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O rádio gostava de eleger o Rei Momo
Nada influenciou tanto a eleição e a deposição dos reis do Carnaval como o rádio, de onde saíram monarcas como Olívio Campanha, o “Cuiabano”, muito mais conhecido pelos seus programas matinais de música sertaneja do que propriamente pela sua aptidão pelo samba. O repórter Castro Barbosa – então trabalhando com Amaury Jr., que apresentava o programa Encontro Marcado na rádio Independência – chegou ao trono justamente na época em que tinha perdido a silhueta arredondada dos reis momos por conta de um de seus infalíveis regimes para emagrecer. Antes, a realeza foi ocupada pelo repórter esportivo Amílcar Prado, o Jacaré, que passou por praticamente todas as emissoras locais, inclusive a TV Rio Preto. Houve um ano em que a figura do rei momo foi ofuscada pelo brilho de um convidado ilustre. O jornalista Saulo Gomes, notabilizado pelas reportagens sobre invasões de discos voadores que apresentava na TV Tupi de São Paulo, veio para Rio Preto contratado pelo então Canal 8. Tornouse coordenador do Carnaval e trouxe para cá ninguém menos do que o sam-
bista carioca Joel de Almeida, o magrinho elétrico, responsável pela popularização de diversas marchinhas de carnaval, entre elas a legendária Pierrot Apaixonado, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. Joel desfilou em carro alegórico, recebeu o título de “cidadão Carnaval” e encheu a bolha de sabão da volta do Carnaval rio-pretense aos dias de glória, mas ela estourou e sumiu assim que a última escola de samba do desfile foi vista pelas costas, descendo a Bernardino. Quem viveu os bastidores dessa época é capaz de testemunhar que nem todos os radialistas escalados para trabalhar no Carnaval ficavam exatamente felizes com essa missão. Hitler Fett, do Departamento de Esportes da Independência, era um que torcia o nariz e praguejava quando lia seu nome na escala de trabalho. Nas transmissões, porém, sua fluência no improviso e a incrível capacidade de buscar na imaginação assuntos para preencher os intermináveis vazios faziam dele uma figura imprescindível – mesmo que, às vezes, deixasse que sua má vontade com a festa mostrasse a cara. Certo dia, abriu a transmissão do primeiro dia dos desfiles criticando as instalações destinadas à imprensa no palanque de madeira armado na Bernardino. Segundo ele, repetiamse os erros dos anos anteriores e, com isso, os profissionais do rádio não tinham sequer um pequeno apoio para acomodar suas coisas, como anotações, textos publicitários, maço de cigarros, copo d´água e o escambau. Então, um dos repórteres ao lado resolveu dar sua contribuição e observou que os erros não deveriam estar se repetindo, porque, afinal, a cidade tinha trocado de prefeito desde o Carnaval anterior. Bola pingando na área para o Hitler pegar de sem-pulo: — Pois é, mudou o prefeito, mas o carpinteiro é o mesmo...
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