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Novidades Nacionais
por_ Andrea Menezes | Dudi Polonis foto_
Fernanda Takai: Confinamento Criativo
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Com duas canções compostas — e inteiramente produzido, arranjado, gravado e mixado — durante o confinamento, “Será Que Você Vai Acreditar?”, novo álbum de Fernanda Takai, chegou em julho às plataformas digitais provocando reflexões e uma unânime aceitação da crítica. O desconcerto marca o repertório, que, além das faixas inéditas (“O Que Ninguém Diz” e “Corações Vazios”), traz composições de Amy Winehouse (“Love is a Losing Game”), Nico Nicolaiewsky (“Não Esqueça”) e Michael Jackson (“One Day in Your Life”), por exemplo. “A maioria das canções entrou no repertório antes mesmo da pandemia e do isolamento, o que confirma que esse não é um sentimento novo. Afinal, nós estamos vendo o país andar de ré”, disse a cantora e compositora, que, mais uma vez, teve a parceria do marido, John Ulhoa, companheiro de Pato Fu, na produção e na pós-produção do trabalho. “Sinceramente, sinto que as pessoas precisam de músicas que falem da nossa fragilidade e impotência”, ponderou.
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OUÇA MAIS | As 10 canções de “Será Que Você Vai Acreditar?” ubc.vc/TakaiSera
BOSCO, HOLANDA, MESTRINHO E O SAMBA
Um álbum gravado em estúdio com cheiro de trabalho ao vivo. Assim é “Canto da Praya — Hamilton de Holanda e João Bosco — Ao Vivo”, que reúne os dois mestres da música brasileira num dueto com instrumentistas de alto calibre e repertório oriundo da série de shows “Eu Vou Pro Samba”, que eles fizeram juntos. “Sinhá” (João Bosco/ Chico Buarque), “Chega de Saudade” (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) e “Gagabirô” (João Bosco), para violão e bandolim, estão entre as faixas incluídas no trabalho.
“A nossa ideia era que o repertório contemplasse o samba. Sempre achamos esse estilo nosso ponto de encontro de ideias musicais e rítmicas”, descreveu Hamilton, que também gravou outro álbum do projeto, paralelo, com o craque Mestrinho. “O fantástico de estar com o Hamilton é essa liberdade que a gente tem de tocar o que gostamos, queremos e admiramos. Trata-se de um músico extraordinário porque qualquer coisa que você possa colocar uma possibilidade, logo ele chega com seu bandolim e cria coisas muito prazerosas”, completou João ao portal Terra.
OUÇA MAIS “Canto da Praya” na íntegra ubc.vc/HamiltonBosco
ANDANÇAS DE SILVIA
Foi um intervalo de seis anos, uma mudança de cidade, muitas parcerias e uma pandemia. Num título que poderia bem aludir às suas próprias andanças físicas e estéticas, Silvia Machete lança “Rhonda”, primeiro álbum de inéditas desde “Souvenir” (2014) e quase todo composto por ela — em parceria com Alberto Continentino —, em inglês. A notável exceção é a faixa “With No One Else Around”, single do raro e genial disco em inglês de Tim Maia lançado por sua gravadora independente, a Seroma, em 1976. Agora vivendo em São Paulo, a carioca Silvia apresenta parcerias com o músico paulista Emerson Villani e com o estadunidense Nick Jones, que, além de músico, também é roteirista e produtor audiovisual e está por trás, entre outros sucessos, da série “Orange is The New Black”. O groove sofisticado impresso por Silvia e pelos produtores Continentino e Lalo Brusco marca este quarto álbum de estúdio, que tem ainda a participação do tecladista Jason Lindner, um dos responsáveis pela estética particular do último álbum de David Bowie, “Black Star”, lançado só dois dias antes da morte do cantor, compositor e produtor em 2016.
FESTA DE GERALDO
Não teve são-joão, mas teve são Geraldo. Uma mescla de composições próprias e clássicos de Luiz Gonzaga, Zé Dantas e Antônio de Barros, gravados ano passado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, dá o tom do explosivo “Arraiá de Geraldo Azevedo”, lançado no início de junho para driblar o baixoastral do confinamento com tempero de forró, baixão, xote e outros gêneros tão nordestinos e brasileiros. Além do próprio disco, o cantor e compositor — cujas “Moça Bonita” (parceria com Capinan), “Sétimo Céu” (com Fausto Nilo) e “É Só Brincadeira” (com Zema) se unem ao medley “Olha Pro Céu” (Luiz Gonzaga e Nando do Cordel)/ “São João na Roça” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), entre tantas outras — vem lançando, semanalmente, vídeos para as canções, também extraídos do show carioca.
BELLA SCHNEIDER: “POPZEIRA”
Em processo de lançamento do seu primeiro álbum, “ELA”, a pernambucana Bella Schneider entregou no final de julho seu novo single, “Déjà Vu”, uma curiosa mistura de gêneros que ela chama de popzeira, tudo permeado por uma potente base eletrônica dançante. Nome revelado no “The Voice Brasil”, e que ganha peso e repercussão na cena dance brasileira, ela contou que a faixa, produzida durante a quarentena, “é mais do que (sobre) ver (algo) novamente, é sobre ressignificar a vida. É acreditar que, com amor e um novo entendimento, podemos vencer os conflitos.” A produção é de Diego Marx, e o clipe também já está disponível.
DOM E DONA
A cantora e compositora carioca Luciane Dom se une ao multiartista gaúcho Dona Conceição numa bela exaltação à negritude, ao encontro e ao cuidado com o outro no single “Azul”, uma batucada pop. “Essa canção me faz lembrar toda a preocupação de quem ama, em construir uma história juntos. Lembra meus pais, minha avó, lembra os poemas de Conceição Evaristo, traz todo o clima de aconchego”, explicou Luciane, expoente da música preta brasileira contemporânea, ao misturar ancestralidade e sons e reflexões de hoje, e cujo primeiro projeto, “Liberte Esse Banzo” (2018), a levou por turnês pelos Estados Unidos e pelo Chile.
DI FERRERO X 3
Di Ferrero começou a entregar os singles que concluirão o seu primeiro álbum solo, “Sinais”, cuja “Parte 1” foi lançada há um ano. “Onde A Gente Chegou”, com participação de IZA (ao lado dele na foto), é uma das faixas que comporão a “Parte 2”. Ao mesmo tempo, o também vocalista do NX Zero estreia um projeto com participações de outros craques do pop nacional. Em “Di Boa Sessions – Parte 1”, quem faz dueto com ele é Thiaguinho nas faixas “Ligação” (de Di e Gee Rocha) e “No Mesmo Lugar” (Di, Mateus Asato e Dan Valbusa), ambas sucessos do NX Zero revisitados. E, como se fossem poucos os lançamentos, o cantor e compositor ainda entregou “Vai Passar”, canção autoral que compôs após enfrentar e se curar da Covid-19, uma espécie de expurgo da má fase que viveu. “Eu não conseguia nem cantar. Não conseguia subir escada, fiquei rouco, cansado...”, relembrou Di Ferrero em entrevista à rádio Jovem Pan.
BALEIRO: PONTE AFETIVA
Se não há — ou não deveria haver — muitos encontros físicos estes tempos, os espirituais estão liberados. Zeca Baleiro viajou a Portugal para homenagear compositores da talha de Sérgio Godinho, Pedro Abrunhosa, Fausto, Zeca Afonso, Rui Veloso e António Variações, entre outros, no seu mais recente lançamento, “Canções d’AlémMar”. “Este disco é uma declaração de amor à música feita em Portugal, com ênfase na produção das últimas décadas. É parcial, como todo tributo”, descreveu Baleiro, que anunciou o nascimento dessa viagem sentimental antes do confinamento, ainda em janeiro, quando soltou o single e o clipe de “Às vezes o Amor”, de Sérgio Godinho. Abrunhosa não é, ele mesmo, nenhum estranho na voz — e nos palcos — de Zeca Baleiro. Em 1999, o portuense foi um dos presentes no projeto “Navegar é Preciso”, no qual o maranhense promoveu um encontro entre criadores contemporâneos dos dois países em São Paulo.
ANGELO TORRES E OS BONS
O saxofonista carioca Angelo Torres também caprichou nos encontros no seu décimo álbum de estúdio. Além do americano Kirk Whalum — o sax solo do hit de Whitney Houston “I Will Always Love You”, músico 12 vezes indicado ao Grammy e vencedor em 2012 —, que divide com Angelo a faixa-título do disco, “Início de Tudo”, participam Milton Guedes e Marcos Nimrichter, entre outros. O trabalho instrumental foi todo composto por Angelo — um dos instrumentistas mais conhecidos do universo do gospel brasileiro — e passeia por samba-soul, samba-funk, funk americano, groove e pop. O cantor gospel João Alexandre é outros dos convidados, na faixa “Portas Abertas”, sucesso do gênero gravado pelo grupo Logos.
LAURA CANABRAVA MISTURAS
Reggae cumbiado, samba-soul, afrobeat pop, salsa congolesa, jazz latino. Nunca tem um nome só a variada mistura de gêneros com a qual flerta a cantora e compositora Laura Canabrava, que lançou seu EP “Vontade” de forma independente em junho. Com quatro faixas compostas por ela, fala sobre a busca por uma verdade própria, um estilo (ou muitos), após o sucesso de “Aiye”, seu primeiro disco, de 2018. “Compor é um momento muito íntimo. Muitas coisas são reveladas para mim mesma depois que nasce uma composição. Por isso, componho sozinha. Mas tenho gostado de me arriscar em algumas parcerias, pois o processo é diferente nessa troca com cada um, e eu aprendo bastante”, afirmou a multiartista carioca, famosa por suas performances e atuações como atriz e bailarina. Para um próximo trabalho, ela pretende apresentar composições feitas com Tuany Zanini e Fernanda Lemos, além do namorado, o músico João Bittencourt.
ESSIN CONTRA A CÓLERA
Lives, momentos de reflexão, novas composições. Assim o cantor e compositor Rogério Essin passou o confinamento no Rio de Janeiro, enquanto prepara novos singles para suceder a “Contigo o Mundo Não Tem Ilusões”, que lançou pela Biscoito Fino ano passado e que volta a trabalhar agora, descrevendo-o como “uma canção de amor nos tempos da cólera”.
Composto por ele, produzido por Fernando Caneca e com a participação de Federico Puppi, Marcelo Costa e Rodrigo Tavares, o trabalho teve a presença de Arthur Maia, numa das últimas aparições do músico antes da sua morte, em dezembro de 2018. Filho de Antônio Ceará, cantor e compositor cearense que fez fama no Rio dos anos 1960, Essin tem a “nordestinidade” no sangue e nas sonoridades que explora mescladas à MPB e ao pop-rock.
RIO // LISBOA BAHIA // PARAÍBA
Baiana criada em João Pessoa e, há alguns meses, afincada no Rio. Com múltiplas influências, estéticas e sonoridades, a juveníssima Agnes Nunes, de 17 anos, é também um fenômeno nas redes sociais desde que surgiu fazendo covers de canções de MPB contemporâneas — ou nem tanto. Com mais de 3 milhões de seguidores e fãs no Instagram e no YouTube, ela se prepara para soltar um novo EP, que reúne canções que homenageiam cidades. Depois de “Rio”, no início de julho, ela lançou o single “Lisboa”, algumas semanas depois, ambos envoltos em elogios de crítica e público pela voz potente da cantora e compositora, que já gravou com Chico César, Tiago Iorc e Elba Ramalho. Sobre o processo de começar a construir esse EP, num momento tão determinante da sua curta vida, ela é taxativa: “Acho que foi realmente ‘parir’ um EP, já que tem tanto sentimento envolvido, e é isso que faz a coisa ter tanto sentido. Coloquei tudo o que eu sentia para fora. Algumas coisas são verídicas, outras são fruto da imaginação”, contou.