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Maurício Goulart
— Vai ser Independência, ou vai ser Liberdade, Julio? — Perguntou enquanto propunha um brinde, erguendo o copo com um bom scotch para um tim-tim que comemorava a conquista da concessão da emissora de rádio que os dois pleiteavam em Rio Preto. — Acho melhor Independência, Maurício — resolveu logo o coparticipante da singela comemoração. A dúvida fugaz a respeito do nome da nova emissora traduz a importância de conceitos como “liberdade” e “independência” na vida dos dois personagens dessa cena. Um deles era o empresário e publicitário Julio Cosi, já o outro era o jornalista, político e escritor Maurício Goulart, alguém cujos atributos intelectuais deram suporte a uma participação ativa em momentos especialmente delicados da política brasileira – da Revolução de 1930 ao rearranjo partidário que se seguiu ao golpe militar de 1964, sem que a história ainda tivesse conseguido nos dar a dimensão precisa do grau de intensidade da participação desse coadjuvante de momentos críticos da vida nacional.
Rio Preto foi a cidade que Goulart escolheu para viver de 1958 a 1993, quando morreu. A chácara onde morava, na rua Coronel Spínola, abrigou durante algum tempo uma “oficina cultural” da Secretaria estadual da Cultura, depois foi substituída por um edifício de apartamentos, não havendo mais informações sobre o acervo invejável da biblioteca que mantinha no local ou sobre seu trabalho como historiador e como deputado federal por São Paulo. O que resta mais vivo são as lendas saborosas sobre seu divertido e desapegado comportamento boêmio. Estabelecido em Rio Preto em 1958, fundou a rádio Independência e no ano seguinte disputou, sem êxito, a Prefeitura Municipal. Em 1962, foi eleito deputado federal pelo PTN, pelo qual ainda foi vice-líder do bloco parlamentar formado por vários partidos, já depois da deposição de Jango. Com a dissolução dos partidos políticos pelo AI-2 em 1965, ingressou no MDB, reelegendo-se deputado. Bem antes disso, foi um dos fundadores da cidade mineira de Fronteira, a respeito da qual fez uma revelação durante entrevista que concedeu, pouco antes de morrer, ao jornalista Roberto Lofrano: — Eu passava por uma grande desilusão amorosa e estava com uma bruta dor de cotovelo. Por mim, a cidade teria se chamado “Cotovelândia”.
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