O Conjunto Nacional David Libeskind
1
Alana da Costa Almeida Caio Vinicius Bueno Ribeiro Lhierry Oliveira Santos Thamires Zelinda dos Santos Vinicius de Faria
CONJUNTO NACIONAL David Libeskind
Trabalho de análise da obra Conjunto Nacional de David Libeskind, para a Disciplina Estúdio Teoria/História Arquitetura/Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
São Paulo 2018
2
Sumário INTRODUÇÃO............................................................ 4 FICHA TÉCNICA........................................................ 5 CONTEXTO........ ........................................................ 6 MODELO METROPOLITANO................................... 7 LOCALIZAÇÃO. ........................................................ 10 O EMPREENDIMENTO ........................................... 13 O ARQUITETO........................................................... 14 O PROJETO................................................................ 17 PROJETO INICIAL.................................................... 19 MUDANÇAS PROGRAMÁTICA................................ 22 O EDIFICIO CONSTRUÍDO...................................... 24 EMBASAMENTO........................................................ 36 Planta Urbana........................................................ 39 Marquise................................................................. 41 Terraço.................................................................... 44 LÂMINA....................................................................... 50 OPÇÃO ESTRUTURAL............................................... 24 PROGRAMA................................................................. 57 A CIDADE NA CIDADE.............................................. 58 ANALISE DA OBRA.................................................... 62 Alana da Costa Almeida ......................................... 62 Caio Vinicius Bueno Ribeiro.................................... 64 Lhierry Oliveira Santos........................................... 66 Thamires Zelinda dos Santos................................... 68 Vinicius de Faria...................................................... 70 BIBLIOGRAFIA............................................................ 72
3
INTRODUÇÃO O Conjunto Nacional é uma obra de Arquitetura Moderna que consta entre as edificações que adquiriram importância como marco do período de sua construção e também como símbolo da metropolização da cidade. Atualmente, após mais de 60 anos de sua conclusão, o edifício parece corresponder a uma referência para os habitantes de São Paulo, por abrigar, em seu projeto, as qualidades urbanas desejadas para os espaços da cidade. Este livreto é o resultado de um longo processo de pesquisa sobre o Conjunto Nacional, embasado nos mais diversos meios de consulta e visitas técnicas. Ao longo dele, será apresentada toda a história da obra, contexto em que está inserida, e análises arquitetônicas sobre o projeto.
4
FICHA TÉCNICA - EDIFÍCIO CONJUNTO NACIONAL 124.277,61m² 14.562,00m² com medidas de123,40m x118,00 m São Paulo Av. Paulista, Rua Augusta, Al. Santos e Rua Padre Endereço João Manoel José Tjurs Empreendedor David Libeskind Arquiteto Warchavichik & Neumann Ltda Construtora Escritório Técnico Arthur Luiz Pitta Projeto estrutural Estrutura geodésica Hans Eger 29 pavimentos + 2 subsolos Embasamento (3 pavimentos + terraço + 2 subsolos) Edifício Edifício lâmina (25 pavimentos divididos em 3 blocos) (Centro comercial – 61.454,51 m² + garagem Guayupiá – 1.834,45m²) Área 61.354,51 3 pavimentos comerciais para lojas, restaurantes, livrarias Embasamento 2 subsolos com 786 vagas de garagem 716 vagas de automóveis do centro comercial 70 vagas de automóveis do bloco Guayupiá Área 13.169,24 Bloco residencial com 47 unidades Edifício Guayupiá 1º ao 23º pav. - 2 apartamentos por andar 24º, 25º e 26º pav. - Um único apartamento triplex 70 vagas de automóveis Área 24.237,32 Bloco comercial com 562 unidades 1º ao 13º pav. 23 unidades por andar Edifício Horsa l 14º pav. 22 unidades 15° a 24º pav. 24 unidades 25º pav. 1 unidade Área 23.682,07 Bloco Comercial com 107 unidades Edifício Horsa ll Pavimento terraço 4 unidades 1º ao 26º pav. 103 unidades Área construída Lote Localização
5
CONTEXTO O conjunto das edificações pertencentes a cidade, de uma maneira um tanto quanto generalizada, pode “estampar” ou “emblemar” uma cidade, dessa maneira as formas das edificações podem definir a arquitetura da cidade. O espaço urbano da cidade de são Paulo se definia basicamente por um cenário onde o domínio privado prevalecia, entretanto a partir da década de 1950 nota se que há uma ascensão da questão do espaço público e coletivo, gerando uma certa mudança nos perfis arquitetônicos, muito proveniente também de uma nova fase no cenário histórico, onde o estado colonial deveria ser superado e novas perspectivas de uma fase ultra desenvolvimentista que estava surgindo fazia com que os princípios da arquitetura moderna se alavancassem. O governo prezava cada vez mais pela internacionalização da economia, globalização e criação de uma cultura nacional desenvolvimentista que prezava pela valorização de obras construídas. Desta forma, temos a construção do Conjunto nacional como um evento central e de grande importância.
6
MODELO METROPOLITANO Na década de 50 a cidade de São Paulo apresenta uma certa demanda pela construção de novas edificações atrelada ao mais novo caráter desenvolvimentista nacionalista do país. Havia uma vontade de impor a condição de cidade metropolitana á são Paulo e assim expandir suas influencias, algo conquistado pela materialização de grandes projetos na cidade. O segmento residencial tem uma mudança em seu perfil, uma vez em que os projetos passam a ter serviços e facilidades, permitindo a transferência de atividades domésticas ao âmbito coletivo, uma concepção que se vê claramente no projeto da Ville Contemporaine de Corbusier. Portanto vemos uma mudança nas tipologias e nos cenários urbanos porem mantendo o espaço. Segundo o arquiteto Alan Colquhoun havia um fenômeno intitulado de “The superblock” que consistia nas transformações de uma visão macro em que a construção de grandes blocos e novas tipologias influenciam a estruturação Urbana. Um dos principais grandes exemplos citado pelo autor é o caso do Rockefeller Center em Nova Iorque. Tal projeto se desenrolou com soluções arquitetônicas para empreendimentos de larga escala associando uma boa resposta arquitetônica a uma grande rentabilidade financeira. A intenção desde o início era a de se criar um espaço em que houvesse qualidade urbana, através de uma praça central onde ao redor se organizavam diversos edifícios. Para implementar a questão da escala do pedestre e a escala da cidade foi trabalhada a questão dos gabaritos com desenhos e volumes baixos na escala micro e altas torres que estabeleciam por sua vez a relação de 7
monumentalidade com o entorno na escala macro. No projeto final a tal praça central fica numa cota um pouco mais baixa que o nível da rua, conectando as edificações ao subsolo onde haviam galerias comerciais assim criando um espaço de passagem para a área de garagens e acesso alternativo à estação do metrô. De modo geral, o projeto do Rockfeller Center é compreendido como um modelo projetual da década de 50, onde encontrava se um modelo arquitetônico de grande influencia para a cidade que tinha o caráter metropolitano, conciliava a ampliação e integração ao espaço publico e que também maximizava o lucro sobre o solo urbano. No caso do Conjunto Nacional, assim como no Rockfeller, temos uma intervenção arquitetônica de iniciativa privada que acaba por consolidar uma grande nova centralidade, com capacidade para alteração até mesmo dos fluxos de deslocamentos das pessoas na cidade, gerando um novo eixo comercial atrativo na Avenida Paulista.
8
Rockefeller Center de Nova Iorque, 1932-1939. Reinhard & Hofmeister, Corbett Harrison & Macmurray e Hood& Fouilhoux.
9
LOCALIZAÇÃO Inaugurada em 1891, com o projeto do engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, pelo loteamento chácara Bela Cintra, a Avenida Paulista surgiu em meio a parte elevada do espigão central de São Paulo, separando as águas dos rios Tietê e Pinheiros. Uma área de intervenção diferenciada por parte do poder público municipal, compreende a expansão da cidade de São Paulo. Esta expansão voltou os olhos dos empreendedores para a região, definindo assim, uma grande valorização de determinadas áreas da região, agregando a aplicação de quadro normativo e específico e implantação de infraestrutura ao desenho de arruamentos e parcelamento do solo. Com isso, muitas leis foram criadas para estabelecer um determinado tipo de ocupação e padronizar a região. Algumas das leis, como a lei que estabelece recuos mínimos obrigatórios de 10 metros e 2 metros laterais; a que proíbe a instalação de edificações de uso industrial ou fábricas; a que ternou obrigatória a criação de uma vaga de estacionamento para cada 500 m² de área construída; o acréscimo na lei 3571/37, que teve o objetivo de adequar o zoneamento e permitir a criação de espaços educacionais, hospitalares, de imprensa, de rádio, teatro, televisão e cinema; ou a lei que permitia a verticalização residencial, foram todas fundamentais para a tipologia que reverbera a Avenida Paulista até hoje. Tudo se somou e criou a possibilidade de novos empreendimentos. O loteamento do Conjunto Nacional, assim como outros loteamentos, recebeu incentivos de governo, com a isenção de pagamento de impostos por 5 anos. O empresário José Tjurs adquiriu a residência de Horácio Sabino com a intenção de construir, no loteamento, um 10
hotel como mais uma unidade, que já contava com vários hotéis, entre eles o Hotel Jaraguá. O lote comprado ocupa toda a dimensão de um quarteirão, e está entre a Avenida Paulista, A Rua Augusta, a Alameda Santos e a Rua Padre João Manuel. Com a restrição de impostos, o empresário tornou o prédio para uso tanto comercial quanto residencial.
Acima, foto de residência de Horácio Sabino. Era considerada uma das mais belas da região. Fonte: IACOCCA, Angelo. Conjunto Nacional: a conquista da Paulista. São Paulo: Iacocca, 2004, p. 21.
11
Acima, foto da Avenida Paulista, e o lote onde hoje situa-se o Edifício Conjunto Nacional. Fonte: www.condominioconjuntonacional.com.br
12
O EMPREENDIMENTO O intuito do projeto do Conjunto nacional era basicamente o de se criar algo que viria a ser um empreendimento inovador e imponente; seu endereço, a Avenida paulista, deu ao projeto uma certa influência, já que outros projetos em grande escala estão implantados na região. O empresário José Tjurs, responsável pelo investimento do projeto, era um homem de sucesso e um grande visionário, cuja ideia almejada era a da construção de uma metrópole Paulistana alinhada aos padrões das grandes metrópoles mundiais, assim o conjunto nacional deveria ser um grandioso projeto que se tornasse um símbolo para a cidade e que cumprisse, é claro, todos os requisitos que um projeto desse porte demanda, atendendo principalmente a questão de abrigar as novas comodidades da vida moderna. O projeto do conjunto nacional tem a intenção de início a construção de um hotel para a Avenida paulista e por mais que seu programa fora alterado na construção, o empreendimento conjugava habitação, hotel, comércio e serviços. Sua tipologia se encaixa no conceito de Torre sobre plataforma, assim faz se relevante enfatizar sua similaridade com o projeto do Copan e do Conjunto Juscelino Kubistchek, ambos têm programas semelhantes e serviram de certa maneira como uma inspiração para a construção. Entretanto uma grande referência de projeto seria o Rockefeller Center de Nova Iorque. Segundo o próprio Tjurs o Rockefeller era um grande exemplo de sucesso da participação da iniciativa privada em empreendimentos imobiliários. Tal referência fica explícita quando no folheto de vendas do Conjunto nacional vem a frase: “Uma experiência que custou aos Estados Unidos 1 bilhão de dólares concretiza-se agora em São Paulo no Conjunto Nacional.” 13
O ARQUITETO
Acima, foto do arquiteto David Libeskind. Fonte:http://noticiasdapauliceia.blogspot. com.br/2016/12/david-libeskind.html
David Libeskind, nasceu em Ponta Grossa, PR em 24 de novembro de 1928. Filho de imigrantes poloneses, em 1929 mudase para Belo Horizonte, MG, onde passa sua infância e consolida sua vida artística e profissional. Aluno de Alberto da Veiga Guignard, David desde jovem obteve contato com desenho e pintura.
Foi graças a obras como o Conjunto Arquitetônico da Pampulha de Oscar Niemeyer, que David decidiu ingressar no curso de arquitetura, mais precisamente na Universidade Federal de Belo Horizonte. Logo, descobriu uma paixão por arquitetura, e se dedicou assiduamente também a atividades extracurriculares, como um estágio no escritório do arquiteto Eduardo Guimarães Mendes Junior. Em 1952, D. Libeskind deixa Belo Horizonte e viaja a São Paulo, para ingressar no mercado econômico da capital financeira do país, que apresentava diversas oportunidades para arquitetos, o que ocasionou na imigração de arquitetos como Lina Bo Bardi, Adolf Fraz Heep e Giancarlo Palanti para a cidade. Em pouco tempo após sua chegada, David desenvolveu o projeto do edifício residencial São Miguel (1953), de forma autônoma.
14
E assim, edifícios como o Copan, e o Conjunto JK que o inspiraram para o projeto do Conjunto Nacional, e isso é fortemente ressaltado na semelhança de tipologia dos edifícios. E aos 25 anos de idade, que realiza seu maior e mais famoso projeto, o Conjunto Nacional. Em abril de 2014, David Libeskind falece e deixa o legado de um dos principais arquitetos para São Paulo, com inúmeras obras e colaborações de extrema relevância. Além do Conjunto Nacional, podemos salientar o Hospital Infantil de Sorocaba (1954), o Conjunto residencial da refinaria de petróleo União em Capuava (1954), o Centro Médico de Itacolomi (1958), os edifícios Arper (1959), Alomy (1960) e Arabá (1961). E em 1970 se torna diretor da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB).
Residência Antônio Maurício da Rocha, David Libeskind. Indianópolis, SP, 1957. Acima, foto da entrada. Abaixo, fachada lateral. Fonte:http://www.arquivo.arq .br/residencia-antoniomauricio-da-rocha
15
Acima, elevação frontal. Abaixo, planta da residência Antônio Maurício da Rocha. Fonte: Catálogo Arquitetura Moderna en América Latina, 1950-1965. Edicions ETSAB, 2007, P. 39.
16
O PROJETO Para começarmos a falar do projeto é interessante que saibamos as primeiras etapas de implantação do mesmo e as variadas circunstancias e contextos que o envolvem, assim no caso do conjunto nacional temos a compra do lote realizada em 1952, data em que o até então proprietário Horácio Sabino vem a falecer e sua família vende a propriedade ao empresário José Tjurs. Logo em seguida surgiram propostas para de projeto para aquela área, uma delas foi a proposta de projeto assinada por Gregori Warchavchik e Salvador Candia, esta por sua vez foi inclusive apresentada a prefeitura e aprovado, porém houve uma cassação do Alvará de execução do projeto alegando a restrição do uso para hotelaria e assim inviabilizando sua construção. Com a antiga proposta de projeto inviabilizada, David Libeskind propõe uma nova concepção de projeto onde se mescla um complexo com área comercial e residencial. Como premissa o arquiteto precisava restringir a área construída para que o projeto fosse aprovado, assim foi idealizado uma lâmina vertical com 20 pavimentos que serviria como uso residencial, implantada num volume com embasamento com 3 pavimentos de uso comercial.
17
Estudo realizado por Gregori Warchavchik para o projeto / Fonte: Acervode projetos da Biblioteca FAU-USP. 18
PROJETO INICIAL As grandes modificações pelas quais o projeto inicial passou até sua construção finalizada, delimitam uma diferença entre a intenção projetual do arquiteto e o edifício que conhecemos, embora as mudanças não denotem prejuízo significativo para o resultado. A configuração formal escolhida corresponde à solução tipológica torre sobre plataforma, com um volume horizontal que ocupa toda a extensão da quadra e uma lâmina vertical justaposta ao embasamento. Nesta tipologia, os dois volumes estabelecem distintas relações com o espaço urbano. Enquanto o embasamento delimita a relação do edifício com o entorno, a lâmina vertical estabelece um vínculo simbólico com a cidade, representando a torre vertical da urbanização moderna e constituindo referência geográfica ao ser proposta num dos pontos de maior altitude da cidade. O projeto prevê dois pavimentos de subsolo, um volume de embasamento com três pavimentos comerciais e um edifício lâmina, suspenso por pilotis, sobreposto ao embasamento. Entre o corpo horizontal e o edifício lâmina há um pavimento intermediário, o terraço-jardim, que recebe um pavilhão e uma cobertura para a área de circulação entre os níveis do embasamento. Os acessos à lâmina vertical estão situados na área externa do edifício. O edifício conta com uma rampa helicoidal que parte do 1º subsolo e atravessa todo o bloco horizontal, chegando ao pavimento intermediário entre embasamento e torre - terraço jardim. A ligação contínua com as áreas de garagem, considera a participação da dinâmica urbana dos automóveis no interior do edifício, pois o subsolo não é uma área apartada, mas um espaço integrado às áreas comuns. 19
Os acessos à lâmina vertical estão situados na área externa do edifício. O edifício conta com uma rampa helicoidal que parte do 1º subsolo e atravessa todo o bloco horizontal, chegando ao pavimento intermediário entre embasamento e torre - terraço jardim. A ligação contínua com as áreas de garagem, considera a participação da dinâmica urbana dos automóveis no interior do edifício, pois o subsolo não é uma área apartada, mas um espaço integrado às áreas comuns. No período de concepção do projeto, o problema de circulação de veículos tomava dimensões significativas nas discussões sobre o planejamento da cidade e determinou a aprovação da lei sobre obrigatoriedade das vagas de garagem nas edificações. Este fato transforma grande parte dos projetos da cidade, que passam a abrigar subsolos ou conferir parte da área térrea a estacionamentos. No Conjunto Nacional, este aspecto foi solucionado pela previsão de dois pavimentos de subsolo com 800 vagas de garagem, fato anunciado como vantagem imobiliária. O segundo subsolo surgiu por sugestão do arquiteto após a constatação da necessidade de fundações profundas para a edificação. Estruturalmente, o projeto adota uma malha regular ordenadora para o volume horizontal que obedece a intervalos de 5 e 10 metros de distância entre pilares em toda a extensão do embasamento. A modulação coincide com a frente das unidades comerciais do pavimento térreo como também com a divisão das vagas de garagem dos subsolos. A lâmina vertical tem uma solução estrutural distinta e independente da estrutura do embasamento. Está
20
suspensa por linhas de pilotis duplos que, nos desenhos iniciais, apresentam uma distribuição regular, excetuando-se o trecho do bloco Guayupiá, próximo à Rua Augusta. O projeto inicial propunha um uso misto que atendesse às diversas atividades existentes nos grandes centros urbanos, num edifício pensado na escala de uma cidade.
Acima, maquete do primeiro estudo de David Libeskind para o Conjunto Nacional. Fonte: STINCO, Claudia Virginia. O Conjunto Nacional: história e análise de um modelo. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU Mackenzie, 2004, p.114;
21
MUDANÇAS PROGRAMATICAS O projeto teve a construção iniciada em 1955 e o volume horizontal foi finalizado em 1958. Durante este período a ocupação dos 60.000 m² foi progressiva, assegurando a viabilidade financeira do empreendimento. Quando em 1958 inicia-se, no Conjunto Nacional, a construção do primeiro bloco do edifício lâmina, o programa ainda não sofrera verdadeira alteração, apenas parte da área comercial, estava destinada a um centro de exposição e vendas para a indústria, diferentemente do uso inicial. A intensificação da industrialização no país transformara São Paulo num centro de negócios e o empreendedor direcionava parte da área comercial do edifício a stands com serviços de telefonia, limpeza e conservação, num ajuste e adequação do conjunto às necessidades apresentadas pela cidade. O primeiro bloco do edifício lâmina construído contou com unidades residenciais, com programa semelhante ao projeto original, mas o novo perfil que a Avenida Paulista começava a apresentar, com a construção de edifícios para comércio e serviços, bem como um crescente mercado para escritórios, transforma o programa dos outros dois blocos da lâmina, que passam a acomodar salas comerciais e hotel Os blocos que integram o edifício lâmina foram adaptados a uma estrutura já existente. O segundo bloco foi dividido em pequenas unidades comerciais e a terceiro bloco acabou com o programa transformado novamente e nele, ao invés do hotel, foram construídas salas comerciais de maior dimensão.
22
Embora as modificações no programa não ocasionassem uma grande alteração formal no projeto, as constantes transformações levam o arquiteto a desistir do acompanhamento da obra. David Libeskind declarou que o empresário José Tjurs não tinha definição precisa do programa do empreendimento e tinha acatado sugestões do arquiteto para o projeto inicial, mas com o andamento das obras, decidira por alterações quanto ao destino dos blocos da lâmina e ampliara consideravelmente a área construída comprometendo o terraço do pavimento intermediário. De fato, as significativas modificações aconteceram com a ocupação de grande parte do pavimento terraço, onde a adição de outros dois volumes e o fechamento da área sob a lâmina vertical desvirtuaram o uso de caráter público originalmente destinado à área.
23
O EDIFÍCIO CONSTRUÍDO
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 24 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Implantação Conjunto Nacional. Desenho de Fernanda Marafon Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 25 Frau sobre base Geosampa 2015. <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 26 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 27 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 28 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 29 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Desenho de Fernanda Marafon Frau Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 30 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Elevação Avenida Paulista Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 31 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Elevação Rua Augusta Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 32 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Elevação Alameda Santos Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 33 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Elevação Rua Padre João Manuel Desenho de Fernanda Marafon Frau
Foto aérea do Conjunto Nacional. Fonte: 34 <http://www.geosampa.prefeitura.sp.gov.b r/>
Foto aérea do Conjunto Nacional na década de 1970. Fonte:<www.arquivo.arq.br> 35
EMBASAMENTO Em relação ao embasamento do edifício foram mantidas as mesmas características do projeto inicial, que seriam os três pavimentos para uso comercial e dois subsolos para 786 vagas de veículos. O seu volume é composto de dois pavimentos de sobrelojas suspensos sobre pilotis e o pavimento térreo é ocupado por unidades comerciais A implantação obedece ao recuo obrigatório de 10 metros na face da Avenida Paulista 31 e guarda recuo de 4 metros na Alameda Santos, mantendo o posicionamento das cinco galerias de acesso ao interior do edifício. Internamente as galerias convergem numa área central onde estão posicionados três elevadores, uma rampa helicoidal e duas escadas rolantes, que articulam os acessos entre os diferentes pavimentos do bloco de embasamento. O desenho das cinco galerias internas e da rampa helicoidal permanece como idealizado inicialmente, com as generosas dimensões e a intenção de efetuar um prolongamento das calçadas no interior do edifício. Os acessos o Conjunto estão distribuídos nas quatro faces da quadra. A Avenida Paulista, a Rua Augusta e a Alameda Santos contam com um único acesso e a Rua Padre João Manuel tem dois acessos para a área interna do edifício. Esta rua abriga também a entrada da rampa dos dois subsolos das áreas comerciais. Já o subsolo das unidades residenciais, com 70 vagas de veículos tem acesso pela Alameda Santos. A escolha da localização do acesso aos subsolos na rua menos movimentada parece acertado, mas é curiosa a manutenção de duas entradas para o centro comercial neste mesmo logradouro, onde o fluxo de 36
pedestres é menor. Em relação ao aumento de área construída, as modificações efetuadas tiveram a intenção de ampliar as unidades comerciais nos três pisos do embasamento. No pavimento térreo, o perímetro das unidades comerciais é expandido e uma marquise é construída para abrigar o fluxo de pedestres nas imediações do edifício. Nos demais pavimentos é a região da circulação em torno da rampa helicoidal que recebe acréscimo de construção limitando o espaço livre da área central. Nas galerias, assim como nas calçadas, os pilares estão soltos em relação à delimitação das unidades comerciais, recuadas, e assumem no interior da galeria a forma cilíndrica. O projeto original não distingue o tratamento interno e externo dos estabelecimentos comerciais, mas no edifício, com a opção pela construção da marquise, as unidades comerciais situadas nas fachadas ficam com a altura das vitrines menores que as unidades da área interna. No Conjunto Nacional, às circulações verticais foram inicialmente posicionadas em local com acesso direto pelo passeio público. A entrada dos edifícios residenciais, na Alameda Santos, proporciona uma grande área livre coberta como prolongamento das calçadas. Porém no edifício construído, com a adoção do programa comercial para dois dos blocos da lâmina, a entrada para as circulações verticais transfere-se para o interior das galerias e a área destinada anteriormente ao acesso dos blocos residenciais passa a ser ocupada pelo volume do cinema, que anteriormente estava localizada no primeiro pavimento do embasamento. Dessa forma, também o acesso ao cinema é deslocado da Avenida Paulista para a Alameda Santos e localizado junto à rampa de acesso ao subsolo das unidades residenciais. 37
pedestres é menor. Em relação ao aumento de área construída, as modificações efetuadas tiveram a intenção de ampliar as unidades comerciais nos três pisos do embasamento. No pavimento térreo, o perímetro das unidades comerciais é expandido e uma marquise é construída para abrigar o fluxo de pedestres nas imediações do edifício. Nos demais pavimentos é a região da circulação em torno da rampa helicoidal que recebe acréscimo de construção limitando o espaço livre da área central. Nas galerias, assim como nas calçadas, os pilares estão soltos em relação à delimitação das unidades comerciais, recuadas, e assumem no interior da galeria a forma cilíndrica. O projeto original não distingue o tratamento interno e externo dos estabelecimentos comerciais, mas no edifício, com a opção pela construção da marquise, as unidades comerciais situadas nas fachadas ficam com a altura das vitrines menores que as unidades da área interna. No Conjunto Nacional, às circulações verticais foram inicialmente posicionadas em local com acesso direto pelo passeio público. A entrada dos edifícios residenciais, na Alameda Santos, proporciona uma grande área livre coberta como prolongamento das calçadas. Porém no edifício construído, com a adoção do programa comercial para dois dos blocos da lâmina, a entrada para as circulações verticais transfere-se para o interior das galerias e a área destinada anteriormente ao acesso dos blocos residenciais passa a ser ocupada pelo volume do cinema, que anteriormente estava localizada no primeiro pavimento do embasamento. Dessa forma, também o acesso ao cinema é deslocado da Avenida Paulista para a Alameda Santos e localizado junto à rampa de acesso ao subsolo das unidades residenciais. 38
Corte esquemático. Desenho Fernanda Marafon Frau
PLANTA
URBANA
Uma planta baixa de uma edificação se torna planta urbana, a partir do momento em que a arquitetura interage com o espaço público e o espaço público interage com a arquitetura. No Conjunto Nacional, diversos atributos urbanos são introduzidos como características do edifício, com a intenção de construir essa relação de integração com a cidade. A circulação desenha novas ruas, que embora constituam domínio privado, são projetadas como edificação. A continuidade dos passeios pode ser observada com a continuação das calçadas e delimitam novas parcelas urbanas no interior da incorporação da geografia
39
do lote nas circulações internas do edifício. A quadra, embora apresente declividade pequena, ao final de seus aproximados 120 metros de extensão, apresenta um desnível de um metro entre as entradas da Avenida Paulista e Alameda Santos, assim como entre as ruas Padre João Manuel e Rua Augusta. Este desnível não é percebido, pois a laje do pavimento térreo é construída como continuação da cota da rua e acompanha o desnível das calçadas. Esse tipo de inserção é evidente no edifício Copan, onde a diferença de cotas entre as ruas confrontantes ao edifício é maior e atinge 4 metros, exigindo a adoção de degraus na entrada das unidades comerciais do pavimento térreo. A dimensão de uso público, no Conjunto, é reforçada pela instalação de equipamentos urbanos tais como telefones, bancos, lixeira e pela própria escolha dos acabamentos, uma vez que o piso de mosaico português utilizado nas calçadas é adotado como revestimento de toda a área das galerias do pavimento térreo A proteção proporcionada pela marquise, a utilização do vidro em vedações e vitrines, permitindo a visão entre espaço interno e externo, e as amplas dimensões das galerias, construídas com larguras equiparáveis aos logradouros da cidade, constituem outras características que evidenciam a integração da arquitetura do edifício com as áreas públicas da cidade.
40
MARQUISE A marquise é responsável por grande parte da efetividade da relação entre o conjunto e o passeio público, por abrigar os pedestres em seu percurso pelas calçadas adjacentes ao edifício. Sua construção ocorre motivada pela ampliação das unidades comerciais na periferia do edifício que eliminam a área protegida pelo volume suspenso na face externa do Conjunto. Seu desenho proporciona um espaço de transição entre o passeio descoberto e as galerias internas do edifício e evidencia a dimensão urbana das circulações internas. Circundando a maior parte do perímetro do edifício, portanto da própria quadra, a marquise é interrompida apenas na região da esquina da Rua Padre João Manuel e Alameda Santos, espaço que corresponde ao volume destinado ao cinema, atualmente utilizado pela Livraria Cultura, onde as fachadas do pavimento térreo são construídas como empenas cegas. Neste trecho, a ausência da marquise e a descontinuidade visual entre interior e exterior do edifício caracterizam uma distinta relação com o passeio público, percebida pela diminuição do fluxo de pessoas nas calçadas do Conjunto. A altura livre sob a marquise varia entre 2,75 e 3,75 metros, resultado da declividade das calçadas da quadra. O alinhamento contínuo em relação ao primeiro pavimento do embasamento é, portanto, um indicativo da diferença de cotas de piso entre as diversas aberturas de acesso ao edifício. O menor pé direito se apresenta na esquina da Rua Augusta com Avenida Paulista e a maior altura livre acontece na entrada do edifício localizada na Alameda Santos.
41
Embora o pé direito sob a marquise não seja constante, ao apresentar uma altura compatível com a escala dos pedestres, ela é um elemento de mediação entre o passeio descoberto e as amplas galerias da edificação. A marquise do Conjunto revela a preocupação em qualificar as áreas públicas circundantes à edificação, demonstrando a possibilidade de propor melhores soluções para a cidade.
Marquise do Conjunto Nacional. Foto fachada Avenida Paulista. Fonte Fernanda Marafon Frau.
42
Corte da marquise do Conjunto Nacional. Desenho Fernanda Marafon Frau 43
TERRAÇO O terraço jardim corresponde à área de cobertura do volume de embasamento do Conjunto. Nele temos a aplicação de um dos cinco pontos de Le Corbusier, com o desdobramento do solo ocupado na cota da cidade e a criação de uma nova área livre com uso coletivo. Neste pavimento, ao propor a repetição do solo em altura, a ideia de uma cidade contínua é reiterada, com a suspensão do edifício lâmina sobre pilotis. A continuidade visual decorrente de tal operação reforça a intenção de transformar o terraço jardim em um belvedere para a cidade. São previstos e construídos um pavilhão para abrigar festas, servindo tanto ao uso condominial como ao uso terciário; uma cobertura geodésica translúcida; e entre ambos os volumes uma pequena marquise estabelecendo uma passagem coberta. O pavilhão é construído com pilares cilíndricos enfatizando a independência estrutural em relação às paredes de vedação, dispostas livremente e recuadas em relação aos pilares. Este pavilhão foi ocupado logo após sua construção pelo restaurante Fasano. Na sucessão de acontecimentos e divergências entre o projeto inicial e o edifício construído, o terraço recebe outras edificações não previstas: dois novos pavilhões são construídos às margens da cobertura geodésica, próximos às faces da Avenida Paulista e Rua Augusta. A cobertura idealizada para iluminar a área central do bloco de embasamento é cercada em todo seu perímetro por construções que diminuem a incidência de luz nos pavimentos inferiores. Posteriormente, também a área de
44
pilotis, sob a lâmina vertical, é ocupada por depósitos e unidades comerciais. É neste pavimento que ficam evidentes as contradições entre as visões divergentes do arquiteto e do empreendedor do Conjunto. O arquiteto visava uma edificação que esteja na escala de vida urbana livre e democrática, enquanto o empreendedor enxergava apenas mais uma visão mais capitalista de aumentar o consumo internacional com as mercadorias certas para isso. Esta constatação evidencia que a maior ocupação do terraço jardim não traria perdas para o empreendedor, mas aumentaria os lucros com a ampliação da área construída. A grande ocupação promovida subtraiu parte significativa da área livre do terraço, como também eliminou a continuidade visual, que foi comprometida com a ocupação da área de pilotis do edifício lâmina.
Foto interna da cobertura geodésica. Foto Fernanda Marafon Frau, 2015.
45
46
Foto área mostrando área do terraço. Fonte: 47 www.archdaily.com.br
Fotos dos pavilhões existentes no terraço. Fotos Fernanda Marafon Frau
Foto área mostrando área do terraço. Fonte: 48 www.archdaily.com.br
Fotos da rampa de acesso ao pavimentos da lâmina horizontal do Conjunto. Fonte: http://arteforadomuseu.com.br/arquitetura/conjuntonacional/#section=images
Foto área mostrando área do terraço. Fonte: 49 www.archdaily.com.br
A LÂMINA O edifício lâmina abriga três blocos contínuos, o edifício Guayupiá, Horsa I e Horsa II. O maior movimento a ser feito, foi manter o caráter funcional do projeto, atribuindo a ocupação da lâmina como comercial e residencial. Porém uma grande mudança alterou o projeto final, e apenas 20% de sua área destinada ao uso residencial, foi mantida. O edifício Guayupiá é o primeiro a ser construído e o único a manter o seu programa habitacional. Apresenta 25 andares, sendo os três últimos oavimentos, um único apartamento triplex. Seu acesso é pela Rua Augsuta e define independência em relação à área comercial do Conjunto.
Planta do pavimento tipo do bloco Guayupiá.
50
Foto da construção do bloco Guayupiá na lâmina vertical do Conjunto Nacional. Fonte http://www.arquivo.arq.br/conjunto-nacional?lightbox=image_1pke
51
Foto da lâmina vertical e a escada do e bloco Guayupiá e a escada do bloco Horsa I ao fundo, pela Rua Augusta. Fonte: http://refugiosurbanos.com.br/casas52 predios/conjunto-nacional/
Os blocos Horsa I e Horsa II, construídos de forma independente, são equivalentes às áreas de cinco blocos residenciais previstos no projeto inicial. O primeiro bloco citado, finalizado primeiro, apresenta um pavimento-tipo dividido em algumas unidades comerciais. Possui a mesma solução de escadas adotada no bloco Guayupiá. Já o bloco Horsa II que também é utilizado de forma comercial, é o único que mantem a caixa de escada na parte interna do edifício.
Desenhos Fernanda Marafon Frau
53
OPÇÃO ESTRUTURAL O Conjunto Nacional está vinculado ao uso da técnica moderna e emprega o concreto armado, as lajes nervuradas e as vigas de transição como opções estruturais para mediar e resolver as relações entre os dois volumes, vertical e horizontal, que compõem a solução formal do edifício. A opção pela estrutura em pilares de concreto e lajes nervuradas para os pavimentos do embasamento permite a livre ocupação do volume numa operação em que a planta é livre, independente, e pode ser desenhada como planta urbana. O embasamento do edifício se desenvolve a partir de uma malha estrutural que obedece a intervalos de 5; 7,5 e 10 metros de distância. A modulação mantém a coincidência com as unidades comerciais do pavimento térreo, como também facilita a organização de vagas do subsolo. Alguns ajustes de medidas são realizados nas distâncias entre pilares das galerias de circulação que apresentam certa variação, com intervalos de 9,80 metros. Durante a construção do edifício, foram experimentadas diversas soluções para a execução das formas das lajes nervuradas, com 50 e 35 centímetros de altura. A opção final foi a adoção de formas fabricadas em partes e montadas in loco. O corpo vertical tem uma estrutura independente do volume de embasamento com uma distribuição de pilares e vigas em concreto que se adequa aos diferentes programas dos blocos que compõem a lâmina vertical. No Guayupiá os pilares não obedecem uma ordem clara, mas estão posicionados de acordo com a divisão dos ambientes
54
dos apartamentos, sem modulação ou sistematicidade. No bloco Horsa I, a disposição de pilares coincide com as alvenarias de divisão das unidades comerciais e o formato cilíndrico indica a distinção entre estrutura e vedação. A distribuição de pilares no bloco Horsa II, repete parcialmente a solução existente no Horsa I, porém outros pilares são projetados e posicionados nas paredes que faceiam o corredor de distribuição. Estas diferentes opções estruturais entre os três blocos da lâmina não é aparente no pavimento terraço, onde a utilização de pilotis para a suspensão da lâmina vertical é possível pela construção de vigas de transição. As vigas, dispostas longitudinalmente no volume vertical, estão localizadas na base da lâmina. Elas recebem as cargas provenientes dos 25 pavimentos do volume vertical e transferem os esforços para as linhas de pilotis duplos existentes a partir do terraço jardim. A transição estrutural realizada entre lâmina e base é assim concebida com a intenção de liberar toda a área do terraço, como anteriormente mencionado, constituindo um novo pavimento de uso público, uma repetição do nível térreo como espaço a ser usufruído, tanto pelos moradores do conjunto como pelos habitantes da cidade.
Detalhe formas das lajes nervuras. Fonte: Acrópole n. 222, p. 213.
55
56
Fonte: Acropole n. 222, p. 213.
O PROGRAMA Inicialmente o Conjunto iria contar com serviços, comércio, habitação, áreas de exposição e centro científico, porém este programa não foi realizado. Apesar disso, ainda estava presente a grandes diversidades de atividades. Após sua finalização, funcionaram ainda no Conjunto, um incinerador de lixo, um posto de gasolina e um supermercado. Sendo assim, devido ao grande número de diferentes atividades o edifício é visto como um trecho de cidade. Este amplo programa deixa evidente o período em que a arquitetura tinha que lidar com questões ligadas ao crescimento das cidades. Diferente da Unité d´Habitation de Marsella de Le Corbusier em que a relação entre serviço e população é equilibrada, o Conjunto Nacional tem sua maior parte destinada ao terceiro setor, assim como o Copan, no qual o programa tem grande relação com a escala da cidade
57
A CIDADE NA CIDADE O conjunto Nacional é um projeto de grande escala que utiliza uma grande área construída. Pode se dizer facilmente que 30.000 pessoas transitam diariamente pelo conjunto, este que ainda conta com uma população fixa de 15.000 pessoas. Dessa forma, o empreendimento é basicamente uma cidade dentro da cidade devido sua grande magnitude e larga escala. Tal fato faz com que o conjunto se torne um marco simbólico de importância para a cidade. Em 1972 para a execução de um projeto de construção de vias subterrâneas na Avenida Paulista faz com que o conjunto tenha parte do subsolo desapropriado. Tal projeto apesar de criar áreas exclusivas para pedestres, reforçou a importância dada ao transporte individual por parte dos altos investimentos direcionados ao sistema viário, que poderiam ser destinados ao metro por exemplo. Em 1974 há o início do alargamento da via e inicia se uma mudança no perfil das atividades comerciais na região, assim o perfil do conjunto também é alterado e o comércio do mesmo passa abrigar estabelecimentos populares. Há uma contínua degradação do empreendimento neste período e as dificuldades financeiras somadas a ausência de manutenção tornam precárias as condições físicas. Um incêndio ocorrido em 4 de setembro de 1978 alavancou a deterioração do conjunto, tal incidente destruiu parte considerável da sobreloja e seis andares do bloco Horsa II, dessa maneira a administração do empreendimento ficava cada vez mais decadente. Neste cenário, em 1984 a Horsa vendeu sua parte do edifício a empresa Savoy, que com um plano
58
diretor e uma análise das patologias acerca do conjunto, revitalizou e corrigiu os problemas, assim o conjunto nacional recuperava condições satisfatórias de funcionamento. Além das mudanças administrativas alterações arquitetônicas também foram feitas, como por exemplo a construção de uma marquise na lateral maior da lâmina no nível do terraço e no perímetro da cobertura da rampa, procurando garantir uma passagem coberta entre as diferentes áreas do terraço. A relação dimensional é muito importante no processo de revalorização do edifício, já que sua escala projetual interfere no contexto urbano em que o projeto está inserido. Assim vemos que as transformações do conjunto se relacionam com a dinâmica da cidade e suas respectivas transformações cronológicas. Grandes projetos como o Copan e o Conjunto JK, ambos um certo grau relevante de semelhança ao Conjunto nacional em relação a escala projetual e programa tiverem em sua história situações semelhantes, onde após períodos de decadência e abandono administrativo conseguiram se renovar e aliar seus espaços as transformações contemporâneas. O conjunto nacional teve seu tombamento decretado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado (CONDEPHAAT) em 14 de Janeiro de 2004, porém tal fato não trouxe alterações no seu funcionamento. Sintetiza se a ideia de que edifícios dessa dimensão acabam tendo uma dinâmica e uma relação especial com a cidade; exigem um comprometimento muito grande em relação a organização, o uso, a manutenção, a administração e o principal, a compatibilização da ideia de coletividade, uma inovação para época que exigia uma nova compreensão organizacional de vida. 59
Fotografias do incêndio de 1978 no Conjunto Nacional. Fonte: IACOCCA, Angelo. Conjunto Nacional: a conquista da Paulista. São Paulo: Iacocca, 2004, p.92
60
Terraço revitalizado com a implementação da marquise metálica / Foto da 61 FERNANDA MARAFON FRAU, 2015
ANÁLISE DA OBRA Por Alana da Costa Almeida O Conjunto Nacional é um ícone na arquitetura moderna brasileira, desde a época em que foi construído até os dias de hoje, uma vez que seu projeto possui ênfase no terraço-jardim e nos pilotis, além da tipologia torre sobre plataforma. O edifício, situado na principal avenida de são Paulo e ponto indispensável nos roteiros turísticos, foi pioneiro no estilo de ambiente comercial do tipo shopping center, abrigando em seu interior os mais variados comércios, e deu largada para o processo de verticalização de toda a região em que está inserido. O ponto forte do Conjunto Nacional é que faz jus à denominação de “cidade dentro da cidade” aplicada à ele, pois além de permitir uma circulação continua no mesmo nível da calçada que dá a oportunidade de haver uma fruição pública com acesso a cada uma das quatro ruas em torno do quarteirão em que está situado, possui restaurantes, farmácias, bancos, lojas de roupas, bijuterias, sapatos, docerias, livraria, cinema, academia, escritórios e até residências. Dificilmente não se encontre dentro do Conjunto Nacional o que se procura ou necessita comprar e/ou adquirir. O terraço-jardim se torna um local de permanência na cidade, com acesso livre ao público, mesmo sendo a entrada para o edifício residencial que é a área privada da edificação. O projeto do Conjunto Nacional é excepcional, e
62
merece todos os elogios possíveis, por ter um nível de aproveitamento alto do terreno, que é um quarteirão inteiro do local com o m² mais caro de São Paulo, além das infinitas possibilidades de usufruto que foram aplicadas a ele.
63
ANÁLISE DA OBRA Por Caio Vinicius Bueno Ribeiro O conjunto Nacional é um grandioso projeto que, implantado num dos mais importantes endereços comerciais e atrativos em diversos aspectos da cidade, a Avenida Paulista, demonstrou o quão relevante os ideias modernistas de arquitetura são. A mescla de usos somadas à uma nova concepção dos domínios público e privado, junto a conciliação entre escalas macro e micro moldavam um novo cenário urbano para São Paulo, alinhando a num patamar de cidade metrópole assim como tantas outras capitais desenvolvidas. O arquiteto David Libeskind, responsável pela execução deste poderoso empreedimento, teve como princípio inicial a criação de 2 lâminas. Uma horizontal, onde se encontra uma grande área comercial inserida num espaço público repleto de serviços e até um terraço jardim no topo,garantindo assim a fruição no projeto, uma excelente qualidade urbanística que atrai pessoas e torna o espaço da cidade mais bem aproveitado. Já na Lâmina vertical, encontram -se três torres contíguas com acessos independentes que permitem a convivência de usos distintos como escritórios, consultórios e residências, demonstrando uma certa monumentalidade projetual devido suas grandes dimensões. Alguns outros empreendimentos assim como o Conjunto Nacional também fazem parte do cenário Arquitetônico Brasileiro, em meados da década de 50 surgem o Copan e o conjunto Jk, ambos com programa, dimensão e projeto de uma maneira geral semelhantes.
64
O ideal do empresário argentino José Tjurs , responsável pelo investimento do empreendimento, era o de se criar algo que deveria reunir em um único espaço um hotel, restaurantes, bares, cinemas, lojas comerciais e de prestação de serviços, além de escritórios e apartamentos residenciais com serviço de hotelaria. Também queria ver a Paulista tornar-se a Quinta Avenida de São Paulo. Assim como planejado , o conjunto Nacional tornou se uma cidade dentro da cidade e cartão postal para a cidade, anunciando novos tempos para a Paulista marcado pela verticalização.
65
ANÁLISE DA OBRA Por Lhierry Oliveira Santos O edifício Conjunto Nacional, projetado por David Libeskind é importante empreendimento localizado na Avenida Paulista que marca a Arquitetura Moderna na cidade de São Paulo. Com uma tipologia de torre sobre plataforma, o edifício traz um desenho atemporal e usa uma nova proposta de projeto para a cidade evidenciada principalmente seu programa. Inicialmente um dos elementos relevantes está nível do térreo, no qual a lamina horizontal estruturada sobre pilotis e evidenciada pelo desenho do piso que traz uma continuidade da calçada aborda o princípio de fruição na edificação, importante aspecto no projeto que sem dúvidas deixa ele mais vivo. Na lamina vertical está localizada os três blocos Guayupiá de uso residencial, Horsa I e Horsa I ambos de uso comercial afirmando a importância do uso misto para a construção. Além disso h[á outros elementos que agrega ao projeto que são uma cúpula geodésica e alguns pavilhões no terraço do edifício. Assim, o Edifício Conjunto Nacional sem dúvidas é um ícone da arquitetura moderna da cidade de São Paulo, principalmente por ser exemplo de que a Construção não deve ser algo individual, mas sim algo que se relacione e completamente o entorno. O Edifício atende isso, visto que o projeto atendeu as questões do aumento populacional da cidade que explodia na época da concepção do projeto. Além disso, outro ponto importante ao projeto está ligado ao seu programa, em que as atividades de terceiro setor atendem não só os habitantes do Conjunto, mas também a cidade, tornando nítido a relação de escala da cidade no 66 projeto.
ao seu programa, em que as atividades de terceiro setor atendem não só os habitantes do Conjunto, mas também a cidade, tornando nítido a relação de escala da cidade no projeto.
67
ANÁLISE DA OBRA Por Thamires Zelinda dos Santos Quando penso na Av. Paulista logo me vem à cabeça todos os edifícios que a compõe e dão a ela um aspecto único. O Conjunto Nacional é um desses edifícios grandiosos não pelo tamanho, mas pela complexidade e funcionalidade existente em seu projeto. O Conjunto Nacional tem uma tipologia lâmina sobre base que se a gente parar para pensar é um volume “simples”, mas quando temos a oportunidade de estudar a fundo uma obra desse porte, conseguimos entender toda a funcionalidade e desafios dentro do projeto. Seu volume é composto pela base horizontal que ocupa todo o terreno e tem uso comercial, enquanto a lâmina vertical é composta por três torres, que abriga residências e escritórios. Encontramos ainda uma cúpula geodésica e alguns pavilhões no terraço do edifício, além claro, da marquise que cobre parcialmente as calçadas presentes ao redor do lote e que contribui para que a arquitetura esteja inserida no espaço urbano. O fato do Conjunto Nacional ser uma arquitetura que faz com que os pedestres a permeiem e a explorem de maneira simples, faz com que a sua planta se torne urbana. Toda essa conexão torna o projeto mais próximo das pessoas que o utilizam. O funcionamento presente no prédio é simples e não deixa a desejar, além de ser um projeto harmonioso. Acredito que o Conjunto Nacional é um exemplo vivo de como uma arquitetura pode respeitar o sítio em que se encontra e como pode entrar em sintonia com o
68
espaço público. E como vimos, a questão do uso público é reforçada de diversas maneiras, com o uso do mosaico português que é usado desde a calçada até o interior do edifício, com a presença de bancos no interior, com acessos amplos nas quatro ruas que circundam o lote, entre outros. É um projeto complexo, mas que foi resolvido de uma maneira tão precisa que o resultado não poderia ter sido melhor.
69
ANÁLISE DA OBRA Por Vinicius de Faria O Conjunto Nacional é um grande marco para a cidade de São Paulo, principalmente se tratando do contexto Avenida Paulista. Projetado na década de 50, o Conjunto trouxe imponência e funcionalidade à região, vivenciou e foi um grande colaborador no crescimento da capital econômica do país, São Paulo. Com duas lâminas que se compõem perfeitamente, o edifico é facilmente reconhecido por seu uso misto e sua diversidade arquitetônica. Na lâmina horizontal, nota-se o uso predominantemente comercial que convive com a arquitetura existente do edifico, que é repleto de elementos marcantes, como uma marquise que avança paralelamente as calçadas, um piso que se integra a calçada criando uma sensação de continuidade, que convida os pedestres a adentrarem à obra, principalmente pelo fácil acesso às ruas Augusta e Padre João Manuel, a Avenida Paulista e a Alameda Santos, que implantam o loteamento. A rampa de acesso ao terraçojardim e uma grande cúpula geodesia são os maiores protagonistas dessa lâmina horizontal. A lâmina vertical foi a que mais sofreu com mudanças projetuais e realocação de transposições. São três blocos, construídos de forma independentes, que integram ao chamado “edifício lâmina”, são eles: o bloco Guayupiá, Horsa I e Horsa I. O uso comercial e o uso residencial é o que marca esta lâmina, que teve um grande papel para a consolidação da avenida Paulista, que pela.
70
visão do empreendedor José Tjurs, deveria se tornar a “quinta avenida” de São Paulo. Hoje, todo podemos ver, que a Avenida Paulista se tornou sim uma “quinta avenida” para São Paulo, porém, não apenas para a cidade, mas também, para todo o país, que é um dependente econômico desse “Wall Street” paulistano. Ambicioso e icônico, o projeto feito aos 25 anos de idade do arquiteto David Libeskind, foi sua maior e mais famosa realização, o que ocasionou um enorme marco na sua vida profissional. Ao se inspirar em grandes obras de Oscar Niemeyer como o edifício Copan e obras de Le Corbusier, o tão jovem arquiteto projeta não só pensando no edifício, mas também, nas pessoas que utilizariam este edifício e, concomitantemente, na intervenção urbanística e socioeconômica da região. É notório que seu uso é facilmente esclarecido no contexto da obra, e sua intervenção é fundamental e extremamente importante para o contexto de cidade, e na vida das pessoas que convivem diariamente com o edifico. “O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.” ― Oscar Niemeyer
71
BIBLIOGRAFIA XAVIER, Denise. Arquitetura Metropolitana. São Paulo: Editora Annablume, 2007. IACOCCA, Angelo. Conjunto nacional: a conquista da paulista. 1ª Ed. Brasil: Editora Origem, 1998. SOUZA, Edison Eloy de. Arquitetura / Avenida Paulista. 1ª Ed. São Paulo: Editora Amplitude. 2011. Pág. 138. TOMBI BRASIL, Luciana. Clássicos da Arquitetura: Conjunto Nacional / David Libeskind. 2015. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/777375/classicos-da-arquitetura-conjuntonacional-david-libeskind>. Acesso em 15 de março de 2018. VIÉGAS, Fernando. Conjunto Nacional, de David Libeskind. 2013. Disponível em: <http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/237/conjuntonacional-de-david-libeskind-302145-1.aspx>. Acesso em 15 de março de 2018. DAVID Libeskind. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22802/davidlibeskind>. Acesso em: 15 de março de 2018. In: Arquivo Arq. Disponível em: <http://www.arquivo.arq.br/edificio-arper>. Acesso em 13 de março de 2018. In: Arquivo Arq. Disponível em: <http://www.arquivo.arq.br/residenciaantonio-mauricio-da-rocha>. Acesso em 13 de março de 2018. In: Arquivo Arq. Disponível em: <http://www.arquivo.arq.br/edificio-araba>. Acesso em 18 de março de 2018.
72
Universidade Presbiteriana Mackenzie 2018
73