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Encontro de gigantes
Fagner e Zé Ramalho celebram sucesso de seu primeiro projeto conjunto e já planejam uma turnê pelo país: “Estamos em forma!”
Por Guilherme Scarpa, do Rio
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Fagner e Zé Ramalho permaneceram cada um na sua, mas com alguma coisa em comum, por quase quatro décadas de paralelas e mais do que produtivas carreiras artísticas. Embora tenham diversas afinidades - os dois nasceram em outubro de 1949 e, surpreendente e coincidentemente, moram até no mesmo prédio, no Leblon, Zona Sul do Rio -, só em 2014 conseguiram realizar um antigo desejo: “comungar no mesmo palco”, como define Fagner.
Desde que apareceram no cenário musical, na década de 1970, o cearense Fagner e o paraibano Zé Ramalho traçaram caminhos paralelos, sempre de ouvidos bem atentos um ao outro. “Zé é um cara que se entrega, tem um trabalho diferenciado, gosto muito das músicas dele, de seu jeito de cantar”, confirma Fagner. A recíproca é verdadeiríssima. “Sempre tive admiração por ele”, entrega o outro.
O resultado dessa “cerimônia” movida “pela musicalidade e a poesia mútuas”, nas palavras de Zé, também idealizador do projeto, está registrado no CD e DVD “Fagner & Zé Ramalho - Ao Vivo”, em que os dois cantam e tocam juntos 17 sucessos de suas carreiras. “A ideia nasceu há uns três anos”, explica à Revista UBC o paraibano, numa de suas bissextas entrevistas.
“Num dos nossos encontros, falei para ele que já tínhamos cinco fonogramas em comum espalhados em nossos discos”, prossegue. Fagner já tinha gravado músicas de Zé, como “Pelo Vinho e Pelo Pão” (1978) e “Eternas Ondas” (1980), por exemplo, que, naturalmente, marcam presença no setlist do show.
“Disse assim: 'se a gente fizer mais cinco ou seis canções, teremos um disco nosso'”, lembra Zé. Fagner curtiu o convite, mas achou melhor amadurecer a ideia. “Sabia que ia pintar em algum momento, mas sem pressa”, conta, por telefone, de Brasília, onde fazia shows em março passado. Por fim, decidiram não incluir nenhuma música inédita no repertório.
Fagner
Vestidos de azul, monocromaticamente, Zé Ramalho e Fagner permanecem durante todo o show no palco, como prova o registro em DVD. Nenhum deles arrisca um momento exatamente solo. Mas em “Chão de Giz”, de Zé, Fagner fica apenas ao violão. Depois, na música “Canteiros”, de autoria de Fagner e Cecília Meirelles, eles invertem essas posições, sempre em equilíbrio.
A experiência deu tão certo que a dupla já pensa em fazer uma turnê por cidades brasileiras. “Vi que estamos em forma! E temos recebido muitos convites. Sinto que as pessoas estão gostando dessa ideia”, diz Fagner, feliz com a experiência. “Temos uma representatividade nordestina. Hoje, vejo que, artisticamente e politicamente, foi muito importante esse nosso encontro”, define.
Se a parceira só tomou forma agora, foi no distante ano de 1978 que os dois se cruzaram pela primeira vez. “O dia exato não posso precisar, mas foi em um show dele (Fagner) no Parque Lage (no Rio). Eu já tinha meu primeiro LP, o 'Zé Ramalho', e ele estava lançando o disco 'Eu canto - Quem Viver Chorará'”, recorda o paraibano. “Minha casa era um QG de músicos. Lembro-me de que ele frequentava muito. A gente passava horas tocando nossos violões”, diverte-se Fagner.
A química da dupla, segundo os dois, já era perceptível naqueles tempos. “Nossa interação como músicos aparece em momentos do show em que, mesmo estando ambos com seus violões, só o do Fagner soa, e vice-versa”, analisa Zé Ramalho. Mas não só isso: eles também têm técnicas diferentes na hora de pegar um violão pelo braço. “Toco com palheta, e Fagner, com os dedos. Essa alternância se complementa. “Mas, principalmente, somos dois malucos”, brinca Fagner.
Zé Ramalho