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A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E O PÚBLICO INFANTIL NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: um levantamento do estado da arte nos periódicos de ensino
Elizabeth de Oliveira Galhardi Grazielle Rodrigues Pereira
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Resumo
Diante das diferentes funções dos espaços de educação não-formal, tais como a promoção da educação científica, lazer e cultura, suas atividades buscam abarcar todos os tipos de público, bem como conversar com as mais diversas áreas da Ciência. Com isso, neste trabalho, realizamos um levantamento do estado da arte da produção acadêmica acerca da temática educação Matemática nos espaços não-formais de educação, tendo como foco o público infantil, em um intervalo de tempo de 10 anos. Analisamos nove periódicos, dos quais seis revistas possuíam trabalhos que relacionavam a educação Matemática nos espaços não-formais de educação. Todavia, a relação entre a educação Matemática, público infantil e a educação não formal não foi encontrada nesses periódicos. Para tanto, os dados evidenciaram a necessidade de novas produções na área, tendo em vista a importância da inserção de elementos da educação não-formal na formação da criança em Matemática.
Palavras chave: educação em espaços não-formais, educação matemática, público infantil.
Introdução
A discussão acerca da divulgação científica para o público infantil tem sido tema de muitos debates e propostas nos meios acadêmicos. Ainda assim, no Brasil pouco se tem aproveitado da natureza curiosa e experimental das crianças, com vistas a elaboração de atividades e exposições para este público nos museus e centros de ciência (NEVES; MASSARANI, 2008). Neste caso, propomos neste trabalho analisar a presença da educação Matemática nos espaços de educação não formal voltada para o público infantil. Para tanto, foram analisados periódicos da área de ensino cujas produções científicas buscaram relacionar a educação Matemática, o público infantil e os espaços de educação não formal. De acordo com estudos recentes de Cardoso (2015), no qual ela analisa os resultados de uma pesquisa realizada em 2013 por M. Watanabe, a autora relata um levantamento sobre a presença da Matemática nos museus e centros de pesquisa na Grande São Paulo e na região do ABC Paulista. Dessa maneira, observa-se uma significativa escassez de bibliografia sobre o assunto, além de enumerar apenas quatro museus com acervo exclusivo de Matemática: o Museu Prandiano, o Espaço Catavento Cultural e Educacional, o Sabina Escola Parque do Conhecimento e a Estação Ciência, todos localizados na cidade de São Paulo. Em suas conclusões finais, a autora tece os seguintes apontamentos: […] os espaços dedicados à Matemática são mais sóbrios, silenciosos e não ocupam lugar de destaque nas três últimas exposições analisadas. Por outro lado, o público é atraído por espaços mais “animados”, que contém aparatos coloridos, barulhentos e que causem alguma sensação física no visitante. Os aparatos matemáticos são, via de regra, ignorados pelo público que não tem paciência para ler grandes explicações nos painéis. Apesar de essa constatação contrariar nossa hipótese, acreditamos que o problema poderia ser resolvido se houvesse, na formação de professores, um tempo a ser dedicado à reflexão sobre a divulgação da Matemática nesses espaços (CARDOSO, 2015, p. 9). A Matemática é considerada como uma das disciplinas mais difíceis durante a educação básica e com uma carga muito grande de seriedade e formalidade, como consequência coleciona desafetos dos alunos, que não se interessam ou não se motivam a estudar um conteúdo tão pesado e complexo (CARDOSO, 2015). Nos primeiros anos do ensino fundamental, onde as crianças ainda não têm maturidade cognitiva para realizar certas
abstrações e dominar certas técnicas, é necessário que a apresentação da disciplina seja feita de forma lúdica e minimamente compreensível aos pequenos alunos, que estão iniciando suas jornadas na vida escolar. Diante desse cenário, considerando a má formação dos professores que lecionam nos anos iniciais (HAMBURGUER, 2007), tem-se uma grande problemática sobre a necessidade de discussões e estudos acerca dessa questão. Muitas publicações tratam da Matemática nos anos iniciais, dentro dos espaços formais de ensino. Contudo, pouco se fala sobre o tema na educação não-formal, que por sua vez, já se mostraram excelentes meios de divulgar a ciência e estimular o interesse do público através de atividades que não demandam as mesmas formalidades que as atividades escolares exigem (CARDOSO, 2015). É necessário refletir mais sobre essa temática, não somente quanto a presença da Matemática, como da necessidade de maior participação e preocupação com o desenvolvimento científico das crianças nesses espaços. Para isso, podemos nos valer de recursos de estudos investigativos, como a revisão de literatura, que auxiliam a compreensão do panorama atual da produção acadêmica com esta temática, por meio de uma sistematização e enumeração do que já se tem produzido.
Metodologia
Nesta pesquisa, realizamos uma revisão de literatura, do tipo estado da arte, de artigos publicados em periódicos brasileiros, de caráter nacional e internacional, especializados em Ensino de Matemática (somente um periódico envolve o ensino de Ciências e Matemática) e classificados no Qualis da CAPES na área de Ensino como A1 e A2. Realizamos a busca nos sites que alocam essas revistas, acessando as abas de edições anteriores, ou utilizando a ferramenta de busca a partir das palavraschave: “educação Matemática”, “espaços não-formais”, “público infantil” e outras semelhantes (educação não-formal, crianças, anos inicias etc). Listamos todos os artigos encontrados com essa temática no período compreendido entre 2007 e janeiro de 2017, enumeramos a seguir todas as publicações que explicitaram em seus títulos, resumos e no corpo do texto, a educação matemática em espaços não-formais e a relação desses com o público infantil.
Os periódicos consultados nesta pesquisa estão listados a seguir: • Bolema (Boletim de Educação Matemática) – classificação A1; • Educação Matemática em Revista (São Paulo) – classificação A2; • Educação Matemática em Revista (Rio Grande do Sul) – classificação A2; • Educação Matemática Pesquisa – classificação A2; • Jornal Internacional de Estudos em Educação Matemática – classificação A2; • Revista de Ensino, Ciências e Matemática – classificação A2; • Rencima (Revista de Ensino em Ciências e Matemática) – classificação A2; • Revemat (Revista Eletrônica de Educação em Matemática) – classificação A2; • Zetetiké – classificação A2. Em toda a busca não foram encontradas outras revisões bibliográficas que tratassem da educação Matemática nos espaços de educação nãoformal, tampouco envolvendo o público infantil. Foram encontrados ao todo cinco artigos que se adequaram ao nosso tema de pesquisa. Foram eles:
Bolema (Boletim de Educação Matemática):
Práticas Efetivas em Educação Matemática no contexto de um banco comunitário - Cristina Geromel Meneghetti, Rita de Cássia Zacheo Barrofaldi, v. 29, no 53, p. 809-827, dez. 2015. Fronteiras Urbanas: perspectivas para as investigações em etnomatemática - Cristiane Coppe, Mônica Mesquita, v. 29, no 53, p. 828-844, dez. 2015.
Educação Matemática em Revista - Rio Grande do Sul:
O Museu interativo de Matemática como uma ferramenta para a democratização da Matemática com vistas à educação inclusiva - Ana Maria M. R. Kaleff, Rosângela Figueira Dornas Bárbara Gomes Votto, Fernanda Malinosky Coelho da Rosa, v. 1 e v. 2, no 11, p. 83-91, ano 11, 2010.
Revista de Educação, Ciências e Matemática
Ciêncializar – 10 anos a promover a ciência – Alexandra Nascimento Baptista, Cidália Macedo, Conceição Nogueira, Diogo Baptista, Liliana Ferreira, Rui Fonseca-Pinto, v. 6, no 2, mai/ago 2016.
Rencima (Revista de Ensino de Ciências e Matemática):
Divulgação e popularização científica no projeto “Ciência sobre Rodas” como espaço educativo - Edson José Wartha, Erivanildo Lopes da Silva, Ana Rocha dos Santos, Cristiano Aprígio dos Santos, Celso José Viana-Barbosa, Tiago Nery Ribeiro, Ricardo Santos do Carmo, Paulo Sérgio Marotti, Rafael Neves Almeida, Samuel da Cruz Canevarri, v. 6, no 3, p. 113-131, 2015.
Revemat (Revista Eletrônica de Educação em Matemática):
Matematica-divertida.com: uma comunidade virtual informal de aprendizagem - Renato Pires dos Santos, Flávia Maria Teixeira dos Santos, v. 3.4, p. 41-54, UFSC: 2008.
Resultados
Descreveremos resumidamente os artigos selecionados de modo a elencar e identificar os elementos que nortearam a nossa pesquisa, bem como conhecer o que tem se discutido a respeito da relação educação não formal, público infantil e educação Matemática. Vale ressaltar que também consideramos como material de análise a relação educação não-formal X educação Matemática. Todos estes artigos estão disponíveis online e para download nos sites das revistas, e em outros portais de busca acadêmica. O primeiro artigo “Práticas Efetivas em Educação Matemática no contexto de um banco comunitário” descreve um projeto realizado com um grupo de jovens e adultos funcionários de um Banco Comunitário (BC) no interior de São Paulo (local não especificado no texto), com foco na educação Matemática nas concepções da Etnomatemática e na Economia Solidária. No texto, as autoras discorrem rapidamente sobre os diferentes espaços 81
de educação (formal, não-formal e informal) e dos conceitos e referenciais teóricos da área da Etnomatemática. Também é descrito como se dá a dinâmica do Banco Comunitário, que é o lócus da pesquisa e onde foram desenvolvidas as atividades. A atividade teve como objeto de estudo a planilha utilizada para controle de crédito produtivo. A falta de conhecimento de alguns funcionários sobre conceitos como: porcentagem, razão, proporção, regra de três e operações básicas com números racionais, acabava por dificultar o preenchimento correto e rápido destas planilhas. As atividades propostas foram aplicadas como oficinas matemáticas desenvolvidas por meio de situações-problemas, com ênfase em conceitos matemáticos considerados básicos para a realização das tarefas no BC. Através de uma análise qualitativa de estudo de caso, as pesquisadoras puderam comprovar que algumas dessas dificuldades foram sanadas, houve uma melhora na organização do raciocínio lógico dos investigados, e até mesmo o uso da calculadora nas operações passou a ser usada de maneira consciente, além de despertar o interesse pela Matemática. Já o segundo artigo “Fronteiras urbanas: perspectivas para as investigações em etnomatemática”, as autoras relataram suas experiências enquanto residentes e pesquisadoras na comunidade Terra da Costa, localizada na região costeira de Portugal. Elas descrevem, com riqueza de detalhes, o surgimento e consolidação do projeto Fronteiras Urbanas e da Escola do Bairro, um subproduto originado pelo projeto citado e considerado um espaço de educação não-formal. O projeto se estabeleceu através de uma parceria entre a academia e a sociedade, onde os pescadores e moradores desta comunidade puderam então explorar conceitos científicos sob uma perspectiva cultural e cotidiana, que considera os saberes adquiridos de maneira informal em suas vivências. O texto relata muitas das atividades que foram realizadas no âmbito do projeto Fronteiras Urbanas e no espaço da Escola do Bairro. De modo que o levantamento de dados etnográficos e a análise das investigações tiveram como fontes a escrita de notas de campo, fotografias e filmes produzidos em conjunto com os sujeitos investigados nesse estudo. A alfabetização matemática surge neste âmbito como um dos assuntos pautados pelos próprios sujeitos para ser trabalhado na Escola do Bairro, dentre outros assuntos escolhidos pelos alunos para serem trabalhados, como a Alfabetização Crítica, Malta do Poema, Grupo de Teatro, Permacultura,
Momentos da Filosofia Política, dentre outros. Todo o trabalho é realizado numa perspectiva d’ambrosiana e freiriana de educação libertária, crítica e formadora da cidadania dos envolvidos. Fica muito evidente o envolvimento emocional das pesquisadoras, fruto de laços afetivos criados com os membros da comunidade e participantes do estudo. Elas encerram o artigo com a expectativa de que sejam produzidos mais trabalhos e pesquisas etnográficas na pauta das investigações qualitativas de educação Matemática, mesmo reconhecendo as dificuldades de se custear tais projetos, para que o investigador possa ter a oportunidade de imersão nos espaços dessas comunidades. No artigo “O Museu interativo de Matemática como uma ferramenta para a democratização da Matemática com vistas à educação inclusiva” foi apresentado a trajetória do Laboratório de Ensino de Geometria (LEG), um projeto em que há a colaboração entre professores universitários e licenciandos de Matemática do Instituto de Matemática da Universidade Federal Fluminense (IMUFF), localizado na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. O objetivo central do LEG é a criação de materiais e métodos didáticos que ajudem a desenvolver a habilidade geométrica dos alunos dos ensinos Médio e Fundamental, com espaço para a inclusão de alunos com deficiências visuais em suas atividades práticas. O autor faz um detalhamento de alguns módulos que foram apresentados durante a V Semana da Matemática na Universidade Federal Fluminense (UFF), que englobavam muitos conceitos específicos de Geometria, como ilusão de óptica, área e volume, geometria esférica, etnomatemática, além de experimentos adaptados para os alunos deficientes visuais de luz e sombra, cálculo de área e estrutura de poliedros, por exemplo. A mostra recebeu somente nessa semana, cerca de 200 professores e 1000 alunos, de 18 municípios e três estados brasileiros. O autor aponta que o trabalho realizado pelo LEGI (linha itinerante do LEG) é uma ótima iniciativa de aproximação das ações acadêmicas com as práticas educativas, que permite a democratização do conhecimento produzido nas universidades para apropriação dos seus visitantes. Ademais, a inclusão de atividades para alunos deficientes visuais aproxima cada vez mais a universidade dos mesmos, e vice e versa, para que eles possam usufruir e sentirem como parte destes locais de produção de conhecimento. No artigo “Ciêncializar – 10 anos a percorrer a ciência” os autores relataram o percurso do projeto CiênciaLIZar – Centro de Recursos para o
Ensino de Ciências, que completou 10 anos em 2016. O centro foi criado pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) e gerido pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), localizados em Portugal. O projeto segue os moldes de museus itinerantes, cedendo suas exposições para escolas e universidades. Para receber o CiênciaLIZar, as instituições e professores responsáveis deveriam se cadastrar no portal do projeto e após a validação do registro, pode-se solicitar uma visita do projeto. O acervo de experimentos e atividades foi elaborado ao longo de muitos anos no Departamento de Matemática do ESTG (DPMAT) e eram dirigidas somente a alunos do 3º ciclo do ensino secundário. Hoje, contemplam alunos e professores do ensino fundamental a universidade. Os experimentos tratam apenas de Matemática e Física, que são as áreas de atuação dos membros do projeto. Contudo, o centro está em processo de ampliação da sua área de atuação, para melhor atender às demandas do público escolar. Ao todo, são cinco módulos, cada um com diversos desdobramentos, que podem ser requisitados separadamente pelas escolas, são eles: “Matemática: pessoas como eu e tu”, “Matemática e as Profissões”, “Matemática e o Jogo”, “Viver no Espaço e no Tempo” e “Atletas com ciência”. Além desses módulos, o centro conta ainda com uma série de palestras sobre conceitos introdutórios da Matemática, alguns ligados a questões cotidianas. O CiênciaLIZar também participa de eventos de popularização da ciência, abertos ao público geral, levando suas exposições a semanas temáticas, fóruns, congressos e feiras. Atualmente, o projeto tem se associado, juntamente com outras instituições aos “Anos Internacionais”, apadrinhados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A conclusão dos autores sobre os impactos do projeto é muito boa, graças ao feedback positivo dos visitantes ao longo desses dez anos, e do repetido contato das entidades solicitando os recursos do CiênciaLIZar. O objetivo futuro do projeto é expandir-se, agregando outras áreas da ciência seja por aumento de recursos, quanto pelo aumento de colaboradores. E o maior desafio relatado no artigo está ligado ao desenvolvimento de novas metodologias inovadoras que contribuam para uma melhor aprendizagem do público visitante e diferenciem o projeto dos outros já existentes no ramo. Identificamos ainda o trabalho intitulado “Divulgação e popularização científica no projeto “Ciência sobre Rodas” como espaço educativo” que também explorou questões como a educação científica e matemática nos museus e centros de ciência e a itinerância. Este artigo apresentou um relato do museu de ciências itinerante Ciências Sobre Rodas: busão da ciência
do agreste e do sertão, concebido por meio do fomento oriundo do Edital 064/2009 (CNPq/MCTI/SECIS/FAPs), cuja proposta é de levar experimentos e atividades de divulgação científica e de popularização da ciência em cidades do agreste e sertão do estado do Sergipe. Além de fazer uma revisão teórica acerca da importância da divulgação científica e as características dos espaços educacionais, o artigo elencou os principais projetos itinerantes em atividade no país, num total 16 museus itinerantes. Apresentou ainda um breve relato histórico mostrando toda a trajetória do “busão da ciência do agreste e sertão”, com fotos e relatos das atividades realizadas durante suas viagens. Os eixos temáticos explorados são divididos em subprojetos nas áreas de Física, Química, Matemática, Ciências Biológicas e Geografia, todas sendo executadas sob tendas, ao ar livre. As atividades de Matemática, especificamente, foram desenvolvidas em parceria com alunos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e do Programa de Consolidação das Licenciaturas (PRODOCÊNCIA) do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal do Sergipe. Os aparatos foram elaborados em sua maior parte com materiais de baixo custo e recicláveis, de fácil manutenção e reprodução. O acervo conta com jogos matemáticos, Tangram, Quadros Mágicos, Calculadora Parabólica, as Matemágicas (truques mágicos com conceitos matemáticos), Teorema de Pitágoras e a Torre de Hanói, todos estes elaborados com a intenção de despertar a curiosidade e o interesse do público, que inclui pessoas locais, alunos, responsáveis e professores da rede pública municipal e estadual. Os pesquisadores avaliaram os impactos nos dois tipos de públicos, o público escolar e o público em geral. Sendo assim, puderam inferir que em relação aos alunos, o contato com os experimentos serviu para despertar o interesse pelo assunto, desmistificar conceitos e estimular questionamentos acerca dos fenômenos. Já em relação ao público geral, segundo os envolvidos, o trabalho se torna ainda mais gratificante, em função da troca de informações entre monitores e visitantes, estimulando a motivação dos monitores a criarem novas estratégias e atividades. Com isso, os autores destacaram a importância de se estreitar os laços entre a academia, as escolas e a sociedade, com a intenção de possibilitar um aprendizado contínuo e significativo para todos. E por último, o artigo “Matematica-divertida.com: uma comunidade virtual informal de aprendizagem”, os pesquisadores realizaram uma análise dos fóruns de discussão virtuais do site Matemática Divertida, espaço concebido por professores de Matemática, com o intuito de promover um
ambiente cibernético de aprendizagem formal de Matemática. Navegando por esse site, encontram-se conceitos matemáticos discutidos de forma lúdica e divertida, desafios, notícias entre os usuários, além de outros assuntos ligados à disciplina. As mensagens trocadas pelos usuários do fórum entre o período estabelecido de 12 de novembro de 2002 até 22 de maio de 2003 foram os dados base para essa pesquisa, e foram categorizadas pelos autores deste trabalho em: solicitação de ajuda, desafio, solicitação de estratégias metodológicas, colaboração e outros (elogios, reclamações, votos etc). A análise dos dados foi executada de forma quantitativa, fazendo um levantamento da ocorrência de certos tipos de mensagens no fórum, do perfil do público visitante e até mesmo dos possíveis motivos que ocasionaram a diminuição dos acessos a partir de um certo período dentro do recorte temporal da pesquisa. Além de provocar críticas acerca da “responsividade” que é a capacidade de criar interesse por um determinado assunto, já que muitas vezes a resposta de perguntas e desafios era bastante demorado; dos padrões discursivos do site, que se utiliza de um modelo de feedback e contra-palavras (modelo IRF), muitas vezes se assemelhando ao discurso dentro de sala de aula entre professor e aluno; e o padrão de interação entre os frequentadores do espaço, onde o contexto principal é a Matemática (não havendo troca de informações pessoais), que mesmo sendo um espaço não restrito, encara a sua frequência mais assídua sendo limitada a períodos de até um mês. Talvez por esses motivos, não se tenha produzido tantas avaliações sobre o impacto social dessa ferramenta de divulgação e aprendizado. Mesmo assim, os pesquisadores admitem que o site promove uma aprendizagem colaborativa por meio da troca de informações entre os usuários, permitindo a construção do conhecimento formal de forma socializada e fora das paredes da escola.
Discussão dos resultados
Os dados da pesquisa evidenciaram que das nove revistas analisadas, em seis encontramos artigos que estabelecem a relação entre a educação Matemática e os espaços não-formais de educação. Não encontramos no levantamento realizado junto aos periódicos, artigos que tratassem da relação educação matemática para o público infantil em espaços de educação não-formal. O artigo que mais se aproximou dessa relação foi a pesquisa intitulada “O Museu interativo de Matemática como uma ferramenta para a
democratização da Matemática com vistas à educação inclusiva”. Embora a pesquisa em questão não tivesse como foco o público infantil, foi possível identificar a relação entre a educação não formal, o público escolar e a educação Matemática. Pudemos perceber que as datas de publicação dos artigos não são anteriores ao ano de 2008, e mesmo assim, boa parte dos artigos foram publicados nos últimos três anos. Tal percepção pode sugestionar que a pesquisa nessa área ainda é bastante recente e embrionária, assim como ressaltam Cardoso (2005) e Watanabe (2003). Cabe destacar que a revista Bolema apresentou duas publicações, enquanto todas as outras apresentaram apenas uma publicação.
Considerações Finais
Neste trabalho, encontramos poucos artigos que buscaram explorar a inserção da Matemática nos espaços de educação não-formal. Apesar de reconhecermos a presença desta área do saber nas atividades desenvolvidas pelos museus e centros de ciência, pouco se tem discutido acerca dessa relação, bem como os impactos das ações de educação Matemática junto ao público. Os resultados deste levantamento de estado da arte revelaram que pouco se produz nos principais periódicos científicos de Ensino em Matemática acerca da inserção da educação Matemática nos espaços nãoformais, sobretudo quando nos reportamos ao público infantil. Cabe destacar que a Divulgação Científica (DC) se tornou um forte canal, capaz de promover a cultura científica dentro da nossa sociedade, contribuindo para a formação de pessoas capazes de exercer com consciência a sua cidadania. Sabemos também que a DC para as crianças não tem a pretensão de transformá-las em futuros cientistas, apenas despertar o interesse, a motivação para saber mais sobre a ciência como também a respeito dos fenômenos presentes em nosso cotidiano de maneira lúdica e prazerosa, desmitificando muitos conceitos já enraizados tanto pela educação formal, quanto pelo senso comum. A educação Matemática, por sua vez, precisa estar mais próxima do público infantil a partir dos elementos lúdicos e prazerosos presentes nos espaços de educação não formal, tais como os centros e museus de ciência. Compreendemos que a introdução da educação Matemática tem ganhado destaque nesses espaços de educação não formal e, portanto, esperamos que continue a expandir de maneira que alcance também o público infantil.
Em nosso levantamento também pudemos verificar que muito se produziu, e ainda se produz na área da educação formal, com excelentes e amplas discussões sobre o Ensino de Matemática nos ambientes formais, muitos estudos ligados à educação Matemática nos anos iniciais, sugestões, críticas e propostas de trabalhos para auxiliar os professores em sala de aula. Novas áreas estão surgindo para trazer um novo viés ao ensino que aproxime cada vez mais os estudantes do cotidiano e da cultura, tal como a etnomatemática, citada em dois dos artigos selecionados. Este campo se mostrou muito produtivo e vasto, com muitas discussões novas surgindo e muitos estudos e revisões sendo realizados. Já não podemos afirmar o mesmo para o campo da educação Matemática nos espaços de educação não formal, tendo em vista que não há uma síntese bibliográfica a respeito, nem muitas discussões dentro de museus e centros de ciências, ou qualquer outro espaço não-formal de educação. Com isso, faz-se necessário o surgimento de novas produções com essa temática, pois a Matemática é uma das principais áreas do saber, desde sempre presente na nossa vida escolar e no nosso cotidiano.
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