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Meio caipiras, meio urbanóides

Aextinta rádio Difusora Rio-pretense mantinha, nos anos 1960, um programa diário de auditório chamado Cidade Versus Sertão, em que o público se manifestava por meio de cartas a favor de um dos dois apresentadores: Adib Muanis, pela “cidade”, e Olívio Campanha, o Cuiabano, pelo “sertão”. Ganhava a disputa aquele que, ao final de uma hora de provocações combinadas, apresentasse o maior número de cartinhas enviadas pelos ouvintes. A “cidade” sempre ganhava. O público presente no auditório – em sua maioria adolescentes que estudavam em escolas próximas à rádio – escrevia na hora, em folhas arrancadas dos cadernos, um número de cartas suficiente para superar a quantidade de correspondência exibida pelo “sertão”. Como se nota, ainda não havíamos assumido nosso lado ligeiramente caipira. Cuiabano foi um ícone do sincretismo entre o urbano e o caipira em Rio Preto. Com o irmão, Antonio, formou a dupla “Campanha e Cuiabano”, que começou se apresentando na

Acervo Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto

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Olivio Campanha, o Cuiabano, era um dos apresentadores do programa Cidade Versus Sertão na rádio Difusora de Rio Preto

Rádio Rio Preto PRB-8 e logo foi aprovada em teste na rádio Nacional de São Paulo, de onde, durante muitos anos, propagou para o Brasil sucessos como a moda de viola Meu Passarinho, escrita em 1957 por Campanha e Zé Rosa.

Ganhei um passarinho Foi meu amor quem me deu Vivia sempre sozinho De tristeza ele morreu Nunca mais ele cantou...

Cuiabano voltou a Rio Preto lá pelos anos 1960 para apresentar programas sertanejos no rádio – na época segregados às primeiras horas da manhã e ao final da tarde –, quando criou um personagem muito mais urbano do que rural. Na verdade, urbano e zoneiro, ainda por cima. Expressões como eu tico (simplificação exagerada de “eu te conheço”) e você mico? (“você me conhece?) eram repetidas nas ruas, juntamente com o mais clássico e provocador de todos os seus bordões: passa lá. Esclarece-se: “lá” era a casa boêmia onde Cuiabano morava, nas imediações da zona do meretrício; e passa lá era, muitas vezes, uma forma de intimar frequentadores inadimplentes a retornar ao caixa. Esse caipira urbanóide, que também foi Rei Momo em alguns carnavais, morreu em 1981, em consequência de uma série de complicações de saúde facilitadas por uma doença cruel: o alcoolismo.

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