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Morrendo de rir

Orádio Pioneer a válvulas era do tamanho do que hoje é um forno de micro-ondas. Ele tinha uma exuberante caixa de madeira de cor clara, os falantes protegidos por um tecido furadinho e o dial era um monte de números em fileiras – uma para a faixa de ondas médias, outra para as ondas curtas, outra para as ondas longas. Como demorava alguns minutos para “esquentar”, às duas e meia em ponto já tinha que estar ligado e sintonizado na PRB-8, porque – silêncio na sala, fala baixo, menino – a voz grave e inconfundível do locutor Araújo Neto já começava a anunciar que ia começar o Show de Graça. A cada dia, era separada meia hora de piadas de um artista escolhido entre uns poucos que, naquela metade dos anos 1960, lançavam long plays de humor, como Jacinto (o Donzelo), Zé Trindade e Chico Anysio. Pouco importava que as limitadas opções do gênero levassem o Show de Graça a uma inevitável rotina de reprises, mas ouvir pela terceira ou quarta vez as inocentes trapalhadas semânticas do casal de italianos Vitório e Marieta – criação imortal dos humoristas Murilo

Amorim Correa e Maria Tereza – era até mais divertido do que na primeira vez. A capital da “boca do sertão”, como muitas pessoas gostavam de se referir a Rio Preto até o comecinho dos anos 1970, não poderia prescindir do humor caipira ingênuo que o humorista João Ferreira de Melo tomou emprestado do circo e do emergente cinema popular de Mazzaropi e levou para as ondas do rádio na voz do personagem “Barnabé”, que chegou inclusive a participar do filme Chofer de Praça, protagonizado por Mazzaropi em 1959. Morreu em 1968, aos 36 anos, devido a um infarto fulminante, sendo sucedido na carreira por um irmão mais novo, que adotou o nome do personagem e até hoje continua se apresentando pelo Brasil. Por fim, um programa de rádio que se propusesse a apresentar gravações de humoristas não poderia prescindir do talento do pioneiro de todos eles: Zé Vasconcelos, o criador do antológico Eu Sou o Espetáculo, a primeira incursão de um humorista no stand up comedy no Brasil. Zé Vasconcelos, que o público brasileiro pôde ver até bem recentemente na Escolinha do Professor Raimundo da TV, fazia no disco notáveis imitações dos locutores mais conhecidos do Brasil e imortalizou personagens absolutamente inesquecíveis, como o locutor de futebol que era gago e o italiano que vai se enervando e imaginando situações negativas enquanto procura alguém que lhe possa emprestar um “macaco” para trocar o pneu furado de seu automóvel de último tipo. Era assim o Show de Graça, que terminava antes do radioteatro Colgate Palmolive, que apresentava radionovelas escritas, por exemplo, por Ivani Ribeiro.

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