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PANDEMIA AMEAÇA RÉVEILLON E CARNAVAL
Cancelamento tiraria dos titularesdas músicas usadas nessasfestas mais de R$ 20 milhões sóde arrecadação de direitos deexecução pública; prejuízo globalestaria na casa dos bilhões
por_ Luciano Matos | de_ Salvador
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O governador da Bahia, Rui Costa, vinculou a realização do carnaval no estado à descoberta de uma vacina para a Covid-19. O prefeito de Salvador, ACM Neto, também se mostrou reticente sobre a realização da festa e propôs o adiamento, além do uso de “outro formato”. A prefeitura de São Paulo sinalizou no mesmo sentido e já anunciou o cancelamento da festa de réveillon presencial na Avenida Paulista. Outras capitais, como Rio de Janeiro e Recife, ainda não oficializaram mudanças, mas as estudam e cogitam o uso de transmissões só pela TV para evitar multidões nas ruas.
Cálculos da prefeitura do Rio mostram que o cancelamento do carnaval poderia tirar da economia mais de R$ 4 bilhões. Em São Paulo, o prejuízo seria de R$ 2,97 bilhões. Só a arrecadação de direitos autorais de execução pública sofreria um baque de mais de R$ 20 milhões, no caso de réveillon e carnaval serem suspensos. Neste ano, mesmo, apesar de o primeiro caso de coronavírus no Brasil ter sido confirmado em plena Quarta-Feira de Cinzas, já houve suspensões de eventos que acarretaram em queda de R$ 1,3 milhão na arrecadação, ou 8% menos do que em 2019.
O caso das festas juninas deste ano é exemplar. Se a paralisia continuar, a arrecadação deverá ser quase totalmente zerada. Em 2019, o Ecad arrecadou 360 mil, um tombo de quase 94%. Como carnaval e réveillon somados, em 2019, passaram de R$ 21 milhões em arrecadação, dá para se ter uma boa ideia do tamanho do buraco caso uma queda semelhante se confirme nos dois segmentos.
“Tanto a prefeitura quanto o governo (estadual) entendem como muito temerário organizarmos um evento para um milhão de pessoas em dezembro deste ano”, resumiu o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, ao anunciar o cancelamento do réveillon da maior metrópole brasileira. O carnaval da cidade, que, nos últimos anos, ganhou tanto público que já disputa o título de maior do Brasil, está igualmente ameaçado. As escolas de samba já pediram o adiamento dos desfiles, alegando não terem condições de se preparar para fevereiro.
“Sou do samba, frequento as quadras, conheço quem organiza. Sei que as escolas, aqui de São Paulo e do Rio, não estão fazendo nada: não escolheram samba, não têm feito ensaios, não têm pensado em enredos. Está tudo paralisado. Não é possível que, neste cenário, haja carnaval em 2021”, disse à UBC Nereu Gargalo, membro do mítico Trio Mocotó e conhecedor da cena carnavalesca das duas principais cidades do país.
NEREU GARGALO, SAMBISTA
BRUNO COVAS, PREFEITO DE SÃO PAULO
Na Bahia, o governador Costa tem sido taxativo: “Não haverá show enquanto não tiver a vacina, por que nós podemos ter uma segunda ou terceira onda de contaminação e matar milhões de pessoas. Não haverá aglomeração de pessoas.” O que ele não disse é que, mesmo que a vacina fosse anunciada hoje, tardaria meses em chegar à maior parte da população e gerar um efeito imunizante suficiente para permitir o retorno da “normalidade”. Eventos de grande porte, como carnaval ou réveillon, levam meses para serem organizados, requerem antecipação.
Em Salvador, tampouco teve início a organização da festa. ACM Neto, prefeito da capital baiana, dá “até o fim do ano” para o surgimento ou não de uma vacina. “Nosso limite para tomar uma decisão é o mês de novembro”, afirmou. Ele admitiu que se juntou a Covas, de São Paulo, para tentar convencer outros prefeitos a adiarem as festividades carnavalescas do ano que vem. “Eu penso que as principais cidades do Brasil podem se juntar: São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Recife e outras capitais que têm tradição no carnaval, para tomar uma decisão conjunta”, disse ACM Neto. Apesar de não haver uma data fechada, ganha força a tese de transferir a celebração para maio ou junho.
RUI COSTA, GOVERNADOR DA BAHIA
O Rio, por ora, tem se mostrado ausente da discussão. A Riotur,órgão de promoção do turismo,nega rotundamente o cancelamento do réveillon. Mas, num confuso comunicado emitido no final de julho,disse que estuda alternativas para fazê-lo pela TV e sem multidões, oque abre a porta para a suspensão da festa que leva milhões a Copacabana.O carnaval é ainda mais incerto.
Em uma plenária realizada no dia 14 de julho, os representantes das escolas do Grupo Especial carioca disseram que aguardarão até setembro para avaliar a viabilidade dos desfiles de 2021. Até lá, nada de ensaios ou concentrações nas quadras. Mesmo caminho seguido pelo carnaval de rua. Segundo Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que representa os principais blocos cariocas, “sem vacina, não tem como fazer carnaval, seria uma irresponsabilidade, mesmo sabendo que a não realização do carnaval terá impacto econômico negativo enorme.” Ela disse que o carnaval de rua adiou para outubro uma decisão: “É prematuro decidir agora.”
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