Adventist World Portugese - March 2020

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P I O N E I R O D O C R I A C I O N I S M O /// É T I C A C R I S T Ã /// I G R E J A N A I N G L A T E R R A /// I S R A E L F O I R E J E I T A D O ?

Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50

MARÇO 2020

RELIGIÃO TÓXICA QUANDO A CRENÇA PODE FAZER MAL


BOA FÉ

CARACTERÍSTICAS DA RELIGIÃO QUE VEM DE DEUS E LEVA A ELE MARCOS DE BENEDICTO

As religiões já foram comparadas a uma grande montanha escalada por alpinistas que tentam chegar ao topo subindo por diferentes lados e também a inúmeras cadeias de montanhas com muitos picos e diferentes relevos. Enquanto a primeira analogia ressalta as semelhanças, a segunda destaca as diferenças. Sem dúvida, a última comparação é mais apropriada. Embora na superfície as religiões pareçam iguais, elas são muito diversas em seus ensinos, objetivos, códigos, métodos, rituais e resultados. Os fenômenos religiosos, parte do próprio tecido da sociedade, não podem ser nivelados. Algumas manifestações religiosas são negativas e “tóxicas”, como enfatiza a matéria de capa. Porém, a religião de Cristo é maravilhosa! Afetando todos os aspectos da vida, ela causa impacto positivo sobre o corpo e a mente. Ajuda a ser feliz e a criar felicidade. Promove o sentimento de solidariedade, valoriza o próximo e cuida dos fragilizados. Intelectualmente honesta, ela busca a verdade e lança luz sobre a realidade. Faz o bem por ser o certo e não na tentativa de ganhar favores divinos. Sem desconsiderar a aparência exterior, seu objetivo é a transformação interior. Acima de tudo, conecta a Deus. Verdadeira, fiel à gramática celestial, a religião saudável promove o

INFELIZMENTE, É POSSÍVEL TRANSFORMAR A RELIGIÃO NUMA SUBSTÂNCIA TÓXICA, TANTO NO NÍVEL INTELECTUAL QUANTO NO ÂMBITO PRÁTICO

amor, e não o ódio; a aceitação, e não o julgamento; a autenticidade, e não a hipocrisia; a autonomia, e não a coerção; a elucidação, e não o obscurecimento; a coerência, e não a incongruência; a graça, e não o legalismo; a liberdade, e não a intolerância; a flexibilidade, e não o absolutismo; o equilíbrio, e não o radicalismo; a inclusão, e não o exclusivismo; a humildade, e não a arrogância; a igualdade, e não a superioridade; a justiça, e não a injustiça; a integridade, e não a desonestidade; a generosidade, e não o egoísmo; a ética, e não a sordidez; a pureza, e não a imoralidade; a santidade, e não a impiedade; a dependência de Deus, e não a justificação própria. Ellen White mencionou algumas vezes a “religião de Cristo” como o padrão de uma espiritualidade positiva. “A religião de Cristo representa muito mais do que o perdão do pecado. Significa remover nossos pecados e preencher o vácuo com o Espírito Santo. Significa divina iluminação, regozijo em Deus” (Olhando Para o Alto, p. 32). “Uma religião amarga, censuradora, não encontra exemplo na religião de Cristo” (p. 114). “Olhando a Jesus, a imagem de Cristo é gravada sobre a pessoa e refletida no espírito, em palavras, em verdadeiro serviço pelos nossos semelhantes. A alegria de Cristo está em nosso coração, e nossa alegria é completa. Isto é religião verdadeira” (p. 262). Infelizmente, é possível transformar a religião em algo totalmente diferente, uma “substância” venenosa e tóxica – no nível intelectual e no âmbito prático. O apóstolo Paulo alertou que algumas pessoas estavam querendo “perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1:7). No original, o verbo “perverter” (metastrepho), que aparece apenas três vezes no Novo Testamento, tem o sentido de “corromper”, “mudar”, “distorcer”. Em Atos 2:20, o mesmo verbo é usado para indicar que o sol se transformaria em trevas. E no texto de Tiago 4:9 para falar do riso que se converte em pranto. Assim, não vamos transmutar a religião em outra coisa. Felizmente, Cristo é o modelo de como viver a fé não tóxica. Referência em tudo, é Ele quem define o padrão da verdadeira religião. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Foto: Adobe Stock

EDITORIAL


Mar. 2020

No 1355

Março 2020

Ano 115

www.revistaadventista.com.br

Pu­bli­ca­ção Men­sal – ISSN 1981-1462 Órgão Ge­ral da Igre­ja Ad­ven­tis­ta do Sé­ti­mo Dia no Bra­sil “Aqui está a pa­ciên­cia dos san­tos: Aqui es­tão os que guar­dam os man­da­men­tos de Deus e a fé de Je­sus.” Apocalipse 14:12 E­di­tor: Marcos De Benedicto E­di­to­res As­so­cia­dos: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Hiram Kalbermatter, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva, Sérgio Alan Caxeta e Stanley Arco

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Religião nociva

Transparência e integridade

Mentalidade tribal

Duas virtudes próprias do caráter cristão

Exclusivismo e senso de superioridade são contradições do evangelho

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Boas-novas no Velho Mundo

Sem barreiras

Israel e a igreja

A igreja não deve erguer muros para impedir o acesso das pessoas

Como interpretar a analogia bíblica das duas oliveiras

Visão equivocada sobre Deus pode oprimir em vez de libertar

Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski

Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 16, no 3 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown

Saiba como o adventismo se estabeleceu na Inglaterra

Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier

SUMÁRIO

Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson

CA­SA PU­BLI­C A­DO­R A BRA­SI­LEI­R A Edi­to­ra da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ro­do­via Es­ta­dual SP 127 – km 106 Cai­xa Pos­tal 34; CEP 18270-970 – Ta­tuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900

2 EDITORIAL

30 BOA PERGUNTA

39 INTERNACIONAL

4 CANAL ABERTO

31 BEM-ESTAR

41 MISSÃO

32 NOVA GERAÇÃO

42 NACIONAL

33 PRIMEIROS PASSOS

43 GUIA

34 VIDA ADVENTISTA

47 MEMÓRIA

16 VISÃO GLOBAL

36 PERSPECTIVA

48 EM FAMÍLIA

21 INSTITUCIONAL

37 RETRATOS

49 ESTANTE

28 MINHA HISTÓRIA

38 IGREJA

50 ENFIM

Boa fé

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

A opinião de quem lê

5 BÚSSOLA

Virada radical

Diretor-Ge­ral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia

6 ENTREVISTA

Re­da­tor-Che­fe: Marcos De Benedicto

Debate público

Ge­ren­te de Produção: Reisner Martins Ge­ren­te de Ven­das: João Vicente Pereyra

8 PAINEL

Chefe de Arte: Marcelo de Souza

Datas, números, fatos, gente, internacional

Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. E­xem­plar avul­so: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50 Nú­me­ros atra­sa­dos: Pre­ço da úl­ti­ma edi­ção.

Código de conduta Não está à venda

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 1

5839/41367

O abajur azul

Pilares

Cigarro eletrônico Atitude de aprendiz Pequenas coisas

O evangelho no Japão

Jornalismo adventista De frente com o príncipe Relevância na comunidade

Dos escombros à reconstrução

Capacitação para servir O resgate da oração Princípios éticos Dormiram no Senhor Feminicídio

Crime e perdão Amor proibido

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CANAL ABERTO MESTRE DA ORAÇÃO Agradeço pelo fato de a revista ter pautado o assunto da oração como matéria de capa de fevereiro. Mais do que nunca, deveríamos, como filhos, estar em contato com o Pai celestial, a fim de recebermos o bálsamo de que necessitamos para enfrentar as vicissitudes da peregrinação terrena. O artigo me fez lembrar do grande Machado de Assis, em seu livro Helena, onde ele escreveu que “a oração é como a escada de Jacó. Através dela ascendem nossas súplicas ao Céu, e por ela descendem as divinas consolações”. Léo Ranzolin / Estero, Flórida (EUA)

líderes, pastores e professores. Poucos são os que se preocupam em orientar e doutrinar a igreja nesses aspectos da vida cristã. Segundo Ellen White, o orgulho manifestado por meio do vestuário é um motivo de disciplina eclesiástica (Testemunhos Seletos, v. 1, p. 600) e a “reforma no vestir” seria um fator de distinção do povo de Deus (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 171). Por isso, reavivamento sem reforma é apenas barulho e oba-oba. Erico Tadeu Xavier / Ivatuba (PR)

Boa reflexão a do pastor Fernando Dias sobre modéstia cristã. Equilibrada e com profundidade bíblica. Esse é um tema pouco abordado atualmente na igreja, mas pelo qual a sociedade começa a clamar novamente. Rafael Souzan / Via site

OXIGÊNIO DA ALMA

Que editorial fantástico foi publicado em fevereiro! Claro, objetivo, esclarecedor e incentivador. Gostei especialmente do trecho: “Por isso, oramos em nome de Jesus, o sacrifício perfeito.” Desta vez, comecei a leitura da revista pelo editorial e li o periódico todo em tempo recorde e com alegria. Como um todo, a edição está espetacular. Ed Carlos Fernandes / São José do Rio Preto (SP)

EM DEFESA DA SAÚDE

Fiquei impressionado com a pergunta do artigo de Peter Landless de fevereiro: qual seria minha posição se fosse levado a um tribunal para defender o estilo de vida adventista? Que desafio e responsabilidade! Diante de epidemias como a do coronavírus, penso que o impacto de nossa mensagem de saúde poderia ser maior, pois todos estão agora pensando no fortalecimento do sistema imunológico. Além de medicamentos e vacinas, especialistas destacam que a proteção do nosso organismo começa à mesa. Portanto, se não estivermos colocando em prática e compartilhando 4

o conhecimento que recebemos, o júri poderá nos declarar culpados. Adolfo Victor Tito Rojas / São Paulo (SP)

LIBERDADE SEM DISCRIMINAÇÃO

Que bom ver o posicionamento da igreja, na edição de janeiro, sobre um assunto tão delicado como a homofobia. Como destacou o doutor Luigi Braga, a missão da igreja é salvar pessoas “sem menosprezar, humilhar nem perseguir” ninguém. Além disso, destaco a utilidade do artigo sobre como entender e estudar o Livro Sagrado. Precisamos voltar a ser o povo da Bíblia! Eliezer da Maia Valença Júnior / Rio de Janeiro (RJ)

A ÚLTIMA MODA

Muito importante o artigo escrito pelo pastor e editor Fernando Dias em janeiro. Estamos presenciando uma verdadeira enxurrada de moda indecente e do uso de joias e pinturas em nossas igrejas e instituições de ensino. O silêncio e a omissão sobre o tema têm sido eloquentes por parte dos nossos

A moda modesta é uma das tendências de 2020. Sim, meus amigos, acreditem! O mais legal é que isso dá opções tanto para as mulheres recatadas, que querem estar vestidas com bom gosto, como também é uma alternativa para aquelas que ainda não adotaram esse estilo, mas que poderão perceber que é possível ser elegante e moderna, sem apelar para a sensualidade. Suellen Nicolaun / Via site

VIDA PRODUTIVA

A matéria de capa de janeiro me fez pensar para saber se não tenho um TDAH. Hoje em dia somos pressionados por agendas e avaliações. O fato é que precisamos aprender a dominar o tempo e não sermos dominados por ele. Vinícius Cristian / Via site Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.

Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.

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BÚSSOLA

VIRADA RADICAL

PRECISAMOS CONFIAR MENOS NO QUE PODEMOS FAZER E MAIS NO QUE DEUS É CAPAZ DE REALIZAR ERTON KÖHLER

Foto: Adobe Stock

N

ilson França era o mais novo de três filhos. Nasceu em 1971, em Várzea do Poço (BA). Não tendo recebido os cuidados básicos, acabou desenvolvendo graves feridas nas pernas. A situação era tão séria que a mãe decidiu deixá-lo fora de casa. Cavou um buraco, levantou uma cobertura de lona, estendeu alguns panos e o colocou ali. Ficou abandonado dia e noite, sendo ameaçado por cachorros da vizinhança e defendido por uma cadelinha que estava sempre por perto. Permaneceu naquele buraco por alguns anos, desnutrido e sem condições de falar nem caminhar. Sua história começou a mudar quando Arlinda apareceu em sua casa. Ela não podia ter filhos e buscava uma criança para adotar. A mãe ofereceu um dos meninos mais velhos, mas ela perguntou pelo terceiro. Ouviu que era apenas uma “carniça”, esperando para morrer. Arlinda o adotou, cuidou de sua saúde e, depois de alguns meses, ele se recuperou. Nilson só conheceu esta história quando já era jovem e pouco antes de seu batismo, em 1993. Aceitou Jesus intensamente e se tornou evangelista. Levou muitas pessoas ao batismo e plantou novas igrejas, até enfrentar uma crise familiar que destruiu seu casamento. Sua vida espiritual esfriou, ele abandonou a igreja e se envolveu com o que havia de pior em sua cidade. A cada ano o pastor Daniel Rios, que ele havia conduzido ao batismo, o visitava em seu sítio. Levava um livro missionário, conversavam R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

DEUS É ESPECIALISTA NA TRANSFORMAÇÃO DE PESSOAS POR QUEM ORAMOS e oravam juntos, até que perderam o contato. Daniel conseguiu ­encontrá-lo nas redes sociais e enviou uma mensagem apelando para que ele voltasse para os caminhos do Senhor. Foi uma longa jornada de volta, mas Nilson foi resgatado, e Daniel teve o privilégio de rebatizá-lo em 2014. Nilson experimentou uma virada radical. Foi resgatado de um buraco literal e também da destruição espiritual. Continua firme na fé e voltou a ser evangelista. Já levou dezenas de pessoas ao batismo e plantou novas igrejas. Entre seus filhos na fé estão três pastores: Gilson Souza Oliveira, Paulo Emanuel Rios Silva e Daniel Lima Almeida Rios. Nosso Deus é especialista em viradas radicais! Alguns exemplos bíblicos nos dão esta certeza: Abraão e Sara tiveram um filho na

velhice; José foi transformado de escravo em governador; Davi derrotou o gigante Golias; Elias venceu sozinho os profetas de Baal; Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram vivos da fornalha ardente; Daniel foi resgatado ileso da cova dos leões; Paulo e Silas foram libertos da prisão. Porém, a virada mais significativa aconteceu no Calvário. Quando Cristo morreu na cruz, a aparente derrota foi transformada em vitória e salvação. Essas viradas radicais não são privilégio do passado nem apenas dos heróis da fé. Elas continuam acontecendo hoje e foram um destaque dos “10 Dias de Oração”, programa realizado em fevereiro. A ênfase foi o resgate de amigos que se afastaram de Jesus, e histórias como a de Nilson se multiplicaram. Mais do que viradas radicais, essas histórias são verdadeiros milagres, que também estão à nossa disposição. Deus pode agir em nossa vida pessoal, familiar, emocional, profissional, social, espiritual e especialmente na transformação das pessoas por quem oramos. Ele “tem todo o poder” e “é nossa forte torre de defesa” (Ellen White, Profetas e Reis, p. 202). Nada é impossível para o Senhor. Acredite! ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

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ENTREVISTA

WENDEL LIMA

Sergio Leandro Pereira e Silva

A controvérsia entre criacionismo e evolucionismo voltou a ocupar espaço na mídia nacional depois que o doutor Benedito Guimarães Aguiar Neto foi nomeado presidente da Capes, a principal agência de fomento de pesquisa científica do país. A razão para a celeuma é que o nome dele é associado à Teoria do Design Inteligente (TDI) que, para alguns críticos, seria uma espécie de criacionismo disfarçado. Para pensar um pouco nessa relação histórica e conflituosa entre evolucionistas e criacionistas, conversamos com Sergio Leandro Pereira e Silva, brasileiro que defendeu em 2017 na Universidade Andrews (EUA) uma tese doutoral em Teologia. Em sua pesquisa, ele estudou o pensamento de George TEÓLOGO EXPLICA O PENSAMENTO DO PRINCIPAL ­McCready Price, um dos principais críticos da teoria CRÍTICO DO EVOLUCIONISMO NO SÉCULO 20 evolucionista no século 20. Atualmente, o pastor Sergio, de 46 anos, reside no Texas com a esposa e dois filhos. Ali, ele dirige a capelania de dois hospitais adventistas.

DEBATE PÚBLICO

Quem foi George McCready Price? Price nasceu no Canadá em 1870. Ele iniciou sua carreira como escritor autônomo e desconhecido, mas se tornou o maior antievolucionista do século 20. Ele foi um pensador adventista original e autodidata, que desafiou praticamente sozinho um tema que já parecia consensual. Suas publicações circularam de 1902 até 1967. Foram 30 livros e centenas de artigos publicados em revistas cristãs, enfatizando (1) as fragilidades do darwinismo, (2) as implicações morais da teoria evolucionista e (3) uma interpretação alternativa para as evidências usadas contra a doutrina da criação. Price também falou que o texto bíblico não é dogmático quanto à idade da vida na Terra e que os criacionistas deveriam evitar o uso do 6

Por que você comparou o pensamento do adventista George Price com o do presbiteriano Benjamin Warfield? Os argumentos de Price geralmente são desqualificados pelo fato de ele não ter recebido um diploma de pós-graduação. E a argumentação dele costuma ser contrastada com a de Benjamin Warfield, pensador presbiteriano que acreditava que os dias da criação em Gênesis tenham sido simbólicos e representem milhões de anos. O ponto é que, apesar de a visão sobre ciência de Warfield ser considerada superior à de Price, minha análise sobre os escritos de ambos revela que as posições deles eram basicamente idênticas. Os princípios de interpretação que eles utilizaram eram diferentes; por isso, chegaram a conclusões divergentes. Você o classificaria como fundamentalista? Não. É verdade que Price era bem conhecido entre os fundamen-

talistas norte-­a mericanos e foi até convidado para ser testemunha especializada no julgamento do professor John T. Scopes, no caso de 1925 que ficou conhecido como o “julgamento do macaco”. Porém, a teologia dele não era fundamentalista, mas dinâmica e à frente do seu tempo. No início do século 20, ser fundamentalista significava primeiramente acreditar na inspiração verbal, ou seja, que Deus ditou a Bíblia e que ela não teria erros periféricos. Contudo, depois do debate público de 1925, o termo fundamentalista ganhou o sentido de extremismo e ignorância científica. Que legado ele deixou? Na teologia, ele resgatou a ideia de lermos a Bíblia como uma grande narrativa que vai de Gênesis a Apocalipse. Logo, o relato de Gênesis 1 a 11 não seria um mito, mas parte essencial da história da redenção. Na filosofia da ciência, por sua vez, Price ajudou a mostrar as falhas no alicerce do darwinismo. E, no contexto denominacional, ele lecionou no Pacific Union College e na Universidade de Loma Linda, onde influenciou muitos educadores e pesquisadores criacionistas, como Harold Clark e Frank Marsh.] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Foto: Krista Kasper (AdventHealth Central Texas)

termo “criacionismo”, pois essa expressão estava muito associada à interpretação equivocada de que o Universo tenha sido criado há poucos milhares de anos.


adventistas.org

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PAINEL F AT O S

Antes de cuidar da obra, a gente tem

CENTRO DE REABILITAÇÃO

que cuidar do obreiro. O meu desafio pra eles hoje, não foi falar sobre trabalho, projetos e alvos. Foi falar sobre eles e sobre o quanto a Igreja quer ajudá-los a crescer pra serem os pastores que a Igreja precisa neste momento.

O AdventHealth Waterman, hospital adventista localizado em Tavares, na Flórida (EUA), inovou no atendimento a pacientes que necessitam de várias horas de terapia por dia e de acesso a tratamento multidisciplinar para se recuperar de lesões. Entre os diferenciais estão as acomodações que simulam o ambiente real das pessoas e as estimulam a praticar atividades cotidianas. Nos últimos anos, a instituição adventista investiu cerca de 85 milhões de dólares em 10,3 mil m² de área construída e em novos serviços.

Erton Köhler, líder sul-americano da Igreja Adventista, no concílio que reuniu administradores e pastores da sede da denominação para o Centro-Oeste do Brasil, nos dias 26 a 29 de janeiro

PRIMEIRA IGREJA Em janeiro, 32 voluntários participaram de um projeto missionário em Puerto Williams, a cidade mais austral do mundo. Entre as diversas ações comunitárias realizadas no território chileno, que fica próximo da Antártica, esteve uma feira de saúde que beneficiou 70 moradores. Agora, dois membros da equipe que permaneceram no local irão continuar o trabalho com o objetivo de plantar lá a primeira igreja adventista. 8

Mais do que um empreendimento comercial, o Pulse Café, aberto por empresários adventistas em Hadley, M ­ assachusetts (EUA), nasceu com o propósito de ser um centro de influência em uma região bastante secularizada. Eleito o melhor restaurante vegetariano da região, o espaço moderno e convidativo, que recebe, em média, entre 600 e 800 pessoas somente aos domingos, tem mostrado uma maneira melhor de viver e quebrado preconceitos em relação à mensagem adventista. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Fotos: AdventHealth News / Mariela espejo / Pulse Café

RESTAURANTE VEGETARIANO


O L H A R D I G I TA L

NOVO DOCUMENTÁRIO

Lançado em janeiro, Vidas Entre Páginas conta a dramática história do adventismo na Ucrânia durante o período do regime comunista. Com várias cenas e entrevistas gravadas na Europa, o documentário produzido pelo centro de mídia da sede administrativa da igreja para a região central do Paraná mostra que, em meio à intolerância perpetrada atrás da “cortina de ferro”, a família Samoylenko decidiu se manter fiel e pregar a mensagem adventista mesmo sob risco de captura, prisão e morte. Dividida em três partes, totalizando 1h15 de duração, a produção audiovisual é narrada por uma ucraniana que vive no Brasil e é descendente dos pioneiros do adventisno no país. Acesse: bit.ly/36ZQLGz.

D ATA 25 A 28 DE MARÇO

Data em que será realizado o 1o Simpósio Internacional do Dom de Profecia, no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP). Promovido pela sede sul-americana da igreja e o Centro de Pesquisas Ellen G. White, o evento receberá diversos palestrantes nacionais e internacionais. Para mais informações sobre o evento, acesse: bit.ly/3826J4p.

A ciência tem uma versão do sentido da vida que não é interessante em termos existenciais. É se reproduzir e basta. Obviamente, o ser humano precisa de muito mais do que isso e essa busca por sentido não é necessariamente uma questão científica. [...] Cada um de nós precisa ter uma razão para acordar todos os dias e ir para o mundo.

Marcelo Gleiser, brasileiro que atua como professor e pesquisador no Dartmouth College, em entrevista ao site da revista Trip

Fotos: divulgação

CURTA-METRAGEM PREMIADO A produção australiana God of Hope (Deus da Esperança) levou o prêmio de “Melhor Documentário” no New York ­Cinematography Awards (NYCA), festival de cinema independente. Roteirizado por Mariana Venturi, brasileira que vive na Austrália, o curta-­ metragem (28 min.) explora o conceito de esperança a partir do olhar de três fotógrafos que realizaram um ensaio para a exposição God of Hope no Hospital Adventista de Sydney. Para assistir ao vídeo (disponível apenas em inglês), acesse: godofhope.org.au. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

3%

foi o crescimento líquido obtido pela Igreja Adventista na América do Sul em 2019, na comparação com o ano anterior. Vale lembrar que a denominação no continente havia fechado 2017 e 2018 com um aumento do número de membros abaixo de 1%. 9


GENTE

PREMIADO NA HUNGRIA

NOTA DEZ Além de conseguir vaga no curso de Medicina da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), o estudante Davi Martins Cutrim também pôde testemunhar através da redação do vestibular. No texto, que recebeu nota máxima, ele usou conceitos do livro A Ciência do Bom Viver, de ­Ellen G. White, para desenvolver o tema proposto: “A importância do brincar e do ­divertir-se para o pleno desenvolvimento humano”.

BODAS DE OURO (50 ANOS) De Francisco Borges e Enedina dos Santos Borges, em cerimônia realizada no dia 23 de dezembro pelo pastor Michelson Borges (filho do casal), em Criciúma (SC). Eles têm três filhos e seis netos.

O apoio pastoral oferecido por Jenő Szigeti a diversos grupos minoritários ao longo de seu ministério foi reconhecido durante cerimônia organizada pela Federação das Comunidades Judaicas Húngaras no dia 16 de janeiro. Na ocasião, o atual líder da igreja no país recebeu das mãos do vice-embaixador da Suécia e do vice-ministro do governo húngaro o prêmio concedido pela Associação Wallenberg, entidade criada em homenagem ao diplomata sueco que salvou milhares de judeus durante a ocupação nazista.

BODAS DE ESMERALDA (40 ANOS) De Otoniel Almeida Fonseca e ­Gilca Marques Fonseca, em cerimônia realizada em Hortolândia (SP) pelo pastor Carlos Alberto Palma, também oficiante do casamento. O casal, que serviu no ministério por 40 anos, tem dois filhos.

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e grãos que são adequados para manter sua pressão arterial baixa e agradável. Mas a dieta moderna é exatamente o oposto.

60%

foi quanto cresceu a população em situação de rua na cidade de São Paulo nos últimos quatros anos, de acordo com um levantamento inédito realizado pela prefeitura.

David R. Williams, líder do Departamento de Ciências Sociais e Comportamentais da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, em um congresso de saúde promovido pela Divisão Norte-Americana nos dias 22 a 25 de janeiro R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Fotos: arquivo pessoal / Hungarian Union Conference

21.000

foi o número de voluntários que trocaram as férias pela Missão Calebe na Bahia e em Sergipe.

O Criador proveu uma abundância de frutas


INTERNACIONAL

PROJETO NA MONGÓLIA

Líderes da igreja no país asiático lançaram a pedra fundamental do Gateway International Education Corporation, em Ulan Bator, edifício que está sendo construído para abrigar várias atividades ligadas à missão adventista e à comunidade. No novo complexo funcionarão uma escola internacional de ensino médio, uma escola profissionalizante, um centro de bem-estar e um centro agrícola.

80 ANOS Foi o que celebrou a Universidade do Oriente Médio (MEU, na sigla em inglês), localizada na capital do Líbano, Beirute. O programa comemorativo, realizado nos dias 15 a 17 de novembro, foi marcado por homenagens aos visionários que investiram recursos e se sacrificaram para formar gerações de missionários para atuar no Oriente Médio e no Norte da África, regiões onde os cristãos são minoria. Também foi lembrada a dedicação daqueles que lideraram a escola durante os 15 anos da devastadora guerra civil do Líbano.

6.000

Fotos: Asian-Pacific Division News / Middle East University Communication

Número de estudantes do ensino médio na rede pública que disseram não aos vícios e práticas nocivas durante passeata organizada por quase 200 estudantes da Universidade Adventista das Filipinas (AUF). O tema da manifestação foi “Simplesmente Escolho Não Usar”. O movimento Anti-Consumo do Fumo, Álcool e Drogas (SADFREE) é uma parceria entre a instituição de ensino superior da igreja, o município de Silang e os Serviços Comunitários Adventistas da Missão Adventista na província de Cavite.

340.000

Número de ouvintes de um programa popular de rádio em Tokyo (Japão) que recentemente abriu espaço para que médicos do hospital adventista da cidade tirassem dúvidas sobre saúde. Foi a primeira vez que a emissora Nippon Broadcasting convidou representantes de uma denominação religiosa para falar no horário de maior audiência.

Depois de servir como professora por 34 anos, pensei que já tivesse concluído meu ministério, mas Deus ainda estava reservando a maior aventura missionária da minha vida.

Belinda Ennes, professora norte-americana que, depois de aposentada, se dispôs a dirigir a escola adventista da ilha de Yap, nas Ilhas Carolinas, arquipélago do Oceano Pacífico

Colaboradores: Felipe Lemos, Heron Santana, James Standish, Kent Kingston, Lindsay Cashio, Márcio Tonetti, Mariela Espejo, Maryellen Fairfax,

Sandra Dombrowski, Suyane Scanssette, Tamás Ócsai e Wendel Lima

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Foto: Adobe Stock

CAPA

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COMO EVITAR QUE CRENÇAS DISTORCIDAS SOBRE DEUS AFASTEM AS PESSOAS DA IGREJA GERALD A. KLINGBEIL

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conteceu durante os momentos de oração na igreja. O pregador começou sua prece assim como a maioria das orações começa. “Nosso querido Pai celestial”, ele disse, “obrigado por seres nosso Pai.” Foi aí que tudo em torno dela parou. Ali, sentada em um dos bancos, ela foi transportada de volta a um passado escuro e doloroso. Memórias indesejáveis inundaram sua mente. Ela se lembrou das marcas em sua pele. De novo, ouviu os gritos irracionais e, outra vez, sentiu o medo incontrolável e o hálito forte provocado pelo álcool ao ele se aproximar. O gosto das próprias lágrimas voltou à sua boca ao se lembrar das coisas horríveis e vergonhosas que lhe aconteceram no escuro. Pai? Uma sensação de náusea tomou conta dela. Instintivamente, a única certeza que tinha era de que ela não queria nada com um Pai celestial. Silenciosamente, ela se levantou e saiu da igreja, com lágrimas escorrendo pelo rosto. CRENÇAS NOCIVAS Recentemente, aprendi uma palavra nova: “toxidade”. O dicionário Michaelis define o termo como “qualidade ou caráter daquilo que é tóxico”. É o grau em que qualquer substância (ou mistura de substâncias) pode causar dano a um organismo. Alguns produtos químicos são bem conhecidos pelo potencial de causar intoxicação. É o caso do amianto, formaldeído, arsênico e chumbo. Ou é possível que já tenhamos ouvido falar dos efeitos do envenenamento pelo mercúrio, pelo BPA (Bisfenol A) dos plásticos ou pelo cloro. Muitos desses tóxicos estão presentes, de forma natural, em nosso ambiente. Em quantidades suficientemente pequenas, no entanto, eles não representam risco para a saúde. Contudo, mesmo as coisas boas das quais precisamos para nossa sobrevivência diária podem se tornar venenosas quando consumidas na dose errada. Os seres humanos morrem quando não recebem hidratação suficiente. Muita água, no entanto, também pode levar à morte por um desequilíbrio eletrolítico, que faz com que as células do cérebro inchem e bloqueiem o fluxo regular de sangue. Algumas pessoas têm um limite de resistência mais alto em relação aos tóxicos presentes no meio ambiente, enquanto outras têm um limite mais baixo. A toxicidade crônica é o desenvolvimento de efeitos adversos que resultam da exposição de longo prazo a um agente tóxico ou a outro fator de estresse. De forma lenta, o agente tóxico afeta negativamente o corpo, levando à morte. A toxicidade não se limita ao domínio físico. Ideias, valores, relacionamentos ou emoções podem se tornar componentes de uma mistura

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“tóxica”, levando a más decisões ou a um comportamento destrutivo. Jonestown e Waco demonstraram que a toxicidade pode envolver ideias religiosas distorcidas e deturpadas. A imagem que temos de Deus (ou Gottesbild, conforme a expressão usada pelos teólogos) é outra arena em que ideias e noções errôneas podem levar a comportamentos tóxicos que afetam os outros. Infelizmente, não existe um dispositivo facilmente acessível que possa medir a “toxicidade da mente”. Só podemos vê-la na maneira de nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros. MENTALIDADE TÓXICA O livro de Jonas relata que Deus convocou o profeta para que ele levasse uma mensagem específica ao povo de Nínive (Jn 1:2; 3:2). O ­sermão de Jonas foi, na verdade, uma mensagem direta, sem misericórdia, sobre o juízo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida!” (Jn 3:4). Jonas foi um dos genuínos e fidedignos profetas de Deus do 9º século a.C., cujo ministério em Israel era bem conhecido e altamente respeitado (2Rs 14:23-25). Deus o havia usado no passado e pretendia usá-lo novamente nessa missão tão especial. Jonas, no entanto, não queria ir. Sua tentativa de fugir “da presença do SENHOR” (Jn 1:3; o hebraico diz, literalmente, “de diante da face do Senhor”) foi malfadada desde o início e terminou num mergulho dramático nas profundezas do mar (v. 4-15). Jonas simplesmente não queria ir a Nínive. Ele não estava pronto para falar da graça de Deus para os embrutecidos assírios, mesmo que fosse na forma de um aviso quanto ao juízo iminente. Passados os 40 dias sem que Deus destruísse a cidade – graças ao arrependimento de Nínive – testemunhamos uma discussão acalorada entre Jonas e seu Senhor. “Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha

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Foto: Adobe Stock

terra? Por isso, me adiantei, fugindo para UMA IMAGEM Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-Se, e DISTORCIDA DE grande em benignidade, e que Te arrependes do mal” (Jn 4: 2). Traduzindo: DEUS NOS LEVA A Deus, eu sabia que Teu coração é mole REPRESENTÁ-LO e que não farias o prometido. Foi por isso que eu quis ir na direção oposta. DE FORMAS A culpa é Tua. Até onde uma mentalidade tóxica QUE PODEM SER é necessária para que um “homem de Deus” (um dos títulos oficiais dos proCONSTRANGEDORAS, fetas do Antigo Testamento, cf. 1Sm DESENCORAJADORAS 2:27; 9:6) discuta com Deus sobre o fato de Sua graça ser concedida ao iniOU ATÉ migo, ao estrangeiro e, talvez, até ao vizinho? Até que ponto o ódio precisa PERTURBADORAS ferver perversamente em nosso coração para que não possamos sequer compreender a graça de Deus para com aqueles que nos magoaram? Sabemos pelos registros históricos daquele período que os assírios eram cruéis. Eles não eram nada delicados, mas sim abusivos, brutais e desalmados – tudo o que Deus não é. No entanto, eles também foram objetos do amor e da graça de Deus. A história de Jonas nos fornece uma visão do que vem a ser a mentalidade tóxica, que retribui o mal com o mal. Porém, Deus nunca desistiu do profeta. Seu diálogo com Jonas contém uma repreensão, ainda que suave. Suas perguntas visam a iniciar uma conversa, plantar uma semente e dar início a uma transformação. A existência do relato das tentativas equivocadas de Jonas de fugir de Deus e de sua missão bemsucedida de evangelizar Nínive sugere que o profeta finalmente entendeu tudo, e que acabou decidindo escrever sobre sua tolice para que

isso servisse de lição para as gerações futuras dos filhos de Deus. Outra narrativa do Antigo Testamento que oferece uma visão ainda mais profunda quanto às atitudes tóxicas é relatada no livro do Êxodo. Já fazia tempo que Moisés tinha partido. As pessoas ficavam olhando para o Monte Sinai e, depois, uns para os outros, imaginando se e quando o líder iria voltar. Então, um dia eles se reuniram em torno de Arão e pediram que ele fizesse algo que fosse mais visível para eles. “Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe terá sucedido” (Êx 32:1). Arão cedeu prontamente, talvez por temer pela própria vida. Depois de receber joias do povo, ele fabricou um bezerro de ouro e declarou: “São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito” (v. 4). Merece reflexão o fato de Arão ter sido tão facilmente influenciado e de Israel ter se deixado seduzir com a representação visual de um deus que se encaixava em suas necessidades e expectativas. “Poucos dias apenas se haviam passado desde que os hebreus fizeram um concerto solene com Deus, para obedecerem à Sua voz”, escreveu Ellen White. “Tinham estado a tremer de terror diante do monte, ouvindo as palavras do Senhor [...]. A glória de Deus ainda pairava sobre o Sinai à vista da congregação; mas desviaram-se e pediram outros deuses” (Patriarcas e Profetas, p. 225). Essa história também nos leva a pensar na profundidade das convicções. O que vemos não é uma confiança embasada na fé na liderança divina, mas uma profunda dúvida oculta que leva a uma gritante idolatria. Intelectual e emocionalmente, Israel ainda estava no Egito. Por terem experimentado, no passado, as emoções intoxicantes da adoração e dos rituais egípcios, os israelitas conheciam as miríades de divindades egípcias. Um bezerro de ouro significava um atalho mental e físico da volta ao Egito. A adoração pode se tornar um veículo para o que é familiar. Em vez da mudança radical da cosmovisão implícita no pacto de Deus com Seu povo, eles optaram por ficar no mesmo lugar. A maioria de nós aprecia o que é familiar. Gostamos de andar pelos caminhos conhecidos. Sentimo-nos seguros quando podemos organizar e entender nosso mundo. Os israelitas também passaram por isso e, repetidas vezes, desejaram voltar para o Egito (cf. Nm 14:4). Mas o chamado para seguir a Deus fora do Egito e o convite para seguir Jesus, pronunciado


diretamente por Ele a Seus discípulos, não são apenas chamados para se mover geograficamente; são convites para uma mudança e um discipulado radicais. Nossa mentalidade tóxica e nossos valores egocêntricos precisam desaparecer porque são diametralmente opostos aos valores e à cosmovisão de Deus. Nós tomamos; Deus dá. Nós desejamos poder; Deus oferece humildade. Nós exigimos autoridade; Deus enfatiza o serviço.

AUTOEXAME

Nos preocupamos em cultivar relacionamentos saudáveis na família, no trabalho ou na igreja. Mas qual foi a última vez que você refletiu sobre sua relação com Deus? Um relacionamento com Ele se torna “tóxico” quando você: 1. Não O coloca em primeiro lugar. Muitos até

RECONCILIAÇÃO E CURA Ambas as histórias compartilham um denominador comum. Israel e Jonas lutaram com o próprio entendimento a respeito de quem Deus realmente era. Os israelitas tinham visto os poderosos sinais e maravilhas de Deus. Eles testemunharam a teofania no monte Sinai – e se encolheram de medo (Êx 19:18, 19). Para eles, YAHWEH era apenas a versão israelita de outra poderosa divindade egípcia que devia ser temida. Eles pareciam nunca ter entendido que YAHWEH não era apenas o Criador e Redentor, mas também o Sustentador, Aquele que cura (Êx 15:26), o Pai – e o Amigo (Jo 15:15). Curiosamente, foi logo após o episódio do bezerro de ouro que Deus Se revelou a Moisés como “SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração!” (Êx 34: 6, 7). A compreensão de Jonas sobre a bondade de Deus se limitava a Israel. Jonas não conseguia compreender a possibilidade da graça nem sequer para os inimigos do povo de Deus. Ele preferia morrer a oferecer perdão a um inimigo odiado. Sua teologia determinava seus relacionamentos e ações. É por isso que a ideia de que somos “embaixadores” de Deus (2Co 5:20) pode ser absolutamente desconcertante. Como posso representá-Lo de maneira a atrair outras pessoas a Ele, em vez de afastá-las? Paulo nos dá uma pista: “Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (v. 20). A reconciliação está bem ali, onde começa a cura. Quando nossa noção acerca de Deus está cheia de “toxinas”, abraçamos resíduos tóxicos que afetam as pessoas ao nosso redor, e O representamos de formas que podem ser constrangedoras, desencorajadoras ou até perturbadoras. De fato, os resíduos teológicos tóxicos têm sido uma das ferramentas favoritas de Satanás ao longo da história. O que a ideia de um purgatório eterno diz sobre Deus? O que a ênfase na ira divina, com escassas referências à Sua graça, tem feito para ajudar na maneira com que as pessoas se relacionam com Deus? Ellen White compartilha algumas ideias intrigantes sobre isso: “É a obra de Satanás representar o Senhor como falto de compaixão e piedade. Deturpa a verdade a Seu respeito. Enche a imaginação de ideias errôneas relativamente a Deus e, em vez de fixarmos a mente na verdade quanto ao nosso Pai celestial, muitas vezes a demoramos nas falsidades de Satanás, e desonramos a Deus desconfiando Dele, e contra Ele murmurando” (Caminho a Cristo, p. 116). Em outra ocasião, ela escreveu: “A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado. Muitos pensam que estão representando a justiça de Deus, ao passo que deixam inteiramente de Lhe representar a ternura e o grande amor. Muitas vezes aqueles a quem eles tratam com severidade e rispidez se acham sob o jugo da tentação. Satanás está lutando com essas pessoas, e palavras ásperas, destituídas de simpatia, desanimam-nas, fazendo-as cair presa do poder do tentador” (A Ciência do Bom Viver, p. 163). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

incluem Deus na lista do que é “mais importante”, mas não fazem Dele o primeiro, ou seja, a prioridade na vida. 2. Não se importa com suas decisões. Com o tempo, atitudes como deixar de frequentar a igreja, mentir ou ser desrespeitoso já não sensibilizam mais, isto é, se tornam algo “natural”. Mesmo assim, damos pouca importância a isso. Ao agirmos assim, zombamos de Deus (Gl 6: 7). 3. É um “amigo” circunstancial de Deus. Ou seja, pede que Ele entre em sua vida somente se houver problemas e O ignora quando tudo vai bem. 4. Permite que outros se interponham entre você e Deus. Nosso mundo está envolto em tanta tragédia e cinismo que a crença em um Criador e Salvador todo-poderoso parece ingênua. Ser constantemente menosprezado por acreditar em Deus pode fazer com que alguns se afastem Dele e cedam a argumentos persuasivos que levam à descrença. 5. Não assume a responsabilidade. Não é saudável ter um relacionamento com alguém que, aos nossos olhos, é a origem de todo o mal que se coloca em nosso caminho. Com essa mentalidade, negamos a verdade fundamental: Deus não é responsável pelos nossos problemas. Fonte: Alma Garcia-Abascal, “Are You in a Toxic Relationship With God?”, Adventist Review, maio de 2019

Quando reconhecemos a grande responsabilidade que é representar Cristo diante daqueles que estão ao nosso redor, nos prostramos aos pés de Jesus, compreendemos Sua graça pessoalmente, nos reconciliamos com Deus e, depois, somos transformados em reconciliadores. Concentremo-nos na bondade de Deus e deixamos que Ele efetue a transformação e a cura em nós e naqueles com quem nos relacionamos no dia a dia – e tudo no tempo Dele. Então, em vez de repulsa, perplexidade ou mágoa, talvez nossas palavras, nosso contato com as pessoas e até a menção de nossos nomes possam proporcionar um vislumbre vitorioso Daquele que é invisível. ] GERALD KLINGBEIL é editor associado da Adventist Review

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VISÃO GLOBAL

NOSSA MORALIDADE DEVE SER ENRAIZADA NA BÍBLIA, QUE TRANSCENDE O TEMPO E A CULTURA TED WILSON

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CULTURA DE SUPERAÇÃO No entanto, os adventistas do sétimo dia reconhecem a lei moral de Deus, os Dez Mandamentos, como sendo atemporal e superior a todas as culturas. Esse código de conduta divinamente estabelecido determina nossa ética. Em mais de 200 países e culturas múltiplas, o movimento remanescente de Deus para os últimos dias procura agir fundamentado em Sua lei moral, que delineia o comportamento ético para com Deus e nossos semelhantes. Esse código moral de conduta ética é atemporal e soberano, e está resumido em textos bíblicos como os seguintes: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10:27) e “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6:8). Em vez de substituir os Dez Mandamentos, esses resumos apresentam uma forma de expressar o propósito principal da lei moral de Deus sobre a qual fundamentamos nossa ética e comportamento, independentemente de tempo ou cultura. 16

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Foto: Ole Witt

Código de conduta

que significa ser ético? As respostas variam, dependendo de quem responde, de onde é, e quem ou o que determina sua moralidade. Afinal, a ética depende de cada um. A cultura exerce forte influência sobre o que é considerado ético dentro de determinada sociedade. Uma empresa de consultoria de sucesso propõe a seguinte definição: “Comportamento ético significa agir de forma consistente com o que a sociedade, os indivíduos e as empresas geralmente aceitam como bons valores”. Neste e em muitos outros modelos seculares, “sociedade, indivíduos e empresas” determinam o que é comportamento ético. Portanto, dependendo das normas culturais, o que é determinado como ético em uma sociedade pode ou não ser ético em outra. Pelo fato de ser embasada na cultura, essa ética pode mudar. Embora certas culturas e entidades seculares concordem com alguns princípios ­bíblicos, como a regra de ouro de tratar os outros como desejamos ser tratados, ao determinarem o comportamento ético universal, a maioria não reconhece a autoridade de uma lei moral superior, dada por Deus e, portanto, imutável.


EXEMPLO PERFEITO Jesus Cristo é o exemplo perfeito de comportamento ético. No conhecido Sermão da Montanha, Cristo delineou a moral e o comportamento celestiais. Começando pelas bem-aventuranças, Ele identificou os princípios morais do Céu – busca por justiça, misericórdia, pureza de coração, pacificação – e ofereceu conforto e esperança aos “pobres de espírito” e aos que são perseguidos. Cristo continuou com exemplos específicos de comportamento moral cristão e de expectativas éticas: ser luz, guardar os mandamentos, ter motivos puros, fidelidade ao cônjuge, andar a segunda milha e amar os inimigos. Implícitos em uma oração modelo estão o incentivo para depositar os nossos tesouros no Céu e não na Terra, a garantia para não nos preocuparmos e a advertência para não julgar os outros. Jesus terminou com a parábola do homem sábio que construiu sua casa sobre rocha sólida, e não sobre a areia movediça. Esse sermão, proferido há 2 mil anos em uma colina verdejante, foi reconhecido durante séculos como o discurso mais poderoso já feito sobre comportamento ético. No entanto, alguns afirmam que seus preceitos são impossíveis de ser cumpridos, particularmente o mandamento de Cristo: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48).

O SERMÃO DA

MONTANHA FOI

A MORALIDADE VERDADEIRA Será que com esse pedido impossível Jesus está nos preparando para um insucesso automático? Ellen White escreveu: “Deus está nos desenvolvendo como testemunhas vivas perante o mundo, a fim de mostrar o que homens e mulheres podem se tornar por meio da graça de Cristo. Somos obrigados a lutar pela perfeição de caráter. [. . .] Será que Cristo estaria nos provocando, exigindo de nós uma impossibilidade? Nunca, nunca! Que honra nos confere Ele ao animar-nos a ser santos em nossa esfera, como o Pai o é em Sua esfera! E pelo Seu poder somos capazes de fazer isso; pois Ele declarou: ‘Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra’ (Mt 28:18). Esse ilimitado poder, é seu privilégio e meu suplicar” (Signs of the Times, 3 de setembro de 1902). Explicando como isso acontece, ela escreveu: “Os que desejam ser transformados na mente e no caráter não devem contemplar os homens, mas o Exemplo divino. Deus estende o convite: ‘Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus’ (Fl 2:5). Pela conversão e transformação os homens poderão receber a mente de Cristo.” Devemos nos submeter diariamente à direção do Espírito Santo e ao poder de Cristo em nossa vida. Somente pela Sua graça somos salvos e crescemos em submissão a Jesus, e por meio do Seu poder nos tornamos mais semelhantes a Ele. Como Paulo escreveu: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor, porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2:12 e 13). Permaneça

RECONHECIDO

DURANTE SÉCULOS COMO O DISCURSO MAIS PODEROSO JÁ FEITO SOBRE

COMPORTAMENTO ÉTICO

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e cresça em Cristo. Ele quer que, por meio do Seu poder, nos tornemos semelhantes a Ele. Essa ética transcende o tempo e a cultura porque foi dada por Deus e tem aplicação universal. Ela está intrinsecamente ligada ao evangelho. Ellen White observou: “Pelo pecado, perturbase todo o organismo humano, a mente é pervertida, corrompida a imaginação. O pecado tem degradado as faculdades da alma. As tentações exteriores encontram eco no coração, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal” (A Ciência do Bom Viver, p. 451). A ÉTICA E O EVANGELHO Graças a Deus, não somos deixados nesta condição miserável! “Como foi completo o ­sacrifício feito em nosso favor, assim deve ser nossa restauração do aviltamento do pecado”, Ellen White escreveu. “Nenhum ato de impiedade será desculpado pela lei de Deus; injustiça nenhuma lhe pode escapar à condenação. A ética evangélica não reconhece nenhuma norma senão a perfeição do caráter divino. [...] Sua vida [de Cristo] é nosso exemplo de obediência e serviço. Somente Deus pode renovar o coração” (A Ciência do Bom Viver, p. 451, 452). Quando somos convertidos e submetemos nossa vida à vontade Dele, Cristo realiza dentro de nós esta incrível transformação: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o Meu Espírito e farei que andeis nos Meus estatutos, guardeis os Meus juízos e os observeis” (Ez 36:26, 27). Essa é a chave para recebermos a mente de Cristo, para nos tornarmos as pessoas éticas e morais que Ele nos chama a ser como indivíduos e como Sua igreja. “A glória de Deus é o Seu carácter. [...] Esse caráter foi revelado na vida de Cristo [...]. Jesus deseja que Seus seguidores revelem em sua vida este mesmo caráter. Hoje continua sendo o Seu propósito santificar e purificar Sua igreja ‘por meio da lavagem de água pela Palavra, para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível’. Cristo não poderia pedir ao Pai que concedesse aos que Nele creem um dom maior do que o caráter que Ele revelou” (Signs of the Times, 3 de setembro de 1902). ] TED WILSON é o presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/ pastortedwilson)

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VALORES

VIRTUDES COMO JUSTIÇA, HONESTIDADE E AUTENTICIDADE SÃO O REFLEXO DO CARÁTER DE TODO VERDADEIRO CRISTÃO J U A N P R E S T O L- P U É S A N

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Bíblia relata a história de Samuel, profeta de Deus para a nação de Israel. Após ter ungido Saul, o primeiro rei da nação, e preparar-se para assumir um papel menos preeminente, Samuel falou aos seus compatriotas israelitas: “Tenho vivido diante de vocês desde a minha juventude até agora. Aqui estou. Se tomei um boi ou um jumento de alguém, ou se explorei ou oprimi alguém, ou se das mãos de alguém aceitei suborno, fechando os olhos para a sua culpa, testemunhem contra mim na presença do Senhor e do Seu ungido” (1Sm 12:2, 3, NVI). “E responderam: Tu não nos exploraste nem nos oprimiste. Tu não tiraste coisa alguma das mãos de ninguém” (v. 4). 18

“Samuel lhes disse: ‘O Senhor é testemunha diante de vocês, […] de que vocês não encontraram culpa alguma em minhas mãos’. E disseram: ‘Ele é testemunha’” (v. 5). Ao fim de uma longa trajetória a serviço do povo de Deus, Samuel tinha a consciência limpa em relação à sua conduta profissional, e o povo concordou que tudo o que ele havia feito fora caracterizado pela integridade e transparência. Esse deve ser um modelo para todos nós. Infelizmente, vivemos numa época em que integridade e transparência parecem ser relíquias ultrapassadas de um passado nostálgico. Mesmo aqueles aos quais pensamos conhecer bem são, às vezes, tudo, menos honestos. E há alguns que aparecem regularmente nos noticiários que deliberadamente obscurecem os limites entre a verdade e o engano. Tudo começa com o caráter. Alguns descreveram o caráter como a característica de R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

Foto: Luca Nicoletti

Transparência e integridade


fazer a coisa certa, mesmo quando ninguém está olhando. Quando nossa mente e coração estão em harmonia, nossas palavras e ações são consistentes. A maioria de nós passa a vida tentando harmonizar os pensamentos com as ações. Deus disse por meio de Jeremias: “Na mente, lhes imprimirei as Minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jr 31:33, ARA). Isso não acontece por acaso. Transparência e integridade são virtudes que requerem tanto a implantação quanto o cultivo. Elas vêm no pacote espiritual implantado em nós pelo Espírito Santo, mas requerem aprendizado ao longo do trajeto. Por nós mesmos não somos bons nem moralmente corretos. Ellen White escreveu: “Cristo é a fonte de cada impulso correto. Ele é o único que pode implantar no coração a inimizade contra o pecado. Todo desejo pela verdade e pureza, toda convicção da nossa pecaminosidade é uma evidência de que Seu Espírito está atuando em nosso coração” (Caminho a Cristo, p. 26). Ninguém tem o monopólio da integridade e da transparência. Esse é um assunto que afeta todos. A honestidade, transparência e sinceridade são qualidades que tornam as coisas óbvias, fáceis de entender. Elas são o reflexo do nosso caráter. A integridade é a virtude de ser honesto e justo. É a fidelidade aos princípios morais e éticos. É ser íntegro ou indivisível. A ambiguidade e a duplicidade são comportamentos inaceitáveis. Em seu lugar, alguns começaram a usar o termo “integridade transparente”. VIDA AUTÊNTICA Como se vive a transparência e a integridade no contexto da vida na igreja? Quando falamos de integridade e transparência, na verdade estamos falando de autenticidade. Esta foi observada pelos gregos estoicos como “uma resposta moral ao declínio dos valores cívicos e religiosos” (M. M. Novicevic e outros, “Authentic Leadership: A Historical Perspective”, Journal of Leadership and Organizational Studies 13 [2006], p. 66). No nosso caso, a perspectiva que mantemos como adventistas do sétimo dia é fundamentada na busca por santidade, confiança e verdade. Aderimos a uma cosmo visão transcendente da ética e da moralidade. O Espírito Santo é transformador em termos de santidade e verdadeira autenticidade. Ela inclui ser autoconsciente, mostrando equilíbrio no processamento das opiniões de outras pessoas, agindo dentro dos limites da ética e da moralidade (B. J. Avolio e W. L. Gardner, R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

“Authentic Leadership Development: Getting to the Root of Positive Forms of Leadership”, The Leadership Quarterly 16 [2005], p. 315-338).

VIVEMOS NUMA ÉPOCA EM QUE INTEGRIDADE E TRANSPARÊNCIA PARECEM SER RELÍQUIAS ULTRAPASSADAS DE UM PASSADO NOSTÁLGICO

CONCEITO BÍBLICO Encontramos muitos textos nas Escrituras sobre pessoas que agiram com integridade e transparência. O rei Davi escreveu: “Senhor, quem habitará no Teu santuário? Quem poderá morar no Teu santo monte? Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem o Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim procede nunca será abalado” (Sl 15:1-5, NVI). Davi também compartilhou o seguinte: “Somente aquele que é correto no agir e limpo no pensar, que não adora ídolos, nem faz promessas falsas” (Sl 24:4, NTLH). Viver com integridade e agir com transparência é sinônimo de santidade e proceder com retidão. Considere o seguinte: “A honestidade livra o homem correto, mas o desonesto é apanhado na armadilha da sua própria ganância” (Pv 11:3, NTLH). “O que Tu queres é um coração sincero; enche o meu coração com a Tua sabedoria” (Sl 51:6, NTLH). A vereda do justo é um caminho de sabedoria e integridade, e resulta em justiça, paz, confiança e tranquilidade. Davi orou: “Ensina-me a Te servir com toda a devoção” (Sl 86:11, NTLH). PADRÕES ELEVADOS Para os cristãos, integridade, autenticidade e transparência são características essenciais. Não porque sejam traços admirados universalmente nas pessoas que vivem a vida pública, mas porque foram demonstrados perfeitamente na vida de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma das coisas que distinguiram Pedro e João após a ascensão de Jesus foi que as pessoas perceberam que eles “haviam estado com Jesus” (At 4:13). Preenchamos nossa mente com o desafio, a oportunidade e o privilégio que a integridade e a transparência nos oferecem. A confiança é tudo que temos como cristãos. É o que motiva os seguidores a cumprir sua missão. Os adventistas não têm outra opção além de ser transparentes e agir com integridade. ] JUAN PRESTOL-PUÉSAN é tesoureiro da sede mundial adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA)

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INSTITUCIONAL

Não está à venda

DEVEMOS SER MOVIDOS POR MOTIVOS PUROS NÃO POR ALIANÇAS POLÍTICAS G. T. NG

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entro de alguns meses estaremos em Indianápolis, na assembleia da Associação Geral. Ouço uma variedade de perguntas sobre o propósito de uma reunião como essa. É verdade que Deus aponta, mas a Comissão de Nomeações desaponta? Será que realmente existe a ambição honesta ou cobiça santa? Quando será a minha vez de servir a Deus em um cargo importante? O que é necessário para que eu seja eleito?

Foto: Brent Hardinge/GC Communication

DEFINIÇÃO DE ELEIÇÃO Eu não consegui encontrar no dicionário uma definição mais apropriada para “eleição na igreja”, então criei uma. “A eleição na Igreja Adventista do Sétimo Dia é o processo corporativo em que as comissões devidamente constituídas pelo corpo de Cristo escolhem, em oração, os líderes para servir em cargos de confiança como mordomos para um período específico de serviço. Ao final desse período, os líderes eleitos renunciam aos seus cargos de mordomos e colocam-se à disposição para serem remanejados para outras opções de serviço que cumpram a missão da igreja e façam avançar o reino de Deus”. COMPREENSÃO DO CARGO O cargo é o serviço em ação. No momento em que me assento nessa cadeira, sou servo dessa cadeira, desse cargo, por um período determinado. Mas, se eu achar que sou dono do cargo, meu comportamento certamente será outro. Com essa mentalidade, nós possuímos o cargo, e o cargo nos possui. Somos definidos pela nossa função, e nossa autovalorização é embasada nela. As pessoas tendem a nos respeitar pelo nosso cargo, e não necessariamente por quem somos. E pior, quanto mais tempo ocupamos a mesma posição, mais nos encantamos com ela. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

Se mudarmos nosso modo de pensar, as nossas funções ganharão uma nova luz. Nós somos servidores. Não somos definidos pelos nossos cargos, e aceitamos que nosso mandato seja limitado. Estamos prontos para ser transferidos, se essa for a vontade de Deus. E assim temos paz de espírito. Charles Bradford, expresidente da Divisão Norte-Americana, costumava dizer: “Se você não pode aceitar ser eleito para sair, não deve aceitar ser eleito para entrar.” A Igreja Adventista do Sétimo Dia hoje precisa de líderes com “norte verdadeiro”, porque Jesus é o “Norte Verdadeiro”. Os líderes com “norte verdadeiro” se recusam a ser comprados ou vendidos. Sua integridade e seus princípios não estão à venda. Sua liderança e lealdade a Deus também não estão à venda. Como devemos votar numa eleição da igreja? De acordo com a consciência, não por alguma conveniência política. O trabalho deve ser feito de forma transparente e sem conspiração. Devemos ser movidos por motivos puros como indivíduos, não como parte de alianças políticas. Devemos ser servos fiéis e não eleitores para receber favores em outro mandato. E, quando votamos, devemos ter o cuidado de avaliar as competências. Precisamos estar satisfeitos e recusar a cobiça, olhando para o Norte Verdadeiro, Jesus Cristo, que nos capacita a resistir à tentação de ser comprados ou vendidos. E, quando nosso período terminar, deixemos nosso cargo com gratidão, mantendo as palavras “Sou feliz com Jesus” na primeira linha de nossa mente. Esse deve ser o nosso compromisso como líderes desta igreja. ] G.T. NG é secretário executivo da sede mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring, Estados Unidos (adaptação do sermão proferido no Concílio Anual de 2019)

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CULTURA

Mentalidade tribal O EXCLUSIVISMO E O AR DE SUPERIORIDADE CONTRADIZEM O EVANGELHO, QUE É INCLUSIVO K E LV I N O N O N G H A

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Foto: Markus Spiske

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parentemente, o tribalismo está em ascensão em todo o mundo. Essa tendência afeta muitos aspectos da nossa vida, especialmente a nossa ética. Como é que vivemos em sociedades polarizadas? Em termos globais, Brexit na Grã-Bretanha, a polarização política nos Estados Unidos, a deslegitimação dos muçulmanos na Índia e o sentimento anti-imigrante em todo o cenário político europeu também parecem derivar do tribalismo. Portanto, ele não está confinado aos povos primitivos nem a regiões específicas. Paradoxalmente, como a globalização dá origem à uniformidade cultural por meio da tecnologia e das mídias sociais, as forças subterrâneas do tribalismo tóxico geram polarização em vez de unidade. A escalada no fundamentalismo, refletida em opiniões políticas, retórica social e discurso religioso, muitas vezes resulta em divisões entre direita e esquerda, conservadores e liberais. Isso leva a uma quebra na comunicação e na colaboração – elementos essenciais para a harmonia social. Nós, seres humanos, temos uma tendência natural de nos associarmos a grupos, devido à nossa necessidade de ser e pertencer. Essas necessidades não são más. Formar uma comunidade de pessoas com objetivos, necessidades e desejos semelhantes é uma condição humana natural. No entanto, o tribalismo torna-se tóxico quando procura eliminar aqueles que têm visões, opiniões ou identidade divergentes. Ele prospera na premissa de que o outro seja o inimigo; é a responsável por ataques anti-semitas e anti-muçulmanos em locais de culto, causando a morte de adoradores inocentes nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Israel e Afeganistão. Foi o que também provocou a morte de políticos com opiniões divergentes das dos seus oponentes. Essa situação é tão prevalecente nas mídias sociais que alguns acreditam que estamos na era do tribalismo. Infelizmente, até a Igreja Adventista do Sétimo Dia, com seus altos ideais morais e missão divina, não está imune a essa mentalidade tribal, como devem ilustrar os dois relatos a seguir. Há não muito tempo, preguei em uma igreja de certo país em que as eleições governamentais recentes resultaram em discórdia e crise


em vários lares adventistas com casamentos interculturais. O impasse político que alimentava as tensões culturais entre duas grandes tribos afetava casais que compartilhavam fortes crenças comuns e uma herança cristã. De idêntico modo, um amigo me contou que, durante a assembleia da Associação Geral de 2015, em San Antonio, no Texas (EUA), ele pediu ajuda a alguém que se recusou a auxiliá-lo devido aos seus trajes africanos. E disse-lhe irritado: “Vocês votaram contra a ordenação de mulheres ao ministério.” A propósito, meu amigo nem foi delegado naquela assembleia. UM CAMINHO A SEGUIR O tribalismo pode ser superado? Como os adventistas podem viver acima dele? Um ponto de partida é reconhecer que o tribalismo é o nosso padrão humano. Estudos indicam que ninguém nasce racista, tribalista ou fundamentalista através da socialização; é pela observação que as crianças aprendem comportamentos negativos em relação às pessoas com identidades diferentes. No início da vida, muitas vezes nos ensinam que aqueles que olham, falam e agem como nós são considerados pessoas, mas os que têm identidades diferentes são classificados de outra maneira. Em fases posteriores da vida, a sociedade ensina a desumanização dos que possuem identidades diferentes, atribuindo-lhes rótulos como “cães”, “baratas”, “ratos” ou “pestes”. Infelizmente, a história da humanidade revela muitos momentos no passado em que o tribalismo não só foi tolerado, mas também foram desenvolvidas premissas cristãs para promover ideias muito aberrantes. Considere a escravidão nos Estados Unidos, a ideologia nazista de Hitler na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial e o apartheid na África do Sul. O problema é que a igreja cristã tem sido frequentemente cúmplice na racionalização e justificação do tribalismo. No entanto, Cristo ensinou princípios diametralmente opostos a qualquer concepção tribalista. As premissas essenciais desse problema (isto é, superioridade, identidade diferenciada e orgulho) são demolidas pelos Seus ensinamentos e exemplo. O cerne dos ensinamentos de Cristo era o reino de Deus, um reino em que raça, origem, privilégio ou status não garantem a entrada. Jesus falou de um novo nascimento, possibilitado pelo Espírito Santo, como requisito para ingressar nele. E também ensinou que a etnia não qualifica automaticamente ninguém para o reino. Cristo pregou um evangelho de inclusão e não de exclusão; de paz e tolerância, não de guerra e intolerância, ao dizer: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5:9). O mais importante é que Jesus afirmou enfaticamente que o mundo conheceria o poder do evangelho e os cidadãos de Seu reino pela unidade demonstrada na vida de Seus discípulos. Eles tinham origens, personalidades e filiações políticas diferentes. Mateus foi um publicano desprezado; Simão era um zelote. A despeito de suas convicções políticas e religiosas, Cristo, por meio de Sua vida e ministério, uniu “liberais” e “conservadores”, conduzindo-os da polarização à colaboração, à missão e ao serviço. Numa época em que cristãos, inclusive adventistas, traçam linhas na areia, dividindo o mundo entre os que são “por nós” e os que são “contra nós”, num momento em que se erguem muros de separação, Jesus nos lembra que “quem não é contra nós está a nosso favor” (Mc 9:40).

A IGREJA CRISTÃ TEM SIDO FREQUENTEMENTE CÚMPLICE NA RACIONALIZAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO TRIBALISMO

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O apóstolo Paulo lembrou aos crentes que no reino de Deus não há preferência por judeu ou grego, escravo ou livre, mestre ou servo. Paulo entendeu esse conceito quando Ananias o batizou; apesar de Saulo ter sido o terror da igreja primitiva, Ananias o tratou como “irmão Saulo” (At 9:17). O livro de Atos contém duas histórias poderosas que devemos guardar na mente. O Espírito Santo conduziu Ananias e Pedro (v. 10-17), que eram os líderes respeitados da igreja, e outros líderes que estavam em reunião (At 10; 11:1-18), a compreender que, diante da cruz, há um lugar para todos. O evangelho de Cristo vira de cabeça para baixo nossos instintos humanos natos e os valores da sociedade secular. Eliminar o tribalismo tóxico de nossa comunidade religiosa começa com a introspecção, ou seja, com o exame do nosso coração e o dom do arrependimento. Em seguida, precisamos ajoelharnos em contrição diante do Senhor para pedir um novo coração e nova natureza que desfaçam as injustiças que involuntariamente provocamos. Precisamos embarcar em missões de demolição dos muros, pregar e praticar os princípios contraculturais de Cristo. Convidemos todos a deixar suas “tribos’ para participar da fraternidade universal de Cristo. Renunciemos ao nosso orgulho, exclusivismo, nossa superioridade e identidades tribais, e unamo-nos a essa comunidade escatológica, sem muros, com toda tribo, língua, nação e povo, em frente ao mar de vidro, para cantar louvores a Deus. Agora que o nosso mundo está se tornando cada vez mais escuro e polarizado é o momento de demonstrar com o que a eclesia de Cristo, a verdadeira comunidade, realmente se parece: sem paredes, sem classes e, portanto, de valor inestimável aos olhos de Deus. ] KELVIN ONONGHA, PhD, é professor associado de missões na Universidade Adventista da África, próximo a Nairóbi, Quênia

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HISTÓRIA

Boas-novas no Velho Mundo

PARA SE ESTABELECER NA INGLATERRA, O ADVENTISMO PRECISOU SUPERAR A REJEIÇÃO E ADAPTAR O MÉTODO

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epois que a Igreja Adventista do Sétimo Dia estava firmemente estabelecida na América do Norte, a atenção dos primeiros líderes foi atraída para a necessidade de expandir e desenvolver o trabalho no exterior. Na década de 1870, John Nevins Andrews foi enviado a Basileia, Suíça, para implantar uma editora. Conhecendo os fortes laços que então existiam entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, Andrews aproveitou uma escala na Inglaterra. Na época, embora não houvesse presença de adventistas do sétimo dia nessa região, já existia um grupo de guardadores do sábado. Andrews sabia que precisava ser feito um trabalho importante na divulgação da mensagem que pareceria estranha a muitas pessoas. Por volta da metade da era vitoriana, entre 1851 e 1875, a Grã-Bretanha estava em meio a um ajuste social e político, à medida que a agricultura gradualmente cedia lugar ao industrialismo. Como se viu ao longo da história, o clima político e econômico de uma nação afeta o fervor religioso, e foi o que ocorreu na Grã-Bretanha, nação conhecida por estabelecer o ritmo da conduta religiosa e moral e por ser protagonista no envio de missionários a outras partes do mundo. Abaixo da superfície havia motivos para preocupação. E foi em meio a esse cenário religioso e socioeconômico que o adventismo entrou no país. 24

O INÍCIO DA OBRA A igreja nomeou o pastor ordenado John N ­ orton Loughborough (1832-1924) como missionário de tempo integral na Inglaterra. Ele saiu de Nova York com a família, de navio, e chegou a Southampton em 30 de dezembro de 1878. Com quase três décadas de ministério, ­Loughborough era um pioneiro muito respeitado no meio-oeste dos Estados Unidos. Além de ser um dos primeiros a usar tendas nas campanhas evangelísticas, ele liderou o início do trabalho adventista na Califórnia, estabelecendo cinco novas congregações em três anos. Foi presidente da Associação de Michigan e tesoureiro da Associação Geral. Mas nenhuma desssa realizações o preparou para o trabalho que o aguardava na Inglaterra. Loughborough pregou seu primeiro sermão na Inglaterra no Shirley Hall a convite de evangelistas independentes, seis dias após sua chegada. Estavam presentes mais de 150 pessoas. Ele alugou o mesmo salão durante as semanas seguintes e pregou por 15 noites. Loughborough estava ansioso, e dedicou todo o seu tempo e a R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

Foto: Ellen G. White Estate

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sua energia nas reuniões públicas. Então decidiu copiar o modelo de evangelismo a que estava mais acostumado nos Estados Unidos, realizando as reuniões em tendas. MÉTODO NADA ORTODOXO Em abril de 1879, o principal esforço evangelístico de ­Loughborough foi uma abordagem nova e diferente para Southampton, e para muitas outras partes do país. Em seu diário, Loughborough relatou: “Com o início da primavera, compramos uma tenda com mais de 18 metros que foi montada no subúrbio de Southampton, onde começamos as reuniões no domingo, 18 de maio de 1879” (Rise and Progress of the Seventh-day Adventists [Battle Creek, MI: General Conference Assoc., 1892], p. 321). A primeira reunião teve uma audiência de 600 pessoas. Embora durante os três meses de campanha evangelística o clima tenha sido desfavorável, a frequência foi relativamente boa. Quando o evangelismo chegou ao fim, o grupo de adventistas em Southampton era formado por aproximadamente 30 pessoas. Esses tinham sido membros de outras congregações cristãs ou eram novos conversos. A força de trabalho era escassa, uma vez que a igreja contava apenas com um pastor ordenado e dois obreiros leigos. Mas eles continuaram trabalhando, e após um ano foi realizado o primeiro batismo. Loughborough registrou em seu diário: “Nosso primeiro batismo foi em Southampton, no dia 8 de fevereiro de 1880, quando imergimos seis pessoas que se decidiram. Até 2 de julho de 1881, 29 haviam sido batizadas” (p. 321).

Com aparência de circo, bancos de madeira improvisados e falta de decoração, as tendas não eram lugar para a elite nem para a sociedade sofisticada. Loughborough admitiu em seu relatório que, para alcançar as classes média e alta, seria necessário alugar salões condignos. O desafio adicional era a despesa para alugar tais salões. Com um orçamento restrito e recursos limitados, Loughborough e sua pequena equipe tiveram que contar com a ajuda financeira da América do Norte. Os membros distribuíram amostras grátis da revista The Present Truth, e, depois de quatro edições, venderam assinaturas do periódico. O dinheiro ganho com as assinaturas foi usado para alugar salões, comprar equipamentos e produzir outras revistas e folhetos.

Foto: Center for Adventist Research

JOHN LOUGHBOROUGH LANÇOU UMA BASE FIRME PARA QUE OUTROS MISSIONÁRIOS PUDESSEM CONSTRUIR SOBRE ELA

PROGRESSO LENTO E RECURSOS LIMITADOS Alguns podiam argumentar que os frutos do trabalho de Loughborough não foram tão imediatos. Embora a frequência às suas reuniões públicas fosse boa e muitos tenham aceitado a doutrina do sábado, as pessoas hesitavam em aprofundar-se mais no estudo e a c­ ­omprometer-se unindo-se à igreja. Loughborough confessou: “Enfrentamos dificuldades no estabelecimento do trabalho na Grã-Bretanha que não experimentamos na América. Disseram-nos constantemente que ‘as pessoas na Inglaterra devem ser abordadas de uma forma diferente da empregada nos Estados Unidos’” (p. 322). O número de batismos parecia baixo, se comparado ao número de horas de trabalho e a todo o esforço empregado. Naturalmente, Loughborough ficou desapontado com a falta de progresso, principalmente se comparado ao sucesso a que estava acostumado nos Estados Unidos. Mas, em seus relatórios, ele destacou as lições aprendidas e apresentou uma análise dos desafios que enfrentou. Um desses desafios era a falta de interesse das pessoas das classes sociais mais elevadas de frequentar as reuniões na tenda. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

SUPERANDO OS DESAFIOS Loughborough enfrentou muita rejeição, provavelmente por ser estrangeiro e ensinar doutrinas desconhecidas. Se os britânicos estivessem realmente interessados em religião, seria muito mais provável que apoiassem a respeitável e já estabelecida Igreja da Inglaterra do que se associarem a uma organização socialmente inferior e, como resultado, ainda correr o risco de perder prestígio e status. Loughborough também enfrentou a oposição de outros membros do clero. Durante suas reuniões na tenda, ele teve que suportar a oposição e preocupação do clero local, que, tanto do púlpito como nas visitas de casa em casa, insistia com os paroquianos para que não aceitassem a guarda do sábado. Apesar desses desafios, e de sua mão-de-obra escassa, Loughborough perseverou e venceu. Ele acreditava “que Deus estava testando a paciência deles e que, por meio Dele, todas as coisas eram possíveis” (Nigel Barham, “The Progress of the Seventh-day Adventist Church in Great Britain, 1878-1974” [tese de doutorado, Universidade de Michigan, 1976], p. 63). Graças à sua perseverança e compromisso destemido com a tarefa que tinha em mãos, o trabalho nas Ilhas Britânicas finalmente deslanchou. L ­ oughborough lançou uma base firme para que outros missionários pudessem construir sobre ela. ] RICHARD DALY é pastor e diretor de comunicação da União Britânica, no Reino Unido

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DEVOCIONAL

NÃO OUSEMOS CONSTRUIR UM MURO ONDE JESUS COLOCOU UMA PORTA ABERTA BRENT BURDICK

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á se passaram mais de 30 anos desde a queda do Muro de Berlim. Um artigo publicado recentemente na revista U.S. News & World Report retratou bem as reações de duas mulheres que foram diretamente afetadas pelo evento. Angelika Bondick, hoje com 63 anos de idade, declarou que, na verdade, ela sente falta do muro. “Eu cresci com ele, e não o questionei”, ela afirmou. Dagmar Simdorn, 81, expressou uma reação diferente. “Ficamos ali de boca aberta com a mão à frente dela. A sensação era como se estivéssemos voando, realmente”, ela disse, chorando. “Sentimo-nos como que flutuando”, completou. Já foram investidas somas incalculáveis de dinheiro nas grandes muralhas do mundo, sem mencionar as inúmeras vidas que foram sacrificadas à sombra delas. Atualmente, muitos desses muros servem apenas como atrações turísticas.

Nos tempos bíblicos, os muros eram símbolo de força e proteção. Uma cidade sem muros era considerada fraca e vulnerável. Muros bem construídos eram imprescindíveis para manter o inimigo do lado de fora, mas também eram muito eficazes para manter o povo dentro. Os cidadãos podiam se tornar prisioneiros dentro de sua própria cidade, sem perceberem. Os livros de história estão cheios de relatos a respeito de pessoas presas dentro dos muros da sua própria cidade. Um dos cercos mais longos registrados aconteceu à cidade de Cândia, capital de Creta. No século 17, Veneza era uma grande potência no Mediterrâneo, mas seu poder entrou em declínio à medida que o Império

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Foto: Okea

SEM BARREIRAS


Otomano crescia em força. Alguns incidentes militares lamentáveis resultaram no cerco de Cândia. Ele começou em 1648, quando o abastecimento de água foi cortado e as vias marítimas foram interrompidas. Numerosas batalhas ocorreram ao longo dos anos, mas os moradores de Cândia se recusaram a desistir. Finalmente, 21 anos depois, em 1669, a cidade se rendeu e os residentes foram autorizados a sair com o que pudessem carregar.

O PROPÓSITO DA IGREJA NUNCA FOI SER FECHADA NEM SER O CLUBE DE UMA ELITE

BARREIRAS RELIGIOSAS Será possível, em nossos dias, ficarmos presos dentro de nossos próprios muros? Ao longo da história, muitos entre o povo de Deus levantaram barreiras construídas por mãos humanas, para se protegerem do inimigo. Esses muros não são físicos. São espirituais. Não são construídos com martelo e pregos ou tijolos e argamassa. São muros construídos com ideias, tradições, preconceitos e medos. O apóstolo Paulo escreveu que a cruz uniu o que estava separado, não apenas no âmbito vertical, mas também no nível horizontal. Cristo derrubou a parede da separação que estava no meio, a inimizade, conforme lemos em Efésios 2:14. O que era esse “muro de inimizade”? Paulo deixou claro que ele representa o muro que separava judeus e gentios. O Museu de Israel, em Jerusalém, expõe o fragmento de um artefato descoberto em 1936, perto do local do segundo templo. O achado arqueológico, que possivelmente tenha sido fabricado alguns anos antes do nascimento de Jesus, traz a seguinte inscrição: “Não é permitido a estrangeiros passar além da balaustrada e da praça da zona do templo. Se alguém for apanhado ali será responsável por sua própria morte que virá como consequência”. O que deve ter passado pela mente de Jesus quando Ele Se deparou com aquela placa, sabendo que Sua morte, que viria a seguir, pagaria o preço da culpa tanto de judeus quanto de gentios? Ellen White escreveu o seguinte sobre os judeus do tempo de Jesus: “O povo de Israel perdeu de vista seus altos privilégios como representantes de Deus. Esqueceram-se de Deus e deixaram de cumprir Sua santa missão. [...] As restrições por Deus impostas na R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

sua associação com os idólatras como um meio de prevenir-lhes o conformismo com as práticas pagãs, eles as usaram para levantar um muro de separação entre si e as demais nações” (Atos dos Apóstolos, p. 14, 15). LIÇÕES DA DEMOLIÇÃO Jesus estava demolindo aquele muro para garantir que ninguém ficasse sem acesso à Sua salvação. Paulo deixou isso bem claro: “Porque, por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2:18). Os muros fazem três coisas devastadoras: 1. Limitam a visão. Não se consegue ver muito facilmente por cima de um muro. Há um muro chamado “nunca foi feito dessa maneira” ou “não é assim que se faz”. Quando os muros limitam nossa visão, tendemos a dizer: “Se não consigo ver, não acredito”. As paredes também limitam a expressão. Há um muro que nos mantém presos às tradições e ao pensamento tradicional. Os muros podem limitar a criatividade e o crescimento. 2. Muros isolam. Eles tendem a manter as pessoas do lado de fora. Quando queremos ficar sozinhos, erguemos um muro. Mesmo entre uma multidão de pessoas, levantamos muros invisíveis para nos proteger. O problema é que esses muros nos isolam das mesmas pessoas de quem devemos nos aproximar.

3. Muros segregam. O isolamento mantém as pessoas do lado de fora, mas a segregação também mantém as pessoas dentro. O propósito da igreja nunca foi ser autossuficiente nem fechada. Nem o de ser o clube de uma elite de pessoas que raramente se aventuram a sair. A igreja deve ser a porta do Céu. Não devemos permitir que nada bloqueie a entrada para o reino de Deus. Para o caso de haver alguma dúvida, Jesus disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, por que fechais o reino dos Céus diante dos homens” (Mt 23:13). Jesus confirmou esse conceito em outra ocasião: “quem vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37). Finalmente, ­lembremo-nos do que Deus disse: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17). Qualquer coisa que restrinja “quem quer que seja” de chegar a Jesus é um muro que deve ser derrubado. Não ousemos construir um muro onde Jesus colocou uma porta aberta. Veja o que Ellen White escreveu: “Durante Seu ministério terrestre, Cristo deu início à obra de derrubar o muro de separação entre judeus e gentios e apregoar a salvação a toda a humanidade. Embora fosse judeu, ­comunicava-Se livremente com os samaritanos, anulando costumes farisaicos dos judeus com respeito a esse desprezado povo. Dormia sob seu teto, comia em suas mesas e ensinava em suas ruas” (Atos dos Apóstolos, p. 19). Oremos para que Deus nos mostre os muros que precisam ser derrubados. Oremos para que, por meio da graça de Deus, tenhamos mais fé e poder para derrubar as barreiras “invisíveis” e, seguindo o exemplo de Jesus, sermos testemunhas eficientes. ] BRENT BURDICK é tesoureiro-assistente da sede mundial da Igreja Adventista e diretor do software de contabilidade

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MINHA HISTÓRIA

O abajur azul

TESTEMUNHO DE UM CASAL QUE LEVOU LUZ E ESPERANÇA PARA UMA FAMÍLIA QUE PERDEU TUDO EM UM INCÊNDIO

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DICK DUERKSEN

mãe da Karen tinha colecionado muitas coisas, porém poucas de valor. O que significa que, quando sua mãe faleceu, Karen e o marido, Henry, passaram muitas horas organizando as coisas que ficaram. Algumas delas podiam ser doadas às instituições de caridade, que, por sua vez, doariam às pessoas necessitadas. Mas a maioria das coisas só tinha valor para Karen. Quando finalmente a casa ficou vazia, o banco de trás do carro dela estava cheio de lembranças de sua mãe, coisas tão preciosas que ela simplesmente não podia vender nem doar. “No banco do passageiro”, lembra-se Karen, “estava o abajur preferido da mamãe”. Não havia nele nada de extraordinário. Era apenas de cerâmica azul brilhante com a forma de jarro de água antigo. A cúpula estava até um pouco 28

desgastada. O artesão que o fabricou o fez de uma forma que, para ligar ou desligar a lâmpada, bastava um toque de leve. Sua mãe gostava de mostrar aos seus convidados o milagre de acender seu abajur com um toque. Enquanto colocava os demais objetos na caminhonete, Henry lembrou dos vizinhos que haviam acabado de perder a casa num incêndio. Eles eram caminhoneiros e, há muitos anos, dirigiam caminhões gigantes que puxam carretas cheias de coisas de um lado R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020


Foto: Rawf8

para o outro dos Estados Unidos. Por também ter sido motorista de caminhão, Henry havia se identificado com os vizinhos. Eles estavam longe quando um tanque de gás explodiu e queimou a casa deles até o chão. Não sobrou absolutamente nada! Pensando em suprir as necessidades daquela família, Karen e Henry empilharam na caminhonete a velha mesa e cadeiras da mãe, uma cama, duas cômodas, utensílios de cozinha, panelas e frigideiras, entre outras coisas que eles achavam que os caminhoneiros poderiam usar. “Os caminhoneiros tinham chegado na noite anterior e estavam hospedados em uma casinha vazia perto da nossa casa. Então fomos para lá levar o melhor das coisas da minha mãe para alguém que estava realmente precisando e querendo”, Karen relata. Para ir aonde os caminhoneiros estavam vivendo, eles tinham que passar por uma estrada de terra longa e sinuosa. Quando Karen e Henry foram visitá-los, os veículos levantaram uma grande nuvem de poeira. “Você deve ter visto o brilho nos olhos deles quando saímos da nuvem de poeira marrom”, Henry disse sorrindo. No princípio, Emily e Chuck não quiseram admitir que precisavam de algo. “Nós estamos bem. Podemos sobreviver”, enfatizou Emily. No entanto, logo depois de dizer isso ela viu que havia uma cama na caminhonete e começou a caminhar em direção a ela. Lágrimas se acumularam em seus olhos. “Não perdemos muito na nossa antiga casa”, Emily sussurrou, “mas eu gostaria muito de ter uma cama de verdade com um bom colchão”. Então, descarregaram a cama, colchão, cômodas, cadeiras, mesa, panelas, frigideiras e talheres de prata pelos quais a mãe de Karen havia tido um carinho especial. Emily encontrou um lugar para cada peça na casa nova, ajudando a transformar o ambiente em um lar. Então Karen se lembrou do abajur. Emily e Chuck podiam usar a luminária, certo? Sim, podiam! Porém, Karen não tinha certeza de estar disposta a doá-lo. Afinal, esse era o abajur preferido da sua mãe, aquele que seus convidados deviam tocar, aquele que ela ganhara de Natal havia tanto tempo... “Preciso ficar com ele”, Karen pensou. No carro, ela contou a Emily sobre aquele objeto, explicando cuidadosamente como funcionava a luz de toque e descreveu quanto sua mãe se divertia ensinando os convidados a acendê-la. Emily estava assustada, como uma menina que acabou de ver a boneca perfeita em uma loja, mas sabe que não pode tê-la. “Observei meu marido virar a caminhonete vazia e dirigir de volta pela estrada poeirenta. Depois comecei a caminhar de volta em direção ao meu carro”, Karen recorda. “Minha vizinha chorava de gratidão, implorando que eu aceitasse algum pagamento por aquele ato de generosidade. Escutei, mas só conseguia pensar no abajur de toque.” “Não”, Karen disse a Emily, “você não nos deve nada. Minha mãe ficaria feliz em saber que você ficou com as coisas dela e que está muito feliz.” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

NOSSOS VIZINHOS QUERIAM RETRIBUIR AQUELE ATO DE GENEROSIDADE E CHORARAM DE GRATIDÃO As mulheres choraram juntas, e Emily deu a Karen outro grande “abraço de caminhoneiro”. Karen teve uma péssima noite. Ela só conseguia pensar no abajur de toque. Sempre que adormecia, Deus a acordava e a lembrava de como Emily havia amado o abajur. Pela manhã, Karen sabia que não tinha escolha. O abajur de toque não era dela. Devia ser de Emily. Após o café da manhã, Karen levantou outra nuvem de poeira na estrada em direção à casa de Emily. “Tenho mais uma coisa para o seu quarto”, Karen se emocionou quando Emily atendeu à porta. “É realmente fantástico; deixa eu lhe mostrar”, ela disse. As duas mulheres caminharam para o quarto onde estava uma das mesas de cabeceira da mãe de Karen, ao lado da nova cama da Chuck e Emily. Karen ligou o abajur em uma tomada elétrica e colocou-o sobre a mesa. Emily observava através dos olhos lacrimejantes e esperançosos. “Toque no abajur”, Karen pediu. Emily obedeceu, combinando o brilho da luz com as lágrimas que rolavam. Juntas, elas tocaram no abajur várias vezes, ligando e desligando o aparelho. Então, Emily enxugou os olhos e agarrou as mãos de Karen. “Em toda a minha vida, esta é a primeira vez que alguém percebeu que eu gostei de algo e me deu de presente. Nunca antes ninguém reparou no que eu gostava. Só você, Karen! Você viu e se preocupou.” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)

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BOA PERGUNTA

QUAL É A NATUREZA E O PROPÓSITO DAS CRENÇAS FUNDAMENTAIS ADVENTISTAS? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ

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Declaração de Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia é um resumo do que acreditamos ser os elementos mais importantes da mensagem bíblica a ser proclamada ao mundo, antes da segunda vinda de Cristo. Vou compartilhar a seguir alguns pensamentos sobre sua natureza e propósito. 1. A verdade bíblica é dinâmica. Ela trata do intelecto, assim como da própria essência do nosso relacionamento com Deus e com os outros. Portanto, a verdade redefine nosso autoentendimento, nossa percepção do mundo e visão dos outros. Isso explica por que nossas crenças fundamentais englobam não apenas as questões teológicas como divindade e cristologia, mas também aspectos práticos da vida cristã, a exemplo da mordomia e do casamento, refletindo a abordagem bíblica abrangente da vida e da realidade. A verdade bíblica está diretamente relacionada com a verdade cósmica. Nossas crenças fundamentais são emolduradas por esse tema, proporcionando, assim, melhor compreensão da presença do pecado e da morte, alegria e beleza no mundo. 2. O centro do sistema é Cristo. Embora nosso sistema de crenças seja emoldurado pelo conflito cósmico, o que dá sentido ao todo é a obra de Cristo em nosso favor. Ele é o Deus que luta por nós contra os poderes malignos e os derrota, revela o caráter amoroso de Deus que morreu para nos redimir. Plenos da esperança bíblica, aguardamos com alegria Sua vinda, sabendo que é garantida. Cada aspecto das nossas crenças fundamentais está interligado pelo mistério da vida, ministério, morte de Cristo, e pelo que Ele está fazendo por nós no presente. Cada aspecto revela uma dimensão importante da Sua obra salvadora. Consequentemente, ao estudarmos essas verdades bíblicas, é nosso dever sempre procurar encontrá-Lo nelas. 3. Uma declaração da verdade e da fé. Os adventistas afirmam que nosso único credo é a Bíblia e fazem distinção entre a definição tradicional de credo e nossas crenças fundamentais. Ambos são considerados uma expressão abreviada da mensagem bíblica. Os adventistas entendem que os credos sejam ensinamentos fossilizados, praticamente impassíveis de mudança. Por outro lado, as Escrituras e a história cristã demonstram que os credos muitas vezes incorporam elementos não bíblicos. Como

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica

EMBORA NOSSO SISTEMA DE CRENÇAS SEJA EMOLDURADO PELO CONFLITO CÓSMICO, O QUE DÁ SENTIDO AO TODO É A OBRA DE CRISTO EM NOSSO FAVOR

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Foto: Adobe Stock

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dificilmente são abertos à correção, os credos tendem a perpetuar falsos ensinamentos. Os adventistas estão abertos à verdade bíblica e ao seu papel no julgamento de assuntos de fé e prática. Assim, o estudo da Bíblia pode levar a igreja a reformular ou acrescentar às suas crenças fundamentais. Portanto, a autoridade das nossas doutrinas está embasada na sua fidelidade à Bíblia. Os novos convertidos não são obrigados a se submeterem a um credo, mas a Cristo e Seus ensinamentos, como encontrados na Bíblia. Com respeito às nossas crenças fundamentais, eles só devem confessar: “Considero que essas crenças estão de acordo com o que a Bíblia ensina.” 4. Identidade comum e missão. Como nossas crenças fundamentais resumem o consenso da igreja mundial, reconhecido e reafirmado nas assembleias da Associação Geral, elas contribuem diretamente para a identidade comum da igreja como um movimento mundial. Convencidos do fato de que nossa comunidade de crentes chegou a um entendimento comum de nossa fé por meio da Bíblia e da obra do Espírito, encontramos neles uma identidade e um propósito comum. Isso dá à comunidade um forte senso de missão e do nosso papel específico dentro do mundo religioso. Nossas crenças fundamentais testemunham não apenas o que cremos, mas o que ensinamos. A missão de ensiná-las nos chama a proclamar essas verdades do púlpito, ao darmos estudos bíblicos com o intuito de nutrir espiritualmente os membros da igreja e para transmitir nossa fé para as novas gerações. ]


BEM-ESTAR

CIGARRO ELETRÔNICO

O ARGUMENTO DE QUE ELE AJUDA QUEM QUER PARAR DE FUMAR É MITO PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL

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enho 15 anos, e os meus amigos estão usando cigarros eletrônicos, argumentando que é seguro. Os garotos populares estão vapeando e eu me sinto excluído. ‘Vapear’ é realmente prejudicial?” Agradecemos por essa pergunta tão importante. Essa é uma idade vulnerável, na qual a pressão dos amigos e o desejo de fazer parte do grupo popular são enormes desafios que dificultam fazer as melhores escolhas. A resposta curta é sim, “vapear” é realmente prejudicial à saúde. Os cigarros eletrônicos foram desenvolvidos em 2003 por um farmacêutico chinês. Eles não emitem fumaça e sim vapor, mas este contém nicotina, aromatizantes e outros produtos químicos que se infiltram nos pulmões. Há centenas de marcas no mercado, que podem se assemelhar a cigarros, charutos, cachimbos, canetas, até mesmo pendrives. Eles usam cartuchos cheios de nicotina, aromatizantes e outros produtos químicos, bem como um dispositivo de aquecimento alimentado por bateria, chamado vaporizador. O sopro ativa o processo produzindo calor, o líquido no cartucho é vaporizado, e o vapor é inalado através dos pulmões. Este é o processo do cigarro eletrônico.

Foto: Pascal Kiszon

Os jornais e mídias sociais tem noticiado resultados nefastos relacionados ao vape, como também é chamado. Entre eles estão várias mortes, noticiadas em todo o mundo, devido a lesões severas nos pulmões atribuídas a essa prática. A seguir estão alguns fatores importantes a ser considerados. A maioria dos cigarros eletrônicos contém nicotina química, que é viciante. A nicotina pode provocar alterações prejudiciais no cérebro do adolescente. Essa droga também é perigosa durante a gravidez e pode afetar o desenvolvimento do feto. O aerossol contém solventes potencialmente nocivos, aromatizantes e toxinas que podem provocar sérios problemas pulmonares. Os cigarros eletrônicos expõem o organismo a diferentes substâncias, incluindo o diacetil, que é usado para produzir um sabor amanteigado e que pode causar “pipoca pulmonar”, uma doença grave e irreversível nos pulmões. O envenenamento potencialmente fatal resulta da ingestão acidental ou da inalação do líquido do cigarro eletrônico. Embora tenha sido divulgado que esse tipo de cigarro ajuda as pessoas a deixar de fumar, aqueles que usam ou já usaram o e-cigarro têm menos

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OS CIGARROS ELETRÔNICOS EXPÕEM O ORGANISMO A DIFERENTES SUBSTÂNCIAS, INCLUINDO O DIACETIL, QUE PODE CAUSAR UMA DOENÇA GRAVE E IRREVERSÍVEL NOS PULMÕES

probabilidade de abandonar completamente o fumo. Os adolescentes que usam cigarro eletrônico são mais propensos a também começar a usar regularmente o cigarro convencional. O uso continuado de nicotina pode também tornar mais prazeroso para o usuário outras drogas como a cocaína. Os aromatizantes, o marketing e o conceito errado de que “vapear” não seja prejudicial seduzem os adolescentes. Mas existe a preocupação de que essa prática aumente a chance de eles passarem a fumar cigarros convencionais mais tarde, e as evidências atuais de fato apontam para isso. “Vapea r” tabaco/nicot ina é a maneira mais comum usada pelos jovens, mas “vapear” maconha se tornou mais comum entre estudantes do ensino médio. Ambas as formas de uso são conhecidas como prejudiciais ao desempenho acadêmico e ao bem-estar psicológico dos jovens. A nicotina é uma droga perigosa e altamente viciante. Aumenta a pressão arterial, estreita e enrijece as artérias, aumenta o ritmo cardíaco e contribui para os ataques cardíacos. Os cigarros eletrônicos e todos os tipos de produtos do tabaco contêm nicotina e outras toxinas perigosas. A melhor opção é não utilizar esses produtos em nenhuma das suas formas. Deus irá honrar e fortalecer sua decisão de se manter saudável. ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico-geral e diretor associado desse mesmo ministério

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NOVA GERAÇÃO

ÀS VEZES, DEUS TEM QUE ME TIRAR DA MINHA ZONA DE CONFORTO E ME FAZER ENFRENTAR MEU MEDO, PARA REALIZAR ALGO VALIOSO

ATITUDE DE APRENDIZ PRECISAMOS ESTAR DISPOSTOS A APRENDER COM O SUPREMO E PACIENTE PROFESSOR LYNETTE ALLCOCK

Alguns desses motoristas experientes pareciam se esquecer de que também já haviam sido alunos. Eles me olhavam como irresponsável, buzinavam, ou me seguiam, impacientemente. “Estas são todas as coisas que você não deve fazer”, comentou ironicamente o meu professor. Por mais desconfortável que eu tenha me sentido, ter sido uma aprendiz foi bom para mim. Não estou apenas aprendendo a dirigir, mas a ser mais gentil comigo mesma e com os outros. Minhas aulas de autoescola também estão repercutindo em outras aplicações espirituais quando penso no meu relacionamento com Deus. Deus é descrito como um professor, e o Espírito Santo nos conduz a toda verdade (cf. Sl 71:17; Jo 16:13-15). Às vezes, Deus tem que me tirar da minha zona de conforto e me fazer enfrentar meu medo, para realizar algo valioso. Além disso, há momentos em que sou tentada a pensar que, por ter crescido na Igreja Adventista, eu já sei tudo isso. Então, Deus tem que me lembrar que há sempre mais para aprender. Como Ellen White escreveu: “Mais elevado do que o sumo pensamento humano pode atingir, é o ideal de Deus para com Seus filhos. A santidade, ou seja, a semelhança com Deus é o alvo a ser atingido. À frente do estudante existe aberta a senda de um contínuo progresso. Ele tem um objetivo a realizar, uma norma a alcançar, os quais incluem tudo que é bom, puro e nobre” (Educação, p. 18). O processo de aprendizagem para o qual Deus me convida pode ser constrangedor e humilhante. No entanto, mesmo quando sou lenta para entender algo, Ele é o Professor perfeito e paciente. Ele sabe que o que tem para me ensinar me levará a uma liberdade maior. O que você está aprendendo ultimamente? Como você trata os aprendizes em sua vida? ] LYNETTE ALLCOK, graduada pela Southern Adventist University, mora em Watford, Reino Unido, onde produz e apresenta programas na Rádio Adventista de Londres

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Foto: arquivo pessoal

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grande dia havia chegado. Ia ter minha primeira aula de direção, com a idade madura de 29 anos. Depois de adiar as aulas por muitos anos, finalmente senti que era o momento certo para aprender. Eu queria sentir a liberdade de dirigir, mas estava muito ansiosa. Quando apertei a mão do meu professor e o ­ cupei o lugar do motorista, fiquei completamente calma por fora. Mas por dentro eu estava gritando silenciosamente. Respirei fundo e virei a chave na ignição. Felizmente, nada de terrível aconteceu, e nas semanas seguintes comecei a ficar um pouco mais confortável ao volante. Porém, eu não estava contente com meu progresso. Achava que deveria aprender mais rapidamente; muitas vezes me senti tola e lenta. Sempre que aprendia uma nova habilidade, parecia que me esquecia imediatamente da anterior. Ser aprendiz era difícil, especialmente como “perfeccionista em recuperação”. Eu estava habituada a ser competente e a controlar meu ambiente – ser a professora, não o aluno. Mas, de repente, eu estava cometendo muitos erros. A embreagem era minha inimiga. Parece que nunca conseguiria parar o carro sem deixá-lo morrer. Sempre que via um farol vermelho ou um sinal de parar, uma sensação de pavor subia lentamente dentro de mim, pois sabia que provavelmente iria deixar o carro morrer e irritar os outros motoristas.


PRIMEIROS PASSOS

PEQUENAS COISAS VEJA COMO DEUS SE IMPORTA COM OS MÍNIMOS DETALHES JEAN BOONSTRA

amey, coloque o guardanapo no lado esquerdo do prato, por favor”, Natasha disse, debruçada sobre sua irmã. “Está bem”, Jamey concordou, pegando o guardanapo com estampas florais. Quando se afastou para admirar a bela mesa, sentiu o rabo do Gadget encostar em sua perna. “Au-au”, latiu Gadget com um olhar triste. “Olha, Gadget”, respondeu Jamey, “você já sabe que não pode comer nenhuma dessas comidas.” Um cheiro maravilhoso invadia toda a casa. Quando dois pés com meias apareceram à sua frente, ele decidiu tentar novamente. “Cuidado, Gadget”, disse o capelão Simon sorrindo. “Quase derrubei a vasilha.” O animal balançou a cauda com entusiasmo. Ele esperava que o capelão Simon lhe desse alguma coisa daquele prato. Em vez disso, ele disse: “Gadget, você sabe que não pode ficar ao lado da mesa mendigando.” Gadget se enrolou em um lugar ensolarado, em frente à janela. Ele observou sua família terminar de arrumar a mesa. O cãozinho abaixou a cabeça, colocando-a entre as patas, e fechou os olhos. Quando abriu os olhos outra vez, Jamey estava em pé em frente dele. ­Gadget pulou muito animado. Talvez ela lhe desse algo para mastigar! “Gadget”, disse Jamey carinhosamente, “vamos tirar uma selfie juntos.”

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Ilustração: Xuan Le

“Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!” (Lc 12:7, NVI)

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Gadget aconchegou-se ao seu humano favorito. Jamey tirou a foto e rapidamente correu de volta para a mesa. Gadget passou pela mesa bonita, saiu pela porta de trás e foi até o quintal. Lá cheirou uma pilha de folhas douradas amontoadas ao lado da cerca, e sentou-se perto dela. Gadget não estava triste apenas pela comida; ele se sentia excluído. O cãozinho piscou, fechou os olhos e, quando abriu, lá estava Jamey novamente! Dessa vez ele não pulou. “Gadget”, disse Jamey, pedindo que ele a seguisse. “Eu estava procurando você. Entre! Tenho uma coisa pra lhe dar.” Gadget seguiu a menina pela porta dos fundos e entrou na cozinha. “Olha”, disse Jamey, apontando para o pratinho no chão, perto da pia. Gadget se inclinou sobre ele e o cheirou. O cheiro era maravilhoso. A comida parecia ser a mesma que estava sobre a mesa da família, semelhante à comida que ele não deveria comer. Jamey sorriu, percebendo que Gadget estava confuso. “Está tudo bem, querido”, ela disse, passando o braço ao redor do seu pescoço. “Eu pesquisei. Batata-doce faz bem para cachorros. Vá em frente, isso é pra você!” Gadget comeu um pouco da sua surpresa. Estava uma delícia! Sua cauda balançava enquanto ele comia toda a batata-doce. Ele não estava mais se sentindo excluído. Deus Se preocupa com as pequenas coisas, até com os nossos animais de estimação. Para ouvir mais histórias com Gadget e a família Simon, acesse o site discoverymountain.com. Esta história apareceu pela primeira vez na KidsView, em novembro de 2019. ] JEAN BOONSTRA é produtora executiva da série em áudio intitulada Discovery Mountain, que narra as aventuras bíblicas, e co-apresentadora do Disclosure, programa de rádio da Voz da Profecia nos Estados Unidos

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O evangelho no Japão COMO A MÍDIA TEM SIDO USADA PARA ESPALHAR A MENSAGEM ADVENTISTA NO PAÍS DA TECNOLOGIA ALFONSO RODRIGUEZ JR.

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ada região do mundo tem seus desafios para a propagação do evangelho. O Japão não é exceção. Esse país asiático é formado por 6.852 ilhas. As quatro maiores (Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku) concentram 97% da população de 126 milhões de habitantes. Em contraste, os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Japão são pouco mais de 15 mil, o que corresponde a uma proporção de 8.439 habitantes por membro. Apesar dos desafios desanimadores que essas estatísticas representam, muitos pastores e membros japoneses e de outros países que servem naquela região estão avançando pela fé e compartilhando a boa-nova de Jesus. A tarefa pode parecer impossível, mas, com Deus, todas as coisas são possíveis. Situada em um shopping center no coração da maior cidade do Japão, a Igreja Internacional de Tóquio (IIT) é formada por pessoas de aproximadamente 20 nacionalidades diferentes. Cerca de 150 delas frequentam as reuniões assiduamente. A maioria dos membros estrangeiros é composta de trabalhadores contratados, turistas ou cônjuges de cidadãos japoneses. Devido ao fato de a Igreja Internacional de Tóquio ser uma das poucas igrejas adventistas de fala inglesa no Japão, muitas pessoas que não falam o japonês não frequentam os cultos aos sábados. Por isso, nasceu o Lift Up Your Voice Media Ministry (Ministério de Mídia Levante Sua Voz). Rolo Etcobanes, membro da IIT, reconheceu a necessidade de programas em inglês aos sábados. Assim, em novembro de 2017, ele começou a transmitir cultos ­on-line, ao vivo, do seu apartamento, usando apenas uma câmera simples e um estúdio feito de papelão. Muitos oraram em favor do sucesso da iniciativa. Com o tempo, alguns jovens e o primeiroancião da igreja se uniram para formar o Ministério de Mídia, com R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

Foto: TIC Media Ministry

VIDA ADVENTISTA


LOCALIZADA EM UM SHOPPING NO CORAÇÃO DA MAIOR CIDADE JAPONESA, A IGREJA INTERNACIONAL DE TÓQUIO TEM TRABALHADO PARA ALCANÇAR NATIVOS IMIGRANTES

o objetivo inicial de transmitir estudos bíblicos e o estudo da Lição da Escola Sabatina em tagalog, língua falada por alguns dos membros regulares da igreja, originários das Filipinas. Mais tarde, o grupo começou a transmitir o culto de adoração semanal em inglês. Algumas pessoas questionaram a capacidade da equipe do Ministério de Mídia da Igreja Internacional de Tóquio, uma vez que ela não foi treinada nessa área e não tem a experiência nem a habilidade normalmente necessárias para operar o equipamento. Mas o grupo não desanima. Juntos, compartilham o conhecimento e as habilidades que têm e estão determinados a adquirir as qualificações adicionais necessárias – e Deus está abençoando seus esforços. “Começamos como um ministério autossustentável, e temos enfrentado muitos d ­ esafios financeiros”, diz Etcobanes. “Mas estamos dependendo Daquele que é ‘poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós’ (Ef 3:20). Deus está suprindo as necessidades do ministério”, ele completa. Logo as doações de recursos e equipamentos começaram a chegar, e o pastor da IIT, Mark Duarte, ofereceu seu pequeno escritório, que divide com os obreiros da União Japonesa, para ser usado temporariamente como estúdio. Dividir com outros um espaço tão limitado pode facilmente causar atritos, mas, como dizem, Deus está lhes ensinando humildade, paciência e amor. “A criação de um ministério da mídia que compartilha a mensagem e a missão adventista foi o sonho da IIT por muitos anos”, Duarte observa. “No tempo de Deus, com um início muito humilde, conseguimos começar, há vários anos, o Lift Up Your Voice Media Ministries. Desde então, temos recebido mensagens de pessoas que vivem no Japão e no exterior falando sobre como têm sido abençoadas pelas transmissões. Consideramos um ministério de Deus, não nosso. Simplesmente estamos servindo ao Senhor enquanto Ele continua abrindo portas.” Duarte acrescenta que o objetivo é proporcionar aos jovens uma oportunidade de servir a Deus, participando do grupo de pessoas que formam esse ministério ou operando equipamentos. “Ao participarem, eles também estão ouvindo a Palavra de Deus que é proclamada em vários lugares”, conclui. A audiência está crescendo. Membros que não podem ir à igreja devido à doença ou distância, estão sintonizados. Pessoas de lugares tão distantes quanto a Arábia Saudita, Brunei e outros países também têm enviado mensagens de apreço pelos

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programas. A equipe transmitiu e transmite programas da Maranatha, e as campanhas evangelísticas organizadas pela União Japonesa em parceria com a Associação Geral em 2018. Entre os oradores desses eventos estavam o pastor Ted Wilson, líder mundial da igreja, e Artur A. Stele, vice-presidente. Olhando para trás nos últimos dois anos, a equipe pode ver quanto Deus tem abençoado seus esforços com espectadores que agora podem adorar ao Senhor com eles através da transmissão on-line ao vivo, todos os sábados. “Como membro mais jovem da equipe do Ministério da Mídia da IIT, sou grato a Deus pelo privilégio de poder divulgar Sua mensagem, ajudando meus companheiros de equipe a preparar o equipamento”, diz Megumi Tuy Rodriguez, de 14 anos. “Estou aprendendo muito sobre trabalho em equipe e desenvolvendo habilidades técnicas. O Ministério da Mídia continua treinando jovens que estão dispostos a fazer parte do ministério”, ele ressalta. OPORTUNIDADE Segundo um artigo recente do Japan Times, dados do Ministério da Justiça indicam que “o número de estrangeiros residentes no Japão aumentou 6,6% no fim de 2018 em relação ao ano anterior, atingindo o recorde de cerca de 2,73 milhões de pessoas”. Uma pesquisa on-line atual também mostra que aproximadamente 22,6 milhões de habitantes usam o Facebook na terra do sol nascente. A projeção é que esse número deve chegar aos 26,9 milhões até 2023. As estatísticas mostram que temos uma grande oportunidade de alcançar todos os residentes do Japão – tanto nativos quanto estrangeiros – com a mensagem de esperança e salvação de Deus, usando o Ministério da Mídia (acesse: bit.ly/31jI1de). ] ALFONSO RODRÍGUEZ JR. é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)

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PERSPECTIVA

JORNALISMO ADVENTISTA

COMUNICAR COM RESPONSABILIDADE E TRANSPARÊNCIA É UM IMPERATIVO ÉTICO PARA A IGREJA COSTIN JORDACHE

A NOVA NORMA É A TRANSPARÊNCIA A transparência está entre os principais valores da sociedade atual, em todo o mundo. Em grande parte, a mudança é impulsionada pelos millennials, geração que nasceu entre o início da década de 1980 e meados da década de 1990. A maioria deles requer – e até mesmo exige – transparência das organizações com as quais se envolve. Eles cresceram na era da internet e das mídias sociais, tendo à disposição quantidade abundante de informação sobre praticamente tudo, para ser analisada e avaliada. Para os millennials, as organizações que não oferecem esse nível de transparência são menos ou nada confiáveis. Um autor escreveu: “Está claro que a confiança é a nova moeda de lealdade à marca” (Kira 36

A IMPRENSA ADVENTISTA ENFRENTA A TENTAÇÃO DE ABORDAR OS FATOS DE APENAS UM ÂNGULO Karapetian, Forbes, 8 de agosto de 2017). Aplicando o conceito às notícias, podemos geralmente assumir que, se uma organização é honesta com as más notícias, “é mais provável que seja confiável quando dá boas notícias” (Glen Broom e Bey-Ling Sha, Effective Public Relations, 2013, p. 253). ACIMA DO PRECONCEITO Embora a objetividade no jornalismo nunca tenha sido alcançada plenamente, no passado pelo menos valia a pena o esforço. Era o caminho para a credibilidade. No entanto, a tendência atual da imprensa é ser altamente polarizada e combinar de forma inequívoca reportagens com comentários. Os veículos de notícias adventistas enfrentam a mesma tentação de abordar os fatos de apenas um ângulo. Quando são críticos da igreja, reportam principalmente notícias controversas e negativas; quando são favoráveis a ela, adotam um viés triunfalista. O preconceito não gera nem confiança nem credibilidade. A igreja e seus jornalistas devem estar acima dele.

A BÍBLIA COMO MODELO Embora a Bíblia não seja vista tipicamente como um trabalho jornalístico, seus autores registraram e relataram a jornada do povo de Deus, começando pela criação. Numa simples leitura, podemos confirmar que esses autores nunca deixaram de fazer uma avaliação completa e honesta dos acontecimentos. O registro bíblico apresenta o passado maculado de muitos patriarcas para servir de instrução a nós. Graças aos relatos justos e honestos, temos tanto uma história precisa da igreja como muitas lições a ser aprendidas. POSIÇÃO PADRÃO Em 2011, a Igreja Adventista lançou o documento “Transparência na Prestação de Contas dos Relatórios Financeiros”. Quando foi lançado, os administradores da denominação explicaram que os princípios do documento deviam transcender as finanças, e que a transparência precisava ser a posição padrão da Igreja Adventista em todas as esferas. Esse foi um passo na direção certa, que seguramente deve ser aplicado no compromisso da igreja em manter seus membros informados por meio de notícias verdadeiramente justas e equilibradas. ] COSTIN JORDACHE é diretor de comunicação e editor de notícias da Adventist Review e da Adventist World

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Foto: Elijah O’Donnell

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Igreja Adventista do Sétimo Dia tem a responsabilidade – um imperativo ético – de informar seus membros e comunidades de forma precisa e consistente, mesmo quando as notícias não são positivas. Na raiz desse chamado está a integridade bíblica e a coragem de reconhecer nossas falhas, independentemente das consequências políticas. No entanto, dentro da nossa comunidade religiosa, às vezes nos esquivamos, até mesmo desaconselhamos, a divulgação de notícias que possam comprometer nossa fachada organizacional brilhante ou desafiar os interesses dos líderes. No entanto, há várias razões convincentes para reconsiderarmos tais tendências.


RETRATOS

Na passagem pelas Ilhas Salomão, em novembro, encerrando a turnê que incluiu Nova Zelândia e Índia, o príncipe Charles foi recepcionado no estádio Lawson Tana, no centro de Honiara, por professores e estudantes de várias instituições educacionais. Entre elas estava o Betikama Adventist College (representado na foto pela estudante que está no centro). Segundo o diretor do colégio adventista, na ocasião o herdeiro do trono britânico viu o logo e reconheceu que a instituição pertencia à denominação. Foto: Adventist Record

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RELEVÂNCIA NA COMUNIDADE Como uma congregação dos Estados Unidos ressignificou sua função EQUIPE DO LAKE UNION HERALD

or muitos anos, a congregação adventista de Elgin, em Illinois (EUA), permaneceu desconectada da comunidade. Mas isso mudou em 2017, quando os membros da igreja local realizaram uma profunda e honesta autoavaliação. Ao fazer isso, concluíram que era necessária uma mudança radical, o que levou a um processo de “replantio” da igreja localizada a cerca de 65 km de Chicago. O grupo percebeu que tinha um grande edifício usado basicamente nos fins de semana; possuía 2,4 hectares de terra que não produziam nenhum benefício; as habilidades médicas nunca haviam sido usadas coletivamente para aliviar o sofrimento à sua volta; e, apesar do fechamento da escola da igreja décadas antes, essa parte do prédio não havia sido reaproveitada. Foi a partir dessa reflexão que o projeto Heal Elgin ganhou vida.

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Depois da autoavaliação e do ajuste de foco, a congregação local passou a atuar ativamente no seu entorno, oferecendo diversos serviços à população

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Não foi a primeira vez que a Igreja Adventista de Elgin precisou se renovar. Alcançada pela mensagem adventista por meio dos esforços de pioneiros como John Loughborough, que trabalhou na região entre 1856 e 1857, ela foi mantida ao longo dos anos por pioneiros do adventismo na América do Norte. Em 1909, Ellen White proferiu dois sermões ali. Porém, quando a Grande Depressão se instalou, em 1929, muitos membros se afastaram, outros morreram e alguns perderam a fé. Por cerca de dez anos, não houve presença adventista em Elgin. A igreja foi replantada depois de 1939, quando uma família se mudou para lá e iniciou uma classe da Escola Sabatina em sua casa. A congregação de Elgin foi reorganizada em 1944, com 25 membros. Mais tarde, o grupo comprou 2,4 hectares de terra e construiu uma escola e um templo, dedicados em 1970 e 1971, respectivamente. Contudo, em 2017, depois de ajudar a plantar cinco igrejas nos últimos 15 anos, o grupo da igreja de Elgin sentiu que precisava de um recomeço. Na reunião administrativa, o grupo votou por unanimidade a proposta de iniciar um processo que conduzisse ao renascimento da igreja. O fundamento espiritual da equipe teve que ser estabelecido primeiro. Foram dedicados quatro meses à oração diária e ao estudo da Bíblia, além de uma reunião de duas horas todos os sábados à noite, para orar e compartilhar testemunhos. Então, ao longo de 2018, o foco foi o aprendizado das habilidades do evangelismo relacional. Os membros começaram a entrar em contato com amigos, vizinhos e colegas de trabalho. A equipe passou por um reavivamento, e outros notaram. Na segunda etapa do processo, após uma análise aprofundada das necessidades em seu território, do talento e dos recursos disponíveis, eles definiram mais claramente a identidade, visão e missão da igreja local. O primeiro passo em direção à comunidade foi o estabelecimento de uma clínica odontológica e oftalmológica, no próprio prédio da igreja. Vários dentistas e médicos da comunidade se cadastraram como voluntários. Foram 12 horas oferecendo atendimento gratuito à população. O grupo amadureceu com a primeira experiência e conseguiu se organizar melhor para a segunda iniciativa, promovida em junho de 2019. Além de chamar a atenção da imprensa local, a mobilização dos 125 voluntários atraiu doações da Associação Dental de Chicago e da Associação Dental do Estado de Illinois no valor de 5 mil dólares cada uma. Na ocasião, serviços adicionais também foram oferecidos, como um armário comunitário, corte de cabelo e consultoria jurídica para imigrantes. A Clínica Heal Elgin foi o primeiro desdobramento do projeto “Recovery Center”. Já na segunda fase o foco foi um programa de apoio a pessoas que sofrem de depressão e ansiedade. Agora, a igreja pretende oferecer aulas de nutrição e culinária, além de trabalhar na recuperação de viciados. Os voluntários planejam executar essas ações várias vezes ao ano. O objetivo é estabelecer um centro comunitário de influência com o objetivo de levar a cura eterna a este mundo doente. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2020

Foto: Gabriel Bardan

IGREJA


INTERNACIONAL No dia 12 de janeiro, a comunidade do Hospital Adventista do Haiti relembrou o papel que a instituição teve no contexto imediato do terremoto e depois da tragédia

DOS ESCOMBROS À RECONSTRUÇÃO

Uma década depois de um dos piores terremotos da história do Haiti, saiba qual é a realidade da igreja hoje no país caribenho LIBNA STEVENS

Foto: Libna Stevens

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á transcorreram dez anos desde que o Haiti foi abalado por um dos piores terremotos de sua história. Mais de 300 mil pessoas, incluindo 500 adventistas, perderam a vida nessa catástrofe.

Waitland François havia se casado poucos dias antes do fatídico 12 de janeiro de 2010. Sete familiares da esposa que tinham vindo dos Estados Unidos para prestigiar a cerimônia perderam a vida no terremoto. A alegria deu lugar ao luto. Algum tempo depois, François emigrou para as Filipinas, onde hoje ele cursa o doutorado no Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (AIIAS, na sigla em inglês). Em sua tese, François está desenvolvendo uma “teologia do serviço”, pois sua intenção é retornar ao país de origem e servir aos conterrâneos. Desde 2010, individual e corporativamente a igreja tem buscado oferecer ajuda à população. De acordo com Fritz Bissereth, diretor da ADRA no Haiti, mais de

quatro mil toneladas de comida foram distribuídas após o desastre. A agência humanitária da igreja também construiu mais de 600 abrigos para famílias do bairro Carrefour, em Porto Príncipe, além de buscar outros meios de atender as necessidades básicas de dezenas de comunidades e ajudá-las a reconstruir a vida. Ao mesmo tempo, a igreja conseguiu, aos poucos, se reerguer. Na véspera do décimo aniversário do trágico terremoto, membros da denominação no país se reuniram para um culto de ação de graças em um templo com capacidade para quinhentas pessoas que será inaugurado em breve na capital. Figaro Greger, que liderou o trabalho de angariar fundos para a construção do edifício, conta que

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durante cinco anos o grupo se reuniu embaixo de uma tenda. No entanto, aquele pequeno grupo de 50 fiéis, que, no contexto imediato do abalo sísmico, chegou a dormir ao relento, se transformou em uma congregação de aproximadamente 350 pessoas. Conforme ressalta o pastor Pierre Caporal, líder da igreja no país, muitas igrejas no Haiti ainda têm reformas adicionais a ser feitas, mas todas estão lotadas. Na última década, o adventismo no terceiro maior país do Caribe em território e número de habitantes contabilizou mais de 91 mil novos membros e o plantio de 110 novas congregações. Hoje o Haiti tem 481 mil adventistas, que congregam em 1.126 igrejas e grupos. Além disso, a denominação dispõe de uma universidade, uma emissora de rádio, dezenas de escolas primárias e secundárias e um hospital. As autoridades locais reconhecem que a instituição médica, uma das principais administradas pela igreja no país, teve um papel muito importante tanto no contexto imediato da tragédia quanto no processo de reconstrução do país, conforme destacou Harry Jean, representante da prefeitura da capital, em outra programação especial realizada pelo Hospital Adventista do Haiti (HAH) no dia 12 de janeiro. Presente no evento, Scott Nelson, professor da Universidade de Loma Linda que atuou no socorro às vítimas e hoje trabalha como chefe de cirurgia do HAH, ressaltou que a tragédia levou a instituição médica a melhorar a qualidade do atendimento. “Passamos a oferecer serviços nunca antes possíveis no Haiti. Alguns desses serviços são raros mesmo nos centros mais avançados da América do Norte”, ele destacou. ] LIBNA STEVENS é diretora-assistente do departamento de Comunicação da Divisão Interamericana

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MKT CPB

CDs | DVDs Livros | Bíblias Guias de Estudo Hinários | Revistas Folhetos | Jogos Brinquedos

AMAZONAS

GOIÁS

PERNAMBUCO

SÃO PAULO

SÃO GERALDO Av. Constantino Nery, 1212

SETOR CENTRAL Av. Goiás, 766

SANTO AMARO R. Gervásio Pires, 631

CENTRO Tv. Lourenço Rondinelli, 111

MANAUS

(92) 3304-8288 / (92) 98113-0576

GOIÂNIA

(62) 3229-3830

RECIFE

(81) 3031-9941 / (81) 99623-0043

SANTO ANDRÉ (11) 4438-1818

BAHIA

MATO GROSSO DO SUL

RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

FADBA Rod. BR 101, km 197

CENTRO R. Quinze de Novembro, 589

TIJUCA R. Conde de Bonfim, 80 | Loja A

MOEMA Av. Juriti, 563

CACHOEIRA

(75) 3425-8300 / (75) 99239-8765

CAMPO GRANDE (67) 3321-9463

RIO DE JANEIRO (21) 3872-7375

SÃO PAULO (11) 5051-0010

BAHIA

MINAS GERAIS

RIO GRANDE DO SUL

SÃO PAULO

NAZARÉ Av. Joana Angélica, 1039

CENTRO Rua dos Guajajaras, 860

CENTRO R. Coronel Vicente, 561

PRAÇA DA SÉ Praça da Sé, 28 | 5o Andar

SALVADOR

(71) 3322-0543 / (71) 99407-0017

BELO HORIZONTE (31) 3309-0044 / (31) 99127-1392

PORTO ALEGRE (51) 3026-3538

SÃO PAULO

(11) 3106-2659 / (11) 95975-0223

CEARÁ

PARÁ

SÃO PAULO

SÃO PAULO

CENTRO R. Barão do Rio Branco, 1564

MARCO Tv. Barão do Triunfo, 3588

UNASP/EC Rod. SP 332, km 160 | Faz. Lagoa Bonita

VILA MATILDE R. Gil de Oliveira, 153

FORTALEZA

(85) 3252-5779 / (85) 99911-0304 DISTRITO FEDERAL

BRASÍLIA

BELÉM

(91) 3353-6130 PARANÁ

CURITIBA

CENTRO ASA NORTE SCN | Qd. 1 | Bl. A | Lj. 17/23 - Ed. Number One R. Visc. do Rio Branco, 1335 | Loja 1

(61) 3321-2021 / (61) 98235-0008

(41) 3323-9023 / (41) 99706-0009

ENGENHEIRO COELHO

(19) 3858-1398 / (19) 98165-0008

SÃO PAULO

(11) 2289-2021

SÃO PAULO

SÃO PAULO

PARQUE ORTOLÂNDIA R. Pastor Hugo Gegembauer, 656

LOJA DA FÁBRICA Rod. SP 127, km 106

HORTOLÂNDIA (19) 3503-1070

TATUÍ

(15) 3205-8905

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MISSÃO Durante todo o mês de janeiro, 107 jovens participaram do primeiro treinamento oferecido pelo novo Instituto de Missões, inaugurado no fim do ano em Abadiânia (GO)

CAPACITAÇÃO PARA SERVIR

Novo instituto implantado no Centro-Oeste do país irá preparar jovens para projetos de curta e longa duração JENNY VIEIRA

m janeiro, 67 mil adolescentes espalhados pelo Brasil dedicaram as férias escolares para a Missão Calebe. Durante o ano passado, outros 1.224 sul-americanos fizeram parte do projeto Um Ano em Missão no continente. No mesmo período, um grupo de 300 jovens foi mantido pelo Serviço Voluntário Adventista (SVA) da Divisão Sul-Americana em missões de curta e longa duração.

Foto: Erick Alves

E

São inúmeras as oportunidades oferecidas pela igreja para quem quer ser um missionário. Missões de curto e longo prazo, dentro e fora do Brasil, perto e longe de casa mostram que existem opções para todos. Por mais que elas sejam diferentes em vários aspectos, a missão é a mesma em todos os lugares. Foi com o objetivo de cumprir a ordem bíblica (Mt 28:19) que a sede da igreja para a região CentroOeste resolveu criar um Instituto de Missão para treinar e mentorear os missionários, além de conectálos a projetos que se encaixam em seu perfil. “Temos o diferencial de não oferecer somente treinamento para dar estudos bíblicos, mas de oferecer uma visão mais ampla para que o missionário já pense R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

na sua carreira e saiba como dar continuidade à missão, mesmo após o fim do projeto em que se encontra”, explica Liz Mota, líder do Instituto de Missão da UCOB, inaugurado no fim de 2019. Em janeiro deste ano, 107 jovens participaram do primeiro treinamento oferecido pelo instituto. As aulas se concentraram em três temáticas (educação, saúde e evangelismo) e procuraram mostrar como essas abordagens podem ajudar a abrir caminho especialmente em regiões fechadas ao cristianismo. Com uma grade semelhante à de uma pós-graduação na área de missiologia, o curso oferecido pelo Instituto de Missões possibilitou que os alunos tivessem contato com professores de diferentes áreas e formações.

“O conteúdo do curso foi elaborado por alguém que está vivendo a missão lá fora e que sabe exatamente o que é necessário ensinar aos novos missionários”, destaca o pastor Richard Ogalha, líder do Ministério Jovem no Centro-Oeste. Os jovens também aprenderam como se manter financeiramente na missão, como imergir na cultura e evitar choques de cosmovisões, e ainda como capacitar os nativos para continuar o trabalho. Ainda neste ano, o instituto pretende oferecer, junto com o treinamento de missão, aulas de línguas estrangeiras, a fim de facilitar a inserção do missionário na nova cultura. O ensino a distância é outro objetivo que deve ser alcançado nos próximos meses, possibilitando que os alunos participem dos treinamentos na modalidade on-line. Para ingressar no curso presencial oferecido atualmente é preciso passar por uma seleção prévia. Quanto ao perfil dos alunos, Liz Mota esclarece que a prioridade são “pessoas mais maduras e que já tenham alguma experiência ou formação para oferecer para o campo missionário”. Essas e outras informações estão disponíveis na página oficial da iniciativa: institutodemissao.org.br. No território da América do Sul, existem diversos institutos de missão. A maioria dessas iniciativas nasceu no contexto universitário, como foi o caso do primeiro, estabelecido no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), em 2007. Posteriormente, também foram implantados institutos semelhantes na Faculdade Adventista da Bahia, em 2014; no Unasp, campus São Paulo, e no Instituto Adventista Paranaense, ambos em 2017. ] JENNY VIEIRA é jornalista e atua como assessora de comunicação da sede da Igreja Adventista para a região Centro-Oeste do Brasil

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O RESGATE DA ORAÇÃO Adventistas sul-americanos jejuam, oram e agem em favor daqueles que deixaram de congregar MÁRCIO TONETTI

á exatamente uma década, a liderança mundial da Igreja Adventista passou a dar uma ênfase especial nas jornadas de oração. Esse movimento continua tendo reflexos no contexto sul-americano, onde o programa dos “10 Dias de Oração” se tornou uma data fixa no calendário eclesiástico e passou a englobar diversos departamentos. A primeira grande mobilização da igreja no continente em 2020 teve alguns diferenciais em relação aos anos anteriores, a começar pelo enfoque mais prático. Além de orar e estudar um tema a cada dia, com base numa seleção de textos bíblicos e de Ellen White a respeito do

H

Resposta às orações: depois de ficar três anos longe da igreja, casal foi rebatizado durante a caravana do Reencontro realizada durante os dias 7 a 15 de fevereiro na região metropolitana de Manaus

resgate de pessoas para Cristo, os adventistas foram desafiados a estabelecer contato com familiares ou amigos que abandonaram a igreja. Em Jandaia do Sul (PR), a ideia foi surpreender as pessoas pelas quais o grupo de jovens da Igreja do Jardim Planalto estava orando com a entrega de pizzas. Quando abriam a caixa, elas se deparavam com uma fatia a menos e a seguinte mensagem, ressaltando a importância de cada uma para o corpo de Cristo: “O pedaço que falta é você. Romanos 12:5”. Já em Tatuí, no interior de São Paulo, os servidores da CPB intercederam por pedidos de oração enviados por clientes e oraram por ex-funcionários que se afastaram do convívio da fé. “Oração sem missão é distração”, justificou o pastor Erton Köhler, líder sul-americano, durante um programa transmitido para líderes das sedes administrativas e instituições adventistas. De acordo com o pastor Edward Heidinger, secretário executivo da sede sul-americana, a expectativa é que essa relação se fortaleça com a ideia de conectar o programa “10 Dias de Oração” e o projeto Reencontro. Por causa dessa convergência, neste ano as dez horas de jejum foram antecipadas para o início dos dez dias em vez de marcar o fim do ciclo. A mudança teve o intuito de ajudar a preparar espiritualmente a igreja para sair e estabelecer contato com ex-adventistas. O Reencontro é um programa que acontece na igreja local com o propósito de motivar ex-membros a voltar para o convívio da fé. No entanto, antes, cada região administrativa realizava o evento numa data diferente. A partir deste ano, o plano foi encerrar a jornada de oração com o Reencontro. Em Novo Airão (AM), uma caravana, que teve como orador o pastor Neumoel Stina, começou a percorrer a região metropolitana de Manaus já no dia 7 de fevereiro e, ao fim, celebrou o rebatismo de cinco pessoas. A história de Weldes Souza exemplifica o poder das orações e do apoio da igreja na vida de quem se afastou dos caminhos de Deus. Ele nasceu em berço adventista. Porém, na fase da juventude, decidiu abandonar a tradição religiosa da família, perfil da maioria dos que se tornam “desigrejados” hoje. Apesar disso, os familiares e a igreja nunca desisitiram de orar por ele e manter contato com ele. Sensibilizado pelas orações e pela persistência, em 1997 ­Weldes decidiu voltar a congregar. A história se repetiu com o filho, Wedson, em Vitória da Conquista (BA). Depois de orar durante vinte anos, Weldes teve a alegria de ver o jovem entrar novamente no tanque batismal. Somente no ano passado, segundo dados divulgados pela Divisão Sul-Americana no fim de janeiro, quase 160 mil pessoas deixaram de fazer parte da igreja, número que inclui perdas por morte, mas especialmente por apostasia. Portanto, esse é um bom motivo para continuar intercedendo, demonstrando compaixão e se reaproximando daqueles que um dia já se sentaram ao nosso lado nos bancos da igreja. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com informações de Felipe Lemos, Fernanda Beatriz, Gustavo Cidral, Heron Santana e Priscila Baracho Sigolin)

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Foto: Priscila Baracho Sigolin

NACIONAL


GUIA

PRINCÍPIOS ÉTICOS

A CONDUTA CRISTÃ VAI ALÉM DO COMPORTAMENTO; ELA ENVOLVE TRANSFORMAÇÃO DO CARÁTER WELLINGTON BARBOSA

P

arece que o termo “ética” tem estado mais presente em nosso cotidiano. Talvez seja pela ausência de sua prática ou pela expectativa de sua vivência. De origem grega, a palavra ethikós tem que ver com o modo de ser, o caráter e o costume das pessoas. Ou seja, está relacionada com os valores que orientam o comportamento dos indivíduos na sociedade. Por sua vez, os cristãos encontram na Bíblia, a palavra revelada de Deus, não somente instruções práticas para nortear a conduta em todas as esferas da vida, mas também os fundamentos sobre os quais a ética cristã está apoiada. Vamos a eles:

DEUS Deus é amoroso (1Jo 4:8), santo (Lv 11:44, 45), justo (Sl 145:17), misericordioso (Tt 3:5) e verdadeiro (Sl 119:160). Assim, a moralidade e a ética encontram sua expressão absoluta Nele.

Ilustrações: Adobe Stock

HUMANIDADE Ao criar o ser humano à Sua imagem e semelhança (Gn 1:26, 27), Deus imprimiu Seus atributos comunicáveis na natureza humana. Em virtude do pecado (Gn 3), a imagem divina nas criaturas foi deformada de tal maneira que sentimentos e comportamentos destrutivos passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas. TRANSFORMAÇÃO Por intermédio do sacrifício substitutivo de Jesus (Gn 3:15; Jo 3:16), todo aquele que crê se torna uma nova criatura (2Co 5:17), submissa ao senhorio de Cristo (Gl 2:20) e ao trabalho do Espírito Santo (Gl 5:22-26).

Nesse processo de santificação, a imagem divina é gradualmente restaurada, promovendo a transformação positiva da mentalidade (1Co 2:16) e do comportamento humano. MOTIVAÇÃO E ATITUDE A ética cristã está enraizada no caráter divino, cuja essência é o amor. Por isso, Jesus enfatizou a necessidade de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Mt 22:37-39). Afinal, quem ama o próximo cumpre a lei (Rm 13:8-10). E esse amor se expressa, sobretudo, na disposição de servir desinteressadamente (Lc 22:26).

Portanto, para o cristão, ética não se limita a uma lista de comportamentos adequados ou inadequados no contexto familiar, social ou profissional, mas abrange uma discussão sobre a necessidade de a natureza humana ser transformada à semelhança de Cristo. Quando isso ocorre, a soma da motivação certa e a aceitação da verdade bíblica resultará num comportamento correto em qualquer lugar. ] WELLINGTON BARBOSA é pastor e editor da revista Ministério

Fontes: Honorable in Business (Wipf & Stock, 2019), de Annetta Gibson e Daniel Augsburger; e Business Ethics in Biblical Perspective (IVP, 2015), de Michael Cafferky R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

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LOGOS

COMO INTERPRETAR A METÁFORA DAS DUAS OLIVEIRAS EM ROMANOS 11 ANDRÉ VASCONCELOS

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N

o dia 27 de janeiro, Donald Trump propôs, ao lado de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, um plano de paz para o conflito entre Israel e a Palestina. A proposta do presidente norte-americano incluía a adoção de dois estados livres e soberanos: um judeu, com sede em Jerusalém, e outro palestino, com sede em Abu Dis, a pouco mais de um quilômetro da cidade velha de Jerusalém. Como era de se esperar, esse plano causou revolta entre os palestinos e ameaças de retaliação por parte do Hamas, movimento islâmico extremista de tradição sunita. As reações, porém, não foram somente entre os muçulmanos. Muitos evangélicos, chamados de cristãos sionistas, se manifestaram em favor da proposta. John Hagee, presidente da organização Christians United for Israel, emitiu uma nota afirmando que essa foi “a melhor proposta de paz apresentada por um governo americano”. Mike Evans, um dos conselheiros espirituais de Trump, em entrevista ao

Jerusalem Post, também se manifestou dizendo que o acordo proposto foi “divinamente inspirado”. Esse posicionamento evangélico chama nossa atenção para algo: o lugar de Israel na teologia cristã. Ao longo dos séculos, a igreja tem debatido o papel de Israel no plano da redenção e a maneira pela qual os cristãos devem se relacionar com o povo judeu. De um lado estão os adeptos do dispensacionalismo; do outro, os defensores da teoria supersessionista, mais conhecida como teologia da substituição. O primeiro modelo propõe que Deus tem um plano para a igreja e outro para Israel. A vertente clássica do dispensacionalismo, conforme defendida por John Nelson Darby, divide a história da redenção em sete “economias” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Foto: Adobe Stock

Israel e a igreja


supersessionista e dispensacionalista são compatíveis com a Bíblia? O apóstolo Paulo, que também teve que mediar tensões entre judeus e gentios, nos oferece algumas respostas a essas questões em Romanos 11, especialmente na metáfora das duas oliveiras. Vamos analisar esse capítulo e comparar seu conteúdo com as posições teológicas mencionadas.

ou “dispensações”. Segundo esse ponto de vista, a igreja cristã está sob a dispensação da graça, e Israel, sob a dispensação da lei. Logo, os dois povos têm o próprio caminho para chegar ao Céu. Já o segundo modelo ensina que a igreja cristã substituiu o Israel do Antigo Testamento. Para os defensores do supersessionismo, o povo judeu foi rejeitado por Deus quando negou Jesus. Como desdobramento desse posicionamento teológico, acredita-se que as promessas bíblicas referentes ao antigo Israel sejam transferidas para a igreja cristã; que a lei seja substituída pela graça; que o Antigo Testamento seja substituído pelo Novo; e que o sábado seja substituído pelo domingo. A abordagem tipológica é uma variação desse modelo, pois, se o antigo Israel era apenas uma sombra da igreja (interpretação eclesiológica) ou de Cristo (interpretação cristocêntrica), ele também deixaria de desempenhar sua função como povo eleito. Mas o que as Escrituras dizem sobre a relação entre Israel e a igreja? Será que os modelos R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

A SUPOSTA REJEIÇÃO DE ISRAEL Paulo começou sua argumentação em Romanos 11 com uma pergunta retórica: “Terá Deus, porventura, rejeitado o Seu povo?” (v. 1). A resposta do apóstolo é enfática: “De modo nenhum! […] Deus não rejeitou o Seu povo.” É importante mencionar que Paulo tinha em mente o mesmo Israel “rebelde e contradizente” que ele havia mencionado em Romanos 10:21. O verbo apōtheō, traduzido como “rejeitar”, é usado apenas seis vezes no Novo Testamento (At 7:27, 39; 13:46; Rm 11:1, 2; 1Tm 1:19). Desses versos, os únicos que discutem o status pactual de Israel, Romanos 11:1 e 2, afirmam categoricamente que o povo judeu não foi rejeitado por Deus. Isso nos mostra que a suposta rejeição de Israel não é apoiada pelas Escrituras. Como Ellen White observou, “embora houvesse Israel rejeitado Seu Filho, Deus não o rejeitou” (Atos dos Apóstolos, p. 375). Após ter afirmado que Israel não foi rejeitado, Paulo citou a experiência de Elias e os 7 mil homens que não dobraram os joelhos perante Baal para demonstrar que sempre existiu um remanescente “segundo a eleição da graça” (Rm 11:3-5, cf. 1Rs 19:10-18). É importante destacar que, conforme o exemplo mencionado, o remanescente fiel é parte de Israel e não uma nova entidade. O TROPEÇO DE ISRAEL Romanos 11:7 menciona que, além do remanescente fiel do Israel histórico, houve uma parte do povo

judeu que foi endurecida. Essa afirmação dá origem a uma nova pergunta: “Porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum!” (Rm 11:11). Observe que Paulo tinha em mente a parte endurecida de Israel e não a totalidade do povo, uma distinção clara em toda a narrativa (v. 7, 17, 25; ver Rm 2:23). O apóstolo disse que a transgressão dessa parte endurecida levou salvação aos gentios, a fim de causar ciúmes no povo judeu. Com esse argumento, Paulo retomou o texto de Romanos 10:19 (ver também Dt 32:21) e revelou sua esperança de que a salvação dos gentios pudesse sensibilizar os judeus que haviam permanecido incrédulos. Na sequência, o apóstolo utilizou um recurso de exegese rabínica chamado de qal vachomer para complementar o argumento (cf. Tosefta, Sanhedrin 7:11). Esse princípio de interpretação parte de uma premissa menor para outra maior, e vice-versa. Ou seja, se a transgressão de parte de Israel levou salvação aos gentios, seria natural pensar que uma “plenitude” de judeus convertida resultaria em algo ainda mais surpreendente: “Se o fato de eles terem sido rejeitados trouxe reconciliação para o mundo, que será seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?” (Rm 11:15). Paulo mencionou que a parte endurecida de Israel foi “rejeitada”. Mas o que ele quis dizer com isso? Essa declaração não contradiz Romanos 11:1 e 2? A resposta para essa aparente incoerência está no texto grego. Porém, antes de responder a essa questão, duas considerações são necessárias: (1) o substantivo apobolē, traduzido como “rejeitados”, não é a mesma palavra empregada nos versos 1 e 2, o que evidencia que Paulo tinha outra coisa em mente; (2) o termo apobolē ocorre apenas duas vezes no grego bíblico, uma em Romanos 11:15 e outra em Atos 27:22. Na última passagem, é evidente que o 45


significado pretendido não tinha o sentido de “rejeição”. Segundo o léxico de Liddel e Scott, a expressão apobolē pode ser traduzida como “lançar fora” (p. 193; cf. Mc 10:50). Portanto, é provável que a intenção de Paulo em Romanos 11:15 fosse afirmar que uma parte de Israel havia sido “lançada fora”, isto é, excluída do remanescente fiel. Essa possibilidade está em harmonia com a declaração de Romanos 11:17 de que “alguns dos ramos foram quebrados”. A METÁFORA DAS DUAS OLIVEIRAS Depois de ter afirmado que uma parte de Israel havia tropeçado, Paulo advertiu os gentios conversos a temerem a Deus e a não se considerarem superiores aos judeus (Rm 11:20, 21). Como recurso didático, o apóstolo ilustrou esse conceito por meio da analogia das duas oliveiras, na qual comparou Israel a uma oliveira boa, e os gentios, a uma oliveira brava (v. 17, 24). A parte endurecida de Israel, por sua vez, é comparada aos ramos cortados da oliveira boa. Paulo elaborou essa metáfora com base em Jeremias 11:16: “O Senhor te chamou de oliveira verde […]; mas agora, à voz de grande tumulto, acendeu fogo ao redor dela e consumiu os seus ramos.” O profeta Jeremias utilizou a imagem da oliveira que teve os ramos consumidos pelo fogo para retratar a infidelidade de Israel à aliança. Isso revela que, ao usar a metáfora da oliveira boa, Paulo tinha em mente o povo de Israel e não uma nova “árvore”. Ao incluir os gentios na aliança com Israel, que são retratados como os ramos de uma oliveira brava que foram “enxertados” na árvore israelita, Paulo evocou o cumprimento do propósito divino para as nações. O Senhor havia prometido ao patriarca Abraão que todos os povos da Terra seriam abençoados por intermédio da descendência dele. Em Romanos 11:17 a 24, é possível que Paulo 46

tenha desenvolvido seu argumento a partir da promessa de Gênesis 12:3: “em ti serão benditas [venivrekhu] todas as famílias da Terra”. Segundo Jacques Doukhan, Paulo articulou sua ideia com base no uso do verbo “abençoar” (do hebraico barakh) na literatura do Segundo Templo, que também era empregado com a acepção de “enxertar” (The Mistery of Israel [Review and Herald, 2004], p. 30). O tratado talmúdico de Yevamot 63a, por exemplo, declara: “E o rabi Elazar disse: ‘O que está escrito?’ ‘E em ti serão benditas [venivrekhu] todas as famílias da Terra’ (Gn 12:3). O Santo, bendito seja Ele, disse a Abraão: ‘Eu tenho dois ramos [berakhot] bons para enxertar [lehavrikh] em você: Rute, a moabita, e Naamá, a amonita’.” Como nessa citação talmúdica, que é atribuída a um rabino tanaíta do 2º século da era cristã, Paulo enxergava a afluência de gentios para o povo de Israel como o cumprimento da promessa abraâmica (ver Is 2:2, 3; 56:6-8). Dessa forma, o apóstolo reafirmou a judaicidade da oliveira boa. O plano de Deus era que Israel tivesse florescido na igreja por meio de Jesus e que a igreja estivesse enraizada na aliança de Deus com Israel (The Mystery of Israel, p. 82). REFLEXÕES HERMENÊUTICAS A essa altura, podem ser feitas algumas considerações sobre o papel de Israel na teologia cristã. Em primeiro lugar, podemos perceber que a interpretação supersessionista é incompatível com a metáfora das duas oliveiras. O apóstolo argumentou que a aliança de Deus com o povo judeu foi estendida aos gentios, que foram enxertados na oliveira de Israel e passaram a ser considerados descendentes de Abraão (Rm 11:17, ver 9:6-8). Paulo não falou de rejeição dos judeus, mas de graça e inclusão dos gentios (ver Rm 9:25, 26; Ef 2:11-19). O apóstolo descartou a ideia de que Israel tivesse sido rejeitado e

O APÓSTOLO PAULO NÃO ENSINOU O DISPENSACIONALISMO NEM O SUPERSESSIONISMO, MAS UM TIPO DE “INCLUSIVISMO”

ainda fez uma advertência aos gentios e, por extensão, àqueles que defendem o ponto de vista supersessionista: “Não te glories contra os ramos; porém, se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz, a ti” (Rm 11:18). De fato, a única rejeição sugerida pelo texto bíblico é a da teoria supersessionista. Semelhantemente, a interpretação dispensacionalista também não tem sentido à luz da metáfora utilizada por Paulo. O texto deixa claro que o apóstolo não tinha em vista duas alianças diferentes. Há apenas uma árvore, um remanescente e um caminho para o Céu: Jesus Cristo! Para que fossem enxertados novamente, os judeus endurecidos não podiam permanecer na incredulidade (11:23); eles tinham que crer em Jesus da mesma forma que os gentios (Rm 3:21-31). A inclusão dos gentios na árvore judaica ilustra a unidade da aliança de Deus com Israel e a igreja. Por meio da fé em Cristo, os gentios foram incorporados à oliveira boa e se tonaram “descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3:29). Como Hans LaRondelle resumiu, “tanto Israel quanto a igreja são alvos da mesma ‘misericórdia’ do Deus-Criador. Consequentemente, a igreja não se coloca ‘ao lado’ de Israel [dispensacionalismo], tampouco o substitui [supersessionismo]. A igreja apostólica restaurou o Israel da fé, continuou o Israel de Deus pela fé no Messias da profecia e esperou com ansiedade a herança de Israel: a Nova Jerusalém” (Nosso Criador Redentor [Unaspress, 2016], p. 150). Portanto, podemos dizer que a metáfora das duas oliveiras em Romanos 11 não ensina o dispensacionalismo nem o supersessionismo, mas um tipo de “inclusivismo”. Afinal, o evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego” (Rm 1:16, NVI). ] ANDRÉ VASCONCELOS é editor de livros e periódicos na Casa Publicadora Brasileira

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020


MEMÓRIA

Anna Paroschi, aos 92 anos, em São Paulo (SP), vítima de problemas cardiovasculares. Natural de Vera Cruz (PR), viveu a fé adventista por 74 anos e destacou-se por servir ao próximo. Era membro da Igreja de Vila Rio Branco. Deixa dois filhos, cinco netas e cinco bisnetos. Edite Fontes da Silva, aos 83 anos, vítima de mal de Parkinson, doença com a qual conviveu por 34 anos. Natural de Barreirinha (AM), era filha de Honorino Tavares, um dos pioneiros do adventismo na Amazônia. Destacou-se por seu espírito empreendedor, por acreditar na educação adventista e no potencial das pessoas. Ajudou a fundar o Colégio Adventista de Salvador, na Bahia. Viveu com integridade, coragem, compaixão, fé e disposição de servir. Viúva do pastor Gustavo Pires da Silva, deixa quatro filhas e sete netos. Elza Therezinha Garuzzi Barcellos, aos 78 anos. Batizada em 1997, em Conceição da Barra (ES), destacou-se por sua dedicação à igreja e ao próximo. Mesmo enfrentando dores intensas da doença que a matou, sua fé em Deus não desfaleceu. Seu maior sonho era ver todos os filhos entregarem a vida ao Salvador. Viúva, deixa oito filhos, 14 netos e três bisnetos.

Francisca do Nascimento Abreu, aos 80 anos, em Governador Newton Bello (MA), vítima de problemas respiratórios. Batizada havia 37 anos, era assídua aos cultos e apoiava vários ministérios da igreja. Viúva havia 30 anos, deixa dez filhos, 26 netos e sete bisnetos.

Educandário Nordestino Adventista (ENA). Era enfermeira obstetra e contribuiu para que muitas crianças viessem ao mundo, inclusive vários líderes adventistas. Destacou-se por sua fidelidade à igreja e comprometimento com Cristo. Viúva, deixa três filhos, seis netos e dois bisnetos.

Joel Tavares, aos 90 anos. Durante 36 anos trabalhou na Casa Publicadora Brasileira e, nas igrejas que frequentou, serviu como professor da Escola Sabatina em em diversos ministérios. Dedicou mais de 30 anos para a reabilitação de alcoólatras e fumantes, trabalho por meio do qual levou cerca de cem pessoas ao batismo. Era membro da Igreja Central de Hortolândia, no interior paulista. Deixa dois filhos e uma neta.

Maria José Visconte Korkischko, aos 99 anos, em Pariquera-Açu (SP), de morte natural. Batizada em 1958, sua conversão ao adventismo se deu por influência da mensagem de saúde que conheceu por meio de livros comprados de um colportor. Ela foi líder do ministério de assistência social na Igreja de Cidade Dutra, na capital paulista, e na Igreja de Sítio Primavera, em PariqueraAçu, no Vale do Ribeira. Deixa dois filhos, seis netos e cinco bisnetos.

Leonilda Voos Dias, aos 96 anos, em Mafra (SC), vítima de complicações no pulmão. Batizada em 1943, destacou-se por sua dedicação como professora da Escola Sabatina infantil, diaconisa e líder do ministério de assistência social. Deixa quatro filhas e dois filhos, netos e bisnetos. Maria das Neves de Andrade Lira, aos 89 anos, em São Paulo (SP), vítima de mal de Parkinson. Foi aluna e professora do antigo

Nair Rodrigues Evangelista, aos 87 anos, em Penha (SC). Era assídua ouvinte da rádio e telespectadora da TV Novo Tempo. Viúva, deixa filhos, netos, bisnetos e trinetos. Nelson Amador dos Reis, aos 90 anos, vítima de câncer de pâncreas. Natural de Santo Antônio da Patrulha (RS), lutou dois anos contra a doença

e foi sepultado no dia em completaria 91 anos. Trabalhou como professor e pastor distrital em diversas cidades gaúchas e chegou a ser diretor do departamento de Educação e Comunicação da então Associação Sul-RioGrandense. Aposentou-se depois de 38 anos servindo à igreja e foi sepultado ao lado de seu tio-avô, José Amador dos Reis, o primeiro pastor adventista brasileiro, em Rolante (RS). Exemplo de fé inabalável e amor genuíno por toda a sua família, deixa a esposa, Yolanda Morsch dos Reis, com quem foi casado por 64 anos, três filhos e cinco netos. Nelson Assumpção de Souza, aos 82 anos, vítima de leucemia. Graduado em Educação Física e Teologia, serviu como preceptor, professor e diretor interno nos seguintes internatos adventistas: ENA, IACS, IAP e Unasp, campus Engenheiro Coelho. Após sua aposentadoria, foi morar em Campo Grande (MS) e frequentava a Igreja de Monte Castelo. Filho mais velho do casal pastoral Áurea e Alfredo Barbosa, pioneiros do Hospital Adventista do Pênfigo, Nelson deixa um legado de integridade, amor a Deus e ao próximo. Sempre será lembrado pelo seu jeito alegre e amoroso de ser. Deixa a esposa, Neusa, com quem foi casado por 59 anos, três filhos e cinco netos.

“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

(APOCALIPSE 14:13)

47


EM FAMÍLIA

FEMINICÍDIO

SAIBA QUAL É A DEFINIÇÃO DESSE TIPO DE CRIME E COMO ELE AMEAÇA AS BRASILEIRAS TALITA CASTELÃO

A

cada ano se comemora o Dia Internacional da Mulher em 8 de março. Embora essa homenagem tenha por objetivo valorizar a ala feminina da sociedade e reconhecer seus direitos, a data é oportuna para refletir sobre o fato de que diariamente mulheres sofrem e perdem a vida simplesmente por serem mulheres. Você já deve ter ouvido o termo feminicídio (ou femicídio) em algum noticiário, aula na universidade ou conversa informal. Mas a gravidade do que isso significa não pode ser traduzida em palavras sem uma análise mais profunda. O termo foi usado inicialmente pela socióloga sul-africana Diana Russell em 1976, num depoimento no Tribunal Internacional de Crimes contra Mulheres, em Bruxelas, na Bélgica. Mais tarde, juntamente com Jill Radford, Diane escreveu um livro que se tornou referência nesse campo de estudos: Femicide: The Politics of Woman Killing (Twayne Pub, 1992). Existem tipos diferentes de feminicídio: (1) íntimo, cometido por homens que tem ou tiveram convivência próxima com a vítima; (2) não íntimo, quando o agressor tem menos proximidade com a vítima, mas algum nível de confiança, hierarquia ou amizade; e (3) por conexão, que é o caso de mulheres assassinadas pelo fato de tentarem impedir que outra mulher fosse morta por um homem. A característica mais marcante dessa categoria de crime é a intencionalidade. A violência é cometida por causa do gênero da vítima e da assimetria de poder entre homens e mulheres. Normalmente, esse tipo de assassinato não é um ato passional nem isolado, mas fruto de um processo de violências menores, como um simples menosprezo e discriminação até chegar à agressão física e morte. O relatório da ONU intitulado “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um Mundo de Mudanças”, divulgado em junho, mostrou que nos 12 meses anteriores ao levantamento quase 20% das mulheres de 15 a 49 anos haviam sofrido violência física ou sexual de seus companheiros. O Brasil é o 5º país no mundo com maior índice de feminicídio. Em média, a cada duas horas uma mulher é morta por aqui. A Lei do Feminicídio (Lei 13.104 de 2015), que é um marco legal no enfrentamento do problema, definiu melhor esse crime e determinou uma pena de 12 a 30 anos de detenção para aqueles que o cometerem. A punição é necessária, mas não é a solução definitiva. 48

O FEMINICÍDIO NÃO É UM CRIME PASSIONAL NEM ISOLADO, MAS PREMEDITADO E PRECEDIDO POR OUTROS TIPOS DE VIOLÊNCIA

CAMPANHA DE 2020 Neste ano, a campanha Quebrando o Silêncio vai alertar sobre o assassinato de mulheres e como prevenir esse crime hediondo

Um documento elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) declara que, quando praticada por seus companheiros, geralmente a violência contra a mulher tem longa duração. Considerando que, em 71% dos casos ou de tentativas de feminicídio, o principal suspeito é o parceiro, isso torna o lar um dos lugares mais perigosos para as mulheres. Por isso, grandes mentiras como “um tapinha não dói”, “apanha porque merece”, “ruim com ele e pior sem ele” e “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” precisam ser desmentidas todos os dias em nossas casas. A ONU também acredita que essa violência possa ser amenizada com políticas e campanhas de prevenção que invistam na educação precoce de meninos e meninas, no sentido de promover a igualdade de gênero. A triste constatação é que as mulheres ainda continuam pagando um alto preço por essa desigualdade. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020


ESTANTE

CRIME E PERDÃO

PAI DE MISSIONÁRIO MORTO EM PALAU CONTA COMO SUA FAMÍLIA LIDOU COM ESSA PERDA IRREPARÁVEL ADRIANA SERATTO E WENDEL LIMA

T

r a gé d i a s g r e g a s geralmente eram inspiradas na mitologia. Entretanto, a mitologia grega era baseada na tradição oral. Por essa razão, de acordo com a época, região ou gênero poético, os relatos míticos apresentavam diferentes versões. Sendo assim, a infidelidade ao mito era um privilégio do poeta. Ele podia recontar a narrativa de acordo com a própria vontade. Na vida real nós também podemos trabalhar nossas dores, angústias e medos da forma que desejarmos. Deus nos concedeu o privilégio do livre-arbítrio e nos deixou modelos de perdão, aceitação, renúncia e superação. Uma dessas tragédias modernas é a da família Paiva. O livro Tragédia no Paraíso (CPB, 2020, 112 p., R$ 20,60) conta uma história que tinha tudo para ter um final infeliz. A obra começa com o relato de um crime brutal, que tirou a vida de Ruimar (pai), Margareth (mãe) e Larisson (filho mais velho). Um homem alucinado que invadiu a casa deles em certa madrugada de dezembro de 2003 interrompeu os sonhos missionários dessa família de brasileiros que servia à Igreja Adventista num lugar paradisíaco e tranquilo: o arquipélago de Palau, no Sul do Pacífico.

LEITURA INDICADA PARA QUEM DESEJA SUPERAR ANGÚSTIAS, FRUSTRAÇÕES E CULTIVAR A DISPOSIÇÃO DE PERDOAR R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

Quem sobreviveu para contar essa história e reescrever o roteiro da própria trajetória foi Melissa, a filha mais nova, que na época tinha apenas 10 anos de idade. Com o apoio fundamental dos avós, especialmente dos paternos, ela superou a perda, voltou a estudar, casou-se com um pastor e hoje trabalha como enfermeira nos Estados Unidos. Ela também aprendeu a perdoar o assassino de sua família e conseguiu ficar frente a frente com ele 15 anos depois que tudo aconteceu. O crime cometido há mais de 15 anos gerou na época grande comoção na Igreja Adventista e até repercussão na imprensa secular. Melissa e seus familiares já falaram sobre a superação dessa tragédia nas mídias denominacionais, por meio de artigos e entrevistas, mas no livro tudo isso ganha mais contexto e detalhes, na perspectiva do pastor Itamar de Paiva, autor da obra e pai do Ruimar. O livro une acontecimentos da vida real ao propósito divino para o ser humano: perdoar a si mesmo e o próximo. Em apenas dez curtos capítulos, enriquecidos com cerca de 30 fotos, o leitor tem a oportunidade de refletir sobre as próprias emoções e perceber que há cura para os dramas existenciais, mesmo quando isso parece ser impossível. ] ADRIANA SERATTO, graduada em Letras e pós-graduada em Estudos Adventistas, é revisora de livros na CPB; WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista

TRECHOS

“Naquele momento, algo inesperado aconteceu. O chefe tribal da ilha correu até o microfone e, em nome de seu clã, nos dirigiu condolências e expressou sua vergonha. Então convidei o tio e a mãe do criminoso para irem à frente. Enquanto isso, o chefe da tribo explicou que a família do assassino, representada pela mãe e pelo tio, apesar de seus parcos recursos, havia vendido alguns pertences para doar 10 mil dólares americanos, a fim de ajudar nas futuras despesas da Melissa com educação. [...] Em nome de nossa família, agradeci muito aquele gesto de amor e sacrifício” (p. 35). 49


ENFIM

AMOR PROIBIDO

ABSTINÊNCIA SEXUAL ANTES DO CASAMENTO É SINAL DE RESPEITO, COMPROMISSO E ESPIRITUALIDADE FERNANDO DIAS

P

odia ser apenas mais uma política de governo, dessas de que só costumam toma r conhecimento profissionais da área e o público-alvo. No entanto, a campanha “Tudo Tem Seu Tempo: Adolescência Primeiro, Gravidez Depois” gerou polêmica. A iniciativa do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em conjunto com o Ministério da Saúde, pretende incentivar os adolescentes a adiar o início da vida sexual. Os críticos do projeto argumentam que a estratégia não seria eficaz, que a proposta reflete os valores cristãos da ministra Damares Alves e que tal política pública seria uma interferência do Estado na intimidade dos cidadãos. Afinal, não se poderia “proibir o amor”. Essas acusações são um tanto quanto paradoxais. Abstinência sexual, que não é necessariamente a proposta do governo, é também um tipo de prevenção à gravidez precoce e às infecções sexualmente transmissíveis. 50

E a preocupação com as consequências da iniciação precoce da vida sexual é compartilhada não somente por religiosos, mas profissionais de saúde, cientistas sociais e juristas. No entanto, é justo afirmar que advertir adolescentes a não ter atividade sexual seria “proibir o amor”? Essa acusação atinge diretamente o preceito bíblico da castidade, que é mais rigoroso do que a proposta do governo federal. Para responder a essa pergunta, deve-se levar em conta que o ato sexual foi criado por Deus, na minha visão, com três finalidades: (1) representar a ligação entre Cristo e Seu povo (Ef 5:21-30); (2) unir o casal em intimidade (Gn 2:22, 23); e (3) proporcionar o surgimento de uma nova vida dentro de uma família (Sl 127:3). O ponto é que, fora do compromisso do casamento, o sexo é incapaz de cumprir satisfatoriamente esses propósitos. A metáfora do casamento aplicase a Cristo e à igreja por conta do compromisso, da renúncia, da fidelidade, da intimidade e da permanência dessa união. Porém, o relacionamento sexual antes do casamento não possui esses elementos em sua plenitude.

Quando o sexo pré-marital ocorre, o vínculo do casal se torna frágil, mesmo que eles se casem depois. A lógica subconsciente é que a pessoa que fez sexo antes do casamento com quem ainda não era casada é predisposta a praticar sexo após o casamento com outra pessoa com quem também não é casada. Ou seja, sexo préconjugal pode induzir ao sexo extraconjugal. Finalmente, devido ao seu potencial reprodutivo, o ato sexual somente deveria ser praticado com muita responsabilidade. É injusto, por conta do prazer egoísta de duas pessoas, privar uma criança de ter uma família completa, com um pai e uma mãe. Mesmo que haja uma “união estável” entre os pais, o casamento tradicional oferece vínculos mais fortes para atar essa família e fazer desse lar o ambiente mais saudável para o desenvolvimento dos filhos. Portanto, o governo pode conscientizar a população quanto ao assunto e até obter algum êxito em relação a isso. Mas, além da gravidez precoce e da propagação de doenças, o sexo antes do casamento tem prejuízos espirituais. Afinal, trata-se de um pecado, que é agravado por seu envolvimento físico (1Co 6:18-20). E a única solução eficaz para o pecado é o perdão, a regeneração e a pureza que vêm de Cristo. ] FERNANDO DIAS é pastor e editor de livros na CPB

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2020

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A LÓGICA DO SEXO PRÉ-CONJUGAL PODE INDUZIR AO SEXO EXTRACONJUGAL


á uma grande luta entre os exércitos do bem e do mal acontecendo neste momento, e todos nós estamos envolvidos. Como saber de que lado ficar? Escrito especialmente para o público infantil, o livro Guerra no Céu, uma adaptação do clássico O Grande Conflito, de Ellen G. White, revela detalhes imperdíveis desse combate milenar. Ao ler esta obra, você conhecerá as características dos dois exércitos, descobrirá o que o Grande General guarda em Seu cofre secreto e saberá onde fica a verdadeira Casa de Comando. Além disso, aprenderá sobre o grande desfecho da guerra e será convidado a se alistar no exército vencedor.

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ARIANE M. OLIVEIRA é formada em Pedagogia e atua como editora de livros infantojuvenis na Casa Publicadora Brasileira. Ama trabalhar com crianças e desenvolve um ministério infantil voluntário há mais de 20 anos. Casada com o Pr. Vinícius Mendes de Oliveira, é mãe da Ana Clara.

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s seres humanos, independentemente de sua cultura, língua ou nacionalidade, têm a necessidade de modelos. Como a menina que veste as roupas da mãe, todos nós buscamos modelos de vida que nos inspirem e nos mostrem o caminho correto a seguir. E quando o assunto é mordomia cristã, a realidade não é diferente. Ser um mordomo fiel consiste em seguir o exemplo de Cristo, nosso modelo. Em A Entrega Perfeita, o assunto da mordomia é abordado de maneira cristocêntrica. Como mordomo perfeito, Jesus nos mostrou que a verdadeira mordomia não se limita a devolução de dízimos e ofertas. Ao contrário, ela envolve a vida como um todo. Tudo o que temos e o que somos deve estar a serviço do reino de Deus e ser, simbolicamente, oferecido no altar. Escrita por Adenilton T. de Aguiar, esta obra foi elabora para ser útil tanto para a reflexão pessoal quanto para debates em grupo. Cada capítulo foi enriquecido com declarações de Ellen White, perguntas e atividades, o que traz dinamismo e interatividade. Mais do que falar sobre mordomia cristã, este livro trata da pessoa maravilhosa de Cristo e da gloriosa salvação que Ele nos oferece.

Adenilton T. de Aguiar é mestre em Ciências da Religião e doutorando em Novo Testamento. Atualmente trabalha como professor de Grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia (Fadba).

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