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Ah, mas se chover
Mário Moraes formou com o locutor Pedro Luiz a maior dupla da história do rádio esportivo brasileiro. Inclusive, foi da junção dos dois nomes que nasceu o pseudônimo pelo qual o radialista e jornalista Vislei Bossan tornou-se um dos mais conhecidos e respeitados homens do rádio rio-pretense: Mário Luiz, o comentarista que sabe o que diz. Mário talvez ainda nem estivesse por aqui quando o futebol e o rádio produziram um episódio exemplar da esquisita coreografia do idioma e da bola. Aconteceu com o Rio Preto Esporte Clube nos anos 1960, tempo em que todas as despesas do time visitante, como hospedagem e alimentação, eram por conta do time da casa. A tabela da Segunda Divisão marcava o jogo – provavelmente contra o Garça FC – para um sábado à tarde no velho Estádio Victor Brito Bastos, mas choveu e a partida foi adiada para domingo de manhã. Choveu de novo e a transferiram para domingo à tarde. Continuou chovendo e resolveram adiar para o dia seguinte, e as despesas correndo soltas.
A segunda-feira amanheceu radiosa, inspirando o locutor Jovino Cardoso na abertura da transmissão da PRB-8: — Senhoras e senhores, hoje o dia amanheceu sorrindo para o futebol. O tom plúmbeo que cobriu o éter nos últimos dias deu lugar a um incomparável anil celeste. Desde a fímbria do horizonte, depreende-se a total ausência das nuvens, e a brisa suave que acaricia o balouçar dos eucaliptos aqui no estádio é um indicador seguro de que hoje não haverá precipitação pluviométrica. Porém, como naquele momento uma nuvem perdida encobriu subitamente o sol, complementou: — Mas, se houver, o Rio Preto está fodido! Dessa época romântica, nem o estádio sobrou, transformado em um conjunto de clínicas médicas na esquina da Bernardino de Campos com a rua Cila, na Redentora. O que dizer então das palavras?
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