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\u201C\u00C9 isso que um gringo espera de um brasileiro\u201D

Banda Eddie lança sexto disco, mais uma deliciosa mistura de pop, rock e sons regionais com letras em português sobre venturas e desventuras da vida fora do eixo

Por Alessandro Soler, de São Paulo

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Música popular urbana – e fora do eixo. Com temas como o dia a dia na sua paradisíaca Olinda (PE), a violência das ruas das cidades brasileiras, a dureza de viver num país desigual de um continente idem, as venturas e desventuras amorosas, a banda Eddie imprime um sotaque e um jeito muito próprios de se inserir na cena contemporânea. Mesclando pop, rock e sons tradicionais como samba, frevo, xote, reggae, eles mantêm os pés no lugar de onde vieram mas projetam a cabeça no mundo. Este mês, lançam “Morte e Vida”, sexto disco do grupo - depois de uma pausa do líder Fabio Trummer para se embrenhar num projeto paralelo, o Trummer SSA. O álbum tem 11 canções, dez de Trummer e a outra de Kiko e Rob Meira, que recebeu letra de Fábio e do parceiro Erasto Vasconcellos. Combustível e munição para bombar no próximo carnaval de Olinda, cidade onde eles nasceram e que, diferentemente do que ocorre com um sem-número de criadores contemporâneos, não trocaram – pelo menos não de todo – pela convergência em São Paulo.

Uau! Uma banda de música contemporânea, alternativa e “fora do eixo” que não veio embora (pelo menos não de mala e cuia) para São Paulo! Como se sentem?

Fabio Trummer: Eu moro em São Paulo (risos), mas sou o único da banda. Temos as duas cidades (Olinda e Sampa) como base trabalhadora. Trabalhamos independentemente quase toda a vida e somos da geração que pôs a música de Pernambuco novamente na pista, com mangue beat etc. Dentro do estado (nordestino) conquistamos um espaço, e isso facilita nossa vida em Pernambuco. Temos um público fiel e numeroso na região.

O nome do segundo álbum parecia ter marcado uma espécie de batismo do som de vocês: Olinda Original Style. Dá para definir assim o que vocês criam? O que faz parte desse estilo?

Original Olinda Style não é necessariamente nosso estilo musical, e sim uma observação do modo de vida levado em Olinda. Nossa música é uma música popular urbana, é assim que gosto de classificá-la.

Vocês já fundiram virtualmente todos os sons regionais, tradicionais, tudo o que nos é mais caro e próprio, ao rock e ao pop. Que falta ainda?

À medida que o tempo passa, conhecemos outros gêneros e ritmos e também movimentos socioculturais, e esses ingredientes vão entrando no nosso trabalho. Não fazemos este encontro de culturas racionalmente, é o resultado de tudo que ouvimos e de que gostamos... Acabamos nos expressando com esses elementos. É também uma maneira de renovar nossa música e não ficar nos repetindo, uma forma de buscar sempre novas soluções.

Todos os álbuns estão disponíveis para descarga gratuita na página de vocês. Mesmo assim, conseguem vender seu trabalho? Qual é a principal fonte de grana da Eddie?

Vendemos bem nosso trabalho em CD e vinil, apesar de estar no nosso site o download gratuito. Costumo fazer um cálculo de que, para cada dois CDs baixados, vendemos um fisico. Quem baixa e gosta acaba comprando o CD ou o vinil. Na Eddie, nossa principal fonte de entrada de capital são os shows, mas vendas e o direito autoral também são parte significativa da nossa arrecadação.

Entra bastante por direitos autorais, então?

Entra sim, acho que 35% da minha arrecadação são direito autoral. A obra acaba se espalhando em filmes, regravações, apresentação de outros artistas e execução de TVs e rádios. A obra trabalha por você.

Vocês são uma banda da era digital. Têm uma boa página no Facebook, põem tudo de graça na web… Qual o papel da rede na rotina de vocês?

A rede é parte do contato com nosso público. Nessa configuração do mundo que temos hoje, é fundamental ter uma boa relação com a internet, já que boa parte dos negócios é tratada virtualmente.

Uma passada d’olhos nas músicas de vocês penduradas no YouTube revela um montão de comentários de usuários gringos. As músicas são cantadas em português. O que será que os atrai?

Sempre achei, desde o início da minha carreira musical, que a única maneira de conseguir um espaço verdadeiro fora do país seria fazendo música brasileira, em português principalmente. Música, para mim, é expressão, e não saberíamos nos expressar de outra maneira. Quando é sincero o trabalho, as pessoas sentem e curtem, mesmo não entendendo a letra. Foi assim comigo a vida inteira ouvindo música americana e inglesa e, depois, francesa e de outras línguas que não domino. Temos alguns trabalhos lançados fora do país, músicas em filmes com carreira internacional, tocamos em rádios na Europa e no Japão e temos um público de estrangeiros grande no Brasil, por fazer uma música brasileira e com características próprias. É isso que um gringo espera de um grupo brasileiro.

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