12 minute read

um esTudo sobre os insTrumenTos Para o ensino em

UM ESTUDO SOBRE OS INSTRUMENTOS PARA O ENSINO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

Wallace Oliveira Cardoso Renan Maia Fernandes

Advertisement

Resumo

A questão ambiental tem se tornado cada dia mais relevante nas preocupações mundiais. Desse modo, a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Federal nº 6938/81, traz como objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, de forma que no país sejam asseguradas condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses nacionais e à proteção da dignidade da vida humana, elencando a Educação Ambiental como um dos princípios a serem seguidos para obtenção de seu objetivo. Em se tratando da Educação Ambiental, esta, pode ser realizada com o auxílio de metodologias mais eficazes, tal como: o uso de experimentação, de temas geradores e de saídas de campo. Tais metodologias produzem a compreensão dos fenômenos ambientais e desenvolvem o senso crítico, permitindo que haja uma construção de reflexão sobre o ambiente onde se vive, produzindo sensibilização a respeito dos problemas ambientais e gerando atitudes mais conscientes no que se refere ao uso de recursos naturais e participação na conservação ambiental.

Introdução

Em 1972 ocorre a Conferência de Estocolmo, sendo identificado como um dos marcos na identificação dos problemas ambientais a nível global. Em 1992 acontece a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sendo um evento importante para que a temática ambiental fosse divulgada de forma universal. Uma das bandeiras levantadas no encontro foi de que as pessoas possuem o direito de viverem em um meio ambiente com qualidade em que seja possível viver de forma digna e com qualidade no bem-estar (PNUMA, 2002). A Lei Federal nº 6938/1981 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. A mesma traz o conceito de que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida sob todas as formas”. É possível notar que o conceito trazido pela lei é bastante amplo. Em seu artigo 2º é definido o objetivo da lei que consiste na preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, de forma que no país sejam asseguradas condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses nacionais e à proteção da dignidade da vida humana, mas para que este objetivo seja alcançado são determinados alguns princípios, sendo que o 10º principio apresentado faz referência a realização de educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, tendo por objetivo a participação da comunidade na defesa ativa do meio ambiente. Do ponto de vista popular no decorrer dos anos, a questão ambiental tem se tornado cada dia mais relevante nas preocupações mundiais. De acordo com Campos (2010) a mídia tem noticiado de maneira frequente questões relacionadas a combustíveis fosseis e biocombustíveis e a forma que se relacionam com o aquecimento global e com a degradação da qualidade do meio ambiente de maneira geral. Conforme Brumati (2011) a educação ambiental está relacionada a um processo de construção e apropriação de conceitos de forma que geram sentidos divergentes a respeito da questão da sustentabilidade, promovendo um pensamento crítico e reflexivo em relação às condutas automáticas da sociedade atual mediante a questão ambiental. Ainda de acordo com Brumati (2011) o ensino de ciências pode contribuir para a formação de novos valores

e conhecimentos, de forma a preparar os indivíduos para o exercício da cidadania, podendo realizar análises mais efetivas do meio onde vivem, bem como suas relações com este meio e melhorar as condições de vida humana, ajudando na obtenção de um planeta mais sustentável. Segundo Leff (2011) o saber ambiental não adquire apenas um sentido crítico, mas também um sentido prospectivo que se relaciona com diversas áreas do conhecimento teórico e prático.

Desenvolvimento

No que tange a área da educação ambiental, pode-se citar três metodologias básicas e formas de abordagem da temática: experimentação, temas geradores e atividades de campo.

1. Experimentação

A utilização de experimentos teve influência há mais de cem anos por conta do trabalho experimental em desenvolvimento nas universidades. Essas aulas experimentais tinham por objetivo melhorar a aprendizagem do conteúdo científico, pois os alunos aprendiam os conteúdos, mas não sabiam como aplicá-los (IZQUIERDO; SANMARTÍN; ESPINET, 1999). A metodologia de experimentação se caracteriza pela realização de experimentos, sendo inclusive um dos pilares do estudo das ciências. Segundo Guimarães (2009) a experimentação é uma metodologia eficaz para o ensino. De acordo com Oliveira et al. (2016) a metodologia em questão pode auxiliar na discussão de temas que envolvam a temática ambiental, podendo contribuir de forma significativa para a educação ambiental, auxiliando os alunos para que compreendam alguns fenômenos ambientais e desta forma possam desenvolver o senso crítico e desenvolver a capacidade de proposição de soluções a respeito dos problemas observados. Quando a experimentação é bem estruturada e programada, fornece ao indivíduo as devidas instruções detalhadamente sobre o procedimento de modo a levá-lo a produzir o próprio conhecimento e buscar analisar os resultados obtidos. Assim, considera-se como válida e fornece um ensinoaprendizado que faz diferença positiva em sua vida. Além disso, deve-se salientar que para esta metodologia ser efetiva, não se faz necessário possuir

uma aparelhagem de alto padrão ou alto custo, podendo ser utilizado material prático e simples do dia a dia do indivíduo, que muitos acreditam, inclusive, fazer uma diferença mais significativa do que utilizar recursos que o mesmo não tem conhecimento nem mesmo do nome do material em questão (GIORDAN, 1999). Segundo Guimarães (2009), a experimentação pode ser uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação. Logo, o conteúdo a ser trabalhado é caracterizado como resposta aos questionamentos feitos pelos indivíduos durante a interação com o contexto criado. Porém, essa metodologia não deve ser utilizada como uma receita em que os passos são seguidos e chega-se a um resultado pré-estabelecido, de modo que os aprendizes recebem um roteiro para seguir e devem obter os resultados que o orientador do experimento espera. Tampouco se deve acreditar que o conhecimento será construído pela mera observação do indivíduo. Na educação ambiental, deve-se levar em consideração que toda observação não é feita num vazio conceitual, mas a partir de um corpo teórico que orienta a observação. Além disso, quando o experimento é realizado com a intenção de que os indivíduos obtenham os resultados esperados, não há problema algum a ser resolvido. O aprendiz não é desafiado a testar suas próprias hipóteses ou encontrar inconsistências entre sua forma de explicar, aceitando-a cientificamente, o que favorece seu embrutecimento cognitivo ao invés de sua emancipação cognitiva (RANCIÈRE, 2010).

2. Temas Geradores

A contextualização na educação ambiental vem sendo defendida como um princípio norteador de uma educação que esteja voltada para o cotidiano, buscando enfatizar o ambiente, corpo e saúde. Este meio de ensino está associado à preocupação em produzir uma aprendizagem de maior caráter representativa e significativa e em desenvolver o conhecimento valorizando o cotidiano (LOPES, 2002). A metodologia relacionada a temas geradores se caracteriza pelo relacionamento entre as temáticas abordadas em sala de aula e os fenômenos naturais e sociais vividos pela comunidade do entorno da escola ou de outro local em que ocorre o processo de aprendizagem. Essa metodologia

possibilita que os indivíduos tenham a capacidade de questionar os próprios conhecimentos cotidianos, compreender e explicar determinados fenômenos naturais e desta maneira possam fazer escolhas mais conscientes para seu modo de vida. Ainda a respeito desta temática pode-se afirmar que um dos primeiros passos para Educação Ambiental baseada em temas geradores é entender como a comunidade percebe e entende os fenômenos ambientais que ocorrem em seu entorno. De acordo com Freire (1987) esta metodologia do tema gerador é uma proposta fundamentada na teoria dialética do conhecimento, ou seja, o conhecimento é um resultado da ação do ser humano sobre a natureza para satisfazer suas necessidades materiais e espirituais, produzindo novas necessidades e possibilidades. A utilização de um eixo temático pode auxiliar no processo da aprendizagem no que se refere à visão de um contexto social e cotidiano, pois a partir disso o pensamento ambiental pode se constituir pela reflexão sobre o mundo material a partir de algum eixo que o indivíduo esteja vivenciando e consiga enxergar, tal como: a água, o solo, as plantas, entre outros. Sendo assim, o conteúdo ambiental pode ser inserido nesse tipo de pensamento e ser transmitido de forma mais clara e menos fragmentada (QUADROS, 2004). Os temas geradores fazem parte de um leque de metodologias que podem auxiliar o ensino-aprendizagem dos indivíduos, garantindo uma melhor compreensão e assimilação dos conteúdos ministrados e desempenham papel fundamental na educação ambiental, pois a partir destes, a contextualização do conteúdo com o cotidiano desperta a curiosidade e estabelece relações entre os conceitos a serem trabalhados junto à temática social (CÓRDOVA; PERES, 2008). Quadros (2004), por exemplo, propõe a temática água, já que a mesma abrange conceitos sociais e científicos. Além disso, é um tema de conhecimento de todos os alunos de modo geral, e sobre esse eixo, é muito falado acerca da poluição das águas, do fato da água ocupar a maior parte do planeta, da ciência demonstrar que a vida se originou na água, e que ela compõe de modo predominante os organismos vivos. Logo, tratar da água em um contexto social não apresenta muitas dificuldades. Segundo o autor, é de suma importância trabalhar esse eixo temático de forma mais próxima e adaptável à aprendizagem significativa, afinal, é um recurso indispensável para a vida e que atualmente está se esgotando por conta do desperdício, da contaminação de rios e lençóis freáticos e, principalmente, por conta da agricultura que utiliza cerca de 70% do total de água doce presente e,

desse montante, cerca da metade é desperdiçada por conta de uma irrigação mal feita. Essa preocupação é outro fator que pode ser abordado junto ao conhecimento ambiental desde o ciclo da água até um método de tratamento da mesma que é fundamentado basicamente em separação de misturas, formando inclusive um cidadão mais consciente.

3. Atividades de Campo

De acordo com Fernandes (2007) a atividade de campo é definida como toda atividade que envolve o deslocamento dos alunos para um espaço diferente daqueles contidos na escola. Em ensino de ciências as atividades de campo podem ocorrer em ambientes naturais ou não, podendo acontecer em parques, jardins ou até mesmo em museus e indústrias. Segundo Carvalho (1998) as atividades de campo podem ser utilizadas de forma estratégica em programas de Educação Ambiental, pois o indivíduo em contato com o ambiente pode ser sensibilizado a respeito dos problemas ambientais, através da reflexão sobre determinados valores que são necessários para que ocorram mudanças de atitudes e comportamentos. No âmbito ambiental, a atividade de campo é uma prática de ensino importante de ser explorada e é disponível, visto que o espaço é o próprio objeto de estudo. Além disso, a educação ambiental deve permitir a compreensão crítica e global do ambiente, de modo a deixar claro seus valores e emancipar o pensamento crítico do indivíduo, permitindo que sejam desenvolvidas atitudes mais conscientes e participativas a respeito do uso dos recursos naturais, da conservação ambiental, entre outros. Ou seja, a educação ambiental não é uma visão fragmentada do ambiente, mas equivale a um todo sistêmico intrínseco na vida do cidadão (MEDINA, 2001). A educação em campo promove uma motivação diferenciada no educando (VIVEIRO; DINIZ, 2009). Lopes e Allain (2002) afirmam que o meio externo ao convencional apresenta diversos fenômenos e processos que ocorrem simultaneamente. Assim, o educador deve ter objetivos bem delimitados ao propor uma atividade de campo. Segundo Fiumari Júnior (2001), a atividade de campo promove uma maior relação com o meio natural possibilitando um maior entendimento das interações ambientais e ecológicas, visto que desperta a curiosidade (o primeiro passo para o conhecimento). Em concordância, Fagionato (1999)

diz que as saídas de campo são de suma importância por permitir que os indivíduos visualizem in situ os fenômenos e as transformações ocorridas no meio ambiente. Por fim, Campbell e Dickison (2000) afirmam que as atividades de campo possibilitam experiências educacionais mais fortes e mais propensas à memorização.

Conclusão

Após analisar as propostas educacionais no âmbito ambiental, concluise que o uso de metodologias diferenciadas como a experimentação, os temas geradores e as saídas de campo podem facilitar o ensino-aprendizagem de um indivíduo ou até mesmo de uma comunidade como um todo. Isso ocorre porque produzem a compreensão dos fenômenos ambientais e desenvolvem o senso crítico, permitindo que haja uma construção de reflexão sobre o ambiente onde se vive. Além disso, produz sensibilização a respeito dos problemas ambientais e gera atitudes mais conscientes no uso dos recursos naturais e atitudes mais participativas no que se refere à conservação ambiental.

Referências Bibliográficas

BRUMATI, K. C. A educação ambiental no ensino em ciências. Monografia de especialização – Diretoria de Pesquisa e Pós Graduação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2011. CAMPBELL, B.; DICKINSON, D. Ensino e Aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2000. CAMPOS, Sandro X. Ensino de Química Por Meio de Temas Controversos: Biocombustíveis ou Combustíveis Fósseis? Sociedade Brasileira de Química (SBQ). 32. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química 2010. CÓRDOVA, S. T.; PERES, J. A. Utilização de recursos áudio visuais na docência de medicina veterinária. Revista Eletrônica Lato Sensu. Ano 3, no 1, março/2008. FAGIONATO, S. Reestruturação do Programa de Excursões à Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Lobo-Broa. Monografia - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1999, 63 f. FIUMARI JÚNIOR, R. Vivendo e aprendendo com as trilhas ambientais e os estratagemas de sobrevivência do cerrado e da mata atlântica. Dissertação (Mestrado em Educação Ambiental) – Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2001.

GIORDAN, M. O papel da experimentação no ensino de Ciências. Química Nova da Escola, nº 10, 1999. GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa. São Paulo. Agosto, 2009. IZQUIERDO, M; SANMARTÍ, N; ESPINET, M. Fundamentación y diseño de las prácticas escolares de ciencias experimentales. Enseñanza de las Ciencias, v. 17, nº 1, p. 45-60, 1999. LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001. LOPES, G. C. L. R.; ALLAIN, L. R. Lançando um olhar crítico sobre as saídas de campo em biologia através do relato de uma experiência. In: VIII Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia, 6. Anais, São Paulo: FEUSP, 2002. MEDINA, N. M. A formação dos professores em Educação Fundamental. In: MEC; SEF, Panorama da educação ambiental no ensino fundamental / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília, 2001. PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Global Environmet Outlook 3 (GEO-3): Past, Present and Future Perspectives. Londres, 2002. QUADROS, A. L. Água como tema gerador de conhecimento químico. Química Nova na Escola. São Paulo. Novembro, 2004. RANCIÈRE, Jacotot. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Trad. Lílian do Valle. 3a ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2010. VIVEIRO, A. A.; DINIZ, R. E. da S. Atividades de campo no ensino das ciências e na educação

ambiental: refletindo sobre as potencialidades desta estratégia na prática escolar.

Ciência em tela. v. 2, nº 1. 2009. Disponível em: http://www.cienciaemtela.nutes.ufrj.br/ artigos/0109viveiro.pdf.

This article is from: