Nº 02
Setembro/Outubro 2020
DISTRIBUIÇÃO GRÁTIS
PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL
DIA DO FARMACÊUTICO
O papel do farmacêutico na sociedade
CANCRO DA MAMA
SENSIBILIZAÇÃO E PREVENÇÃO OBRIGATÓRIAS OUTUBRO ROSA
O MÉDICO RESPONDE
Contracepção de 3.ª Geração O que é e para que serve?
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ÍNDICE SAÚDE, PARA SI
02 06 Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde
O mês de Outubro é de uma importância especial para todos aqueles que acreditam e lutam por uma sociedade informada, consciente e mobilizada para a promoção e execução da prática de bons hábitos de saúde, o que, não raras vezes, passa pela prevenção e antecipação de possíveis situações de risco. O 10.º mês do ano veste-se de uma cor única por todo o mundo, o rosa, em prol da consciencialização e detecção precoce do cancro da mama. Uma mobilização única à escala planetária e que visa igualmente alertar, de forma concertada, para a importância de olhar com particular atenção para o tema da saúde, assim como para a importância da necessidade de atendimento médico e respectivo suporte emocional a quem padece desta doença. Durante este mês, em que diversas instituições abordam o tema para encorajar mulheres de todo o mundo a realizarem exames, e muitas até os disponibilizam, o foco do Outubro Rosa está, uma vez mais, na prevenção da doença, já que, nos estágios iniciais, é assintomática. E perante o flagelo da Covid-19 que assola a sociedade, o ser assintomático não é, como se tem verificado, sinal de conforto acrescido, nem de imunidade. Nesta edição rosa, a + Saúde quis fazer a sua parte e alertar para a necessidade da prevenção deste cancro cujo principal método para o seu rastreamento é a mamografia. Exame fundamental para que se possa dar continuidade à imensa onda de sensibilização que teve início, na que parece já remota década de 90, mas que, 30 anos volvidos, ainda tanto caminho tem para percorrer. Sensibilização e prevenção são, por isso, fundamentais para que se possa superar esta patologia, cujos detalhes lhe damos a conhecer na segunda edição da nossa publicação. A prevenção é a melhor forma de parar, ou antecipar, o cancro da mama.
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Outubro Rosa
REPORTAGEM Cuidados a ter com a pele do bebé
Dra. Elisa Gaspar aborda a importância da amamentação infantil A alimentação no primeiro ano de vida explicada pela Dra. Yala Almeida Dr. Leite Cruzeiro e a importância da vacinação em Angola
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EDITORIAL
ENTREVISTA Dr. Paulo Salamanca, médico oncologista, aborda o tema do cancro da mama em pleno Outubro Rosa
Pele Acneica: afinal do que se trata? por Dra. Ana Pacheco, consultora farmacêutica na Tecnosaúde Hemofilia em Angola: o tratamento e os cuidados não chegam à maioria dos doentes. A opinião do Dr. Luís Bernardino, ex-director do Hospital Pediátrico de Luanda O Médico Responde Dr. Paulo Campos, docente de Ginecologia e Obstetrícia na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, explica o que é a contracepção de 3.ª Geração
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ENTREVISTA Ragussina Inácio, farmacêutica Farmoz Moçambique, aborda a importância do papel do farmacêutico em Moçambique
Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: geral@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, Sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/
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REPORTAGEM
Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde
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CUIDADOS A TER COM A PELE DO BEBÉ
A PELE DO BEBÉ É FINA E SENSÍVEL E MERECE OS CUIDADOS APROPRIADOS PARA SE MANTER SAUDÁVEL, PROTEGIDA E HIDRATADA, AO LONGO DE TODO O DIA, EVITANDO DESCONFORTOS DESNECESSÁRIOS.
A pele é o maior órgão do corpo humano, que se renova constantemente ao longo da vida. A do bebé é estruturalmente idêntica à do adulto, constituída por três camadas, todas elas distintas entre si e com funções diferentes, contudo, mais fina e delicada, pelo que reage com maior facilidade a todos os estímulos externos. Criar hábitos de higiene e hidratação começa desde a nascença, mas nem sempre é uma tarefa fácil. A pele do bebé tem características próprias, que lhe permitem absorver mais rapidamente todos os componentes que lhe aplicamos, assim como desidratar em pouco tempo. O problema? A sua função barreira está limitada. A nossa pele, para além das inúmeras funções que desempenha, apresenta uma particularmente importante, que é a de barreira cutânea contra agentes externos. Sendo esta menos resistente que a dos adultos, a pele do bebé tende a sofrer mais com influências químicas, físicas e microbianas, assim como com todas as substâncias que entram em contacto com a sua superfície. Deste modo, a hora da escolha dos produtos que aplicamos nos bebés pode ser uma autêntica dor de cabeça para os pais, que não sabem que produtos devem utilizar, se podem ou não utilizar protector solar, repelente, entre inúmeras outras questões. Esta pele sensível necessita de cuidados especiais que não a agridam, pois é a primeira defesa que o bebé tem contra o mundo exterior. Assim sendo, deixamos-lhe algumas dicas: • Opte por produtos suaves e pouco perfumados; • Limite o tempo do banho: a água quente e os banhos longos removem os lípidos da pele; • Hidrate sempre a pele após o banho com
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específico da pele. O desenvolvimento da barreira cutânea e do microbioma contribui para futuras patologias cutâneas. As crises de dermatite atópica e a dermatite seborreica têm sido associadas à disbiose, enquanto que, por exemplo, o eritema tóxico neonatorum é uma resposta imune ao estabelecimento da flora bacteriana cutânea normal. Os pediatras e dermatologistas devem estar cientes do impacto do microbioma da pele infantil e do seu papel no desenvolvimento destas patologias. Uma melhor compreensão da origem e evolução do microbioma cutâneo levará a uma prevenção e tratamento mais eficazes das doenças cutâneas pediátricas (1).
um creme adequado ao seu bebé; • Proteja a pele do bebé dos raios UV: a pele do bebé é mais sensível à radiação do que a do adulto; • Utilize uma rede mosquiteira e repelente apropriado à idade do seu bebé. E estes cuidados são importantes para quê? Ao ter presente estes cuidados, estamos a respeitar o microbioma da pele do bebé. Este é essencial para a saúde da pele do mesmo. O microbioma é o conjunto de microorganismos amigos da pele, que também é conhecido como a flora da pele, ajudando-a a manterse saudável. Este é responsável por proteger o nosso organismo contra agentes patogénicos. Podemos classificá-lo mesmo como a colecção do genoma de todos os microbiotas do nosso organismo, neste caso, em
Referências Bibliográficas (Segundo NP405): (1) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31332846/ (2) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32738956/
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Quais as doenças de pele mais comuns nos bebés? As dermatites são as principais manifestações cutâneas nos bebés, especialmente a dermatite atópica. Hoje em dia, sabemos que se ambos os pais forem atópicos, a probabilidade do bebé nascer com pele atópica é de 70%, pelo que os cuidados com a pele devem ser redobrados. A pele atópica exige cuidados de higiene e hidratação especiais, nomeadamente, no que diz respeito aos produtos com perfume, que devem ser excluídos da rotina do bebé, uma vez que podem causar alergia, irritação e desconforto (2). Em suma, a pele do bebé é mais sensível e que exige maiores cuidados que a pele do adulto. Em caso de dúvidas, o ideal será consultar um especialista para saber que cuidados deve ter com a pele dos mais novos, de forma a que estes cresçam com uma pele saudável e sem problemas!
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ENTREVISTA
"A AMAMENTAÇÃO AJUDA NO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL E COGNITIVO DO BEBÉ" A IMPORTÂNCIA DA AMAMENTAÇÃO INFANTIL E OS SEUS BENEFÍCIOS PARA A MAMÃ E O BEBÉ COLOCADOS EM PERSPECTIVA PELA BASTONÁRIA DA ORDEM DOS MÉDICOS DE ANGOLA, DRA. ELISA GASPAR.
Dra. Elisa Gaspar Médica licenciada em Pediatria; Mestre em Saúde Materno-Infantil; Bastonária da Ordem dos Médicos de Angola; Diploma Superior em Saúde Pública Internacional; Coordenadora do Banco de Leite Humano em Angola
A amamentação é um processo no qual o bebé cria muitos laços com a mãe. Na sua opinião, quais são os principais benefícios da amamentação? O leite materno tem benefícios importantes para garantir a saúde do bebé e para fortalecer o seu sistema imunológico e o seu crescimento. Tem a forma equilibrada dos teores de proteínas, carboidratos, gorduras e água, absorção de nutrientes, previne anemias, evita diarreias, desenvolve o sistema nervoso, previne a obesidade, previne alergias e está sempre pronto para ser consumido. A mãe tem benefícios em amamentar? Quais? É uma ação benéfica para saúde e bem-estar da mãe, o contacto pele a pele aumenta o fluxo de ocitocina no seu corpo. Fazer o bebé pegar a mama logo, e com frequência, ajuda o útero a contrair-se, estimula a expulsão da placenta, protege a mãe da perda excessiva de sangue. Quando a mãe amamenta, o seu útero retraise mais rápido, tem menos sintomas de ansiedade e depressão, reduz o risco de doença cardíaca e diabetes tipo 2 e também reduz o risco de desenvolver alguns tipos de cancro, como o da mama, ovário e útero. A perda de peso que ganhou durante a gestação também é um factor a ter em conta. Qual a principal diferença entre o leite materno e os leites de fórmula? Existem diferenças qualitativas e quantitativas entre as proteínas do leite materno e do leite de vaca. O leite materno é um líquido rico em gordura, proteína,
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carboidratos, minerais, vitaminas, enzimas e imunoglobulinas que protegem contra várias doenças. O leite materno é composto por 87% de água, sendo que os 13% restantes são elementos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento perfeito da criança. O leite humano é rico em leucócitos e anticorpos que protegem o bebé contra infecções e alergias, possui factores de crescimento que aceleram a maturação intestinal, também prevenindo alergias e intolerâncias. É, ainda, rico em vitamina A. Por sua vez, o leite de vaca também contém factores imunológicos, mas para o bezerro. Esses factores só funcionam para a mesma espécie e serão destruídos pela armazenagem e fervura do leite, pelo que a composição de proteínas e o desequilíbrio entre os minerais pode, por isso mesmo, causar transtornos ao ser humano. O leite bovino contém, ainda, a beta lacto globulina, uma proteína que não existe no leite humano e é comprovadamente a mais alergénica do leite de vaca para o ser humano, principalmente por não termos enzimas que digerem esta proteína. O leite de vaca tem três vezes mais proteína que o leite humano. Amamentar é mais do que uma questão de nutrição. Qual a relação entre a amamentação e a imunidade do bebé? O leite humano tem substâncias que beneficiam o sistema imunológico, apresentando anticorpos ao organismo do bebé e também protege o bebé de várias doenças infecciosas, assim como reduz
o risco da criança ter diabetes. Até aos dois anos de idade, o sistema imunológico da criança ainda está em desenvolvimento, começando a sua própria produção de anticorpos. A amamentação ajuda no desenvolvimento emocional e cognitivo do bebé. Da sua experiência, quais são os factores que influenciam a prática do aleitamento materno exclusivo? O aleitamento materno e a amamentação fazem parte de uma acção fisiológica normal após o nascimento do bebé. A amamentação garante a sobrevivência e o crescimento saudável do bebé. Já há mais evidências científicas de que a amamentação é a melhor forma de alimentar a criança até ao sexto mês de vida e é uma prática recomendada pelas autoridades de saúde, através de políticas e acções que previnam o desmame precoce. O leite materno é livre de contaminação. O colostro é uma das fases mais importantes do leite materno e, muitas vezes, menosprezado pelas mamãs. Qual a sua constituição e porque é tão fundamental incentivarmos as mamãs a não rejeitarem o colostro? O colostro possui macro e micronutrientes necessários para manter o estado nutricional do bebé e o seu crescimento. É rico em proteínas, principalmente imunoglobulinas, antimicrobianos, anticorpos e outras moléculas bioactivas que possuem propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias
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ENTREVISTA
que ajudam a estimular e a desenvolver o sistema imune do bebé, protegendo contra diversas doenças. É o primeiro leite materno e é de fácil digestão, contribuindo para o desenvolvimento do sistema gastrointestinal. Além de ser rico em electrólitos e zinco, o colostro possui cor amarela devido ao facto de ser rico em carotenóides, que são transformados no organismo em vitamina A, que exerce o papel no sistema imune e na saúde visual, além de actuar como antioxidante, ajudando a diminuir o risco de desenvolver doenças crónicas.
"O COLOSTRO POSSUI MACRO E MICRONUTRIENTES NECESSÁRIOS PARA MANTER O ESTADO NUTRICIONAL DO BEBÉ E O SEU CRESCIMENTO. É RICO EM PROTEÍNAS, PRINCIPALMENTE IMUNOGLOBULINAS, ANTIMICROBIANOS, ANTICORPOS E OUTRAS MOLÉCULAS BIOACTIVAS QUE POSSUEM PROPRIEDADES IMUNOMODULADORAS E ANTI-INFLAMATÓRIAS QUE AJUDAM A ESTIMULAR E A DESENVOLVER O SISTEMA IMUNE DO BEBÉ, PROTEGENDO CONTRA DIVERSAS DOENÇAS. É O PRIMEIRO LEITE MATERNO E É DE FÁCIL DIGESTÃO, CONTRIBUINDO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA GASTROINTESTINAL"
As mastites assumem-se como um problema fisiológico que pode ocasionar dificuldades na amamentação. Estatisticamente, quantas mulheres apresentam esta situação anualmente em Angola? Quais os conselhos dados às futuras e recémmamãs para evitar esta situação? A mastite puerperal, também chamada de mastite lactacional ou mastite da amamentação, é uma inflamação das glândulas mamárias que ocorre em mulheres em fase de aleitamento materno e cursa com vermelhidão nos seios, dor, calafrios e febre alta. Cerca de 10% a 20% das mulheres desenvolvem um episódio de mastite durante o período de amamentação. Na maioria dos casos, a inflamação ocorre nos três primeiros meses de aleitamento, mas nada impede que possa ocorrer em fases posteriores. O principal factor de risco para a mastite puerperal é a estase láctea, ou seja, a permanência de leite num dos ductos mamários por tempo prolongado. Outro factor importante são as fissuras do mamilo, que favorecem a invasão de bactérias da pele para dentro do tecido mamário. O melhor modo de prevenir a mastite do puerpério é através da correcta técnica de amamentação, com adequada pega do bebé, visando um eficaz esvaziamento da mama a cada mamada e evitando a ocorrência de lesões nos mamilos que servem de porta de entrada para a invasão de bactérias.
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Tendo em linha de conta as vantagens do aleitamento materno, muitos têm sido os esforços no sentido de o promover. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde (2000) recomenda, na estratégia global para a alimentação do recém-nascido e do bebé, o aleitamento materno exclusivo até aos seis meses de vida, o que implica não oferecer nenhum outro alimento sólido ou líquido até essa idade (nem mesmo água) e dar continuidade ao aleitamento materno complementado com outros alimentos dos seis meses de vida até aos dois anos de idade, no mínimo. Qual a sua opinião profissional sobre esta estratégia e quais as principais barreiras e dificuldades que se verificam no terreno? A estratégia do apoio e promoção ao aleitamento materno é bem acertada em benefício das crianças que são o futuro dos países. Quanto aos bebés prematuros, a amamentação é mais relevante para estes? Amamentar prematuros é, sem dúvida, um desafio. Em função da imaturidade dos órgãos, o tracto gastrointestinal, a incoordenação ou a falta de reflexos de sucção, deglutição e respiração, as crianças que nasceram muito prematuras necessitam receber as suas primeiras calorias por via intravenosa. Paralelamente a esta nutrição, a alimentação enteral, também chamada de nutrição trófica, deve ser iniciada, por meio de sonda orogástrica. Mesmo que seja em quantidades insuficientes para nutrir o bebé, é de grande importância para evitar a atrofia das vilosidades da mucosa intestinal e a prevenção de infecções graves. A escolha pela amamentação é uma opção que cabe única e exclusivamente à mãe. Como profissional de saúde, que conselhos pode dar às mães? Aconselho as mães a darem de mamar sempre. Existem profissionais que são apologistas dos horários da amamentação e outros do regime livre. O que aconselhar aos pais, na sua opinião profissional? Aconselho a livre demanda, dar de mamar sempre que o bebé quiser. Relativamente ao Banco de Leite Humano, como surgiu e quais os principais desafios que encontram diariamente? O Banco de Leite Humano surgiu da necessidade da oferta de leite materno aos bebés internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, bebés abandonados, bebés órfãos e bebés que, por outros, motivos, não tinham o leite da sua mãe. Como imagina o Banco de Leite Humano daqui a cinco anos? Imagino a rede angolana de Banco de Leite Humano com capacidade para satisfazer as necessidades de todo público-alvo, em várias províncias.
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a i d x 1
contém Feralgina®, um novo composto que resulta da associação de ferro bisglicinato quelato e ácido algínico (1) A Feralgina® foi desenvolvida com o intuito de melhorar ainda mais a biodisponibilidade, tolerabilidade e o sabor do ferro bisglicinato quelato (1-3) Após a dissociação no estômago, o ferro bisglicinato quelato passa rapidamente para o duodeno, onde a sua ampla distribuição permite uma absorção mais extensa (1-3) A maior biodisponibilidade de , associada a uma melhoria da proteção gastrointestinal e do sabor, otimiza a adesão ao tratamento (2)
Maior biodisponibilidade, melhor tolerabilidade, mais ferro
(1-3)
(1) Gervasi GB, et al. Feralgine® a New Co-processed Substance to Improve Oral Iron Bioavailability, Taste and Tolerability in Iron Deficiency Patients. Arch Med, 2016;8(4):13. (2) Amè C, CampaE. FERALGINE® a new oral iron therapy for iron deficiency anemia: Preliminary Clinical results on a case series of 12 anemic patients. RRJPPS. 2016:5(4):29-35. (3) Rondinelli MB et al. Oral Iron Absorption Test (OIAT): a forgotten screening test for iron absorption from the gastrointestinal tract. A case series of 14 Iron Deficiency Anemia (IDA)
BALS180103
Os suplementos alimentares não devem ser utilizados como substitutos de um regime alimentar variado, equilibrado e de um modo de vida saudável.
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ENTREVISTA ALIMENTAÇÃO NO 1.º ANO DE VIDA
"SOMOS O QUE COMEMOS"
Dra. Yala Almeida Médica licenciada em Pediatria; Chefe de Serviço da Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos e Neonatais da Clínica Girassol; Coordenadora do Núcleo de Aleitamento Materno da Sociedade Angolana de Pediatria
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UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL É FUNDAMENTAL PARA O CORRECTO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. UM GESTO TÃO MAIS IMPORTANTE NOS PRIMEIROS DOIS ANOS DE VIDA, COMO EXPLICA A DRA. YALA ALMEIDA EM ENTREVISTA.
Sabemos que a alimentação do bebé é crucial para o seu crescimento. Como médica pediatra, qual a sua opinião acerca da mesma? A alimentação saudável é fundamental para a criança. Somos o que comemos, logo, uma correcta alimentação nos dois primeiros anos de vida irá ditar
uma criança e uma adulto saudáveis. É importante que a criança tenha uma dieta diversificada e equilibrada, onde constem todos os grupos de nutrientes, nomeadamente, proteínas, hidratos de carbono, vitaminas e minerais. Para que o bebé tenha um crescimento saudável, é necessário que a sua alimentação seja equilibrada. Qual o principal erro que os papás cometem? Infelizmente, ainda se cometem muitos erros relativamente à alimentação. O primeiro e principal erro é iniciar precocemente a alimentação diversificada, ou seja, antes dos seis meses de idade. Depois, existem erros relativos à idade de
“EXISTEM ERROS RELATIVOS À IDADE DE INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS E A QUALIDADE DOS MESMOS. UM OUTRO PROBLEMA É OFERECERMOS À CRIANÇA APENAS AQUILO QUE ELA MAIS GOSTA, ISSO CRIA ERROS NA DIETA QUE TERÃO CONSEQUÊNCIAS MAIS TARDE”
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ou sólido, nem mesmo água. O leite materno tem todos os componentes em termos de nutrientes necessários para o correcto crescimento e desenvolvimento da criança. O leite materno é dinâmico e sofre mudanças na sua composição em função da idade da criança que está a ser amamentada, de modo a suprir todas as suas necessidades.
“É COMPLICADO DIZER EXACTAMENTE QUANDO RECORRER A LEITES ARTIFICIAIS. DEVEMOS AVALIAR CADA CRIANÇA NO SEU TODO, NO SEU AMBIENTE FAMILIAR E A SUA CONDIÇÃO CLÍNICA. DE UMA MANEIRA GENERALISTA, PODEMOS DIZER QUE OS LEITES ARTIFICIAIS OU DE FÓRMULA DEVERÃO SER UTILIZADOS APENAS EM CASOS PARTICULARES”
Quando o bebé começa com a diversificação alimentar, é recomendável suspender a amamentação? Porquê? Não, nem pensar! Aos seis meses, quando se inicia a diversificação alimentar, devemos manter o leite materno. Nesta altura, a criança vai fazer aleitamento materno complementado, ou seja, vai-se introduzindo gradualmente os alimentos e mantém-se o leite materno, idealmente, pelo menos, até aos dois anos de idade. Quando é que os pais devem recorrer aos leites e fórmulas?
A diversificação alimentar deve ser feita de forma gradual e com tranquilidade, respeitando o ritmo do bebé, fazendo a transição de uma alimentação exclusivamente láctea para a diversificação alimentar. Existem restrições? A diversificação alimentar deve ser feita de forma gradual. Inicia-se com papas de legumes ou de frutas, dependendo da criança que temos. A consistência deve ser inicialmente como um creme; depois, um puré e só mais tarde entramos nos pedacinhos. A alimentação deverá ser oferecida nos horários das refeições padrão da família (pequenoalmoço, almoço e jantar), em função da idade da criança. Devemos respeitar o calendário nutricional, ou seja, existem tempos correctos para a introdução dos alimentos. Não existem grandes restrições, mas devemos fazer alguma atenção às crianças atópicas (alérgicas). Qual a sua opinião acerca das frutas consideradas mais alergénicas, como o kiwi e os frutos vermelhos? Podem ser dados antes dos 12 meses? Qual o problema? Os frutos vermelhos devem ser introduzidos com precaução, por serem potencialmente alergénicos. Aos nove meses, após introdução do peixe, tomate e ovo, devemos começar a introdução dos frutos vermelhos. Protelamos para os 12 meses quando existem histórias de alergias alimentares na família ou na própria criança.
introdução de alimentos e a qualidade dos mesmos. Um outro problema é oferecermos à criança apenas aquilo que ela mais gosta, isso cria erros na dieta que terão consequências mais tarde. A Organização Mundial de Saúde recomenda a alimentação em exclusividade com leite materno até aos seis meses. Este é suficiente? Sim. Até aos seis meses de idade, o lactente deve ser alimentado apenas do leite da sua mãe. Sem a introdução de mais nenhum tipo de alimentos líquido
que os leites artificiais ou de fórmula deverão ser utilizados apenas em casos particulares.
É complicado dizer exactamente quando recorrer a leites artificiais. Devemos avaliar cada criança no seu todo, no seu ambiente familiar e a sua condição clínica. De uma maneira generalista, podemos dizer
Quando é que o bebé deve começar a beber água? Quando inicia a diversificação alimentar, seja ela à base de leites de fórmula ou a alimentos sólidos. Enquanto o bebé for alimentado apenas por leite materno não necessita de água na sua dieta.
(1) RAFFI, J., SURESH, R., & AGBAI, O. - Clinical recognition and management of alopecia in women of color. Int J Womens Dermatol. Vol. 5. n.º 5 (2019). p. 314-319. (2) PULICKAL, J. K., & KALIYADAN, F. - Traction Alopecia. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing (2020).
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A amamentação ou outra fonte láctea são o principal aporte energético nos primeiros seis meses de vida do bebé. Dos seis aos oito meses, a energia é também obtida através dos alimentos. Quando os alimentos não são introduzidos até aos 8-10 meses, todo o processo de diversificação alimentar pode ficar comprometido. Qual a sua opinião sobre a introdução alimentar antes dos oito meses? A introdução tardia dos alimentos é também um erro muito frequente. As necessidades metabólicas da criança são diferentes no primeiro e no segundo semestres de vida. Por isso, há necessidade de complementar a dieta a partir dos seis
meses, pois o aporte energético do leite será insuficiente. Além disso, a introdução tardia da dieta pode levar a criança a acomodarse àquele tipo de dieta apenas láctea, tornando mais difícil este processo. A diversificação alimentar à colher leva também ao desenvolvimento de capacidades cognitivas, que ficarão prejudicadas por não haver esse estímulo na altura certa. A adição de sal e açúcar à dieta do bebé leva à sua estimulação e procura destes aditivos ao longo da sua vida. Na sua opinião, os pais podem ou não adicionar sal e açúcar às refeições dos filhos?
O sal e o açúcar são desnecessários e desaconselhados ao longo do primeiro ano de vida. A criança vai conhecer o sabor doce, amargo e salgado do paladar natural dos alimentos (cereais, fruta, etc.). A adição de sal e açúcar à dieta leva a erros graves, estando associada a maior risco de obesidade na infância ou adolescência e de diabetes e hipertensão arterial na idade adulta. Entre os 12 e os 15 meses, é a altura da criança adoptar a dieta familiar. Nessa altura, será exposta inevitavelmente a estes alimentos. A família pode aproveitar para melhorar alguns dos seus hábitos dietéticos menos saudáveis, de modo a promover a saúde de todos em casa. Pub
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ENTREVISTA
A VACINAÇÃO E A SUA IMPORTÂNCIA
Dr. Leite Cruzeiro
VACINAR É CRIAR ARTIFICIALMENTE E SEM RISCOS, UM ESTADO DE PROTECÇÃO CONTRA DETERMINADAS DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS E GRAVES. AS VACINAS SÃO PRODUTOS BIOLÓGICOS QUE GERAM NAS PESSOAS QUE AS RECEBEM UMA RESPOSTA IMUNITÁRIA, CUJA FINALIDADE É A PROTECÇÃO CONTRA A DOENÇA PELA QUAL FOI VACINADA. A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO NÃO ESTÁ SOMENTE NA PROTECÇÃO INDIVIDUAL, MAS TAMBÉM PORQUE EVITA A PROPAGAÇÃO EM MASSA DE DOENÇAS QUE PODEM LEVAR À MORTE OU A SEQUELAS GRAVES, COMPROMETENDO A QUALIDADE DE VIDA DAS CRIANÇAS E A SAÚDE DAS PESSOAS VITIMIZADAS.
Médico licenciado pela Faculdade de Medicina Agostinho Neto; Especialidade em Pediatria pelo Hospital Pediátrico David Bernardino; Membro da Sociedade Angolana de Pediatria
Sabemos, actualmente, que a vacinação é das formas mais eficazes e menos dispendiosas de prevenir doenças infecciosas. Em Angola, qual é a importância da vacinação? A importância da vacinação em Angola não é diferente dos outros países, mas acresce porque, entre nós, as doenças infecciosas ainda têm um papel primordial nas causas da morbimortalidade infantil. Existem muitas crianças que ainda morrem por doenças possíveis de prevenir através vacinação e será importante também haver disponibilidade das vacinas em todo o território nacional, desde as cidades até às zonas mais longínquas, assim como a formação da população para a quebra dos tabus que ainda existem entre nós e que dificultam a maior adesão ao programa de vacinação. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a vacinação impede dois a três milhões de mortes anuais face a doenças como o sarampo, o tétano neonatal e a tosse convulsa, tendo até já erradicado algumas doenças em alguns países. Qual a eficácia das vacinas? Tal como qualquer medicamento, nenhuma vacina é 100% eficaz em todas as pessoas vacinadas. A eficácia num indivíduo depende de uma série de factores, nomeadamente, idade, outras doenças ou patologias que possa ter, tempo decorrido desde a vacinação, contacto anterior com a doença, a forma como é administrada a vacina, etc.
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A vacina contra o sarampo, a papeira e a rubéola (VASPR), por exemplo, é altamente eficaz na prevenção dessas doenças. Normalmente, confere protecção ao longo da vida e tem uma eficácia de cerca de 97%-99% entre as crianças saudáveis, após receberem duas doses. As vacinas são tão eficazes que, em diversas partes do mundo, muitos profissionais de saúde actualmente em actividade viram poucos, ou nenhum, casos de doenças que costumavam ser extremamente comuns e fatais (sarampo, doenças meningocócicas, etc). Que tipos de vacinas existem? As vacinas, atendendo as características biológicas do antígeno, podem ser: • Vacinas de microrganismos atenuados, em que o microrganismo responsável pela doença sofre uma série de procedimentos no laboratório, que diminuem a sua virulência. Quando vacina é administrada, é estimulada uma resposta imunológica contra esse microrganismo, porém, não há desenvolvimento de doença. Exemplos destas vacinas são a BCG, tríplice viral (DTP) e a da varicela; • Vacinas de microrganismos inactivados ou mortos, que contêm microrganismos inteiros, mas que não estão vivos ou dos quais existem apenas fragmentos, estimulando a resposta do organismo, como é o caso da vacina para hepatite e a vacina meningocócica. Assim, a partir do momento em que a vacina é administrada, o sistema imunológico age directamente sobre o microrganismo, ou os seus fragmentos, promovendo a produção de anticorpos específicos. Caso, futuramente, a pessoa entre em contacto com o agente infeccioso, o sistema imunológico já consegue combater e impedir o desenvolvimento da doença. Atendendo ao número de antígenos presentes nas vacinas, estas podem ser: • Monovalentes: possuem um só antígeno (por exemplo, BCG). • Combinadas: dois ou mais antígenos (DTP, Hib, Hepatite B). Quais são as vacinas obrigatórias para as crianças? E quais as vacinas mais importantes num bebé? Todas as vacinas são obrigatórias, dependendo da idade da criança, mas cada país cria os seus programas, de acordo com as doenças mais prevalentes e a disponibilidade financeira, sendo as outras vacinas não comparticipadas, mas que deverão ser aplicadas.
existentes e que vão demorar anos a serem ultrapassados. Importa referir, a vacinação é segura? Todas as vacinas licenciadas para uso passaram antes por diversas fases de avaliação, desde os processos iniciais de desenvolvimento até à produção e fase final, que é a aplicação, garantindo, assim, a sua segurança. Além disso, são avaliadas e aprovadas por institutos reguladores muito rígidos e independentes. E não só isso, mas o acompanhamento de eventos adversos continua a verificar-se após licenciamento da vacina, o que permite a continuidade de monitoramento da segurança do produto. Eventuais reacções, como febre e dor local, podem ocorrer após a aplicação de uma vacina, mas os benefícios da imunização são muito maiores que os riscos dessas reacções temporárias. Que conselhos se devem dar aos pais caso tenham falhado/esquecido a vacina do seu filho? Sempre que isso acontecer, a criança deve ser vacinada logo que seja possível, salvaguardando o espaçamento entre as vacinas. A vacinação nunca deve ser recomeçada, deve sim dar-se continuidade a partir da fase em que se terminou. Quando falamos em bebés prematuros, falamos em bebés que têm menos defesas. Quando é que estes devem começar a ser vacinados? A vacinação de uma criança prematura deve fazer-se com normalidade na idade cronológica, com os intervalos recomendados e com as doses correspondentes a cada vacina, dado que a resposta imunitária e a taxa de efeitos adversos são comparáveis em prematuros e em crianças de termo. Deve-se ter uma atenção especial para aquele grupo de prematuros com peso ≤ 2.000 gramas. Na sua opinião, como é que podemos ultrapassar as barreiras e vacinar o maior número de crianças possível? Que mudanças são necessárias realizar? Penso que podemos aumentar o número de crianças a serem vacinadas com um maior número de locais para vacinar e mais próximos da população, a exigência da comprovação de vacinas para determinados actos, como, por exemplo, matrículas escolares. Também se as empresas exigirem este acto aos seus trabalhadores poderá estimular a vacinação e, claro está, trabalhar-se na formação e informação.
A consciencialização sobre a importância da vacinação é um assunto bastante discutido, nomeadamente, a erradicação da poliomielite em África. Do seu ponto de vista, o que leva os pais a não vacinarem os filhos? No meu ponto de vista, os pais não vacinam os filhos por vários motivos. Nomeadamente, disponibilidade das vacinas em todo o território nacional, confiança no sistema nacional de saúde e os tabus ainda
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TEMA DE CAPA
OUTUBRO ROSA
O CANCRO DA MAMA E A SUA PREVENÇÃO
Dr. Paulo Salamanca Médico Oncologista, Presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos de Angola
DR. PAULO SALAMANCA, MÉDICO ONCOLOGISTA E PRESIDENTE DO COLÉGIO DE ONCOLOGIA DA ORDEM DOS MÉDICOS DE ANGOLA, EXPLICA O QUE É O CANCRO DA MAMA E DETALHA OS PROCEDIMENTOS DE VIGILÂNCIA E PREVENÇÃO DESTA PATOLOGIA, HEREDITÁRIA EM 15% DOS CASOS.
Sabemos que o movimento conhecido como Outubro Rosa (Pink October, no original) surgiu nos Estados Unidos, na década de 1990, para sensibilizar a população quanto à importância da prevenção no combate ao cancro da mama. Qual a importância da mamografia? A mamografia é uma radiografia mamária que utiliza raios-x para gerar imagens da mama. O seu propósito é a detecção precoce do cancro da mama, antes do aparecimento de sintomas (mamografia de rastreio), e o diagnóstico secundário em doentes que apresentam sinais e sintomas, tais como um nódulo mamário (mamografia de diagnóstico, também chamada mamografia clínica). Os seus objectivos principais são permitir o tratamento precoce do cancro da mama, melhorar as taxas de sobrevivência e reduzir a necessidade de tratamentos agressivos, como a mastectomia total (cirurgia de remoção completa da mama).
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O cancro da mama é uma das principais causas de morte por cancro, entre as mulheres, sendo considerado entre estas o tipo de cancro mais frequente. O cancro da mama dá sinais ou sintomas? O cancro da mama é o tumor maligno mais frequentemente diagnosticado e tratado no Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC), representando cerca de 240 novos casos ao ano, nos últimos cinco anos, segundo Miguel et al Infectious Agents and Cancer (2019)14:35. Os sinais e sintomas de alarme, que devem levar as pessoas a consultar o médico para excluir cancro da mama, são qualquer alteração na mama ou no mamilo, quer no aspecto quer na palpação; qualquer nódulo ou espessamento na mama, perto da mama ou na zona da axila; aumento da sensibilidade no mamilo; alteração do tamanho ou forma da mama; retracção do mamilo (mamilo virado para dentro da mama); pele da mama, auréola ou mamilo com aspecto escamoso, vermelho ou inchado, pode apresentar saliências ou reentrâncias, de modo a parecer “casca de laranja”; e secreção ou perda de líquido pelo mamilo de cor acastanhada ou com sangue. Apesar dos estádios iniciais do cancro não causarem dor, se sentir dor na mama ou qualquer outro sintoma que não desapareça, a mulher deve consultar o médico, para que qualquer problema possa ser diagnosticado e tratado atempadamente. São conhecidos alguns dos factores de risco (factores que podem aumentar a probabilidade de ter uma determinada doença) para o cancro da mama.
Consegue-nos elucidar quanto a estes factores? Os factores de risco que podem aumentar a probabilidade de desenvolver cancro da mama incluem o sexo feminino (apenas 1% de todos os casos de cancro da mama ocorre nos homens); a idade (uma mulher com mais de 50 anos apresenta maior risco e o cancro da mama é menos comum antes da menopausa); a raça (o cancro da mama ocorre com maior frequência em mulheres caucasianas [brancas], comparativamente a mulheres latinas, asiáticas ou afroamericanas); a história pessoal de cancro da mama (uma mulher que já tenha tido cancro numa mama tem maior risco de ter a doença na outra mama); a história familiar (o risco está aumentado se houver histórico familiar de cancro da mama, ou seja, se a mãe, tia ou irmã tiveram, especialmente antes dos 40 anos, mas também se outros familiares, de primeiro ou segundo graus, tiveram cancro da mama); algumas alterações da mama (aumento da densidade mamária [tecido não gordo] numa mamografia de mulher em idade avançada, hiperplasia atípica ou carcinoma in-situ aumentam o risco de cancro da mama); alterações genéticas (alterações nos genes BRCA1 ou BRCA2, entre outros, aumentam o risco de cancro da mama); a história reprodutiva (nulípara [mulher que nunca teve filho] ou primeiro filho depois dos 31 anos) ou exposição hormonal endógena com história menstrual longa (menarca precoce [primeira menstruação antes dos 12 anos de idade] ou menopausa tardia após os 55 anos); exposição hormonal exógena (terapêutica hormonal de substituição apenas com estrogénios ou estrogénios e progesterona) durante cinco ou mais anos parecem, também, apresentar maior possibilidade de desenvolver cancro da mama; radioterapia na região peitoral (incluindo as mamas, antes dos 30 anos); obesidade depois da menopausa (o corpo produz alguns estrogénios [hormona feminina] no tecido gordo, sendo mais provável que as mulheres obesas apresentem níveis elevados de estrogénios e, consequentemente, risco aumentado para cancro da mama); o sedentarismo (mulheres que são fisicamente inactivas, durante a sua vida, parecem ter um risco aumentado para cancro da mama); e o consumo de bebidas alcoólicas (alguns estudos sugerem haver relação entre a maior ingestão de bebidas alcoólicas e o risco aumentado de ter cancro da mama). Em Angola, teremos que realizar estudos com amostras representativas da nossa população para validarmos estes factores de risco ou identificar outros cuja correlação ainda não tenha uma evidência científica forte. O cancro da mama tem características genéticas e hereditárias? O cancro da mama é hereditário em cerca de 15% dos casos. Alterações em certos genes (BRCA1, BRCA2, PALB2, TP53, PTEN, CDH1, entre outros) aumentam o risco de cancro da mama. Nas famílias onde muitas mulheres tiveram a doença, os testes genéticos podem, por vezes, demonstrar a presença de alterações genéticas específicas. Assim sendo, em mulheres que apresentem estas alterações genéticas, podem ser sugeridas medidas para tentar reduzir o risco de cancro da mama e melhorar a detecção precoce da doença. O caso mais mediático foi o da actriz Angelina Jolie, portadora da mutação BRCA1, que aumenta a probabilidade de desenvolver
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cancro da mama ao longo da vida em cerca de 85%, e que assumiu que se submeteu a mastectomia bilateral profiláctica (retirou as duas mamas, poupando a pele e os mamilos, e colocou prótese bilateral) para reduzir o risco em menos de 5%. O cancro da mama é uma das doenças com maior impacto na sociedade mundial, não apenas pela sua prevalência enorme, mas também porque afecta um órgão cheio de simbolismo, quer na maternidade, quer na feminilidade, pelo que é importante lidar com o impacto psicológico que causa na sociedade. Como profissional, que conselhos pode dar? Como profissional que trata o cancro da mama, é evidente que a gestão destes doentes torna-se muito difícil pelo simbolismo quer na maternidade, quer na feminilidade, sendo o impacto psicológico negativo na doente e na sociedade a pedra basilar a ser tratada. O acompanhamento psicológico é fundamental e o apoio familiar é crucial, principalmente do marido, para que haja sucesso terapêutico e uma maior aceitação das sequelas provocadas pelos tratamentos potencialmente curáveis. As terapias de grupo devem fazer parte do tratamento oncológico e as equipas multidisciplinares devem apostar, sempre que possível, em tratamentos menos mutilantes (tratamentos cirúrgicos poupando a mama) e cirurgias plásticas de reconstrução mamária.
enxaquecas, alterações de humor, depressão, entre outros), na minha opinião, deve ser desaconselhada num período igual ou superior a cinco anos, apesar da controvérsia na comunidade científica, porque alguns estudos demonstram um aumento do cancro da mama neste subgrupo de mulheres, principalmente quando utilizavam terapêutica hormonal combinada, mas também a THS apenas com estrogénios, que aumenta o risco de cancro do endométrio.
"QUANDO HÁ SUSPEITA DE CANCRO DA MAMA, A DOENTE OU O DOENTE (APESAR DA RARIDADE, TAMBÉM SE PODE DESENVOLVER NO HOMEM) DEVEM SER ENCAMINHADOS PARA UMA INSTITUIÇÃO DE SAÚDE QUE TENHA RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO, IMAGIOLÓGICO E ANATOMO-PATOLÓGICO DE TUMOR MALIGNO E, DE SEGUIDA, DEVEM SER REFERENCIADOS PARA UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR QUE TENHA UMA UNIDADE DE MAMA, PARA DECISÃO TERAPÊUTICA E TRATAMENTO ONCOLÓGICO EM ÂMBITO MULTIDISCIPLINAR"
Como é realizado o diagnóstico do cancro da mama? O diagnóstico do cancro da mama consiste na realização dos seguintes procedimentos: mamografia de rastreio (mulheres assintomáticas), exame clínico da mama (rastreio oportunista), auto-exame da mama (auto-vigilância), mamografia e/ou ecografia mamária de diagnóstico (mulheres com sinais e sintomas), biópsia aspirativa com agulha fina “BAAF” ou biópsia com agulha grossa “Tru Cut” (confirmação diagnóstica). Para a detecção precoce do cancro da mama (rastreio), a recomendação geral é que as mulheres com 40 anos ou mais devam fazer uma mamografia anualmente ou em cada dois anos; mulheres que apresentem um risco aumentado (relativamente à média) de ter cancro da mama devem falar com o seu médico sobre a possibilidade de fazer uma mamografia antes dos 40 anos e saber qual a frequência para as próximas. Durante o exame clínico da mama, o médico palpa as mamas em diferentes posições: enquanto está de pé, sentada e deitada. O médico realiza a inspecção, procurando quaisquer diferenças entre as mamas, incluindo diferenças invulgares de tamanho ou forma; na pele, é verificada a presença de vermelhidão, depressões cutâneas ou outros sinais anormais. Os mamilos devem ser pressionados, para verificar se existe alguma secreção ou perda de líquido. O médico poderá examinar toda a mama, usando a polpa da ponta dos dedos, para sentir quaisquer alterações e/ ou nódulos, a área axilar e a área da clavícula, primeiro de um lado e depois do outro (esquerdo e direito). Um nódulo apresenta, geralmente, o tamanho de uma ervilha, antes que alguém o consiga sentir ou palpar. Um exame clínico completo da mama pode demorar cerca de 10 minutos a ser realizado. Amelhor altura para realizar o auto-exame da mama é, aproximadamente, uma semana depois da menstruação (no fim do período menstrual), mas se não tem uma menstruação regular ou estiver na pós-menopausa, deverá realizar, preferencialmente, o autoexame sempre no mesmo dia de cada mês.
A maioria dos cancros da mama são hormonodependentes. Estudos clínicos afirmam que a gravidez diminui o risco de cancro da mama, no entanto, tratamentos combinados para a menopausa podem aumentar o risco quando são utilizados apenas os estrogénios sozinhos. Qual a sua opinião enquanto profissional? Como é que actua perante estes casos? A Terapêutica Hormonal de Substituição (THS), apenas com estrogénios ou estrogénios e progesterona para controlo dos sintomas da menopausa (afrontamentos,
Qual é o procedimento quando há suspeita de cancro da mama? Quando há suspeita de cancro da mama, a doente ou o doente (apesar da raridade, também pode desenvolver no homem) devem ser encaminhados para uma instituição de saúde que tenha recursos humanos e materiais para o diagnóstico clínico, imagiológico e anatomo-patológico de tumor maligno e, de seguida devm ser referenciados para uma instituição hospitalar que tenha uma Unidade de Mama, para decisão terapêutica e tratamento oncológico em âmbito multidisciplinar, que melhora os resultados alcançados com ganhos na sobrevivência e minimização dos prejuízos para o doente.
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OPINIÃO
PELE ACNEICA, AFINAL DO QUE SE TRATA?
Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde
A ACNE É UM DOS PROBLEMAS DE PELE MAIS COMUNS, ESPECIALMENTE NA POPULAÇÃO JOVEM. INICIANDO, GERALMENTE, NA ADOLESCÊNCIA, EM SIMULTÂNEO COM AS ALTERAÇÕES HORMONAIS, ESTA MANIFESTAÇÃO CUTÂNEA PERSISTE, MUITAS VEZES, ATÉ À IDADE ADULTA. O PROBLEMA? 80%90% DOS ADOLESCENTES SÃO AFECTADOS POR ESTAS IMPERFEIÇÕES, NO ENTANTO, APENAS 20%30% PROCURA AJUDA ESPECIALIZADA.
A acne é um problema cutâneo onde há uma produção excessiva de gordura sebácea através dos folículos pilosos, manifestando-se, deste modo, pelo aparecimento de comedões abertos e fechados, isto é, pontos negros e borbulhas. Embora não seja grave, tem um impacto psicológico importante, dada a idade dos jovens afectados. A acne é uma doença de pele na qual os folículos pilosos apresentam excesso de gordura e células mortas. As áreas mais afectadas são o rosto, o pescoço, o peito, as costas e os ombros, uma vez que é nestas regiões que existe maior concentração de folículos sebáceos (2). A acne pode-se manifestar pelos vulgares comedões abertos, resultantes da oxidação da gordura sebácea, a que chamamos de acne retencional. Se a isto associarmos a proliferação bacteriana, desenvolve-se a acne inflamatória, que pode originar comedões fechados, pápulas mais salientes e dolorosas e pústulas (2). Em casos mais graves de acne, pode haver formação de nódulos, quistos e pústulas incomodativas, que podem originar cicatrizes permanentes. O mito de que a acne desaparece com a idade deve ser desmistificado, uma vez que, se este problema cutâneo não for devidamente tratado, pode originar cicatrizes inestéticas. Além do mais, este problema tem um impacto, ao nível da autoestima das pessoas, que pode conduzir ao seu afastamento social ou mesmo à depressão. O tratamento deve ser realizado consoante o tipo de imperfeição e o estado da pele de cada indivíduo. Este baseiase na redução da produção de gordura e na renovação das células da pele, controlando, deste modo, a infecção. Embora não exista uma cura, os indivíduos devem ser bastante resilientes para a prevenção e tratamento das lesões da acne, uma vez que os tratamentos são, geralmente, bastante prolongados. Dependendo da gravidade, uma boa higiene, hidratação e protecção solar são elementos essenciais na prevenção e tratamento das lesões acneicas. Quando estamos perante situações mais graves de acne, estudos clínicos indicam que a isotretinoína é dos fármacos mais prescritos e eficazes. Contudo, o seu uso deve ter algumas limitações e cuidados adicionais, devido aos seus efeitos adversos, devendo ser utilizada apenas com acompanhamento médico (1). Quando existem questões acerca do tratamento adequado, a informação com profissionais de saúde qualificados torna-se fulcral para a escolha de tratamentos benéficos e eficazes. Referências Bibliográficas (Segundo NP405): (1) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31332846/ (2) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32738956/
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APRENDA SEM SAIR DE CASA! SAÚDE
OPINIÃO
HEMOFILIA EM ANGOLA: O TRATAMENTO E OS CUIDADOS NÃO CHEGAM À MAIORIA DOS DOENTES
Dr. Luís Bernardino Médico licenciado pela Universidade de Lisboa; Especialidade em Pediatria, Glasgow; Ex-Docente/Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto; Ex-Director do Hospital Pediátrico de Luanda
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a hemorragia pode ser grave e mesmo matar. Como na diabetes, o tratamento é fornecer a substância que falta ao organismo e deve ser dado, pelos menos, duas vezes por semana, para manter um nível adequado e fazer a prevenção das hemorragias. É esta a prática nos países mais desenvolvidos: as pessoas auto-injectamse em casa e, se vêem que não está tudo bem, vêm ao laboratório para monitorizar a taxa de factor no seu sangue.
Imaginem um doente diabético insulinodependente: como no seu sangue não há insulina necessária para disponibilizar a energia do açúcar (glicose) para o organismo, ele recebe, todos os dias, uma ou duas injecções de insulina, para o manter normal e fora das crises. Não se espera que estas ocorram: faz-se a sua profilaxia, mantendo diariamente um nível adequado de insulina no sangue. Os doentes apreendem a auto-injectar-se e a monitorizar diariamente o nível de glicose no sangue. A hemofilia é uma doença do mesmo tipo: nestes doentes, falta no sangue um factor (mais frequentemente VIII ou IX) necessário para o sangue coagular e cessar uma hemorragia, no caso de sofrerem um corte ou uma pancada. Se o nível do factor no sangue for muito baixo,
Mas, em países como Angola, embora os doentes diabéticos, alguns com dificuldade para pagar a despesa diária com os medicamentos e testes, possam seguir o tratamento profilático referido, o mesmo não se passa com os doentes hemofílicos: o preço actual de uma ampola de factor VIII de 500 Unidade é de cerca de 200.000 Kz. Sabendo que uma criança de três anos (15 kg) necessita de fazer duas a três injecções de 600 Unidade por semana, para manter um nível adequado de factor no sangue (e as necessidade vão aumentando à medida que a criança cresce), percebe-se o porquê desta despesa estar fora do alcance da maioria das pessoas e porque deveria ser paga por terceiros. Em Angola, os meios disponibilizados são tão insuficientes (às vezes, são mesmo inexistentes) que ainda não se faz a profilaxia. Espera-se que o doente tenha uma hemorragia para o injectar. Por vezes, tarde, por vezes, nunca. O bebé doente pode ter grandes perdas de sangue quando gatinha e embate num objecto, quando um dente novo está a perfurar a gengiva, quando é circuncisado. Os mais crescidos começam a ter hemorragias nos joelhos, cotovelos, tornozelos e punhos e, quando não beneficiam da injecção do factor a tempo, o sangue depositado na articulação organiza-se em tecido fibroso e afecta, irremediavelmente, o jogo articular: muitos jovens ficam deformados, coxeiam e não podem mover-se tão bem. É urgente disponiblizar os factores de coagulação para que todos os doentes possam beneficiar do tratamento profilático e ter uma vida normal. Em Angola, há cerca de uma centena de doentes identificados, em Luanda e no Huambo, mas estima-se que possam existir, em todo o território, até 3.000 doentes. A Liga dos Amigos dos Doentes Hematológicos de Angola apela à sociedade civil para se juntar ao esforço de garantir acesso de cuidados a todos os doentes.
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REPORTAGEM
POR UM MUNDO SEM TABACO
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Dra. Ana Pacheco Consultora Farmacêutica na Tecnosaúde
Como parar de fumar? Como já foi referido, fumar é uma prática extremamente viciante, devido à nicotina. A força de vontade e motivação são o primeiro passo para que consiga eliminar, de vez, este vício da sua vida. Contudo, procurar ajuda de um profissional é importante para o acompanhar nesta aventura para uma vida mais saudável e feliz. Existem cinco métodos que o profissional de saúde pode aconselhar: gomas, pastilhas, spray nasal, comprimidos e adesivos. O profissional de saúde deve avaliar o método mais adequado a cada utente, de acordo com o seu grau de viciação e comodidade (1).
ESTIMA-SE QUE CERCA DE 23% DA POPULAÇÃO MUNDIAL FUME, SENDO O TABACO A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE EVITÁVEL E O PRINCIPAL FACTOR RELACIONADO COM O APARECIMENTO DE CANCRO.
Quanto tempo demora até deixar de fumar? A nicotina, o principal constituinte do cigarro que leva o fumador a ficar viciado, faz com que este tenha desejos pelo cigarro. Estes aparecem duas a três horas após o último cigarro, havendo um pico entre o segundo e o terceiro dia. Após os três dias, a nicotina já foi eliminada do organismo, pelo que resistir ao desejo de fumar já se torna mais fácil. Após quatro semanas, a maioria dos fumadores afirma não ter desejos de nicotina.
O tabagismo é, actualmente, um problema de saúde individual e pública. O acto de fumar tem inúmeros malefícios, sendo que a dependência por este se desenvolve muito rapidamente. A principal causa desta dependência deve-se à composição do cigarro, que, dentro dos muitos componentes, tem a nicotina. Cada cigarro contém, na sua composição, para além das folhas de tabaco, um cocktail de químicos, tais como o formaldeído, pesticidas, cianeto, mercúrio e arsénio. A nicotina, também incluída nestes, é a responsável pelo efeito viciante. Esta é altamente viciante e estimula os receptores colinérgicos de nicotina no cérebro, que libertam dopamina e outros neurotransmissores, activando, deste modo, o sistema de recompensa do cérebro, tal como se fosse uma actividade prazerosa. O principal problema? As grandes consequências que o consumo de tabaco produz. Para além do cancro de pulmão, estão identificados mais 17 tipos de cancros, entre outras doenças, como a doença coronária e a doença pulmonar obstructiva crónica (DPOC) (1). Esta última é responsável por 20% das mortes relacionadas com o tabagismo. O tabaco é a causa mais comum para desenvolvimento de DPOC, sendo responsável por 61% de todas as mortes por doença pulmonar.
O tabaco influencia a saúde reprodutiva? Já falámos dos malefícios do tabaco associados à saúde respiratória e aos cancros relacionados com este. No entanto, fumar está também relacionado a problemas de saúde reprodutiva. No caso dos homens, fumar implica volumes de sémen menores, assim como a uma densidade do esperma e uma contagem de espermatozóides também mais reduzidas. Quando falamos nas mulheres fumadoras, o tabaco é um dos motivos para desregular o ciclo menstrual e pela diminuição da reserva ovariana (1). Uma grávida fumadora tem maior probabilidade de ter um bebé com baixo peso à nascença. Este falso amigo, responsável pela morte de mais de oito milhões de pessoas por ano (2), pode tornar-se, realmente, um vício que, caso não seja atempadamente tratado, pode causar danos a todos os sistemas orgânicos do corpo humano. Idealmente, não se deve experimentar nunca o cigarro, para não correr o risco de ganhar o vício, ou tentar parar o quanto antes, pedindo ajuda a profissionais devidamente qualificados. Ajudar um fumador a deixar de fumar é umas das melhores intervenções de medicina preventiva que temos actualmente e onde todos os profissionais de saúde podem desempenhar um papel importante na assistência ao utente.
(1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537066/ (2) https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(19)30228-2/fulltext
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CASO PRÁTICO
O MÉDICO RESPONDE Dr. Paulo Campos MD Médico licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto; Doutorado em Ciências Biomédicas pela Universidade Nova de Lisboa. Docente de Ginecologia e Obstetrícia na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto; Autor de trabalhos de Pesquisa Científica na Área da Saúde
PARA ESTA SEGUNDA EDIÇÃO DA NOSSA NEWSLETTER DIGITAL, CONVIDÁMOS O DR. PAULO CAMPOS A RESPONDER A ALGUMAS QUESTÕES RELATIVAS À CONTRACEPÇÃO DE 3.ª GERAÇÃO. SABE O QUE É E PARA QUE SERVE?
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CONTRACEPÇÃO DE 3.ª GERAÇÃO Pela sua experiência, diga-nos qual a finalidade das pílulas contraceptivas e que tipo de pílulas existem? Em primeiro lugar, queria agradecer à Tecnosaúde pelo convite para tecer algumas considerações a respeito de um tema de tamanha relevância social. Em segundo lugar, felicitar as mulheres, nesta data, pela conquista, face ao controlo da concepção, permitindo-lhes a emancipação e a participação no mercado de trabalho, o que trouxe à sociedade um avanço incontestável. Respondendo concretamente à pergunta, devo dizerlhe sucintamente que um dos maiores eventos do século XX, na área da medicina, foi o desenvolvimento de uma substância activa por via oral, capaz de inibir a ovulação e, consequentemente, impedir a gravidez. A finalidade básica do uso das pílulas contraceptivas é, em última análise, impedir a concepção, prevenindo, assim, gravidezes indesejadas. Mas os benefícios da pílula vão para além da contracepção, abarcando um leque considerável de aplicações terapêuticas em ginecologia. Mas, cingindo-me apenas às pílulas para a anticoncepção hormonal, consideram-se os anticoncepcionais hormonais combinados que contêm na sua formulação o estrogénio - etinilestradiol - e um progestagénio. Ora, os anticoncepcionais combinados podem ser monofásicos, isto é, de associação contínua – e na mesma dosagem – dos componentes hormonais, em todas as pílulas da mesma carteira; ao passo que os bifásicos apresentam dois conjuntos de pílulas com dosagens
diferentes; e, por último, os trifásicos têm três conjuntos de pílulas diferentes. Ainda existem as pílulas que contêm apenas progestagénios, como as minipílulas, os anovulatórios de progestagénios e as de anticoncepção de emergência. Qual a principal diferença que se encontra entre as várias gerações de pílulas? A principal diferença radica-se na evolução do conhecimento farmacodinâmico das pílulas, que tem permitido reduzir progressivamente a dose de cada componente hormonal das pílulas combinadas e, associado à síntese de novos progestagénios, tem permitido, consequentemente, reduzir os eventos adversos, sem que a eficácia seja comprometida. Existem várias marcas de pílulas disponíveis, contudo, estas contêm diferentes tipos de hormonas e podem causar diferentes efeitos secundários nas diferentes mulheres. Como é que o médico decide que pílula recomendar à sua utente? A escolha de uma marca de contraceptivo oral deve basear-se, em princípio, na sua eficácia contraceptiva e mecanismo de acção, tendo sempre em conta a adequação à mulher. Cada caso é um caso, como se costuma dizer. Para facilitar a tomada de decisão, sobretudo em situações difíceis, os diversos métodos contraceptivos podem ser divididos em quatro classes: • Classe I: não há qualquer restrição ao seu uso; • Classe II: as vantagens do método superam os riscos ponderados;
• Classe III: os riscos ponderados são superiores às vantagens, deve ser a última opção; • Classe IV: os riscos ponderáveis são inaceitáveis. Estas são, por assim dizer, as linhas-chave que o prestador de cuidados de saúde reprodutiva deve considerar para propor a escolha certa. A investigação farmacêutica tem procurado inovar e introduzir no mercado pílulas de baixas dosagens e com igual eficácia. O que é a contracepção de 3.ª geração? Ora bem, sem entrar em muitos detalhes, é relevante dizer que a primeira pílula anticoncepcional foi desenvolvida na década de 1960. Desde essa altura, a pílula contraceptiva tem passado por metamorfoses que, comumente, se designam por gerações. Vai daí, estamos não apenas na terceira, mas na quarta geração e creio mesmo que outras gerações se sucederão. Para melhor sintetizar a resposta, vale a pena fazer uma ligeira abordagem sobre as diversas gerações de pílulas até aqui disponibilizadas. Ora, a primeira geração, presentemente descontinuada, continha uma concentração mais elevada de estrogénio (150μg de Mestranol) e progesterona. As substâncias que mimetizavam a progesterona incluíam Noretinodrel, Noretindrona, Lynestrol e Diacetato de Etinodiol. Precisamente devido à quantidade de hormonas, os contraceptivos da primeira geração foram cientificamente associados a problemas deletérios para a saúde de algumas mulheres. As pílulas da segunda geração surgem uma década
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mais tarde, contendo, como era de esperar, uma quantidade mais baixa de estrogénio (50μg de Etinilestradiol), associado a novas substâncias mimetizantes da progesterona, como a Levonogestrel e a Noretisterona. A terceira geração é disponibilizada na década seguinte, com estrogénios de menor dosagem (30μg de Etinilestradiol) e uma gama de novas substâncias progestínicas, como Norgestimato, Desogestrel, Gestageno e Acetato de Ciproterona. As pílulas desta geração são caracterizadas por necessitarem de receita médica para a sua aquisição, talvez devido à necessidade do seu melhor controlo e responsabilização. Finalmente, as pílulas da quarta geração contêm uma dose ainda menor de estrogénio (20μg de Estradiol) e um novo tipo de substâncias de progesterona, como a Drospetinona, Acetatato de Nomegestrol e Dienogest. Na prática clínica, é comum receitarem-se as pílulas com Etinilestradiol + Drosperinona e Valerato de Estradiol + Dienogest. De qualquer modo, as pílulas das quatro gerações actuam da mesma maneira e todas são semelhantes em termos de impedir que as mulheres engravidem. Em suma, as pílulas são classificadas em gerações, de acordo com as doses de estrogénio, progressivamente menores como as mencionadas acima. Ora isso tem resultado numa melhor aceitação dos anticoncepcionais pelo organismo feminino, devido à diminuição dos efeitos colaterais e também das taxas de abandono. Qual a relação da contracepção de 3.ª geração com o risco de eventos cardiovasculares? Para responder à pergunta, devo realçar que as pílulas contraceptivas da 3.ª geração, por conterem Desogestrel ou Gestodeno, foram associadas a um aumento de 12 vezes mais de risco de alterações patológicas, observadas nos sistemas cardiovavasculares, quer no compartimento venoso (tromboembolismo pulmonar e trombose das veias profundas), como no compartimento arterial (angina do peito, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral). Sem querer negar a gravidade que eventualmente pode ocorrer com as pílulas da 3.ª geração, a verdade é que se trata de situações significativamente raras, de tal modo que os benefícios do seu uso superam, e de que maneira, os possíveis riscos. Aproximadamente 100 milhões de mulheres utilizam pílulas combinadas. O uso destas está associado ao aumento de eventos tromboembólicos e cardíacos? Qual a sua opinião e onde é que as pílulas de 3.ª geração fazem diferença?
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Para responder a esta questão, vale assegurar que todos os anticoncepcionais de baixa dosagem, em que a 3.ª geração se enquadra – e isto independentemente do tipo de progestagénio – têm risco aumentado para desenvolver o tromboembolismo venoso. De qualquer maneira, o risco actual de trombose venosa com contraceptivos desta geração é menor, quando comparado com os relatos anteriores. A ocorrência eventual desse risco é, muitas vezes, obviada com a selecção criteriosa das pacientes, bem como com a administração de doses menores de estrogénios. O profissional médico e as usuárias de contraceptivos de 3.ª ou 4.ª geração devem estar atentos para antever quaisquer sinais e sintomas de tromboembolismo, ao longo do uso de anticoncepcionais dessas gerações. Existem factores de risco para os distúrbios de tromboembolismo, não menos importantes, que não devem ser negligenciados: tabagismo, sobrepeso, idade avançada, enxaqueca, parto, história familiar de tromboembolismo venoso, entre outros. Quais as principais barreiras que encontra para a adesão à contracepção hormonal combinada? Na sua opinião, qual o papel dos profissionais de saúde no esclarecimento de dúvidas e mitos, bem como passagem de informação adequada? Vivendo num país em desenvolvimento, onde as taxas de fecundidade estão para cima de 6 por mulher, seria de todo desejável que houvesse maior cobertura de planeamento familiar. Mas são ainda significativas as barreiras culturais e religiosas, associadas à iliteracia. Gostaria de partilhar a experiência vivida, há algumas décadas. Através de um programa que se denominou CAOL (Coordenação do Atendimento Obstétrico em Luanda), sob os auspícios de prestigiadas agências internacionais, foi possível reduzir a mortalidade materna, diminuir os partos institucionais e aumentar a cobertura do planeamento familiar e, consequentemente, da toma dos contraceptivos orais, em Luanda. Mas, devido às barreiras que se têm de enfrentar, os prestadores de cuidados de saúde reprodutiva devem redobrar os esforços para explicar, compreender, sem propagar, sem forçar, sem julgar e, em última análise, aumentar a qualidade de vida das mulheres em geral e da angolana em particular. Bem haja.
Entre Nรณs
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REPORTAGEM
10 HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEIS
ADOPTAR HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEL É UM PASSO PARA A FELICIDADE. DESDE A ALIMENTAÇÃO À PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO, SÃO VÁRIAS AS MEDIDAS QUE PODEM E DEVEM SER ADOPTADAS PARA QUE O BEM-ESTAR PREVALEÇA NA NOSSA VIDA E DIA-A-DIA.
O Dia Mundial do AVC comemora-se a 29 de Outubro e, sendo um problema de saúde decorrente de inúmeros hábitos de vida menos bons que vamos adoptando, deixamos-lhe alguns conselhos para que se mantenha mais saudável!
1
Cuide da sua alimentação: reduza o consumo de gorduras e sal. Tome também atenção ao consumo de açúcares!
3
Alivie o stress: cada vez mais, a nossa rotina nos consome diariamente, pelo que devemos encontrar técnicas que nos permitam acalmar da correria do dia-a-dia. Experimente técnicas como a meditação!
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2
Pratique exercício físico regularmente: a prática de exercício físico é imprescindível para um estilo de vida saudável. A prática regular irá melhorar a sua função cardiovascular e respiratória, além de o colocar em forma.
4
Antecipe-se à doença: consulte regularmente o seu médico e faça exames de rotina. Lembre-se que a prevenção é o mais importante!
5
Hidrate-se: o nosso corpo é composto por 60% de água. Com o calor, é fundamental repor a perda de líquidos para que todos os órgãos funcionem correctamente.
7
Descanse: uma boa noite de sono é importante para o organismo.
9
Controle a sua pressão arterial: a hipertensão arterial é uma doença que não se vê nem se sente, porém, pode despoletar um AVC. Lembre-se que é importante manter a pressão arterial dentro dos valores recomendados.
6
Não fume: todos conhecemos as consequências do tabaco, tanto a nível cardiovascular como da pele, dentes e, até, na qualidade do sono. Deixe de fumar o quanto antes!
8
Cultive a sua mente: procure encontrar programas que estimulem a sua mente, como uma boa leitura para manter o cérebro activo.
10
Controle o seu peso: se tem excesso de peso, saiba que ao perder gordura está a reduzir a carga sobre o coração, pulmões, vasos sanguíneos e esqueleto. Ao ser mais activo, vai baixar a pressão arterial e, consequentemente, irá sentir-se melhor.
Adopte estes conselhos e sinta-se mais feliz e saudável!
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ENTREVISTA
"A REGULAMENTAÇÃO DO SECTOR DO MEDICAMENTO É O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO"
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Como farmacêutica moçambicana, como vê o seu papel na sociedade? O papel do farmacêutico é crucial. Somos importantes para o desenvolvimento da saúde, especialmente num país tão característico como Moçambique, uma mais-valia para a saúde pública do país.
Dra. Ragussina Inácio Farmacêutica Farmoz Moçambique
A INFORMAÇÃO E ESCLARECIMENTO DO USO RACIONAL E CONSCIENTE DO MEDICAMENTO É APENAS UMA DAS MUITAS TAREFAS DO FARMACÊUTICO. PROFISSIONAL QUE, PELO SEU CONHECIMENTO SOBRE O MEDICAMENTO EM SI, DESEMPENHA UM PAPEL CRUCIAL NA PROMOÇÃO DA SAÚDE NA SOCIEDADE. RAGUSSINA INÁCIO, FARMACÊUTICA NA FARMOZ MOÇAMBIQUE, ABORDA A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO FARMACÊUTICO EM MOÇAMBIQUE.
As farmácias estão a passar uma crise, com alguns medicamentos esgotados. Como se deve lidar com esta crise? Estamos numa época peculiar, devido à pandemia de Covid-19, em que todas as atenções estão voltadas para o sector da saúde. A farmácia continua a prestar o melhor serviço possível, com os recursos existentes, sendo que, em Moçambique, há que ter em conta a complexidade da logística e distribuição do medicamento. É um país extenso, com uma rede de estradas ainda a melhorar. Os principais importadores e armazenistas encontram-se na capital, Maputo, sendo que a aquisição nas províncias é sempre mais morosa. É uma dinâmica com que lidamos diariamente, para manter o fornecimento de medicamentos à nossa população. Informamos os nossos utentes caso exista algum constrangimento no abastecimento e, se for necessário, contactamos o clínico, com vista a buscar a melhor solução. Ser farmacêutico é um compromisso para a saúde da população? O que é que a sua profissão pode fazer para melhorar a saúde da sua comunidade? Sem dúvida, um compromisso que deve ser assumido com a maior responsabilidade. O farmacêutico é detentor do conhecimento sobre o medicamento em si, que pode passar despercebido a outros profissionais de saúde, ou mesmo na própria comunidade. Garantir a devida utilização do medicamento passa por indicá-lo à pessoa certa, na hora certa e na dosagem correcta. Lutamos, diariamente, com o excesso de informação e da desinformação na área da saúde, por conta do maior acesso às redes sociais e plataformas de pesquisa online. Cabe a nós prestarmos acompanhamento nestas questões, por exemplo, o combate ao uso abusivo de antibioterapia, a simples indicação da posologia de um analgésico ou o acompanhamento do doente hipertenso. Pela proximidade sociogeográfica, linguagem acessível (muitas vezes em português e na língua local) e domínio dos conhecimentos, o farmacêutico desempenha um papel fulcral. Sabemos que, para existir desenvolvimento num país, são necessárias várias ferramentas. Diria que a principal é a saúde, pois, sem saúde, não garantimos a nossa produção, nem economia, não existe desenvolvimento. O farmacêutico surge como pilar no progresso do sistema de saúde. O que podemos esperar das farmácias moçambicanas? Cada vez mais competitividade, com maior acesso a produtos de qualidade e profissionais competentes. A farmácia é um ponto de saúde relevante e, como farmacêuticos, gestores ou proprietários, é fácil descurar a saúde em detrimento da componente de negócio que a farmácia exige. No entanto, são dois elementos que estão de mãos dadas, é importante lembrar disso sempre que vestimos bata e estamos com os nossos utentes. Se o serviço prestado é de valor, mais a comunidade se desenvolve e vem ao
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"PARA UM PAÍS EM CRESCIMENTO E QUE ATRAVESSA DESAFIOS EM VÁRIAS ÁREAS, A REGULAMENTAÇÃO DO SECTOR DO MEDICAMENTO É O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO. É IMPORTANTE A DEFINIÇÃO DE UM QUADRO LEGAL FIRME, QUE CONTENHA OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E DISPOSIÇÕES REGULADORAS COM O FIM DE AUTORIZAR E CONTROLAR A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS. A REGULAMENTAÇÃO TÃO APERTADA SURGE PARA GARANTIR A SEGURANÇA DOS MEDICAMENTOS E DOS CUIDADOS DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO" nosso encontro. A saúde da população, a qualidade dos produtos e serviços prestados estão na frente de todos os interesses e creio que as farmácias moçambicanas estão no bom caminho. Qual a diferença entre as farmácias públicas e privadas, em termos de serviços e produtos oferecidos? As farmácias públicas em Moçambique são fruto da nacionalização que ocorreu no período pósindependência, tendo sido criada a empresa estatal FARMAC, para a gestão das farmácias públicas. Estas assumem, maioritariamente, um papel de farmácia de ambulatório, no seguimento dos utentes que, após consulta nas unidades de saúde locais, como centros de saúde e hospitais distritais, se dirigem a estes lugares com as prescrições, para terem a devida medicação e com fornecimento a um preço acessível a toda a população. Nos últimos anos, as farmácias públicas encontram sérias limitações na disponibilidade de medicamentos,
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podem passar até meses sem receber produtos, o que tem causado constrangimentos à população, tendo esta que recorrer, se tiver possibilidade financeira, às farmácias privadas. Estas, por sua vez, são na mesma uma concessão do Estado. Surgem, essencialmente, como complemento às farmácias públicas e, devido à situação atual, têm um peso cada vez maior no mercado. As farmácias privadas surgem com maior oferta de produtos medicamentosos e serviços farmacêuticos, ampliando o acesso ao medicamento pelos moçambicanos. Reflectindo o passado dos farmacêuticos em Moçambique, como é que vê o futuro da profissão? A profissão farmacêutica em Moçambique é relativamente jovem. Se, em 1975, o nosso país contava com apenas um farmacêutico, o Dr. Francisco Xavier do Santos, formado na Universidade do Porto, em Portugal, e até finais da década de 80 eram apenas mais cinco farmacêuticos – três formados em Cuba e dois na Alemanha –, actualmente, são números mais robustos, para um país em desenvolvimento. Contamos com o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique, em Maputo, e com a Faculdade de Farmácia da Universidade Lúrio, em Nampula, que produzem a actual força farmacêutica no país. Podemos dizer que, desde a independência de Moçambique até aos dias de hoje, os passos dados na formação de quadros farmacêuticos foram largos e bastante positivos. Acompanho de perto os jovens recém-graduados, através da parceria com a Universidade Lúrio, nos seus estágios pré-curriculares, e é com orgulho que sinto que contribuo na formação das próximas gerações de farmacêuticos do país. Vejo um esforço e colaboração dos académicos, bem como dos
profissionais de saúde à volta destes recém-graduados, para que apreendam o melhor da sua nova profissão. A carreira farmacêutica em Moçambique encontrase em expansão, actuando a vários níveis dentro da economia, como a farmácia hospitalar, comunitária, área regulamentar, nos depósitos provinciais, importadoras e distribuidoras, diversas organizações não governamentais, ou em pequenas farmácias nas zonas mais remotas. Tem um papel na comunidade bem reconhecido e de confiança na prestação de aconselhamento, pois, em muitas situações, quando se está a horas de um hospita, ou outra unidade sanitária mais básica, o único contacto que se tem é com o farmacêutico. Vejo o futuro do farmacêutico com uma série de desafios e com um olhar bastante positivo, pois sei da nossa capacidade e do nosso contributo diário para o desenvolvimento da saúde pública do país. O farmacêutico é conhecido como um agente de saúde pública pelo papel importante que desempenha na população. Como é que se sente a desempenhar uma função tão importante? Todos os dias são desafiantes e as nossas capacidades de resolução de problemas são colocadas à prova, dado o contexto em Moçambique e, essencialmente, com a minha função, que se desdobra pelas províncias do norte do país. Sinto que, diariamente, tenho uma missão a cumprir. Missão essa que abraço sempre com certa expectativa e entusiasmo e da qual fico sempre muito orgulhosa quando vejo o sorriso, o alívio na face das pessoas ou aquele agradecimento sincero, por verem as suas situações de saúde e inquietações muitas vezes resolvidas. Este sentimento é o mote para continuar a trabalhar, dia após dia, em busca de melhores soluções para a população. Em Moçambique, o Estado é quem garante o direito dos cidadãos à saúde. Qual o papel das farmácias privadas? O Estado garante o direito à saúde através das suas várias constituintes, sendo uma delas a farmácia privada, pois, e como referi anteriormente, é concedida a possibilidade de exploração destes locais, com a devida autorização do Estado. As farmácias privadas surgem como um complemento “no bolo” da saúde pública em Moçambique, pois garantem oferta e abastecimento em todo o território, que é vasto. As farmácias privadas contribuem para sociedade através de toda a sua logística inerente, que envolve desde a contratação de pessoal qualificado, contacto com fornecedores e aquisição de medicamentos, dispensação de medicamentos e aconselhamento, entre outros. Isto gera uma dinâmica local única, que na sua finalidade
contribui para o crescimento e desenvolvimento da economia no sector da saúde. Porquê a regulação do preço de venda na farmácia? O medicamento é um bem essencial e estamos cientes do mercado paralelo existente ao circuito legal de medicamento, principalmente no contexto de países em crescimento, e com bastantes desafios, como Moçambique. A regulamentação do preço dos medicamentos confere, em primeiro lugar, segurança ao cidadão na sua aquisição. Em segundo lugar, evita a especulação de mercado e garante o acesso de todos à saúde. Sendo considerado um país com algumas dificuldades, qual a razão da regulamentação tão apertada? Para um país em crescimento e que atravessa desafios em várias áreas, a regulamentação do sector do medicamento é o caminho para o desenvolvimento. É importante a definição de um quadro legal firme, que contenha os princípios éticos e disposições reguladoras com o fim de autorizar e controlar a utilização de medicamentos. A regulamentação tão apertada surge para garantir a segurança dos medicamentos e dos cuidados de saúde para a população. O Estado moçambicano garante este cuidado à sua população, com a autorização de medicamentos e produtos de saúde que tenham passado por um controlo, o que permite apenas a circulação no mercado de produtos com segurança, qualidade e eficácia certificadas. Outra das funções da regulação prende-se com a promoção para o uso racional e consciente do medicamento, que passa não só pela função do farmacêutico, mas de um conjunto de linhas orientadoras que partem do Estado. A existência de um mercado paralelo de medicamentos também exige uma regulamentação mais assertiva, garantido uma comercialização transparente de medicamentos. Convém referir que em conjunto com a regulamentação está a fiscalização, a vigilância constante, para promover o cumprimento das ditas normas. No caso de Moçambique, podemos referir que tem um dos sistemas mais avançados de legislação no sector do medicamento, a nível da África Austral, mas ainda com muitas lacunas a ser preenchidas. Isto apenas será possível se todos os agentes intervenientes, desde o legislador aos profissionais de saúde e à fiscalização, contribuírem de forma sincronizada, com vista ao desenvolvimento adequado do sector da saúde no país.
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ENTREVISTA
"A VONTADE DE CUIDAR E SERVIR QUEM PRECISA SUPERA O MEDO DE CONTRAIR A DOENÇA"
Dr. Kerlin Filipe Farmacêutico Moniz Silva International
KERLIN FILIPE, FARMACÊUTICO DA MONIZ SILVA INTERNATIONAL, ABORDA OS PROCEDIMENTOS DA EMPRESA PERANTE O FLAGELO DA COVID-19. PERÍODO NO QUAL O PAPEL DO FARMACÊUTICO SE REVELOU INCONTORNÁVEL NA LIGAÇÃO ENTRE A FARMÁCIA E A POPULAÇÃO, AO ASSEGURAR A CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS.
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Como sabemos, o farmacêutico é o profissional de saúde mais acessível à população. Qual é o papel do farmacêutico em tempos de pandemia? Sendo o farmacêutico o profissional de saúde mais acessível a população, tem um papel fundamental no combate e controlo da pandemia, ao garantir o acesso a produtos e equipamentos de bio protecção; adoptar práticas de dispensação seguras dos produtos farmacêuticos a fim de optimizar a farmacoterapia e evitar a disseminação da Covid-19; orientar os utentes sobre os cuidados de prevenção, os hábitos mais saudáveis que devem adoptar, quais os sintomas de alerta e outras informações essenciais e comprovadas sobre a doença; e combater as chamadas "fake news" que envolvem a doença, desmistificando informações pouco credíveis que causam pânico ou atitudes menos correctas. Uma das principais recomendações nesta época foi para as pessoas não se dirigirem aos hospitais sem necessidade urgente. Com receio e medo, recorriam as farmácias, até mesmo, para terem uma linha orientadora. Como se pode prestar um serviço de qualidade ao cidadão? Neste cenário de muita insegurança, onde surgem novidades a cada minuto e a modificação das recomendações, é importante estarmos bem munidos de informação comprovada por profissionais ou entidades credíveis para prestarmos um serviço e aconselhamento de qualidade, sem perder de vista as boas práticas de dispensação de medicamentos e outros produtos de saúde. Para além das premissas habituais associadas à actividade farmacêutica, tivemos de ter um papel pedagógico tentando promover, acima de tudo, atitudes preventivas, com a utilização correcta dos produtos de bio protecção, reforçando questões de higiene e distanciamento e, acima de tudo, a melhoria dos hábitos alimentares e, se possível, a prática de exercício físico para fortalecimento do sistema imunitário. A chave está no acesso a informação credível e na prevenção. Um aspecto incomum foi o consumo ávido e inadequado de medicamentos, sem eficácia comprovada sobre a prevenção ou tratamento da Covid-19. Nos dois
primeiros meses, foi muito difícil fazer entender os utentes que a automedicação teria a única função de degradar a nossa resposta imunitária, pelo que o impedimento de aquisição de medicamentos sem prescrição e a sua toma sem acompanhamento médico foi outra das tarefas menos comuns. Felizmente, esta situação já foi ultrapassada. Estamos a atravessar um momento mundial delicado, em que o farmacêutico representa um papel de protagonista. Na prática, como é que actua? Quais as principais preocupações do dia-adia? Tivemos de adequar as instalações com equipamento de protecção que evitasse a propagação do vírus, tanto a nível comunitário, como internamente, dentro das equipas de trabalho. Investimos em barreiras nos balcões de atendimento e marcadores no chão para garantir o distanciamento; tivemos de dar alguma formação aos nossos seguranças, tendo em conta a área de cada farmácia, de forma a ter um número máximo de utentes no seu interior e evitar a aglomeração dos mesmos no exterior; disponibilizamos álcool em gel a todas as pessoas que frequentam a farmácia, tanto clientes como trabalhadores, assim como máscaras a todos os trabalhadores; efectuamos uma campanha informativa, associada à distribuição de folhetos, de forma a garantir que as práticas de prevenção são adoptadas por toda a população; investimos também na desinfecção regular das instalações físicas com alguma frequência e novos hábitos de limpeza diários. Duma forma geral, aconteceram imensas mudanças de modo brusco. Foi um processo difícil, que sobrecarregou os farmacêuticos e suas equipas. Associado ao facto de termos de diminuir equipas de trabalho, numa altura em que volume de tarefas duplicou, transcreveu-se numa fase muito desgastante, pois, por diversos momentos, não tivemos como descansar nem gozar dias de folga, sentindo, ao mesmo tempo, uma pressão elevada que a população depositou nos profissionais de saúde. Mas estamos cá e, sem dúvida, mais fortes. O que teve de alterar na organização onde trabalha para que o dia-a-dia fosse realizado de forma segura? Para que o nosso dia-a-dia pudesse ser realizado de forma segura, tivemos de implementar um plano de contingência muito forte, adoptando algumas medidas de prevenção, tal como descrito anteriormente. A nível de organização, tivemos de adaptar as equipas a novos horários, uma vez que foram dispensados todos os trabalhadores que pertencem aos grupos de risco (grávidas, hipertensos, diabéticos, pessoas com idade superior a 50 anos), numa altura em que o volume de trabalho aumentou. Cumprir as regras, como a permanência dum grupo máximo de 50% ou 70% da força de trabalho, numa altura destas, sobrecarregou demasiado as equipas. Foram adoptados também sistemas de segurança relativamente ao distanciamento e ao uso constante de máscara e de higiene das mãos.
Como gerir o stress e o medo das equipas que estão na linha da frente de combate nesta época? Realmente, no princípio, foi muito difícil gerir o stress e o medo, por ser uma doença nova. O excesso de informações veiculadas em vários meios de comunicação - rádio, televisão, redes sociais, etc. - gerou muitas incertezas no seio da nossa equipa, mas, actualmente, temos informações mais sólidas e concretas sobre a Covid-19. E a vontade de cuidar e servir quem precisa dos nossos serviços supera o medo de contrair a doença. É, realmente, um momento exigente, em que quem fez votos de servir a população, a nível de cuidados de saúde, não pode desistir nem demonstrar fraquezas. Fomos nós que escolhemos esta profissão, portanto, este é realmente o momento em que devemos mostrar o que valemos. Sendo que estamos num ambiente mais propício à contaminação, sabemos que temos de ter cuidados redobrados para mantermos a nossa força. Como se pode controlar a venda excessiva de antimaláricos e antibióticos, no combate à Covid-19, como automedicação? Sendo a Covid-19 uma doença nova, e os estudos preliminares ainda estão em curso, qualquer medicamento usado no tratamento ou prevenção da mesma só deverá ser utilizado quando comprovado cientificamente e, acima de tudo, sob supervisão médica. Caso contrário, correremos muitos riscos e a probabilidade de enfraquecermos a nossa resposta imunitária é muito elevada. Sendo que a recomendação principal é a adopção de hábitos de vida saudáveis, temos de contrariar, de forma activa, a automedicação. Regra essencial é o controlo da venda excessiva destes medicamentos, onde só dispensamos os mesmos com receita médica e, ainda assim, algumas receitas com autenticidade duvidosa não são aceites. Temos de relembrar ainda que as doenças para o qual estes medicamentos são eficazes não deixaram de existir, pelo que, para manutenção da nossa população, temos a obrigação de ter os mesmos disponíveis para que os doentes que realmente sofrem estas infecções possam ser curados.
"SENDO A COVID-19 UMA DOENÇA NOVA, E OS ESTUDOS PRELIMINARES AINDA ESTÃO EM CURSO, QUALQUER MEDICAMENTO USADO NO TRATAMENTO OU PREVENÇÃO DA MESMA SÓ DEVERÁ SER UTILIZADO QUANDO COMPROVADO CIENTIFICAMENTE E, ACIMA DE TUDO, SOB SUPERVISÃO MÉDICA. CASO CONTRÁRIO, CORREREMOS MUITOS RISCOS E A PROBABILIDADE DE ENFRAQUECERMOS A NOSSA RESPOSTA IMUNITÁRIA É MUITO ELEVADA. SENDO QUE A RECOMENDAÇÃO PRINCIPAL É A ADOPÇÃO DE HÁBITOS DE VIDA SAUDÁVEIS, TEMOS DE CONTRARIAR, DE FORMA ACTIVA, A AUTOMEDICAÇÃO"
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ANOS YEARS
CUIDAR DA SAÚDE E BEM-ESTAR DAS PESSOAS É O NOSSO PROPÓSITO DIÁRIO!
Da capacidade logística (reforçada com um novo armazém de 2400m2) à implementação de boas práticas de distribuição. Do portefólio alargado ao marketing do produto. Da formação de recursos humanos ao programa de responsabilidade social. Na Australpharma, desenvolvemos competências específicas que promovem a otimização dos processos e o aumento da eficiência em todas as frentes. Dia após dia, trabalhamos para estar sempre na vanguarda.
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SEMPRE À FRENTE. EM TODAS AS FRENTES.