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20 anos mais novos

PALAVRA CANTADA CELEBRA DUAS DÉCADAS DE DIVERSÃO E EDUCAÇÃO, ABRAÇANDO OS CONTEÚDOS DIGITAIS E COSTURANDO UMA TURNÊ SEM FIM PELO PAÍS PARA CATIVAR SEMPRE AS CRIANÇAS PEQUENAS

Por Alessandro Soler, de São Paulo

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O número de álbuns, DVDs, livros, shows, programas web, licenciamentos só fez aumentar. A idade do público-alvo, não. E é exatamente isso que Paulo Tatit e Sandra Peres querem. Aos 20 anos de bons serviços educativo-diversionais prestados aos pequenos, à primeira infância, a dupla de músicos e criadores à frente do projeto Palavra Cantada se renova para continuar formando plateias, sem “envelhecer” com elas. Tem dado certo. Ao incorporar ou aprofundar temas ligados à sustentabilidade, ao respeito às diferenças, à cidadania – e outros menos palpáveis, como o lúdico, a afetividade –, o projeto ganhou o apreço sólido de pais, educadores, pesquisadores, virou conteúdo complementar em sala de aula e costurou uma turnê sem fim pelo país, sempre com casa cheia. Se a indústria fonográfica – e musical, em geral – vive crise, a criatividade dos dois amigos os ajuda a driblá-la.

“A crise da indústria fonográfica já tem mais de 15 anos, pelo menos 15 anos. E, na Palavra Cantada, como (ocorre com) todo artista que tem vontade de continuar a desenvolver seus próprios projetos e trabalhos, a gente vai procurando outras fontes. Hoje em dia tem DVD, uma coleção de livrinhos vendidos a prefeituras para o ensino de música... Depende um pouco da agilidade, da criatividade do músico, do empreendedor (que é o que a gente acaba sendo). Vamos vendo qual o caminho que se faz para ter um público que continue prestigiando. O suporte de mídias digitais (por meio de dezenas de vídeos publicados na rede e das vendas on-line), hoje, representa um faturamento considerável”, explica a ex-música erudita Sandra, de São Paulo, QG da dupla que percorreu, literalmente, todos os cantos do Brasil nestas duas décadas.

A celebração do aniversário, iniciada no ano passado, ainda não acabou. Sandra e Paulo – expoente da Vanguarda Paulista nos anos 1970/80 com o Grupo Rumo – entregam nos próximos meses um DVD com animações e conteúdos exclusivos, uma caixa com quatro vídeos históricos, um apanhado dos melhores momentos da Palavra e novos livros de brincadeiras musicais para crianças de 2 ou 3 anos. Reciclar-se, pensar histórias e sonoridades e bolar conteúdos para a geração digital são atividades que, para além das turnês, os mantêm em constante linha de produção. “O grande desafio é pensar uma comunicação, um recheio cada vez mais consistentes. Não há dúvida de que a concorrência que a gente tem, hoje, com conteúdo que vem de fora é enorme. Mas não creio que isso represente um grande problema. Tem sinceridade no que fazemos, o que acabou nos trazendo uma legião de professores que tocam as nossas músicas em sala de aula. Pais e famílias têm fidelidade absoluta ao nosso trabalho pela nossa estética, nossa linguagem, nossa forma de comunicar. Os filhos dessas famílias assistem a outras coisas. Mas, felizmente, não vão deixar de nos prestigiar”, ela comemora.

A ausência de um espaço para a programação infantil na TV aberta não é desprezível, na avaliação de Sandra. Apesar de não depender dos canais tradicionais para alcançar seu público, a Palavra Cantada prega a necessidade de uma faixa para a educação televisiva de qualidade. “Se a TV tem muita bobagem, também deveria oferecer o contraponto. Faz muita falta, sim, um momento para as crianças por lá.” A internet acabou se tornando o principal espaço de divulgação do projeto, que, mais do que profícuo, encontrou nos direitos autorais uma das principais fontes de renda.

ARRECADAÇÃO COMO PILAR DO SUCESSO

“O direito autoral é essencial para qualquer artista, principalmente para aquele que é letrista, que escreve e não performa. O direito é especialmente atraente para pessoas que não recebem cachê como cantores e instrumentistas. Muitas das nossas músicas não são feitas por nós. A questão de recolhimento de direito autoral é parte vital do showbiz, é um dos itens de produção, de planilha. É importante que as sociedades arrecadadoras nos representem, e a UBC tem feito um belo trabalho nessa área. É uma sociedade que, claramente, tem respeito pelo trabalho do artista”, Sandra afirma.

Num momento em que parte do seu público cresce em meio à cultura do consumo “gratuito” de conteúdos web – são os jovens, sabidamente, os maiores compartilhadores de música pirata –, ela faz uma defesa veemente do direito de autor. “É superimportante para quem faz música receber os devidos frutos da produção, da execução pública. Eu sempre falei isso: direito autoral é sagrado. Você criou aquilo, tem que ser compensado. Se as pessoas vão a um local público dançar, se divertir, isso só é possível porque inventamos um negócio. O nosso trabalho é entrega, é suor. Mas só pode continuar se encontrarmos uma forma de nos sustentar por meio dele. Esse é um grande desafio dos nossos tempos.”

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