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Espaço de Lazer
Terroir: petiscos de autor para saborear ao balcão ou à mesa na Baixa lisboeta
O balcão desenha metade de uma garrafa, sublinhando que, no Terroir, os vinhos e os pratos têm igual protagonismo. O objetivo é combinar as criações do chefe José Lopes, com os vinhos que os fazem sobressair. O espaço abriu em agosto, vocacionado para elevar a qualidade da oferta gastronómica numa das artérias pombalinas da capital.
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Texto Susana Marques smarquesa@ccile.org Foto DR
Aentrada parece homenagear as cores dos antigos elétricos de lisboa, como o 15, que passa mesmo à porta do terroir, na rua dos Fanqueiros. O restaurante localiza-se na Baixa Pombalina, precisamente onde inês Santos e Erik ibrahim, os proprietários, queriam abrir o seu primeiro espaço. “Noutras zonas do centro de lisboa há ótimos restaurantes, mas a Baixa está muito associada a uma oferta de menor qualidade. Achamos que faz todo o sentido disponibilizar uma alternativa de qualidade nesta zona, um espaço agradável para provar cozinha de autor, inspirada na gastronomia portuguesa”, sustenta Erik ibrahin, recordando-nos que alguns metros ao lado está a entrada para o elevador que liga a Baixa ao castelo de São Jorge, o que coloca o terroir no caminho de muitos portugueses e de muitos turistas. conscientes de que o turismo e a economia acusam o impacto negativo da pandemia, os donos do terroir acreditam que dias melhores virão. Não deixaram por isso de abrir o restaurante em agosto do ano passado, materializando um projeto que já estava a ser “cozinhado há mais tempo. inês Santos e Erik ibrahim formaram-se na Escola Superior de Hotelaria do Estoril, fizeram um ano de estágio na china e viajaram pelo mundo para provarem distintas gastronomias, em diferentes tipos de restaurantes. inês estagiou na área de alojamento e Erik ibrahim na área de Food & Beverage de um hotel, mas perceberam que não queriam trabalhar em hotelaria, pelo menos para já. Apaixonados pelo universo gastronómico, querem proporcionar aos seus clientes experiências que associem boa comida e boa bebida a um preço acessível. Esse é o conceito que o terroir sustenta: “Sentimos que para comer bem, não temos que comer sem-
pre caro. Apostamos em doses pequenas para favorecer a degustação. A ideia é petiscar ao balcão, degustar um bom vinho ou cocktail e regressar sempre com vontade de ter uma nova experiência.”
Erik ibrahin explica que o restaurante se chama-se terroir porque procura mostrar na essência o que nos caracteriza, o que temos de melhor, os melhores vinhos, os melhores produtos, a melhor gastronomia: “Queremos servir uma cozinha de autor, com pratos autênticos, tecnicamente elaborados, que respeitam a sazonalidade e que surpreendem. O cliente pode optar por um pairing (harmonização de um prato com um vinho) ou por um menu de degustação, em que também aconselhamos as melhores bebidas para cada momento de degustação.”
No espaço sobressai um longo balcão, com vista privilegiada para a confeção dos pratos, que desenha metade da forma de uma garrafa. O elogio ao mundo do vinho não se fica pelo nome, já que podemos encontrar filoxeras (uma instalação de daniela Rodrigues, que recria o inseto responsável por uma das mais célebres pragas que afetaram as vinhas na Europa no século XiX, mas que também acelerou a evolução do setor) na sala que faz a ligação entre os lavabos e o espaço de refeições. Na zona de mesas, há ainda um espelho com esculturais troncos que lembram as videiras.
Os detalhes importam para inês e Erik, que fizeram questão de ter sempre que possível materiais portugueses na decoração e no serviço, como o mármore do balcão, ou os talheres da marca vimaranense cutipol. “tudo contribui para essa experiência de terroir português que queremos proporcionar”. do outro lado do balcão brilham o chefe José lopes e o subchefe Filipe Sbarra, confecionando os pratos, que depois são servidos por Fernando carrilho e Sónia Amaral. toda a equipa está disponível para favorecer a pedagogia em torno da harmonização entre a comida e as bebidas: vinhos a copo ou garrafa ou os cocktails exclusivos da casa ou os mais tradicionais.
José lopes formou-se e iniciou a sua carreira no Algarve, voltando à sua terra Natal (lisboa) para trabalhar com o chefe Joachim Koerper (Eleven). integrou também a equipa do chefe Rui Paula (casa de chá da Boa Nova) e passou a chefe executivo do restaurante Pão à Mesa, acumulando, mais recentemente, a colaboração com o clube lisboeta. No terroir, seduziu-o a ideia de poder criar momentos de degustações e pairings, “associando a técnica da comida de autor a sabores de sempre, lembrando as nossas tradições”, bem como “a possibilidade de estar próximo dos clientes e de ir percebendo as suas reações aos pratos”. O chefe salienta que de cada vez que se entrega a um novo projeto faz “um reset” e abre-se a “uma nova possibilidade de aprendizagem, que traz novos desafios”.
Entre as várias propostas da carta, o cliente poderá desfrutar sempre de pão feito na cozinha do terroir, com massa mãe; surpreender-se com um corneto de fígado de galinha; constatar a excelência do peixe português através de um espadarte com cenoura e citrinos; perceber que terra e mar também podem acasalar quando provam cachaço de porco com caldo de bivalves, acompanhado de puré de ervilhas e chips de castanhas; experimentar a sinfonia de sabores do bitoque de piano de vaca confitado a baixa temperatura durante pelo menos 24 horas); dar uma nova definição de paladar à “bola de Berlim”, que pode ser de bacalhau ou de carne. Há também pratos vegetarianos porque “o objetivo é ter na carta opções que agradem a todos”, vinca o chefe.
Entre as possíveis sobremesas encontra um folhadinho de dióspiro com requeijão ou uma taça de chocolate, miso e funcho.
O cliente pode também optar pelos menus de degustação com pairings, de seis ou de nove momentos, e que mudam todos os dias. O terroir disponibiliza também vouchers de degustação para oferta: o menu de nove momentos, com pairing de seis vinhos a copo custa 49 euros e o voucher família fica por 95 euros (com o mesmo menu, para duas pessoas).
José lopes criou também uma carta para take away, estreada na quadra natalícia, com pratos como o peru recheado com tâmaras e tomilho, batata doce assada e bimis salteados com alho, um “falso arroz de pato” ou o “como se fosse um bacalhau com todos”. Esta carta irá sendo alterada, de acordo com a sazonalidade e está por enquanto disponível apenas para entregas em lisboa, através da empresa Volup.
O projeto terroir conta com a consultoria do reconhecido sommelier Rodolfo tristão, e prevê realizar workshops com o escanção a partir de fevereiro de 2021: um de iniciação e outro de harmonização, ambos com um valor individual de 60 euros, ou para duas pessoas por 100 euros. Os valores incluem vinhos e finger food.
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Livros “Mitologia Grega e Romana”
Assinado por Pierre Commelin, um dos grandes tradutores e escritores da sua geração, o clássico “Mitologia Grega e Romana” publicado no final do século XIX, é recuperado para o mercado português pela Esfera dos Livros: “Profusamente ilustrado e considerado um dos grandes textos clássicos nesta matéria, aproxima pela primeira vez o leitor português da história da origem dos tempos, dos deuses do Olimpo, das divindades, do mundo infernal ou dos heróis e das lendas do mundo antigo, com um estilo claro e simples que nos ajudará a perceber e aprofundar os grandes acontecimentos e as personagens da mitologia grega e romana.” Como refere a editora, no comunicado sobre a obra, “a mitologia consiste numa série de mentiras”, que “foram, durante longos séculos, motivo de crenças”. Os mitos “tinham valor de dogma e realidade entre gregos e latinos”. Nesse sentido, “inspiraram os homens, sustentaram instituições respeitáveis e sugeriram aos artistas a ideia de algumas criações, entre as quais se contam grandes obras-primas”. Nesta obra são reproduzidos, “respeitando a sua total simplicidade, sem pedantismos nem comentários, incluindo os seus estranhos e maravilhosos detalhes, sem nos preocuparmos com as suas inverosimilhanças nem com as suas contradições”. A editora frisa que “a mitologia faz parte do nosso imaginário coletivo e da nossa cultura”, estando “presente na arte, na literatura ou na música, atravessa os lugares mais profundos da nossa consciência e a experiência do ser humano através de grandes histórias”.
Exposição
“Deslaçar um Tormento” de Louise Bourgeois em Serralves
Conhecida sobretudo pela sua aranha gigante, a escultora Louise Bourgeois é autora de uma “vasta e singular obra” que toca “temas indelevelmente associados a vivências e acontecimentos traumáticos da sua infância – a família, a sexualidade, o corpo, a morte e o inconsciente –que a artista tratou e exorcizou através da sua prática artística”. Isso mesmo poderemos constatar através da mostra agora patente no Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, que viaja por sete décadas de produção artística de Louise Bourgeois em “Deslaçar um Tormento”. A artista franco-americana nascida em 1911e falecida em 2010 está representada em 32 obras, entre esculturas, têxteis, desenhos, livros e instalações arquitetónicas, expostas no interior e exterior do museu de Serralves, incluindo a célebre obra “Maman”, uma aranha de aço e bronze, cujas patas chegam aos 10 metros de comprimento e que carrega no abdómen uma “bolsa com 20 ovos em mármore”. A peça é uma “ode à sua mãe”, que Louise Bourgeois considerava a sua melhor amiga e que era tecelã, tal como as aranhas. “Tal como a aranha protege os seus ovos que carrega abdómen, uma mãe tem de proteger os seus filhos”, lê-se na nota de imprensa sobre a mostra. A aranha funcionava como um “autorretrato” da artista, na medida em que usa o seu corpo como ferramenta para construir a sua “casa”, da mesma forma que Louise criava esculturas a partir do seu estado psicológico. “A Destruição do Pai”, de 1974, é outra peça em destaque, numa alusão ao “canibalismo”, um tema reincidente no trabalho da artista plástica. “A cena retrata o resultado de uma fantasia de infância, na qual Bourgeois com a ajuda da mãe e dos irmãos se vinga do seu pai adúltero e tirano, esquartejando-o e devorando-o à mesa ao jantar”, indica a nota de imprensa, explicando que a artista se sentia “muitas vezes traída e abandonada por ele” e expressava a “profunda raiva contra o pai e contra o patriarcado opressor nas suas múltiplas formas” em muitas das suas obras. A diretora do museu norte-americano Glenstone, Emily Wei Rales é a curadora da mostra, organizada pela Fundação Serralves, pelo Museu Glenstone (EUA) e o Glenstone Museum, Potomac, Maryland (EUA), em colaboração com The Easton Foundation, Nova Iorque, e coproduzida com o Voorlinden Museum & Gardens, Wassenaar, Países Baixos. A exposição “Louise Bourgeois — Deslaçar um Tormento” revela vivências e acontecimentos traumáticos da infância da artista, como a sexualidade, o corpo, a morte e o inconsciente, mas apesar de autobiográfica, a obra de Bourgeois é também capaz de “transmitir emoções universais e a vulnerabilidade das nossas vidas quotidianas”, descreve o museu, referindo que sentimentos, como “insucesso”, “receios”, “inveja” ou “opressão”, encontram nas suas obras uma “forma física”
Até 20 de junho de 2021, no Museu de Serralves, no Porto
Douro Património Mundial, em fotografia
No passado dia 14 de dezembro, celebrou-se o 19.º aniversário da elevação do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial da UNESCO. A data é assinalada através da exposição de fotografia de Rui Pires, patente no Museu do Douro, no Peso da Régua. A mostra retrata o património, as
paisagens, as pessoas e as principais atividades da região, através de 324 fotografias, entre as quais, 40 fotografias de Rui Pires, impressas sobre tela, que pertencem à colecção do Museu do Douro. O fotógrafo e documentarista Rui Pires começou em 2006 a fotografar o Alto Douro Vinhateiro, com câmaras de grande formato e chapas de diapositivo de cor.
No Museu do Douro, na Régua
Teatro Diogo Infante interpreta Ricardo III
Uma das mais reconhecidas obras do dramaturgo inglês William Shakespeare e uma das mais encenadas peças de teatro clássico, “Ricardo III” está em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa, até ao final deste mês. A peça foi uma das primeiras obras do dramaturgo quinhentista, e apresenta-nos “um herói que desperta em nós, em simultâneo, fascínio e horror, num texto francamente atual e pleno de vitalidade sobre a ambição e os jogos de poder”, como salienta o comunicado do teatro da Trindade. Com encenação de Marco Medeiros, a peça conta com Diogo Infante no papel de Ricardo III: “Ricardo vai mudar o curso da História. Ele, que não nasceu para ser rei, fixou os olhos na coroa e deseja-a ardentemente, da mesma forma que por trás da sua mente criminosa, há um perverso desejo de ser amado.” Uma história sobre “a maquiavélica ascensão ao poder, repleta de mentiras, manipulação e violência, daquele que é considerado o mais sangrento e terrível dos vilões”. Na sinopse, o encenador escreve que “a ausência de escrúpulos e o destemido crescimento hierárquico são a combinação perfeita para o declínio da humanidade. Ao recuarmos VI séculos, deparamo-nos com a repetição de padrões humanos, apenas adaptados à evolução dos tempos. O apetite voraz pelo poder e o mau exercício do mesmo, provoca, aos subordinados, uma insatisfação geral, mas inerte. O movimento oponente e crítico atua de forma inativa, distante e contemplativa. O ativista passivo, sendo apenas um espectador crítico, por consequência, torna-se cúmplice do principal adversário, ao permitir que o crime público atue. O mesmo acontece na nossa versão do “Ricardo III”. A manipulação, o crime, a ambição e a inversão de valores, são as armas que o encaminham até ao poder e sem oposição ativa e com o consentimento do público, a sua voz, será a de todos os presentes.”
Até 31 de janeiro, no Teatro da Trindade, em Lisboa
Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
O Expressionismo alemão na coleção do barão Thyssen-Bornemisza
“Estavamos nos princípios dos anos sessenta quando comprei a minha primeira obra de um expressionista alemão. Era uma aguarela de Emil Nolde (de 1931-1935) que mostrava um par de jovens. Chamou-me imediatamente a atenção a sua audaz gama de cores e a atmosfera particular que dela emanava.” As palavras são de barão Hans Heinrich Thyssen-Bornemisza (1921-2002) sobre uma tela comprada em 1961, iniciando assim a sua coleção de quadros do expressionismo alemão. Este conjunto de obras protagoniza uma exposição temporária que pode ser vista no Museu Thyssen-Bornemisza e que assinala o início das comemorações do centenário do nascimento deste colecionador, um dos mais relevantes do século XX. O barão dá seguimento à coleção de arte da família, já que o seu pai, Heinrich Thyssen, havia reunido uma extraordinária coleção dos mestres de pintura antiga. O filho prossegue, adquirindo obras representativas dos principais movimentos artísticos do século XX, como é o caso do expressionismo. Comissariada por Paloma Alarcó, a mostra articula-se em torno de três conceitos: “o processo criativo das pinturas, o seu sucesso junto do público e da crítica e, por último, a relação do barão com os seus marchands (negociantes em arte) e os projetos expositivos que organizou para difundir a sua coleção no contexto internacional.” Oportunidade para apreciar “as pinceladas expressivas, as cores antinaturais e contrastantes dos expressionistas”, que “atraíram olhar do barão Thyssen”, primeiro para as obras do grupo Die Brücke (a Ponte), de Dresde, e mais tarde para as de todos os que integraram o Der Blaue Reiter (o Cavaleiro azul), ativos em Murnau e Munique. “Todos partilhavam a mesma forma de entender a arte que partia da visão interior do artista e sustituia a imitação da realidade pela invenção de uma realidade nova”, como se lê na nota de imprensa do museu.