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PROFESSORES
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES José Francisco da Costa Júnior‡‡, Rogério Vieira Primo§§, Walther Anastácio Júnior***
RESUMO:
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A implementação de mudanças na educação e a aceitação das inovações no ensino são processos gradativos, lentos e, não raro, conflituosos, que enfrentam resistências aparentemente insuperáveis e historicamente cristalizadas. Não é raro se ouvir, quando se quer questionar o tipo de ensino tradicional ainda existente na maioria das escolas, que “as escolas estãono Século XIX, os professores no Século XX e os alunos, no Século XXI”. Este trabalho se propõe a investigar quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior.
Palavras-chave: Ensino superior. Competências e habilidades. Formação docente.
1 INTRODUÇÃO
Em um cenário repleto de constantes mudanças sociais, culturais, tecnológicas e econômicas, nota-se que as instituições de ensino superior são impelidas a rever seus modelos, conceitos e práticas de ensino e aprendizagem para que tenham condições de atender às mudanças no perfil dos estudantes, da sociedade, do mercado de trabalho, das próprias profissões e ocupações, assim como de melhorar a qualidade da educação no País. Sendo assim, a promoção de tais mudanças requer o aprofundamento das reflexões e discussões sobre o planejamento do curso e das disciplinas, a preparação da aula e os instrumentos e processos de avaliação da aprendizagem no contexto educacional. E nesse caso o professor é um dos principais atores na formação do aluno e é preciso reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que todos os professores possuam competências antes reservadas aos
‡‡ Professor. Advogado. Graduado em História e Direito. Pós-graduado em Direito Empresarial. Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho. E-mail: josefrancisco@unipac.br §§ Professor de graduação e Pós-graduação. Mestre em Administração. Especialista em Educação Matemática; Gestão Financeira de Empresas; Gestão empresarial pela PUC Minas. Especialista Gestão Escolar pela Unipac e Marketing e Gestão Estratégica de Comunicação e Informação. E-mail: rogerioprimo@unipac.br *** Professor de Graduação e Pós-graduação. Graduação em Administração e Matemática. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria; Especialista em Administração Escolar, Orientação, Supervisão e Inspeção; Professor de Planejamento e Gestão Estratégica da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Governador Valadares. E-mail: waltheradmjunior@gmail.com TOTH - Ciência e Educação – vol.9 n.9 - 2022
inovadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis e de diferentes culturas e saberes.
Essas complexidades no mundo profissional – e principalmente as mudanças impostas – exigem desempenhos cada vez mais complexos. Especialmente no ensino superior, as instituições têm buscado o desenvolvimento de competências profissionais dos professores, porque a atuação dele impacta diretamente os alunos e as instituições. A formação dos professores atuantes na educação tem sido objeto de inúmeras reflexões, sobretudo a partir da década de 1990, com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), a qual se tornou o marco para o estabelecimento das diretrizes e bases da educação nacional.
Embora frequentemente o professor seja visto como o principal elemento do processo de aprendizagem, ele não tem, naturalmente, o domínio de fatores relacionados aos estudantes, tais como suas características pessoais, necessidades e interesses. Não é capaz, também, de influenciar significativamente a organização administrativa da escola. Entretanto, ele tem muita responsabilidade em relação ao conhecimento da disciplina que ministra, às habilidades para comunicação dos conteúdos, à maestria em relação ao uso de recursos instrucionais e ao clima estabelecido em sala de aula.
Esse artigo se propõe em investigar quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior. Para isso, usou-se como método a pesquisa quantitativa realizada em uma instituição de ensino superior do Leste Mineiro. Também se realizou uma pesquisa bibliográfica e documental. Utilizou-se como questão norteadora da pesquisa a seguinte indagação: Quais são os principais desafios enfrentados pelos professores do ensino superior no Século XXI?
2 MÉTODOS
A pesquisa que resultou na construção deste artigo é de natureza básica. Esse tipo de análise, além de ampliar o conhecimento da temática estudada, proporciona a busca de novos conhecimentos e a interdisciplinaridade das áreas do saber, a fim de verificar razões dos problemas práticos (GIL, 2017). Quanto aos procedimentos realizou-se uma pesquisa uma pesquisa bibliográfica e documental. Segundo Lakatos (2017), a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as
diferentes formas de contribuição científica que se realiza sobre determinado assunto ou fenômeno.
Na lição de Gil (2019), a pesquisa bibliográfica é realizada em várias fontes, como: livros, artigos, periódicos. Nesse contexto se procuram soluções para questões elaboradas anteriormente, utilizando-se de métodos científicos, bem como de material disponibilizado pela Internet.
A pesquisa documental, devido a suas características, pode ser confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2019) destaca como principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes de ambas (as pesquisas). Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. O desenvolvimento desta pesquisa se fez por meio de uma pesquisa documental, que segundo Gil (2019), “é a pesquisa realizada com base na documentação direta (questionários, entrevistas, formulários, etc.) ou indireta (resultante da extração de produtos oriundos de publicações oficiais ou privadas encontradas nos arquivos) de uma ou várias fontes”. Quanto aos objetivos, este estudo é de caráter exploratório. Para Gil (2017), pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, de maneira que se torne explícito e possibilite a construção de hipóteses. Com a fundamental finalidade de aprimorar ideias ou descobrir intuições, com planejamento flexível, possibilita a consideração dos mais variados aspectos relacionados ao fato estudado, e na maioria dos casos, atribui-se o formato de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa deabordagem qualitativa. Segundo Silveira e Gerhardt (2009), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização. Para Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma perspectiva de interpretação do mundo, estuda temáticas em seus cenários naturais, tenta compreender fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem. A etapa de análise dos documentos propõe-se a produzir ou reelaborar conhecimentos e criar formas de compreender os fenômenos. É condição necessária que os fatos devem ser mencionados, pois constituem os objetos da pesquisa, mas, por si mesmos, não explicam nada. O investigador deve interpretá-los, sintetizar as informações, determinar tendências e na medida
do possível fazer a inferência. Lakatos (2017) diz que os documentos não existem isoladamente, mas precisam ser situados em uma estrutura teórica para que o seu conteúdo seja entendido. A análise qualitativa dos dados seu deu por meio da Análise de Conteúdo que, segundo Gil (2017), “é uma técnica para se estudar a comunicação de maneira objetiva e sistemática. Buscam-se inferências confiáveis de dados e informações com respeito a determinado contexto, a partir de discursos escritos ou orais de seu atores e/ou autores.”. Ainda, de acordo com esse autor, a aplicação dessa técnica geralmente acontece após, ou em conjunto com uma pesquisa documental. (GIL, 2017) Neste estudo, a análise de conteúdo foi utilizada para analisar Planos de Ensino, Planos de Aprendizagens, Cronograma de Atividades, relatórios do corpo docente e apresentações de encontros docentes e relatos de professores e coordenadores.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 O Professor e a formação docente
O professor universitário tem o papel de incluir no processo de ensino-aprendizagem a reflexão crítica de seu conteúdo, contextualizada pelos aspectos profissionais, sociais e políticos do ambiente em que está inserido. Ele só conseguirá fazer isso se a ele for propiciada uma formação didático-pedagógica adequada. Para Miranda (2018), a visão tradicional e míope, que considerava o professor a partir dos conteúdos por ele acessados em sua formação – por exemplo: o contador entende de contabilidade e o administrador, de administração, logo, eles podem ensinar tais conteúdos –não deve ter espaço na concepção profissional do docente na estrutura que existe hoje, pois apenas saber o conteúdo não é suficiente à docência. O desempenho profissional do professor tem relação direta e íntima com outros elementos da docência. Cabe salientar que o professor universitário foi historicamente construído como o indivíduo com profissão paralela no mercado de trabalho, cujo recrutamento partia da lógica de que “quem sabe fazer, sabe ensinar”. Desse modo, Demo (2019) expõe que a pedagogia universitária deve compreender os processos de pensar e de fazer, a prática pedagógica, os saberes e as competências referentes às práticas docentes e ao currículo. Enquanto Miranda (2018) diz que o campo de aplicação é promissor, especialmente no tocante às reflexões acerca da construção de universidades
pedagógicas, ou seja, na qual a pedagogia esteja emaranhada no íntimo da estrutura da instituição e não circunscrita a iniciativas individuais e isoladas. Segundo Demo (2019), a formação docente é uma das preocupações essenciais da pedagogia universitária, pois é preciso preparar os professores para lidar com o ambiente da sala de aula e tratar as mudanças e a realidade desse nível de ensino. Por fim, a introdução e o desenvolvimento do conceito de pedagogia universitária traduz a necessidade de se reconhecer que os professores universitários precisam de uma série de competências e de saberes para o exercício da docência. O domínio da técnica científica e profissional é necessário. Contudo, segundo Parente (2015), as formações pedagógica, social e política são indispensáveis, porque o ensino superior deve propiciar a formação de cidadãos com capacidade crítico-reflexiva e de intervenção nas situações que são postas pela sociedade e pelo mercado, e não apenas de copiadores e replicadores de técnicas e de modelos.
3.2 Concepções docentes
Uma das atribuições do professor universitário é a responsabilidade pela formação profissional de indivíduos. No entanto, a responsabilidade do professor universitário não se restringe ao conteúdo técnico das disciplinas. Para Libâneo (1994), a formação deve ser plena, de forma a desenvolver no educando o senso crítico e a capacidade de análise. Para Libâneo, existem dois problemas recorrentes no ensino universitário: 1) “desconhecimento ou a recusa das contribuições da pedagogia e da didática” e 2) “a segregação entre o conteúdo da disciplina ensinada, sua epistemologia e os métodos de investigação”. Explica o autor que alguns professores são adeptos da didática tradicional, voltada para aspectos prescritivos e instrumentais do ensino. Já outros não se preocupam em auxiliar o estudante a vincular a própria aprendizagem ao domínio dos procedimentos lógicos e investigativos da disciplina. Ora, na era da informação, a simples transferência do conhecimento teórico acumulado no curso da história não pode ser considerada a lógica do sistema de ensino.! Afinal, todo esse conhecimento pode ser acessado por qualquer um, a qualquer momento. Portanto, conforme Demo (2019), o professor deve ser o profissional que faz a interlocução desse conhecimento com a realidade social encontrada, articula-o com o contexto do estudante e promove a compreensão, a construção conjunta do conhecimento e o desenvolvimento do processo de aprender com autonomia.
Nesse sentido, a educação não deve ser compreendida apenas sob os aspectos de métodos e de técnicas, mas, também, pelo relacionamento entre conhecimento e sociedade. Além disso, é necessário considerar a conjuntura social em que o ensino ocorre. A preocupação do professor com o que vai ensinar não é errada; é necessária. Todavia, é preciso que ele se atente também para aqueles que construirão o ensinamento, os “alunos”. Com as mudanças no ensino superior nos últimos tempos, acelerada por conta da pandemia provocada pela Covid-19, o papel do docente se alterou, sendo requeridas outras práticas como: o conhecimento sobre as tecnologias de informação e de comunicação; o domínio da investigação científica, entre outros. Nesse contexto, a docência universitária deve ser voltada à aprendizagem, sendo necessário que o professor estabeleça seu planejamento educacional de modo a atingir os objetivos relacionados ao desenvolvimento cognitivo, afetivoemocional, às habilidades e às atitudes dos alunos. Ainda é grande o espaço a ser coberto para que se alcance um cenário adequado de estrutura de ensino e de formação docente, especialmente o do ensino superior.
3.3 Aproximações com os conceitos de competência e a habilidade
É comum a associação do termo “Competência” à gestão estratégica de pessoas. No entanto, esses temas têm recebido uma atenção destacada na área organizacional. Para se ter uma ideia uma busca no Google pelo termo “gestão de competências” gerou aproximadamente 16.900.000 resultados.
Segundo Fernandes (2013), competência é “Um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que um indivíduo mobiliza e aplica, de forma reiterada, dentro de um contexto profissional, agregando valor à organização e a si mesmo. As competências organizacionais sustentam-se em recursos, dentre os quais os mais importantes são as competências das pessoas. Por esse conceito, Fernandes (2013) diz que a competência individual tem duas dimensões: as capacidades, pré-requisitos para uma atuação competente, e as entregas, a aplicação das capacidades para gerar valor à empresa e a si mesmo. Para o indivíduo ser considerado competente, não basta conhecer, ou ter algumas habilidades, atitudes e valores: é fundamental que aplique isso dentro da instituição. Assim, para avaliar a competência de alguém, é preciso examinar: 1) As capacidades: o profissional tem os conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores necessários para agregar valor e 2) As entregas: o profissional aplica/entrega essas capacidades em seu trabalho. Um segundo conceito associado a competências individuais, ainda para Fernandes (2013), é o de níveis de complexidade. Ao longo do tempo, é natural que um profissional adquira novas experiências, aprenda novos conceitos e habilidades, assuma novos desafios, desempenhe trabalhos cada vez mais complexos e agregue mais valor ao negócio. Esse desenvolvimento de um profissional corresponde a um aumento no nível de complexidade em que exerce seu trabalho, indo dos mais simples e rotineiros, nas posições mais iniciais, aos mais sofisticados e complexos, nas posições finais da organização. Esse aumento no nível de complexidade com o desenvolvimento profissional se traduz em uma série de fatores, como a abrangência das decisões tomadas (se envolve apenas uma atividade, um processo, uma área, uma unidade, várias unidades ou toda a organização), o nível de atuação (estratégico, tático e operacional), o nível de estruturação das decisões (indo de estruturadas e rotineiras a decisões com múltiplos focos e variáveis), o nível de autonomia do profissional (baixo versus alto), o escopo geográfico de suas atribuições (local/interna, regional, nacional, internacional), o nível de articulação (dentro de uma equipe operacional e interna até a sociedade mais ampla). Segundo Maximiano (2019), as competências estão em fluxo constante de desenvolvimento. Nascem das aptidões, que se transformam em habilidades e se desenvolvem como capacidade de agir e ação efetiva. Em estágio superior, transformam-se em perícia (expertise). O cotidiano do professor, requer diariamente competências no desenvolvimento de suas atividades. Ao fazer o diário, nas práticas associacionistas, que nos levam a um saber fazer, saber agir, saber conviver e nos documentos oficiais da instituição.
4 Resultados e discussões
4.1 Principais desafios da implementação do ensino por competências na educação superior.
Há diversas discussões acerca do que é ser e o que faz o professor do ensino superior. E essas discussões perpassam o conceito de docência e as diferentes atribuições que o docente universitário tem exercido.
Para Miranda (2018), professor é alguém que ensina algo a outrem. Entretanto, essa definição é altamente genérica e traz um novo questionamento: o que é ensinar? Essa pergunta nos remete a diversas possibilidades. Em uma perspectiva mais “tradicional”, ensinar é transmitir informações e conhecimentos para outras pessoas. Essa definição tem origem no modelo escolar francês originado no século XII, que, devido ao número restrito de livros e difícil acesso a eles, tinha suas aulas separadas em dois momentos distintos: a lectio, que consistia na leitura e explanação do texto e era feita pelo professor em sala de aula, e a questio, que consistia em perguntas feitas pelo professor aos alunos e vice-versa. Já sob uma ótica mais progressista, segundo Miranda (2018), pode-se afirmar que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou construção. Essa ótica progressista de construção, e não transferência, de conhecimentos, tem como pressuposto o protagonismo do estudante sob sua própria formação e o desenvolvimento de sua autonomia, característica amplamente demandada pelo mercado de trabalho e pela sociedade contemporânea. Assim, segundo essa ótica, o professor do ensino superior não atua simplesmente formando contadores, médicos, advogados, arquitetos etc.: ele deve formar cidadãos com raciocínio crítico que contribuam com o desenvolvimento de sua área de atuação e com a sociedade de maneira geral. Portanto, que sejam agentes de transformação. É mister dizer que além do ensino, o professor que atua no ensino superior desenvolve outras funções, dependendo da instituição em que trabalha. Dentre as funções que esse docente pode exercer, destacam-se a de pesquisador, coordenador do curso e de gestor das diversas áreas que compõem uma universidade, entre outras. Assim, além de ser professor, atua em várias outras funções, que demandam outros saberes e competências. Em muitos casos o professor do ensino superior ingressa na docência sem formação ou preparação para tal. Dessa maneira, enfrenta diversos desafios no começo da carreira. A seguir são apresentados alguns conselhos a professores iniciantes sobre certos aspectos da formação e atuação docente. De acordo com pesquisa realizada com os docentes do ensino superior de uma IES do Leste de Minas Gerais, encontraram-se diversos aspectos que os professores relataram como dificuldades para o exercício da docência. As principais dificuldades dos professores participantes da pesquisa foram: a falta de motivação discente, a heterogeneidade das classes, as salas superlotadas, a falta de tempo e dificuldade de determinar o aprendizado. É possível
observar que, dos cinco problemas enfrentados, dois deles são relacionados ao discente, dois à prática docente e um relacionado à instituição. Acerca do discente, são encontrados dois perfis nas salas de aula hoje em dia: o acadêmico que vem do mercado, buscando aperfeiçoamento da prática profissional, e que trabalha, aportando suas experiências profissionais para a sala de aula; e o aluno, que ainda não teve contato nenhum com o mercado de trabalho, e que, portanto, tem a aula como sua primeira aproximação com a profissão. Conforme nos relata um dos entrevistados:
Muitos dos alunos trabalham até oito horas por dia e após um dia inteiro de trabalho enfrenta uma sala de aula e em alguns casos, esse aluno mora em outra cidade. Pega ônibus e chega tarde em casa. Essa rotina fica exaustiva para ele, diferentemente daquele aluno que ocupa seu tempo somente com o estudo e esses dois perfis são facilmente identificados na sala de aula.
A presença desses dois perfis em sala de aula se mostra um desafio a ser superado pelo professor, que precisa buscar estratégias de ensino que não prejudiquem nenhum dos lados e que, ao mesmo tempo, atendam aos dois. Uma estratégia é a adotada pelo entrevistado 01 de trazer os conceitos trabalhados para uma realidade que o aluno sem experiência de mercado possa se identificar. Por outro lado, para o estudante que trabalha, a literatura indica a adoção de metodologias ativas que o envolvam no processo de ensino e permitam que compartilhe a sua experiência profissional. Nos encontros docentes realizados todo início de semestre por essa instituição, encontraram-se em muitos deles tópicos sobre a importância do primeiro dia de aula. Para o diretor acadêmico, a primeira aula do semestre é vista como uma das mais importantes, pois, quando bem-preparada, já alinha as expectativas do docente e do discente. É, também, o primeiro contato entre o docente e a turma que cursará aquela disciplina. E, no caso dos docentes iniciantes, será a primeira experiência em sala de aula no papel de docente. O nervosismo da primeira aula deve ser compensado pelo planejamento e o conhecimento do professor. Fato que é preciso planejar e se preparar não só para a primeira aula, como para todas as outras que serão desenvolvidas no semestre letivo. Ressaltam-se alguns aspectos a serem observados durante o planejamento de uma disciplina. O Quadro 1 apresenta, de maneira sintetizada, os itens que vão da análise de prérequisitos aos instrumentos de avaliação da aprendizagem.
Quadro 1 - Como planejar uma disciplina
Pré-requisitos
Conheça o perfil da turma
Definir os objetivos da disciplina
Escolhendo métodos e técnicas de ensino
Escolha das referências-base
Avaliando a aprendizagem
Fonte: Miranda, (pag. 164, 2018) Ao planejar uma disciplina é importante que o docente atente para quais são os pré-requisitos exigidos do estudante para que possa cursála pois, assim, já é possível já saber o que esperar acerca de seu conhecimento prévio. Ao conhecer o perfil da turma, o docente pode planejar melhor a sua disciplina e escolher os métodos e técnicas de ensino, a carga de trabalho que será exigida fora da sala de aula etc. Para tanto, pode lançar mão de uma avaliação diagnóstica nos primeiros dias de aula. A questão norteadora do planejamento de uma disciplina deve ser “o que os alunos têm que saber ao finalizarem a disciplina?” Assim, ao definir os objetivos de aprendizagem, o docente já pode traçar as estratégias para alcançar objetivos, competências e habilidades e, também, definir como avaliar se os objetivos foram alcançados. A partir do objetivo da disciplina e do perfil discente, o docente pode escolher o melhor ou os melhores métodos de ensino a serem utilizados para alcançar o objetivo proposto. As referências-base da disciplina têm um efeito considerável na qualidade da disciplina, principalmente porque são fontes de consulta disponíveis ao aluno a qualquer tempo. Para verificar se os objetivos da disciplina foram alcançados, é preciso adotar alguns instrumentos e algumas métricas. Ou seja, é preciso avaliar. A avaliação da aprendizagem é um dos componentes mais complexos e controversos da prática docente, pois o uso de instrumentos não adequados pode comprometer a avaliação do rendimento de uma turma inteira.
Especificamente sobre a primeira aula, encontrou-se nos nas apresentações dos encontros pedagógicos promovidos pela Instituição que, ao iniciar a aula, o professor deve entregar o planejamento da disciplina, incluindo seu nome, meios de contato, horários de atendimento extraclasse, referências básicas e complementares da disciplina, cronograma das aulas e informações completas sobre o método de avaliação a ser utilizado. Os documentos sugerem, ainda, que, ao invés de simplesmente explicar o plano de aula, o professor utilize essa aula para alinhar as expectativas com os estudantes, discutindo as seguintes questões: como a disciplina ocorrerá? Qual conteúdo será abordado? O que é esperado dos alunos? Pode, ainda, fazer uma avalição diagnóstica, bem como revisar conceitos essenciais para a disciplina, superando alguma lacuna de aprendizagem de disciplinas anteriores. A IES pesquisada traz muitas orientações sobre o primeiro dia de aula, tanto em questões técnicas pedagógicas, quanto comportamentais. No dia 30 de julho de 2013, esse tema foi pauta do encontro pedagógico de início de semestre em que se trabalhou, além de outros assuntos, procedimentos sobre o primeiro dia de aula. Também foram identificados outros registros sobre orientações em demais encontros pedagógicos. No encontro do dia 28.01.2016, registraram-se como itens da pauta e orientações: Falar resumidamente da sua formação; Discorrer sobre a
disciplina a ser lecionada; Definir os instrumentos de avaliação, nota atribuída a cada atividade avaliativa e as prováveis datas de aplicação; Estabelecer um clima de interação, da “Criação de Pontes” entre o seu conhecimento e o dos alunos; Apresentar o Plano de Aula e orientar o aluno a consultá-lo no Portal Acadêmico; Apresentar o cronograma de aula.”. É exatamente nesse momento que acontece a relação de confiança entre o docente e os alunos. Quanto mais detalhado o plano de aula, com as possibilidades, datas, conteúdos, avaliações etc., melhor será a possibilidade de implementação das atividades acordadas entre os atores do processo: professor e estudantes. Outro desafio a ser enfrentado pelo professor é a avaliação. Gil (2020) aponta que uma das tarefas mais desagradáveis da docência é o ato de avaliar, pois demanda muito tempo e é uma tarefa que precisa ser pensada de acordo com o objetivo a ser alcançado na disciplina. Assim, é necessário organizar as formas de avaliação durante o planejamento da disciplina. A IES possui o procedimento de avaliação estabelecido no seu Regimento e ele é disponibilizado nos planos de ensino de todas as disciplinas. Nesse sentido, o professor precisa escolher alguns instrumentos a serem aplicados no processo de avaliação, uma vez que, segundo o Regimento a “verificação do rendimento escolar do aluno é feita por componente curricular levando-se em conta a frequência e o aproveitamento nos estudos, conforme exigências legais’ e ainda
Todas as etapas devem contemplar pelo menos uma prova escrita, sendo que, especificamente na terceira etapa, deve ser realizada uma avaliação individual, elaborada pelo professor, que contemple o conteúdo integral da disciplina no semestre ou, ainda, de caráter interdisciplinar.
Outro ponto importante a respeito da avaliação é ter em mente que ela deve estar aliada ao processo de aprendizagem. Deve servir como um diagnóstico da aprendizagem do estudante, em que docente e discente identifiquem as lacunas da aprendizagem. Mas, para isso, é necessário que as atividades de aprendizagem e de avaliação possuam um feedback elaborado pelo professor. Miranda (2018) afirma que o feedback ajuda no processo de aprendizagem. A IES pesquisada sugere que a avaliação seja feita de maneira contínua, por meio de diferentes métodos avaliativos, para diminuir a pressão e ansiedade dos estudantes em relação à “prova”. Apesar da importância da avaliação da aprendizagem dos estudantes, esse não é e nem deve ser o único item analisado em sala de aula. É importante que o docente realize avaliações a respeito da disciplina e do seu desempenho para que possa melhorar não só a disciplina, mas também sua prática. Afinal, assim poderá tomar ações corretivas que sejam tempestivas. Gil
(2019) reflete sobre a importância da autoavaliação e sobre os diferentes mecanismos que o professor pode utilizar, desde “prestar atenção aos estudantes e às suas reações, até conversar e ouvir as pessoas”: Para Leal (2017) a prática de avaliação pode auxiliar o docente a refletir sobre sua desenvoltura profissional, sobre seu desenvolvimento, sobre o que deu certo e o que deu errado no decorrer do semestre e os porquês. Pode ser feita tanto por meio de uma autoavaliação crítico-reflexiva, quanto por instrumentos de avaliação entregue aos alunos ou por avaliações institucionais. É importante que também sejam contínuas e não somente ao final do curso. Se feitas apenas ao final do curso, servem apenas como certificação de resultados bons ou ruins, sem possibilidade de correção para aquela mesma turma. Nesse Norte, demais sabido que, ao elaborar uma avaliação, o professor há de considerar diversos aspectos, dentre os quais: a) quantidade e qualidade das questões; b) tempo destinado à resolução; c) grau de dificuldade de cada questão; d) conformação da turma (diferenças de idade, experiência profissional na área – ou a ausência dela –, nível de conhecimento da língua pátria; e) aplicação da teoria na prática e vice-versa. E, sem conhecimento das técnicas da Didática, da Pedagogia, da Psicologia, da Sociologia, elaborar uma avaliação tecnicamente adequada se faz impossível. Cediço que, em geral, os acadêmicos acabam de sair da adolescência e a formação de suas mentes, de todo o seu futuro como homem, como cidadão, depende do grau de consciência do professor. Com efeito, o ensino superior, especialmente o privado, carece de profissionais com formação nas áreas da pedagogia, didática, psicologia e sociologia. E as instituições de ensino superior têm de oportunizar essa formação a seus professores se quiserem oferecer um ensino de qualidade. Não há uma receita para ser um bom professor, porém, na perspectiva do aluno ele sempre teve muita importância na busca de respostas. Ou seja, aprendemos a ser bons professores com os nossos melhores professores. Adotamos modelos para práticas que incorporamos e para práticas que evitamos. Relatos do entrevistado 02 confirmaram a importância dos exemplos (bons e ruins) de nossos mestres.
Eu tive ótimos professores: didática, no quadro, acompanhamento, resolução de exercício, enfim... E tive péssimos professores, também: didática muito fraca, pouco interesse pela aula, do tipo de aplicar seminários e levar trabalhinhos para fazer na sala.
Eu cheguei a ter professor que lia apostila sentado na cadeira, E essa era a aula que a gente tinha.
Segundo o coordenador de um dos cursos da IES, os “professores referências” que se destacaram foram em função à sua didática – fator decisivo para a escolha –, suas atitudes e qualidades pessoais, ao domínio do conteúdo que lecionam e à experiência como profissionais. Entretanto, outros elementos aparecem como fatores importantes para a prática do bom professor: relacionamento com a turma, didática, postura, aspectos pessoais e comprometimento com a função. A partir dos relatos dos entrevistados, da literatura e da experiência dos autores, é possível afirmar que um bom professor é aquele que desempenha bem a sua função de ensinar, tem bom relacionamento com os alunos, apresenta-se interessado e empolgado pela disciplina, é exigente, mas não dispensa o lado humano em sala de aula. Importante ressaltar que em diversas pesquisas sobre os saberes docentes, em que foram investigados os discentes, eles relatam que o bom professor é aquele que tem “didática”. Outro ponto que merece destaque é a relação entre professores e alunos. Essa relação pode e deve ser salutar e próxima. Contudo, alguns professores ainda usam e abusam de sua autoridade em sala de aula, caracterizando o uso do “argumento da autoridade”, ao invés da “autoridade do argumento”, criando um ambiente duro e difícil que prejudica os processos de ensino e aprendizagem. A relação com outros professores (pares), assim como com os estudantes, deve ser benéfica para ambos. Ao ter contato com professores mais experientes é possível ter referências que já trazem uma bagagem experiencial importante e que podem contribuir para a formação e a prática dos novos docentes. Já os novos docentes podem trazer para os docentes mais experientes inovações e novidades em termos pedagógicos e tecnológicos, contribuindo também para a prática desses docentes, em um processo de reflexão sobre sua prática. Com base nos relatórios do Corpo docente, o ingresso no ensino superior apresenta a dualidade Profissional Professor × Professor Profissional. Segundo esses documentos, a maioria dos professores dos cursos de bacharelados exercem atividades profissionais fora da faculdade, principalmente atuando em atividades comerciais e empresariais. Assim, o Profissional Professor acaba tendo pouco tempo para se dedicar à docência e baixo nível de comprometimento com ela, além de não ter preparo didático-pedagógico.
Outra preocupação levantada em relação a esse perfil de professor é a possível mecanização dos processos, resultando na falta de reflexão sobre o conteúdo programático das aulas.
Já o outro perfil, Professor Profissional, seria aquele com formação didático-pedagógica adequada, titulação acadêmica compatível para atuação e, se possível, dedicação exclusiva com a instituição em que trabalha. Contudo, conforme relatórios do Corpo docente, é importante que, em algumas áreas, exista a ligação entre academia e mercado favorecendo a troca de experiências entre os ambientes interno e externo do ensino. Segundo o diretor acadêmico, o adequado para as instituições é que parte do corpo docente trabalhe com dedicação exclusiva, para dar maior assessoria aos alunos e fomentar pesquisas, e a outra parte trabalhe com dedicação parcial, buscando experiências fora da academia e trazendo-as para suas aulas. Não se trata aqui de argumentar pelo distanciamento entre teoria e prática na academia, porque não há possibilidade de teoria sem prática, – uma vez que a teoria existe para explicar a prática –, mas sim de aproximar as diversas possibilidades de interlocução entre academia e sociedade, seja pela pesquisa, pela extensão, pelo ensino ou pela presença de profissionais entre o corpo docente e discente das universidades.
5 Considerações finais
O ingresso na docência no ensino superior ocorre em diferentes fases da vida e de diferentes maneiras. Entretanto, advém quase sempre sem uma formação específica para a docência: a pedagógica. Assim, “ser professor” sem preparação para exercer sua profissão pode acarretar traumas e, até mesmo, a descontinuidade ou o abandono da profissão docente, sem contar os prejuízos para a formação dos acadêmicos, o que é pior. Neste artigo, apresentamos algumas questões e conselhos acerca do ingresso na docência, visando auxiliar futuros e novos professores para que seu ingresso não seja tão traumático. Também pretendemos que esses pontos sirvam como reflexão para docentes mais experientes, que são referência e modelo para os jovens docentes ou docentes em início de carreira. Apresentamos, também, o significado do “ser docente”. A literatura aponta que “ser docente” no ensino superior traz diversas funções e possibilidades, e, com base nas entrevistas, leituras e reflexões, podemos concluir que ser docente é muito mais que estar em sala de aula. É fazer pesquisa. É gerir as instituições. É gerir a própria carreira. Mas, acima de tudo, é ser humano. É ser humano ao lidar com suas próprias
dúvidas, incertezas e inseguranças, além de ser capaz de abstrair essas mesmas dúvidas, incertezas e inseguranças dos discentes – sem se deixar contaminar ou se influenciar por elas –para ajudá-los a superá-las. A literatura aponta que “ser docente” no ensino superior traz diversas funções e possibilidades, e, com base nas entrevistas, leituras e reflexões, podemos concluir que ser docente é muito mais que estar em sala de aula. É fazer pesquisa. É gerir as instituições. É gerir a própria carreira. Mas, acima de tudo, é ser humano. Como conselhos finais, sugerimos às instituições de ensino e aos seus gestores que proporcionem possibilidades de formação continuada para os docentes que compõem sua instituição. Recomendamos, fortemente, que os gestores e coordenadores de cursos institucionalizem práticas de acolhimento para os novos docentes, em que expliquem o funcionamento detalhado da instituição, a proposta político-pedagógica do curso, as crenças e valores do corpo docente, entre outras informações importantes, e os acompanhem durante o período de adaptação. Para os docentes em fase de formação, destacamos a importância da conscientização acerca da necessidade de formação didático-pedagógica e do fato de que ela ocorrerá, na maioria das vezes, por conta própria, pela reflexão sobre sua prática e pela busca proativa de oportunidades formativas. Para os docentes mais experientes e que atuam na formação de outros docentes, direta ou indiretamente, é preciso que incentivem os novos docentes a buscarem uma formação sólida. É preciso, ainda, que sirvam como mentores e exemplos positivos e, acima de tudo, reflitam sobre sua própria prática, incentivando os novos docentes a refletirem sobre a própria prática também. Para profissionais que estejam considerando a docência, seja como atividade paralela ou como atividade principal, recomendamos que reflitam sobre a importância da docência e do tempo que poderão se dedicar a ela, para que exerçam a profissão de maneira responsável e não apenas como um “bico”. Ser professor demanda, além de outras coisas, dedicação incondicional com o processo de ensino e aprendizagem, com os princípios de ética que regem uma sociedade organizada e com o comprometimento da formação do futuro profissional que atuará em nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
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