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A voz do campo
Produção do autoconsumo na agricultura familiar e suas importâncias
Escrito por Jhonatan Beneti e Jaqueline Biavatti
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A vida no campo para alguns é uma questão escolha pela qualidade proporcionada, um ambiente para sossego, descanso e um lugar para apreciar. Já para quem cresceu nesse ambiente é uma questão tradição, herança que carregam a muitas década,s assim construindo suas famílias e fazendo deste ambiente o seu ganha pão, o sustento para quem ali reside com seus familiares.
Mas essa cultura de poder produzir, colher e vender grãos, produção de leite ou em outro segmento, tem se tornado um desafio de se manter e vem declinando com passar dos anos a quem praticamente dedicou uma vida praticamente no campo. Além de necessitar da mão de obra própria ou terceirizada qualificada, muitos necessitam de implementos. Com isso, números altos de despesas assustam, o tempo e a mão de obra escassa é outro fator que tem deixado muito agricultor pensativo, tendo que optar por outros caminhos em alguns casos As famílias que perduram no campo demandam mão de obra qualificada, e isso é outro agravante que tem afastado muitos de suas terras. As que detêm um poder aquisitivo maior acabam adquirindo implementos agrícolas para dar sequência nas safras. Já as com poder aquisitivo menor, ficam refém por ter essa dificuldade de investimentos e acabam alugando ou vendendo para grandes produtores, por não ter poder de investimentos igualitário. Além de ser valores altos de investimentos, outro fator que também preocupa é o clima. O agricultor ou melhor, quem vive do campo fica engessado às condições climáticas, sendo assim, em tempo se torna vilão e em horas e por tempo “amigo”. Dessa forma, fica a incerteza e com isso o medo do endividamento.
Tendo como ponto de partida o custo para a sobrevivência no campo, onde o planejado foge do controle por vários fatores, uma opção que vem dando certa tranquilidade para o agricultor é a produção do seu próprio alimento. Isso desde sempre tem sido uma válvula de escape no corte de gastos e importante meio tanto para uma melhor qualidade de vida se tornado um divisor positivo na agricultura.
Uma pesquisa realizada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural a (Epagri), trás números importantíssimos quanto a auto produção no campo. Entre os principais itens, alguns citados foram: hortaliças, queijos, carnes e frutas, entre outros. Isso representa uma economia de R$ 1.351,99 por mês, de acordo com a pesquisa.
Para obter estes dados, foram visitados 112 municípios do Oeste e Meio-Oeste Catarinense e entrevistadas 381 famílias. Nas propriedades que foram visitadas mais de 90% delas têm menos de 50 hectares, dados que comprovam a importância na produção do autoconsumo, assim diminuindo as despesas no momento em que o mercado está instável.
As principais rendas identificadas são a aposentadoria, que representa um percentual de 54%, e a bovinocultura de leite 55%, de renda nas propriedades. Isso são números que comprovam a importância da produção para o autoconsumo nas propriedades rurais. As carnes bovina, suína e de aves, estão presentes e registram percentual entre 80% e 90%. Aproveitando e comparando, o queijo e o salame ultrapassam de 50% das propriedades que produzem e o pão 92%. Outras especialidades que o campo tem como ponto forte são as hortaliças, árvores frutíferas, ovos e o feijão, que também fazem parte deste portfólio determinante para estes números apresentados.
E para entender esses números que a Epagri apresentou em Julho passado, fomos a campo para entender como é destinado esse tempo para a produção. Na comunidade de Linha Scussiato, interior de Chapecó, na propriedade da família Grotto. São aproximadamente uma colônia de terra destinada ao ramo leiteiro e plantação de produtos para o autoconsumo. A propriedade conta com a colaboração de seis pessoas nas rotinas diárias, são elas: Romildo Grotto, Adelires Grotto, Rodrigo Grotto, Indianara L. P. Grotto e
Rosiana Grotto que além de estudar na cidade, no finais de semana ajuda a família nas tarefas. Além da pequena Yasmin Grotto, filha do casal Indianara e Rodrigo.
Rodrigo Grotto e filho mais velho, destaca que além do leite a produção de outros produtos é determinante para manter a família longe do endividamento. A plantação de hortaliças, a engorda de animais e outros itens são divididos entre os familiares. “Dividimos assim, enquanto uns cuidam dos piquetes, movimentam os animais e tiram leite, outros focam nos alimentos que produzimos para o nosso consumo. Plantam, colhem enfim. É claro que a tarefa pesada eu e o pai fizemos, mas no mais, todos pegam juntos”, afirma.
Grotto ainda destaca que a família para o ano todo os mais variados produtos. “Produzimos mais de 90% dos alimentos que consumimos durante o ano. Além de produzir, o que a gente entende que vai sobrar ou estragar, trocamos com os vizinhos por outros produtos. Para conter gastos se planta o que nos possibilita. Cultivamos pipoca, amendoim, feijão, vários tipos de salada, tem galinha, ovos, porco, gado, cebola, tomate, batata, são poucos produtos que compramos.
Na ponta do Lápis
Os cálculos são determinantes para esse equilíbrio no campo, como destaca a pesquisa. De certa forma esse contraste faz a diferença quando a safra acaba. Para Rodrigo, essa instabilidade que obriga o colono a buscar outras saídas, e essa tem sido uma boa com o custo praticamente zero e isso tem sido uma válvula de escape. A família Grotto tem um controle de gastos mensais que passam de R$ 3,5 mil mensais envolvendo as duas famílias e destaca. “O que produzimos além de nos dar um fôlego e esse valor nos aplicamos em novas tecnologias para melhorar nosso processo de qualidade”.
O secretário da agricultura do município de Chapecó, Valdir Crestani, destaca que o governo municipal busca atender as necessidades do produtor rural. “Estamos sempre em contato com o agricultor, com as famílias rurais buscando as ações e tentando estar próximos nas ações. Buscamos auxiliar quando possível e buscar novos investimentos para nossa região. Nossa região tem potencial e os números retratam a força do campo em nossa região”. Crestani destaca que a economia gira bem se a agricultura está bem, por isso desta aproximação do município com o campo.
Ainda pontuando este setor que tem seus altos e baixos, dados do IBGE apontam que nos próximos anos, a região oeste tende a viver um dos seus melhores momentos. Em 2019 o setor leiteiro teve um aumento de 6,6% na produção de Leite e no próximo os índices indicam evolução considerável.
Economia na cidade
Pensando nisso, Outra pesquisa realizada pela Epagri em parceria com a UFSC e apresentada no seminário é “Governança alimentar e práticas das famílias agrícolas: uma abordagem pelos fluxos de provisão de alimentos e a multilocalização familiar”.
Com objetivo de identificar a quantidade de alimentos que as famílias rurais transfere para familiares na área urbana, 49 famílias foram entrevistada na região de Chapecó para saber destes dados. São casos de filhos de agricultores que saem do interior para trabalhar ou estudar na cidade e com isso para não super elevarem seus gastos longe de casa, tem o auxílio de suas famílias do campo. Estes números e valores chegam a R$350,00 mensais.
Para Sr. Romildo, está conta de custos com alimentação ultrapassa a casa dos R$500,00 com sua filha que reside na cidade para estudar. “Quando ela vem pra casa nos ajudar a gente manda literalmente um rancho pra ela se manter. Isso nos ajuda a não ter altos custos, pois na cidade tudo é muito caro”, finaliza.
Isso mostra a força que vem do interior e também e o quanto somos dependentes desse fortalecimento do campo. Mas o que preocupa e chama a atenção é o volume que o agricultor produzia para os grandes centros. Esse número vem ano a ano decaindo. Altos valores dos insumos, mão de obra praticamente zerada, poucos incentivos dos governos tem desestruturado o campo e se torna um agravante. Já para o “pequeno agricultor”, o fator de poder produzir para si mesmo vem surtindo efeito. Custos menores são importantes no espelho econômico que o país está passando. No mercado onde oscila e que é preciso de ajustes, o agricultor está um passo à frente. É a voz do campo falando alto novamente.