MORRENDO DE RIR
O
rádio Pioneer a válvulas era do tamanho do que hoje é um forno de micro-ondas. Ele tinha uma exuberante caixa de madeira de cor clara, os falantes protegidos por um tecido furadinho e o dial era um monte de números em fileiras – uma para a faixa de ondas médias, outra para as ondas curtas, outra para as ondas longas. Como demorava alguns minutos para “esquentar”, às duas e meia em ponto já tinha que estar ligado e sintonizado na PRB-8, porque – silêncio na sala, fala baixo, menino – a voz grave e inconfundível do locutor Araújo Neto já começava a anunciar que ia começar o Show de Graça. A cada dia, era separada meia hora de piadas de um artista escolhido entre uns poucos que, naquela metade dos anos 1960, lançavam long plays de humor, como Jacinto (o Donzelo), Zé Trindade e Chico Anysio. Pouco importava que as limitadas opções do gênero levassem o Show de Graça a uma inevitável rotina de reprises, mas ouvir pela terceira ou quarta vez as inocentes trapalhadas semânticas do casal de italianos Vitório e Marieta – criação imortal dos humoristas Murilo