para as pessoas comuns. Quem faz isso é a imprensa, que faz esse papel de mediador, de divulgador das ideias. A ideia de uma das linhas de pesquisa é Jornalismo Científico, ou seja, preparar doutores que vão depois para a sala de aula com um olhar mais

crítico sobre Jornalismo Científico. E esse doutor vai ensinar o pessoal da graduação a ter esse olhar mais atento em relação à ciência. O jornalista traz novo conhecimento teórico e técnico da ciência e chega ao veículo e começa a produzir matérias mais interessantes e focadas na divulgação científica. Então a gente tem que se juntar com essas outras Universidades porque a proposta é essa mesmo. Estão desenvolvendo a Ciência e Tecnologia e nós entraremos no sentido de divulgar essa Ciência. Mas é uma proposta que eu espero que aconteça no ano que vem. Não é uma coisa que depende só da gente, depende de toda essa articulação. Eu estou um pouco com o pé atrás porque a Rede Pró Centro-Oeste foi criada em 2009, mas com um prazo de validade. Ela tem uma duração de cinco anos. O prazo de atuação dela termina justamente este ano, 2014. E aí depende de continuar. E o ministro da Ciência e Tecnologia tem que dar o aval para a rede prorrogar por mais cinco anos, de 2015 a 2020.

E também vai ser muito interessante trazer esse tipo de pesquisa para cá, para popularizar a ciência.

A gente percebe isso, tem muito aluno procurando, é um campo que está despertando o interesse. Acho que seria o primeiro doutorado com essa linha de popularização da Ciência. Seria uma coisa inovadora. Esse projeto era para ter sido encaminhado para Capes este ano, mas, em função dessa mudança de ministro, a coisa ficou no ar. Estamos trabalhando para encaminhar no ano que vem.

Qual a importância do mestrado?

Eu acho que vocês poderiam responder melhor do que a gente. Do ponto de vista operacional, parte da biblioteca, por exemplo, eu vejo que vocês ganharam um monte. Nós temos trazido muita gente do exterior para cá. No começo do ano, teve uma palestra com um professor da Espanha, da Universidade de Navarra. Volta e meia estamos trazendo palestras com professores de outras Universidades. Quer dizer, são pessoas que estão chegando toda hora, participando de palestras, seminários, que trazem um novo ponto de vista sobre o Jornalismo. São coisas que, pela graduação, dificilmente a gente teria como trazer essas pessoas para cá. A circulação de ideias é uma coisa fundamental. Os próprios alunos do mestrado estão produzindo Ciência, pesquisa. Se eu perguntar para vocês qualquer coisa sobre o sistema, os meios de comunicação de Mato Grosso do Sul, vocês não vão saber, porque não existem dados. O que é a Comunicação em Mato Grosso do Sul? Ninguém sabe.

Como se faz? Por que se faz? Qual o efeito do que a mídia produz aqui no Mato Grosso do Sul? Qual é o efeito disso para as pessoas que lêem jornal, que assistem televisão? Ninguém sabe. Não sabemos em que mundo estamos atuando aqui dentro do Mato Grosso do Sul. O que é a nossa mídia? Qual é o efeito? Não se sabe, porque nunca se fez pesquisa. Nunca se avaliou isso. Nunca se dimensionou isso. Porque pesquisa é mestrado e doutorado. Graduação não é. Claro que a graduação faz pesquisa também e deve fazer, mas é um outro grau de compreensão, outra frequência de pesquisa. O que tem e o que não tem. O efeito que isso causa. E quando a gente se entende, se conhece, fazemos melhor depois, lá na frente. No mínimo, o que estamos trazendo é uma nova dimensão, uma nova compreensão do que é a Comunicação no Mato Grosso do Sul.

Qual a perspectiva para o mestrado?

A grande perspectiva é a criação do doutorado. Como eu falei, depende de uma série de questões políticas. Mas vai ser nosso grande salto. A Capes a cada três anos dá uma nota que vai até sete. No Brasil, na área de Comunicação, nós não temos nenhum mestrado com nota sete. Esse ano agora teve avaliação de 2010 a 2012. Os cursos novos que são criados recebem nota três. A nossa grande ambição é, na próxima avaliação que termina no final de 2015, chegar a um conceito quatro. ”

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