Desmontando a autoria, sem fazer estragos por Giselle Ribeiro
A escrita poética pede tempo de maturação para ser projetada no mundo. Há que se fazer pesquisa, ler outros livros, ler gente, ler o mundo. É preciso se permitir esse tempo de gestação. Às vezes um poema nasce como um espirro, outras vezes ele pode levar horas, dias, semanas, para ser aceito como tal. Honestamente, não acredito que eu determino quando um poema está, ou não está, pronto. É a minha escrita que manda em mim, eu sou só o canal! Hoje, cheguei aos 48 poemas do livro Mulheres que suspendem o recreio e sei que é preciso continuar escrevendo, ainda não é o tempo da publicação. Por que eu sei disso? Porque o livro me comunica. É o que tenho aprendido esses anos todos. Ainda iniciante nesse ofício, eu tinha aspiração de “ser a tal”, aquela que faz e acontece na escrita poética. Quando se é iniciante, é natural que se tenha esses rompantes. O problema é não planejar a fuga desse estado, se deixar cair sem paraquedas e ver os estragos no chão. Como eu descubro que não sou a tal para a minha escrita? Quando encaro um poema e fico afoita para postar e mostrá-lo, imaturamente, no meu espaço virtual, faço isso ainda hoje, algumas vezes. Depois, mais adiante, o texto que ainda não estava formado, que não se via como um poema, ri debochadamente de mim e me põe a fazer os reparos. Esse é o momento da queda de que lhes falei acima. Às vezes precisamos ser lançadas ao estado de ridícula, só para dar uma sacodida no ego e deixá-lo numa zona de menos gás. É uma questão de preparo, aprender a ser escritora é 10