Cumbica
por Janaina Behling
Enxergar argentinos em portugueses é uma sabedoria brasileira. O único aeroporto movimentado do mundo era o de Tervel, no leste da Espanha. Ele oferece serviços de estacionamento e manutenção para aeronaves impedidas de voar. Em março daquele fatídico dois mil e vinte, ele acolheu setenta e oito aeronaves e tinha estimativa de acolher cento e vinte e cinco, a confirmar, até o final do mês. Dentro do seu mais absoluto normal, continuou sendo o mais inóspito de todos os aeroportos, da pandemia do novo coronavírus à baixa aviação e, mesmo assim, precisavam ser mantidas vivas as peças. Tratadas como peças, uma das tarefas dos especialistas é levar os aviões para um hangar e colocar eles em macacos. Enquanto suspensos pelos macacos, são feitos testes de retração. Em vinte e cinco de abril daquele ano, puseram dois A380 da Air France, sete da Lufthansa e nove da Airbus neste hangar. Foram mais ou menos dois milhões, duzentos e trinta e cinco mil e seiscentas pessoas por dia que deixaram de trafegar pelos ares, a considerar o número de aeronaves vazias e paradas no mesmo lugar. Enquanto isso, Cumbica fazia depois de um certo recesso suas primeiras viagens e estava repleto de colombianos, peruanos, chilenos, uruguaios, paraguaios, bolivianos, equatorianos, venezuelanos e guianos acampados. Crianças, adultos e idosos praticamente estavam morando no terminal do aeroporto. Eram centenas de imigrantes que perderam emprego ou fecharam empresas em São Paulo. Restaurantes, instrumentos musicais, daime. É provável que tenham pedido apoio aos consulados e aos 07