CECILIA DEMIAN COLABORAÇÃO ESTER MENDONÇA E JOSÉ LUÍS REY
NO AR
ROBERTO TOLEDO nas ondas do rá dio
CECILIA DEMIAN COLABORAÇÃO ESTER MENDONÇA E JOSÉ LUÍS REY
2021
Copyright© Serifa Editora e Comunicação Direção editorial: Deodoro Moreira Projeto gráfico e diagramação: Cristiano Vilela Revisão: Anna Paula Batalha Bacchi Boé Fotos: Guilherme Baffi Pesquisa: Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto REFERÊNCIAS ARANTES, Lelé. Dicionário Rio-pretense: a história de São José do Rio Preto em verbetes de A a Z. Rio Preto: Editora Rio-pretense.1997. GOMES, Leonardo. Gente que ajudou a fazer uma grande cidade, Rio Preto. Rio Preto: Editora Gráfica São José. 1975. INSTITUTO CRAVO ALBIN. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível em: https://www.dicionariompb.com.br/. MARTINS, Paulo Serra. B-8 – História da rádio de São José do Rio Preto. Editora THS Arantes. 2007. REZENDE, Vera. Independência 1290 AM, a rádio eclética da cidade (2005). Dissertação de Mestrado. VALE, Zacharias Waldomiro do. Astros e estrelas do nosso rádio: Álbum de 1957. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Demian, Cecilia Roberto Toledo nas ondas do rádio / Cecilia Demian, José Luís Rey, Ester Mendonça. -- 1. ed. --São José do Rio Preto, SP : Serifa Editora e Comunicação, 2021. ISBN 978-65-991897-9-1 1. Biografias 2. Comunicação 3. Radialistas - Brasil Biografia I. Rey, José Luís. II. Mendonça, Ester. III. Título. 21-70508
CDD-791.44092
Índices para catálogo sistemático: 1. Radialistas : Biografia 791.44092 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Todos os direitos reservados à Serifa Editora de Livros Ltda. ME Rua Gilberto Lopes da Silva, 55 – Apto. 14C – Sala 1 15085-390 São José do Rio Preto – SP Telefone: (17) 99167-5408 serifacomunica.com.br
PREFÁCIO
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ste é um livro que mesmo quem não se interesse pelo rádio vai gostar de ler. Ele foi inteiramente pesquisado e escrito pelos meus amigos Cecilia Demian, Ester Mendonça, José Luís Rey e Deodoro Moreira (editor), todos jornalistas graduados. Ele relembra a história do rádio rio-pretense desde os primórdios, com os profissionais que concretizaram seu sucesso, personagens importantes para a evolução do rádio e outros que, apesar de não trabalharem diretamente no setor, viveram as transformações que esse pequeno equipamento proporcionou. Trabalhamos juntos, Cecilia e eu, na rádio Independência no seu auge artístico e financeiro; fomos parceiros de programa ao vivo, repórteres nas noites de sábado e domingo, partícipes de uma profissão que dignifica o indivíduo e humaniza a sociedade. Eu estava junto em um evento na praça quando Cecilia pediu (e ganhou!) um boi da poderosa UDR (União Democrática Ruralista) para ser rifado em prol da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Ficávamos felizes pelos outros, em uma pureza de sentimentos. Vivemos bons momentos.
CECILIA DEMIAN
O ato inaugural da PRB-8 deu-se em 1935, com muitas dificuldades e necessidades. Nos grandes centros brasileiros, o rádio tinha chegado dez anos antes. Portanto, era uma novidade recente que requeria estudos e estrutura financeira para sua realização. O herói da vez foi o dentista Raul Silva, homem de espírito arrojado e realizador que não sossegou enquanto não convenceu uma associação inteira (e uma cidade também) a arrecadar verba para modernizar Rio Preto (SP), que já era cheia de empreendedores e homens de negócio. Uma cruzada que durou oito anos até finalmente conseguir verba e instalar o equipamento. A instalação do rádio permitiria mais negócios, mais prosperidade e resultados. Desde aquela época ele já sabia que a comunicação faz milagres. Apesar da revolução tecnológica, do acréscimo da imagem e das velocidades inimagináveis da comunicação, o rádio ainda não morreu, como querem muitos. É verdade que ele sobrevive em menor escala, mas consegue se reinventar todos os dias. A vida é luta, pois. Deixo aqui registrada minha admiração pelos autores e por todos os profissionais que dignificaram a carreira de radialista, esse sonhador que adora ser prestador de serviços e realizar os sonhos do seu público. Fico feliz de ver terminada esta obra de caráter histórico que apresenta também a evolução da cidade e a vida dos profissionais de microfone, além dos principais fatos de uma pequena Rio Preto e o amor que os rio-pretenses demonstram por ela. Viva Rio Preto, berço do rádio emotivo e consagrador! Paulo Serra Martins*
*Autor do livro Nas Ondas da B-8 – A História do Rádio em Rio Preto, publicado pela editora THS
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SUMÁRIO
Se a história do rádio tem uma voz, essa voz é Roberto Toledo 11 Meu nome é rádio 17 Lá vem história! 21 O pioneirismo da Rádio Rio Preto PRB-8 25 Rádio Difusora Rio-Pretense 55 Rádio Cultura 61 Nasce a Independência AM 63 Emissoras de ontem e de hoje 67 O que rolou no rádio 71 Família Muanis, a trinca de ouro que o rádio ganhou 83 Taquara rachada, começava um sonho 89 No tempo dos reclames 91 Propaganda ao vivo, cada confusão! 93 PRB-8 informava até a alta dos pacientes da Santa Casa 95 Nem tudo era verdade 101 Maurício Goulart 105
A cobertura do enterro do prefeito Fé e reverência nas ondas do rádio Roberto Carlos esquecido na praça Ninguém esquecia a musiquinha da Casa Bueno Ah, mas se chover... Sexta-feira Santa ao vivo Meio caipiras, meio urbanóides É fogo! Morrendo de rir Esmeralda se casou Pudera! Com tanta coisa para lembrar... O rádio “invade” a tv Vandeca visita a Independência Inovações e pioneirismo Exagero no pronome de tratamento Voto a voto Quando as noites tinham um dono O rádio gostava de eleger o Rei Momo Cortinas musicais Pacote Lágrimas de Cristo O xerife que veio de Argus O amigo do bem-te-vi Roberto Toledo, radialista nato Perfil Valéria: o amor constrói mesmo! Cidade Contra Cidade: Rio Preto ganha sete ambulâncias Na política Nomes que passaram pela carreira de Roberto Toledo Homenagens O teatro na minha vida O charme da coluna social
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Eles fizeram o rádio rio-pretense Eles também fizeram o rádio Donos de emissoras Posfácio
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SE A HISTÓRIA DO RÁDIO TEM UMA VOZ, ESSA VOZ É ROBERTO TOLEDO
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orte, imorredouro, versátil, inovador, é assim que se mantém até hoje o rádio em Rio Preto, cidade quente, quentíssima, céu azul permanente e povo simpático, encaixada nos trilhos progressistas do Noroeste Paulista. Estilo e inspiração foram se renovando ao longo de oito décadas desde 1935 e mantiveram firme e forte o espírito radiofônico. A partir de um estúdio precário com som estridente na década de 1930, esse sistema de comunicação evoluiu, acompanhando a modernidade dos tempos, transitando por todas as classes sociais, governos e ideologias e absorvendo as descobertas tecnológicas da comunicação. Tudo começou com um dentista chamado Raul Silva, homem à frente de seu tempo que convenceu empresários de uma associação comercial a fazerem uma vaquinha para comprar equipamentos de som e de transmissão. Assim nasceu a PRB-8, a primeira emissora de rádio de Rio Preto. O rádio de modo geral, em nível de mundo, conserva o posto de mídia mais presente na vida da população, de qual-
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quer classe social e em qualquer parte do mundo, e com a vantagem de seguir em frente absorvendo as novidades que vão surgindo pelo caminho, como streaming, podcast etc., até chegar ao rádio com imagem. Isso só faz aumentar o seu poder de penetração, principalmente em um país de sugestivo analfabetismo, ou seja, com 11 milhões de pessoas analfabetas em uma população de 213 milhões de pessoas, segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até maio de 2021. Na verdade, em um país de analfabetos, mesmo quem frequentou escolas tem preguiça de ler e de interpretar. Então é aí que entra o rádio, um meio fácil, enxuto e com um locutor de voz harmoniosa dando o seu recado. O roceiro não precisa largar a enxada para ouvir a notícia; a dona de casa continua esfregando a roupa suja da família; e o executivo se acomoda no seu carro para ouvir o noticiário. Estima-se que hoje 98% dos brasileiros têm acesso a rádio. Assim, mesmo onde a TV não chega, o rádio chega. É a máquina mais popular para disseminar informação e diversão.
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Nosso leitor, ávido por conhecer minuciosamente a história radiofônica riopretense, por certo vai gostar deste artigo escrito por um guru do rádio brasileiro, Hélio Ribeiro (19352000), simplesmente um espelho de vida e de carreira para nosso entrevistado Roberto Toledo. O cara era bom mesmo! Ele era bom de fala, de escrita e de pensamento, sendo possível notar nas memórias do Google até uma certa semelhança de voz e de entonação entre ambos. Porém, a voz do Toledo é mais gutural e mais bonita. Leia a seguir as reflexões de Hélio Ribeiro.
MEU NOME É RÁDIO Hélio Ribeiro*
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eu nome é rádio, minha mãe é dona Ciência, meu pai é Marconi. Sou descendente longínquo do telégrafo, sou o pai da televisão. Fisicamente sou um ser eletrônico. Meu cérebro foi formado por válvulas, minhas artérias são fios por onde corre o sangue das palavras. Meus pulmões são tão fortes que consigo falar com pessoas dos mais distantes pontos deste pequeno planeta chamado Terra. Minha vitamina chama-se kilowatt. Quanto mais kilowatts me dão, mais forte eu fico e mais longe eu falo. Hoje, graças às baterias que me alimentam, eu posso simultaneamente levar informações aos contrafortes das cordilheiras, às barrancas dos rios, ao interior de veículos que trafegam no centro nervoso das grandes cidades, à beira plácida dos lagos, à cabeceira dos doentes nos hospitais, aos operários nas fábricas, aos executivos nos escritórios, aos idosos que vivem sós e às crianças que só vivem. Eu falo aos religiosos, aos ateus, às freiras, às prostitutas, aos atletas, aos torcedores, aos presos, aos carcereiros, ban-
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queiros, devedores. Falo aos estudantes e professores... Seja você quem for, eu chego lá, onde quer que você esteja! Meu espírito resolveram chamar de ‘ondas’. Eu caminho invisível pelo espaço para oferecer ao povo a palavra, a palavra nossa de cada dia. Mas estou sempre sujeito a cair em tentação e às vezes não consigo me livrar de todo mal. Quando eu nasci, meu pai me disse que eu tinha uma missão: ajudar a fazer o mundo melhor, entrelaçando os povos de todas as partes deste planeta. Meu nome é rádio. Eu não envelheço, me atualizo. Materialmente, eu sou aperfeiçoado a cada dia que passa. As grandes válvulas do meu cérebro foram substituídas por minúsculos componentes eletrônicos. Os satélites de comunicação, gigantescos engenhos girando na órbita deste planeta, permitem hoje que eu seja mais universal, mais dinâmico e menos complicado, como meu pai Marconi queria que eu fosse. Minha forma técnica tem sido aperfeiçoada há milhares de anos-luz, mas eu acho que no todo, o meu conteúdo ainda necessita ser burilado e melhorado, e trabalhado e aperfeiçoado. Tenho noção, mas eu já perdi a conta, do número de pessoas que eu ajudei indicando caminho, devolvendo a esperança, anulando a tristeza, conseguindo remédios, sangue, documento perdido, divulgando nascimentos e passatempos. Mas eu não sou tão sério assim como eu posso estar parecendo. Na verdade, um dos meus principais interesses é fazer com que as pessoas vivam mais alegres. Por isso, passo grande parte do meu tempo ensinando as pessoas a cantar e a dançar, minha grande vontade é a de ser amigo, sempre. O amigo que todos gostariam de ter: útil nas horas sérias, alegre nas brincadeiras e responsável... sempre! No esporte tô sempre em cima do lance; nos dois lados da rede das bolinhas de tênis ou de voleibol, e lá vem bola, na área do futebol, jogou na cesta tô lá, nadou, pulou, saltou, pegou, virou, driblou... Pode ser no pequeno clube da periferia ou nos grandes estádios Olímpicos. Tenho noção de minha força política. 18
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Com uma notícia que dou, eu posso ajudar a eleger o diretor de um clube ou derrubar um presidente. Entendo minha grande responsabilidade de agente acelerador das modificações sociais. E morro de medo de que me transformem em um mentiroso alienador. Sem querer ser vaidoso, eu posso até afirmar que se eu não tivesse nascido o mundo não seria o mesmo. Meu nome é rádio. Eu não quero ser mal-entendido. Eu sou apenas um instrumento. Para fazer tudo isso que eu disse que faço eu preciso de uma equipe, de seres humanos, humanos! Que não tenham medo do trabalho, que entendam de alegria, emoções, fraternidade, que saibam sentir o pulso do campo e o coração da grande cidade. E que tenham noção básica de tudo aquilo que fazemos é para conquistar ouvidos. O que jamais conseguiremos, se nos esquecemos, que minha existência se deve ao número dos que me ouvem. O rádio vale pelo volume e a qualidade dos seus ouvintes. Eu podia fazer muito mais, mas às vezes falta dinheiro para fazer tudo o que quero. Eu sei que posso realizar o sonho do meu pai e mudar o mundo para melhor. Outro dia fiquei muito triste quando ouvi um tal de Hélio Ribeiro dizer que eu, o rádio, sou ‘a maior oportunidade perdida de melhorar o mundo’. Eu sou apenas o instrumento. Eu preciso de gente que me entenda, me respeite e que me ajude a cumprir a minha missão. Ah, com alegria, muita alegria... Se possível. *Texto apresentado por Ribeiro quando foi entrevistado no Dia do Rádio, na rádio CBN, pelo radialista Miguel Dias. A publicação foi gentilmente autorizada por Celso Casemiro, um dos responsáveis pelo Memorial Hélio Ribeiro (https://helioribeiro.com/), que reúne a produção de Ribeiro. Ele foi constituído sem fins lucrativos por um grupo de admiradores do comunicador, com o objetivo principal de não permitir que a inigualável obra se perca no tempo, levando-a ao maior número possível de ouvintes.
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LÁ VEM HISTÓRIA!
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história do rádio de Rio Preto não pode ser contada por outra pessoa a não ser pelo rio-pretense Roberto Toledo. Um nome, uma marca, uma voz. Depois de 57 anos no ar, ainda hoje é um símbolo respeitável, quase inatingível, e o melhor: com o mesmo timbre aveludado e macio da voz. A voz. Sem sombra de dúvida é o melhor timbre local de todos os elencos de todas as emissoras da cidade. Bacharel em direito, locutor, jornalista, radialista, mestre de cerimônias, professor, vereador, articulador político, colunista social... a ele caberiam mais umas quatro ou cinco profissões, tamanha a versatilidade e o desembaraço com que percorre os caminhos do trabalho. Toledo é um trabalhador até compulsivo. Não há evento na cidade ao qual não compareça, mas para trabalhar. A história do rádio em Rio Preto se completa com nomes fantásticos e momentos deliciosos, vividos pelos profissionais e pelos ouvintes. Ganhou-se muito dinheiro? Não. Alguns sim, mas outros parcamente. Muitos insistiram no rádio por mera paixão, mas ficaram na história.
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O rádio em Rio Preto é um fenômeno desde 1935, quando nasceu. Ao longo das décadas, enfrentou o sucesso e as facilidades da TV e se manteve como opção de entretenimento, robustecendo programas e personalidades do momento. Dentro desse fenômeno, floresce outro fenômeno, o comunicador Roberto Toledo, capaz de “destroçar” um microfone em uma mensagem de Ano Novo internacional ou de pêsames pessoais entre vizinhos. Entre tantos radialistas famosos, competentes e brilhantes com carreira nesta cidade, ele foi eleito para contar a história do rádio rio-pretense, ser a nossa Linha do Tempo nesta radiografia. São vários os motivos da escolha: 1) ele passou por quase todas as emissoras da cidade, desde a primeira, fundada em 1935; 2) soube se adaptar aos altos e baixos da profissão e da economia brasileira (graças a ele, podemos dizer que o rádio em Rio Preto se mantém inderrubável); 3) manteve o mesmo brilho de quando começou a carreira, aliás em uma paixão crescente; 4) soube agregar outros trabalhos ao rádio, como a carreira de cerimonialista de eventos oficiais ou particulares, apresentador, colunista social em jornal impresso, entre outros; 5) soube ampliar seu leque de habilidades, atuando na TV como apresentador de noticiários; e 6) soube descobrir o principal a um radialista: COMO FALAR AO CORAÇÃO DO OUVINTE. Ele tem com o microfone uma relação visceral que só os dois entendem. O microfone se abre inteiro para ele e os dois se abraçam em um gesto envolvente, unem-se como duas pessoas em um grande amor. Além dessa ótima relação com seu instrumento de trabalho, Toledo tem duas qualidades raras que o salvaram da mesmice na carreira artística: é dono de uma inteligência de mercado e soube se adaptar em outros meios de comunicação (TV, jornal, internet, eventos), salvando a dignidade da carreira e brilhando sozinho.
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Guilherme Baffi/2021
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O radialista Roberto Toledo nas escadarias de acesso aos estúdios da rádio Independência, no Edifício Galeria João Bassitt
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O PIONEIRISMO DA RÁDIO RIO PRETO PRB-8
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travessia por essas oito décadas mostra que a instalação da primeira emissora de rádio foi mais uma etapa do desenvolvimento de Rio Preto, envolvendo o empresariado da cidade sob a liderança de um dentista visionário, Raul Silva, que levou oito anos para convencer o povo e arrecadar verba para o transmissor. A precariedade e o improviso eram marcas das primeiras emissoras de rádio brasileiras, e em Rio Preto não foi diferente. Então, passado o impacto das transmissões iniciais da PRB-8, os ouvintes não pouparam críticas à qualidade do som gerado pela emissora. O alcance das transmissões era limitado e a população logo colocou dois apelidos na rádio: Bambu Rachado e Taquara Rachada. Em 1935, a PRB-8 entrou no ar como única emissora a transmitir para uma região com intensa atividade econômica e, por isso, faturava alto com anúncios. E hoje não é diferente, apesar de terem surgido outros meios tecnológicos de comunicação.
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LINHA DO TEMPO Primeira emissora de Rio Preto: Rádio Rio Preto PRB-8 Fundação: 1935 Funcionamento: 1935 a 1974 Fechamento: 1º de maio de 1974 Quem fundou: Raul Silva Quem era Raul Silva: cirurgião dentista, primeiro-secretário da Associação Comercial Primeiro endereço da rádio: rua Siqueira Campos, entre as ruas Raul de Carvalho e Fritz Jacobs, no bairro Boa Vista Entrou no ar em: 6 de dezembro de 1935 Primeiro gerente: Andrassy Ribeiro Primeiro locutor esportivo e narrador esportivo: engenheiro Antônio Tavares Pereira Lima, fundador do América Futebol Clube. Como foi criar uma rádio: era caro abrir uma emissora de rádio, candidatar-se ao sinal emitido pelo Governo Federal e colocá-la em operação, mas o grupo rio-pretense liderado por Raul Silva persistiu na empreitada. Valor necessário: 2:500$000 (dois contos e quinhentos mil réis). Para levantar a quantia, foram sorteadas 45 debêntures entre os integrantes da Associação Comercial dispostos a emprestar o dinheiro. A efetivação se realizou depois de oito anos. Como era Rio Preto em 1935, ano da fundação: a cidade já era servida por uma linha aérea (Vasp), ligando-a a Ribeirão Preto (SP), Uberaba (MG) e São Paulo; também havia dois cinemas e dois jornais diários em circulação (A Notícia e Diário de Rio Preto). Segundo endereço: a segunda sede da PRB-8 também era no bairro Boa Vista, inaugurada em outubro de 1960 com auditório para 600 pessoas. No show de inauguração, apresentaram-se celebridades da época: Agnaldo Rayol, Carlos Gonzaga, Dóris Monteiro, os irmãos Tony e Cely Campelo (Jovem Guarda), entre outros. Equipamentos da PRB-8: eram precários. Um transmissor de apenas 20 watts de capacidade foi montado pela firma Lou26
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zada Bueno & Cia Rádio Técnico e Investidores de Alta Frequência, de Ribeirão Preto. No ano seguinte, os donos da rádio instalaram equipamento de maior potência; em 1936, foi inaugurado um transmissor de 1.000 watts. O som tremido dos frágeis instrumentos provocou apelidos como rádio Taquara Rachada, Bambu Rachado e por aí vai. Só para ilustrar, o nome popularizado se deve ao fato de a antena externa ser mantida na ponta de uma vara de bambu, com o consequente som sibilante da transmissão. A direção: eram diretores João Vicente Ayello (presidente); José Cláudio Louzada (superintendente); José da Silva Bueno (suplente); e Raul Silva (secretário). Programas de sucesso da época inicial (década de 1940): Recordas, Teatro no Ar, Programa Cordial e, o campeão de audiência, Às suas Ordens, em que os ouvintes pagavam para oferecer músicas, o que fazia a rádio arrecadar bem, sem contar a abundância de propagandas, visto que era a única da região. Às vezes, um intervalo comercial durava 15 minutos, pois não havia concorrência. Novidades: vieram na década de 1950, quando a emissora passou a fazer parte da Rede Piratininga de Rádio, emissoras paulistas controladas pelos irmãos José Ângelo e Miguel Leuzzi. Novos ares, ideias ferventes, equipamentos modernos e programação diversificada. Investiu-se na cobertura de esportes, com transmissão ao vivo de jogos do campeonato na região. Esportes: a transmissão de jogos era sagrada, principalmente quando atuavam os times locais, o América Futebol Clube e o Rio Preto Esporte Clube. A Marcha do Esporte foi o primeiro programa diário, comandado por Rubens Muanis (ou Munis) e Alexandre Macedo (originalmente Alexandre Ismael), às seis da tarde, contando com a participação do jovem J. Hawilla, que mais tarde se tornou empresário de sucesso na área esportiva. Programas inesquecíveis: A Tenda do Adib, apresentado pelo diretor artístico da rádio Adib Muanis, irmão mais velho de Rubens Muanis; Clube da Cirandinha; entre muitos outros. Eles arrebentavam a audiência: de acordo com o álbum Astros e Estrelas do Nosso Rádio, organizado por Zacha27
Acervo Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto CECILIA DEMIAN
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Adib Muanis ao lado da cantora Dóris Monteiro e de Albertina Batista (atrás), em 1955
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Miguel Leuzzi era um dos controladores da Rede Piratininga de Rádio, da qual faziam parte a PRB-8, a Cultura e a Difusora
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rias Waldomiro do Vale e publicado em 1957, faziam sucesso na época cantores como Arnaldo Colturato, prata da casa, que estreou no rádio aos 12 anos diante do microfone da PRB-8; a paraibana Maria Lúcia, cantora com passagem pelas rádios de Bauru (SP), Marília (SP), Votuporanga (SP) e até pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro; e Maria Luzia, descoberta no programa de calouros da PRB-8, Degraus do Sucesso, e presença frequente em A Tenda do Adib. Programa infantil pioneiro: Clube da Cirandinha, apresentado por Adib Muanis, com concursos de talentos mirins e eleição das princesas e da rainha do Clube. O terceiro irmão, César Muanis, também atuava na rádio como locutor de programas musicais e chegou a ser diretor desse programa. Personagens do período: era famoso o caipira Chico Belarmino, criado pelo radialista Zacharias do Vale, do programa A Fazendinha do Chico Berlamino, que ia ao ar todas as manhãs. Mulheres no rádio: as pioneiras no microfone foram Albertina Batista e Agueda Salles, locutoras do programa Momento Feminino, destinado às donas de casa, com conselhos úteis do dia a dia no lar, receitas, regras de etiqueta, dicas de beleza, consultório sentimental e música. O auditório da PRB-8: o moderno Auditório Raul Silva foi inaugurado em 19 de julho de 1960, com 600 poltronas estofadas, no novo prédio da PRB-8, na rua Siqueira Campos. Em 1964, a emissora contava com instalações moderníssimas, com estúdios e duas técnicas, tendo uma das aparelhagens mais bem montadas do interior paulista. Seu quadro de funcionários chegava a 40 profissionais. Programas de maior audiência no período: Tribunal da Música, Onda Esportiva, Programa Roberto Souza e Telefone pedindo Bis. Às 12h, havia um noticiário completo. Ficou no ar até 1974, quando teve seus transmissores lacrados pelo regime militar e nunca mais voltou a funcionar.
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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O cantor Arnaldo Colturato fazia sucesso na PRB-8, cuja estreia aconteceu aos 12 anos de idade
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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A cantora paraibana Maria Lúcia se apresentava na PRB-8
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale CECILIA DEMIAN
Águeda Salles também era apresentadora do programa Momento Feminino
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
Esta sequência de páginas do jornal A Notícia, publicadas ao longo de 1935, ilustra a expectativa em relação à estreia oficial da Rádio Rio Preto PRB-8, o que aconteceu em outubro daquele mesmo ano
A Notícia, edição de 20 de janeiro de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 5 de fevereiro de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 3 de março de 1935
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A Notícia, edição de 2 de abril de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 21 de maio de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 4 de junho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 6 de junho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 7 de junho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
A Notícia, edição de 27 de junho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
CECILIA DEMIAN
A Notícia, edição de 3 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
A Notícia, edição de 7 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
CECILIA DEMIAN
A Notícia, edição de 9 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
A Notícia, edição de 13 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 14 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
A Notícia, edição de 16 de julho de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 5 de outubro de 1935
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Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto
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A Notícia, edição de 9 de outubro de 1935
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Acervo Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto CECILIA DEMIAN
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Primeiro transmissor da Rádio Rio Preto PRB-8
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Acervo Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto
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Inauguração da torre de transmissão da Rádio Rio Preto PRB-8 em 1936
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RÁDIO DIFUSORA RIO-PRETENSE
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naugurada no dia 12 de abril de 1959, a Rádio Difusora Riopretense foi a segunda emissora instalada em Rio Preto, mas não fez concorrência direta à anterior, visto que era considerada emissora coirmã por pertencer à Rede Piratininga de Rádio, do mesmo grupo da PRB-8. Seu forte eram as radionovelas produzidas pela própria emissora e com atores locais. Instalada pelo radialista Egydio Lofrano, pai do jornalista Roberto Lofrano, seu proprietário era o deputado federal Miguel Leuzzi, dono da Rede Piratininga de Rádio. Lofrano lançou a radionovela, contando com a parceria de Lisbino Pinto da Costa, diretor artístico da emissora. A rádio deixou de funcionar em 1974 por ordem do Ministério das Comunicações. Novelas paravam a cidade: a dramaturgia radiofônica era exclusivamente rio-pretense, com textos e roteiros escritos por Lisbino Pinto da Costa. No início da década de 1960, a Difusora tinha várias radionovelas no ar, que revelaram esse autor de sucesso, cuja vida era quase um roteiro novelesco. Nesse período, Lisbino veio para Rio Preto com a finalidade de cumprir pena no IPA (Instituto Penal Agrícola), suspeito da morte da
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própria mulher. Finda a penalidade, fixou-se na cidade e passou a oferecer suas novelas para a Difusora. Ele teve aceitação total e logo se tornou um excelente noveleiro, criativo e gente boa. Inclusive enveredou pela vida política, sendo eleito vereador duas vezes para a Câmara de Rio Preto. Estas novelas fizeram sucesso: Ben-Hur. É uma história dos tempos de Cristo, mostrando seus sofrimentos em direção à cruz e a ansiedade de Ben-Hur, interpretado pelo galã César Muanis, coadjuvado por todo o elenco da Difusora. Os brutos são covardes. De autoria de Lisbino Pinto da Costa, focaliza a história de um homem perverso que tenta destruir todos, inclusive sua própria família. Uma história violenta, cheia de suspense, que passava no horário das 19h. Em cada coração uma esperança. Em agosto de 1962, o capítulo final foi encenado pela Difusora fora de seus estúdios, na Vila Ercília, no jardim da casa da ouvinte Ida Barros. Sua filha Bárbara mandou uma carta acertando o final da novela e foi premiada com a apresentação em sua própria casa. A rua e a calçada ficaram tomadas de fãs que queriam conhecer seus ídolos. Sobre a novela, dizia o jornal A Notícia: “A residência da Sra. Ida Barros estava toda iluminada e notou-se uma aglomeração extraordinária. Centenas de ouvintes da novela lotavam completamente a residência e a rua, ficando pessoas espalhadas pelo meio da rua, curiosas por conhecer os intérpretes da novela que alcançou invulgar sucesso. Pela primeira vez no ‘hinterland paulista’, viu-se o público feminino solicitar autógrafos de artistas de radionovelas e foi então que o galã Hitler Fett; a ingênua Daura Scarambone; a sentimental Neusa Silva; o português Osvaldo Marques; e os demais componentes da novela sentiram bem de perto o carinho dos ouvintes que sintonizam diariamente os diversos horários de novelas da Difusora. Estava presente ainda o autor Lisbino Pinto da Costa, que também viveu um dos personagens da novela, o Dr. Renato Luiz, um médico que odiava o filho porque este nascera aleijado”. O Sinal da Santa Cruz. Peça religiosa focalizando a vida de Jesus e apresentada em duas etapas, das 10h às 12h e das 14h às 16h. Todo o elenco das três estações locais entrou em ação naquele dia. 56
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ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
A edição do Diário da Região do dia 12 de abril de 1959 trouxe na capa a inauguração no dia anterior da rádio Difusora Rio-pretense
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A edição de A Notícia do dia 12 de abril de 1959 trouxe a cobertura da inauguração no dia anterior da rádio Difusora Rio-pretense
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A coluna Rádio & Discos, publicada no jornal A Notícia, edição de 8 de junho de 1960, comentava sobre o estrondoso sucesso da radionovela A Virgem do Manto Azul, de Lisbino Pinto da Costa, que ia ao ar na rádio Difusora
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RÁDIO CULTURA
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erceira emissora a entrar no ar em Rio Preto, a rádio Cultura ZYR 242, da Rede Piratininga, foi inaugurada em 19 de março de 1961. Como não tinha sede própria, funcionava anexa à Rádio Rio Preto PRB-8, focando nas atrações musicais. Em agosto de 1962, por exemplo, foi lançado o Grande Teatro da Rádio Cultura, sob patrocínio da loja Eletrolar, com textos da escritora Cacilda Rezende, mas sem o mesmo sucesso das radionovelas da Difusora. Em 1964, foi lançada uma nova grade de programação, chamada Esquema 64, com uma linha de programas que priorizavam a participação dos ouvintes. No Teatrinho da Alegria, criado pelo radialista Pedro Lopes e voltado para o público infantil, as crianças recebiam uma carteirinha com fotografia confirmando que eram sócias do programa. Outra atração era o Clube dos Ouvintes, cujos participantes também recebiam uma carteirinha que dava direito a pedir música e participar de todos os sorteios do programa. As três emissoras da Rede Piratininga monopolizavam a radiofonia em Rio Preto, mas não eram sinônimo de qualidade técnica, pelo me-
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nos é o que fica claro na coluna Rádio & Discos em uma dura nota publicada no dia 11 de abril de 1962, em A Notícia. A Rádio Cultura virou Piratininga e depois Brasil Novo.
A edição do Diário da Região de 21 de março de 1961 trouxe a notícia da inauguração da rádio Cultura, ocorrida em 19 de março de 1961
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NASCE A INDEPENDÊNCIA AM
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calmo cenário radiofônico em Rio Preto começa a ser afetado em dezembro de 1962 com a inauguração da Rádio Independência, que trouxe uma programação diferenciada em comparação com o rádio do interior na época. A televisão também estava se instalando e havia uma certa concorrência no ar com a chegada desse novo meio de comunicação em 1963. Os donos da Independência AM, o deputado federal Maurício Goulart (PTN) e Júlio Cosi, ex-diretor da Rádio América e fundador da Jovem Pan, implantaram em Rio Preto um estilo de rádio com melhor qualidade técnica e programas mais sofisticados e urbanos. Priorizou-se a formação da equipe de esportes. Para a inauguração, o deputado Maurício Goulart trouxe o então presidente da República João Goulart. Além de estúdios, central técnica e escritórios, foi construído um pequeno auditório dentro da emissora (Auditório Coutinho Cavalcanti), que na prática funcionava como boate, contando com barman, bebidas e música ao vivo. Era algo totalmente inovador.
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Outra novidade da Independência era a Crônica do Dia, bem cotada de audiência, sempre às 12h10, quando a cidade almoçava. Textos da escritora Dinorath do Valle e de outros autores eram lidos todos os dias e enfatizados pela voz límpida do locutor Petrônio de Ávila para as famílias reunidas à mesa do almoço ao lado do aparelho de rádio. O sucesso era tanto que o jornal A Notícia publicava a crônica no dia seguinte. Mudanças: no final da década de 1960, foi vendida para os sócios Alexandre Macedo, Alberto Cecconi e Rubens Muanis. Nos 15 anos seguintes, o trio manteve-se à frente da Independência AM e instalou uma FM em 1974. Em 1985, foi novamente vendida para o empresário José Luiz Spotti; cinco anos depois, Spotti a vendeu para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que colocou no ar uma programação religiosa. Foi o fim da linha para uma das mais importantes emissoras do interior paulista: a Independência AM foi transformada em púlpito eletrônico e Rio Preto perdeu a emissora de rádio que falava para todos, ricos e pobres, amantes do esporte ou apenas da notícia, sem distinção de credo religioso. As outras rádios pioneiras, Difusora e Cultura, que pertenciam à Rede Piratininga de Rádio, tiveram o mesmo destino da PRB-8: foram cassadas durante o regime militar e não voltaram mais. Não sobraram registros sonoros da fase áurea do rádio rio-pretense, pelo menos é o que garantem aqueles que viveram naquela época. O que mantém a história do rádio reconhecida, amada e prestigiada são seus antigos radialistas, muitos hoje fora do ar, mas em dia com a memória radiofônica. O que queremos é que essa história vibrante não caia no esquecimento. Em 1975, o próprio Adib Muanis criou na Rádio Independência o programa policial Hora Fantástica, para o horário das 16h às 17h. Anos depois, Clenira Sarkis entrou para a equipe e assumiu o microfone com muita bravura, inclusive transmitindo de dentro do Cadeião de Rio Preto.
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O jornal Diário da Região, edição de 8 de dezembro de 1962, anunciava a inauguração da rádio Independência para aquele dia
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A edição de 11 de dezembro de 1962 do Diário da Região trazia ampla cobertura da inauguração da rádio Independência, ocorrida no dia 8 de dezembro de 1962
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EMISSORAS DE ONTEM E DE HOJE
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lém da PRB-8, da Difusora, da Cultura e da Independência, outras emissoras abalaram a audiência em Rio Preto. Rádio Anchieta (Fundação Mater Eclesiae). Inaugurada em 19 de setembro de 1970 pela Igreja Católica, contava com programação eminentemente religiosa, transmissão de programas católicos e missas. No período, a diocese era dirigida pelo bispo dom José de Aquino Pereira, o segundo nomeado pelo Papa para Rio Preto. Em 1986, a emissora foi comprada pelo empresário paulista Jair Sanzone e ganhou o nome de Metropolitana, transformando-se mais tarde na Metrópole. Prefixo ZYE-406. Metropolitana e Metrópole (ex-Anchieta). A história dessas emissoras se mistura, porque foram trocando de nome e de mãos, chegando a ser propriedade do empresário do setor educacional Marco Antônio dos Santos (falecido), do Curso e Colégio Seta, em sociedade com Roberto Toledo. Rádio Brasil Novo. Fundada por Luiz Homero de Almeida em 1º de dezembro de 1975, sucedeu a Piratininga, que por sua vez tinha sucedido a Cultura. Programação fortemente ser-
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taneja e MPB, voltada para as classes B e C. Em 1996, foi associada ao Sistema Globo de Rádio, operando em parceria com a CBN na programação jornalística. Hoje está desativada. Em sua sede, funciona a rádio Jovem Pan News, de programação dinâmica de notícias, entrevistas e debates. Rádio Stereo Show FM. Inaugurada em 9 de julho de 1980, adotou também o nome de rádio Cidade. Em 1996, associou-se para retransmitir a programação da rádio Transamérica. Hoje no local funciona a rádio Band FM, que oferece MPB e música sertaneja, com programas a cargo de Eddy Jr. (Manhã Show), Tavinho e Renato Xavier (Tarde da Band). Rádio Centro América. Os irmãos Cezar e Luiz Carlos Casseb fundaram a Centro América em 28 de maio de 1981, com sede na rua Benjamim Constant, 3327, Vila Imperial. Décadas depois, foi comprada pelo grupo católico Canção Nova, da Ordem dos Missionários da Igreja Católica, que alterou seu nome para Canção Nova do Coração de Maria. Sua programação é 100% católica, com o oferecimento de missas ao vivo ou gravadas, transmissão de eventos religiosos, palestras motivacionais ou religiosas e programas de espiritualidade. Rádio Onda Nova. Do grupo Luiz Homero, foi inaugurada em 12 de junho de 1981 para operar na frequência modulada (FM). Tornou-se a primeira emissora do País a transmitir apenas música sertaneja. Rádio Líder FM. Integra uma rede nacional de emissoras de rádio presente em Rio Preto desde 1º de junho de 1991. Rádio Independência FM. Saiu da Galeria Bassitt e instalou-se com estúdio próprio no primeiro andar do Edifício Metropolitan Center, no centro de Rio Preto. O engenheiro José Luiz Spotti, ex-proprietário, vendeu-a para Pedro Castilho Gonzalez, de Catanduva, em 1999. Atualmente, o nome foi trocado para Kboing FM e oferece também serviços de streaming. Rádio Interativa FM. É conhecida como rádio do Bispado, por ser ligada à Fundação Mater Ecclesiae. No ar desde 2006, oferece informações, notícias, eventos culturais, entretenimento e assuntos da comunidade. Sua programação é volta68
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da para todos os públicos, com músicas diversificadas, atendendo a todas as gerações, com ênfase na MPB e no flashback internacional. A rádio preserva a boa qualidade musical, não permitindo músicas ou programação com palavras de baixo nível, que ofendam a moral e os bons costumes ou façam apologia à violência ou a drogas. Presta informações, reproduz e veicula programas socioeducativos e culturais; divulga e promove, junto com a comunidade, as diversas manifestações da cultura para preservá-las; por meio da informação e do debate, discute os principais problemas da comunidade rio-pretense, atitudes de reflexão que proporcionam a descoberta de soluções criativas; e proporciona a elevação do nível de qualidade de vida (cultural) da população. Rádio Melodia. Entrou no ar em 14 de outubro de 2004, fundada pelo empresário Osmar Santos, que imprimiu uma característica muito refinada: músicas classe A, internacionais, clássicas e famosas de muito bom gosto. Hoje está desativada como emissora FM, tendo se transformado em uma rádio web, ativada pelo site melodiaweb.com.br, com prioridade para música italiana, MPB, erudita, tango, bolero, instrumental, esperanto etc. Rádio Radical. Criada em 2006, transmite a partir de Neves Paulista (SP), região de Rio Preto. Rádio Espaço Aberto. Rádio comunitária criada pela Associação Comunitária São José, no ar diariamente das 6h às 22h. Instalada na rua Pedro Álvares Cabral, s/n, Parque Estoril, foi legalizada provisoriamente em 2 de outubro de 2003 e definitivamente em 19 de março de 2004. Não tem fins lucrativos, contando sempre com o trabalho voluntário de 21 pessoas, entre locutores e técnicos. Tem uma programação diversificada, que inclui 14 programas ao vivo: sete sertanejos, três religiosos, dois de variedades e dois de MPB e músicas internacionais. Rádio Educativa FM. No ar desde o primeiro mandato do prefeito Edinho Araújo (2001-2004), é uma emissora da Prefeitura, que tem como objetivos prestar serviços e difundir a cultura, a educação, a boa música e a informação de interesse 69
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público. Possui estúdios instalados no prédio da Secretaria de Cultura e da Biblioteca Municipal. Rádio 40 Graus. Com ênfase no estilo baladão e sertanejo, a rádio aumentou a sua potência, ampliando a cobertura para um raio de 200 km a partir da cidade de Nova Granada (SP). Os estúdios e escritórios são em Rio Preto. Santo Beluci e Kléber Santos têm programas na emissora. Rádio Canção Nova. A missão Canção Nova em Rio Preto começou em 3 de março de 2004, com a chegada dos missionários, junto com o padre Jonas Abib, seu diretor espiritual, para uma reunião com Dom Orani Tempesta, hoje arcebispo do Rio de Janeiro e um grande incentivador da comunicação e da evangelização digital. Nessa reunião, foi definido o nome de Rádio Canção Nova do Coração de Maria, que entrou no ar na frequência AM 810khz em 11 de março de 2004, com programação transmitida diretamente de Cachoeira Paulista (SP), às 15h. No dia 24 de maio de 2004, teve sua inauguração com programação local, com os programas Clube do Ouvinte e Canção Nova e Você. Rádio Kboing. Antiga rádio Independência. Rádio CBN Grandes Lagos. Criada em Rio Preto em 2014, é afiliada da CBN. Atinge quase dois milhões de ouvintes em uma das regiões mais ricas do Brasil. A emissora foi um projeto do radialista Deva Pascovicci e conta com estrutura física desde o período em que atuava como Top FM. Em 5 de outubro de 2016, entrou no ar com uma equipe de 200 profissionais e correspondentes em cidades vizinhas, como Votuporanga, deixando a frequência 107.9 MHz. Em novembro de 2016, Deva Pascovicci faleceu no acidente com o avião que levava o time da Chapecoense. Rádio Nativa FM. Está no ar desde 2008, transmitindo a partir de Rio Preto.
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O QUE ROLOU NO RÁDIO
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s dois Robertos. A professora universitária e jornalista Vera Rezende, na sua dissertação de mestrado Independência 1290 AM, a Rádio Eclética da Cidade (2005), explica: “Vários comunicadores fizeram sucesso na Independência AM, e aqui citaremos dois deles, ambos chamados Roberto. O primeiro, Roberto Souza, era o lendário dono da noite rio-pretense, discotecário e apresentador do mais antigo programa musical da cidade; já o outro, Roberto Toledo, manteve uma ligação tão duradoura com a rádio que sua voz personifica a própria emissora.” Sociedade. Colunas sociais em Rio Preto arrebentam em índice de leitura, e por isso os jornais locais insistem na sua produção, visto que dá boa leitura e bom retorno financeiro. Duas colunas fortes na cidade atualmente são as de Cida Caran, um símbolo da comunicação social, Waldner Lui, elegante e culto no estilo Tavares de Miranda, e a de Roberto Toledo, que é versátil, mais moderna, porta-voz da comunidade, com
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pitadas políticas e reflexões filosóficas. Para tornar leve e crítica sua página, Toledo criou os personagens Lady X (igual ao rádio), Véio Ranzinza e Vovó Naná, cada qual com seu matiz de utilidade, de broncas e de reflexão. Humor em coluna social é uma grande sacada, é uma mistura do glamour com a notícia e o riso, enquanto algumas tiradas filosóficas atuam no desenvolvimento pessoal do leitor. Outro dia trouxe esta: “Preciso de inimigos novos, porque os antigos já estão gostando de mim!”. De pai para filho. O radialista e jornalista Amílcar Prado (1927-1989), autor da coluna esportiva Papo de Jacaré no jornal impresso e comentarista esportivo de mão cheia na PRB-8, depois na Difusora, na Piratininga e na Independência, passou para o filho Manoel Prado o interesse pelo trabalho em rádio. Manezinho Prado é divulgador artístico e de duplas musicais desde 2001 e discotecário há mais tempo ainda. Na FM Diário, de Mirassol (SP), emissora do Grupo Diário de Comunicação, ele mandava ao ar uma seleção de músicas de alto interesse do público, o que imprimiu um formato refinado e cultural à emissora. Viva o acordeón! O acordeonista português Antônio Santos Filho (1923-2006) foi aquela figura discreta de músico que acompanhou com talento e qualidade os programas de auditório das rádios PRB-8, Cultura, Difusora e Independência. Além disso, era compositor e técnico de acordeão, dominando todos os conhecimentos relacionados a esse instrumento. Acompanhou os programas dos radialistas Adib Muanis e Silveira Coelho. Ao seu lado também atuaram profissionais de prestígio musical, como Mário Longhi e Florindo Mani, mais tarde dono da loja A Joia Musical, na Galeria Bassitt. Folia na rua. O Carnaval de rua acontecia na rua Bernardino de Campos, no centro da cidade, com um desfile garboso das escolas de samba, carros alegóricos, o rei Momo e a Rainha. O povo descia dos bairros a pé, para não perder nada. Era a grande diversão dos anos 1960, 1970. Espetacular!, segundo o público. E o cortejo folião passava justamente em frente à rádio Independência, quando então era interrompido para que Adib Muanis, com microfone em punho, subisse no carro para 74
Acervo Francisco Riva
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Amílcar Prado foi comentarista esportivo na PRB-8, Difusora e Independência
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entrevistar as majestades do samba. Na praça Rui Barbosa, era montado um tablado para o povo pular Carnaval, rodeado de carrinhos de alimentação. Primeiro endereço. A primeira sede da PRB-8 foi construída só depois de a concessão ser aprovada, em um grande terreno do bairro Boa Vista: ficava na rua Siqueira Campos, entre as ruas Liberdade (hoje Raul de Carvalho) e São Paulo (atual Fritz Jacobs). Ela ocupava meio quarteirão e ficava lotada nas campanhas de Natal. A inauguração aconteceu no dia 6 de dezembro de 1935, com o nome Rádio Rio Preto PRB-8. Cidadania jovem. Muitos políticos dos anos 1950, 1960 e 1970 usaram o nome e o espaço da PRB-8. O presidente da emissora por 30 anos foi o prefeito Philadelpho Gouvêa Netto (1952 e 1960), que governou Rio Preto duas vezes. Também aproveitavam o microfone para apresentar suas obras Alberto Andaló (1956-1959), que ia ao ar todo domingo às 18 horas, e Wilson Romano Calil (1973-1977), que defendeu a cidade no programa Silvio Santos, foi radialista e levou a juventude a participar de programas radiofônicos com debates e comentários, estimulando a criação da cidadania e da ética. As mais pedidas. Nos anos 1930, década de criação da PRB-8, as músicas mais pedidas eram O nego no samba; O Ébrio; Quando te Vi; Para Você Gostar de Mim; Adios Muchachos; Rancho Fundo; Saudades de Matão; e Tico-Tico no Fubá. Os cantores mais solicitados eram: Carmem Miranda; Vicente Celestino; Francisco Alves; Carlos Gardel; Carlos Galhardo; Orlando Silva; Isaurinha Garcia; e Dóris Monteiro. As mais pedidas II. Já nos anos 1940, os hits de sucesso eram Asa Branca; Maria Bethânia; A Saudade Mata a Gente; Peguei um Ita no Norte; Chiquita Bacana; Cinco Letras que Choram; Na Baixa do Sapateiro; Pirata da Perna de Pau; La vie en Rose; e Besame Mucho. Os cantores mais pedidos eram Ataulfo Alves; Silvio Caldas; Marlene; Emilinha; Vicente Celestino; Aracy de Almeida; entre outros. Policial. O programa Hora Fantástica, criado por Adib Muanis para a Independência, foi talvez o maior e mais em76
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polgante no estilo policial no horário das 16 horas. Depois de Adib, foi apresentado por Antônio Carlos Bottas, Garcia Neto, Rubens Celso Cri e Clenira Sarkis, tendo como repórteres coadjuvantes Eládio Baida, Paulo Serra Martins, Cecilia Motta (Demian) e Lucas Gomes. Assuntos policiais eram a temática do horário, mas se estendiam a queixas políticas, irregularidades administrativas de órgãos públicos, problemas do dia e tudo o que o povo quisesse trazer e solucionar, apresentados com a voz firme do locutor e um fundo de som típico de basfond, tiros e música adequada. Crônica do dia. “No almoço, Petrônio de Ávila apresentava a Crônica do dia, quase sempre ao estro de Dinorath do Valle. Era o cotidiano a debulhar-se em lirismo. Hora Fantástica, por sua vez, evocava os desesperos da vida. Custa apagar da memória a locução elegante de Adib Muanis, o combativo Rubens Celso (Cri), as meiguices de Eládio Baida, Paulo Serra Martins, Clenira Sarkis e Garcia Neto, e a sentimental Cecília Motta (Demian), que chorava em entrevistas”. (Romildo Sant’Anna, escritor, Diário da Região, 2009) Quem foi. Nomes do rádio sempre lembrados: padre Landell de Moura, que em 1893, portanto dois anos antes de Marconi, fez a primeira transmissão de fala por ondas eletromagnéticas, sem fio, mas esse episódio só é reconhecido pelos brasileiros; o cientista Marconi (Guglielmo), que fez os primeiros testes em 1895 e patenteou a descoberta em 1896, passando para a história como o inventor do rádio; e Roquete Pinto, considerado o pai do rádio brasileiro, idealizador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil (embora a Rádio Clube de Pernambuco seja a pioneira). No início, não havia publicidade para sustentar o funcionamento da emissora, o que só aconteceu por volta de 1927. Eram geralmente em formato rádio clube, com associados seletos que ajudavam financeiramente e ainda emprestavam suas coleções de discos (raros e caros) para avivar a programação musical. Rádio Nacional. Em 1936, um grande avanço radiofônico: o surgimento da Rádio Nacional PRK-30, no Rio de 77
Acervo Pessoal/Roberto Toledo CECILIA DEMIAN
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Jornalistas Rubens Celso Cri e Clenira Sarkis, que foi uma das apresentadoras do programa Hora Fantástica, na Independência
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Janeiro, que era ouvida até nos confins de Rio Preto, Mirassol e Cosmorama (SP). Foi um marco na história do rádio, com programas de auditório lotados, comédias e radionovelas de muito bom gosto. Humoristas, artistas, músicos, atores e atrizes de teatro eram os mais gabaritados e faziam programas que cativavam o público. Audiência. Entre o final dos anos 1930 e 1950, a Nacional era uma das líderes de audiência do rádio brasileiro, exportando sua programação para outras cidades do País. Comparecer ao seu auditório equivalia a um bom programa de teatro, tal a qualidade da programação. Já em 1938, nasceu a Rádio Globo, que se tornaria a emissora AM mais popular do Brasil. Os Villa. Pai e filho que fizeram sucesso nas ondas esportivas do rádio foram Edward Villa e Edwelington Villa. O pai Villa arrumou emprego em uma fábrica em Mirassol aos 17 anos. Aos domingos, era cobrador do time do Mirassol e anunciava resultados dos jogos pelo serviço de som. Daí para ocupar um microfone como repórter e depois como comentarista foi um pulo. Foi contratado pela Independência, na qual ficou até a venda da emissora. Trabalhou ainda nas rádios CBN, Líder e Band FM. Os Villa II. Aos 9 anos, o filho já era office boy da Difusora de Mirassol, enquanto o Villa pai era gerente. Foi uma passagem natural para o microfone, e Ed assumiu com garra aos 15 anos a vida de repórter de campo, virando depois locutor. Trabalhou na Difusora de Mirassol, na Centro América e na Independência. Esportes. “Hitler Fett se confunde com a história do rádio esportivo de Rio Preto. Junto com Mário Luiz, Edward Villa e Nelson Antônio, forma um quarteto no rádio, sem pose, sem arrogância, sem empáfia, mas com muita simplicidade e humildade, já há 43 anos.” (Paulo Serra Martins, Nas Ondas da B-8 – A história do rádio em Rio Preto). Paulinho se esqueceu de citar a sabedoria dos quatro, levada ao ar para deleite do ouvinte. Encerrada a transmissão do jogo, eles se reuniam no estúdio e analisavam ao vivo o torneio que haviam acabado de transmitir. Com voz pausada e argumentos lógicos, 80
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eles ainda proporcionavam para o ouvinte meia hora ou 40 minutos do jogo transmitido. Aquele instante de assemelhava a uma reunião de sábios discutindo o torneio com lógica e coerência. Ficou na memória. Mulheres. O rádio rio-pretense também teve mulheres ao longo da sua evolução. Poucas, mas teve. A primeira figura feminina foi Albertina Batista, que fazia desde funções de secretária da PRB-8 até novelas, locução comercial, rádio-escuta, atendimento do público e, inclusive, trabalhos de contrarregra. Nas novelas, fazia, ao fundo, sons de bares, água despejada em um copo, vidro quebrado, barulho de chuva e outras necessidades de ruído. Com ela trabalharam Laura Nice, Águeda Salles e Dalva Brandt. Mulheres II. Nas décadas de 1980 e 1990, locutoras de FM deram encanto nas manhãs e tardes depois do programa Bem-te-vi, do comunicador sertanejo Santo Beluci. Eram as radialistas Gisele Sayeg, hoje afastada do rádio em função do casamento com o ex-ministro Aluyzio Nunes Ferreira Filho; e Jocelen Ramires, militante do PCB, tendo passado seis meses na Rússia para conhecer o sistema. Ambas tinham uma voz belíssima.
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FAMÍLIA MUANIS, A TRINCA DE OURO QUE O RÁDIO GANHOU
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rês irmãos notáveis em matéria de comunicação e um quarto filho jornalista e comunicador de TV: esse é o legado da família descendente de imigrantes libaneses que veio para o Brasil em busca de trabalho e de oportunidades. Os libaneses sabiam que aqui encontrariam uma condição que lhes faltava na sua terra natal: a paz, a principal garantia do novo país. Estabelecidos na região de Rio Preto, os Muanis foram aumentando a família e fincando as raízes no trabalho. Cada um dos filhos nasceu em uma cidade diferente: Adib em Abre Campo (MG); Rubens em Palmares Paulista (SP); e César em Altair (SP). ADIB MUANIS (1925-2018) – Com seus irmãos mais novos, Rubens e César Muanis, ele integrou um elenco de celebridades que moldaram o estilo, a audiência e a perpetuidade do rádio rio-pretense. Nascido na mineira Abre Campo e criado em Onda Verde (SP), fez carreira em Rio Preto, começando na PRB-8 em 1948 como locutor comercial. Logo revelou criatividade para abrir
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Adib Muanis estava à frente de A Tenda do Adib, programa que arrebatou multidões
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novos programas, criando o Sonho do Oriente, uma mistura de música oriental, poesias, naturalidade ao microfone e carinho para com os anunciantes e ouvintes, o que foi lhe rendendo mais comissões e clientes. Habilidoso como todo bom libanês, era um ás no microfone; dominava-o com perfeição e intuição. Outros programas vieram na sequência: Cortina Romântica, Música, Poesia e Romance, Clube da Cirandinha, Tenda do Adib, Salão de Conferências, entre outros. Fez coberturas históricas de acontecimentos da época, como o 1º Congresso Eucarístico da Diocese de Rio Preto (1940) com a presença do arcebispo de São Paulo; o enterro dos corpos dos 59 estudantes que morreram afogados no rio Turvo (1959); o enterro do prefeito Alberto Andaló (1960), um funesto roteiro de 33 horas, desde o velório na Câmara Municipal até os discursos à beira do túmulo; e a inauguração de Brasília (1960), uma façanha que cumpriu ao lado do radialista Paulo Serra Martins, dadas as condições primitivas da aparelhagem de som (pesava 30 kg), com gravadores e as grandes distâncias percorridas a pé entre os prédios da Capital Federal, até então pouco povoada. Tudo era longe na principiante capital do Brasil. Adib também atuou nas emissoras Piratininga, Cultura, Brasil Novo, Difusora e Independência, aposentando-se do rádio para trabalhar no jornalismo impresso, meio no qual também teve participação ativa, como diretor de redação e sócio-proprietário do jornal Dia e Noite (1978-1981) e jornalista nos jornais Participação, Diário de Ribeirão Preto, Diário de Carajás (Conceição do Araguaia, PA), A Tribuna Regional e O Congressista. Foi cronista na Folha de Rio Preto e colaborador de outros jornais rio-pretenses. CÉSAR MUANIS (1937-2013) – Nascido em Altair, foi radialista, jornalista, escritor (autor do livro Rio Preto Branco), colunista social, locutor, humorista, cantor de boleros e tangos no grupo musical Tangolero e apresentador de programas. Junto com seus dois irmãos, foi imprescindível no rádio. Iniciou a carreira (1956) como locutor comercial e apresentador de programas musicais na PRB-8, na qual já 85
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale CECILIA DEMIAN
César Muanis chegou a ser diretor do programa Clube da Cirandinha, na PRB-8
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trabalhavam seus irmãos Adib e Rubens. Também comandou o Clube da Cirandinha. Em 1964, na rádio Piratininga, lançou o Ronda Social, um embrião do colunismo social eletrônico, com informações curtas e interessantes sobre os eventos da sociedade da época. Foi o primeiro a fazer colunismo na TV e imprimiu um estilo descontraído, com assuntos bem apurados e muito capricho no texto. Inclusive essa era a marca registrada dos irmãos Muanis, tudo o que faziam era de qualidade, um trabalho refinado e de bom gosto. Assinou coluna social nos jornais Diário da Região, Folha de Rio Preto e Diário de São Paulo. Era homem de TV também, apresentando programas na Record, na Bandeirantes e no Canal 16 – TV da Cidade (local). Foi editor-chefe do jornal DHoje em 2007. Durante 30 anos, foi um charmoso cantor e integrante da companhia Tangolero, de música e dança, que levava a todo canto do País (e até da Argentina) um grupo de bailarinos, bailarinas e cantores rio-pretenses. Participou da gravação do disco de tango Tangolero. RUBENS MUANIS (1929-) – O segundo Muanis nasceu em Palmares Paulista e decidiu adotar um nome artístico, porque achava que seu sobrenome era estranho por ser estrangeiro: cortou um ’a’ e passou pela história como Rubens Munis. Versátil, começou na PRB-8 como locutor comercial e operador de áudio; foi vendedor de anúncios publicitários, ator de radionovelas, cantor, narrador, repórter e comentarista esportivo. Trabalhou nas rádios PRB-8, Piratininga e Cultura no período de 1952 a 1969. Radialista e jornalista, foi diretor-proprietário das rádios Independência AM/FM e Rádio Clube Fronteira (MG), de 1970 a 1981. Dirigiu o jornal Folha de Rio Preto (1980-1985) e atuou nas rádios Onda Nova FM e Brasil Novo. Fazia entrevistas inteligentes ao microfone com políticos e celebridades do mundo artístico e cultural.
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Rubens Muanis comandou o primeiro programa esportivo diário da PRB-8, chamado A Marcha do Esporte
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TAQUARA RACHADA, COMEÇAVA UM SONHO
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rádio está presente na vida da cidade desde 1935, com a PRB-8. Ela teria sido a décima sexta emissora autorizada a operar no Brasil, como indicam os prefixos da época, que se alternavam entre as PR-A e as PR-B – PRA-1.PRB-1, PRA-2, PRB-2... e assim por diante. Inicialmente, a emissora era conhecida pelo público como Taquara Rachada, ou Bambu Rachado, apelidos que faziam referência à sua torre de transmissões, que era construída com esse tipo de madeira, no bairro da Boa Vista. A Rádio Rio Preto PRB-8 era resultado de um grupo de lideranças da comunidade empenhadas em trazer esse novo meio de comunicação, apenas 13 anos após a inauguração da primeira rádio emissora do Brasil – a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por iniciativa do médico Roquete Pinto Espécie de “clube de amigos” da comunidade, a Rádio Rio Preto teve o cirurgião dentista Raul Silva como seu primeiro presidente, quem havia participado também da fundação do Rio Preto Automóvel Clube e do Rio Preto Esporte Clube. Vários
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outros notáveis da sociedade rio-pretense também passaram pela direção da emissora, entre eles o advogado Philadelpho Gouveia Neto, que a dirigiu ao longo de mais de 30 anos e depois tornou-se prefeito de Rio Preto. O rádio rio-pretense experimentou um notável impulso entre o final dos anos 1950 e o começo dos anos 1960, com o surgimento de emissoras como a Difusora, a Piratininga e a Independência, que depois foram mudando de nome ou foram simplesmente cassadas pelo regime militar em 1974, como aconteceu com a própria pioneira, sem que os critérios de exceção do Ministério das Comunicações jamais explicassem a razão da cassação peremptória.
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NO TEMPO DOS RECLAMES
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oão Novaes de Toledo – um dos precursores da radiofonia rio-pretense, alguém que participou, na metade dos anos 1930, da construção da torre de bambu da Rádio Rio Preto PRB-8 – diz que as primeiras propagandas do comércio transmitidas pelo rádio cumpriam uma interessante estratégia comercial: o locutor lia ao vivo os nomes das pessoas que comprassem alguma coisa nas lojas anunciantes: — Ontem estiveram na Casa Bueno o Sr. Fulano de Tal e sua digníssima esposa, que adquiriram um lindíssimo jogo de cama. Parabéns a eles pela aquisição!
PROPAGANDA AO VIVO, CADA CONFUSÃO!
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s recursos técnicos muito limitados determinavam que a propaganda para o rádio fosse gravada, quando muito, em discos de alumínio recobertos de acetato, nos estúdios do João Novaes de Toledo (ao lado do filho, Murilo Toledo) e, mais tarde, do Pereira Brito, no estúdio PB Som. No entanto, a maior parte da publicidade era transmitida ao vivo, lida pelos locutores no estúdio. Dessa forma, naqueles tempos pioneiros, uma das modalidades mais comuns consistia na informação de que pessoas influentes tinham comparecido nas lojas e realizado compras com a família. Era quase uma coluna social dos frequentadores do comércio. Porém, os anúncios ao vivo nem sempre contavam com atenção e a concentração desejáveis. Pode parecer macabro, mas poucas histórias desses doces tempos soam tão engraçadas quanto as constrangedoras peripécias dos locutores com as notas de falecimento, os anúncios fúnebres que avisavam a população sobre a morte de cidadãos rio-pretenses. Um desses episódios tem a ver com a súbita dificuldade de
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dicção do locutor para pronunciar a palavra “genros”. Dizem que saiu assim: — Comunicamos o falecimento, nesta cidade, do senhor Fulano de Tal. Ele deixou esposa, filhas e renjos... E depois de uma parada rápida: — Ou melhor, renjos... De novo: — Perdão, ouvintes, renjos... Então, quase no desespero: — Olha, o que o falecido deixou foram ge, ê, ene, erre, o, esse: r-e-n-j-o-s. Parece filme!
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PRB-8 INFORMAVA ATÉ A ALTA DOS PACIENTES DA SANTA CASA
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bancário aposentado Rui Guimarães é um homem cheio de histórias, e todas verdadeiras. Ele só conta o que viu e tem certeza. De prodigiosa memória, Rui conta os casos da cidade com leveza, reais e verossímeis, mostrando uma Rio Preto provinciana, todos amigos entre si e com muito sentimento no ar. Ele nunca pertenceu ao rádio, sequer falava no microfone; seu foco eram os estudos. A respeito disso, fez apenas um curso de radialismo na Escola Senac. Sua mãe Dorcília era vidente prestigiada na cidade. Objetos perdidos, incerteza da morte de alguém e outros infortúnios? Ela se fechava em um quartinho e rezava o Responsório (ou Responso) de Santo Antônio, tido como eficaz entre os católicos para recuperar coisas perdidas. Enquanto rezava, ela dizia ver as cenas projetadas na parede como um filminho. E acertava todas. Em uma ocasião, na morte do piloto Ayrton Senna, ela classificou como sabotagem, porque deixaram uma peça solta. O deputado Ulysses Guimarães não estava naquele avião que caiu 95
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Albertina Batista, uma das mulheres pioneiras nos microfones, era apresentadora do programa Momento Feminino
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matando todos os tripulantes; ela se concentrou no Responso e viu o filminho na parede: o corpo dele não aparecia. Rui sempre gostou de saber a história da cidade, das pessoas. Era muito curioso e fazia (e faz) inúmeras pesquisas, algumas com a ajuda da professora Dinorath do Valle. Certo dia, ele comentou que queria ser chamado de historiador e perguntou o que deveria fazer para conquistar isso. Ela colocou o braço esticado em seu ombro e disse: “A partir deste momento, eu te declaro historiador de Rio Preto!”. Era uma brincadeira, claro. Sobre o rádio, ele conta: “O rádio está eternamente ligado às nossas vidas, nos bons e nos maus momentos. Imagine você estar em um domingo jantando macarronada e frango com o rádio ligado na cozinha sintonizado na PRB-8 trazendo as vozes de Firmino, Fidêncio e Geraldinho, os famosos da época. Era um programa de variedades, fechando os acontecimentos da semana. Trazia em primeiro lugar a palavra do prefeito Alberto Andaló e, em seguida, a do vereador Daud Jorge Simão, muito interessante. De repente, entra um locutor anunciando: ‘O ônibus que levava os estudantes para Barretos (SP) caiu nas águas do Turvo, km 27’. Nossa Senhora, foi aquele desespero. Um primo meu estava no grupo. Fomos à casa desse primo e depois na Santa Casa, onde chegavam os corpos. Vi um caminhão cheio de cadáveres. Depois de reconhecidos e etiquetados pelo legista Ivan Miziara, chegou a hora do enterro, devidamente acompanhado por três vira-latas que não perdiam uma cerimônia fúnebre, condicionados talvez pelos sinos da Catedral. A PRB-8 estava lá, com Adib Muanis transmitindo o evento pelo microfone. Conheço o Toledo desde menino. Ele jogava no time Juventus, do Dr. Netinho, e tivemos vários encontrões. Ele sempre foi magrinho e assim se mantém até hoje. Sobre o rádio, a única palavra que falei no ar, no microfone do Adib Muanis, foi durante a Campanha de Natal para recolher doações a pessoas carentes, uma campanha respeitável em número de arrecadação. Meu pai mandou que eu levasse 97
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10 cruzeiros. Hoje é difícil imaginar uma criança carregando dinheiro pela rua. Detalhe: nós íamos a pé. Fui entrando na sala do programa e o Adib estava no ar com um ouvinte e disse: ‘Estamos neste momento recebendo mais uma doação em dinheiro, de um ouvinte da Vila Aurora.’. E me passou o microfone. Respondi ‘sim’ e mais nada, de tanta emoção de chegar perto de um ídolo do rádio. Ele me pegou de surpresa. Naquela época, não havia assim tanto sentimento expresso, mas, quando Albertina Batista lia um depoimento ou uma notícia de morte, fazia a gente chorar! Os costumes eram bem diferentes em uma cidade sem televisão. Aos domingos, era rotineiro fazer piquenique e andar de caminhão pela BR, com várias famílias; tomávamos um poeirão danado. A rádio PRB-8 mexia com a cidade, todos se envolviam nos assuntos. Houve alguns momentos marcantes, como o acidente do Turvo, a morte repentina do amado prefeito Andaló e o enterro do Zacharias Fernandes do Valle, que levou um tiro ao sair de casa às seis da manhã, vítima de um crime brutal. Para se ter uma ideia, o rádio possibilitou que a gente conhecesse de perto os astros da música e da cultura cara a cara, como o Nelson Gonçalves, que apeou de um táxi rumo à rádio Difusora, em frente da farmácia do Carlinhos. Ele estava indo divulgar seu disco, com um violão a tiracolo. Em um domingo de footing na Bernardino, olhando as vitrines como a gente, dou de cara com o Pery Ribeiro, filho da Dalva de Oliveira, que estava no auge da fama. Ele veio fazer show no Automóvel Clube. Agora sinta a utilidade pública da PRB-8, que é a função de todo o sistema de rádio, mesmo modificado pelo progresso: muitas famílias do sítio vinham se tratar na Santa Casa de Misericórdia, na Boa Vista. Porém, quando o paciente apresentava melhoras ou tinha alta, não havia como informar os parentes. Então a notícia era dada pela PRB-8. Silveira Coelho também noticiava serviços de aposentadoria pelo microfone. Essa é a verdadeira utilidade do rádio. 98
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As rádios de Rio Preto, especialmente a PRB-8 e a Independência, mexiam com a cidade! Tempos saudosos! Grandes tempos!”.
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NEM TUDO ERA VERDADE
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ada brincou tanto de misturar o real e o fictício quanto as antigas radionovelas, portadoras de um fascínio misterioso capaz de fazer o ouvinte confundir o que era real com o que não era. No rádio, um punhado de grãos de arroz despejado sobre uma folha de jornal era chuva. O papel celofane amassado bem próximo ao microfone era incêndio. O ruído dos lábios em contato com a palma da mão era beijo. Locutor era galã, mesmo que a voz grave e pausada nem de longe permitisse supor ali um sujeito barrigudo, às vezes careca... Entre o final dos anos 1950 e o começo dos anos 1960, os rio-pretenses se deixaram enlevar por essa doce combinação de situações melodramáticas e efeitos sonoros convincentes. A rádio Difusora, mais tarde cassada pelo governo militar, notabilizou-se pela produção de memoráveis radionovelas, transmitidas ao vivo de seu auditório, na Bernardino. A maioria das histórias radiofonizadas era escrita aqui mesmo, por um autor cuja vida, em si, já era uma novela: Lisbino Pinto da Costa, que chegou a Rio Preto para cumprir pena
Reprodução/Arquivo Público de São José do Rio Preto CECILIA DEMIAN
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Foto publicada no jornal A Notícia, edição de 12 de novembro de 1960, que anunciava o lançamento da radionovela A Estrela de um Condenado, de autoria de Lisbino Pinto da Costa (último à direita), estrelada por César Muanis e Marina Montez
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no IPA pela morte da mulher. Livre de lá, tornou-se diretor artístico da Difusora e até foi eleito vereador de Rio Preto entre 1964 e 1968. Os contemporâneos referem-se a ele como “um gênio”, alguém que teria chegado a noveleiro global, se não tivesse morrido em acidente automobilístico na BR-153. Em uma época em que a criatividade era severamente subjugada pelos modestos recursos radiofônicos, a ousadia tornou-se uma marca desses pioneiros. Em agosto de 1962, o último capítulo da radionovela Em Cada Coração, uma Esperança – estrelada por nomes como Hitler Fett, Daura Scaramboni, Neusa Silva e pelo próprio Lisbino – foi transmitido ao vivo diretamente do alpendre da casa da ouvinte Ida Barros, na Vila Ercília, como prêmio de um concurso promovido pela emissora entre aqueles que acertassem o final da trama. Uma multidão tomou conta da rua em frente à casa da ouvinte para conhecer seus ídolos sem rosto. As radionovelas da Difusora iam ao ar à noite, entre 20h30 e 21h. Quando não escrevia, Lisbino produzia e dirigia, como no caso de Ben-Hur, patrocinada pelo Pastifício Rio Preto. Ben-Hur era interpretado por César Muanis.
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MAURÍCIO GOULART
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ai ser Independência, ou vai ser Liberdade, Julio? — Perguntou enquanto propunha um brinde, erguendo o copo com um bom scotch para um tim-tim que comemorava a conquista da concessão da emissora de rádio que os dois pleiteavam em Rio Preto. — Acho melhor Independência, Maurício — resolveu logo o coparticipante da singela comemoração. A dúvida fugaz a respeito do nome da nova emissora traduz a importância de conceitos como “liberdade” e “independência” na vida dos dois personagens dessa cena. Um deles era o empresário e publicitário Julio Cosi, já o outro era o jornalista, político e escritor Maurício Goulart, alguém cujos atributos intelectuais deram suporte a uma participação ativa em momentos especialmente delicados da política brasileira – da Revolução de 1930 ao rearranjo partidário que se seguiu ao golpe militar de 1964, sem que a história ainda tivesse conseguido nos dar a dimensão precisa do grau de intensidade da participação desse coadjuvante de momentos críticos da vida nacional.
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Rio Preto foi a cidade que Goulart escolheu para viver de 1958 a 1993, quando morreu. A chácara onde morava, na rua Coronel Spínola, abrigou durante algum tempo uma “oficina cultural” da Secretaria estadual da Cultura, depois foi substituída por um edifício de apartamentos, não havendo mais informações sobre o acervo invejável da biblioteca que mantinha no local ou sobre seu trabalho como historiador e como deputado federal por São Paulo. O que resta mais vivo são as lendas saborosas sobre seu divertido e desapegado comportamento boêmio. Estabelecido em Rio Preto em 1958, fundou a rádio Independência e no ano seguinte disputou, sem êxito, a Prefeitura Municipal. Em 1962, foi eleito deputado federal pelo PTN, pelo qual ainda foi vice-líder do bloco parlamentar formado por vários partidos, já depois da deposição de Jango. Com a dissolução dos partidos políticos pelo AI-2 em 1965, ingressou no MDB, reelegendo-se deputado. Bem antes disso, foi um dos fundadores da cidade mineira de Fronteira, a respeito da qual fez uma revelação durante entrevista que concedeu, pouco antes de morrer, ao jornalista Roberto Lofrano: — Eu passava por uma grande desilusão amorosa e estava com uma bruta dor de cotovelo. Por mim, a cidade teria se chamado “Cotovelândia”.
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A COBERTURA DO ENTERRO DO PREFEITO
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rádio é, de longe, o mais rápido e ágil entre todos os meios de comunicação, mesmo contando os mais modernos. E o que lhe confere tão invejável instantaneidade é a sua predisposição ao improviso, sempre apoiada na rapidez de raciocínio da capacidade de resposta de seus profissionais diante de situações, digamos, pouco favoráveis. Procure imaginar o dia seguinte ao Finados de 1959, data em que a cidade foi surpreendida pela notícia da morte prematura do prefeito Alberto Andaló, aos 43 anos de idade, em pleno exercício do mandato. O rádio fez parte das emocionadas exéquias ao prefeito, transmitindo ininterruptamente todo o velório na velha Câmara Municipal, até o caixão baixar na sepultura no Cemitério da Ercília. O feito – até hoje digno de um Guinness Book – coube à Rádio Rio Preto PRB-8 e, entre outros, ao locutor Adib Muanis, encarregado de preencher o tempo com depoimentos de autoridades e cidadãos comuns; tocantes descrições de manifestações de afeto por parte do público; citação dos nomes das
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pessoas que enviavam coroas de flores, as quais não paravam de chegar ao velório; sem falar da narração detalhada de todo o percurso do cortejo, que conduziu o caixão à Ercíla via avenida da Saudade. Como na época não havia recursos técnicos que permitissem as transmissões externas com agilidade, a emissora colocou em prática uma complicada estratégia para acompanhar o cortejo: pediu emprestados alguns telefones existentes ao longo do caminho e distribuiu seus repórteres em cada um deles, acionando-os no momento em que o cortejo passasse pelo local.
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FÉ E REVERÊNCIA NAS ONDAS DO RÁDIO
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ão há como negar que o rádio sempre foi cerimonioso e reverente para com as autoridades da cidade – inclusive as eclesiásticas. Durante anos, monsenhor Leibenites Cesário de Castro, então cura da Catedral, conseguiu transmitir suas novenas em louvor a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro por meio de todas as emissoras locais, sem distinção. Além disso, às 18h, a maioria delas transmitia a Oração da Ave Maria. Na PRB-8, a encarregada de fazer a apresentação era uma religiosa muito simpática e já velhinha, a Irmã Isaltina Maria, cujo nome não era pronunciado sem que estivesse acompanhado da identificação da Ordem à qual pertencia: missionária de Jesus Crucificado. Em uma certa tarde de sábado, ao chegar à emissora para a oração, a Irmã Isaltina notou que o locutor do horário, César Muanis, permanecia sentado à mesinha do estúdio, ao contrário do que fazia habitualmente, quando aproveitava essa brecha e saía do estúdio para telefonar para as namoradas. Compenetrado, César rezou com ela a Ave Maria e o Pai Nosso,
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persignou-se na hora do “Em Nome do Pai...” e ficou sentadinho até a freira terminar, despedir-se e ir embora. “Que milagre seria aquele?”, perguntava-se, do outro lado da técnica, o sonoplasta Zezão. Alguma súbita tentativa de remissão de pecados, suspeitou. Nada disso: César, que morava em um quartinho nos fundos da rádio, havia acabado de tomar banho e decidiu voltar ao estúdio, vestindo cuecas, para fazer a leitura de um anúncio; porém, antes que tivesse tempo de terminar de vestir-se, foi surpreendido pela chegada da religiosa.
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ROBERTO CARLOS ESQUECIDO NA PRAÇA
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conteceu na primeira vez que Roberto Carlos veio a Rio Preto, quando ainda não era propriamente uma celebridade, não despertava o interesse dos veículos de comunicação nem manifestações explícitas de tietagem por parte dos fãs. Foi em uma noite de 1966, em um pequeno palanque de madeira montado em uma das praças do centro da cidade para um público de 300/400 pessoas, ouvintes privilegiados de seus hits da época, Noite de Terror, Parei... Olhei e por aí vai. Muitos dos fãs, com ouvidos colados no rádio, confiantes na promessa da rádio Independência de transmitir o show, aguardavam ansiosos. Quase uma hora depois do horário marcado, Alexandre Macedo, à época um dos principais nomes da emissora, entrou no ar e fez um apelo no mínimo inesperado: — Solicitamos ao companheiro Pradela Junior, da nossa equipe técnica, que compareça até a emissora para providenciarmos o material necessário à transmissão do show do cantor Roberto Carlos, que já está sendo realizado...
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Alexandre Macedo teve participação importante na transmissão de um show de Roberto Carlos pela Independência
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Eles haviam esquecido o Roberto Carlos na praça! E, quando finalmente a emissora começou a transmitir o show, os fãs mal tiveram tempo de ouvir A História de um Homem Mau.
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NINGUÉM ESQUECIA A MUSIQUINHA DA CASA BUENO
No mês de setembro Temos nós preço melhor Pois é aniversário Da Bueno, a maior
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os anos 1950/1960, a cidade era a cara daquela musiquinha das Casas Bueno, a grande magazine de Rio Preto até o comecinho dos anos 1970, espécie de avô dos shoppings, ali na esquina da Bernardino com a Silva Jardim, apanhando uma meia quadra de cada rua. O velho jingle transformou-se em uma das mais importantes peças da publicidade local, repetida à exaustão durante muito tempo pelas emissoras de rádio. A musiquinha da Casa Bueno foi uma criação de João Novaes de Toledo, cujo estúdio de gravação de jingles atendia a diferentes empresas e emissoras. A cidade exalava provincianismo, pequenas placas na fachada das lojas eram o sinal tímido de uma incipiente preocupação com a propaganda, já então reforçada pelo velho
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carro de som do Jacinto Mata Tudo, que recorria as ruas do centro repetindo mensagens comerciais por meio de esganiçados alto-falantes do tipo corneta e, de quebra, vendia serviço de dedetização contra ratos, baratas, formigas e cupins. Antes dessa fase, Jacinto foi também operador de som da Rádio Rio Preto PRB-8.
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AH, MAS SE CHOVER...
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ário Moraes formou com o locutor Pedro Luiz a maior dupla da história do rádio esportivo brasileiro. Inclusive, foi da junção dos dois nomes que nasceu o pseudônimo pelo qual o radialista e jornalista Vislei Bossan tornou-se um dos mais conhecidos e respeitados homens do rádio rio-pretense: Mário Luiz, o comentarista que sabe o que diz. Mário talvez ainda nem estivesse por aqui quando o futebol e o rádio produziram um episódio exemplar da esquisita coreografia do idioma e da bola. Aconteceu com o Rio Preto Esporte Clube nos anos 1960, tempo em que todas as despesas do time visitante, como hospedagem e alimentação, eram por conta do time da casa. A tabela da Segunda Divisão marcava o jogo – provavelmente contra o Garça FC – para um sábado à tarde no velho Estádio Victor Brito Bastos, mas choveu e a partida foi adiada para domingo de manhã. Choveu de novo e a transferiram para domingo à tarde. Continuou chovendo e resolveram adiar para o dia seguinte, e as despesas correndo soltas.
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A segunda-feira amanheceu radiosa, inspirando o locutor Jovino Cardoso na abertura da transmissão da PRB-8: — Senhoras e senhores, hoje o dia amanheceu sorrindo para o futebol. O tom plúmbeo que cobriu o éter nos últimos dias deu lugar a um incomparável anil celeste. Desde a fímbria do horizonte, depreende-se a total ausência das nuvens, e a brisa suave que acaricia o balouçar dos eucaliptos aqui no estádio é um indicador seguro de que hoje não haverá precipitação pluviométrica. Porém, como naquele momento uma nuvem perdida encobriu subitamente o sol, complementou: — Mas, se houver, o Rio Preto está fodido! Dessa época romântica, nem o estádio sobrou, transformado em um conjunto de clínicas médicas na esquina da Bernardino de Campos com a rua Cila, na Redentora. O que dizer então das palavras?
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SEXTA-FEIRA SANTA AO VIVO
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á houve tempo, acredite, em que feriados como o da Sexta-Feira da Paixão eram realmente “dias de guarda”. Como durante muito tempo a igreja recomendava a seus fiéis que sequer ligassem o rádio, muitas emissoras nem entravam no ar nesse dia, enquanto outras apresentavam uma programação de música sacra. A Rádio Rio Preto PRB-8, por sua vez, programava todo ano a dramatização da Paixão de Cristo ao vivo, direto de seus estúdios na Boa Vista. A radiofonização durava horas. Os principais papéis eram destinados, é claro, aos locutores experientes, mas uma história com tantos personagens requeria o envolvimento de todos os funcionários da emissora, dos operadores de som às meninas do escritório e da portaria. Porém, para essas pessoas sem tanta familiaridade com o microfone, a tarefa de recitar ao vivo mesmo uma pequena fala, às vezes uma única frase, transformava-se em alguma coisa próxima do suplício. Se o tarimbado Alexandre Macedo, o intérprete de Cristo, nem ao menos se preocupava em passar os olhos pelo texto antes de entrar
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no estúdio, os funcionários de outras áreas improvisados como atores passavam alguns dias antes da Sexta-Feira Santa lendo, relendo e interpretando suas falas. Ao sonoplasta Rudger Moreira, o “Gim”, foi dada a incumbência de interpretar José de Arimateia, o membro do supremo tribunal judaico que pede a Pilatos o corpo de Jesus para colocá-lo em um sepulcro nos jardins de sua propriedade, em uma esplanada do Gólgota. Gim, pessoa humilde, avessa ao microfone, levou a sério a tarefa de memorizar a única fala que lhe cabia no drama, uma resposta objetiva a Pôncio Pilatos: — Eu sou José de Arimateia, membro do alto Sinédrio! Ele foi visto, dia após dia, repetindo a frase pelos corredores da PRB-8, até que chegou o grande dia. Dizem que, suando frio e trêmulo de nervosismo, entrou no estúdio e esperou sua vez de falar. Repetia mentalmente a frase, não ia ter erro. E então... — Quem és tu? — Indaga Pilatos. — ... — Não ouvi — insiste o locutor experiente, fazendo sinais com as mãos e com a cabeça para que seu interlocutor desembuchasse. — Hein? — Voltou a perguntar, já sem muita paciência. Olhos esbugalhados, boca seca, olhar fixo no infinito, e então Arimateia finalmente tenta balbuciar alguma coisa, mas não consegue lembrar-se da frase. Deu branco. - Xiiiiiiiiii, esqueci. É Zé alguma coisa, mas eu não lembro...
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MEIO CAIPIRAS, MEIO URBANÓIDES
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extinta rádio Difusora Rio-pretense mantinha, nos anos 1960, um programa diário de auditório chamado Cidade Versus Sertão, em que o público se manifestava por meio de cartas a favor de um dos dois apresentadores: Adib Muanis, pela “cidade”, e Olívio Campanha, o Cuiabano, pelo “sertão”. Ganhava a disputa aquele que, ao final de uma hora de provocações combinadas, apresentasse o maior número de cartinhas enviadas pelos ouvintes. A “cidade” sempre ganhava. O público presente no auditório – em sua maioria adolescentes que estudavam em escolas próximas à rádio – escrevia na hora, em folhas arrancadas dos cadernos, um número de cartas suficiente para superar a quantidade de correspondência exibida pelo “sertão”. Como se nota, ainda não havíamos assumido nosso lado ligeiramente caipira. Cuiabano foi um ícone do sincretismo entre o urbano e o caipira em Rio Preto. Com o irmão, Antonio, formou a dupla “Campanha e Cuiabano”, que começou se apresentando na
Acervo Arquivo Público Municipal de São José do Rio Preto
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Olivio Campanha, o Cuiabano, era um dos apresentadores do programa Cidade Versus Sertão na rádio Difusora de Rio Preto
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Rádio Rio Preto PRB-8 e logo foi aprovada em teste na rádio Nacional de São Paulo, de onde, durante muitos anos, propagou para o Brasil sucessos como a moda de viola Meu Passarinho, escrita em 1957 por Campanha e Zé Rosa. Ganhei um passarinho Foi meu amor quem me deu Vivia sempre sozinho De tristeza ele morreu Nunca mais ele cantou... Cuiabano voltou a Rio Preto lá pelos anos 1960 para apresentar programas sertanejos no rádio – na época segregados às primeiras horas da manhã e ao final da tarde –, quando criou um personagem muito mais urbano do que rural. Na verdade, urbano e zoneiro, ainda por cima. Expressões como eu tico (simplificação exagerada de “eu te conheço”) e você mico? (“você me conhece?) eram repetidas nas ruas, juntamente com o mais clássico e provocador de todos os seus bordões: passa lá. Esclarece-se: “lá” era a casa boêmia onde Cuiabano morava, nas imediações da zona do meretrício; e passa lá era, muitas vezes, uma forma de intimar frequentadores inadimplentes a retornar ao caixa. Esse caipira urbanóide, que também foi Rei Momo em alguns carnavais, morreu em 1981, em consequência de uma série de complicações de saúde facilitadas por uma doença cruel: o alcoolismo.
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É FOGO!
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nos 1960. Os irmãos Curti estavam prestes a inaugurar o majestoso Cine São José, na rua General Glicério – um templo de requinte e sofisticação, sobressaindo-se o luxo das poltronas aveludadas, dos tapetes e dos carpetes felpudos, das cortinas exuberantes... Porém, apenas alguns dias antes da primeira exibição, um incêndio devastador como poucos surpreendeu todos e destruiu o palácio durante a madrugada. Ao saber da notícia, o diretor da rádio Independência, Alexandre Macedo, telefonou, altas horas, para um dos repórteres da emissora – J. Havilla – e o incumbiu de comparecer imediatamente ao local para cobrir a tragédia. Sonolento, recém-chegado de uma noitada, o jovem radialista desligou o telefone e voltou a dormir. Então, quando acordou, já pela hora do almoço, leu no jornal a notícia do incêndio e comentou com a mãe: – Puxa, que engraçado! Esta noite sonhei que o Alexandre havia me telefonado para avisar que o Cine São José estava pegando fogo!
MORRENDO DE RIR
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rádio Pioneer a válvulas era do tamanho do que hoje é um forno de micro-ondas. Ele tinha uma exuberante caixa de madeira de cor clara, os falantes protegidos por um tecido furadinho e o dial era um monte de números em fileiras – uma para a faixa de ondas médias, outra para as ondas curtas, outra para as ondas longas. Como demorava alguns minutos para “esquentar”, às duas e meia em ponto já tinha que estar ligado e sintonizado na PRB-8, porque – silêncio na sala, fala baixo, menino – a voz grave e inconfundível do locutor Araújo Neto já começava a anunciar que ia começar o Show de Graça. A cada dia, era separada meia hora de piadas de um artista escolhido entre uns poucos que, naquela metade dos anos 1960, lançavam long plays de humor, como Jacinto (o Donzelo), Zé Trindade e Chico Anysio. Pouco importava que as limitadas opções do gênero levassem o Show de Graça a uma inevitável rotina de reprises, mas ouvir pela terceira ou quarta vez as inocentes trapalhadas semânticas do casal de italianos Vitório e Marieta – criação imortal dos humoristas Murilo
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Amorim Correa e Maria Tereza – era até mais divertido do que na primeira vez. A capital da “boca do sertão”, como muitas pessoas gostavam de se referir a Rio Preto até o comecinho dos anos 1970, não poderia prescindir do humor caipira ingênuo que o humorista João Ferreira de Melo tomou emprestado do circo e do emergente cinema popular de Mazzaropi e levou para as ondas do rádio na voz do personagem “Barnabé”, que chegou inclusive a participar do filme Chofer de Praça, protagonizado por Mazzaropi em 1959. Morreu em 1968, aos 36 anos, devido a um infarto fulminante, sendo sucedido na carreira por um irmão mais novo, que adotou o nome do personagem e até hoje continua se apresentando pelo Brasil. Por fim, um programa de rádio que se propusesse a apresentar gravações de humoristas não poderia prescindir do talento do pioneiro de todos eles: Zé Vasconcelos, o criador do antológico Eu Sou o Espetáculo, a primeira incursão de um humorista no stand up comedy no Brasil. Zé Vasconcelos, que o público brasileiro pôde ver até bem recentemente na Escolinha do Professor Raimundo da TV, fazia no disco notáveis imitações dos locutores mais conhecidos do Brasil e imortalizou personagens absolutamente inesquecíveis, como o locutor de futebol que era gago e o italiano que vai se enervando e imaginando situações negativas enquanto procura alguém que lhe possa emprestar um “macaco” para trocar o pneu furado de seu automóvel de último tipo. Era assim o Show de Graça, que terminava antes do radioteatro Colgate Palmolive, que apresentava radionovelas escritas, por exemplo, por Ivani Ribeiro.
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ESMERALDA SE CASOU
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épica canção Esmeralda, composta por Filadelfo Nunes e Fernando Barreto e transformada em sucesso nacional em 1960 na voz de Carlos José, ganhou também uma versão local. Ela foi gravada por Jaime Ferreira, locutor e operador de som da rádio Difusora, que cantava muito bem, com um jeitão de Nelson Gonçalves. Era assim que começavam os romances em uma cidade como Rio Preto, ao sabor carmim das “maçãs do amor” e ao embalo dos boleros de versos apaixonados.
PUDERA! COM TANTA COISA PARA LEMBRAR...
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ra o dia da inauguração de Brasília, 21 de abril de 1960, uma quinta-feira de pompas na vastidão do planalto central, onde os turboélices da Varig despejavam autoridades de todos os quilates e jornalistas de todos os cantos do Brasil. Entre estes, os rio-pretenses Adib Muanis e Paulo Serra Martins, carregando por entre os palácios calorentos o pesado gravador Akai de fitas de rolo para entrevistar as celebridades que lhes cruzassem o caminho. Foi quando identificaram, em uma roda de notáveis, o já poderoso Armando Falcão, ministro da Justiça do presidente Juscelino. Aproximaram-se cerimoniosos, acionaram a parafernália, e, de microfone em punho, Adib postou-se ao lado do entrevistado e anunciou: — Senhores ouvintes, vamos entrevistar agora o Dr. João Mendonça Falcão. — Por um ato falho, veio-lhe à cabeça o nome do então presidente da Federação Paulista de Futebol e, já na época, uma das figuras mais polêmicas dos bastidores do
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esporte. Então, o ministro Falcão, ar blasé, cara de desentendido, virou-se para o repórter ansioso: — Olha, esse aí ainda não veio!
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O RÁDIO “INVADE” A TV
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primeira vez em que os rio-pretenses se viram na televisão foi ali pelo final dos anos 1960, em transmissões experimentais a partir do auditório da rádio Independência, na sobreloja da Galeria Bassitt – um tempo em que o empresário Júlio Cosi acalentava o sonho de implantar o seu canal de TV na cidade. Por alguns dias, foram transmitidos programas ao vivo, uma espécie de mesa-redonda sobre futebol, com a participação dos locutores de rádio entrevistando jogadores e dirigentes esportivos. Quando nasceu a TV Rio Preto Canal 8 – concedida em 1971 pelo governo militar a um empresário do triângulo mineiro chamado Edson Garcia Nunes –, a cidade pulou para dentro do vídeo, protagonizando uma ousada tentativa de programação independente, que entrava no ar à tarde e se estendia até o fim da noite. Entre enlatados como o filme Quo Vadis? – um épico de 1951 com quase três horas de duração, com as atrizes Sophia Loren e Elizabeth Taylor em pequenas pontas – e episódios de O Agente da Uncle – série televisiva com as aventu-
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ras de um herói espião do tipo 007 –, desfilavam pela telinha em preto e branco pessoas que os telespectadores podiam ver pelas ruas, entre elas o jornalista Amaury Jr., primeira pessoa focalizada pelas câmeras do Canal 8 no comando de um programa de variedades nas noites de sábado. O primeiro grande sucesso da TV rio-pretense nasceu quando o radialista Antonio Carlos Bottas levou para o vídeo um notabilizado personagem que havia criado anos antes para apresentar programas sertanejos no rádio, o “Véio Tatau”, cujo jeitão de caipira matuto já havia conquistado os ouvintes e era candidato certo a conquistar também os telespectadores. E conquistou, mas nem tanto, porque os parcos recursos para maquiagem e caracterização acabaram por roubar a magia que o personagem despertava na imaginação das pessoas. O importante é que, seja como for, Bottas e o “Véio Tatau” plantaram a semente de um dos mais longevos programas da história da televisão brasileira, A Porteira do Oito, mais tarde comandado pelos também radialistas Silveira Coelho e Jaborã, até hoje apresentado nas manhãs de domingo. Antes de ser vendida em 1974 para o apresentador Sílvio Santos e depois transferida para a Rede Record, a TV Rio Preto passou pelas mãos do político e empresário Warley Agudo Romão (então prefeito de Catanduva) e, em sua louca aventura de programação independente, reuniu nomes como o produtor Homero Salles, a apresentadora Ana Maria Braga, o jornalista Saulo Gomes – conhecido pelas reportagens sensacionalistas que apresentou durante anos na TV Tupi – e o apresentador Silveira Lima, famoso desde os tempos da rádio Nacional de São Paulo, que repetia a mesma frase sempre que se despedia do público, ao encerrar os seus programas ao vivo: — Saio daqui quase envergonhado pelo pouco que lhes dei, mas imensamente agradecido por tudo que vocês me deram em troca do nada que eu mereço! Era bem assim, sem pôr nem tirar!
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VANDECA VISITA A INDEPENDÊNCIA
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onta Roberto Toledo: “Quando fui contratado pela Independência, eu fazia um programa à noite chamado Gosto não se Discute, das 8h às 10h. E quem apareceu lá uma bela noite? A Vandeca! Ela era uma figura popular, exótica, o tipo que aparece em uma cidade sem eira nem beira. Seu nome real era Carmela Dalva Lombardi, mas ela exigia ser chamada e reconhecida como Vandeca. Era evidentemente cabeça fraca, perambulava dia e noite pelo centro da cidade, discutindo sozinha ou com alguém assuntos de política, cultura e outros. Sabia tudo o que ocorria na cidade e esbravejava quando era contrariada. Vivia com uns broches estranhos pregados na roupa e em um quepe militar que não tirava da cabeça, alegando ser o uniforme da cavalaria aérea à qual pertencia (no seu mundo, claro). Em uma noite, ela apareceu na sacada da rádio Independência que dá para a rua Marechal Deodoro. Então me chamaram para ver a forasteira e fomos apresentados. Ela tinha acabado de chegar e queria informações da cidade para se instalar, mas não conhecia ninguém. E aqui ela ficou até morrer.
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Isso quer dizer que a história da Vandeca em Rio Preto começa na rádio Independência! E no meio do meu programa Gosto não se Discute. Bem, ela se acostumou rapidamente com a cidade, passou a frequentar e a participar de tudo quanto era programa de auditório e de rádio, além da extinta TV Rio Preto, Canal 8. Não havia desfile cívico em que Vandeca não aparecesse com seu guarda-roupa excêntrico e seu vira-lata amigo. Em uma dessas ocasiões, o empresário e fotojornalista Toninho Cury tirou uma foto memorável dela marchando na frente da Cavalaria do 17º Batalhão de Polícia, como agente da cavalaria aérea, em um desfile de Sete de Setembro. Ao lado, o inseparável vira-lata. Vandeca não dava sossego principalmente ao radialista Marcelo Gonçalves. Ela dizia ser sua esposa na vida real e chegava a ser agressiva com as pessoas que o cercavam na rua, nas rádios, nos eventos. Marcelo Gonçalves foi muito popular na sua carreira e tirou bom proveito da fama no rádio, elegendo-se duas vezes vereador e duas vezes deputado estadual.”.
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INOVAÇÕES E PIONEIRISMO
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evelado lá atrás, no concurso de calouros da Tenda do Adib, programa que Adib Muanis comandava na rádio Difusora em 1959, Pedro Lopes comemorou 60 anos de carreira no rádio. Atuou de forma amadora sempre que lhe davam a oportunidade de falar ao microfone, até ser contratado pela Independência em caráter experimental para cumprir o sugestivo horário das dez da noite às duas da madrugada. A história de Pedro, como a de tantos profissionais de rádio que acabaram se tornando talentos e vozes reconhecidos pelo público, deve ter sido marcada por um início de dificuldades e de incorrigível persistência. Porém, ao longo do tempo, ele se converteu em um inovador de formatos, especialmente quando criou o grande êxito de sua carreira, o programa Nova Dimensão, nos anos 1970, na rádio Anchieta, então recém-inaugurada pela igreja católica. O Nova Dimensão, que ainda hoje é levado pelo seu criador às emissoras por onde passa, era uma espécie de Fantástico do rádio. As notícias, todo o conteúdo informativo, eram
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focadas em novidades, inovações e lançamentos, quase um exercício futurista que o apresentador cuidava de pesquisar nas revistas e nos jornais de uma época que ainda andava distante das facilidades da internet. A grande novidade introduzida por Pedro Lopes em sua atração transmitida entre o fim das madrugadas e o começo das manhãs era a informação na hora certa em um programa gravado no dia anterior. Como não existiam os recursos tecnológicos que hoje fazem disso uma tarefa corriqueira, o Nova Dimensão dos anos 1970 recorria a expedientes artesanais. Uma fita de rolo, daquelas enormes, era colocada em um gravador à parte, com a voz do Pedro repetindo as variações da hora de minuto em minuto: seis e quinze... seis e dezesseis... seis e dezessete... A tarefa de reproduzir o minuto certo cabia ao operador de som do horário, que também operava um segundo gravador com a voz do Pedro lendo notícias e anunciando as músicas programadas pelo discotecário Didi Brasil. Para os ouvintes da época, Pedro era um madrugador, mas a verdade é que ele nunca foi à emissora no horário do programa. O Nova Dimensão e Pedro Lopes fizeram e ainda fazem história no rádio rio-pretense. Juntos, cruzaram as fronteiras do tempo, frequentando desde as épocas de parcos recursos técnicos até a modernidade tecnológica, a qual tentaram sistematicamente antecipar em seu modo de fazer rádio. Pedro Lopes é remanescente de um período em que os locutores lidavam o tempo todo com o desafio do improviso e da espontaneidade. Como no dia da inauguração da rádio Independência, em 7 de setembro de 1962, quando ele próprio, então um jovem a quem ainda faltava tarimba, foi escalado para permanecer no estúdio apenas para situações de emergência, enquanto a equipe externa respondia pela cobertura da visita que o então presidente da República, João Goulart, fazia a Rio Preto. De repente, a porta da cabine se abriu para que entrasse ninguém menos que o presidente, levado ali de surpresa pelo ex-deputado Maurício Goulart, diretor da emissora e amigo de Jango. 138
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O jovem locutor sentiu o chão fugir-lhe aos pés quando foi incumbido de fazer a apresentação da autoridade presente. — Com vocês, o presidente João Goooooouuuuulart! — Assim mesmo, no tom da apresentação de um cantor de boleros.
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EXAGERO NO PRONOME DE TRATAMENTO
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o cabo de um cansativo dia de cobertura das apurações das eleições municipais de 1976, no ginásio do Palestra EC – em uma época em que os votos eram contados manualmente, cédula por cédula –, os números indicavam antecipadamente a vitória do arenista Adail Vetorazzo, apesar de toda a perseguição que havia sofrido da imprensa durante a campanha. Todos os repórteres presentes queriam ter a primazia de entrevistar o prefeito eleito, que desde o início da apuração permaneceu em casa, em prudente e recatado isolamento. Porém, com a certeza da vitória, resolveu aparecer no Palestra para festejar com correligionários. Ao vê-lo entrar pelas portas da rua João Mesquita, o fantástico Antonio Carlos Bottas, da rádio Independência, quis garantir o furo. Saltou as cordas de isolamento providenciadas pela Justiça Eleitoral, embrenhou-se serelepe no ajuntamento de pessoas e, então, esbaforido e ofegante, aproximou-se do político sorridente e sapecou ao vivo: — Senhoras e senhores, atenção. Vamos ouvir em absoluta primeira mão a palavra do prefeito eleito de Rio Preto, Sua Majestade Adail Vetorazzo...
VOTO A VOTO
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ia de eleição era dia de ouvir rádio e trazer de volta velhas lembranças que pareciam mais antigas que os acordes ufanistas da marcha Paris-Belfort, o hino da revolução paulista de 1932, que, a partir dos anos 1960, serviu como prefixo da cobertura eleitoral da rádio Independência. Era dia de eleição, dia em que Rio Preto elegeu para prefeito o Dr. Wilson Romano Calil, em disputa histórica contra o também médico Lotf João Bassitt. Na época, as eleições eram realizadas no feriado da Proclamação da República, e o leitor não deve estranhar que os dois principais candidatos pertencessem ao mesmo partido político – a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Explica-se: as sublegendas foram o casuísmo arrumado pelo regime militar para acomodar todos os políticos nos dois únicos partidos permitidos, a Arena e o MDB. A Independência, fiel à sua tradição de coberturas eleitorais, distribuiu seus repórteres e locutores pelos colégios onde funcionavam as seções eleitorais e os incumbiu de transmitir boletins durante todo o dia, informando o número de eleitores
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que já haviam comparecido, se havia filas ou demoras, se tudo estava correndo bem... Correr de tempos em tempos todas as salas de votação para conferir o comparecimento dos eleitores não era problema nenhum diante da missão de transmitir os flashes em baixo de um orelhão, assistido sempre por um grupinho de curiosos que se juntava em volta. No dia seguinte, começavam as apurações, e aí era um emaranhado de mapas de papel almaço distribuídos pelas mesas do auditório da Independência, na sobreloja da Galeria Bassitt, onde tentavam totalizar os resultados de cada uma das urnas, cuja apuração era anunciada pelos repórteres escalados para os dois ou três dias de contagem manual dos votos no ginásio de esportes do Palestra. As urnas cujos resultados acabavam “escapando” dos repórteres eram recuperadas depois nos mapas de apuração que a Justiça Eleitoral afixava no átrio do Fórum, para onde a Independência também escalava seus repórteres. Um deles, o experiente noticiarista e comentarista esportivo Mário Luiz, lembrou-se de um pequeno acidente ocorrido durante essa tarefa, em uma eleição alguns anos antes da de 1972. Ele compilava os dados de um dos mapas, quando um barulho inesperado lhe roubou a atenção: um garoto, que deveria ter seis ou sete anos, entrou em desabalada carreira pela sala e provocou um verdadeiro strike entre os cavaletes de madeira que sustentavam os documentos na Justiça Eleitoral. Ele não se machucou, levantou-se e continuou a correr, mas desde cedo demonstrava sua inclinação para abalar as votações. O nome dele? Valdomiro Lopes da Silva Junior, que havia se desgarrado das mãos do pai e por pouco não empastelou o resultado da eleição.
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QUANDO AS NOITES TINHAM UM DONO
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e Rio Preto tivesse que escolher um fundo musical, votaríamos em Skokiaan, o mambo que, durante mais de 40 anos, avisou as pessoas de que elas estavam prestes a entregarse a longas e agradáveis sequências de belas e inesquecíveis páginas musicais. Ele as avisava de que estavam mergulhando na “maior sequência musical do rádio interiorano”. Skokiaan, em clássica interpretação de Bert Kaempfert e Orquestra, servia de prefixo principal para o Programa Roberto Souza – o Dono da Noite, que consagrou entre os rio-pretenses o hábito de telefonar para a emissora de rádio, pedir músicas e oferecê-las para outros ouvintes, além de retribuir oferecimentos anteriores. A cada bloco de quatro ou cinco músicas, essa mistura de interesses musicais era capaz de compor uma colcha de retalhos deliciosamente multicolorida e disforme. A um Orlando Silva, por exemplo, seguia-se Bill Halley e Seus Cometas, Chitãozinho e Xororó e, não raro, a Orquestra Tabajara, Ray Conniff ou a Filarmônica de Berlim.
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O Dono da Noite – título de propriedade de que se apossou pela notabilidade de seus programas, que começavam às 22h e avançavam pelo começo da madrugada – era apenas o guardião da diversidade de gostos de seu público, formado por professoras aposentadas jogando buraco com as amigas em casa; boêmios incorrigíveis nos bares da Bernardino; vigias noturnos à procura de um antídoto para o sono e para a solidão; moçoilas esperançosas na zona do meretrício; vizinhos reunidos na calçada; enfermeiros apressados; padeiros; jogadores de baralho; garçons; motoristas de táxi; policiais; travestis fazendo ponto na Quinze de Novembro; ou seja, toda a gente da noite, sem exceção. E mais: médicos, juízes, promotores, advogados, engenheiros, padres e empresários insones. Para resumir, quase toda a cidade, com poucas exceções. Nos anos 1970, recebeu dois avisos: um de um político para disputar a eleição de vereador, porque, com tamanha popularidade, a eleição era uma barbada; e outro de seu médico sobre um câncer avançado no estômago que lhe deixava muito pouco tempo de vida. Sem dinheiro para a campanha eleitoral, jamais conseguiu transformar a notoriedade em votos suficientes para se eleger. Sem tempo para pensar em doença, sobreviveu mais de 30 anos ao diagnóstico, vindo a morrer em dezembro de 2002, aos 73 anos. Quantos anos?! Perguntariam seus contemporâneos antes de delatar que ele tinha duas certidões de nascimento. Oficialmente, Arnulfo de Sousa Freire – era o seu nome – nasceu em Januária, Minas Gerais, em 5 de outubro de 1929. Sua idade de verdade ao chegar para trabalhar como padeiro para a família Muanis, em Onda Verde, talvez nem ele próprio soubesse. Da ligação com os Muanis – de quem tornou-se um irmão de criação –, não é difícil imaginar os atalhos que o levaram à Rádio Rio Preto PRB-8, primeiro como cantor e depois como locutor faz-tudo. Fez inclusive plantão esportivo nas transmissões de futebol. Nessa função, consta que, certa vez, Roberto Souza acompanhava o andamento de dois jogos, um no Pacaembu e 146
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Roberto Souza comandava o Programa Roberto Souza, na PRB-8
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outro no Morumbi, e, a cada vez que o narrador esportivo acionava o plantão, Souza informava: — No Morumbi, São Paulo um, Juventus um; no Pacaembu, Corinthians um, São Bento um. E tantas vezes teve que repetir a mesma informação, o mesmo placar, que, a partir de determinado momento, resolveu simplificar: — No Morumbi e no Pacaembu, tudo zuns a zuns... Poucas cidades têm um fundo musical como Skokiaan. Na verdade, só Rio Preto teve um dono da noite!
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O RÁDIO GOSTAVA DE ELEGER O REI MOMO
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ada influenciou tanto a eleição e a deposição dos reis do Carnaval como o rádio, de onde saíram monarcas como Olívio Campanha, o “Cuiabano”, muito mais conhecido pelos seus programas matinais de música sertaneja do que propriamente pela sua aptidão pelo samba. O repórter Castro Barbosa – então trabalhando com Amaury Jr., que apresentava o programa Encontro Marcado na rádio Independência – chegou ao trono justamente na época em que tinha perdido a silhueta arredondada dos reis momos por conta de um de seus infalíveis regimes para emagrecer. Antes, a realeza foi ocupada pelo repórter esportivo Amílcar Prado, o Jacaré, que passou por praticamente todas as emissoras locais, inclusive a TV Rio Preto. Houve um ano em que a figura do rei momo foi ofuscada pelo brilho de um convidado ilustre. O jornalista Saulo Gomes, notabilizado pelas reportagens sobre invasões de discos voadores que apresentava na TV Tupi de São Paulo, veio para Rio Preto contratado pelo então Canal 8. Tornouse coordenador do Carnaval e trouxe para cá ninguém menos do que o sam-
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bista carioca Joel de Almeida, o magrinho elétrico, responsável pela popularização de diversas marchinhas de carnaval, entre elas a legendária Pierrot Apaixonado, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. Joel desfilou em carro alegórico, recebeu o título de “cidadão Carnaval” e encheu a bolha de sabão da volta do Carnaval rio-pretense aos dias de glória, mas ela estourou e sumiu assim que a última escola de samba do desfile foi vista pelas costas, descendo a Bernardino. Quem viveu os bastidores dessa época é capaz de testemunhar que nem todos os radialistas escalados para trabalhar no Carnaval ficavam exatamente felizes com essa missão. Hitler Fett, do Departamento de Esportes da Independência, era um que torcia o nariz e praguejava quando lia seu nome na escala de trabalho. Nas transmissões, porém, sua fluência no improviso e a incrível capacidade de buscar na imaginação assuntos para preencher os intermináveis vazios faziam dele uma figura imprescindível – mesmo que, às vezes, deixasse que sua má vontade com a festa mostrasse a cara. Certo dia, abriu a transmissão do primeiro dia dos desfiles criticando as instalações destinadas à imprensa no palanque de madeira armado na Bernardino. Segundo ele, repetiamse os erros dos anos anteriores e, com isso, os profissionais do rádio não tinham sequer um pequeno apoio para acomodar suas coisas, como anotações, textos publicitários, maço de cigarros, copo d´água e o escambau. Então, um dos repórteres ao lado resolveu dar sua contribuição e observou que os erros não deveriam estar se repetindo, porque, afinal, a cidade tinha trocado de prefeito desde o Carnaval anterior. Bola pingando na área para o Hitler pegar de sem-pulo: — Pois é, mudou o prefeito, mas o carpinteiro é o mesmo...
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CORTINAS MUSICAIS
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esponda rápido: você conhece a música The Eyes of Texas, uma espécie de hino do Estado norte-americano? Certamente conhece, porque ela é utilizada ainda hoje como prefixo das transmissões esportivas da rádio Bandeirantes, de São Paulo. Se o amigo leitor se animou a assoviar ou cantarolar com um lá-lá-lá um trechinho da música, então está claro que se lembra da mais tradicional característica musical do rádio brasileiro, que indicava, nas tardes de domingo, a formação da “cadeia verde-amarela norte-sul do Brasil, sob o comando da rádio Bandeirantes de São Paulo, PRH-9, a mais popular emissora paulista”. Esse logoton clássico abria espaço para os integrantes do Scratch do Rádio. Aqui em Rio Preto, o prefixo mais famoso das transmissões esportivas foi utilizado durante muitos e muitos anos pela rádio Independência: uma versão instrumental em ritmo convenientemente lento do hit Yellow Submarine – aquele dos Beatles – em versão orquestrada e ornada de metais, possi-
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velmente interpretada por uma grande sinfônica. Era utilizado um compacto simples, selo da Apple, que já nem deve existir mais – o disquinho deve ter furado de tão utilizado. Os ouvintes certamente lembram-se da vinheta gravada por Hélio Ribeiro anunciando as jornadas esportivas logo após os primeiros acordes do Yellow Submarine: — Sob o comando de José de Alencar, em ação a equipe 12-60 de esportes... Outra preciosidade era o jingle de abertura do programa Matinal Esportiva, apresentado por Mário Luiz, Hitler Fett, Nelson Brandão, entre outros. Era uma musiquinha muito ritmada, uma quadrinha simples, que dizia mais ou menos o seguinte: Chegou a hora de saber quem é mais forte No esporte, no esporte... Quem é bom na bola, quem é bom na raquete Quem é bom no boxe, no vôlei e no basquete... Chegou a hora de ouvir o mais forte No esporte, no esporte.
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PACOTE
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ltair Marciano, um dos melhores sonoplastas na história do rádio em nossa região, praticamente não usa o seu nome verdadeiro. Ele é o Pacote, apelido que agregou à sua figura desde os anos 1970 e pelo qual se tornou conhecido entre os ouvintes da Difusora de Mirassol, da Independência de Rio Preto e da TV Record. Pacote estava no comando da central técnica da Difusora por volta de 1978, dia em que duas grandes estrelas da música sertaneja foram entrevistadas no estúdio da emissora pelo apresentador Osvaldo Etti: As Galvão, como são conhecidas as irmãs Mary e Marilene, criadoras de sucessos como Beijinho Doce e mais de 300 outras músicas. Depois de muito bate-papo sobre a carreira do duo e sobre as apresentações pela região, elas se despediram dos ouvintes e anunciaram que estariam, um pouco mais tarde, no programa do Álvaro dos Santos – o famoso Perturbado, outro nome de destaque no rádio regional: — Até daqui a pouco pessoal, no programa do Alucinado.
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E, na sequência, ao agradecerem o sonoplasta: — Obrigada também ao nosso amigo Embrulho pela maravilhosa assistência técnica prestada! Atos falhos, diria Freud.
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LÁGRIMAS DE CRISTO
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o começo, eram só os vizinhos. Em pequenos grupos, eles se aproximavam; alguns se ajoelhavam penitentes, todos rezavam. Mais tarde, começou a chegar gente de todo lado, de bairros próximos e cidades distantes, mulheres armadas com sombrinhas coloridas que as ajudavam a desafiar a inclemência do sol quente; homens trôpegos apoiados em suas bengalas; crianças algazarrentas atravessando a rua sem olhar, advertidas pelos berros das mães preocupadas. Nas semanas seguintes, esse estranho séquito já era uma pequena multidão e nela crescia a representatividade dos desvalidos – uma frota de cadeiras de rodas, muletas e bengalas, gente despejando sobre o gramado coisas como réplicas de braços e pernas feitos em cera, porta-retratos e fotografias de gente nova, gente velha, gente de todo grau de esperança. Estávamos no final dos anos 1960 e todas essas pessoas comprimiam-se no pequeno anel viário que une as ruas Alberto Sufredini e Fernão Dias, contornando a pracinha de onde se projeta, imponente, o monumento do Cristo Redentor, que abre
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os braços sobre Rio Preto a partir de seu privilegiado ponto de observação na Vila Maceno. Por algum tempo, o milagroso gotejar que caía de um dos braços da imagem reuniu crédulos e céticos ao redor de versões conflitantes: — São lágrimas de Cristo! — Chegaram a precisar os primeiros. — É sangue de Jesus! — Asseguravam outros, enxergando um improvável tom avermelhado nas gotas esbranquiçadas. — Isso é água de chuva que escorre por alguma rachadura! — houve quem quisesse raciocinar puramente sobre a lógica. Autoridades religiosas eram entrevistadas pelas emissoras de rádio e pelos jornais. “Nunca devemos subestimar a crença do povo”, diziam sem maiores comprometimentos. Porém, a romaria foi perdendo força quando a Prefeitura resolveu investigar o fenômeno e concluiu pela tese dos incrédulos: a água não era senão o resultado da prosaica infiltração da chuva por uma rachadura na cabeça no monumento que fluía para um pequeno compartimento em um dos braços, de onde gotejava para o rico imaginário dos fiéis rio-pretenses Dizem – sabe-se lá se é verdade – que os primeiros pingos haviam caído, meses antes, sobre a cabeça do então jovem radialista César Muanis, em uma noite em que ele aproveitava a mansidão da praça deserta para namorar aos pés do Cristo. Um pingo, dois pingos, três pingos depois... e César garantia que havia sido dele a ideia brilhante. No dia seguinte, ao iniciar seu programa pela Rádio Rio Preto PRB-8, revelou aos ouvintes que o Cristo Redentor estava vertendo gotas que poderiam ser lágrimas... E deu no que deu.
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O XERIFE QUE VEIO DE ARGUS
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á houve tempo, acredite, em que os programas policiais no rádio chegavam a ser espirituosamente engraçados pelos relatos do primeiro repórter especializado nessa área de cobertura em Rio Preto: J. Ravache. Nascido José Ravache de Camargo, em Piracicaba (SP), proclamava-se natural de uma pequena estrela da constelação de Argus, mas, muito mais do que um ET, parecia mesmo um personagem de John Wayne imune ao calor de 40 graus desta boca de sertão. Ele andava com chapéu de abas largas, terno escuro, colete, camisa branca mostrando os punhos adornados por abotoaduras douradas, gravata borboleta, corrente prateada pendendo do relógio de bolso, botas com o cano longo recoberto pela calça... Ah, é claro, e um reluzente Smith & Wesson recheando um coldre de couro preso a um cinturão no qual se enfileiravam as balas calibre 38. Não era bem um repórter policial; era mais um policial repórter, como o definiu, certa vez, Dinorath do Valle, tal a promiscuidade de suas relações com as fontes. No entanto, em
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uma época em que o grosso das notícias policiais tinha a ver com furtos de bicicleta, sumiço de animais e pequenos acidentes de trânsito, era capaz de brindar seus leitores e ouvintes com expressões do tipo: “afanaram a magrela”, “levaram o beiço-mole” e “foi só lata que amassou”. Costumava apartear as notícias que publicava com pequenos comentários que não eram exatamente um primor do politicamente correto: “bandido bom é bandido morto” foi um dos mais recorrentes. Encerrou a vida vivendo de recordações: do tempo em que chegou a Rio Preto para gerenciar o restaurante do Automóvel Clube e era conhecido pela proverbial elegância com que desfilava roupas caríssimas, lembradas pelo detalhe das abotoaduras de ouro maciço; ou, já repórter policial, do grande feito de sua carreira, que foi o esclarecimento de um crime que havia chocado a cidade em agosto de 1963. A polícia ainda procurava pistas sobre o assassinato do radialista Zacarias Fernandes do Vale, e Ravache presenteou seus leitores com uma entrevista em que o autor confessava o crime: um conhecido professor, motivado pelo envolvimento da vítima com uma filha, moçoila. A longa amizade de Ravache com os delegados lhe valeu a permissão para morar de favor em um quartinho dos fundos do 1º DP. Ali escondeu todas as particularidades de sua vida (dizem que tinha uma filha, não se sabe se é verdade) e dali pôde assistir a plácida evolução da teia de violência e brutalidade que, aos poucos, começava a enredar a cidade onde morreu, nos anos 1980, antes de ser obrigado a registrar crimes como os fatos que já se tornaram uma triste rotina e que se sucedem a um ritmo frenético de um assassinato por semana, ou algo parecido. Onde quer que esteja, em Argus, dever preferir o tempo em que a cidade preocupava-se com os furtos das magrelas e dos beiços-moles... Mas ainda deve brilhar como uma estrela. De xerife.
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O AMIGO DO BEM-TE-VI
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anto Beluci já passou dos 60 anos de carreira no rádio, mas até hoje a mesma espontaneidade transpira em todas as suas falas nos programas que apresenta, ajudando-o a compor um estilo único, inconfundível, recheado de matutice e temperado com a desconfiança e a timidez tão próprias de todos nós, os caipiras. Pertence à geração dos modernos comunicadores ditos “sertanejos”, sendo o sucessor de uma estirpe em que pontificaram nomes como Cuiabano, Véio Tatau, Silveira Coelho e alguns outros com quem convive e ainda vive disputando audiência. Ajudou a levar a música sertaneja para a FM e introduziu os hilários “diálogos” com frases de pessoas reais, pinçadas de trechos de entrevistas normalmente concedidas aos repórteres policiais da Independência, como esta fala pronunciada em tom choroso por um marido abandonado que se queixou na polícia das desfeitas da amada: — Foi uma maldade que ela me praticou. Eu já nem tô me alimentando direito.
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Porém, nada é tão marcante quanto a ideia de convocar o bem-te-vi para anunciar a hora certa. O cuco eletrônico criado por Santo é do tempo em que seu programa ainda se chamava Os Verdes Campos da Minha Terra, mais uma reverência do comunicador à natureza exuberante da região onde nasceu e começou a trabalhar como operador de som (na Difusora de Mirassol), como concessionário de horários sertanejos (em Monte Aprazível - SP - e na antiga Piratininga de Rio Preto) e finalmente como titular de programas líderes de audiência (na Independência e na FM Diário, da qual saiu depois de 20 anos). Nos anos 1980, convidado a integrar a equipe da Independência, foi recebido na emissora com status de celebridade, merecedor de chamadas na programação e até de anúncio nos jornais. Porém, a proverbial pressa com que o anúncio foi criado ajudou a produzir uma das pérolas da publicidade rio-pretense, como lembrou certa vez o publicitário José Roberto Delalibera, então envolvido com a criação. Mesmo depois de revisado e aprovado pelo cliente, o anúncio foi publicado com um ligeiro deslize, digamos, ornitológico no título: — Programa Santo Beluci, onde canta o sabiá! O bem-te-vi nem ligou.
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ROBERTO TOLEDO, RADIALISTA NATO
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oberto Toledo é um pensador e grande leitor, e essa habilidade crítica foi aprimorada por ele no decorrer dos anos, sendo incorporada nos seus trabalhos, seja no jornal impresso disfarçadamente entre notinhas sociais de almoços e jantares, ou no alto de sua página, ou no finzinho do seu programa radiofônico. Ele não começa nem termina nada sem uma pitada filosófica. Pode ser uma sacada espirituosa, como esta do dia 3 de junho de 2021: “Preciso de inimigos novos; os antigos estão começando a gostar de mim.” Ele vivencia uma espiritualidade forte, com uma religiosidade profunda, e sua fé explica muito dos seus gestos e dos seus votos (tem devoção autêntica por Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira nacional), como vestir-se de branco total toda sexta-feira, ou pelo menos com uma camisa branca. “Um dia, eu me vesti assim para atrair pensamentos de paz e me senti bem. Ninguém me sugeriu, foi uma ideia minha que gosto de seguir até hoje”, disse. E lá se vão umas quatro décadas dessa tradição.
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Roberto Toledo no início de sua carreira como radialista
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Roberto Toledo no estúdio da rádio Independência
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Roberto Toledo no estúdio da rádio Interativa
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Ele é a encarnação do otimismo, mesmo que tenha nascido e vivido em um ambiente de competição aberta como o rádio. Em todos os segmentos em que transita, atende favores e recebe pedidos, sempre se saindo com elegância. Uma caminhada no Calçadão de Rio Preto no fim da tarde basta para ser chamado por todos os lados, mesmo estando de máscara em tempos de pandemia. É de uma popularidade incontestável. Conecta-se com facilidade com o público jovem, sendo uma força de espírito e culto à juventude. Tem-se até a impressão de que ele se recusa a envelhecer, mantendo o mesmo físico enxuto da juventude, o mesmo corte jovial do cabelo liso que insiste em cair como franja na testa e sua predileção por mocassins; é um homem deveras elegante. Nem precisamos dizer que é um homem bonito, pois as fotografias falam por si. Fisicamente é aquinhoado pela natureza com instigantes olhos verdes e profundos e um porte físico sem gordurinhas ou pneus... Tudo simétrico e combinando. Além disso, espalha um padrão de felicidade familiar verdadeira e agradável de se ver, ao lado da esposa Valéria, sempre loira e linda, dos filhos, das noras e dos netos. Ao longo de sua vida, Toledo escreveu um novo capítulo na história do rádio, personificando a essência desse meio, tanta a sua paixão e desenvoltura no microfone. Há inúmeros adjetivos que se encaixam nele: entusiasmante, impulsionador, influenciador, guia, mentor, luz dos caminhos etc. Extraímos do livro de autoria de Paulo Serra Martins um trecho que remete aos primórdios da sua carreira: “Antes de ingressar no rádio, Toledo trabalhou em teatro. Mas sua grande paixão era o microfone e sonhava um dia poder tornar-se radialista. Dona Ione (a mãe), sabendo do desejo do filho, resolveu pedir ao radialista Araújo Neto (que sempre passava pela rua Saldanha Marinho) que o levasse até a PRB-8 para um teste. Isso aconteceu em 1964. Roberto Toledo fez o teste de manhã e, no período da tarde do mesmo dia, foi chamado pela direção da emissora. A partir daí, passou a fazer rádio aos domingos, na apresentação do trio sertanejo Firmino, Fidên170
Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Em 1964, o radialista Araújo Neto foi quem levou Roberto Toledo para fazer um teste na PRB-8
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
cio e Geraldinho, e locução no Clube da Cirandinha, apresentado por César Muanis.” (Livro Nas Ondas da B-8 – A História do Rádio em São José do Rio Preto, de autoria de Paulo Serra Martins e publicado pela editora THS). A partir disso, foi um pulo para apresentar programas esportivos e fazer novelas e locução comercial na PRB-8.
Logo que entrou na PRB-8, Roberto Toledo começou a trabalhar na apresentação do trio sertanejo Firmino, Fidêncio e Geraldinho
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PERFIL
Nascimento: Rio Preto. Quando: 12 de dezembro de 1945. Pais: José Santana Braga e Ione Maria de Toledo. Escola que frequentou: Escola de Comércio Dom Pedro II, curso técnico em contabilidade. Formação: graduado em Administração de Empresas (UNIRP, Rio Preto); cursos de formação em Comunicação e Cerimonial; curso de rádio no Senac. Rádios: atuou como radialista nas emissoras PRB-8 e Cultura (1964-1967); Rádio Independência (1967-1970); diretor artístico da Independência (1973-1994); diretor da Anchieta (1970-1973); e diretor da Metrópole (1994-1999). Foi sócio da rádio Metrópole com o empresário Marco Antônio dos Santos e teve programas na Brasil Novo e Onda Nova. Profissões: radialista, jornalista, professor de comunicação, cerimonialista, assessor político, ex-vereador, apresentador de TV, palestrante. Primeiro emprego: Casa Pizzanti, de armarinhos.
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Roberto Toledo na Casa Pizzanti, local de seu primeiro emprego
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Primeiro em quase tudo: foi o primeiro a falar em emissora FM na cidade; fez o primeiro noticiário da antiga TV Globo Noroeste Paulista em conjunto com Carlos Nascimento; primeiro cerimonialista a apresentar um evento de formatura na Fadir (hoje UNIRP), que por sua vez é a primeira faculdade de Direito da cidade, fundada em 1953. Bingo na TV: primeiro a apresentar programa televisivo de bingo na TV (houve um intervalo de anos para a legalização do jogo, e, quando ocorreu, Toledo foi recontratado, estando presente até hoje em todo santo domingo). As transmissões eram geradas de várias cidades do Estado e algumas do sul brasileiro (Curitiba etc.), e sua renda era revertida para o Hospital do Câncer de Barretos. Vai ao ar todo domingo para a região na TV Record. Personagens que criou no rádio: Lady X; Velho Ranzinza; Vovó Naná; Secretária Eletrônica. Programas que criou no rádio: Som do Soçaite; Roberto Toledo Entre Amigos; Show do Roberto (jornalismo e variedades), entre outros. Na TV: apresentador da TV Globo Noroeste Paulista e da TV Record Rio Preto. Defensor de Rio Preto no programa Cidade Contra Cidade, comandado por Silvio Santos, em 1969 e em 1977; diretor da TV Rio Preto (canal comunitário a cabo) atualmente. Política: foi vereador em duas legislaturas (1992 e 1997); vicepresidente da Câmara (1995); secretário municipal de Turismo e Cerimonial (1998); autor da lei que regulamentou as normas do cerimonial público do município. Na Câmara: editou em 1999 o livro Questão de Ordem, porque a Câmara não tinha um regramento sobre isso, contando com a parceria do consultor Rodrigo Segantini, que fez a edição (“Rodrigo é meu guru”, diz Roberto). O livro tem conselhos, dicas, sugestões, modelos de convites, agradecimentos, regras de etiqueta e os perigos de um mailing desatualizado. Colunista social: nos jornais Folha de Rio Preto (19701990 e 1997-2005); Bom Dia, desde o lançamento do jornal em 176
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Livro Questão de Ordem, publicado por Roberto Toledo em 1999
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Escala de programação de um feriado de 7 de setembro
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Script de uma das edições do programa O Som do Soçaite, apresentado por Roberto Toledo na rádio Independência
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2005; Rio Preto News (1996); A Notícia (1990-1996); Diário da Região. Atualmente publica sua coluna no jornal DHoje. Outros cargos: diretor de comunicação da Associação Comercial e Empresarial (ACIRP); diretor-executivo da TV da Cidade/ Canal 16; assessor de imprensa; e professor da UNORP desde 2001. Autor de: disco – O Poder da Fé, com mensagens de otimismo (1990 e 1999 em CD); livros – Álbum de Simpatias, Simpatias: As 200 melhores simpatias do programa Roberto Toledo entre Amigos (para incrementar os programas e pegar ideias, Valéria Toledo acordava às 6h da manhã para sintonizar uma rádio carioca que tinha um quadro com muitas dicas de simpatia) e Dicas da Secretária Eletrônica (com sugestões para manter o cabelo brilhante, como tirar a poeira de livros e outras soluções caseiras, com utilidades do lar).
Capa do CD O Poder da Fé
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Reprodução
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Capa do livro Álbum de Simpatias
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Capa do livro Simpatias: As 200 melhores simpatias do programa Roberto Toledo entre Amigos
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Capa do livro Dicas da Secretária Eletrônica
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A voz: é seu grande patrimônio e dom. Não fuma, não bebe e nunca fez tratamentos específicos para a voz. Família: casado com Valéria Toledo desde 1973; pai de Marcus Vinicius (Vavá) e Leandro; e avô de Beatriz, Gabriel e Melissa. Maior momento da carreira: participação de Rio Preto na TV Tupi, programa Cidade contra Cidade. Ele foi o defensor de Rio Preto. “Foi a maior consagração da minha carreira!”. Valéria: é a grande sacada da vida de Toledo, visto que sem ela o caminho seria mais espinhoso, com menos resultados. É incrível, mas Valéria lê os pensamentos do marido. Conheceram-se em um baile de Carnaval do Automóvel Clube e foi paixão à primeira, segunda, terceira vista por aquela loira bronzeada lindíssima, descolada e elegante. É de uma solicitude sábia: o que Roberto pede (ou precisa) ela já tem na mão para entregar. Respeita e incentiva a religiosidade do marido, que não sai de casa sem rezar. Todo ano ela o presenteia com uma imagem de Nossa Senhora na data de seu aniversário, e, como resultado, ele tem um nicho com mais de cem imagens de Nossa Senhora de várias denominações religiosas; ele reza para todas. Vozes mais bonitas de Rio Preto em sua opinião: dos radialistas falecidos Adib Muanis e Petrônio de Ávila, que morreu precocemente de acidente. “O Adib foi meu mestre do improviso.” Momentos do rádio: apresentou dois presidentes da República, os dois últimos militares. Apresentador da rádio Anchieta com João Roberto Curti (falecido). Carnaval de rua, desfile de Sete de Setembro, réveillon, inaugurações, eventos municipais, entre outros, eram transmitidos por ele, principalmente na época da rádio Independência, uma emissora que mexia com o ritmo da cidade. A relação rádio/ouvinte: Toledo diz: “O rádio não deixou de ser carinhoso e atencioso para com o ouvinte; isso ainda existe. E é dessa forma que eu procedo, pois procurei ao longo da minha vida modificar minha linguagem de acordo com os tempos. Sempre estudei a minha linguagem com o 186
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povo, acompanhando as mudanças nos tratamentos verbais e pessoais que ocorrem ao longo dos anos. Quem não muda acaba desacompanhando essa evolução e com isso perde a sua audiência, pois acaba não sendo do meio, já que não responde ao que o meio exige”. Seu dia: acorda cedo, reza e vai para a rádio depois de passar por uma banca e comprar cinco jornais diferentes, que destrincha antes de entrar no ar. Escolhe as manchetes e as lê no ar para dar um clima. Ao longo do programa, vai comentando as notícias e ligando-as com fatos do cotidiano. A emissora em que apresenta seu programa pertence à Diocese de Rio Preto e tem uma programação variada. “Começou com 300 watts de potência e hoje tem 2.800; é uma grande emissora”, diz. Depois das cinco horas da tarde, ele caminha no centro da cidade, de máscara como exige o protocolo sanitário, e mesmo assim é reconhecido. A vida valeu a pena?: “E como, meu Deus! Não precisei sair daqui para ser o melhor. Venci na minha cidade! Não vai ter mais radialista como eu, vou ser o último dos moicanos, pois aquele rádio não volta mais. Agora é uma moçada que faz tudo diferente, e, aos poucos, o rádio vai virar TV. Meu amigo Tremura mora nos Estados Unidos e conta que não se pode mais fazer rádio se não tiver imagem. Veja se não valeu a pena: comecei em uma rádio simples e pequena, com alcance só para Rio Preto, e agora trabalho em uma época em que o rádio vai para o mundo inteiro, tal seu alcance”, finaliza.
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VALÉRIA: O AMOR CONSTRÓI MESMO!
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aléria Saletti era uma das moças mais bonitas da cidade nos anos 1960/1970, quando as garotas usavam vasta franja (de preferência loura), saias curtas e olhos bem maquiados e negros. Linda assim e simpática demais, foi se apaixonar justamente por Roberto Toledo, que não ficava atrás em matéria de beleza. Era um homem muito requisitado pelo sexo oposto, mas tinha sido reservado para ela. Durante meses, ela o assediou misteriosamente por telefone, sem se revelar. Então, em certo baile de Carnaval no Monte Líbano (ele foi apresentar as atrações do baile), ela combinou que o conheceria naquela noite, mas a revelação estava demorando, as horas corriam, o evento estava acabando, as rainhas e princesas de Momo já haviam sido escolhidas... E ela ali perto sem se identificar, mesmo sabendo que ambos já estavam apaixonados. Até que ela despejou nele um saco de confete para quebrar o gelo. Hoje essa brincadeira de amor, paixão, mistérios e namoro já está fazendo bodas de ouro (48 anos), com dois lindos meninos, Vavá e Leandro, além de três netos.
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“Tivemos um namoro tranquilo de quatro anos, sem brigas, e mais dois de noivado,” diz Toledo. “O casamento aconteceu no dia 27 de janeiro de 1973. Depois do banho de confete que me agarrou, casamos sob as bênçãos do padre Domingos, ex-gerente da Anchieta, que depois deixou a batina para se casar e lecionar. Homem cultíssimo, era versado em várias línguas”, completa. O casal combinava em tudo, principalmente no planejamento de filhos (de quatro em quatro anos). “A gente passou uns apertos no começo da vida de casado, mas fomos muitos felizes e reformamos nossa casa devagarinho no Jardim Roseiral. Foi nessa ocasião que participamos do programa do Silvio Santos, e a partir de então muita coisa aconteceu. Cresci muito na profissão depois desse programa. Valéria me acompanhou em muitas viagens para o programa, já que ela tinha muita extroversão e conquistava o público também. Quando ela não compareceu porque um dos meninos estava doente, Silvio Santos chegou a ligar em casa para saber como estavam as coisas. Era uma correria, eu ia e voltava de trem-leito. Foi nessa ocasião de correria que lancei a Secretária Eletrônica no ar; montei estúdio em casa e o personagem estourou. Tempos depois, substituí a secretária por outro personagem mais misterioso, mais instigante, a Lady X. Com uma música de abertura e mistério no ar, ela apresentava comentários, notícias e variedades, sempre assuntos da atualidade. O programa Roberto Toledo Entre Amigos cresceu muito com a participação de Lady X. Ela sabia fazer suspense, mas também dava alguns spoilers quando contava o final das novelas... Claro que tudo bem dosado, para segurar o ouvinte. O personagem durou até a venda da Independência em 1995 para um empresário de Catanduva (SP), dono da concessão da Estação Rodoviária. Dirigi a emissora por alguns meses, mas tive que me desligar. Ficou um vazio da Lady X. No entanto, hoje no meu programa da Interativa ela opina sobre o conteúdo, dá ideias, chega a me ligar durante o horário para me dar 190
Acervo Pessoal/Roberto Toledo
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Roberto Toledo e a esposa Valéria
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uns toques oportunos e faz uma análise crítica leve, com dicas de postura. Quarenta e oito anos de casados! Vivemos muito bem, ela sempre companheira, meu grande amor. Ela me ajuda e cuida de mim, e eu nunca deixo de levá-la para onde vou. Vivemos grandes emoções, e ela sempre esteve comigo nos bastidores, uma vida completamente gêmea”, conta Toledo. Essa é a história pessoal gratificante de um homem que amou o rádio, engrandeceu sua cidade no cenário nacional, teve tempo de casar-se com a mulher da sua vida e, décadas depois, continua com o mesmo pique juvenil e a mesma empolgação. Um homem que o rádio consagrou para sempre.
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CIDADE CONTRA CIDADE: RIO PRETO GANHA SETE AMBULÂNCIAS
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orria o ano de 1969. A pacata Rio Preto vivia sua vidinha tranquila e nem imaginava o que viria a seguir. Certo dia, Roberto Toledo chegou em casa de seu trabalho na Independência, já deslanchando na carreira. Sua avó Maria Jorge de Lima (cega de um olho) contou a novidade: “Estão inscrevendo caravanas de cidades para competir no Silvio Santos. A cidade que ganhar leva uma ambulância para a Santa Casa. Por que você não se inscreve?” Ele achou um absurdo pensar que Rio Preto conseguiria alguma coisa com o poderoso Silvio Santos, que já caminhava para se tornar um fenômeno de comunicação. Era sonhar muito alto! No entanto, depois de uma noite insone, fez a carta de inscrição, a cidade foi incluída na competição e lá foi a turma competir na Capital. A cidade adversária era Uberaba (MG), que tinha levado até o orador espírita Chico Xavier em uma das provas. Concorrente invencível. Quase. Claro que Uberaba ganhou a parada, e a equipe perdedora voltou cabisbaixa e inconformada para casa. Insatisfeitos, os participantes analisaram o programa e descobriram um item
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que não podia tirar a vitória de Rio Preto. Reuniram-se, então, sob a liderança de Roberto Toledo e convenceram o médico Wilson Romano Calil, que se destacava pelo acervo de conhecimentos, um homem culto que arrasava na oratória. Toledo tanto insistiu em nova inscrição, apresentando uma argumentação tão convincente e verdadeira, que deu certo. Resultado: o apresentador deu nova chance e a equipe compareceu ao auditório da Tupi, no Sumaré, sete vezes seguidas, devidamente garantida pela presença e pelo jogo de cintura de Calil. Assim, trouxe para casa sete ambulâncias zero quilômetro para doação. “A partir daí, minha carreira cresceu, fiquei mais conhecido e meus caminhos se abriram”, revela Toledo. A primeira participação foi em 1969, enquanto a segunda, que teve premiações em sete programas seguidos, foi em 1977. Nessas datas, a cidade viveu um mix de dias eufóricos e apreensivos, mas felizes.
Homero Salles, o homem da TV Rio Preto Homero conta a luta dos rio-pretenses que resultou em sete vitórias para a cidade. Ele trabalhava na TV Rio Preto e fazia um programa com o mineiro José Augusto inspirado no Cidade Contra Cidade do Sílvio Santos, o Cidade Frente a Frente. A participação dele e de Celso Lui, ambos de Rio Preto, foi tão valorizada por Silvio Santos que ele os segurou na Capital, com emprego no SBT. Ambos são aposentados hoje. Veja o depoimento de Homero para o site Tudo Sobre Tevê, na seção Depoimentos de Pessoas que Fazem a História da TV: “Criamos uma comissão em Rio Preto para representar a cidade, eram pessoas gabaritadas: o diretor de teatro Odair de Faria; Humberto Sinibaldi, que era dono de distribuidora de bebidas; pessoas ligadas à coreografia; enfim, foi criada uma comissão bem heterogênea para promover Rio Preto perante o Cidade Contra Cidade, que era o programa de maior sucesso do Sílvio, exibido pela Tupi e pela Record. O teatro onde íamos gravar era o Teatro Manoel de Nóbrega, na rua Cotoxó, no bairro Pompéia. 194
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Eu fazia parte da comissão, encarregado do quadro Curiosidades de Rio Preto. Ajudava com todos os outros quadros, mas esse era de minha responsabilidade. A semana inteira trabalhávamos em cima dos projetos. O prefeito, que era o Adail Vetorazzo, mandou uma carta para liberar as pessoas do trabalho para que elas pudessem se dedicar às tarefas dos programas em prol da cidade. Eu era gerente de uma empresa de tratores e foi uma carta para a empresa pedindo a minha liberação e tudo mais. Aí fomos para São Paulo e começamos a vencer.”.
Rio Preto bate um recorde inédito “Vencemos a primeira, a segunda, a terceira e começamos a abrir os olhos da produção... Vencemos a quarta. Vencemos a quinta, a sexta... e a sétima. Rio Preto venceu sete vezes consecutivas no programa. E o Sílvio Santos ficava deslumbrado, porque a cidade chegava com os quadros prontos. O Sílvio não era patrão de ninguém, então falava-se com ele do jeito que quisesse. No meu quadro, que era de curiosidades, eu tive embates incríveis com o Sílvio de falar deste jeito: ‘Você vai fazer desse jeito, porque senão vou perder o ponto... Como você é o apresentador, você vai fazer como eu bolei o quadro’. Ele não era o meu patrão, ele era o apresentador de um programa, então eu podia falar desse jeito com ele. Teve algumas coisas engraçadas no meio. Teve um dia que ele me expulsou do teatro porque, nas curiosidades, eu trouxe vários vegetais, milho embrulhadinho um a um, quiabo de sete metros, mamão grávido com mamãozinho dentro; juntei um monte de coisas pela rádio, juntei tudo isso, só que falei que era de um cientista maluco lá de Rio Preto que estava fazendo experiência genética. Quando ele descobriu que não era, me colocou para fora: ‘Seu moço mentiroso...’. Ele começou a prestar atenção em algumas pessoas de Rio Preto. Quando Rio Preto encerrou, um dia tinha que 195
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perder, tínhamos ganhado sete ambulâncias para a cidade, não tinha doente suficiente para tanta ambulância que a gente ganhou do Sílvio Santos, não tinha mais estacionamento. Quando foi a sétima vez, fui me despedir dele. ‘Mas como é o seu nome mesmo?’; ‘O meu nome é Homero.’; ‘O que você faz mesmo?’; ‘Sou gerente de uma firma de tratores.’; ‘Ah tá bom... tchau, tchau.’ Uma semana depois recebi convite do Sílvio para vir trabalhar com ele. O convite era para mim e para Celso Lui, irmão de um colunista social de Rio Preto. Aí viemos, eu e o Celsinho com a cara e a coragem.”, relembra.
Momentos delirantes O rio-pretense Celso Lui, autor e roteirista do SBT São Paulo, é irmão do jornalista e colunista social Waldner Lui, conhecido pela excelência do seu texto e promoção de eventos sociais em Rio Preto. Celso Lui estava lá. No Cidade Contra Cidade! E como Silvio Santos tem olho clínico para talentos, não deixou-o voltar para Rio Preto depois de finalizada a participação, contratando-o para a produção dos seus programas. E ele ficou nos estúdios paulistanos, aposentando-se no SBT em 2014. Portanto, se Silvio Santos tem uma programação considerada entre as melhores do mundo (com cotação inclusive no Guinness Book), um bocado desse mérito cabe sem dúvida a um rio-pretense. Celso Lui conta como foi: “Antes de recordar os bons momentos vividos no Cidade Contra Cidade, vale citar que o programa foi criado por Neimar de Barros, para aumentar a venda dos carnês do Baú da Felicidade pelo interior do Estado de São Paulo. Este programa já havia sido apresentado nas noites de quarta-feira na TV Tupi, inclusive com a participação de Rio Preto. Quando, nessa época, a cidade foi desclassificada, o programa abriu espaço para a defesa dos nossos pontos de vista, feita brilhantemente pelo Dr. Wilson Romano Calil. 196
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Muito bem, isto posto, vamos rememorar um pouco dessa atração, na versão global, que tinha o Roberto Toledo como apresentador da cidade. Silvio, de cara gostou do Bob, pela sua bela voz e bela figura, e queria levá-lo para seus quadros. E que, para alegria de seus fãs rio-pretenses, ele não topou. Em Rio Preto, o clube Sírio-Brasileiro cedeu sua sede na Voluntários de São Paulo, para que a comissão organizadora fizesse suas reuniões de pauta e a equipe do Quadro Artístico realizasse seus ensaios comandados por Humberto Sinibaldi. Eu estava nessa equipe, como ator, e me lembro de passar madrugadas inteiras ensaiando. E me divertindo, claro. Fizemos quadros memoráveis como O Barbeiro de Sevilha, Dançando na Chuva e muitos outros. Para quem não sabe, cada quadro do programa valia um ponto na avaliação de um corpo de jurados, com exceção do quadro final que valia cinco pontos, e podia reverter o placar. No quadro final, chamado de Intelectual da Cidade, dois participantes respondiam a cinco perguntas de Conhecimentos Gerais, e cada resposta certa valia um ponto. No início, estávamos muito bem representados por um professor universitário, cujo nome me ‘escapa’ no momento. Mas, que por um problema de saúde, precisou sair de cena. Um belo dia, chega ao local em que ensaiávamos as criações de Sinibaldi um produtor do programa vindo de São Paulo (Luiz Mendes, com quem mais tarde trabalhei no Programa Silvio Santos) perguntando por mim. Ele disse que eu havia sido indicado para substituir o professor universitário no quadro final. E foi me fazendo uma porção de perguntas que havia levado escritas num caderno. De ‘qual é a moeda da Bolívia’ à ‘qual é a capital da Suécia’ tinha de tudo. Acertei todas e ele me escalou na hora como participante ‘intelectual’. Era muita responsabilidade, pois dependendo do andamento do programa, a vitória ou derrota da cidade estaria nas minhas mãos. Continuei fazendo a minha participação como ator e voltava no quadro final para encarar Silvio Santos com suas perguntas. Participei de alguns programas, vencendo sempre. 197
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A cada resposta errada, pelo regulamento, o participante tinha cinco segundos para se corrigir. Num belo dia, Silvio dispara: ‘Qual peça do xadrez o jogador deita no tabuleiro ao levar um xeque-mate?’ Na hora deu branco e eu respondi que era o Rei. O apresentador pediu então que eu refizesse a resposta em cinco segundos. Neste curto espaço de tempo, para não errar, falei de Rainha a Peão, todas as peças do jogo. Ele teve de considerar certa a resposta. A partir desse dia o regulamento foi mudado, e só valia a primeira resposta dada. No final do programa, um dos produtores disse que o Silvio me chamava ao camarim. Fui temendo levar uma bronca. Mas ele só queria me propor um contrato de trabalho. Disse a ele que me interessava, mas só quando a cidade terminasse sua participação no programa. O resto é história. Passei a roteirizar o Cidade Contra Cidade, e o Domingo no Parque, que abria nas manhãs de domingo o Programa Silvio Santos. Depois de muitas idas e vindas, e passagens por várias emissoras, aposentei-me no SBT em 2014. Mas nunca esquecerei os momentos delirantes que foram participar ao lado de Roberto Toledo, Humberto Sinibaldi, Homero Salles (que também foi contratado pelo Silvio) e muitos outros que faziam parte da organização da equipe de Rio Preto. No palco do programa, um teatro alugado pelo Silvio Santos na Rua Cotoxó, no Sumaré, Roberto Toledo fazia a apresentação de cada quadro a ser exibido, com o brilhantismo de sempre, o que dava a toda a equipe nos bastidores a confiança necessária para executarmos tudo como havia sido ensaiado, e combinado. Nós nos saímos muito bem, e trouxemos várias ambulâncias para a cidade, que era o prêmio oferecido a cada programa.”.
“A cidade pirava” O diretor teatral e empresário Humberto Sinibaldi Neto, de família de ascendência italiana com grande contribuição 198
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para a história da cidade, era um dos integrantes da comitiva rio-pretense. “A cidade pirava com o programa, ajudava na produção das provas e torcia pela vitória e harmonia do grupo. De forte liderança, Roberto Toledo era o apresentador e levava o programa na maior tranquilidade. Entrava no palco e arrebentava! A gente fazia muita sátira nas produções e provas incríveis e isso despertava interesse nas pessoas. Em uma ocasião, a prova era levar o Sidney Magal (ou um sósia) ao programa. Não é que encontramos um sósia no último minuto e nem deu tempo de comprar aqueles adereços espalhafatosos que o verdadeiro Magal utilizava? Deram-nos então permissão para fazer compras em São Paulo e foi a nossa salvação. Eram provas difíceis, mas caminhávamos de semana em semana, cumprindo todas as tarefas solicitadas, até fazer essa conquista para a cidade. Roberto Toledo, seu primo Murilo e Homero Salles eram responsáveis por toda a documentação, o que era muito trabalhoso. O programa exigia que todos os participantes fossem rio-pretenses natos. A gente conseguiu diversão, entretenimento para Rio Preto e ainda sete veículos pelas sete semanas de programa. Porém, a equipe da produção achou que a presença repetida de Rio Preto estava desinteressando o público, e assim terminou nossa participação. Poucas vezes vimos tanta união, tanta amizade e tanto comprometimento quanto nesse período de participação. Muitas coisas positivas aconteceram, amizades foram firmadas. E, diante da capacidade de Celso Lui e de Homero Salles, ambos foram contratados por Silvio Santos e trabalharam a vida toda no SBT. Homero Salles foi o braço direito de Gugu Liberato.”.
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Roberto Toledo junto com as cartas que foram enviadas para a participação no programa Cidade Contra Cidade apresentado por Silvio Santos na extinta TV Tupi
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Representantes de Rio Preto embarcam para a TV Tupi para participar do programa Cidade Contra Cidade
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Silvio Santos (centro) e Roberto Toledo (à direita) durante a gravação do programa Cidade Contra Cidade, no qual Rio Preto enfrentava Araraquara (SP)
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Acervo Pessoal/Roberto Toledo
CECILIA DEMIAN
Participação de Wilson Romano Calil no programa Cidade Contra Cidade
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Acervo Pessoal/Roberto Toledo
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
Roberto Toledo defendeu brilhantemente Rio Preto no programa Cidade Contra Cidade
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NA POLÍTICA
D
iz Roberto Toledo: “Com o prestígio do rádio e pós-apresentador da Globo, ao deixar a emissora de TV da família Marinho, resolvi pela popularidade e pelos incentivos de todos os partidos e líderes políticos da cidade aceitar um convite feito há muitos anos antes por Wilson Romano Calil (o primeiro a me convidar para entrar na vida pública). Na primeira vez que ele fez o convite, recusei, porque nunca havia me passado pela cabeça tal enfrentamento e muito menos entender do assunto. O segundo amigo que me convidou para também disputar a vereança, pela amizade de irmão que tínhamos, foi o médico dermatologista José Raimundo Veneziano, quando ele foi candidato a vice de Adail Vetorazzo. Ele já era vereador na época. Também não topei. Porém, depois de um amadurecimento e uma força sobre o prestígio como comunicador (fui apresentador da Globo e depois de quatro anos deixei a emissora por estafa no trabalho), e recuperado de uma forte depressão, resolvi tentar. Dessa forma, disputei o pleito de 1992 e venci pelo PMDB. Venci e cumpri o meu papel. Depois de vitorioso na primeira
Acervo Pessoal/ Roberto Toledo
CECILIA DEMIAN
Roberto Toledo discursa na tribuna da Câmara Municipal de Rio Preto durante mandato como vereador
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tentativa, resolvi disputar o pleito de 1996 já tendo como candidato a prefeito Liberato Caboclo. Venci de novo, mas comecei a sentir que não era o que eu queria. Fui secretário municipal de Eventos e Cerimonial e cumpri o meu papel apresentando a maioria dos eventos de Liberato. Cheguei até a ser o coordenador do Carnaval em 1998 ou 1999. Assumi a Secretaria de Turismo e tive a coragem de trazer, com a ajuda do secretário da Agricultura Faiçal Calil e o apoio do prefeito Liberato, um show internacional no Centro de Eventos. Assim, coordenei o Show de Julio Iglesias, exatamente em um dia 21 de abril (Dia do Índio), trazido pelo empresário Dedé Messici. Aqui é interessante dizer que, como o Centro de Eventos não tinha regulamento para funcionar direitinho, fui a São Paulo e trouxe o regulamento do Ibirapuera, e é baseado nele que hoje funciona o Centro de Eventos de Rio Preto. Para terminar, no fim do meu mandato, fui para o PFL a convite de Rodrigo Garcia e Gilberto Kassab. Em 1999, quando tivemos as convenções para a disputa das eleições a prefeito, com o desejo de deixar a vereança, Kassab e Rodrigo, ao apoiarem a candidatura de Manoel Antunes contra Edinho Araújo, decidiram me convidar para ser o vice do professor. Ao perder, concluí o meu desejo de deixar a política como candidato, mas até hoje sigo os passos do vice-governador Rodrigo Garcia, grande parte por nossa relação de amizade e confiança, mas, acima de tudo, pela fidelidade de amigos que se unem para não se separarem jamais.”.
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NOMES QUE PASSARAM PELA CARREIRA DE ROBERTO TOLEDO
ARTISTAS Agnaldo Rayol; Agnaldo Timóteo; Alcione; Alexandre Pires; Altemar Dutra; Angela Ro; Benito di Paula; Cauby Peixoto; Chitãozinho e Xororó; Clara Nunes; Daniel; Eduardo Araújo; Edith Veiga; Elimar Santos; Elis Regina; Elizete Cardoso; Fábio Júnior; Fafá de Belém; Gal Costa; Glória Menezes; Golden Boys; Gonzaguinha; Jair Rodrigues; Jessé; Jerry Adriani; Julio Iglesias; Luiz Américo; Malcon Roberts; Manolo Otero; Marina; Maysa; Michel Teló; Moacir Franco; Nelson Gonçalves; Nelson Ned; Peri Ribeiro; Reginaldo Rossi; Rita Lee; Roberto Carlos; Roberto Leal; Roberto Yanés; Silvio Caldas; Simone; Tarcísio Meira; The Platters; The Fevers; Tito Madi; Trio Irakitan; Wanderléa; Wanderley Cardoso; Wilson Miranda; e Wilson Simonal.
Acervo Pessoal/Roberto Toledo
CECILIA DEMIAN
Roberto Toledo e Julio Iglesias em abril de 1998
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Roberto Toledo e Cauby Peixoto
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Roberto Toledo e a dupla Chitãozinho e Xororó
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Roberto Toledo e Daniel
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Roberto Toledo e Jessé
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Roberto Toledo, sua esposa Valéria Toledo e Agnaldo Rayol
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Roberto Toledo e Jerry Adriani
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Roberto Toledo ao lado de Chacrinha e Rita Cadillac
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Roberto Toledo e Roberto Carlos
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IDOLOS DO RÁDIO Alexandre Ismael (Macedo); Antonio Carlos (da rádio Globo e, hoje, Tupi do Rio de Janeiro); Antonio Carlos Botas; Enzo de Almeida Passos; Hitler Fett; José de Alencar; João Roberto Curti; Osmar Santos; e Petrônio de Ávila. O grande mestre foi sem dúvida Hélio Ribeiro, de saudosa memória. INFLUÊNCIAS DO RÁDIO Adib Muanis; Alberto Cecconi; Alexandre Macedo; Amaury Jr.; Antonio Aguillar; Antonio Molina; Araújo Neto (quem levou Roberto Toledo para o rádio); Carlos Zanetti; Cássio de Marco; Célio Moura; César Muanis; Clenira Sarkis; Edno de Freitas; Edward Villa; Eládio Baida; Fábio Renato; Fernandes do Valle; Fuad Miméssi; Gentil Rossi; Hilton José; Jair Viana; José Elias; José Luiz Rey; Lucas Gomes; Luiz Antonio Ricci; Luiz Homero; Luiz Storino; Marcos Ferreira; Marisa Amorim; Mário Luiz; Messias Matos; Moacir dos Santos; Nelson Antônio; Ney Neves Silva; Paulo Porto; Paulo Serra Martins; Pedro Lopes Petrônio de Ávila; Ricardo Gomes; Roberto Saes; Roberto Souza; Rubens Celso Cri; Rubens Muanis; Sorroche Neto; Santo Belucci; Valter Rodrigues; e Walter do Valle.
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Roberto Toledo e Amaury Jr.
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Roberto Toledo e Osmar Santos (esquerda) em Rio Preto, em 1969
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Acervo Memorial Hélio Ribeiro CECILIA DEMIAN
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Hélio Ribeiro foi o grande mestre de Roberto Toledo
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
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Fernandes do Valle (Zacharias Waldomiro do Valle), organizador do álbum Astros e estrelas nosso rádio, de 1957, é uma das influências de Roberto Toledo
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
Fuad Miméssi, mais uma das influências de Roberto Toledo
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
LOCUTORES FAMOSOS Delboni Neto; Djalma Rubens Lofrano; Egydio Lofrano; Ethel Rodrigues; Gonçalves de Oliveira; Hamilton Medeiros; João Novaes Toledo; Jorge Aziz; Jorge Khauam; Jovino Cardoso; Leônidas Corrente; Moraes Sarmento; Mussi Júnior; Nagib Nassif; Nelson Ladeira; Otelo Gomes; Pereira Neto; Sebastião Faria; Silveira Lima; Wilson Guimarães; e Wilson Romano Calil.
Nelson Ladeira, um dos locutores famosos que conviveram com Roberto Toledo
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Reprodução/Álbum Astros e Estrelas do nosso Rádio/Dezembro de 1957/Zacharias Waldomiro do Vale
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
Wilson Guimarães, outro dos locutores famosos que conviveram com Roberto Toledo
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HOMENAGENS
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odo ano na sua festa tradicional, a Associação Comercial e Industrial de Rio Preto (ACIRP) adota um tema de decoração. Em 2016, foi o rádio, sob a batuta do diretor teatral Wander Ferreira Junior, que foi buscar os equipamentos emprestados na rádio Kboing. O evento aconteceu no Villa Conte. Roberto Toledo, o apresentador do evento, achou uma honra sentar-se em uma mesa de som futurista e apresentar as atrações da noite como se estivesse em um estúdio de rádio. Realmente, uma ideia interessante e sofisticada. Postou-se naquele estúdio no palco, apresentando as atrações e sentindo-se muito à vontade. É um felizardo mesmo, porque o que era para ser mais algumas horas de trabalho caiu-lhe como uma homenagem inesquecível. É importante lembrar que, em Rio Preto, há dois estúdios de som para TV e rádio batizados com o nome dele: um que ele ajudou a montar na ACIRP, e, por esse motivo, o então presidente, Paulo Sader, decidiu homenageá-lo; e outro na empresa Cenemed, da empresária e enfermeira Sueli Kaiser,
Acervo Pessoal/ Roberto Toledo CECILIA DEMIAN
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Diretoria da Associação Comercial e Industrial de Rio Preto (ACIRP) durante homenagem a Roberto Toledo em 2016
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pioneira no setor de equipamentos médicos e cuidados domiciliares. “Essa foi uma enorme surpresa. A Sueli Kaiser estava montando a empresa inicial do grupo no Distrito Industrial e foi conversar comigo sobre divulgação. Não nos conhecíamos, mas ajudei-a com o máximo de boa vontade. É um empreendimento pioneiro que gera empregos e contribui para o desenvolvimento da nossa Rio Preto. Participei inclusive da montagem de um estúdio de som na empresa. No dia da inauguração, fui apresentar o evento e imagina minha enorme surpresa de inaugurar também o estúdio com o meu nome! E com foto minha! É tanta coisa que tenho para contar da minha vida que parece que eu tenho uns 200 anos”, conclui Toledo.
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O TEATRO NA MINHA VIDA
“S
empre gostei de teatro, artes cênicas, palco, plateia, peças teatrais, cultura, ou seja, tudo que me remetesse à arte de representar. Então ingressei no GTR (Grupo de Teatro Rio-pretense), dirigido pelo experiente diretor Nelson Castro. Ele me achou adequado para o elenco, me incluiu no grupo e virei galã. Era maravilhoso encenar no palco, pelo qual sempre tive uma atração natural e irresistível. Enquanto eu trabalhava no meu primeiro emprego na Casa Pizzanti, já arriscava umas aulinhas de encenação com o professor Castro. Então fomos apresentar uma peça só com amadores, cuja renda seria destinada para a formatura da Escola de Comércio Dom Pedro II. A peça era O Pagador de Promessas, de Dias Gomes (na época, 1962, o filme O Pagador de Promessas ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, e, por isso, o assunto estava em alta). O Cine Ipiranga, o maior da cidade, lotou, e foi uma consagração! Então seguimos em frente com ensaios e apresentações de esquetes, incentivados por Nelson Castro. Foi aí que,
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por volta dos meus 16/17 anos, desembaracei-me no palco e passei a transitar com segurança e desenvoltura. Até que houve um festival de teatro estudantil no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves (IEMG), um colégio emblemático no setor educacional rio-pretense que recebeu dezenas de gerações de estudantes da cidade e da região. Nesse festival, concorremos com uma peça, e eu era o ator principal do nosso grupo amador. Tínhamos tudo para ganhar e estávamos certos disso e empolgados. Porém, a professora Dinorath do Valle (1926-2004), que era jurada, votou no grupo concorrente, uma grande decepção para os participantes. No meio do bafafá, acabei discutindo com a Dinorath. Voltei ao palco: ‘Você me desculpe, mas sua escolha não está certa. A senhora errou agora e não reconheceu que nosso grupo estava bem melhor e merecia ganhar, mas não tem problema, não! Diante disso, o teatro perde um artista, não subo mais no palco!’. Falei isso com o coração ardente. Então desci do palco e decidi me focar na carreira no rádio. O teatro tinha acabado para mim.”.
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O CHARME DA COLUNA SOCIAL
E
a vida de colunista social, esse mundo de brilhos e luzes, sorrisos, banquetes, flores em orgia, tapetes e móveis suntuosos, recheados de mulheres bonitas e homens estilosos? Sim, Toledo trilhou e trilha esse caminho com garbo. Tem um estilo, burilado ao longo do tempo, com notas curtas como convém ao modelo de coluna social, mas com uma sagacidade conquistada pela experiência. Ele deixa uma dúvida no ar, um certo mistério, para o leitor ficar curioso. Umas pitadas de mistério e humor. Ele é informadíssimo e tem sacadas inteligentes, texto palatável e um português correto. Além disso, tem o principal: abundância de notícias fresquinhas que seu assessor Luizinho Bueno recolhe na mídia e na alta e média sociedades. A coluna social tem muita força e muita leitura em Rio Preto, notabilizando seus autores e informando o que acontece de amenidades, ou nem tanto, nas rodas sociais. Tem um forte poder de marketing mesmo quando camufla os nomes (por exigências comerciais do patrão) e uma atração irresistível de
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leitura. Notas pequenas são fáceis de ler, demandam pouco tempo e o público ainda sai informado. Grosso modo, o colunismo social se empenha em juntar informações que nem sempre são notícias sobre figuras famosas de uma cidade, região ou país. Os colunistas sociais coletam notas sobre celebridades, artistas, milionários, gente importante, autoridades e outras pessoas que surgem acontecendo na cidade. Um trabalho bem-feito, com ética e consciência, resulta em uma coluna social informativa, e não em um subjornalismo, como alegam os puristas de plantão. O texto nem sempre fala de ricos, como acontecia antigamente quando havia um distanciamento maior de classes e um padrão rígido para informar. O próprio estilo de escrever era mais sisudo e enxuto. Uma nota social estampada na capa do primeiro jornal de Rio Preto, O Porvir, fundado em 1903 pelo coronel Lindolpho Guimarães Correa, anunciava a chegada de uma autoridade à cidade. Aí o leitor devaneia: que pena ter só essas quatro linhas! Podia ter mais informação. Como será que ele veio? De trem não pode ser, porque a linha férrea só foi inaugurada em 1912. De carro, imaginem as estradas sem asfalto. Os detalhes da chegada e do forasteiro seriam saborosos, demonstrando usos e necessidades da época. O colunismo serve também para defesa pessoal do autor e conquista de algo. O colunista social Ibrahim Sued durante anos seguidos tentou entrar como sócio de um clube fechado do Rio de Janeiro, mas a diretoria lhe dava impiedosamente bola preta, que significava: “aqui não entra”. As notas que ele postava sobre o clube, sobre uma situação parecida, ou seus desafetos, replicava com um bordão árabe de grande sabedoria: “Os cães ladram e a caravana passa”. Ou seja, a vida segue apesar de você. Grandes nomes como Ibrahim Sued, no Rio de Janeiro, e Tavares de Miranda, em São Paulo, inspiraram-se no estilo dos colunistas norte-americanos, inserindo pequenas notas de política, economia e etiqueta, comentários sobre personagens 246
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da alta sociedade, entre outros. Outro elegante colunista, Jacinto de Thormes, pseudônimo de Maneco Muller, criou a lista das dez mais elegantes, um turbilhão de vaidade e gossips que movimentou o soçaite por décadas e abalou cabeças coroadas. Dessa forma, acompanhando a transformação da sociedade, as colunas de acontecimentos sociais, como casamentos, aniversários, falecimentos e moda, foram ganhando notas políticas e econômicas, bem absorvidas pelos leitores e pelo mercado da mídia. O colunista social Roberto Toledo começou a escrever na extinta Folha de Rio Preto em parceria com a jovem Andraci Lucas (mais tarde Veltroni), na época assessora do radialista J. Girotto. Antes ele teve passagem pela imprensa escrevendo coluna sobre cinema em parceria com José Menezelo na Folha de Rio Preto. Era época da sociedade entre Alberto Cecconi e José Barbar Cury, que tinham saído da sociedade do Diário da Região para fundar a Folha de Rio Preto. Toledo escrevia uma coluna que não era social, com o título Charme. Mais tarde Andraci se desligou para seguir carreira acadêmica, com mestrado e doutorado, tornando-se professora. Como colunista, Toledo trabalhou nos jornais Correio da Araraquarense e A Notícia, além de assinar uma coluna social rural no Diário da Região. Quando o jornal Bom Dia foi fundado por J. Hawilla em 2006, Toledo foi contratado para escrever uma página social e ficou nessa função por 15 anos. Hoje ele assina uma coluna social no jornal DHoje, publicada três vezes por semana, alternando com Waldner Lui.
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ELES FIZERAM O RÁDIO RIOPRETENSE
N
esta grande aventura de viver do rádio e viver para o rádio, vendo as pessoas pelos olhos do seu tempo, tudo tão iniciático, precário e sem tecnologia, o que fez de Roberto Toledo um profissional extraordinário foi a travessia dessa grande onda até os dias de hoje sem nunca abandonar o microfone, firmíssimo no estúdio, com a mesma voz de veludo, mas reinventando o modo de se comunicar. Com seu gestual envolvente quase abraçando o microfone, ele elevou o nível do rádio, sempre lançando atrações aos ouvintes e sobrevivendo financeira e galhardamente das ondas desse meio de comunicação. É difícil dissociá-lo do microfone. O Dia Mundial do Rádio é comemorado no dia 13 de fevereiro, destacando a importância das transmissões de rádio não só pela sua função informativa, mas também de entretenimento. No dia 13 de fevereiro de 2021, na sua coluna no jornal DHoje, Toledo publicou: “Obrigado, amigos, pelo carinho quando ligaram meu nome ao meu melhor amigo e companheiro, o RÁDIO, cujo mi-
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crofone me sustentou e fez minha história valer a pena. Obrigado, minha caixinha de som”. Testemunha ocular presencial dos últimos 50 anos de rádio, Toledo vive devotamente sua história, com pureza, desapego e autenticidade. Nesses 86 anos de rádio rio-pretense, muita gente também brilhou abrindo caminhos para os demais. Na lista a seguir, apresentamos ao leitor as pessoas mais significativas do meio radiofônico, em qualquer função, seja apresentador de auditórios, noticiarista ou contrarregra. Não dá para falar de todos, claro. Alguns já faleceram, outros saíram de Rio Preto, mas procuramos ser justos incluindo o maior número de profissionais de quem se tem notícia ou dados pessoais. Outros tornaram-se famosos sem nunca abrir o microfone para um “alô, ouvintes!”, nem tinham postos na hierarquia do rádio, mas sem eles a engrenagem não funcionava. É o caso do técnico Luis Santander, chamado para atender e socorrer qualquer catástrofe nas linhas de transmissão ou na mesa de som. Luiz consertou equipamentos de todas as emissoras de Rio Preto, visto que não tinha passe exclusivo com uma ou outra empresa. Chegava calado, ia embora calado. E a rádio estava no ar de novo. E o que dizer da lenda Didi Brasil? Um menino calado do cabelo encaracolado, apontado como o maior discotecário de todos os tempos pelos próprios companheiros. Ele resistiu heroicamente nos tempos bicudos do rádio e da economia brasileira. É importante lembrar que hoje para sobreviver no rádio é preciso principalmente ter uma boa carteira de anunciantes. Tem que vender anúncio e ser ótimo em vendas e resultados financeiros, uma qualidade que nem sempre acompanha o artista de fato. Artista vive com a cabeça na lua, dizem. Sempre sonhando. Boa parte dos nomes conhecidos do rádio rio-pretense começou a carreira como operador de som em um compartimento parcamente mobiliado, em nada igual ao aparato computadorizado de hoje que desperta os sons desejados com leves toques. Os métodos de produção eram bem diferentes de hoje, que é tudo computadorizado. Não havia um departamento rigidamente delimitado, todo mundo fazia um pouco de tudo. Gerente escrevia 252
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anúncio, vendia a publicidade nas lojas da cidade e criava campanhas para as lojas da época, como Casas Pernambucanas, Casas do Linho Puro e Lojas Riachuelo, todas concorrentes, tendo que bolar mensagens diferentes para cada uma delas. Nos intervalos, não se podia falar de duas ao mesmo tempo, tinha que separar. Saiba a seguir quem é quem no rádio rio-pretense desde 1935.
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A B EL RODRIG U ES ( 1 93 9-2 0 0 5) Radialista esportivo. Nascido em Rio Preto, começou na PRB-8 em 1959 e, em 1960, transferiu-se para a rádio Difusora, a mais nova filial da Rede Piratininga de Emissoras, na qual apresentava o programa dominical de grande audiência Jornada Esportiva Difusora, com Amílcar Prado. Fazia também os programas Radar Esportivo, Rádio Esporte Difusora e Página de Observação. Ficou nessa emissora até o seu encerramento em 1974, por determinação do Ministério das Comunicações.
ADIB MU ANIS J R . Adib Muanis Jr. é a segunda geração de uma das mais famosas famílias da história do rádio rio-pretense. Filho do lendário Adib Muanis, o “Adibão”, cresceu em uma família onde os tios Rubens e César também eram referência em uma época na qual o rádio era a grande paixão dos brasileiros. Não por acaso, nas reuniões de domingo da família Muanis, música e notícias ponteavam as conversas entrecortadas por saborosas esfirras, quibes e outros pratos típicos da culinária árabe servidos no farto almoço. De origem libanesa, a família Muanis, prezava não só pelos negócios, mas também pelo conhecimento e pela cultura. O trabalho no rádio de “Adibinho” foi menos intenso do que o da família. A passagem mais marcante que se lembra aconteceu nos anos 1980, quando cobriu as eleições para o governo do Estado de São Paulo, com comentários de José Luís Rey. Adibinho começou no jornalismo impres254
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so trabalhando no jornal Dia e Noite, depois na Folha de Rio Preto e em jornais no Estado do Pará. Voltou para São Paulo e consolidou sua carreira na TV Globo sendo gerente de jornalismo na então TV Globo Noroeste Paulista, em Rio Preto, durante anos. Trabalhou ainda em outras emissoras como TV Record, SBT e, recentemente, foi editor-chefe do jornal Diário da Região. Atualmente, trabalha na assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Planejamento de São José do Rio Preto.
ÁGU E DA SAL L ES Locutora da PRB-8 e chefe do Departamento de Publicidade. Começou na emissora em 1943 e participou de radionovelas célebres na época. O papel das mulheres no rádio antigo era minimizado, voltado para as donas de casa, dicas do lar e novelas.
ALBERTINA B AT ISTA ( 1 92 8-) Locutora da PRB-8 e radioatriz. Primeira mulher de Rio Preto a trabalhar em rádio, a partir de 1950, foi designada para o departamento de publicidade, também fazendo radioescuta com Águeda Salles e Dalva Brandt. Foi secretária dos programas de auditório Tenda do Adib e Clube da Cirandinha; substituiu a radialista Laura Nice no programa Momento Feminino, de repercussão até na região, com receitas, consultório sentimental, regras de etiqueta, músicas, curiosidades e dicas de beleza; e atuou em radionovelas. Era tam255
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bém contrarregra, reproduzindo os sons nas novelas. Ainda trabalhou nas rádios Anchieta, Brasil Novo, Centro América, Difusora, Stereo Show, Independência, Melodia, Metrópole e Onda Nova.
A LDAIR THOM A Z D E A Q U INO ( 1 93 4- ) Locutor comercial, começou na PRB-8 em 1959 e depois trabalhou na Cultura em 1961, Brasil Novo e Anchieta. Também foi agenciador de publicidade. Aposentou-se do rádio em 1991 e passou a declamar poesias em saraus e eventos culturais, com performances significativas. Era imbatível ao declamar Navio Negreiro, épico de Castro Alves.
A LE XANDRE M A M ED E ( 1 960 -) Radialista e jornalista, integrou a equipe esportiva da rádio Independência como narrador e repórter de campo entre 1985 e 1989.
Á LV ARO C EC AT O ( 1 950 -) Nascido em Rio Preto, sempre foi apaixonado pelo rádio, mas encantou-se, primeiramente, pela música, integrando as bandas The Cats e Apocalipse. A carreira como radialista começou pela rádio Piratininga em 1974, passando depois pela Anchieta, Stereo Show, Centro América e Independência. Em 1993, foi contratado pela Menina FM, de Olímpia (SP), e na sequência foi trabalhar na Voz FM, de Catanduva (SP), com seus programas musicais 256
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cheios de criatividade e simpatia. Em 1995, retornou a Rio Preto para trabalhar na Diário FM, mas quatro anos depois foi contratado novamente pela Independência. A voz diferenciada levou-o também à televisão. Trabalhou na TV Rio Preto, na TV Globo Noroeste Paulista e na TV Record. Depois de décadas dedicadas à comunicação, curte atualmente sua merecida aposentadoria.
AMAU RY JR . ( 1 950 -) Começou muito jovem a trabalhar com comunicação. Aos 14 anos, criou uma coluna no Diário da Tarde, em Rio Preto, com eventos da escola Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves, onde estudava. Pouco tempo depois, a coluna passou a abordar temas envolvendo todos os colégios da cidade. A Coluna do Estudante transformou-se em coluna social e abriu caminho para o jornalista sair do Diário da Tarde e ir para o Correio da Araraquarense e depois para o Diário da Região. Trabalhando no Diário, passou a conciliar um programa na PRB-8 com o nome de Desfile Social. Era um retrato dos acontecimentos da sociedade da época falando dos eventos sociais e da programação cultural. Saiu da PRB-8 para integrar o time da Independência. O contato com o microfone na rádio foi a porta de entrada para mostrar seu talento, dando início a uma carreira brilhante que o transformou em referência no jornalismo social em todo o Brasil. Depois do trabalho na rádio, foi para a televisão, ajudando 257
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a fundar a extinta TV Rio Preto, Canal 8, na qual fez programas e documentários. Ainda em Rio Preto, saiu da TV e foi para o icônico Dia e Noite, jornal de vida curta e longa memória pelo marco de um jornalismo diferenciado na cidade. Foi seu último trabalho por aqui. Aos 27 anos, mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar como repórter para a TV Tupi. Pouco tempo depois, estava na TV Gazeta, na qual iniciou um programa de colunismo social que se transformou em um grande sucesso e alavancou sua carreira. Com seu programa eletrônico, mergulhou no mundo glamoroso dos famosos e entrevistou celebridades brasileiras e internacionais. Ainda hoje, depois de mais de 40 anos de carreira, é referência nesse estilo de programa.
A MILC AR PRAD O ( 1 92 7 -1 989) Comentarista esportivo e jornalista. Sua primeira emissora foi a PRB-8, em 1959. Seu primeiro programa foi Jacarelândia, aos domingos, com música, piadas, curiosidades e notícias. Integrou a equipe de esportes da PRB-8, depois a da Difusora, Piratininga e Independência. Atuou nas rádios Pan-Americana, Bandeirantes e Tupi (SP). Foi redator de esportes nos jornais Correio da Araraquarense, A Notícia, Diário da Região, Folha de Rio Preto e Gazeta Esportiva (correspondente). Criou a coluna esportiva Papo de Jacaré, no jornal impresso. Teve desempenho expressivo na TV Rio Preto, Canal 8. 258
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ANDRASSY R IB EIR O ( 1 91 6-1 993 ) Primeiro gerente da PRB-8 em 1937. Foi radialista, cantor e acionista.
ANTONIO AG U IL A R ( 1 93 0 -) “Nasci em Rio Preto em 1929, onde vivi até 1948. Durante esse período trabalhei na Casa Bueno como office boy e no 2º Cartório de Ofícios como datilógrafo. Depois comprei uma máquina fotográfica simples de fole e passei a fotografar a cidade e alguns eventos. Conheci aí um tradicional estúdio fotográfico, o Demonte, que passei a frequentar e aprendi a revelar filmes, retocar negativos de vidro e manejar equipamentos de estúdios. Em 1948, ao completar 18 anos de idade, resolvi mudar para São Paulo. A família não queria, mas um tio meu, irmão do meu pai, que residia em São Paulo, garantiu à família que cuidaria de mim e assim acabei viajando de trem, 8 horas de viagem. Na capital, me empreguei na Cia. Meridional de Seguros de Acidentes do Trabalho, na rua Líbero Badaró, e nas horas de folga, saía fotografando acontecimentos em datas comemorativas e como freelance, vendia para pequenos jornais da cidade. Fui pegando a prática do jornalismo e com o dinheiro arrecadado, comprei uma máquina profissional Speedy Grafic 6X9, com filme packer, rígido e rolo. Em 1950, iria inaugurar a nova redação do jornal O Estado de S. Paulo, na rua Major Quedinho, 28. Fiz o teste e fui aprovado como repórter fotográfico. Trabalhei durante 9 anos nesse 259
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periódico, viajando pelo Brasil fotografando fazendas de café, aniversários de cidades e outros acontecimentos. Cheguei ao setor social do jornal fotografando as grandes figuras da nossa sociedade. Em 1960, Bill Halley e Seus Cometas chegavam ao Brasil para a divulgação do filme Rock’n roll The Clock. Fotografei-os na chegada do avião em São Paulo e fui ao Art Palácio na estreia do filme, casa superlotada daquela rapaziada entusiástica pelo novo ritmo. Adorei o que presenciava e daí pensei em trabalhar no rádio. Fui muito difícil, pois teria que optar - o rádio ou o jornal - onde estava há cerca de 10 anos. Antes de tomar a iniciativa de perder os direitos trabalhistas, resolvi fazer uma experiência no rádio para saber se daria certo. Passei pelas rádios 9 de Julho, Excelsior e Nacional. Acabei comandando o programa Ritmos para a Juventude, com a divulgação de rock, twist, baladas e assim fui conseguindo grande audiência em todo o Brasil. Deixei definitivamente a imprensa e me fixei na comunicação. Durante 25 anos de Rádio Globo, passando pela Record, Gazeta, Tupi, além das TVs Paulista, Canal 5, TV Excelsior, Canal 9, TV Record, Canal 7 e TV Gazeta. Lancei muitos artistas em LPs e grupos musicais The Jordans, The Clevers, Os Incríveis, The Flyers. Alavanquei em São Paulo a carreira artística do Sergio Reis, Marcos Roberto, Roberto Carlos e outros. Ah! mas eu me lembro da PRB-8. Adib Muanis e César Muanis são meus conhecidos dos tempos dessa emissora. A primeira da cidade. Divulgava cantores famosos na época que eram contratados para shows. Silvio Caldas, 260
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
Carlos Galhardo, Dorival Caymmi, Orlando Silva, e eu costumava ir até a emissora para ficar vendo esses artistas pelo vidro entre o estúdio e a sala de espera. Não conheci pessoalmente, mas fiquei sabendo que o radialista Paulo Serra Martins foi um dos locutores da PRB8. Roberto Toledo também trabalhou nessa emissora, Jaborã, Silveira Coelho, Gentil Rossi, Adib Muanis e César Muanis. Aposentei-me na Globo em 1981 e resolvi retornar à minha terra natal para acabar de criar os três filhos. Trabalhei na Onda Nova, Independência e ajudei o Cezar Casseb a montar a nova emissora, a Centro América AM. Comandei programas populares, sertanejos e de juventude, mantendo sempre meus contatos com os radialistas da cidade. Quatorze anos depois, mudei para Santos, onde continuei trabalhando em rádio, na Tribuna de Santos, Cultura e Clube, de propriedade do Pelé. Em 2005, deixei tudo e voltei para São Paulo onde fui convidado pelo Chico Paes de Barros, diretor da rádio Capital, para um programa diário. Fiz um bom acordo e estou atualmente em minha residência, editando o meu programa para uma emissora do Google (www.radiocalhambaque.com) aos domingos, das 12 às 14h, com reprise aos sábados no mesmo horário. Pretendo continuar trabalhando, enquanto Deus me proporcionar saúde, estar consciente e manter a voz límpida e cristalina. Dizem que o ser humano envelhece, mas a voz não. Vamos levando a vida trabalhando sempre, naquilo que amamos fazer...comunicação. Hoje, tenho 91 anos de idade e 73 anos na comunicação.” 261
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A NTONIO C AR L O S B OT TAS ( 1 94 3 -1 9 9 1 ) Jornalista e radialista, criou o personagem caipira Véio Tatau e um dos programas jornalísticos mais significativos em audiência, a Hora Fantástica, sucesso absoluto de audiência na Independência, onde começou a carreira em 1962. Depois atuou na Piratininga, Educadora (Fernandópolis - SP), rádio Clube de Dourados (MS), Fronteira (MG), Brasil Novo e Centro América. Apresentou o Porteira do Oito na TV Record. Assinou colunas sociais e reportagens policiais diárias em jornais de Rio Preto. Versátil, integrou também o Grupo de Teatro Rio-pretense (GTR) e dirigiu o filme Paixão e Sangue, com roteiro do jornalista João Albano.
ANTONIO C AR L O S PA R ISE ( 1 94 3 -) Escreveu sua história em Rio Preto como empresário e líder empresarial bem-sucedido. No entanto, foi nas ondas do rádio, ainda na simbólica PRB-8, que começou sua carreira profissional. Era um adolescente de apenas 16 anos quando entrou para trabalhar na emissora que foi o berço dos grandes radialistas da cidade. Em 1958, encarou o microfone pela primeira vez para comentar um jogo entre América e Jabaquara. Jovem e talentoso, passou também a produzir programas que mesclavam música e comentários do cotidiano. Sua carreira no rádio registra passagens por outras emissoras, como Anchieta, Cultura, Difusora de Mirassol e Piratininga de Votuporanga. Anos 262
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depois, empreendeu no mundo dos negócios e exerceu cargos de liderança no Clube Monte Líbano, Automóvel Clube e Palestra Esporte Clube. No meio empresarial atuou na ACIRP, chegando a ser presidente por duas gestões, além de ser vice-presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo). Atualmente deixou de atuar na vida pública e empresarial e curte o merecido descanso de quem é lembrado com respeito e carinho por todo o trabalho realizado.
ANTONIO H IG A ( 1 94 0 -) Introspectivo e discreto, Higa passaria despercebido por qualquer coletiva de imprensa se não fossem o respeito e a admiração que recebia de colegas jornalistas e de políticos, autoridades e celebridades que entrevistava. Sempre teve o dom de fazer a pergunta certa na hora certa e receber respostas que se transformavam em furos de reportagem. Foi durante anos o correspondente regional do então poderoso jornal Estado de S. Paulo, o Estadão, cargo que o tornou ainda mais conhecido após ter trabalhado também em jornais locais. Começou a atuar no rádio a convite de Adib Muanis no final da década de 1960 e durante a década de 1970. Passou pelas rádios Independência, Difusora e Piratininga como repórter. Tinha seu momento próprio com o programa O Papo do Higa, um bloco de comentários que entrava antes do jornal do meio-dia na rádio Independência. Ganhou projeção nacional ao conseguir uma declaração antecipando o 263
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candidato da última sucessão presidencial do governo militar. Isso aconteceu quando, ainda repórter da Independência, cobria a visita do então deputado federal Rafael Baldacci Filho na região e conseguiu do entrevistado a informação em primeira mão de que o general João Figueiredo seria o sucessor do presidente Ernesto Geisel, furo que ganhou manchetes pelo Brasil. Higa ainda milita no jornalismo como colaborador do jornal Folha do Povo.
A NTÔNIO MOL INA ( 1 94 7 -) Radialista. Começou na PRB-8 em 1965 como repórter de campo e acompanhou treinos e jogos dos times Rio Preto Esporte Clube e América Futebol Clube. Depois ingressou na Difusora, auxiliando o radialista e advogado Itamar Paschoal nos programas Par ou Ímpar e Para ou Continua, com reportagens de rua. Na Independência, criou o programa Juventude em Ação, que ia ao ar todos os dias das 16h às 18h, sob o comando de Hilton José. Na Centro América, criou o SOS Molina, com música e anedotas, que também ia ao ar todos os dias, da 1h às 5h da manhã. Ainda promove competições esportivas, como o Rali da Independência, entre outras.
A NTÔNIO NATA L O NE ( 1 92 6-2 0 0 1 ) Jornalista, radialista, assessor de imprensa. Iniciou carreira no Diário da Região como sócio de Norberto Buzzini, Alberto Cecconi (1928-2004) e José Barbar Cury (1950-1982) 264
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na editoria de política. No rádio, participou como redator de dois programas da PRB-8 ligados a esportes e notícias, apresentados diariamente. Adotou o pseudônimo Mário Alfredo no rádio e ia de charrete ao trabalho. Foi Chefe do Serviço de Imprensa da Prefeitura (1983-1988) e Assessor da Prefeitura (1989-1996).
ARAÚ JO NE T O ( 1 92 8-1 996) Radialista e locutor desde 1953, tinha programa específico para caminhoneiros. Começou na PRB-8 como locutor comercial. Seu primeiro programa foi Conversando com a Saudade. Em seguida, vieram A Hora do Motorista, Caixa de Pedidos Lever e Peça e Ouça (1959). Fez participações em Clube da Cirandinha e Tenda do Adib. Trabalhou nas rádios Cultura, Piratininga e Independência AM. Criou uma tradição no dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas: A Hora do Motorista se transformava em uma grande homenagem ao santo, com transmissão da missa da Sé Catedral de São José, celebrada pelo monsenhor Leibenites de Castro, e um grande desfile de veículos (táxis e caminhões de aluguel) pelas principais ruas da cidade.
ATILIO JAC INT H O Inaugurou o primeiro serviço volante de som em Rio Preto com anúncios comerciais, como das Casas Bueno e Pernambu265
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canas, em um Fordinho 29 equipado com alto-falante. Foi também operador de som na PRB-8 e teve uma passagem interessante no rádio. Em 1966, no lançamento de um programa da PRB-8 às 6h, Satélite no Sertão, foi organizado grande show na praça D. José Marcondes com trio sertanejo, mas a atração só foi confirmada na véspera à noite. Desespero geral na produção, a emissora quase cancelou diante da falta de divulgação, mas na manhã de sábado, dia do show, Jacintho foi contratado para o serviço. Ele percorreu todos os bairros da cidade até começar a apresentação às 19h. Resultado: uma plateia (inesperada!) de 15 mil pessoas. A partir de 1960, abriu dedetizadora, adotou o slogan “Jacintho mata tudo” e ganhou a vida com o comércio e a aplicação de produtos de dedetização.
CAMPANHA E CU IA B A NO Dupla sertaneja de sucesso formada em 1948. Eram irmãos: Antônio Campanha (Campanha), nascido em 1925 e falecido em 2016, e Olívio Campanha (Cuiabano), nascido em 1928 e falecido em 1981. Começaram tocando no Nosso Circo, de Rio Preto, e se apresentavam na PRB-8, com o nome artístico de Irmãos Campanha ou Campanha e Seu Irmão. Em 1952, foram para São Paulo, onde foram aprovados em teste na Rádio Nacional, apresentando-se durante vários anos. Por sugestão dos compositores Arlindo Pinto e Anacleto Rosas Jr., adotaram o nome artístico Campanha e Cuiabano. 266
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Gravaram o primeiro disco em 1953, interpretando o cururu Barra bonita, de Arlindo Pinto e Priminho, e a moda campeira Pião vira-mundo, de Campanha e Benedito Seviero. Em 1954, conheceram o acordeonista Celinho, que os acompanhou durante dez anos. Em 1957, gravaram seu maior sucesso, a moda de viola Meu passarinho, de Campanha e Zé Rosa; depois o tango Não sou culpado (1960), de Campanha e Jeca Mineiro; Desprezo de amor (1961), de Souza e Campanha; Um berrante na solidão, de Ramon Cariz e George AB (1961); Rolinha cabocla, de João Pacífico e Raul Torres (1962); e Lá na fazenda, de Francisco Lacerda e Ricardo Jardim (1963). Em 2000, a gravadora BMG lançou dentro da série Luar do sertão o CD Campanha e Cuiabano, com 14 sucessos da dupla. Antônio Campanha continuou apresentando programa na rádio Independência depois da morte do irmão Cuiabano, mas nunca mais cantou em dupla.
C ARLINHOS PINH EIR O Os rodeios foram a porta de entrada para Carlinhos Pinheiro mergulhar no mundo da comunicação. Começou a atuar nas arenas em 1990 a convite do locutor Toni Carreiro. Transformou-se em narrador de sucesso e ganhou espaço na rádio Independência. Atualmente é o empreendedor do Arena CP, seu grupo de comunicação que engloba a revista Country Fever, Arena News TV, Arena CP na Poltrona e o programa Carlinhos Pinheiro, na rádio Country Fever FM. 267
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CARLOS Z ANET T I ( 1 951 -) É um dos radialistas mais conhecidos e respeitados de Rio Preto, mas sua carreira profissional teve início longe daqui. Começou a trabalhar em 1974 na rádio ABC, de Santo André (SP), cidade onde nasceu. Quatro anos depois, foi contratado pela rádio América AM, de São Paulo, e depois pela rádio Diário do Grande ABC, de São Bernardo do Campo (SP). A passagem pela emissora, na qual atuava como locutor comercial e repórter esportivo, rendeu-lhe sucesso de audiência e reconhecimento profissional. Foi agraciado com o título de “Melhor Locutor da Noite no ABC” e recebeu menção honrosa pela Sanyo Eletronics como locutor revelação. A carreira seguia com sucesso e convites para trabalhos paralelos em outras emissoras, como Gazeta AM-FM, Imprensa FM e Notícia FM, sempre na capital ou em cidades próximas, como Jundiaí - SP - (rádio Notícia). Rio Preto entrou na vida de Carlos Zanetti por causa do futebol. Ele veio para cá com a equipe esportiva da rádio Diário do Grande ABC cobrir o jogo do América Futebol Clube contra o Santo André pelo Campeonato Paulista. Foi quando encantou-se pela cidade e decidiu morar aqui. Em 1985, foi contratado pela Brasil Novo e depois passou a atuar também na Onda Nova, ambas do grupo Luiz Homero de Comunicação. As rádios absorveram todos os talentos de Zanetti e ele trabalhou como locutor comercial, repórter esportivo, noticiarista, programador musical e apresentador 268
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de programas musicais. Foi ali também que conheceu e casou-se com Edinalva de Barros, então gerente administrativa do grupo de comunicação.
C ASSIO DE M A R CO ( 1 961 -) Nasceu em São Paulo, mas ainda criança mudou-se com os pais para Rio Preto, cidade onde cresceu. Na juventude, chamava a atenção pela educação, pela voz bem empostada e pela beleza, o que despertou a curiosidade de quem vivia no mundo da comunicação. Era um talento a ser lapidado. Aos 18 anos, começou a trabalhar no jornal Correio da Araraquarense, passando em seguida pelos jornais Folha de Rio Preto e A Notícia. O rádio entrou em sua vida profissional em 1982, quando foi contratado pela Anchieta, lançando o programa Show das Cinco. O sucesso o levou a receber outras propostas. Entrou para o time da Independência dois anos depois, seguindo com programas musicais e passando a integrar a equipe esportiva. A convivência com grandes nomes do rádio que trabalhavam na Independência fez seu talento consolidarse como um profissional de comunicação apto a trabalhar com desenvoltura em várias frentes. Trabalhou também nas rádios Stereo Show, Band FM, Onda Nova FM e Independência FM. Fez vários trabalhos em TV, como na TV Rio Preto. Atualmente está na Rádio Interativa FM 104.3 com o programa Tarde Total, das 17h às 18h, no qual apresenta sucessos da MPB dos anos 1970, 1980 e 1990, além de notícias do mundo artístico e de um boletim de esportes. 269
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CASTRO BARB O SA ( 1 968-1 991 ) Jornalista carioca com passagem por Rio Preto, é filho de embaixador do Brasil no Chile. No rádio, começou parceria com Amaury Jr. em 1976. Depois foi contratado pela Independência AM, integrando o jornalismo da emissora. Em 1981, atuou na rádio Centro América, que estava em funcionamento experimental. Em jornal, trabalhou no Dia e Noite e Diário da Região.
CECILIA DE MIA N ( 1 94 5-) Jornalista pela Unilago e advogada pelo Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), começou a carreira de jornalista na rádio Independência, no período de ouro final da emissora, sob a direção dos sócios José Luiz Spotti, Poty Peloso Jorge e Luiz Floriano. Redigia informativos lidos de hora em hora e fazia flashes e coberturas de evento ao vivo (1985-1989). Usava o sobrenome de casada (Cecilia Motta). Trabalhou na rádio FM Diário (1989-1992) até dedicarse definitivamente ao jornalismo impresso no Diário da Região. Atualmente, integra a equipe de jornalismo da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Rio Preto e escreve livros.
CLENIRA SARK IS ( 1 958-) Em um mundo como o do rádio, no qual a grande maioria dos profissionais é de homens, Clenira foi uma rara e competente voz 270
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feminina. A dama do rádio rio-pretense, como era chamada quando atuava nas emissoras, destacou-se no jornalismo. Trabalhou na Independência entre 1987 e 1995 apresentando, ao lado do jornalista e radialista Rubens Celso Cri, programas como Cidade Alerta e Hora Fantástica, campeões de audiência da emissora. Também teve passagens pelas rádios Metrópole, Centro América e Rádio Líder, participando sempre de programas jornalísticos. Trabalhou ainda como repórter na TV Record e no jornal A Notícia. Sua carreira tem passagens também pelo estado do Amazonas, onde trabalhou na Rádio Rural e na Rede Vida de Televisão. A dama do rádio rio-pretense sempre se expressou com paixão pelo jornalismo no rádio, sendo dela a célebre frase “Rádio é que nem cachaça: depois que você bebe o primeiro gole, acabou, nunca mais”.
C U MPADI TA D EU Pseudônimo de Tadeu dos Santos Lisboa. Foi locutor comercial nas rádios Independência (a partir de 2005), Onda Nova (atual Nativa – 2004-2005), Centro América (1997-1998) e Metrópole (1996-1997); plantonista esportivo na Band FM (1998-2003); programador musical nas rádios Anchieta, Rio Preto, Metrópole e Band FM; e operador de áudio nas rádios PRB-8 (1970-1974) e Anchieta (1974-1977). Criou um programa sertanejo com seu personagem Cumpadi Tadeu. É um dos mais conhecidos divulgadores da música sertaneja da região de Rio 271
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Preto. Em 2020, disputou eleição municipal para vereador pelo PL.
D ANIE LE JAM M A L ( 1 97 0 -) Jornalista e radialista, formada em Comunicação pela Unesp (1992), foi presidente do Sindicato dos Jornalistas, seção de Rio Preto. No rádio, atuou nas emissoras Metrópole AM e Independência FM e como repórter na Líder FM e na CBN (antiga Brasil Novo). Destacou-se também na assessoria de sindicatos. Sua área preferida é a agenda policial, na qual nunca falta notícia.
D ELL A MORE NA Aparecido Donizete de La Morena nasceu no dia 12 de outubro, dia de Nossa Aparecida, santa protetora dos rodeios, e quis a vida e o destino que suas paixões, o rádio e o rodeio, viessem a se cruzar muitos anos depois. Ainda garoto, morando em Mirassol, ia quase todo dia à rádio Difusora observar a locução de Perturbado e Carrapicho, duas referências na rádio da cidade. Passados alguns anos, entrou na rádio Onda Nova na área comercial e depois foi para a Stereo Show. Passou também pelas rádios Metropolitana e Líder, até chegar à Anchieta, a convite de Moacir dos Santos, para fazer um programa que mesclava músicas e rodeios. Foi nessa época que, a convite do saudoso e lendário Asa Branca, tomou o microfone pela primeira vez em uma arena em Potirendaba (SP). O contato com a adrenalina 272
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do esporte e com o calor das arquibancadas fez com que se apaixonasse pelo mundo das montarias. Então, trocou o microfone dos estúdios da rádio pelo das arenas por um bom período. Os dois mundos só viriam a se cruzar anos depois, em 1989, quando, convidado por Luiz Homero, foi para a Onda Nova e começou a fazer o programa Rodeio Musical. Cravou então sua marca registrada mesclando músicas e locução de rodeios. Pouco tempo depois, foi convidado a repetir a fórmula de sucesso na Diário FM, emissora em que está até hoje. O programa Rodeio é Paixão ecoa a voz grave de Della Morena para mais de 250 cidades e milhares de ouvintes todos os dias.
DE VA PASC O VICCI ( 1 965-2 0 1 6) Era o nome artístico de Devair Pascoalon. Nascido em Monte Aprazível, começou no rádio em Rio Preto a convite de Luiz Homero, mas especificamente na Onda Nova, que tinha uma programação alternativa focada em MPB e rock. Porém, quando Homero deu a guinada radical para uma programação 100% sertaneja, Deva saiu e foi para Presidente Prudente (SP). Trabalhou também em rádios em Rondonópolis e Cuiabá (MT), até firmar-se em Jales, onde começou a desenhar-se a carreira de locutor esportivo que o consagraria. O time de basquete masculino de Jales era um dos melhores do Brasil e alguns de seus jogadores integravam a seleção brasileira que foi para os Estados Unidos disputar uma vaga nas Olimpíadas. Deva e a equipe da rádio conseguiram formar uma rede com 18 emissoras 273
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para viabilizarem o financiamento da viagem para Portland (EUA), onde seria disputado o pré-olímpico. A aventura da equipe de Jales e o talento na transmissão dos jogos chamaram a atenção das mídias nacional e internacional, e o trabalho rendeu a Deva um convite para integrar a TV Manchete em São Paulo, cuja equipe esportiva contava com o lendário Osmar Santos. Dois anos depois, foi contratado pelo SporTV, mas, em 2004, voltou para o rádio e foi trabalhar na CBN São Paulo. Em dezembro de 2015, após dez anos, deixou de ser narrador esportivo da CBN e voltou para Rio Preto, onde montou a CBN Grandes Lagos. Um ano depois, permanecia como proprietário da emissora, mas retornou aos microfones da capital contratado para ser um dos narradores da Fox Sports. Deva morreu em novembro de 2016 na queda do avião que transportava a equipe da Chapecoense (SC) para Medellín (COL), onde disputaria a primeira partida das finais da Copa Sul-Americana. Além da equipe da Chapecoense, a aeronave também levava 21 jornalistas brasileiros que cobririam a partida contra o Atlético Nacional.
D INORATH DO VA L L E ( 1 92 6-2 0 0 4 ) Professora, jornalista autodidata, historiadora e escritora. Foi redatora na rádio Independência AM (1978). Escrevia crônicas diárias que eram lidas pelo locutor Petrônio de Ávila na hora do almoço e quase paravam a cidade pela audiência maciça. Trazia assuntos dos mais variados, sempre de interesse da comunidade. Tinha um texto perfeito, imorredouro, 274
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moderno em qualquer época. Sua literatura deixou saudades. Fundou a Casa de Cultura de Rio Preto, que hoje leva seu nome. É o principal nome na área cultural da cidade.
EDWARD VIL L A ( 1 94 0 -) Radialista esportivo, integrou a equipe esportiva da Independência. Começou como bilheteiro do Mirassol Futebol Clube e, ao mesmo tempo, anunciava resultados e mensagens no alto-falante. Convidado pela Difusora de Mirassol, estreou no microfone com Resenha Esportiva, depois Difusora nos Esportes; foi contratado pela Independência como repórter e depois comentarista. Também teve atuações na CBN/Brasil, Líder FM, Independência FM e Band FM. Ainda hoje mora em Mirassol, cidade vizinha de Rio Preto.
EGYDIO LOF R A NO ( 1 92 9-2 0 0 3 ) Radialista, pai do jornalista e ex-secretário de Comunicação Roberto Lofrano. Iniciou carreira como locutor comercial na PRB-8, junto com seu irmão Djalma (atualmente desembargador). Atuou como locutor comercial e como gerente em várias emissoras: Difusora (Mirassol e Rio Preto), Brasiliense (Ribeirão Preto), Piratininga e Brasil Novo (Rio Preto) e Mayrink Veiga (Rio de Janeiro).
EL ÁDIO BAID A ( 1 952 -) Iniciou sua carreira na rádio Independência em 1983 como repórter policial no programa Hora 275
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Fantástica, que ia ao ar das 16h às 17h. Teve participações também no programa Cidade Alerta, que entrava no ar mais cedo, das 12h às 14h, trazendo informações jornalísticas. Paralelamente, foi repórter policial do jornal A Notícia. Trabalhou ainda na TV Rio Preto, emissora na qual produziu os programas de Amaury Jr. e o Porteira do 8, com atrações musicais do universo sertanejo. Em 1995, após a venda da Independência, deixou a profissão de jornalista e radialista e passou a ser pastor evangélico.
FÁBIO MARCO ND ES HO M EM D E M E L O (1917-2013) Advogado, delegado, vereador e presidente da Câmara de Rio Preto. Foi criador e apresentador dos programas Prata da Casa (entrevistas com personalidades de Rio Preto) e Música e Notícia para o seu Jantar, na rádio Independência, de segunda a sábado, com grande audiência, músicas altamente selecionadas e locução elegante, visando atingir um público maduro e a classe A. Também trabalhou na Rádio Pan-Americana, hoje Jovem Pan, de São Paulo.
FIRMINO, FID ÊNCIO E G ER A L D INO
Pseudônimos de Antônio Ferreira da Silva (Firmino), Waldemar Machado de Lima (Fidêncio) e Geraldo Zanforlim (Geraldino). O trio sertanejo fez sua primeira apresentação na PRB8 em 1950, no programa Domingo Alegre, de Gonçalves de Oliveira; a partir de 1954 ganhou 276
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o título Os Milionários de Fãs. Em 1965, Fidêncio passou a apresentar o programa Sertão em Festas, na rádio Difusora de Rio Preto, na qual também apresentou o programa de auditório Festival de Violeiros.
FLORINDO M A NI ( 1 90 8-1 985) Músico de formação, foi comerciante de instrumentos musicais, com loja histórica no andar térreo da Galeria Bassitt, a Joia Musical, que funcionou durante 41 anos. Foi apresentador do programa Saudade, na rádio PRB-8; regente de trilhas do cinema mudo em 1928; e integrante das bandas Paratodos e Jazz Paulista nos anos 1930. Maestro, também foi presidente do Rio Preto Esporte Clube em 1978 e vice-presidente em 1975; primeiro-tesoureiro da Liga Rio-pretense de Combate à Tuberculose (1940-1942); e fundador da Orquestra Sinfônica de Rio Preto (1945).
FU AD MIMÉ SSI ( 1 92 1 -2 0 0 9) Gerente da PRB-8 desde 1953, quando a rádio passou a integrar a Rede Piratininga. Revolucionou a programação radiofônica da cidade criando departamentos de jornalismo e esportes e modernizando a aparelhagem eletrônica e o transmissor. Foi superintendente de 26 emissoras da Rede Piratininga, inspetor geral e diretor de outras nas décadas de 1940 e 1950. Também foi gerente do jornal Dia e Noite, na TV Rio Preto, Canal 8, Rede Globo Noroeste Paulista, entre outros inúmeros cargos administrativos. 277
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G A RC IA NETO Com apenas sete anos, já nutria um certo encanto pelo microfone. Em Américo de Campos (SP), onde nasceu, seu tio tinha um serviço de alto-falante por meio do qual eram anunciadas as novidades da cidade, e parte dos anúncios era feita pelo garoto. Anos depois, já adulto, mudou-se para Votuporanga para trabalhar como bancário. O desejo de atuar em rádio concretizou-se quando a Rádio Clube da cidade o aprovou em um teste para locutor. Foi o começo da carreira. Em 1978, veio para Rio Preto em busca de novas oportunidades. Começou a trabalhar no jornal Dia e Noite e, algum tempo depois, foi contratado pelo Sistema Independência de Rádio. Começou como redator de informativos e na sequência foi para a rua fazer reportagens externas. Trabalhou ainda nas rádios Anchieta e Metrópole em Rio Preto e, depois, na Rádio Clube do Paraná, em Curitiba (PR), e no SBT em São Paulo. Em 1983, voltou à Independência em Rio Preto e firmou seu nome no Hora Fantástica, levando o programa aos mais altos índices de audiência.
G ENTIL ROSSI ( 1 94 2 -) Nasceu em Guapiaçu (SP) em uma família na qual a música sempre esteve presente. Na adolescência, acompanhava com atenção os ensaios de seu pai, que era sanfoneiro e se apresentava com seus irmãos Rossi e Rossinho, ambos cantores. Tomou gosto pela música, aprendeu acordes e, aos 16 anos, formou sua primeira dupla de música sertaneja e logo 278
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fez sucesso. Começou a fazer locução em programas de rádio na rádio Independência AM, mas sem abandonar a carreira musical. Apenas deixou de fazer shows depois da morte de seu então parceiro, Pracinha, quando passou a dedicar-se exclusivamente ao rádio. Em meados dos anos 1970, foi convidado para ser apresentador de programas de música sertaneja na Rede Record, quando ainda era chamada de Canal 8. Lá criou e participou de programas como Luar do Sertão e Sertanejo de todos os tempos. Voltou a gravar músicas e discos pontualmente a convite de outros artistas, mas o foco principal de sua carreira passou a ser rádio e televisão. Até hoje apresenta todo domingo de manhã o Sucesso de todos os tempos, programa que já está no ar há mais de 20 anos.
GIL GOME S ( 1 94 0 -2 0 1 8) O repórter policial Gil Gomes, famoso por sua performance de suspense ao apresentar as notícias de crimes, mortes e tragédias, teve passagem profissional por Rio Preto. Ele tinha começado a carreira em 1960 como narrador esportivo em São Paulo, na antiga rádio Marconi, e mais tarde, em 1965, foi contratado para trabalhar na Difusora de Rio Preto, também como narrador esportivo. Apresentava um programa de boa audiência na quarta-feira e no domingo com o título Fina Bola, inspirado na atração de TV O Fino da Bossa, apresentado por Jair Rodrigues e Elis Regina na TV Record. Um belo dia, sem se despedir de ninguém, voltou para a Capital por ter recebido oferta de emprego e ficou 279
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famoso pelo programa policial Aqui Agora, entre 1991 e 1997.
G O NÇ ALVES DE O L IVEIR A Começou na PRB-8 em 1940 substituindo Moraes Sarmento, transferido para São Paulo. Ficou até 1960 como locutor e diretor artístico, tendo criado vários programas, como Cadeira do Papai, Revista dos Jornais, Guarde este Nome, Programa da Saudade, Uma História em Cada Canção e Alma do Tango. Atuou na Rádio Cultura e na Rádio Nacional, de São Paulo, entre 1970 e 1980. Participou da formação de vários locutores.
HI LIO BASSI ( 1 93 4 -2 0 1 5)
Funcionário público e radialista. Começou em 1953 na PRB-8 como locutor comercial e comentarista esportivo. Trabalhou ainda na Difusora de Rio Preto, Difusora de Mirassol e Bandeirantes. Era escrevente de cartório e secretário-geral do Rio Preto Esporte Clube.
HI LTON JOSÉ ( 1 950 -) Começou a carreira na PRB-8 em 1968, aos 18 anos de idade. Sua voz bonita e sua excelente dicção chamaram a atenção, e ele passou a ser requisitado por outras rádios. Passou pela rádio Difusora de Mirassol e pela Difusora de Catanduva, voltando a trabalhar em Rio Preto em 1974, contratado pelas rádios Independência AM e FM. De 1987 a 1992, passou a ser a voz da TV Globo Noroes280
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te Paulista para as mensagens institucionais da emissora e os anúncios da programação. Ao sair da TV, voltou para o rádio, passando a integrar a equipe da rádio Antena 1 FM. Seu trabalho incansável levou-o a ganhar o título de a voz do sertão na década de 1980, afinal sua voz bonita e inconfundível estava em programas de música que eram gravados e enviados para serem exibidos em várias cidades da região, como nas rádios Dinâmica, de Santa Fé do Sul (SP); Menina Moça, de Olímpia; Pérola e Cultura, de Birigui (SP); e Rádio Clube, de Fronteira.
HITLER FE T T ( 1 937 -2 0 1 9) Radialista, jornalista e narrador esportivo, começou na PRB-8 em 1959. Antes, fez curso de Farmácia e Escola Normal. Trabalhou na Difusora e em outras emissoras, tendo ficado mais de 20 anos na Independência AM, na qual era diretor da equipe esportiva, narrador e comentarista. Como radialista, apresentou informativos e programas musicais e foi ator de novelas, radioamador, repórter de campo, locutor comercial, entre outros. Como jornalista, atuou na Folha de Rio Preto, A Tribuna, Correio da Araraquarense, jornal DHoje, A Notícia, Diário da Região, Dia e Noite, Folha de S. Paulo, Gazeta Esportiva e Placar. Em 1978, ganhou o Troféu Gandula, como melhor profissional do rádio esportivo. Esse troféu foi criado em 1973 pelo jornalista, compositor e escritor Wilson Brasil para premiar os melhores do esporte. 281
CECILIA DEMIAN
I R INE U MELZ I ( 1 92 0 -2 0 0 8) Artista plástico rio-pretense e radialista. Foi locutor, com o nome artístico de Nelson Ladeira, iniciando a carreira na Rádio Rio Preto PRB-8 em 1949. Também atuou na Rádio Difusora de Rio Preto, e na ZYO, de Mirassol. J . HAWILL A ( 1 94 3 -2 0 1 8) Advogado, jornalista e empresário. Começou na PRB-8 como locutor em 1958, a convite do seu amigo radialista Zacharias Fernandes do Valle, e logo passou a integrar a equipe esportiva como repórter esportivo. O homem que, décadas depois, tornou-se o principal comandante da comunicação esportiva no Brasil com repercussão no Exterior não tinha nem cadeira para sentar durante as transmissões no estúdio ao lado de colegas que ficavam sentados; permanecia de pé, fazendo malabarismo para alcançar o microfone, o que frequentemente causava microfonia. Na verdade, nem seu nome era citado entre os integrantes. Porém, a recepção fria não o fez desistir. Na sequência, foi promovido a repórter volante da emissora e deslanchou, sendo contratado pela Independência, emissoras de Jales (SP) e Votuporanga, Bandeirantes, TV Record e Rede Globo. Em 1980, comprou empresa de publicidade em ônibus e emissoras afiliadas da Globo, entre elas a atual TV TEM de Rio Preto.
J . RAVAC HE ( fale cid o em 1 985) Repórter policial do Diário da Região, por muitos anos assinou a coluna Plantão Policial no rádio. Arrasava na audiência. 282
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JABORÃ (19 4 0 -) Nome artístico de Antônio Trídico. Radialista, comunicador sertanejo. Foi apresentador de programas de música sertaneja nas rádios PRB-8 (1960-1973); Independência (19691971); Difusora (1971-1973); e Difusora de Mirassol (1959-1960). Na TV Record, apresentou aos domingos o programa sertanejo Porteira do Oito (a partir de 1973).
JAIR VIANA ( 1 965-) Jornalista e radialista, foi repórter da Rádio Metrópole AM (a partir de 1993); da Rádio Clube, de Votuporanga (1986-1991); e da Rádio Metropolitana AM (1985-1986). Também foi apresentador e repórter da Rádio Cidade AM.
JE SSÉ FE RNA ND ES ( 1 968-) Radialista e repórter, começou na rádio Centro América. Foi produtor e apresentador do programa Radar Noticioso, da rádio Líder FM (19962000); e apresentador do programa Cidadania Agora, na Rádio Metrópole (2000-2001). Foi redator comercial no jornal Diário da Região.
JOÃO ALBA NO ( 1 93 9-) Jornalista e radialista. Começou como radioescuta e repórter na Independência AM em 1962. Transferiu-se para a PRB-8, Cultura e Difusora. Criou o programa Paredão, na Difusora, no qual sabatinava com firmeza políticos e celebridades. Foi apresentador do progra283
CECILIA DEMIAN
ma João Sem Medo, na Rádio Independência (1970-1971); e coordenou, em parceria com José Eduardo do Espírito Santo e Anísio Martins, a implantação do radiojornalismo da Rádio Independência, em 1962. Trabalhou nos jornais rio-pretenses A Notícia, Diário da Região e Folha de Rio Preto e no Vale Paraibano (São José dos Campos, SP). Foi ganhador do Prêmio Esso, pelo Diário de Ribeirão Preto.
J OÃO NOV AE S T O L ED O ( 1 91 8-1 996 ) Radialista. Atuou na Rádio Rio Preto PRB-8 desde a sua fundação, em 1935, na qual lançou o Às Suas Ordens, primeiro programa de música que atendia a pedidos pagos pelos ouvintes. Montou o primeiro estúdio de gravação musical e de comerciais (jingles) de Rio Preto, atendendo a clientes de todo o Brasil. Foi locutor, programador, discotecário, contato de publicidade e redator. No total, trabalhou 54 anos na PRB-8.
J OÃO ROBE RT O CU R T I ( 1 94 5-2 0 0 0 ) Uma voz de timbre poderoso no microfone, foi jornalista, radialista, advogado e professor. Trabalhou como diretor-proprietário da Rádio Studio 1 e professor no curso de Jornalismo da Unorp. Começou em 1962 apresentando a oração da Ave-Maria na Difusora de Mirassol. Tem passagem pelas rádios Tupi, Difusora e Eldorado, de São Paulo, e pela CK FM, de Toronto, Canadá. Iniciou carreira na rádio Difusora, em Mirassol, em 1960, com o programa Difusora 284
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nos Esportes, até 1963. Também atuou na rádio Difusora de São Paulo (1964-1969) e nas rádios Independência AM e Anchieta, de Rio Preto.
JOILDA GOM ES ( 1 953 -) Entrou para o rádio depois de fazer um curso na área oferecido pelo Senac de Rio Preto, tendo como professor outro radialista conhecido e respeitado, Pedro Lopes. Mineira de nascimento, escolheu Rio Preto para fazer carreira na comunicação. Finalizado o curso em 1987, começou a trabalhar na rádio Brasil Novo, na qual apresentava o programa musical A Noite é um show. Logo depois foi contratada pelo jornal Folha de Rio Preto, passando a cobrir a área policial. Foi nesse setor do jornalismo que se destacou com um trabalho respeitado inclusive pelas polícias Civil e Militar. Conta que, na época, era a única jornalista autorizada a atuar junto com as viaturas da PM. A carreira lhe trouxe momentos de susto e medo, visto que enfrentava situações desafiantes na presença de bandidos, traficantes e em rebeliões no então Cadeião, o mais famoso presídio de Rio Preto, atualmente desativado. Depois do trabalho no jornal impresso, levou sua experiência de volta ao rádio na Metropolitana, na qual conduzia o programa Caso de Polícia. Tinha espaço também para explorar a voz bonita na apresentação do programa musical Sertão Saudade.
JONAS GAR R ET ( 1 92 0 -1 984 ) Nascido em Jaboticabal (SP), foi um dos locutores mais consagrados do Brasil. Iniciou 285
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carreira na rádio PRB-8, transferindo-se para o Rio de Janeiro em 1943 para atuar na rádio Transmissora; atuou também na rádio Guarani, em Minas Gerais, e nas rádios Mayrink Veiga, Globo e Clube, do Rio de Janeiro. Foi demitido da Rádio Nacional em 1964 sob a acusação de pertencer aos quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi radialista, ator, radioator, narrador, locutor, apresentador, escritor, autor, letrista, repórter, produtor e diretor de rádio.
J ORGE KHAU AM ( 1 92 7 -2 0 0 4 ) Professor, advogado, contabilista e jornalista, Khauam teve curta, mas honrosa, carreira no rádio, apresentando-se como Ubiratã. Em 1949, foi convidado pelo gerente Manoel Louzada para apresentar o programa PRB-8 nos Esportes, que ficou no ar de janeiro de 1949 a dezembro de 1950, às 13h. Porém, teve de abandonar o rádio para seguir carreira de professor e presidente da Sociedade Rio-pretense de Ensino Superior. Foi secretário-geral da Câmara de Rio Preto (1962-1986).
J OSÉ DE ALENCA R ( 1 93 4 -) Jornalista e radialista, veio em 1969, já experiente em rádio, para trabalhar na Difusora na área de esportes. Também trabalhou na PRB-8, Brasil Novo, Difusora de Mirassol e Independência AM. Apresentou programas musicais de grande audiência e escreveu 286
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crônicas bem ao gosto do ouvinte. Ele mesmo lia os textos com entonação caprichada. Em 1977, candidatou-se a vereador e ganhou (1977-1983), teve ampliação do mandato por força de lei para prefeitos e governadores. Na segunda eleição, ficou como suplente. Foi vice-presidente da Câmara (1977).
JOSÉ DE OL IVEIR A ( 1 91 5-2 0 0 1 ) Nascido em Passos (MG), começou como músico na Orquestra Paratodos (1934), com os irmãos Gerson, Lelo e Osmar Milani, formada só para animar o Carnaval do Automóvel Clube. Devido ao grande sucesso, a Paratodos foi contratada exclusivamente para animar os bailes do Automóvel Clube nos fins de semana e tocar na Praça Rui Barbosa aos domingos. Já nessa época, Oliveira começou a trabalhar como operador de som na PRB-8, ocupando a função por 30 anos, até se aposentar em 1974. A orquestra foi se fortalecendo com a adesão de novos músicos. Em 1939, Oliveira passou a organizar a primeira Orquestra Sinfônica Municipal, reorganizada em 1950.
JOSÉ DOMI NG O S ( 1 93 6-2 0 0 1 ) Professor e diretor da Escola Pio XII, no bairro Santa Cruz, em Rio Preto; diretor superintendente e vice-reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora da Paz, de Rio Preto (19621967); chanceler do Bispado e secretário da Mitra Diocesana; coordenador da Juventude 287
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Universitária Católica; diretor-superintendente da Fundação Mater Ecclesiae (que conseguiu outorga para o funcionamento da rádio Anchieta); fundador e diretor-gerente da rádio Anchieta (1970-1974); e gerente da rádio Metropolitana AM/FM.
J OSÉ LU ÍS REY ( 1 956-) Jornalista, começou com 16 anos na Anchieta (1972), fazendo radioescuta. Toledo era o diretor artístico na ocasião. Redator e locutor-noticiarista da rádio Independência (1974-1985), fazia entrevistas com autoridades políticas que iam ao ar nos noticiários da emissora. Paralelamente, era repórter do jornal Diário da Região, tendo se tornado mais tarde editor-chefe. Em certa eleição para prefeito, fez flashes de um orelhão para a Independência AM. Atualmente, é escritor e dono de editora de livros. Escreve semanalmente crônicas do passado nas redes sociais, fazendo enorme sucesso, e no jornal Diário da Região, destacando-se em especial por aquelas que se referem ao rádio.
J OSÉ MANOE L PA G É M A R T INS ( 1 94 8 - ) Jornalista, radialista e servidor público municipal, Pagé Martins foi presidente da Liga Riopretense de Futebol de Salão (1986-1991) e idealizador e coordenador do projeto Criança de Futsal, trabalho esportivo antidrogas para a faixa etária de 6 a 19 anos. Atuou no jornalismo e no rádio de 1984 a 1991, sempre divulgando o esporte. Idealizador dos times de 288
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futsal em Rio Preto, foi homenageado com a medalha 19 de Julho e o Diploma de Gratidão da Cidade na Câmara Municipal. Em mais de quatro décadas dedicadas ao futsal, divulgou essa modalidade em rádio, TV e jornais em que atuava como comentarista esportivo.
JOSÉ PEREIR A B R IT O ( 1 94 3 -) Advogado e radialista, foi escrivão de polícia. Começou como operador de som da PRB-8 com 16 anos de idade (1956-1964). Passou pela Piratininga, onde trabalhou por 23 anos, a partir de 1964; e pela Brasil Novo. Montou estúdio de gravação, atendendo a toda a região; formou-se em Direito e passou em concurso para escrivão de polícia. Atuou como jurado na Porteira do Oito (Record) e integra até hoje o Movimento Coral Rio-pretense, que se apresentou na Alemanha em 2000. Foi duas vezes diretor da Câmara Municipal de Rio Preto.
JOTINHA (1 950 -) Operador de som, radialista, locutor, cantor e autor de personagens humorísticos sertanejos de sucesso. Pseudônimo de José Amâncio da Silva, mas também usa o nome de Diamante em dupla sertaneja com Cristal, com CD gravado em 2005. Foi apresentador dos programas Festa na Roça, na Rádio Independência AM, e A Voz do Campo, nas rádios Metropolitana, Brasil Novo, Independência e Onda Nova. Exímio cantador em grupos de Folia de Reis. 289
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LI SBINO PINT O D A CO STA ( 1 92 5–1 9 75 ) Foi jornalista, escritor e autor de radionovelas. Diante da popularidade das novelas, candidatou-se a vereador e se elegeu para o período de 1964 a 1968, sendo primeiro-secretário da Câmara (1964-1965). Foi diretor da Difusora de Rio Preto, na qual apresentava o programa Távola Redonda (1961). Foi ainda diretor da Rádio Marconi (São Paulo) e fundador do Diário de Birigui (1974).
LUC AS GOMES ( 1 957 -) Radialista, trabalhou na Independência AM de 1986 a 1992; apresentou os programas Hora Fantástica, na Metrópole AM (a partir de 2008), e Barra Pesada, na Centro América (19961999) e na Metrópole (1999-2008). Foi diretor de Comunicação da Câmara de Rio Preto (2001-2002) e assessor de imprensa da Câmara em duas ocasiões (2001 e 2007). Atuou também na Independência (1986-1992).
LUIZ ANTONIO R ICCI ( 1 94 9-) Médico e radialista, começou com um programa estudantil na Difusora em 1964. Foi locutor comercial na PRB-8. Também trabalhou na Anchieta e na Independência. Formou-se em medicina na FAMERP, em Rio Preto.
LUIZ INHO DE A L M EID A ( 1 957 -) Começou a trabalhar em rádio em 1982 na Independência AM no programa A Cidade é do 290
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Povo, comandado por Antônio Aguilar. Um ano depois, alcançou seu projeto pessoal, que era atuar na área de esportes. Foi contratado pela rádio Anchieta para ser repórter. Em 1985, voltou para a Independência e permaneceu na cobertura esportiva durante dez anos. Depois trabalhou em outras rádios, como Metrópole AM, Centro América, Brasil Novo AM e Onda Nova FM. Trabalhou também na TV Cidade, canal a cabo, atual TV Rio Preto, sempre na área de esportes, que é sua grande paixão.
MARC ELO GO NÇA L VES ( 1 956-) O rio-pretense Marcelo Gonçalves tinha 11 anos de idade e era coroinha na igreja do Colégio Santo André. Sedento para trabalhar, pediu uma carta de apresentação das freiras do colégio e foi pedir emprego de office-boy no Sindicato dos Bancários, sendo aceito. Em 1972, com 16 anos, fez teste na Independência, sendo contratado pelo diretor artístico Adib Muanis. “Na época, eu era faturista das Lojas Mhafuz e não podia deixar o emprego; então me deram um programa à noite, o Música Nossa, que o Adib criou para mim. Logo chegaram as férias de fim de ano, os clubes de futebol estavam parados e me deram um programa à tarde nos fins de semana para preencher o horário. Quatro meses depois, o Pereira Brito, que era diretor artístico da Piratininga, me chamou e a rádio me contratou com carteira assinada para um programa de quatro horas durante a manhã, onde fiquei até 1978. Em seguida, voltei para a Independência, que estava com uma forte equipe espor291
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tiva e fez uma proposta muito boa. Era a única emissora da cidade que transmitia esporte. Fiquei até a Anchieta também me atrair para a área esportiva. Eu e o Paulo Porto montamos uma equipe lá. Depois fui para a Centro América. Minha vida seguia firme no rádio e fui atingindo uma popularidade que acabou me elegendo vereador, convidado pelo MDB. Fui eleito em 1983, reeleito em 1989 e depois deputado estadual por duas legislaturas, 1991 e 1995. Fui secretário estadual de Esporte em 1995, a maior honra da minha vida, sou grato a Deus por esse privilégio. Convivi com políticos admiráveis, como Mário Covas, Franco Montoro, Ulysses Guimarães, Almino Afonso, entre outros. Continuo dizendo que o rádio é a minha paixão e a política, o meu ideal. O rádio nunca saiu do meu coração. Toledo e eu vivemos o auge do rádio, fizemos sucesso na mesma medida e nunca concorremos em horário. Trabalhamos juntos na Independência, meu programa de manhã e o dele à tarde. Até hoje as pessoas nos confundem, trocam nosso nome, porque foram carreiras intensas na mesma cidade e no mesmo segmento, mas cada um com seu público e seu estilo. Fizemos uma dobradinha líder de audiência e durante muito tempo fomos os locutores de maior audiência, visto que eram os programas mais ouvidos da cidade. Eu começava o programa assim: ‘Bom dia, Rio Preto, a terra do amor! Minha doce namorada!’. Fiquei como namoradinho da cidade, e o jornal Diário da Região fez até uma página de matéria sobre isso. Sempre mostrei que a cidade é muito querida por seus filhos.”. 292
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MARC OS FER R EIR A ( 1 958-) Radialista e jornalista, Marcos Ferreira da Silva foi apresentador do programa Metrópole Agora, na Rádio Metrópole AM, com início em 2001; chefe de jornalismo (2001-2008); editor de jornalismo da Rádio Brasil Novo/CBN em 1996; chefe de jornalismo na Rádio Metrópole em 1996; e redator e apresentador de esportes na Centro América (1988-1990). Também trabalhou na Rádio Brasil Novo em 1987; Independência AM (1983-1986); Anchieta (19811982); Rádio Difusora, de Osasco (SP), em 1982; Rádio Vale do Rio Tietê, de José Bonifácio (SP), em 1981; e como repórter na Rádio A Voz, de Catanduva (1976-1980).
MARIA JOSÉ A ZIZ ( 1 94 0 -) Radialista, professora e ativista, Zezé Aziz foi delegada regional da Cultura (1983-1989); liderou movimento popular pela criação e instalação da Delegacia de Defesa dos Direitos da Mulher (DDM) em 1986; e foi candidata a deputada federal (1986) pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).
MÁRIO LU IZ ( 1 94 5-) O comentarista que sabe o que diz é, na realidade, Vislei Bossan, nome verdadeiro desse radialista e jornalista, que é um dos mestres da comunicação esportiva. A sua carreira consolidou-se em Rio Preto, mas começou longe daqui, em 1962, em rádios de Presidente Prudente. Em 1964, foi convidado para 293
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trabalhar em Ribeirão Preto na rádio Brasiliense. Um ano depois, chegou a Rio Preto para integrar a equipe de esportes da rádio Difusora. Foi aqui que ganhou o nome artístico dado por Nelson Antonio e Egydio Lofrano, que achavam Vislei Bossan de pouca sonoridade, ruim para o rádio. A solução veio na mistura dos nomes de Mário Moraes e Pedro Luiz, dois locutores da rádio Bandeirantes em São Paulo famosos na época. Já o slogan comentarista que sabe o que diz foi criado pelo locutor Nelson Luiz durante uma transmissão. Nome e slogan transformaram-se na marca registrada de uma longa carreira que deslanchou a partir de sua contratação pela rádio Independência AM, em 1965. Foi a época de ouro da Independência, que tinha os mais famosos nomes do rádio rio-pretense. Versátil no jornalismo, também foi correspondente da Folha de S. Paulo em Rio Preto e integrou durante 24 anos a redação do jornal Diário da Região. Participou de transmissões de jogos históricos em campeonatos no Brasil e no exterior. Chegou a cobrir a Copa do Mundo no México em 1986. Depois de sair do jornal, trabalhou na FM Diário e na rádio Centro América. Enveredou ainda pela iniciativa privada, empreendendo na área de publicidade e propaganda com o filho Alessandro Bossan na agência Cia Interativa.
M ÁRIO SOLER ( 1 955-) Escritor, jornalista e correspondente da rádio Globo, montou a primeira equipe de jornalismo da rádio Centro América. Formou-se na 294
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Faculdade de Comunicação Social Casper Líbero (SP) em 1976, com especialização em Mídias Regionais pela Unorp em 2000 e mestre em Telejornalismo Regional pela Unesp de Bauru em 2005. Atuou no rádio e na TV em Rio Preto. É o atual secretário de Comunicação da Prefeitura de Rio Preto na segunda gestão do prefeito Edinho Araújo.
MARISA AM O R IM ( 1 960 -) Tem 60 anos de idade e completa 38 anos de profissão em 2021. Os primeiros empregos como profissional foram na antiga Empresa Brasileira de Notícias e Radiobrás (EBN), hoje Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). O rádio entrou em sua vida em 1983, quando trabalhou na Alvorada AM em Brasília como repórter setorista no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto e como apresentadora de programa. Em 1984, ingressou na televisão e passou por diversas emissoras, como Rede Globo (Brasília, São Paulo, Bauru e Rio Preto), SBT (Ribeirão Preto e Brasília), Rede Record (Rio Preto e São Paulo), Band Brasília e na TV da Cidade (hoje TV Rio Preto). Atualmente é professora universitária na Unorp e atua na secretaria de Comunicação da Prefeitura de Rio Preto e na rádio Educativa FM.
MESSIAS M AT O S ( 1 93 2 -) Radialista e locutor comercial, era também compositor, jornalista e advogado, com atuação nas rádios Independência AM e Difusora 295
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de Rio Preto, tendo passado por outras cidades da região. Programas mais famosos: Sua Memória Vale Ouro (de auditório), A General Comanda, Encontro Martone, Café da Manhã e Tribuna do Povo. Assinava coluna de rádio no Diário da Tarde e compôs inúmeras marchas carnavalescas. Comandou o programa de auditório Show Lux-Nyl, no Ginásio do Palestra Esporte Clube.
M IGU E L GRE CCO ( 1 954 -2 0 1 9) Foi radialista e diretor de programação da rádio Educativa (2007-2008), da FM Diário (1990-1998) e da TV Cidade.
M ILTON LU ÍS ( 1 965-2 0 0 1 ) Milton Luís da Silva Cintra, radialista, começou em Catanduva na rádio A Voz. Trabalhou na Centro América e na Independência; na rádio Difusora de Catanduva, em 1983; na Rádio Progresso, de São Carlos (SP), em 1984; na Rádio Centro América, de Rio Preto, em 1985; na Rádio Independência AM; na Rádio Metrópole; na Brasil Novo; e na CBN. Foi repórter de notícias e de esportes.
M ILTON RODRIG U ES ( 1 964 -) Jornalista, foi repórter e redator esportivo das rádios Centro América e Independência, em 1988 e 1889. Era repórter esportivo nos campeonatos de futebol amador e em outros esportes. Foi redator e produtor de programas 296
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jornalísticos, além de repórter esportivo e diretor de redação do jornal Diário da Região.
MOAC IR DO S SA NT O S Tem carreira eclética no rádio. Foi locutor, produtor e publicitário, bem como dirigiu emissoras e teve programas de sucesso. Sua trajetória começou em 1970 na rádio Difusora, em Monte Aprazível. Na sequência, trabalhou na rádio Clube de Tanabi e depois na rádio Vale do Tietê em José Bonifácio. Consolidou a carreira quando veio para Rio Preto. Em 1979, estreou na rádio Brasil Novo e depois na rádio Independência. Foi ainda diretor artístico da rádio Metropolitana e diretor da rádio Líder e comandou programas de sucesso na rádio Onda Nova FM. Aposentou-se e deixou de fazer programas longos, mas não se afastou do rádio. Hoje está no Grupo Bandeirantes, na Nativa FM, atuando no departamento comercial, mas sem abandonar o microfone. É ele quem comanda os animados Pedágios da Nativa FM, ações transmitidas ao vivo de eventos ou empresas que estão lançando novidades em Rio Preto.
NAGIB NASSIF ( 1 93 4 -) Médico, começou na PRB-8 como locutor comercial em 1953, onde permaneceu até 1954. Em seguida, foi designado para fazer programas esportivos. No Rio de Janeiro, em 1954, foi aprovado entre 1.060 candidatos para atuar na 297
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Rádio Globo, mas também passou no vestibular de medicina e escolheu ser médico. Por dois anos, trabalhou na rádio Globo, do Rio de Janeiro. Formou-se na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (RJ), com especialização em ortopedia e traumatologia pelo Conselho Federal de Medicina.
N E LSON ANTO NIO ( 1 93 6-2 0 0 0 ) Começou na Difusora de Catanduva e depois trabalhou em São Paulo e em Rio Preto (PRB8 em 1964 e Independência), Ribeirão Preto e Presidente Prudente, sempre na área esportiva. Foi radialista nas rádios Brasil Novo (19861997); Independência (1963-1964 – 19761986); Difusora de Catanduva (1954-1957); Clube, de Ribeirão Preto (1958-1959); Tupi Difusora (1959-1962); rádio Difusora (1965); PRB8 (1966); Clube, de Ribeirão Preto (1968); A Voz, de Catanduva (1968-1970); PRB-8 (1971); Piratininga (1973); e Piratininga, de Presidente Prudente (1974-1976). Foi comentarista esportivo entre 1986 e 2000.
N E LSON BRAN D Ã O Radialista, começou na rádio Piratininga de São João da Boa Vista (SP), onde nasceu. Na PRB-8, foi operador de som e depois passou para a Difusora, Cultura e Independência na sequência dos anos. Locutor comercial, em 1965 foi transferido para a Rádio Cultura (Rede Piratininga) de Rio Preto, onde permaneceu até 1969. Também atuou na PRB-8 (1969298
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1970); na Difusora em 1971; e na Independência AM (1971-1978).
NELSON LE A L ( 1 958-) Radialista. Nelson Luís Taino, ex-diretor da rádio Evidência FM, atuou na antiga rádio Piratininga (depois Brasil Novo) (1975-1979); e nas rádios Independência (1979-1981); Anchieta (1985-1986); Onda Nova (1986-1993); Metrópole (1994-1997); e Centro América (19971999). Foi repórter policial na rádio Metrópole, com início em 2008.
NIVALDO C A R R A ZO NE ( 1 92 7 -2 0 1 2 ) Advogado e jornalista, foi vereador na legislatura de 1964 a 1968. Foi cronista da rádio Independência em 1960. Formou-se em Jornalismo na Escola de Jornalismo Casper Líbero, São Paulo, em 1949, e em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP – Largo São Francisco) em 1953. Realizou cursos de Medicina Legal pela USP em 1950 e de Extensão Cultural pela Universidade Italiana para Estrangeiros, em Perugia, Itália, em 1954. Foi professor universitário e membro eleito da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec).
OSMAR C OE L H O ( 1 960 -2 0 2 1 ) Começou na antiga Metropolitana FM nos anos 1980, onde se destacou pela criatividade no ambiente de rádio e logo se tornou discote299
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cário e programador musical. Como produtor cultural, foi responsável pela produção local de grandes shows, como Xuxa, Milton Nascimento, Lenine, Marisa Monte, entre outros. Trabalhou ainda nas emissoras Stereo Show, Transamérica, Independência AM e FM, Líder e Kboing. Também passou pela rádio Anchieta Metropolitana. Fiel sambista da Mangueira, era torcedor fanático do São Paulo Futebol Clube e assíduo frequentador do Carnaval do Palestra Esporte Clube, de Rio Preto.
OSMAR SANTO S ( 1 954 -) Mineiro, fundou a rádio Melodia em 1998. A emissora nasceu do sonho de Santos de envolver Rio Preto com música de boa qualidade. E eram de fato músicas selecionadas, de bom gosto musical, mas foi uma luta para legalizar seu funcionamento. Com apoio da comunidade rio-pretense, a rádio passou a transmitir pela internet, em 2003, como Melodia Web durante 24 horas por dia, com sede em Rio Preto. Sua programação inclui música de diferentes gêneros, educação, cultura, literatura e saúde.
OSV ALDO ANG A R A NO Radialista, iniciou sua carreira radiofônica na rádio Clube PRG-4, de Jaboticabal (SP), em 1935, e foi locutor da PRB-8 (1939-1940). Transferiu-se para São Paulo, onde ingressou na rádio Record e depois na rádio Cruzeiro do Sul. Em seguida, foi para o Rio de Janeiro, onde fez carreira, sendo considerado uma das mais 300
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belas vozes do Brasil. Trabalhou como locutor e chefe de departamento nas principais emissoras cariocas.
PAULO DE OLIVEIRA E SILVA (1919-1997) Professor de educação física, foi um mestre pioneiro e muito popular em Rio Preto devido às inovações que apresentava no ensino, atraindo os estudantes em peso. Era um orgulho ser aluno do professor Paulo. E uma das estratégias para encantar alunos era a prática esportiva, o que ele fazia com maestria. Foi apresentador do Momento Esportivo na rádio PRB-8 em 1942, sendo esse o primeiro programa radiofônico sobre esportes de Rio Preto. Seu magistério foi desempenhado no Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves, no bairro Boa Vista, em Rio Preto.
PAU LO DO NASCIM ENT O ( 1 953 - ) Redator esportivo e radialista. Escreveu nos jornais Diário da Região, Folha de Rio Preto e Dia e Noite. Atuou na rádio Independência AM (1962-1972). Desligou-se da imprensa para ser funcionário público, atuando como diretor do Instituto Penal Agrícola (IPA).
PAU LO RILL O ( 1 953 -) Jornalista, radialista e professor. Foi radiojornalista e repórter das rádios Brasil Novo (19811986); Metropolitana (1981-1982); Anchieta (1979-1981); e Líder AM/FM (1972-1997). 301
CECILIA DEMIAN
P AU LO PORTO ( 1 953 -) Radialista esportivo, iniciou carreira na rádio Difusora de Olímpia em 1974. Ingressou na rádio Independência AM, em 1978. Atuou nas rádios Cultura, de Ribeirão Preto; Anchieta; Bandeirantes, de São Paulo; Centro América; Clube, de Tanabi; e Metrópole.
P AU LO SANC HES ( 1 955-) Fotógrafo e radialista. Foi apresentador do programa Variedades em Foco na rádio Centro América (1998-1999).
P AU LO SERRA M A R T INS ( 1 93 4 -) Jornalista e radialista, fazia entrevistas ao vivo para as emissoras em que trabalhou. Começou na PRB-8 aos 16 anos (1950), sem vínculo empregatício, apenas pela vontade e pelo prazer de fazer rádio, participando do programa B-8 nos Esportes. Em 1951, passou a operador de som e, em seguida, discotecário. No ano seguinte, já foi escalado para locução comercial, cobrindo férias, e daí em diante não se separou mais do microfone. Logo em seguida, foi criada por Zacharias do Valle a atração O Ouvinte faz o Programa, com participação do público, e entregue a Paulinho, tornando-se líder de audiência. A partir de então, começou a lançar vários programas, entre eles Comparação Musical, Um Piano ao Cair da Tarde, Tangos e Boleros, Serestas e Seresteiros e Grandes Orquestras. Para crianças, lançou o Patinho na Discote302
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ca. Escreveu crônicas para programas como Cortina Romântica e Uma Canção uma Saudade. Ao mesmo tempo, integrava a equipe de esportes, Caracu nos Esportes e Resenha Esportiva, e ainda passou a participar da equipe jornalística. Houve vários eventos marcantes, sempre lembrados por Paulinho, entre tantos acontecimentos com divulgação radiofônica, como a cobertura da inauguração de Brasília como capital do País em 21 de abril de 1960, com entrevistas coletivas (com Juscelino Kubitschek) e altas autoridades da época, como Ulysses Guimarães, Armando Falcão, entre outros. Os equipamentos de som para transmissão do evento eram pesados e desajeitados, mas Paulo Serra Martins e Adib Muanis levaram adiante a execução deste que foi um dos grandes momentos do rádio rio-pretense. Paulo Serra também escreveu em jornais de Rio Preto e da região (Catanduva) e em canais de TV, encerrando um total de 51 anos de rádio na Independência, que acabava de ser vendida para um grupo evangélico. Em seguida, assumiu a assessoria de imprensa da Câmara de Rio Preto (1996-1998). Hoje é aposentado das lides radiofônicas e jornalísticas, mas tem muita história para contar e é sempre convidado pelas faculdades de Comunicação da cidade para dar palestras e mostrar um pouco desse mundo mágico. Atento e observador, viveu intensamente o dia a dia de todas as emissoras de Rio Preto em que trabalhou. Passou 22 anos como funcionário da PRB-8 e viveu altos e baixos nessa modalidade de comunicação em Rio Preto. 303
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P EDRO LOPES ( 1 93 8-) “Minha história com o rádio é uma história de amor e de respeito, de décadas de encantamento e trabalho duro. Em 1959, tive uma passagem amadora pela Difusora, de Rio Preto, e em 1961 comecei minha carreira na rádio Brasil Central, de Goiânia, como locutor. Quando em Rio Preto, a Independência AM estava sendo montada e a programação era experimental (1962). Fiz o horário das 22h à meia-noite, com o programa Noturno, que contava com poesias, músicas românticas, contos e crônicas. Tudo deu certo para que a inauguração da rádio acontecesse no dia 7 de setembro de 1962. No grande dia, fiquei encarregado de monitorar os repórteres de outras rádios e jornais para entrevistar o presidente João (Jango) Goulart, que veio prestigiar o evento a convite de seu amigo, o deputado federal Mauricio Goulart. Mesmo novato e sem experiência, me escalaram para ficar no estúdio, apresentar o ato inaugural e depois passar o microfone para Alexandre Ismael e Zacharias, que iam comandar a programação. Porém, a chegada de um chefe da nação não é nada monótona e tudo desandou no aeroporto com uma multidão de pessoas querendo ver as celebridades, trânsito engarrafado, além de a comitiva visitante ser numerosa, entre outros percalços. Então a equipe da rádio se atrasou e eu, o calouro Pedro Lopes, recém-iniciado na Comunicação, tive que dar as boas-vindas protocolares ao presidente da República! Só sei que consegui vencer o 304
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terror que me dominava e apresentei o Jango efusivamente, como se fosse um artista sertanejo. É um episódio que ficou marcado na minha história. Então, em 1963, ingressei na rádio Cultura, a convite de Sorroche Neto, e fiquei até 1969, com programas de sucesso, como Teatrinho da Alegria (com historinhas e músicas infantis), Nova Dimensão e Clube dos Ouvintes RC. Tem uma passagem gostosa nesse período quando organizei um concurso de cães de raça no pátio da emissora, o primeiro da cidade. Cinquenta crianças levaram seus cachorrinhos para concorrer; imaginem o alvoroço e a euforia dos pequenos! Outro programa que me marcou foi o Nova Dimensão, com crônicas, música, notícias e curiosidades, bem como o Clube dos Ouvintes, que envolvia o público, com a carteirinha do clube que criamos, sorteio de brindes e muita alegria no ar. Deixei a Cultura em 1969 e fui para a PRB-8 como diretor artístico por nove meses, quando me desliguei por um tempo, desiludido com a carreira. Investi na sobrevivência como viajante comercial e, em 1979, lancei uma revistinha para circular nos cinemas da cidade. Depois de um ano afastado do rádio, recebi convite da rádio Anchieta, que acabava de ser inaugurada. Isso foi em 1970 e lá fiquei por 15 anos. Era uma emissora diferenciada, clássica, supervisionada pelo bispo dom José de Aquino Pereira (o segundo da nossa diocese) e com diretoria leiga formada por lideranças da cidade, gente séria e conceituada. O gerente era o padre José Domingos (que depois deixou a batina para se casar); 305
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o gerente artístico era o jornalista e radialista João Roberto Curti; e o responsável por toda a programação da emissora era Roberto Toledo. Atualmente, a Anchieta mudou de mãos e foi vendida para o Grupo Metropolitana, atendendo agora pelo nome de rádio Líder. Meus colegas de locução eram Fábio Renato Amaro e Luiz Antonio Ricci. Meu produtor do Nova Dimensão por dois anos foi Celso Lui, irmão do jornalista Waldner Lui, que depois fez carreira no SBT. Com a saída de Lui, entrou como parceira minha mulher, Sônia Lopes, que com isso acabou também trabalhando em rádio e ficou conhecida no meio. Há um tempo fiz o programa na Interativa, sempre nos mesmos moldes: leve, cívico e calmo! Hoje, aos 83 anos, estou aposentado e tenho o hábito de enviar todo dia de manhã, nas primeiras horas do dia, uma mensagem de otimismo para meus amigos pelo Messenger, ou leio a mensagem como se estivesse no microfone. Minha vida foi levar mensagens positivas e comentários alegres sobre a vida!”.
P ET RONIO DE ÁVIL A Dono de voz marcante, estreou na Independência AM, em 1966 como redator e locutor noticiarista, tendo permanecido até 1968. Deixou Rio Preto para ocupar cargo público em Cuiabá, na Secretaria de Comunicação do Governo de Mato Grosso (MT). Lá teve passagem pela rádio Voz do Oeste. Pouco tempo depois, morreu vítima de um acidente automobilístico. Na década de 1950, antes de se apresen306
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tar em Rio Preto, foi um dos locutores mais prestigiados da Difusora FM 98, de Patrocínio (MG), apresentando programas de auditório, com destaque para o Clube dos Milionários, que trazia cantores da região e calouros.
RENATO BR IT O Costuma dizer que deve sua vida ao rádio. Ele mesmo conta sua trajetória. “Meu pai, o José Pereira Brito, foi um radialista raiz daqueles que tudo o que a gente vai falar acaba gerando histórias e mais histórias, e uma delas é como eu nasci. Em 1964, um dos programas de maior audiência era A Tenda do Adib e meu pai era operador na PRB-8. O programa era feito no auditório da emissora e minha mãe ia até lá como uma das fãs ou, como chamavam na época, era uma macaca de auditório. Foi lá que ela conheceu meu pai. Então, casaram-se e um ano depois eu nasci praticamente dentro de uma emissora. O tempo foi passando e eu ia direto à rádio com meu pai. Daí foi um caminho quase que natural. Eu até pensei em fazer algo diferente um dia, mas não teve jeito, o DNA da comunicação estava presente. Aos 11 anos, entrei na rádio Anchieta e comecei a realmente viajar nas ondas do rádio. Aos 12, já tinha carteira assinada. Naquela época a profissão foi regulamentada, e, com isso, eu não podia ser sindicalizado por ser menor de idade, mas tinha o amparo e a compreensão dos amigos. Aos 15 anos, participei da fundação da rádio Stereo Show e já liderava o grupo de operadores de som, como éramos chamados. Em paralelo, já começava como DJ em diversas casas notur307
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nas. No final de 1985, foi anunciado um teste para a TV Globo. Pedi aos chefes uma dispensa para ir prestar e, infelizmente, eles não deram, mas o destino acabou interferindo. O meu avô morreu e eu escapei do enterro. Fui fazer o teste e passei. Com isso, minha carreira no rádio se encerrou e começou uma outra história.”.
R OBE RTO DO VA L L E ( 1 93 4 -2 0 1 1 ) Professor, poeta, historiador, jornalista e escritor, era irmão da escritora Dinorath do Valle. Era mais ligado à literatura e recebeu 12 prêmios nacionais nessa área. De 1989 a 1994, escreveu textos jornalísticos, comentários políticos e opinião cultural que ele mesmo lia nos programas de radiojornalismo da Independência AM.
R O BE RTO LOF R A NO ( 1 954 -) Jornalista desde os 16 anos no Correio da Araraquarense, atuou no jornalismo das rádios Independência AM (1974); na Anchieta (19751976); e na FM Diário de Mirassol (1988-1989). Foi chefe de reportagem da rádio Metropolitana (1985-1987). Atuou na Folha de Rio Preto e Diário da Região, além de ter sido secretário municipal de Comunicação do governo Manoel Antunes (1993-1996). Hoje é assessor da Secretaria de Saúde de Rio Preto.
R O BE RTO SOUZA ( 1 91 9-1 995) Radialista e músico, Arnulfo Souza Freire (consagrado como Roberto Souza) iniciou 308
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carreira em 1942 na PRB-8 como cantor. Participou das orquestras Paratodos e Marajoara. Foi locutor, operador, discotecário, criador e apresentador do programa O Dono da Noite. Figura como um dos maiores locutores de toda a história do rádio rio-pretense, criando um estilo romântico e agradável ao ouvinte, de locução mansa e com músicas românticas, apropriadas para terminar o dia com serenidade. Atuou por 28 anos na Independência e, nos últimos anos de vida profissional, na Brasil Novo, sempre como Roberto Souza, o dono da noite. Sobre ele, escreveu o colega José Pereira Brito em 2002 para o jornal Diário da Região.
ROGÉRIO CO ZZI ( 1 93 3 - 1 987 ) Cronista esportivo (pseudônimo de Rogério Possi), atuou como comentarista e repórter esportivo na Independência AM. É nome de rua no Jardim Anielli, em Rio Preto.
RU BENS C EL SO CR I ( 1 957 -) Rubens Celso Freitas Barbosa (Cri) é jornalista e radialista. Começou a trabalhar em 1982 no jornal A Notícia e, anos depois, também atuou na Folha de Rio Preto, ambos extintos. A primeira experiência com o rádio foi na Brasil Novo, passando depois pela Onda Nova, sempre na área de jornalismo. Contratado pela rádio Independência na segunda metade da década de 1980, começou a fazer reportagens e a comentar temas policiais e políticos, que passaram a 309
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ser seu principal foco e o tornaram conhecido no universo da comunicação em Rio Preto. Trabalhou também em várias emissoras da cidade, emprestando seu talento, sua voz forte e seu raciocínio rápido na análise de notícias. Entre 1988 e 1994, trabalhou na então TV Globo Noroeste Paulista, hoje TV Tem. Atualmente está no jornal A Gazeta de Rio Preto, de Frederico Tebar.
R UBENS DE O L IVEIR A CA M PO S Bancário, chegou a Rio Preto em 1969, transferido pelo antigo Banespa. Começou a carreira na rádio Difusora, comandada por Egydio Lofrano, e lá formou com Hitler Fett e Jovino Cardoso o departamento de esportes da emissora. Em 1962, com a inauguração da Independência, foi para lá e ficou por três anos, até 1965, quando se desligou para se dedicar a um cargo de gerência no banco até se aposentar.
R UY SAMPAIO Jornalista formado pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), mudou-se para Rio Preto em 1989 e foi trabalhar como jornalista e produtor na rádio Independência AM. Atuou ainda no jornal Diário da Região escrevendo sobre política, na antiga TV Globo Noroeste Paulista e na rádio Band FM. Foi secretário municipal da Comunicação e mais tarde da Cultura.
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SANDRO BE L U CI ( 1 968-) Radialista, Sandro Renato Parise Beluci é filho do afamado comunicador sertanejo Santo Beluci. É locutor e apresentador do programa Tocando as Mais Tocadas na rádio Diário FM desde 1991. Também teve atuações nas rádios Independência AM e FM, Cidade FM e Metrópole AM. Segue um estilo sertanejo no conteúdo musical, a exemplo do pai, hoje na emissora 40 Graus.
SANTO BEL U CI ( 1 94 3 -) Maior comunicador sertanejo da região, tem mais de 50 anos de microfone. Foi locutor e apresentador de programas e do Baile do Bem-te-vi. Começou na Difusora em 1960 como operador de som. Estreou na Piratininga com Os Verdes Campos da Nossa Terra. Criou com sucesso o programa Onde Canta o Bem-te-vi, que apresentou nas rádios Independência AM e FM, Diário FM e atualmente na rádio 40 Graus. Antes de ser atropelado em 2013, percorria as cidades da região promovendo o Baile do Bem-te-Vi, com sucesso de público, no estilão sertanejo.
SE RGIO SAM PA IO ( 1 97 6) Jornalista e radialista. Foi apresentador do programa Jornal do Trabalhador pelas rádios Metrópole AM e Interativa FM em 2009. Trabalhou na Metrópole, com início em 2004, e na Centro América AM (2001-2004). Também foi integrante da equipe esportiva da rádio 311
CECILIA DEMIAN
Brasil Novo AM (extinta), cobrindo o dia a dia do Rio Preto Esporte Clube (2001); apresentador do programa Jornal do Trabalhador (em 2001); e produtor dos programas Jornal do Trabalhador e Cidade Aberta na rádio Brasil Novo (1999). Atualmente é repórter do jornal DHoje, de Rio Preto.
S ERGIO VELO SO ( 1 955-) Radialista e redator esportivo, iniciou carreira na rádio A Voz, de Catanduva. Atuou na Difusora de Catanduva; Clube, de Votuporanga; Rádio Imperial, de Taquaritinga; Realidade, de São Carlos; Difusora, de Presidente Prudente; Difusora, de Tupã; Difusora, de Osvaldo Cruz; Vera Cruz, de Marília; Cacique, de Santos; Tietê, de José Bonifácio; Cultura, de Jales; e 8 de Agosto, de Votuporanga. Já no Mato Grosso, em Paranaíba, atuou na rádio Difusora. Em Rio Preto, atuou nas rádios Metropolitana, Centro América, Brasil Novo, Metrópole, Líder FM e Rio Preto FM.
S ILV EIRA C OEL H O ( 1 93 0 -2 0 0 0 ) Radialista, Antônio José da Silveira Coelho iniciou carreira de apresentador de programas sertanejos na rádio PRB-8 (1945-1974), com passagens posteriores pelas rádios Cultura e Difusora (Mirassol), Piratininga, Brasil Novo e Onda Nova FM. Foi bem-sucedido também na área televisiva, apresentando na TV Record, nos anos 1970, os programas Porteira do 8 e Luar do Sertão, com sertanejos populares como Jaborã, Gentil Rossi, Cuiabano, Firmino, 312
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
Gauchinho, Preto Velho e Capitão Furtado. Foi vereador de 1960 a 1963 e de 1969 a 1972, além de suplente em 1974.
SILVEIRA L IM A ( 1 92 2 -1 97 9) Radialista, Joaquim Felix de Lima Filho iniciou carreira em 1938 na rádio PRB-8, como locutor e animador de auditório, criando o Programa da Mocidade e o Canta Brasil. Em 1944, transferiu-se para o Rio de Janeiro para atuar na rádio Clube Fluminense, em Niterói, e mais tarde na rádio Continental, atuando também nas rádios Mauá, Tupi, Mayrink Veiga e Guanabara.
SILVIO AC A CIO ( 1 94 6-) Foi professor de educação física, técnico de futebol, árbitro de futebol e comentarista esportivo da rádio Metrópole em 1997 e de 2000 a 2001. Também atuou na rádio Centro América (1998-1999).
SONIA PENT E A D O ( 1 94 6-) Professora e publicitária. Foi produtora e apresentadora na rádio Anchieta; redatora nos jornais A Notícia, 7Dias e Opção; e professora nas faculdades Unilago e Unip.
SORROC HE NET O ( 1 94 1 -) A carreira no rádio, que tornou João Sorroche Neto um dos profissionais mais respeitados na 313
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comunicação, começou meio por acaso. Ele já tinha voz e dicção diferenciadas, mas trabalhava em outro segmento, com títulos de capitalização. O ano era 1959 e ele estava atendendo a um cliente em uma loja no centro de Rio Preto, na rua General Glicério. César Muanis, já radialista conhecido da PRB-8, ouviu a conversa de Sorroche e a voz do moço chamou a atenção. Então, convidou-o para um teste e, logo de primeira, ele foi contratado. “Só havia cachês, e não salário, mas eu gostei daquele primeiro trabalho de locução comercial e assim comecei minha trajetória no rádio”, lembra, divertindo-se com a experiência de vida. Trabalhou como locutor no Sistema Globo de Rádio, nas rádios Globo e Excelsior, e foi editor responsável na rádio CBN, quando era retransmitida pela rádio Onda Nova, de Rio Preto. Homem de rádio, dominava duas vertentes que faziam uma emissora ser sucesso: sabia muito de programação e tinha fortes relacionamentos comerciais. Com essas habilidades, acabou sendo diretor de emissoras que estavam em situação precária, conseguindo alavancar seus faturamentos e sua audiência, entre as quais destacam-se as rádios PRB-8, Cultura, Metrópole, Independência FM e Stereo Show. Ele conta com orgulho merecido: “Fui apelidado pelo então diretor proprietário da rádio Independência, Alexandre Macedo (Ismael), de o ressuscitador de rádios, título que divido sempre com as equipes de comunicadores, operadores e demais funcionários de apoio que ajudaram nas conquistas”. Seu programa Sabor Sucesso foi um dos mais duradouros do rádio brasileiro, ocupando durante mais de 20 314
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
anos um espaço privilegiado na programação. Atualmente, produz e apresenta a rádio Estéreo Cidade na internet, que, em breve, deverá transformar-se em rádio comunitária.
TANIA MAL D O NA D O Radialista e professora, foi sonoplasta da rádio Difusora e apresentou programa na rádio Cultura na década de 1960.
WALTE R DO VA L L E ( 1 93 8-2 0 1 5) Jornalista, radialista e escritor, era irmão caçula da professora e escritora Dinorath do Valle e já revelava os mesmos dons da família para literatura, reportagens e texto jornalístico. Também brilhou no rádio. Foi diretor de jornalismo da rádio Difusora na gestão de Egydio Lofrano. Teve atuação no departamento de jornalismo da Independência AM, foi produtor de reportagens para a TV Globo e assinou matérias em jornais de Rio Preto e Campinas (SP).
WILSON GUIL HER M E Jornalista, chefe de jornalismo, sociólogo e professor. Foi chefe de jornalismo da rádio Independência (1985-1986 – 1992-1993) e programador da rádio Piratininga em 1975.
WILSON GUIM A R Ã ES ( 1 92 9-1 96 2 ) Na vida real, era Benedito Gomide, locutor comercial na PRB-8, de uma voz admirável 315
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e facilidade para redigir. Logo passou para o jornalismo da emissora. Foi redator de noticiários, integrante do departamento esportivo e autor de crônicas, as quais interpretava emocionadamente no microfone. Convidado por emissoras de fora, ausentou-se de Rio Preto por três anos, voltando depois à PRB-8.
W I LSON ROMA NO CA L IL ( 1 93 2 -2 0 1 8 ) Médico, advogado, orador e professor, foi prefeito de Rio Preto (1973-1976), mas desde a adolescência revelava tendência para debates políticos e culturais, política, literatura, ciência e problemas da atualidade. Os jovens da época se reuniam nas conferências estudantis, organizadas no Centro Estudantil Rui Barbosa (CERB), e se apresentavam no auditório da Escola Monsenhor Gonçalves nas manhãs de domingo em um programa comandado pelo jovem Wilson Romano Calil. Então foi convidado pelo gerente da PRB-8, Manoel Louzada, e estreou como locutor comercial em 1949, com apenas 17 anos. Nessa emissora, lançou o programa Salão de Conferências, no qual se debatiam assuntos da atualidade, entrevistas com celebridades e políticos etc. Ao lado de Calil, trabalharam no programa os radialistas João Novaes Toledo, Gonçalves de Oliveira, Otelo Gomes, Delboni Neto e Adib Muanis. Depois de dois anos, teve de deixar a emissora e ir para o Rio de Janeiro cursar medicina. No episódio do Cidade Contra Cidade, Calil fez a diferença defendendo brilhantemente a vitória de Rio Preto com seus conhecimentos de mundo. 316
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Z AC HARIAS D O VA L E ( 1 93 2 -1 96 3) Publicitário, radialista, ator e professor. Foi locutor na PRB-8 (1950-1962), comandando o programa Fazendinha do Chico Belarmino, e na rádio Independência AM (1962-1963). Escrevia sobre rádio no Correio da Araraquarense. Foi ator na Companhia Procópio Ferreira e autor da publicação Astros e Estrelas do Nosso Tempo, de 1957. Abria seu programa principal com um verso que ficou gravado na mente de seus ouvintes: “Infeliz de quem passou pelo mundo procurando no amor felicidade. A mais doce ilusão dura um segundo e dura a vida inteira uma saudade”. Sua morte prematura chocou a imensa legião de ouvintes.
Z É GATÃO ( 1 960 -) Nasceu José Maria Vieira Lopes em uma propriedade rural próxima a Mirassol. Quando garoto, ouvia músicas, radionovelas e notícias que chegavam pelo radinho de pilha e embalavam a imaginação de quem sonhava em ser radialista. Ele falava dentro de latas vazias de querosene para obter o retorno da voz; cabos de enxada e talos das folhas do mamoeiro transformavam-se em microfones. O desejo foi tanto que, aos 14 anos, começou a trabalhar na rádio Difusora de Mirassol. Depois foi galgando novas conquistas e passou pela rádio Clube de Tanabi, pela rádio Vale do Tietê em José Bonifácio e pelas rádios de Franca (SP), até chegar a Rio Preto, onde diz que trabalhou praticamente em todas as emissoras. Em 1987, ainda era 317
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chamado de Zé Maria, o comunicador jovem, quando foi convidado para trabalhar na rádio Morada do Sol em São Paulo, levado pelo amigo Antônio Aguilar. Foi lá que ganhou o nome artístico de Zé Gatão, que passou a ser sua marca registrada. Lá fazia locuções comerciais e programas de música. A rádio AM chegava aos mais distantes municípios brasileiros e ele diz que ganhou fãs em todo o país, as quais escreviam cartas apaixonadas. Ainda em São Paulo, participou dos programas de Gugu Liberato, Moacir Franco e Raul Gil. Quando voltou a Rio Preto, fez trabalhos em rádios e, em especial, no programa Porteira do 8 na TV Record, dividindo a apresentação com o também apresentador Jaborã. Ele guarda na memória os tempos áureos do rádio e se lembra com especial carinho de quando trabalhou na rádio Independência ao lado de grandes nomes e de Roberto Toledo, por quem tem grande admiração. Atualmente é dono do jornal Folha do Interior, que cobre Rio Preto e região.
ZEQU I ELIAS ( 1 93 5-2 0 1 9) Poeta, escritor, professor e locutor desde 1952. Formou-se em Línguas Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI), atual Unesp.
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ELES TAMBÉM FIZERAM O RÁDIO
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ara Roberto Toledo, os operadores de som são fundamentais para o sucesso de qualquer locutor de rádio. “Uma verdade tem de ser dita na nossa profissão: o melhor dos locutores sai prejudicado se não tem ao lado um profissional especializado, o operador de som. Isso você percebe desde a primeira vez que pega um microfone. Ele trabalha especificamente com a manipulação e a operação de equipamentos de som, uma arte que o locutor não domina. São áreas distintas, que devem ser respeitadas. O operador de som efetua o controle de todo o som durante as transmissões radiofônicas; é o responsável por captar e registrar o som”, analisa. Interessante é que, para iniciar essa carreira, não existe pré-requisito. Alguns dias de estágio em uma cabine de som, entender bem sobre o funcionamento técnico de todos os aparelhos (como mesas de som e de mixagem), ter sensibilidade musical e uma atenção abrangente no estúdio do programa são condições importantes para acompanhar bem o locutor do
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horário e contribuir para o sucesso do programa. O operador de som também dá vida ao programa. O primeiro operador de som da história de Rio Preto foi Miguelito (Miguel Sanchez Ruiz), auxiliar de farmácia que depois passou a locutor. O primeiro jornalista foi Camilo Gauch, que trabalhava também no jornal A Notícia. Segundo o radialista Paulo Serra Martins, “começaram a chegar pessoas de fora, como Honório Ferreira, Sebastião Leporace, Alceu Silveira, Sebastião Faria, Ricardo Toledo Pinho, Oswaldo Angarano e Jonas Garret. Honório Ferreira tornou-se depois delegado de polícia, enquanto Leporace se transferiu para a rádio Record; e Alceu Pinheiro, para a rádio Difusora, ambas sediadas em São Paulo. Oswaldo ingressou na rádio Tupi do Rio de Janeiro e Jonas Garret tornou-se ídolo da rádio Nacional do Rio, onde fez carreira de sucesso.” Toledo relata: “Trabalhei e trabalho ainda com grandes e memoráveis operadores de som e posso citá-los com grande carinho pelo envolvimento que tivemos no decorrer das décadas. Alguns tornaram-se locutores, enquanto outros, verdadeiros artistas, criaram personagens, como o locutor da Independência, o Jota Silva, nosso popular Jotinha. Seu nome oficial é José Amâncio da Silva, que ele abreviou para J. Silva e, ainda mais abreviado, Jotinha. Ele criou uma figura caipira que se insinuava nos programas sertanejos da emissora. Era um imitador de primeira e fazia vozes hilárias. Também foi um personagem muito prestigiado nas Companhias de Santos Reis, apresentando-se regionalmente. Lembro-me também de Célio Ferré (acompanhava a equipe esportiva de repórteres de campo e narradores em todas as transmissões de futebol, viajava para outras cidades e Estados, com um bom humor inesgotável); Tiãozinho de Paula (também sempre presente na equipe esportiva); Silvio Trevisan; Carlos Moran (foi chefe de gravadora na Independência, profissional importante por ser responsável também pela modernização técnica da emissora); o Pacote (figura simpática cujo nome de cartório é Altair Jacob Marciano, hoje editor de ima320
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gem na TV Record); e Didi Brasil (sorridente e quietão, ele se tornou o programador musical mais conhecido de Rio Preto; sabia tudo sobre gravadora e discoteca; conhecia LPs, CDs, fitas cassetes, disquetes, pen-drives, o que quer que fosse com música gravada).”. Às vezes o talento é tão versátil que o profissional até se arrisca em outras áreas, como a política partidária. É o caso do radialista Tadeu dos Santos Lisboa, operador de som eclético que se candidatou a vereador para a Câmara Municipal de Rio Preto pelo Partido Liberal (PL) nas eleições de 2020. Cumpadi Tadeu fez muito sucesso na Independência e na Stereo Show e foi operador de áudio também nas rádios PRB-8 e Anchieta e na TV Rio Preto, Canal 8. Hoje também faz sucesso com o Churrascão do Cumpadi Tadeu, no Recinto de Exposições, no qual ele sempre apresenta duplas regionais e locais de sucesso da música sertaneja. Apresentador de TV, radialista e compositor, apresentou o programa Sítio do Cumpadi Tadeu na TV da Cidade Canal 16 e participou do programa Sucesso de Todos os Tempos, da TV Record Rio Preto. Foi locutor na Independência, Onda Nova (atual Nativa), Centro-América e Metrópole. Outro que “operou o som” nas ondas do rádio: Sílvio Trevisan, falecido em maio de 2021, foi operador de rádio por mais de 40 anos, até sua aposentadoria. Trabalhou por muitos anos na PRB-8, com passagens por diversas emissoras de rádio de Rio Preto, inclusive a Independência. Participou de diversas atividades do Sindicato dos Radialistas. A PRB-8 também revelou talentos da música rio-pretense: o pianista Roberto Farah, que depois passou décadas animando as noites do Rio Preto Automóvel Clube; o pianista Luiz Carlos Ribeiro, ainda na ativa no clube; o saxofonista Renato Perez, que formou uma grande orquestra e percorreu o interior do Estado; o violonista e guitarrista Mario Longhi; o acordeonista Luis Camin; Dudu da Gaita; entre outros excelentes solistas.
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DONOS DE EMISSORAS
CECILIA DEMIAN
A LBE RTO C E CCO NI ( 1 92 8-2 0 0 4 ) Jornalista, radialista e empresário. Como jornalista, atuou nos jornais A Notícia, Correio da Araraquarense, Diário da Região (sócio-proprietário), Diário da Tarde e Folha de Rio Preto (proprietário). Como radialista, foi gerente da PRB-8 e da Difusora e sócio da Independência. Habilidoso na política, atuou em cargos municipais como secretário de Esporte e secretário de Comunicação Social. Foi diretor de esportes do SESI e diretor regional da Secretaria Estadual de Trabalho. Foi sócio-proprietário da Independência com Rubens Muanis e Alexandre Macedo (1971).
ALE XANDRE M A CED O ( 1 92 4 -2 0 1 7 ) Começou na PRB-8 em 1947 como locutor. Logo criou o primeiro programa de interação com o ouvinte, Bom dia para você, modernizando a programação e levando ao ar crônicas de sua autoria. Também foi locutor na Difusora de Mirassol. Em 1961, juntou-se ao empresário Júlio Cozi e ao deputado Mauricio Goulart para instalar a rádio Independência AM, onde atuou como diretor artístico. Participou da instalação da TV Rio Preto, Canal 8 e foi gerente comercial da rádio CBN e sócio-proprietário da Independência.
AU GU STO C EZA R CASSEB ( 1 94 2 -2 0 1 7) Advogado e professor, fundou a Unorp (Centro Universitário do Norte Paulista) em socie324
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
dade com seu irmão Luiz Carlos Casseb. Foi diretor geral da Unorp; sócio-proprietário da Folha de Rio Preto (1986-2005); fundador e diretor da rádio Centro América (1984); e diretor da Associação de Jornais do Interior. Na política, foi diretor do PFL de Rio Preto e secretário municipal da Indústria e do Comércio.
JU LIO C OSI ( 1 895-1 982 ) Radialista, jornalista e comerciante. Foi cofundador da rádio Independência AM em 1961; rádio Clube AM, de Fronteira, em 1960, em sociedade com Maurício Goulart; e rádio A Voz, de Catanduva, em 1968. Foi diretor do Sarterp em 1968; diretor e fundador da Associação de Imprensa, Rádio e Televisão (AIRT) em 1969; diretor-superintendente da rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro, em 1951; e rádio América, de São Paulo (19471951). Foi um dos fundadores e secretário da Associação das Emissoras de São Paulo (AESP) em 1948. Fundou também a rádio Pan-Americana de São Paulo (atual Jovem Pan) em 1943. Era diplomado em Desenho e Artes pelo Liceu de Artes e Ofício da USP e em Economia.
LU IZ C ARLO S CASSEB ( 1 94 0 -)
Irmão de Cézar Casseb, foi seu sócio na rádio Centro América, professor, vice-chanceler da Unorp, diretor da Folha de Rio Preto e diretor de patrimônio da Sociedade Assistencial de Educação e Cultura, mantenedora da Unorp. 325
CECILIA DEMIAN
LUIZ HOME RO ( 1 92 8-) Advogado, jornalista e escritor. Ingressou aos 18 anos no rádio. Comprou a Piratininga em 1971, transformando-a em rádio Brasil Novo, da qual foi diretor e inovou com uma emissora 100% sertaneja. Também fundou e dirigiu a rádio Onda Nova em 1981. Foi redator da Cia. Melhoramentos de São Paulo e da Standard Propaganda, além de gerente de propaganda do Grupo Industrial Santista. Foi autor dos livros Encontro e Zé Sem Nome. Em 1987, recebeu a Medalha 19 de Julho pela Câmara Municipal de Rio Preto em reconhecimento ao seu trabalho apresentado pelas rádios Brasil Novo e Onda Nova.
M AU RIC IO GO U L A R T ( 1 90 8-1 983 ) Foi fundador da rádio Independência AM em 1963, em sociedade com Júlio Cosi (trouxe o presidente João Goulart para a inauguração), e da rádio Fronteira, em Fronteira. Jornalista, advogado, escritor e poeta, contou com uma equipe de colaboradores, também jornalistas e intelectuais de São Paulo. Em 1958, estabeleceu-se em Rio Preto e no ano seguinte disputou sem sucesso a prefeitura da cidade. Em 1962, foi eleito deputado federal por São Paulo na legenda do Partido Trabalhista Nacional (PTN). Em 5 de maio de 1964, depois da queda do governo de João Goulart, foi escolhido vice-líder do bloco parlamentar formado pelo PTN, o Partido Social Progressista (PSP), o Partido Social Trabalhista (PST), o Partido Republicano (PR), o Movimento Tra326
ROBERTO TOLEDO NAS ONDAS DO RÁDIO
balhista Renovador (MTR) e o Partido Democrata Cristão (PDC). Um ano depois, foi eleito vice-líder do bloco parlamentar da minoria (04/05/1965). Com a dissolução dos partidos políticos por força do Ato Institucional n. 2 (27/10/1965), ingressou no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sendo novamente eleito deputado (1967-1971) pelo Estado de São Paulo.
RAU L SILVA ( 1 887 -1 955) Cirurgião dentista, jornalista e escritor, figura na história como fundador da PRB-8, a primeira rádio de Rio Preto, a terceira do Estado e a oitava do Brasil. Foi o primeiro radialista de Rio Preto e o primeiro locutor, sendo o grande pioneiro da radiodifusão local. Para conseguir esse intento, teve de convencer um grupo de empresários da Associação Comercial e arrecadar verba para conseguir licença e comprar equipamentos, tarefa que durou oito anos. Do sonho desse dentista sorocabano, nasceu a primeira emissora de rádio da cidade, a PRB-8. Na precariedade tecnológica dos anos 1930, a emissora foi ao ar com uma antena enganchada na ponta de uma vara de bambu, o que lhe valeu um som estridente e o apelido de “bambu rachado” ou “taquara rachada.” Raul Silva não restringia suas atividades apenas ao consultório dentário; era um cidadão militante em vários setores sociais, políticos e profissionais da Rio Preto dos anos 1930 e 1940. É coautor do Álbum de Rio Preto (1918327
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1919), em companhia de Fernando Oiticica Lins, apontado como o primeiro livro sobre a história de Rio Preto. Foi um dos fundadores da Sociedade Odontológica (1926), a qual presidiu várias vezes (hoje APCD), do Rio Preto Automóvel Clube (1920) e do Rio Preto Esporte Clube (1919), clubes que perduram até hoje. Entre outros feitos, consta como fundador e presidente da Rádio Rio Preto PRB-8 em 1935, instalando na Associação Comercial, Industrial e Agrícola (Acirp) o primeiro aparelho de rádio da história da cidade. Na imprensa, destacou-se escrevendo nos jornais A Luta, O Mosquito, O Aurora, A Paz, 15 de Novembro, Jornal do Comércio, A Cidade, entre outros. Em 1935, ano de funcionamento da PRB-8, o prefeito de Rio Preto era o médico Synésio de Melo e Oliveira.
W ANDERLE I T EL L ES ( 1 937 -) Começou na PRB-8 como office boy em 1948, com apenas 11 anos de idade e, três anos depois, foi registrado com carteira assinada. Foi auxiliar de discotecário, técnico de som e operador de áudio. Foi chefe do departamento técnico da rede Piratininga, instalou as emissoras Cultura e Difusora de Rio Preto e só deixou a PRB-8 quando esta foi fechada. Foi quando comprou a rádio Clube AM, de Birigui, em 1979, vendida em 1999.
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POSFÁCIO
C
omecei trabalhando ainda menino aos 14 anos. Naquela época podia. Conheci e convivi com os grandes nomes da época. O rádio tinha produtores, redatores, músicos, sim, tínhamos uma orquestra que executava ao vivo as atuais vinhetas ou vinhetões que na época eram chamados de “cortina musical” ou de “BG”. A programação era transmitida 24 horas por dia “ao vivo” e muitos programas em auditório com a presença de público. Os comerciais, denominados “reclames” ou “propagandas”, eram lidos pelos locutores também ao vivo. Fazer uma transmissão fora dos estúdios da emissora era uma epopeia, usávamos linhas telefônicas cuja qualidade, na maioria das vezes, era sofrível. Isso quando tínhamos a previsão da programação externa. Muitas vezes para noticiar um fato ao vivo, os operadores de externa tinham que subir nos postes e “grampear” um telefone de um assinante qualquer para ligarem para a central de operações na rádio para colocar a notícia no ar. Com isso tudo, fazer rádio era e é apaixonante. Quantas vezes varávamos a noite na emissora para fazer o melhor rádio. O rádio de hoje tem uma tecnologia invejável, os equipamentos são todos computadorizados, sofisticadíssimos e extremamente velozes. Esta evolução foi extraordinária, mas infeliz-
CECILIA DEMIAN
mente fez com que em alguns momentos nós abandonássemos a interatividade com o nosso ouvinte, o “falar ao pé do ouvido”. Meu caso é exemplar: nasci e cresci no rádio em Ondas Médias (AM). Fui diretor geral durante 20 anos de uma emissora de rádio cuja audiência medida pelos institutos de pesquisa era maior do que a da segunda, terceira e quarta somadas. Era a minha querida Rádio Record em 1000 Khz com 200.000 watts de potência. Chegávamos a todo o território nacional. O desenvolvimento das cidades, a rede elétrica, os modernos equipamentos começaram a interferir na qualidade sonora da transmissão e captação em Ondas Médias. Tínhamos que optar por uma alternativa que solucionasse este problema que aumentava a todo instante. O Brasil optou pela migração para a faixa de FM. Outros países buscaram outras tecnologias como o rádio híbrido ou o DRM dos europeus. Com todas estas mudanças, o rádio começou a corrigir o seu rumo: buscou a segmentação da sua programação e comercialização, encontrou novamente a interatividade com seu público ouvinte e recomeçou a fazer programas com presença de público e música ao vivo. Ressurgiu. Hoje, o rádio moderno migrou para as multiplataformas com a interatividade do vídeo. Está e estará presente numa infinidade de aplicativos. Sua audiência não depende mais do receptor “rádio”. Ele é ouvido e “visto” praticamente em todos os equipamentos de recepção sonora, sejam celulares, smartfones, equipamentos de inteligência artificial etc. Voltamos às origens onde o público participa e interage com o rádio. Continua e continuará sendo um veículo insubstituível. Paulo Machado de Carvalho Neto* *Conhecido como Paulito Carvalho, é radialista e publicitário. Foi presidente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT); presidente da Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo (AESP); presidente do Sindicato das Empresas de Rádio e TV do Estado de São Paulo (SERTESP); e membro efetivo do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CCS).
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Impressão e acabamento:
Nesta grande aventura de viver do rádio e para o rádio, vendo as pessoas pelos olhos do seu tempo, tudo tão iniciático, precário e sem tecnologia, o que fez de Roberto Toledo um profissional extraordinário foi a travessia dessa grande onda até os dias de hoje sem nunca abandonar o microfone, firmíssimo no estúdio, com a mesma voz de veludo, mas reinventando o modo de se comunicar. Com seu gestual envolvente quase abraçando o microfone, ele elevou o nível do rádio, sempre lançando atrações aos ouvintes e sobrevivendo financeira e galhardamente das ondas desse meio de comunicação. Depois de tantos anos de parceria, é difícil dissociá-lo de seu fiel escudeiro, o microfone.
ISBN 978-65-991897-9-1