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Voto a voto

Dia de eleição era dia de ouvir rádio e trazer de volta velhas lembranças que pareciam mais antigas que os acordes ufanistas da marcha Paris-Belfort, o hino da revolução paulista de 1932, que, a partir dos anos 1960, serviu como prefixo da cobertura eleitoral da rádio Independência. Era dia de eleição, dia em que Rio Preto elegeu para prefeito o Dr. Wilson Romano Calil, em disputa histórica contra o também médico Lotf João Bassitt. Na época, as eleições eram realizadas no feriado da Proclamação da República, e o leitor não deve estranhar que os dois principais candidatos pertencessem ao mesmo partido político – a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Explica-se: as sublegendas foram o casuísmo arrumado pelo regime militar para acomodar todos os políticos nos dois únicos partidos permitidos, a Arena e o MDB. A Independência, fiel à sua tradição de coberturas eleitorais, distribuiu seus repórteres e locutores pelos colégios onde funcionavam as seções eleitorais e os incumbiu de transmitir boletins durante todo o dia, informando o número de eleitores

que já haviam comparecido, se havia filas ou demoras, se tudo estava correndo bem... Correr de tempos em tempos todas as salas de votação para conferir o comparecimento dos eleitores não era problema nenhum diante da missão de transmitir os flashes em baixo de um orelhão, assistido sempre por um grupinho de curiosos que se juntava em volta. No dia seguinte, começavam as apurações, e aí era um emaranhado de mapas de papel almaço distribuídos pelas mesas do auditório da Independência, na sobreloja da Galeria Bassitt, onde tentavam totalizar os resultados de cada uma das urnas, cuja apuração era anunciada pelos repórteres escalados para os dois ou três dias de contagem manual dos votos no ginásio de esportes do Palestra. As urnas cujos resultados acabavam “escapando” dos repórteres eram recuperadas depois nos mapas de apuração que a Justiça Eleitoral afixava no átrio do Fórum, para onde a Independência também escalava seus repórteres. Um deles, o experiente noticiarista e comentarista esportivo Mário Luiz, lembrou-se de um pequeno acidente ocorrido durante essa tarefa, em uma eleição alguns anos antes da de 1972. Ele compilava os dados de um dos mapas, quando um barulho inesperado lhe roubou a atenção: um garoto, que deveria ter seis ou sete anos, entrou em desabalada carreira pela sala e provocou um verdadeiro strike entre os cavaletes de madeira que sustentavam os documentos na Justiça Eleitoral. Ele não se machucou, levantou-se e continuou a correr, mas desde cedo demonstrava sua inclinação para abalar as votações. O nome dele? Valdomiro Lopes da Silva Junior, que havia se desgarrado das mãos do pai e por pouco não empastelou o resultado da eleição.

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