E S T U D O A D V E N T O /// I G R E J A A C O L H E D O R A /// I N O V A Ç Ã O M U S I C A L /// C R I S T O E A S D O U T R I N A S
Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50
MAIO 2019
SINTONIA COM DEUS PÚLPITO VAZIO
EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA
COMO RECUPERAR O PODER DA PREGAÇÃO
VOZES NO DESERTO
A SOLUÇÃO PARA A CRISE NO PÚLPITO, QUE TORNA O MUNDO MAIS ÁRIDO E O POVO MAIS SEDENTO, PASSA PELO RESGATE DA PREGAÇÃO BÍBLICA MARCOS DE BENEDICTO
A cada sábado, milhares de pregadores adventistas ao redor do globo sobem ao púlpito para apresentar a mensagem do Céu. Mas o que acontece como resultado de tantos sermões? As pessoas veem a glória de Deus? Notam a santidade do Altíssimo? Percebem o amor e a justiça do Criador? Têm elas um vislumbre do caráter de Cristo? Sentem o toque do Espírito Santo? São esquadrinhadas e impactadas pela Palavra? Crescem em conhecimento? Os pecadores se arrependem? Os corações partidos são remendados? Os aflitos são tranquilizados? Os acomodados são inquietados? A adoração é autêntica? O que acontece quando seu pastor fala ou você prega? Não é preciso ser um observador muito atento para constatar que a pregação experimenta uma crise. Em sua maioria, com honrosas exceções, os púlpitos estão pobres, e a reclamação é geral. A qualidade dos sermões caiu em muitas denominações, inclusive na nossa. E, se a pregação perde qualidade, a igreja perde inspiração, motivação, transformação e capacidade de impactar o mundo. Afinal, a pregação é o momento em que Deus fala ao nosso coração para mudar nossas atitudes e revolucionar nossa vida. A pregação é fundamental na vida do povo de Deus. Por isso, Jesus não veio como ensaísta, filósofo ou mesmo teólogo, mas como pregador (Mc 1:14). Era o Logos, o Verbo divino (Jo 1:1), a síntese da mensagem celestial. Assim, seria um paradoxo se Ele não
O PROBLEMA NÃO É A PREGAÇÃO NO DESERTO, MAS O DESERTO NA PREGAÇÃO
pregasse. Ao contrário dos deuses do Olimpo e das divindades do panteão romano, que mantinham distância dos meros mortais, Jesus Se aproximou da humanidade como o Deus encarnado (Mt 1:23; Jo 1:14). Era a personificação da pregação, a Palavra ao vivo, em todos os momentos e lugares. Pregador carismático e poderoso por excelência, Jesus proclamava as boasnovas em cidades e vilas (Mt 9:35; Lc 4:43); equilibrava paixão e ternura, como no sermão da montanha (Mt 5–7) e na denúncia contra os hipócritas (Mt 23); ilustrava muito bem Suas pregações com parábolas inteligentes e até um toque de humor (Mt 13; Lc 15); apresentava uma mensagem completa, combinando aspectos espirituais e sociais (Mt 25); falava com profundidade e autoridade (Mt 7:29; Lc 4:32); pintava um quadro macro da história e da vida, focalizando os sinais do fim e a necessidade de preparo (Mt 24–25; Mc 13; Lc 21); e pregava com base na Bíblia (Lc 4:16-20). A chegada de Jesus foi anunciada por um profeta que pregava no deserto (Mt 3:1-3), cumprindo a profecia de outro pregador cheio de sensibilidade e fervor (Is 40:3-5). Essa pregação incendiária foi a maneira idealizada por Deus para preparar o caminho para o Rei divino-humano, que também Se preparou no deserto para iniciar Sua poderosa pregação (Lc 4:1). Períodos no deserto podem ser prenúncios de grandes coisas, desde que haja fome, sede e rajadas do Vento divino. De igual modo, temos hoje que preparar o caminho para a volta do Rei, e as dificuldades ainda existem. Estudos geográficos indicam que as áreas desérticas estão aumentando. Figuradamente, o mundo está se tornando um deserto, símbolo de aridez, isolamento e ambiente hostil. Mas é nesse território de condições extremas que a voz dos pregadores precisa ser ouvida. Por isso, a matéria de capa desta edição faz um convite para que os pregadores adventistas, com preparo, inteligência e ousadia, resgatem o poder da exposição bíblica. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Foto: Adobe Stock
EDITORIAL
Mai. 2019
No 1345
Maio 2019
Ano 114
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12
SUMÁRIO
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A loucura da pregação
O ambiente da igreja
Reino dividido
Sugestões para reverter a crise no púlpito
Ajude sua congregação a ser mais acolhedora
A acusação contra Jesus e as lições sobre a unidade dos cristãos
Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott
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Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul)
Novo cântico
O sonho de Joel
A inovação musical faz parte da caminhada do povo de Deus
Deus revelou onde e como construiria uma igreja no Chile
A Palavra viva e a palavra escrita
Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva e Stanley Arco Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da Capa: Montagem sobre Adobe Stock
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 5
Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier
Você não precisa escolher entre Jesus e as doutrinas
Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
2 EDITORIAL
32 DOM DE PROFECIA
40 MEMÓRIA
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
4 CANAL ABERTO
34 BEM-ESTAR
41 LITERATURA
5 BÚSSOLA
35 BOA PERGUNTA
43 EVANGELISMO
36 NOVA GERAÇÃO
47 PÁGINAS DE ESPERANÇA
37 PRIMEIROS PASSOS
48 EM FAMÍLIA
23 PERSPECTIVA
38 LIBERDADE RELIGIOSA
49 ESTANTE
26 VISÃO GLOBAL
39 DESASTRE
50 ENFIM
Vozes no deserto A opinião de quem lê
Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia
Servir e salvar
Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
6 ENTREVISTA
Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra
Vantagem adventista
Chefe de Arte: Marcelo de Souza
8 PAINEL
Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50
Datas, números, fatos, gente, internacional Projeto de amor
Números atrasados: Preço da última edição.
Testemunho eficaz
Presente inestimável
Problemas no coração Deus invisível
Ouvinte silencioso Bola de chiclete
Conquista judicial
Ajuda para Moçambique
Dormiram no Senhor Oito décadas de Vida e Saúde Colheita em solo gaúcho De pai para filho
Maternidade madura
Segundo o coração de Deus Pagar ou não pagar?
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
Tiragem: 147.500
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CANAL ABERTO foram pioneiros na utilização evangelística da mídia no Brasil.
DO CALVÁRIO AO SANTUÁRIO Boa parte da minha compreensão a respeito da doutrina da justificação pela fé devo aos doutores Robert Dean Davis e Robert J. Spangler. Contudo, fico feliz em ver que, por meio da Revista Adventista, a igreja no Brasil e em outros países de fala portuguesa tem sido abençoada com textos riquíssimos, sucintos e relevantes como a matéria de capa de abril. A meu ver, o que carecemos ainda é de experimentar viver pela graça num mundo inundado de tendências heréticas sobre a salvação por meio do empenho humano. Precisamos experimentar os méritos do sangue de Cristo vertido na cruz e Sua ministração no santuário celestial. Samuel Kettle / Sumaré (SP)
A NOVA DISSIDÊNCIA
O editorial e a matéria de capa da edição de março analisam um dos mais sérios problemas eclesiásticos de nosso tempo. A dissidência teve início no Céu, com a queda de Lúcifer, que deixou a presença de Deus para espalhar o descontentamento entre os anjos e escondeu suas reais intenções (O Grande Conflito, p. 495). Este parece ser o padrão dos dissidentes atuais: afastam-se da comunhão com Cristo, espalham boatos, críticas e calúnias com a justificativa de estarem purificando a igreja, mas ocultam suas reais intenções (alguns querem fama, outros vingança, posição e até dinheiro). Que o Senhor nos guarde de levantar a voz, a pena ou o mouse contra “a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15)! Ribamar Diniz / Santana (AP)
A nova dissidência não é nova; é antiga e está registrada na Bíblia. Lidei com essas situações ao longo dos 38 anos do meu ministério pastoral. Fui agredido e julgado perante a congregação. Porém, agindo com sabedoria, saímos vitoriosos da situação. Em função disso, aprendi algumas lições: (1) alguns de seus amigos se tornarão seus inimigos; (2) mantenha seus adversários perto de você; 4
(3) observe como eles agem, a fim de descobrir seus pontos fracos; (4) ore pelos inimigos e não ignore seus problemas; (5) seja gentil e enalteça as virtudes deles. Por fim, penso que os dissidentes estão forçando a igreja a conhecer melhor sua origem e suas doutrinas.
Léo Ranzolin / Estero, Flórida (EUA)
A QUALQUER MOMENTO
Apreciei o artigo do pastor Fernando Dias sobre a vinda de Cristo, na edição de março. Apenas uma observação quando o autor menciona a unção do Messias no contexto de Daniel 9:24-27. A informação está equivocada. Por muito tempo, alguns intérpretes entenderam que a unção do Messias se deu por ocasião do batismo de Cristo. Hoje, porém, estudiosos adventistas interpretam essa unção não em relação ao Messias, e sim ao santuário celestial. A expressão hebraica qodesh qodeshim se refere ao santuário e não a Cristo. Essas palavras hebraicas aparecem no Antigo Testamento mais de 40 vezes e sempre em conexão ao santuário celestial, com exceção talvez de 1 Crônicas 23:13. Portanto, a expressão “ungir o santo dos santos” se refere à dedicação ou inauguração do santuário no momento em que Cristo começou Seu ministério logo após Sua ascensão. Erico Tadeu Xavier / Ivatuba (PR)
Adolfo Tito / São Paulo (SP)
Excelente a matéria sobre dissidência publicada em março. Recordo-me da visita de Robert Brinsmead, com suas ideias sobre perfeccionismo, à Universidade Andrews (EUA) em 1961. Mais tarde, ele abandonou muitas doutrinas adventistas, incluindo a guarda do sábado. Recentemente faleceu o teólogo Desmond Ford, crítico da compreensão adventista a respeito do santuário celestial. Terminamos juntos o mestrado em 1960 e, depois da crise em 1980, eu disse a ele que, apesar de tudo, Deus o amava. Porém, ele disse mais tarde que ia destruir a igreja. Conradi, Kellogg, Canright e Ford são dissidentes agora inexistentes. É nosso dever promover a pacificação e não a discórdia. Deus é poderoso e levará Sua igreja ao destino final. Lamento aqui também o falecimento do grande amigo e evangelista pastor Alcides Campolongo. Ele e meu sogro, pastor Roberto Rabello,
MENOS É MAIS
Simplesmente amei as matérias da edição de março, pela profundidade, equilíbrio, sensibilidade e extremo valor para nosso contexto atual. Por ser um educador financeiro, a matéria “Menos é mais” me falou especialmente ao coração. Encaro minha profissão como um ministério e tenho defendido a adoção de um estilo de vida mais simples e sustentável, rico em experiências, segurança e serviço. Creio ser essa uma boa “vacina” contra o consumismo. Jefferson Pereira / Itaboraí (RJ)
Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
BÚSSOLA
SERVIR E SALVAR
AS ÊNFASES EM ATOS DE AMOR E NA ACEITAÇÃO DA VERDADE NÃO SE EXCLUEM, MAS SE COMPLEMENTAM ERTON KÖHLER
Igreja Adventista do Sétimo Dia nasceu para cumprir a missão de compartilhar esperança e preparar um povo para o encontro com o Senhor. Temos um DNA missionário e o compromisso de pregar o evangelho do reino para ver Cristo voltar em breve. Não temos dúvidas sobre essa missão, mas as opiniões se dividem quando falamos sobre métodos. Para alguns, a ênfase deveria estar em atos de amor, serviço à comunidade e atividades que aliviem o sofrimento das pessoas, quebrem preconceitos e nos tornem conhecidos como um povo solidário. Para outros, o foco precisa estar em evangelismo, estudos bíblicos e métodos missionários diretos, que levem as pessoas a conhecer mais profundamente Jesus e Sua Palavra, preparando-se para o batismo. Parece haver um conflito entre essas duas visões de missão, mas elas não devem ser encaradas como exclusivas (uma ou outra) e sim como complementares (uma e outra). Nossa principal missão é transformar corações, conectar pessoas com o Senhor e prepará-las para o Céu. E só faremos isso de maneira eficaz se encontrarmos o equilíbrio entre servir e salvar.
Foto: Lightstock
A
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
SERVIR PRECISA SER UMA PONTE PARA SALVAR. FOMOS CHAMADOS PARA SER DISTINTOS, MAS NÃO PARA SER DISTANTES Se nos dedicarmos exclusivamente a servir, como um fim em si mesmo, sem oferecer a salvação, seremos apenas uma agência humanitária ou organização solidária. Faremos um trabalho importante e relevante, mas que muitos já fazem, inclusive sem motivação espiritual ou missionária. Por outro lado, se trabalharmos apenas para salvar, por meio de atividades missionárias ou evangelísticas, sem atender às necessidades imediatas das pessoas, expressando amor e interesse, a mensagem perderá força, relevância e atração. Quando suprimos o
que as pessoas desejam, abrimos o caminho para oferecer o que realmente necessitam. Ellen G. White apresenta o método de Cristo como o melhor exemplo de equilíbrio entre servir e salvar, e garante que somente ele dará “verdadeiro êxito no aproximar-se do povo”: “O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’” (A Ciência do Bom Viver, p. 143). Ela integrou perfeitamente a visão de serviço para salvação. As pessoas continuam cheias de lutas e necessidades e, antes de ouvir sobre nossa doutrina, querem conhecer o nosso amor. Antes de ouvir nossas boas-novas, precisam ver nossas boas obras. Se repetirmos o método de Cristo, usando atividades de amor como ferramenta missionária, vamos mostrar uma igreja coerente, cuja mensagem é relevante e usa um método eficaz. Fomos chamados para ser distintos, mas não para ser distantes. Jesus transformava o serviço em oportunidade para salvar. Ele abria os braços para atender às necessidades, mas também levantava a voz para apresentar a mensagem. Necessitamos seguir Seu exemplo e fazer do serviço de amor somente o começo do caminho e não o fim da jornada. Servir precisa ser uma ponte para salvar. Devemos ir às ruas e casas para servir, mas sem nos contentar em receber apenas uma palavra de gratidão. Mais do que uma simples transformação exterior, nossa meta deve ser a conversão interior e a salvação posterior, sempre confiando que “aquele que faz a obra de Deus usando os métodos de Deus vai alcançar os resultados de Deus”. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MICHELSON BORGES
Everton Padilha Gomes
Everton Padilha Gomes é um médico amazonense, de 45 anos, cuja família teve contato com a mensagem adventista por meio do missionário norte-americano Leo Halliwell, que trabalhou na lendária lancha Luzeiro I. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas, ele defendeu no início de abril sua tese de doutorado em Cardiologia na Universidade de São Paulo (USP), tendo como base o Estudo Advento (estudoadvento.adventistas.org). Nesta breve entrevista, Everton, que é médico assistente da Universidade Federal de São Paulo e do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das CARDIOLOGISTA DEFENDE TESE NA USP COM BASE EM ESTUDO Clínicas da USP, explica a importância dessa SOBRE ESTILO DE VIDA ENSINADO PELA IGREJA pesquisa inédita e como liderá-la mudou seu estilo de vida.
VANTAGEM ADVENTISTA
O que é o Estudo Advento? O Estudo Advento (Análise da Dieta e Hábitos de Vida na Prevenção de Eventos Cardiovasculares em Adventistas do Sétimo Dia) é uma pesquisa que foi realizada em São Paulo e no Espírito Santo, com 1,4 mil pessoas, utilizando questionários e técnicas avançadas de detecção de problemas de saúde por meio de exames laboratoriais, como exames de microbiota intestinal, de inflamação e genética. Houve ainda vários exames de imagem, desde medidas corporais em terceira dimensão, exames cardiológicos gerais e específicos, até o escore de cálcio tomográfico. 6
A saúde do adventista está melhor que a da população em geral? Sim. Independentemente de sua classe social, os adventistas ingerem mais frutas, verduras e legumes do que a média nacional. Eles também apresentam menores índices de obesidade, sobrepeso e hipertensão, além de maior nível de atividade física. Entre os adventistas, quem está melhor e por quê? O estudo foi decisivo em mostrar que pessoas que aderiram aos hábitos relacionados ao que a igreja denomina “reforma de
saúde” apresentam melhores indicadores de saúde cardiovascular e geral, menor índice geral de inflamação, de incidência de diabetes e pré-diabetes, vantagens na flora bacteriana e menor grau de aterosclerose (enrijecimento das artérias). Como o estudo impactou sua vida particularmente? Ele me afetou profunda e permanentemente. Embora minha família seja de pioneiros da igreja no Norte do país, a aplicação dos princípios de saúde foi por muito tempo relativizada por mim. Quando passei a viver plenamente essas orientações centenárias, perdi quase 50 kg e ganhei muito em qualidade de vida. É comovente ver que temos um tesouro como igreja, tesouro que gera respeito na comunidade científica de uma das maiores universidades do mundo. Porém, temos tido vergonha de viver isso, talvez por conta de pessoas que, no passado, aplicaram e ensinaram de forma equivocada nossa mensagem de saúde. O ponto é que a sociedade precisa dessas orientações, testemunhadas com o amor e o equilíbrio próprios do evangelho de Cristo. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Foto: Arquivo pessoal
Por que esse estudo pode ser considerado pioneiro? Por vários motivos. Foi realizado em uma população adventista urbana, formada por diferentes classes sociais e num país em desenvolvimento. Foi também o primeiro estudo no mundo com adventistas a verificar o impacto das diferenças de estilo de vida dos pesquisados no nível de microbiota intestinal e na progressão de placa de cálcio nas artérias coronárias. E foi pioneiro em comparar uma pesquisa com um grupo adventista brasileiro a grandes estudos populacionais recentes do Ministério da Saúde, como o Vigitel e o ELSA.
adventistas.org
adventistasbrasil
adventistasoďŹ cial
adventistasbrasiloďŹ cial
iasd
PAINEL F AT O S
NOVA PÓS-GRADUAÇÃO ESTUDO BÍBLICO ILUSTRADO
Com o objetivo de incentivar as novas gerações a estudar as profecias do Apocalipse, a igreja no sul do Brasil produziu dois guias de estudo que trazem ilustrações no estilo de cartum e histórias em quadrinho, além de desafios práticos. O material foi elaborado, roteirizado e desenhado por líderes de Desbravadores e está sendo usado nos clubes por cerca de 100 mil adolescentes sul-americanos. A partir de fevereiro de 2020, a igreja oferecerá um curso com ênfase no dom profético de Ellen G. White e na história do adventismo. O objetivo é investir em professores e diretores de centros de pesquisa ao redor do mundo. Com duração de três anos, a pósgraduação será oferecida em quatro instituições de ensino superior: a Universidade Adventista da África (Quênia), o Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (Filipinas), a Universidade Peruana Unión e o Colégio Superior Polonês de Teologia e Humanidades.
Mais de três quartos dos que deixam de frequentar a igreja estão abertos para se reconectarem, se a abordagem for feita da maneira certa. Muitos estão esperando
NOVO CONVÊNIO
por nós para alcançá-los e amá-los com o amor do pastor e do pai em Lucas 15.
Assinado no dia 11 de abril, o termo de colaboração entre a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) de Salvador (BA) e a ADRA irá possibilitar a ampliação do atendimento prestado pela agência humanitária adventista às pessoas em situação de rua. Com a parceria, a ADRA vai manter mais um abrigo (o terceiro) na capital baiana.
3,6% 8
foi o percentual de crescimento registrado pela igreja nas entradas de dízimos em nível mundial no ano passado.
67.951
organizações religiosas foram registradas no Brasil entre janeiro de 2010 a fevereiro de 2017. Em média, nasce uma a cada hora, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Globo. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Fotos: Ellen G. White Estate / ADRA / Dinei Avelar
David Trimm, diretor do departamento de Arquivos, Estatística e Pesquisa da sede mundial adventista, no Nurture and Retention Summit, congresso realizado na sede mundial da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA), em abril
A conversa foi amigável, informativa e reconheceu tanto o nosso patrimônio comum como nossas diferenças teológicas.
Nikolaus Satelmajer, organizador do encontro entre líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia e do Movimento Adventista da Reforma, em Silver Spring, Maryland (EUA), no início de dezembro
APOIO ÀS FAMÍLIAS DE AUTISTAS A Organização Mundial da Saúde estima que 70 milhões de pessoas tenham autismo, sendo 2 milhões somente no Brasil. A experiência de ter um filho com o transtorno motivou Gissele Aguilar a oferecer ajuda e orientação a outras famílias. No Centro de Apoio para Familiares de Pessoas Autistas, ela e outros voluntários da Igreja Adventista do Jardim Lindoia, em Porto Alegre (RS), atendem crianças e pais, além de promover campanhas de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
D ATA S 25 DE MAIO
28%
dos brasileiros consideram a fé religiosa mais importante do que a educação para mudar de vida, segundo pesquisa do Datafolha e da ONG Oxfan Brasil, que ouviu 2.086 pessoas.
Pelo 12o ano consecutivo, os adventistas sairão às ruas para distribuir o livro missionário. Intitulada Esperança Para a Família, a versão em português da obra, escrita pelo casal Willie e Elaine Oliver, teve uma tiragem de mais de 15 milhões de exemplares.
29 DE MAIO
6.388.903
foi o número de Bíblias distribuídas nos formatos impresso e digital pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em 2018.
Foto: Douglas Pessoa / Adobe Stock
É MELHOR EVITAR Novo estudo publicado na revista Nutrients sugere que a ingestão de carnes vermelhas e processadas, mesmo em pequenas quantidades, pode aumentar o risco de morte por todas as causas, especialmente doenças cardiovasculares. O estudo foi conduzido por nove pesquisadores da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Será realizado no Espaço Nova Semente, na capital paulista, o Simpósio Internacional de Medicina do Estilo de Vida, realizado pela Associação de Médicos Adventistas (AMA) em parceria com o Instituto Assaly. O evento, voltado para profissionais da saúde, estudantes e demais interessados em promover a vida saudável, receberá palestrantes do Brasil, Estados Unidos e México. Para se inscrever, acesse: link.cpb. com.br/ec0ed8.
10 E 11 DE JUNHO
O 15o Fórum de Ciências Bíblicas abordará o diálogo entre a Bíblia impressa e a digital, bem como os desafios para o engajamento bíblico na atualidade. Entre os palestrantes do evento, que será realizado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em Barueri (SP), estão Bobby Gruenewald, fundador do mais acessado aplicativo da Bíblia do mundo, o YouVersion, e Jason Malec, da Sociedade Bíblica Americana. 9
GENTE
PRIMEIRO COLOCADO
Por dois anos consecutivos, Clinton Rabadon conquistou o primeiro lugar no Exame de Licenciamento de Médicos das Filipinas. Ele foi o quinto adventista a obter essa classificação nos últimos 13 anos.
BODAS DE OURO (50 ANOS)
Do pastor Dalmir Rodrigues dos Reis e Julieta Magalhães dos Reis, em cerimônia realizada em março na Igreja Central de Salvador (BA) pelo pastor Dalney Mekson Magalhães dos Reis, filho do casal. Eles têm três filhos e seis netos.
REPRESENTANTE DO BRASIL No fim de agosto, Luan Louys Lopes Martins, de 14 anos, irá representar oficialmente o Brasil na Conferência Mundial de Jovens, que será no Nepal. O aluno do Colégio Adventista de São Francisco do Sul (SC) foi o único brasileiro selecionado para a vaga em um concurso que reuniu mais de 250 interessados.
Do pastor Abgmar e Berenice Dourado, no dia 18 de fevereiro, em cerimônia realizada na Igreja Central de Caruaru (PE) pelo pastor Tiago Alves. O casal tem dois filhos e quatro netos.
O L H A R D I G I TA L
LANÇAMENTO DO NT PLAY Você agora pode receber gratuitamente dicas práticas e informações pelo celular que irão melhorar seu estilo de vida. O novo serviço oferecido pela igreja está disponível no seguinte endereço: querovidaesaude.com/whatsapp. 10
A nova plataforma de vídeos e áudios da Rede Novo Tempo foi lançada oficialmente no dia 30 de abril. No site (e posteriormente no aplicativo) as pessoas poderão encontrar os conteúdos veiculados pela emissora de TV e rádio em um só lugar, além de conteúdos produzidos exclusivamente para o digital. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Fotos: Arquivo pessoal / Misael Santos
SAÚDE PELO WHATSAPP
INTERNACIONAL
AJUDA AOS VENEZUELANOS 5.630 km é a distância
de Moscou, na Rússia, até o novo centro de vida saudável inaugurado em Ulan-Ude, na Sibéria, em 3 de fevereiro. Além de uma loja de alimentos naturais, o espaço oferece serviços como massagem terapêutica, seções de aconselhamento familiar e orientações sobre estilo de vida. Como principal destino de quem foge da crise na Venezuela, a Colômbia recebe cerca de dez vezes mais venezuelanos que o Brasil. Por isso, desde setembro do ano passado a ADRA colombiana já direcionou cerca de 2,5 milhões de doláres para atender as famílias refugiadas. Todos os meses, cerca de 600 pessoas têm recebido assistência médica gratuita, medicamentos, kits básicos de higiene, utensílios de cozinha, lençóis e colchões.
600 famílias de funcionários do Aeroporto
Fotos: ADRA Colombia / Divisão Euro-Asiática
Internacional de Orlando, na Flórida (EUA), foram beneficiadas pela ação de um ministério de apoio da igreja que doou alimentos para trabalhadores que foram afetados por uma paralisação do governo dos Estados Unidos que durou 35 dias.
Estamos estabelecendo objetivos claros para ajudar a estruturar a agenda federal.
1.257.913 adventistas tinha a Divisão Norte-Americana em 31 de dezembro de 2018.
5.796
é o número de adventistas na Polônia. Apesar de ser um grupo tão pequeno em um país com 38,8 milhões de habitantes, a igreja é reconhecida pelo impacto positivo que exerce na sociedade. Recentemente, líderes adventistas foram convidados ao palácio presidencial para se encontrarem com o presidente polonês, Andrzej Duda.
Richard Hart, reitor da Universidade de Loma Linda (EUA) e membro do conselho administrativo da Associação Adventista de Políticas de Saúde, conjunto de cinco organizações de assistência médica, que abriu um novo escritório em Washington, DC.
Colaboradores: Briana Pastorino, Douglas Pessoa, Gustavo Cidral, Heron Santana, Libna Stevens, Ligia Pacheco, Luciana Garbelini, Márcio Tonetti, Marcos Paseggi, Paulo Ribeiro, Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, Southern Asia-Pacific Division e Wendel Lima
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
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CAPA
FUNDAMENTAL PARA A VIDA DA IGREJA, A PREGAÇÃO ENFRENTA UMA DE SUAS MAIORES CRISES, INCLUINDO A INTERPRETAÇÃO DA PRÓPRIA MENSAGEM. SAIBA O QUE FAZER PARA REVERTER O QUADRO MARCOS DE BENEDICTO
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Foto: Montagem sobre Adobe Stock
A LOUCURA DA PREGAÇÃO
A
pregação sempre foi, é e será o ponto alto do culto, a intersecção entre o Céu e a Terra, o momento em que Deus toca mentes e transforma corações. O ministério ganha e transmite vida (ou morte) a partir do púlpito. No entanto, para quem transita por igrejas diversas, já está se tornando lugar-comum a reclamação de que existe uma crise na qualidade da pregação. Onde estão os grandes oradores da atualidade? Por que os nomes associados com a pregação poderosa estão no passado? Qual seria a solução para o suposto declínio do púlpito cristão e adventista? Sem dúvida, a pregação é um fator essencial na conversão dos pecadores, no sucesso da igreja e na espiritualidade dos membros. As pessoas buscam sermões de qualidade. Entre os cristãos norte-americanos que raramente frequentam a igreja, 18% dizem que não vão porque não gostam do sermão, segundo pesquisa divulgada em agosto de 2018 pelo Pew Research Center. Em outro levantamento feito em 2016, o mesmo instituto constatou que um bom sermão influencia a decisão de quem está procurando uma igreja. Para 83% dos entrevistados, esse é o fator mais importante para a escolha, pesando mais do que o calor humano dos líderes (79%), o estilo do culto (74%) e a localização do templo (70%). Além disso, no fim do tempo, a pregação tem que crescer tanto em quantidade quanto em qualidade e poder. Os anjos do Apocalipse (14:6-11; 18) que falam com voz poderosa são uma indicação nesse sentido. Nos séculos 18 e 19, quando ocorreu um grande reavivamento na América do Norte e surgiu o adventismo, houve uma explosão no número de pregadores. Segundo dados de Dawn Coleman, num capítulo que focaliza o sermão americano no período antes da guerra, incluído no livro A New History of the Sermon: The Nineteenth Century (Brill, 2010, p. 521), o total de pessoas oficialmente filiadas a igrejas nos Estados Unidos saltou de 17% da população em 1776 para 37% em 1860. Em grande parte, esse crescimento foi catalisado pela pregação, que incendiou a nova república. Coleman completa: “O número de pregadores aumentou de 1.800 em 1775 para 40 mil em 1845 – o que representou não somente um impressionante crescimento bruto, mas também a triplicação no número de pregadores per capita, indo de um pregador para cada 1.500 pessoas a um para cada 500.” O sermão era uma força unificadora e transformadora. Além da quantidade, o mundo foi agitado por grandes pregadores dos dois lados do Atlântico, como Charles H. Spurgeon (1834-1892), Dwight L. Moody (1837-1899) e Charles Finney (1792-1875). Isso sem falar na geração anterior, como John Wesley (1703-1791), Jonathan Edwards (1703-1758) e George Whitefield (1714-1770). O resultado foi fenomenal. CAUSAS DO DECLÍNIO Se a pregação realmente passa por uma crise, quais são as principais causas? Sem ser exaustivo nem apontar o dedo para ninguém, vou enumerar alguns fatores. Primeiro, nota-se uma superficialidade no conhecimento bíblico. Todavia, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
ninguém consegue pregar com excelência se não tiver base teológica sólida e familiaridade com a Bíblia. Para pregar bem, não basta inspiração momentânea. Alguns temem que a letra mate o espírito, mas o espírito também pode matar a letra. Sem o conteúdo, o pregador se torna um mensageiro sem mensagem. E não ter nada para dizer no púlpito, mais do que escândalo, é uma traição ao legado do evangelho. Outro aspecto é a mudança no contexto cultural. Vivemos em uma época de ceticismo, entretenimento, consumismo, distração, superficialidade e cinismo. O império do imediato exige tudo para agora. A fragmentação é real em muitas esferas. Essas transformações acabam afetando muitos pregadores, que, buscando agradar o público, nutrem o desejo por popularidade fácil, transformam a plataforma num tablado e pregam a si mesmos. O púlpito se torna um grande cenário para selfies em que Cristo jamais aparece. Em terceiro lugar, existe a pressão do pluralismo e do relativismo. O nível de incerteza aumenta a cada dia. Nesse contexto, o pregador pode ser tentado a não confiar totalmente na relevância da Bíblia. Passa também a relativizar os aspectos distintivos da teologia e dilui a mensagem. Com isso, ele não prega com convicção. Porém, em uma sociedade instável, a Palavra de Deus deve ser o fator de estabilidade. Para quem crê, Deus é a grande âncora existencial. Há também a perda de autoridade, potencializada pela facilidade no “preparo” dos sermões. Muitas pregações são entediantes, irrelevantes e dispensáveis. A oferta de materiais na internet tornou-se uma bênção e uma maldição. O pregador que apenas recorta sermões e os apresenta como se fossem seus tem um problema ético. Mas há outra implicação: o corta-e-cola mina a sua autoridade, pois é o processo de preparo que ajuda a solidificar o conhecimento e a espiritualidade do pregador. Por fim, vem a incoerência entre o discurso e a vida. Na sociedade, falta integridade, sobra hipocrisia. Pregador e audiência podem ser contaminados por esses vícios. O estilo de vida de muitos pregadores nem sempre transmite confiança. Quando o público percebe o orador como aproveitador, demagogo, egoísta, manipulador, oportunista ou simulador, temos um problema sério. Pior ainda é quando ele leva uma vida incompatível com a ética do evangelho, pois o descompasso entre pregação e vida é um desastre para a autoestima do pregador e o poder da pregação. 13
MUDANÇA DE PARADIGMA Naturalmente, o próprio ato de preparar a mensagem e o estilo da pregação acabam influenciando o resultado. Em termos de técnica para elaborar e apresentar sermões, os estudiosos veem dois paradigmas principais, especialmente no cenário norte-americano, que tem uma forte tradição de grandes oradores: (1) o método dedutivo, começando com um livro clássico de John Broadus, On the Preparation and Delivery of Sermons (1870), e (2) o método indutivo, introduzido por Fred B. Craddock, com As One Without Authority (1971, 1979) e Overhearing the Gospel (1978). Se o método dedutivo é mais lógico, formal e direto, o método indutivo é mais aberto, intimista e indireto. Enfatizando a “pregação narrativa”, a “nova homilética” de Craddock desbancou a “velha homilética” de Broadus e mudou os púlpitos na América, o que acabou refletindo em outras partes do mundo. Para Craddock, o ouvinte não deve ser um recipiente passivo, apenas absorvendo o conteúdo estruturado por uma figura autoritativa. Por isso, é importante o pregador recriar para o ouvinte o contexto e a experiência da mensagem, adaptando o estilo da pregação ao gênero do texto bíblico. Nessa perspectiva, a pregação envolve o ato de conduzir o ouvinte em uma viagem de descoberta. PREGAR A MENSAGEM Na verdade, ambos os paradigmas podem ser eficazes. Afinal, forma e CERTA, NO TOM CERTO, conteúdo caminham lado a lado. O COM O EFEITO CERTO, estilo grandiloquente de pregar talvez esteja morto, mas a pregação granÉ BÊNÇÃO CERTA diosa não precisa estar. Há muitas maneiras legítimas de apresentar a mensagem: exposição, narrativa, história/biografia, analogia, recriação do mundo contemporâneo dentro da moldura do universo bíblico... A exposição, por exemplo, é um estudo criativo sobre uma seção ou tópico da Bíblia seguindo a moldura e a ênfase do texto. A narrativa leva o ouvinte a se identificar com os personagens e a desejar recriar sua própria história. O importante é apresentar a verdade bíblica com a visão bíblica, nos termos bíblicos, recriando os eventos bíblicos, a fim de iluminar o contexto atual e levar a uma transformação real. O objetivo é transportar a audiência do texto para o contexto, do evento para o advento, da inércia para a ação. O bom conteúdo, é claro, não pode faltar. Pregar é fazer teologia ao vivo. Independentemente do paradigma adotado, como enriquecer a pregação? Aqui estão dez sugestões: 1. Direcione os holofotes para Deus. Pregação é uma arte e, como toda boa arte, o foco dela não deve estar na técnica nem no artista. Por isso, o aparato de recursos usados para construir o sermão deve permanecer oculto, assim como o conhecimento do pregador não deve ser o destaque. O foco é a teologia, não a habilidade; a mensagem, não o mensageiro; Cristo, não o ser humano. A pregação é eficaz porque procede de Deus, não porque o orador tem carisma. 2. Fundamente a pregação na Bíblia. Este foi o conselho do apóstolo Paulo a Timóteo: pregue a Palavra (2Tm 4:2). Deus fala, e o pregador retransmite as palavras divinas, vivendo de tudo o que procede da boca do Senhor (Dt 8:3). As Escrituras têm poder para salvação, o que não ocorre com notícias de jornal e historinhas adocicadas. Sermão não é comédia, entretenimento nem sessão de terapia. A Bíblia é o livro do Deus vivo e contém palavras de vida. Ela tem o poder de regenerar e transformar. Para pregar com propriedade, é preciso ter uma visão da 14
teologia de todo o livro em que se encontra a passagem do sermão. Não basta ler a Palavra superficialmente; é necessário conhecê-la profundamente. Pregar a mensagem certa, no tom certo, com o efeito certo, é bênção certa. Na Bíblia, a preocupação não é primariamente com a retórica, mas com a verdade. 3. Adote a pregação cristocêntrica. Há muitas passagens indicando que Jesus era o foco da proclamação dos apóstolos e de outros líderes, até porque desejavam convencer o mundo de que Ele era o Messias (At 5:42; 8:35; 11:20; 17:18; Rm 16:25; 1 Co 1:23; 2:2; 2Co 1:19; 4:5; Gl 1:16; Fp 1:15). No Novo Testamento, o nome “Cristo” é mencionado cerca de 530 vezes e “Jesus” aproximadamente 917 vezes. Dos 260 capítulos dessa parte da Bíblia, Cristo aparece em 251 (96,5%). Jesus é também o centro do Antigo Testamento, a Bíblia usada pelo Salvador e os discípulos (Lc 24:13-27, 44-48; Jo 5:39). Portanto, é essencial tornar Jesus o elemento central da pregação, sem forçar o texto bíblico e sem esquecer a relação de Cristo com as outras pessoas da Divindade. Inserir um conceito artificialmente no texto seria uma fraude exegética. 4. Descubra e aperfeiçoe seu estilo. Há vários tipos de pregadores: o criativo, que tem um senso estético e valoriza a beleza e a originalidade; o pragmático, que prefere falar de coisas práticas e de seu funcionamento; o intelectual, que tem talento literário e gosta de burilar o sermão; o comunicador, que tem uma habilidade natural para transmitir conceitos; o evangelista, que se especializa em apelos e busca converter os ouvintes; o exortador, que tenta convencer o público a fazer mudanças; o motivador, que usa estratégias emocionais para propagar sonhos e levar à ação; o homilético, que prefere mensagens devocionais; o professor, que adota o estilo instrucional do ensino; o visionário, que apresenta grandes ideias para ampliar os horizontes. Um pregador quer que você aja, outro deseja que pense, outro quer que entenda, outro ainda deseja que sinta, e assim por diante. Não importa qual seja seu estilo, procure desenvolvê-lo. O mais importante é que você pratique, sinta-se confortável e se torne eficaz. 5. Considere o perfil do público. Todo bom orador leva em conta a maneira pela qual a audiência vive, pensa e se comporta. Isso é o que se chama pregar com inteligência cultural, estabelecendo pontes. Por exemplo, a pregação dos negros norte-americanos faz muito sucesso na tradição protestante e mesmo entre os adventistas. É algo diferente, um tipo de pregação que valoriza a dimensão social do evangelho e em R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
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que o conteúdo define o estilo e a retórica. “A pregação negra norte-americana é uma realidade identificável”, escreveu Calvin B. Rock no artigo “Black SDA Preaching” na revista Ministry de setembro de 2000. “Sua energia e imagens a tornam uma proclamação singular do evangelho. É uma forma de arte nascida da fé, enraizada no amor, orientada pela esperança, moldada na provação, nutrida pela fé, mentoreada no sofrimento e autenticada pelo tempo.” Apesar de suas qualidades, alguns públicos podem achá-la exuberante demais. Evite os “ruídos” e busque se conectar com a audiência. 6. Use todas as avenidas para impactar o ouvinte. O evangelho é apreendido pelo intelecto e aceito no coração. A grande pregação envolve o aspecto cognitivo e o afetivo, cabeça e coração. Na medida do possível, ela precisa ser multissensorial. Por isso, o pregador tem que pensar nessas dimensões. Excesso de emoção ou emoção na hora imprópria pode ser prejudicial, mas a emoção em si não é ruim. Apenas monstros e mortos não têm emoção. É preciso equilibrar fatos e experiência, ter o que dizer e saber como dizer, para obter o maior efeito. Como escreveu Ellen White, “o alvo da pregação não é apenas apresentar informação nem meramente convencer o intelecto”, mas “alcançar o coração dos ouvintes” (Review and Herald, 22 de dezembro de 1904). Floyd Bresee, meu ex-professor de homilética, ilustrou esse aspecto da seguinte maneira: “Como você pode conhecer melhor o Oceano Pacífico: estudando um mapa ou sentindo a areia da praia sob seus pés e o respingar do mar na sua face? Para realmente conhecer o oceano, você precisa de fatos e sentimentos. Como você pode conhecer melhor a Cristo: estudando a teologia que Ele ensinou ou experimentando a sensação de como Ele amou e tratou as pessoas? Para realmente conhecer a Cristo, você precisa de ambos” (Ministry, março de 1984, p. 8). A retórica fazia parte da arquitetura do pensamento no mundo antigo, que empregava técnicas criativas para tornar os discursos e os escritos mais vivos, bonitos e convincentes. Três elementos integravam o arsenal de recursos retóricos: a confiabilidade do orador (ethos), o apelo à razão (logos) e o toque nas emoções (pathos). Ainda hoje, esses elementos têm sentido. O objetivo não era apenas criar efeito estético, mas persuasivo. Como parte da retórica persuasiva, empregue ilustrações (do latim lux, “luz”) para iluminar na medida certa a mensagem, facilitar a compreensão, chamar a atenção e cativar o público. Se luz demais ofusca, luz de menos não clareia. As ilustrações e as metáforas servem para maximizar o efeito da verdade no interior. A boa pregação é uma epifania, uma revelação, o descortinar dos movimentos divinos. Para ser profunda, ela não precisa ser árida; pode combinar ensino e imaginação, conteúdo sólido e criatividade. 7. Planeje suas pregações para relembrar o que precisa ser lembrado. A melhor maneira de programar as mensagens é idealizar séries para sábados, domingos e quartas. No sábado, pregue temas bíblicos mais expositivos; no domingo, apresente mensagens evangelísticas; na quarta, coloque assuntos devocionais e práticos. Isso permitirá que você saia do “mesmismo”, dê sequência aos assuntos e sistematize a apresentação do conteúdo. Leve em conta o calendário, a necessidade da igreja e o momento. Ao planejar o cardápio espiritual da sua congregação, é possível equilibrar várias temáticas e contemplar assuntos que costumam ser pouco explorados. As séries permitem resgatar mais facilmente os grandes temas bíblicos. Pregação não é apenas explicar, aplicar e motivar, mas relembrar. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
COMO ESTRUTURAR O SERMÃO
O sermão não é apenas um instantâneo efêmero dos gestos e ênfases de um pregador; é um retrato de atitudes, ideias, pensamentos e sentimentos sobre Deus, a Bíblia, o corpo, a sociedade, o casamento, a vida, a morte, o Céu, a Terra, o presente, o futuro... Como parte de um sistema de comunicação, é o reflexo de um tempo. Assim, quando os intelectuais do futuro olharem para os sermões de hoje, o que encontrarão? Para ser eficaz, a pregação deve ser bem preparada. Nesse sentido, Derek Morris sugere 12 passos no livro O Poder da Pregação Bíblica (CPB, 2016, p. 17-25): 1 Escolha uma passagem para pregar. Considere o impacto pessoal ao ler um texto bíblico, sua preocupação como líder espiritual, a necessidade social e a ocasião. 2 Estude a passagem escolhida e faça anotações. Leve em conta o contexto e pense nas palavras-chave. 3 Descubra a ideia exegética da passagem. Identifique a grande ideia do texto. 4 Formule a ideia central da pregação. Elabore uma frase simples e marcante que você deseja que seus ouvintes se lembrem e pratiquem na vida diária. 5 Estabeleça seu objetivo. Saiba por que você está pregando tal mensagem. 6 Escolha a forma do sermão. Expositivo, narrativo, tópico? 7 Reúna os materiais de apoio. Isso inclui fatos, citações, ilustrações. 8 Desenvolva a introdução. Ela deverá atrair a atenção dos ouvintes, se relacionar a uma necessidade deles e introduzir a parte principal do sermão. 9 Elabore a conclusão. Ela visa fazer um resumo da mensagem, a aplicação e o apelo. 10 Escreva o sermão. Use um estilo oral. 11 Internalize o sermão. Repasse-o como se estivesse caminhando por ele como um guia turístico, pensando na maneira de proferir a mensagem e até pronunciar as palavras. 12 Ouça a Deus, você mesmo e o público enquanto prega. Procure se libertar do texto e prestar atenção a essas “vozes”.
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Para a “e-geração”, que desconhece e esquece o básico, isso é essencial. Lembrar é um mandamento bíblico frequente. Não por acaso, a palavra zakar (“lembrar”) é usada mais de 200 vezes no Antigo Testamento e mimnesko (“lembrar”) é empregada 74 vezes no Novo Testamento. “Se não tivermos memória ficaremos à deriva, porque a memória é o ancoradouro ao qual estamos atrelados. A memória do passado interpreta o presente e mapeia o futuro”, sugere Jeffrey D. Arthurs em Preaching as Reminding (IVP Academic, 2017, p. 1). Ao relembrar, participamos da realidade bíblica e a atualizamos, fortalecendo nossa união com Deus. 8. Insira o ouvinte no contexto bíblico. “Cada perícope das Escrituras projeta um segmento do mundo canônico na frente do texto”, comenta Abraham Kuruvilla, especialista em pregação, num artigo publicado na revista Bibliotheca Sacra em 2016 (v. 173, p. 387-400). “Assim, cada sermão sobre uma perícope particular é o convite gracioso de Deus à humanidade para que viva em seu mundo ideal satisfazendo os requisitos do mundo ideal de Deus.” Por meio desse recurso, projeta-se um mundo além dos limites do texto, e o ouvinte tem uma visão da vida. Perícope é um trecho da Bíblia ou de um livro que forma uma unidade coerente e que pode ser destacado para análise ou estudo. O alvo da “pregação pericopal”, diz Kuruvilla, é que o ouvinte O PÚLPITO NÃO DEVE habite nesse universo da Palavra de Deus e seja moldado por seus valores. SE TORNAR UM GRANDE 9. Experimente o poder da pregaCENÁRIO PARA SELFIES ção profética. Para Hyveth Williams, professora de homilética na UniverEM QUE CRISTO sidade Andrews (EUA), a grande pregação busca a excelência na apreJAMAIS APARECE sentação de mensagens bíblicas e proféticas, dando uma visão alternativa da realidade. “O pregador deve confiantemente abrir o texto inspirado, interpretar e expor as Escrituras com tal autenticidade, paixão, autoridade e sensibilidade que a Palavra de Deus ganhe vida e o povo seja persuadido a obedecer a Deus”, ensina Hyveth. Isso significa que a pregação do século 21 deve ser “profética, enraizada na justiça e na misericórdia para mover a igreja adiante, bem como pastoral, fundamentada na caridade e na boa vontade para com todos” (Nothing But the Best [Xlibris, 2018, p. xxii). A pregação profética critica e energiza, denuncia e acaricia, mostra o caos e oferece esperança. Nessa linha, resista à tentação de pregar política. Substitua a política pela escatologia. A escatologia bíblica e adventista é pregação “política” no mais alto sentido. Isso não significa escapismo. É a perspectiva do grande conflito e da justiça social, mas sem os efeitos colaterais de se abordar um tema polêmico e com grande potencial para causar malestar. Indo ao âmago do conflito cósmico, a mensagem de Cristo, Paulo e João transcende o nível político. Trata-se de resistência pacífica ao império do mal, usando as armas de Deus. 10. Internalize as verdades que você prega e comunique graça. Mergulhe na graça e pregue com graça sobre o Deus da graça. O pregador deve ter uma atitude de confronto com o erro, mas de abertura para com o pecador. O público de Jesus se maravilhou pelas “palavras de graça que Lhe saíam dos lábios” (Lc 4:22). A admiração não tinha que ver com o poder de oratória, mas com a fonte e a essência da mensagem. Ele era “cheio de graça” (Jo 1:14). “O tema predileto de Cristo era o amor paterno e a abundante graça de Deus”, afirma Ellen G. White (Parábolas de Jesus, p. 40). 16
Portanto, alimente sua própria espiritualidade na graça divina. Tenha uma vida intensa de oração e viva de maneira coerente. Não existe pregação poderosa sem vida de oração poderosa. O conhecimento e a espiritualidade resultam em autoridade, que é mais importante do que a eloquência. Afinal, o sermão não deixa de ser um testemunho sobre a caminhada que o pregador tem feito com Deus. SUCESSO NO FRACASSO Para os pregadores que tentam fazer tudo certo e, contudo, não percebem resultados espetaculares, há um consolo. Na parábola do semeador (Mt 13:1-9, 18-23), a semente cai em lugares hostis e o trabalho parece inútil. Há fatores que impedem a frutificação. O principal deles é a ação do diabo. Mas o problema não está na semente. Ela é boa. Afinal, Jesus é a Semente. Além disso, apesar dos obstáculos, uma parte produz muito: a produção pode ser 30, 60 ou até 100 por 1 (Mt 13:23). Plantar 1 e colher 100 é espetacular. O total representa 10.000%. Portanto, o “fracasso” pode não ser fracasso, mas êxito invisível. Hyveth Williams conta, em Nothing But the Best (p. xii), que seu mergulho no excitante e desafiador “oceano da homilética” começou no verão de 1981, quando foi convidada para falar em uma série evangelística de uma pequena igreja. Havia cerca de 60 pessoas no auditório, incluindo alguns interessados. “Em retrospecto, da perspectiva de uma acadêmica e professora de homilética, meu sermão foi o pior que eu já tinha ouvido ou pregado”, ela relembra. “Mas 26 pessoas responderam ao meu apelo para que entregassem a vida ao Senhor, e várias pediram estudos a fim de se prepararem para o batismo.” Hyveth ainda guarda aquele sermão escrito à mão em ambos os lados de 17 páginas de papel amarelo como lembrança de que “a pregação não tem que ver somente com talento e habilidades, mas com a maneira pela qual Deus usa instrumentos inadequados para uma obra sobrenatural”. Se você fizer o melhor em sua pregação, o restante é com Deus. Fracasso ou sucesso é um detalhe que ultrapassa nossa esfera de poder. Até porque toda semente tem um potencial invisível de vida implantado por Deus e somente a eternidade revelará os resultados de um sermão. A exposição do evangelho pode parecer “loucura para os que perecem”, mas para nós “é o poder de Deus” (1Co 1:18). Afinal, a pregação da Palavra revelada é a própria Palavra de Deus. ] MARCOS DE BENEDICTO, pastor e jornalista, é doutor em Ministério pela Universidade Andrews (EUA)
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Dicas de outono
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IGREJA
“E
u os tenho chamado amigos”, disse Jesus a Seus discípulos (Jo 15:15). Esse é um grande elogio. E o mesmo pode ser dito de nós quando nos unimos ao corpo de Cristo, a igreja. Não somos mais servos, somos amigos. O ministério de Jesus exemplificou o que significa ser Seu amigo. Ele disse a Zaqueu: “Quero ficar em sua casa” (Lc 19:5). Ele pediu à mulher no poço de Jacó: “Dê-me um pouco de água” (Jo 4:7). Ele prometeu ao ladrão na cruz: “Você estará comigo no paraíso” (Lc 23:43). Tendo em vista que somos amigos de Jesus, é nossa responsabilidade convidar outros para participar dessa amizade. Os amigos se importam uns com os outros, cuidam uns dos outros e acreditam no melhor que há no outro. Nenhuma instituição humana oferece o companheirismo encontrado na igreja. Ao vivermos para Cristo, nossa amizade com Ele será refletida na qualidade dos nossos relacionamentos com os outros. Os próximos três artigos irão nos lembrar do grande privilégio e responsabilidade que é ser igreja.
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Pássaros da neve Assim como as aves que migram do norte para o sul em busca de calor, as pessoas buscam uma congregação acolhedora A. Allan Martin
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assei a maior parte da minha infância na Flórida, estado norte-americano conhecido por ser ensolarado. Quando criança, ficava impressionado que, no auge do inverno, em janeiro, os visitantes andavam de bermuda e chinelo e até curtiam a praia, enquanto os moradores da Flórida estavam encapuzados e incomodados com os 10 °C. Alguns chamavam esses visitantes de “pássaros da neve”, pois, assim como algumas aves, eles “migravam” do frio intenso do norte para o sol e calor do sul do país. A ideia de fugir do frio me faz pensar na espiritualidade das igrejas de hoje. As pesquisas têm documentado que a frieza dos relacionamentos é um dos principais fatores para a apostasia tanto de jovens como de pessoas de outras idades. Parece que todo mundo que tem sangue correndo nas veias prefere fugir do frio em direção ao calor. No livro Growing Young (Baker, 2016), Kara Powell, Brad Griffin e Jake Mulder pesquisaram mais de 250 congregações que estavam atraindo jovens. Depois de terem entrevistado mais de 1,3 mil pessoas entre 15 e 29 anos, constataram que as novas gerações querem autenticidade e vínculo. Os autores ainda analisaram os termos utilizados pelos jovens adultos R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
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O ambiente da igreja
para descrever as comunidades para as quais foram atraídos. Palavras como acolhimento, aceitação, pertencimento, autenticidade, hospitalidade e carinho foram recorrentes. Numa entrevista que realizei com o professor Roger Dudley, meu amigo e mentor na Universidade Andrews (EUA), para a revista Ministry de janeiro de 2009, ele afirmou que havia vários fatores para a conservação dos jovens na igreja. Porém, entedia que o principal aspecto é o clima da congregação local. Na opinião dele, antes de pensar no adventismo como uma denominação global, os jovens experimentam a fé numa comunidade. Concordo com ele. Quando penso no que fez que eu permanecesse apaixonado pela Igreja Adventista, não me ocorre primeiramente uma doutrina, prática cultural ou prédio, e sim alguém que personificou aconhego, que foi Jesus para mim. Ao lembrar de minha adolescência e juventude, posso enumerar várias pessoas que confiaram em mim. Gente que tornou difícil imaginar outro lugar para estar que não fosse a Igreja Adventista. Como adulto, tenho vivido invernos intensos, como todo mundo, e por isso me identifico com os “pássaros da neve”. Procuro migrar para espaços espirituais em que as pessoas são gentis e a temperatura dos relacionamentos é convidativa. Da próxima vez que um “pássaro da neve” voar para sua congregação, que ele encontre na sua comunidade e em você o calor que procura. ] A. ALLAN MARTIN, PhD, é pastor de jovens da Igreja de Arlington, no Texas (EUA)
AQUECENDO SUA CONGREGAÇÃO Abaixo seguem algumas dicas para tornar sua igreja mais calorosa e acolhedora: 1. Apresente-se. Aproxime-se de algum desconhecido e seja intencional. Evite a frase: “Oi, você é novo aqui?” Prefira: “Oi, acho que não conheço você. Meu nome é fulano.” Isso permitirá que você conheça novas pessoas na igreja, no trabalho ou na escola, sem o constrangimento de ouvir como resposta que o desconhecido já frequentava aquele local, mas não havia sido notado. 2. Partilhe refeições. Costumávamos convidar os visitantes para o almoço depois dos cultos do sábado, mas essa prática tem sido perdida com o tempo. O fato é que as refeições ainda são uma ótima forma de conhecer as pessoas. 3. Sirva lado a lado. O serviço comunitário, as causas humanitárias e a justiça social oferecem a todas as gerações a oportunidade de trabalhar juntas. Essas oportunidades também ajudam a iniciar e fortalecer amizades. Para ler sobre mais dicas e orientações, acesse growingyoungadventists.com.
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Plante, cultive e conserve A nobre arte de cativar e incentivar membros novos e antigos Marcos Torres
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s igrejas adventistas locais têm uma bela mensagem centrada na Bíblia para apresentar. E, para fazer isso, costumam realizar ações na sua comunidade e séries de colheita a fim de incentivar decisões. Depois que os bastismos são celebrados, relatórios são enviados para a Associação local, o que gera alegria e comemoração. Porém, essa não é a história completa. Em algumas partes do mundo, a taxa de apostasia nos primeiros anos pós-batismo passa dos 50%. A pergunta óbvia, em face das estatísticas alarmantes, é: O que podemos fazer para inverter essa tendência? Creio que o primeiro passo é orar, senão nossas ações serão ineficazes. Contudo, existem algumas atitudes que podem ser adotadas. 1. Seja proativo, não reativo. É difícil conter o êxodo de novos membros quando ele está ocorrendo, mas é possível aprender com as perdas para tentar evitar outras. Por isso, sente-se com a liderança da sua igreja e defina uma estratégia de conservação. Sugiro três métodos simples: (1) desenvolva amizade com o novo membro, de modo que ele desenvolva um núcleo de pelo menos três amigos da igreja; (2) ofereça um “próximo passo” para os recém-batizados, 19
Qual é seu propósito? Unir-se à igreja é apenas o começo Jeffrey O. Brown
algum estudo e acompanhamento posterior ao batismo, de modo que eles não sejam esquecidos; (3) o pastor e os anciãos precisam se responsabilizar pelo cuidado específico de novos membros. 2. Ouça e compreenda. Encontre-se com aqueles que parecem estar se afastando e não faça nada além de ouvi-los. Não pregue um sermão, não repreenda nem ameace com frases tipo “estamos vivendo no tempo do fim” ou “você vai se perder se continuar assim”. Se tiver que falar, faça isso para esclarecer algo, perguntar e incentivar. 3. Supra as necessidades deles. As pessoas abandonam a igreja por várias razões. Na maioria das vezes é por uma crise com a qual não conseguem lidar, porque se sentem envergonhadas ou devastadas. Às vezes, saem porque foram feridas ou não se sentiram envolvidas. E há aqueles que abandonam a igreja por questões doutrinárias. Seja como for, não defenda a igreja nem seus ensinos, mas procure curar essas pessoas. 4. Mantenha a conexão. Pode parecer que essas atitudes sejam muito passivas, diante do risco da perda da vida eterna. Porém, não se pode reverter anos de negligência espiritual sendo rude com as pessoas. Se falhamos como igreja no discipulado, não deveríamos nos espantar com o alto índice de apostasia. É verdade que, em alguns casos, será necessário mais firmeza, quando o nível de proximidade permite isso. No entanto, se tudo falhar, mantenha a amizade. Ainda que essa pessoa nunca mais volte para igreja, ela precisa saber que ali existem pessoas que se importam com ela. 5. Transforme o ambiente. É preciso encontrar o melhor ambiente para cada planta, a fim de que ela cresça. Por isso, se levarmos a sério o cuidado dos recém-conversos, criaremos um ambiente favorável ao desenvolvimento da fé. ] MARCOS TORRES é pastor das Igrejas de Victoria Park e Joondalup, no oeste da Austrália
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Foto: Jack Hollingsworth
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manchete do site da BBC, no inicio de fevereiro, chamou minha atenção. Afinal, ela dizia que um comerciante indiano de Mumbai, de 27 anos, estava processando os pais por terem trazido ele ao mundo, sem seu consentimento. Ele argumentava que a vida é sem sentido e que muitas crianças vêm ao mundo para sofrer. O nascimento sem relacionamento é trágico, assim como o batismo sem discipulado. Para que isso não ocorra com você, permitame compartilhar algumas ideias de como desenvolver a própria fé após o batismo e como ajudar outros a fazer o mesmo. 1. Vida devocional. Procure passar uma hora com Jesus, todos os dias. Invista meia hora pela manhã, cinco minutos aqui e acolá ao longo do dia e o restante antes de dormir. Leia e ouça a Bíblia, os escritos de Ellen White ou a Lição da Escola do Sabatina. Mantenha um diário e um parceiro de oração. 2. Implemente um ministério. Participe de um ministério em funcionamento ou crie um novo. A Missão Metrô em Sandton, Joanesburgo, na África do Sul, tem a proposta de exercitar o discipulado ao longo dos sete dias e não somente no sétimo. Seus grupos de ação incluem atendimento aos homens e jovens, empoderamento das mulhres, estudo da Bíblia, oração, futebol e prática de hábitos saudáveis. Esses grupos pró-vida
7. Seja um mentor. Construa um legado ao levar alguém a segui-lo, incendiando essa pessoa para o discipulado. Percebi isso quando me aproximei do meu jovem tradutor numa visita que fiz à Tanzânia. Tenho turoriado ele a distância. 8. Oportunidades diárias. Ore por aqueles que você quer alcançar e por oportunidades de realizar diariamente atos de bondade. Certa vez, encontraram um garotinho chorando porque tinha perdido o bilhete enviado por sua mãe para sua professora, explicando por que aquele menino não tinha certidão de nascimento. O garoto gritava: “Perdi minha justificativa para ter nascido.” Quando vivemos na prática o que significa ser discípulo, encontramos nosso propósito. Qual é o seu? ] JEFFREY O. BROWN é secretário associado da Associação Ministerial da sede mundial adventista e editor associado da revista Ministry
CAMINHOS PARA O DISCIPULADO
Foto: Rosie Fraser
Tara VinCross é pastora da Igreja de
proporcionam um lugar seguro para que os membros se conectem com a comunidade. 3. Mídia digital. Rachel Aitken, fundadora do ministério Discipulado Digital, na Austrália, acredita que é possível servir também por meio da web, oferecendo fóruns de apoio para pais e filhos, orientação sobre saúde, pedidos de oração e transmissão de aulas de culinária. O importante é estar atento às necessidades das pessoas. 4. Evangelismo na comunidade. Todo segundo sábado do mês, nossa igreja tem um culto mais curto e sai para a rua a fim de visitar asilos, doentes e servir refeições para desabrigados. 5. Integração à comunidade. Quando você foi batizado, não só se uniu a Cristo, mas também à família Dele. Nem sempre é fácil se aproximar de pessoas desconhecidas, mas é preciso intencionalidade. Por isso, que tal organizar um encontro em que as famílias possam falar sobre seus desafios e receber orientação? 6. Missões de curta duração. Participe de projetos missionários no seu país ou no exterior. Na universidade, participei num programa desses para estudantes por um ano em Gana, na África. Não existe nada igual! R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
Azure Hills, no sul da Califórnia (EUA). Ela tem um doutorado em Ministério com ênfase em espiritualidade bíblica e discipulado pela Universidade Andrews. “Gosto de inspirar as pessoas a viver sua vocação e a usar seus dons para trazer outros para a vida mais abundante da qual Jesus falou”, diz Tara. Nesta breve entrevista, ela discute como orientar membros de todas as idades no caminho do discipulado. Quais princípios são essenciais no processo do discipulado? Procuro cultivar três elementos: saber, ser e fazer. Em resumo, as pessoas deveriam conhecer a Deus para praticar sua fé e servir ao propósito divino. Para tanto, é preciso contemplar os vários estilos de aprendizagem das pessoas.
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Tem o formato de uma aula muito interativa, com encontros semanais ao longo de três meses, com um grupo fechado e limitado de 12 a 16 pessoas. No início e fim desse ciclo, realizamos um retiro de um dia inteiro. Não temos enfrentado muita resistência, pois os participantes acabam desenvolvendo um forte relacionamento. Dividimos o grupo em unidades menores de quatro pessoas, as quais passam mais tempo entre si, oram juntas e prestam contas mutuamente. Esses grupos funcionam bem também quando envolvemos os membros antigos, pois muitos são como o irmão mais velho da parábola do filho pródigo (Lc 15): nunca saíram da casa do Pai, mas não conhecem o amor Dele. Como se aplica isso numa igreja com 2,3 mil membros como a sua? A Escola Sabatina é uma das melhores ferramentas para o discipulado. Tendo em vista que as pessoas já estão reunidas em pequenos grupos, nosso objetivo é aproveitar esse tempo para que sejam discipuladas, conhecidas e se conheçam. Que conselho daria para aqueles que querem avançar no discipulado? Primeiramente digo para os líderes que tudo na vida conspira contra o que é realmente importante. Mas vale a pena ser e fazer discípulos. E a segunda questão é que fomos concebidos para crescer em nossos relacionamentos, e isso ocorre de maneira mais significativa quando o fazemos em grupos de oração, estudo e aplicação da Palavra.
A EXPANSÃO INVISÍVEL DO REINO BILL KNOTT
Passei minha vida ouvindo sermões e pregando, mas até agora nunca ouvi uma mensagem, nem entre os meus sermões, sobre a parábola de Jesus a respeito da semente que cresce secretamente (Mc 4:26-30). Creio que essa história tem sido subestimada pelos adventistas. Nenhum de nós ousaria dizer que ela não é importante; porém, ela não se encaixa tão bem em vários contextos como as parábolas do Filho Pródigo, da Ovelha Perdida ou do Trigo e o Joio. Talvez nossa negligência ou desconforto em relação a essa história esteja no fato de que Cristo destacou alguns limites surpreendentes do papel dos discípulos no crescimento do reino. Estamos acostumados a discursos e ilustrações que enfatizam nossa responsabilidade. Por mais de 150 anos, verbos no imperativo têm impulsionado nossa denominação a um notável desenvolvimento ao redor do mundo. Aliás, para isso tomamos como base a comissão dada pelo próprio Jesus (Mt 28:18-20). No entanto, para que não aceitemos crédito indevido pelo reino do qual Ele é tanto o Governante quanto o verdadeiro Construtor, Jesus contou essa parábola sobre esperar, maravilhar-se e observar o que Deus faz quando realizamos fielmente a menor parte. Podemos semear a semente na terra, mas não podemos fazê-la germinar. Podemos cultivar o solo e dar a água necessária à jovem planta, mas somos impotentes para fazê-la brotar, frutificar e amadurecer. A questão é que no reino de Deus há um mistério centralizado na obra invisível que o Espírito Santo realiza em milhões de corações e mentes. Assim como o apóstolo Paulo e Ellen White assinalaram, somos “colaboradores de Deus”. Devemos reconhecer que é a graça divina que produz convicção, conversão, transformação e maturação. Quando movidos por essa graça, somos impelidos a amar os perdidos, lançando sementes e orando por eles. E, quando o milagre da nova vida em Cristo brota em alguém a quem influenciamos, damos a Deus toda a glória. ] BILL KNOTT é editor da revista Adventist World
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Foto: Arquivo pessoal
Como é o processo que você utiliza?
PERSPECTIVA
PROJETO DE AMOR
NEM TODO MUNDO ENXERGA MOTIVOS PARA CELEBRAR O DIA DAS MÃES, MAS É INEGÁVEL QUE ESSA DATA NOS FAZ PENSAR NO MILAGRE DA VIDA CHANTAL J. KLINGBEIL
Foto: Sidney Pearce
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m muitos luga res do mu ndo, a s mães são homenageadas neste mês. Naturalmente, incentivar a celebração dessa data é um grande negócio para o comércio. As mamães são lembradas nas escolas, igrejas e até por políticos e artistas. Porém, o Dia das Mães também pode ser uma data difícil para quem não conseguiu, por exemplo, realizar o grande sonho de ser mãe. Para algumas dessas mulheres, esse é o momento em que vem à memória um natimorto ou a fila da adoção. Outras mães podem se perguntar também o que fizeram de errado para não receberem flores nem presentes de gratidão, sendo que, nessa ocasião, são retratadas apenas famílias felizes se confraternizando. Por sua vez, muitos homens que trabalham duro podem se perguntar por que o Dia das Mães tem bem mais destaque do que o Dia dos Pais. O fato é que não importa quem somos, se temos filhos ou não, o Dia das Mães toca nossas emoções porque nos convida a pensar em nossas origens e a nos questionar se somos amados e aceitos. Ainda que essas reflexões não despertem as melhores emoções em você, vale a pena pensar que, no fundo, toda vida é gerada pelo amor. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
APESAR DE TUDO QUE PODE TER CONSPIRADO CONTRA, NÓS NASCEMOS SINGULARES COMO NOSSA IMPRESSÃO DIGITAL E DESTINADOS A UM RELACIONAMENTO ESPECIAL COM AQUELE QUE SABE ATÉ QUANTOS FIOS DE CABELOS TEMOS É verdade que alguns foram planejados e esperados, enquanto outros foram fruto de um acidente, de um ato irresponsável ou até mesmo de violência. Porém, alguém nos carregou dentro de si durante nove meses. Foi no corpo de uma mulher que fomos “tecidos” conforme o plano do Senhor (Sl 139:13). Dessa maneira, Deus, que é a fonte da vida e do amor (1Jo 4:8), criou mais um ser para ser amado individualmente por Ele (Is 44:2). O melhor de tudo isso é que não precisamos escolher nem trabalhar para que viéssemos à
existência. Apenas escutamos os batimentos do coração de nossa mãe e então, quando inspiramos pela primeira vez, simplesmente nos abrimos à vida. Em algum lugar, de alguma forma, cada um de nós viu o amor modelado nesse dom da vida. Apesar de tudo que pode ter conspirado contra, nós nascemos singulares como nossa impressão digital e destinados a um relacionamento especial com Aquele que sabe até quantos fios de cabelos temos (Mt 10:30). Quando uma mulher leva uma nova vida dentro de si, participa da história de amor de Deus. As mães compartilham seu corpo, suprimento de sangue, hormônios, alimento e o ar que respiram com o novo projeto de amor de Deus. E esse amor não é expresso apenas com flores, cartões com palavras amáveis e presentes bonitos, mas com dores de parto, noites sem dormir, nariz congestionado, lágrimas e fraldas sujas. Não importa se somos mães ou apenas seus filhos adultos, o Dia das Mães deve ser um grande lembrete de que somos amados. ] CHANTAL J. KLINGBEIL é diretora associada do Patrimônio Literário de Ellen G. White, em Silver Spring, Maryland (EUA)
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NISTO CREMOS
Reino dividido
JESUS FOI ABSURDAMENTE ACUSADO DE COOPERAR COM O DIABO. A DEFESA DELE TEM ALGO A NOS ENSINAR SOBRE A UNIDADE DA IGREJA DANIEL WILDEMANN
INTEGRIDADE QUESTIONADA Após Jesus curar “um endemoninhado que era cego e mudo”, a multidão que O observava
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Foto: Stevanovicigor
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esus estava sendo acusado de trabalhar em parceria com o diabo. Aquele que, após Seu batismo, resistiu ao tentador no deserto e o repeliu com um decisivo “Retira-te, Satanás!” (Mt 4:10). Aquele que havia vindo “para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8) estava sendo incriminado como colaborador do “príncipe dos demônios”. Aquele que havia expulsado espíritos impuros (Mc 1:25) era agora acusado de estar endemoninhado.
chegou a conclusões diferentes (Mt 12:22-30). Um grupo O chamou de o Messias prometido e o outro de espiritualista (v. 24). Essa tentativa de difamar Jesus foi um ataque frontal à Sua integridade. Era como se Seus acusadores dissessem: “Você é realmente quem diz ser? Você não tem um objetivo oculto, ou pior, um segredo obscuro? Você não está agindo secretamente em nome de Satanás?” Associar Jesus com Belzebu foi um duplo insulto. Segundo Manfred Lurker, “Belzebu” (do hebraico Ba’al Zebûb) pode ser traduzido por “senhor das moscas ou da lixeira”, isso é, aquele que reúne seus seguidores como moscas em torno de si. No Antigo Testamento, ele aparece como o deus filisteu de Ecrom (The Routledge Dictionary of Gods and Goddesses, Devils and Demons, 1987, p. 31). Jesus viu naquele momento uma oportunidade de compartilhar uma importante verdade sobre o reino de Deus: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto” (Mt 12:25-28). Ele afirmou algo surpreendente: tanto o Espírito de Deus quanto Satanás estão comprometidos com a própria missão, embora elas sejam diametralmente opostas. Enquanto o diabo procura dividir e derrotar, Deus trabalha para libertar e unir. E os seres humanos? Bem, eles podem escolher o lado em que se unirão. O FERMENTO DOS FARISEUS A Bíblia descreve uma lógica que procura dividir as pessoas em boas e más, certas e erradas. Para que isso ocorra, é preciso que alguém se coloque do lado “certo”. Esse é um jogo apreciado pela natureza humana e, embora tenha variado ao longo do tempo, o espírito permanece o mesmo. No alemão chamamos uma pessoa com essa atitude de rechthaber, ou seja, alguém que pensa e afirma estar sempre com a razão, o sabe-tudo. Os fariseus acrescentaram uma dimensão espiritual a essa postura, classificando de demônios aqueles que não estavam do lado deles. Bem que Jesus advertiu os discípulos a respeito do “fermento dos fariseus” (Mc 8:15), porque esse “levedo” tóxico costuma resultar em hipocrisia. A razão? Simplesmente porque é uma mentalidade que pratica o que condena e, ao mesmo tempo, finge que não o faz. A palavra fariseu, do hebraico perushim, vem de poresh, que significa “separar-se”. O fariseu é, em essência, alguém que se distancia e se separa dos outros em nome da religião. No entanto, por mais verdadeira que seja qualquer análise da mente farisaica, o resultado R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
espiritual mais importante é este: no íntimo, todos temos um fariseu dentro de nós cuidando dos seus próprios interesses.
É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA: SER UM PACIFICADOR EM NOME DO PRÍNCIPE DA PAZ OU PERMITIR QUE O FARISEU QUE HABITA EM MIM CAUSE AINDA MAIS SEPARAÇÃO
O MILAGRE DE SER UM A mentalidade perushim exclui em nome da religião, enquanto a de Jesus inclui em nome de Deus. O bom Pastor reúne Suas ovelhas de todos os lugares, com um objetivo em mente: juntar novamente o que nunca devia ter sido separado (Jo 10:16). Cristo trabalhou e orou pela unidade de Seu povo (Jo 17:20-24). O oposto também é verdade: aquele que com Ele não ajunta espalha (Mt 12:30). Agora, precisamos admitir que essa “unidade completa” pela qual Jesus orava é um milagre espiritual que não pode ser alcançado por meio de nenhum “atalho” humano. A unidade é o resultado de um processo transformador, viabilizado pelo “elo perfeito” mencionado por Paulo (Cl 3:14). É uma atitude que busca união e compreensão. O espírito de unidade inclui os seguintes elementos: (1) nós mesmos (cura interior); (2) nosso semelhante (cura dos relacionamentos); e (3) nosso inimigo (superar toda tentação que conspire contra a unidade). Evidentemente, a base de tudo é o perdão (Cl 3:13). Ele é um milagre tão grande quanto a criação do mundo pela palavra, a transformação de alguém e a ressurreição de mortos. O profeta Ezequiel vislumbrou um vale cheio de ossos espalhados. Quando Deus lhe perguntou se poderia haver vida novamente naquele cemitério a céu aberto, o profeta não se atreveu a opinar (Ez 37:3). Provavelmente nós faríamos o mesmo. Podem os “ossos secos” da doutrina e das diretrizes da igreja ganhar vida? As doutrinas e os ensinamentos eclesiásticos têm seu lugar, mas só podem cobrir os ossos com tendões, carne e pele. O fôlego de vida vem somente de Deus (v. 8 e 5). Nós ainda acreditamos que a unidade possa ser restaurada? É uma questão de escolha: ser um pacificador em nome do Príncipe da Paz ou permitir que o fariseu que habita em mim cause ainda mais separação. Faço minhas as palavras de Ezequiel: nossos ossos se secaram e nossa esperança se desvaneceu. Venha, Senhor, e sopre dentro desses mortos para que vivam (Ez 37:9 e 11). ] DANIEL WILDEMANN é editor de livros na Advent-Verlag Lüneburg, editora da Igreja Adventista no norte da Alemanha
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VISÃO GLOBAL
PARA CRESCER DE MODO SAUDÁVEL, A IGREJA NÃO PODE ESQUECER SUA ORIGEM, IDENTIDADE E PROPÓSITO TED WILSON
m 2011, os adventistas foram colocados em evidência quando um importante jornal norteamericano, o USA Today, identificou a Igreja Adventista do Sétimo Dia como “a denominação cristã de crescimento mais rápido na América do Norte”. A reportagem publicada em 17 de março destacou que esses resultados evangelísticos, em parte, se explicariam por causa de nossas crenças peculiares.
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IDENTIDADE A busca por identidade é um fenômeno que está além do universo religioso. Por exemplo, a indústria de pesquisas on-line a respeito de genealogias explodiu, tornando-se um negócio multibilionário, pois milhões de pessoas pagam para saber mais sobre sua origem e o que a história de seus antepassados pode revelar. Mesmo em culturas mais tradicionais, que não têm acesso à tecnologia digital, o conhecimento acerca da própria ancestralidade é importante para definir a identidade de alguém. Para os adventistas, reafirmar a identidade também é importante porque a convição sobre quem somos, de onde viemos e por que existimos é determinante para definir nossa missão. Markus Kutzschbach, diretor executivo R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
Foto: Remivalle
Testemunho eficaz
O autor da matéria escreveu: “Realizando seus cultos de adoração aos sábados e adotando o estilo de vida vegetariano, o adventismo do sétimo dia tem um nicho distinto fora do cristianismo convencional. Para eles, ser diferente está se tornando mais um fator de ganho do que de risco.” Na época da publicação, há oito anos, nossa igreja tinha 17 milhões de membros. Louvamos a Deus porque hoje somos mais de 21 milhões de irmãos e irmãs ao redor do mundo. Mais do que meras estatísticas, esses números representam pessoas preciosas que entregaram o coração a Cristo. Porém, enquanto nos alegramos com a chegada de muitos, reconhecemos que outros estão saindo. A esta altura, creio que vale a pena nos perguntarmos: O que contribui para o crescimento da igreja? Como podemos conservar os membros? Sugiro que você considere três fatores.
do Adventist Heritage Ministry, escreveu: “Se não soubermos de onde viemos, como saberemos para onde vamos? Compreender a identidade de uma pessoa é crucial para conhecer seu destino. Conhecer nossa identidade nos dá uma visão de futuro” (Newsletter da Comissão Executiva da Associação Geral, outubro de 2018, p. 9-11). Nossa denominação nasceu de uma profunda confiança na Bíblia como Palavra de Deus. Nossos antepassados mileritas acreditavam que era iminente o retorno de Cristo à Terra; por isso, preferiram enfrentar a ridicularização da sociedade e o desligamento de suas igrejas a negar essa convicção. Mesmo após o desapontamento de 22 de outubro de 1844, eles continuaram a estudar as Escrituras diligentemente e a orar fervorosamente para que Deus revelasse Sua verdade. As preces deles foram atendidas e, em 1850, os pilares das crenças adventistas já estavam estabelecidos. Ellen White, profetisa e co-fundadora da igreja, descreveu esses pilares como (1) o ministério de Cristo no santuário celestial, (2) as três mensagens angélicas de Apocalipse 14 (incluindo o dom profético e a crença na vinda literal e iminente de Cristo), (3) o sábado e (4) a mortalidade da alma (O Outro Poder, p. 21). Essa base doutrinária, estabelecida no início do movimento, ainda hoje se mantém válida, porque tem como fundamento uma abordagem interpretativa coerente e historicista (leia o documento adventista sobre interpretação da Bíblia, em inglês: https://bit.ly/2qQCQR6). Mais do que qualquer outro elemento, são esses pilares doutrinários que moldam nossa missão e inspiram milhões de pessoas a se unirem à nossa família de fé. ENVOLVIMENTO TOTAL DOS MEMBROS A igreja é mais do que uma corporação que tem prédios e funcionários. Ela é formada por todos nós, 21 milhões de membros que fomos chamados para alcançar outros. Essa visão é a que norteia o programa da sede mundial adventista: Envolvimento Total dos Membros (para saber mais, acesse tmi.adventist.org). Essa ênfase tem como inspiração a declaração de Ellen White em que ela afirma que a missão de Deus na Terra não será concluída sem que membros e pastores se unam em torno desse propósito (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 117). É um grande privilégio colaborar com Deus na obra de salvação de pessoas. Recentemente, recebi uma mensagem de uma jovem que tem R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
sido revigorada espiritualmente por se envolver na missão. “O senhor poderia orar pela minha amiga? Ela é uma jovem profissional que veio à minha igreja como voluntária para ajudar na clínica de saúde comunitária. Desde então, tenho estudado a Bíblia com ela. [...] Temos conversado sobre tudo, desde os Estados Unidos na profecia à marca da besta; da queda de Lúcifer até o milênio e a mensagem do santuário. Ministrar esse estudo bíblico todas as semanas tem sido uma grande bênção para mim. Sou a pessoa que mais tem crescido nesse processo.” Que nosso desejo seja permanecer até o fim neste movimento remanescente e, pelo poder do Espírito Santo, trabalhar para salvar o maior número possível de pessoas para Seu reino.
A CONVICÇÃO SOBRE QUEM
O MÉTODO DE CRISTO Mesmo que tenhamos uma compreensão clara de quem somos e de que todos são chamados a testemunhar, só teremos verdadeiro sucesso se usarmos o método de Cristo, como descrito por Ellen White (A Ciência do Bom Viver, p. 143). Ela nos orientou a nos misturarmos com as pessoas, a fim de identificar e procurar atender suas necessidades, ganhando sua confiança, para então convidá-las a seguir a Cristo. Embora toda necessidade seja importante, devemos atentar especialmente para as necessidades espirituais mais profundas do ser humano. No mesmo contexto, Ellen White nos lembra que o evangelho não pode ser apresentado de maneira indiferente, sem poder. Ao contrário, as pessoas “anelam um poder que lhes dê domínio sobre o pecado, um poder que as liberte da servidão do mal, que lhes proporcione saúde, vida e paz”. Elas precisam da graça de Cristo, que realiza restauração física, mental e espiritual. Cada passo do método de Cristo é importante, inclusive o último, que convida as pessoas a seguir o Mestre. Embora possamos ajudar a suprir as necessidades temporárias de alguém, a única solução satisfatória e permanente tem que ver com entregar a vida a Cristo e obedecer Seus mandamentos. ]
SOMOS, DE ONDE VIEMOS E POR
QUE EXISTIMOS É DETERMINANTE PARA DEFINIR NOSSA MISSÃO
TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/ pastortedwilson)
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VIDA ADVENTISTA
Novo cântico ADRIANA PEREIRA
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e você fosse cristão durante a Idade Média, não teria permissão para tocar instrumentos musicais nem cantar hinos congregacionais na igreja, a menos que fosse sacerdote ou membro profissional do coro masculino. Durante séculos, o uso de acompanhamento instrumental foi banido dos cultos cristãos. Por que esses elementos foram proibidos na liturgia, se a Palavra de Deus repetidamente nos convida a prestar culto a Deus com alegria e variedade de instrumentos (Sl 100:1, 2; 150)? Essa restrição vem do Concílio de Laodiceia (363-364 d.C.), quando os pais da igreja 28
também proibiram o empréstimo de músicas do repertório secular. As práticas de adoração estavam mudando rápida e perigosamente do modelo bíblico para um formato com base na tradição e centralização de poder do clero. RESTRIÇÃO E LIBERDADE Em parte, a lógica por trás dessas restrições era a crença de que cabia aos líderes da igreja ler, interpretar e ensinar a Bíblia, além de interceder pelos membros e cantar no lugar deles. A voz da congregação foi silenciada não apenas no canto, mas também na oração coletiva, na leitura das Escrituras e nas decisões da igreja. No século 16, Martinho Lutero liderou uma reforma teológica que procurou democratizar o canto congregacional e trazer de volta os princípios soli Jesu e sola Scriptura
para o centro da teologia e música cristã. Lutero devolveu à congregação o direito de cantar com espírito e entendimento (1Co 14:15), a usar instrumentos como parte da liturgia (Sl 149 e 150) e a integrar na adoração não somente a mente e o espírito, mas também o corpo (Sl 103, 104 e 150). INOVAÇÃO NA MÚSICA O cântico em uma comunidade cristã é uma expressão de adoração e, como tal, é dedicada a Deus. Exatamente por estar centrada em Deus, a verdadeira adoração por meio da música também nos conecta uns aos outros, edificando assim o corpo de Cristo. A Bíblia repetidamente nos convida a cantar um cântico novo (Sl 33:3; 40:3; 96:1; 98:1; 149:1; 144:9). E os pioneiros adventistas parecem ter levado isso a sério. Na verdade,
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Foto: Thiago Barletta
A INOVAÇÃO MUSICAL FAZ PARTE DA CAMINHADA DO POVO DE DEUS, À MEDIDA QUE EXPERIMENTAMOS SUA CONDUÇÃO
eles foram além: várias de suas composições poderiam ser consideradas revolucionárias. Em seu livro Ellen White and Music (Review and Herald, 1976, p. 76), Paul Hamel afirmou: “A importância da música da igreja na vida dos adventistas do sétimo dia do século 19 é claramente indicada pelo fato de que, entre 1849, quando o primeiro hinário adventista foi publicado, e 1900, quando Christ in Song, começou a ser usado, foram lançados 23 hinários.” Há 150 anos, os pioneiros adventistas tiveram uma visão inovadora quanto à música e adoração. Eles foram pró-ativos na composição e compilação de novos hinos, publicando assim, em média, um hinário a cada dois anos. Durante os séculos 18 e 19, a maioria das canções luteranas, também chamadas de hinos protestantes, foram expressões vibrantes de reavivamento espiritual. Muitas dessas músicas poderosas atravessaram gerações e ainda se mantêm relevantes. No entanto, alguns dos hinos antigos se tornaram obsoletos. Curiosamente, na Bíblia não temos um convite para cantar antigos cânticos e sim os novos.
A MÚSICA É UMA LINGUAGEM QUE CONTINUA A EVOLUIR. POR ISSO, ADORAR A DEUS POR MEIO DA MÚSICA IMPLICA CONSTANTE RENOVAÇÃO
QUESTÕES PRÁTICAS Diante do desafio de inserir novas canções ao nosso repertório para tornar o culto mais significativo para a congregação, ofereço algumas dicas abaixo. 1. Combine o repertório antigo com o novo. A orientação de Paulo sobre mesclar “salmos, hinos e canções espirituais” (Cl 3:16, Ef 5:19) continua válida. A diversidade de estilos musicais é benéfica, porque cada congreação pode reunir gerações e contextos culturais distintos. A manutenção de um repertório variado que inclua hinos tradicionais poderosos e canções contemporâneas significativas tem se mostrado o melhor caminho. 2. Ensine um hino de cada vez. Quando a equipe de louvor muda constantemente o repertório, sem oferecer tempo para que a congregação se adapte aos novos hinos, costuma haver reclamações. Por isso, insira uma ou duas canções novas por mês e ensine a igreja a cantá-las. Quando fizer isso, cante apenas a melodia na primeira vez, sem harmonização ou instrumentação, para facilitar a fixação. 3. Ouça. O louvor congregacional só é efetivo quando envolvemos o máximo de pessoas. É nossa resposta coletiva ao convite de Deus. Quando cantamos com o coração, somos renovados individualmente e fortalecemos os laços comunitários. Se as pessoas não estão
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cantando, precisamos entender a razão e encontrar uma solução. Por isso, não tenha medo de ouvir a opinião dos membros, com base num diálogo sincero, para que as pessoas sintam o verdadeiro espírito de apoio e confiança. Talvez valha também fazer uma pesquisa anual entre os membros. 4. Mantenha Cristo no centro da liturgia. “O canto é um dos meios mais eficazes de gravar a verdade espiritual no coração”, escreveu Ellen White (Evangelismo, p. 500). A música é uma ferramenta poderosa de comunicação e ensino. Por isso, deve estar a serviço do propósito central do culto: exaltar Cristo. Que ao ensinarmos doutrinas por meio do canto não percamos de vista a centralidade de Jesus. Lilianne Doukhan, musicóloga e professora da Universidade Andrews (EUA), nos lembra que “uma experiência religiosa nova ou uma compreensão renovada das crenças religiosas geralmente resulta na criação de novas formas de expressão” (In Tune With God [Review and Herald, 2010], p. 150). Sendo assim, a inovação musical e a releitura de antigas músicas faz parte da caminhada do povo de Deus, à medida em que experimenta a condução Dele. A música é uma linguagem que continua a evoluir. Por isso, adorar a Deus por meio da música implica constante renovação. Requer ainda uma atitude criativa e inquisitiva, que carrega consigo a responsabilidade de ser agente de mudanças positivas. Aguardamos o dia em que cada tribo, língua, nação e povo cantará como uma só congregação diante do trono de Deus. Até lá, que Deus nos conceda Sua sabedoria ao continuarmos nossa busca por maneiras sinceras de adorá-Lo juntos. ] ADRIANA PEREIRA é professora de teoria musical e composição, além de diretora do Departamento de Música na Universidade Andrews (EUA)
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MINHA HISTÓRIA
O sonho de Joel SAIBA COMO DEUS REVELOU ONDE CONSTRUIRIA UMA IGREJA NO SUL DO CHILE
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oel Vasquez teve um sonho. Ele não era de sonhar muito à noite, mas essa experiência o acordou com tal ímpeto que despertou Trinidad, a esposa, de um sono profundo. “O que aconteceu?”, perguntou ela após acender a luz. “Tive um sonho. Foi um sonho audível. Uma voz falava comigo”, respondeu Joel. “O que ela dizia?”, indagou Trinidad, revelando certa curiosidade, mas com vontade de voltar a dormir. “O homem do meu sonho disse que vai construir uma igreja no lote vazio em frente à nossa casa. E que vai ser a verdadeira igreja de Deus.” Trinidad reagiu dizendo que o marido estava louco e que ele deveria voltar a dormir. TERRENO RESERVADO Joel pegou no sono novamente e se esqueceu do sonho até participar de um seminário em outra cidade, seis meses 30
depois. Durante uma das reuniões, um homem da Argentina se levantou e perguntou se havia alguém no auditório cujo nome era Joel Vasquez. Relutante, Joel se identificou: “Acho que sou eu.” “Tenho uma mensagem para você”, disse o desconhecido. “Deus me disse para avisar você que Ele vai construir uma igreja no terreno vazio em frente à sua casa. E essa será a igreja verdadeira Dele.” Joel ficou tão surpreso que mal podia esperar para contar para Trinidad. Porém, quando ele disse a ela o que havia acontecido, a esposa novamente se zangou e o R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
Foto: Welcomia
DICK DUERKSEN
chamou de louco. Um ano inteiro se passou e Joel quase havia se esquecido daquela mensagem. Foi então que ele sonhou novamente, mas dessa vez o recado tinha informações adicionais. “Joel”, disse a voz, “guarde o lote vazio para Mim. Eu preciso dele para construir Minha igreja.” Dessa vez, Joel não contou nada para a esposa. Na manhã seguinte, ele saiu para procurar o proprietário do terreno vazio do outro lado da rua. Quando descobriu quem era o dono, ele contou a história dos dois sonhos e do homem argentino. O dono do terreno achou graça, mas alugou o terreno para Joel e permitiu que ele cercasse o lote, a fim de reservar aquele lugar para “a igreja verdadeira de Deus”. Joel esperou quase um ano por novas orientações de Deus, mas ninguém foi falar com ele. Certo dia, um estranho bateu à sua porta. “Como vai? Meu nome é Nelson”, disse o visitante. “Sou o líder de um pequeno grupo da igreja adventista desta comunidade. O lugar em que nos reunimos ficou pequeno. Gostaríamos de falar com o senhor sobre a compra do terreno do outro lado da rua, para construirmos uma igreja ali. Será a igreja verdadeira de Deus.” Joel quase desmaiou de emoção. Então, ele fez duas perguntas a Nelson. “Você acredita em Jesus Cristo como seu Criador e Salvador pessoal?” Nelson respondeu que sim e sem hesitar. “Você não gostaria de estudar a Bíblia com minha família para aprendermos mais sobre sua igreja?”, continuou Joel. Nelson disse que eles poderiam começar naquela mesma noite. Joel apresentou Nelson para Trinidad. Após ouvir o relato, ela riu alto e então disse que os dois é que eram loucos. No dia seguinte, Joel ajudou Nelson a comprar o terreno vazio. Ajudou também os membros da igreja a limpar o lote. Quando Nelson começou a ministrar estudos bíblicos na casa do Joel, Trinidad se recusou a estudar. Mas ela se escondia na cozinha, ouvia pela porta e, às vezes, até acompanhava a conversa. CAMINHÕES DE TERRA Nem Joel nem Nelson tinham dinheiro suficiente para construir a igreja no lote, mas continuaram preparando o terreno, planejando e orando para que Deus tornasse aquele sonho uma realidade. Certo dia, eles ouviram a melhor notícia de todas. A Maranatha Volunteers International, um ministério de apoio da Igreja Adventista, havia concordado em construir o novo templo. Porém, antes de os voluntários da ONG começarem o trabalho, o lote precisava ser coberto com 14 caminhões de terra. Agora, as orações deles tinham o foco numa data e desafios específicos. “Mas, Senhor, nós não temos caminhão, nem terra, nem dinheiro”, oraram. “Senhor, nós precisamos de 14 caminhões de terra boa para a Igreja El Shaday. O Senhor Se lembra de nós? Sabemos que és o Deus todo-poderoso, que podes fazer qualquer coisa.” E pode mesmo! Certa quarta-feira à noite, apenas duas semanas antes da chegada dos voluntários, Nelson estava R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
PEÇA TERRA, E VOCÊ RECEBERÁ
indo para o culto de oração quando ouviu Deus dizer que ele deveria tomar uma estrada pela qual nunca havia passado. “Não posso ir por lá. Já é tarde”, argumentou ele com a voz. Mas Deus insistiu que ele fosse imediatamente. Nelson saiu da estrada e quase colidiu com um caminhão de lixo. Os dois veículos pararam e ele saiu para pedir desculpas. “Perdoe-me por quase ter batido em você”, disse ao motorista do caminhão. “E, a propósito, nós não temos nenhum dinheiro, mas precisamos de 14 caminhões da melhor terra em Chillán. Será que você não poderia levar a terra para o terreno baldio onde a Maranatha irá construir uma igreja para nós?”, pediu Nelson. Peça terra, e você receberá... Duas semanas depois, um grupo de voluntários da Maranatha chegou ao bairro El Shaday e começou a construir uma igreja sobre terra boa, no terreno baldio, a 14 km da Universidade Adventista do Chile. Nelson ajudou os voluntários. Trinidad também. Ela estava lá todos os dias cantarolando hinos cristãos enquanto ajudava a limpar tijolos, cozinhar feijão, preparar refeições e animar os voluntários. Mesmo antes de a igreja nova ter telhado, Trinidad caminhou pela plataforma até o batistério. Ela ficou ao lado dele e disse: “Decidi que este tanque batismal é como a porta de entrada do Céu. Quero ser batizada nele com meu marido Joel e todos os 22 membros da nossa família.” Então, chorou lágrimas de alegria. ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
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DOM DE PROFECIA
O POVO DE DEUS NO TEMPO DO FIM NÃO SERÁ DEIXADO NAS TREVAS
PRESENTE INESTIMÁVEL CARLOS A. STEGER
O
livro de Apocalipse predisse que a igreja remanescente do tempo do fim teria o dom de profecia. Seus membros são aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17). E o que é “o testemunho de Jesus”? Um anjo explicou para João posteriormente que é o “espírito de profecia” (Ap 19:10), aquele dom que se manifesta por meio dos profetas (Ap 22:6 e 9). GENUÍNO Satanás sempre tenta falsificar o que o Senhor faz. O inimigo, que conhece a importância do espírito de profecia, ao longo do tempo levantou falsos profetas a fim de criar confusão e impedir a missão de Deus. Um dos sinais do tempo do fim é o surgimento de falsos profetas que operariam grandes sinais e enganariam, se possível, os próprios eleitos (Mt 24:11 e 24). Portanto, é muito importante saber avaliar aqueles que se dizem profetas enviados por Deus. Felizmente, a Bíblia apresenta alguns testes aos quais devemos submeter os mensageiros. De modo resumido, os ensinamentos do profeta devem estar de acordo com o que
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Deus já revelou anteriormente (Is 8:20), suas profecias devem se cumprir (Dt 18:22), sua mensagem deve estar centrada em Cristo (1Jo 4:1-3) e sua vida deve abençoar aqueles que a testemunham (Mt 7:15 e 16). Com base no ensino bíblico sobre dons espirituais, o que inclui sua continuidade mesmo após os tempos apostólicos, nós adventistas do sétimo dia acreditamos que Deus chamou Ellen White para ser Sua mensageira no tempo do fim. A vida e os ensinos dela atendem plenamente aos critérios bíblicos para a validação do dom profético. PRÁTICO Assim como os capitães de navio precisam de mapas mais detalhados quando suas embarcações se aproximam do porto, ao se aproximar o desfecho da história humana, a igreja também precisa de instrução especial do Senhor. Essa orientação é oferecida pelos escritos de Ellen White, que foram inspirados por Deus para guiar Seu povo remanescente do tempo do fim. É muito importante destacar que os escritos de Ellen White não substituem a Bíblia nem servem de material adicional às Escrituras. Sua função é como a de uma lupa, que amplifica a mensagem bíblica a fim de que seu leitor possa entendê-la melhor e aplicá-la corretamente à própria vida. As obras de Ellen White têm como pano de fundo a grande narrativa da história do Universo, desde a origem do mal até a restauração final de todas as coisas, após a erradicação do pecado. Além disso, seus escritos cobrem os aspectos essenciais da vida cristã, tais como o plano da salvação em Cristo, a melhor maneira de cuidar da saúde, como construir uma família feliz e educar os filhos, além de como testemunhar da fé e se preparar para a vinda de Jesus. A leitura dos escritos de Ellen White fortalece nossa espiritualidade, porque incentiva o aprofundamento do nosso relacionamento com Deus e aumenta nossa confiança na Palavra Dele. Quanto mais estudamos e aplicamos seus princípios, mais nos tornamos semelhantes a Jesus, imitando Sua vida e caráter.
Foto: Dino Reichmuth
AO NOS APROXIMARMOS DO DESFECHO DA HISTÓRIA HUMANA, A IGREJA PRECISA DE INSTRUÇÃO ESPECIAL DO SENHOR
RELEVANTE Um fato amplamente reconhecido dentro e fora da Igreja Adventista é que os escritos de Ellen White são um dos fatoreschave para o desenvolvimento da unidade doutrinária, administrativa e missionária da denominação. Seus escritos contribuem para a manutenção de nossa identidade como membros da igreja remanescente. Além disso, alguns têm observado que os que leem regularmente as obras de Ellen White são mais ativos na igreja e comprometidos com a missão de Deus. Por fim, seria difícil imaginar o desenvolvimento das instituições de saúde, educação e comunicação da
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igreja sem a orientação oportuna da mensageira do Senhor. Sem o ministério da pioneira, certamente não seríamos o que somos hoje. PESSOAL Quando eu estava estudando Teologia, um amigo sugeriu que lêssemos juntos, todas as manhãs, o livro Caminho a Cristo, um clássico dos escritos de Ellen White. Nós nos encontrávamos debaixo de uma árvore no campus para ler, compartilhar nossas reflexões e orar. Foi uma experiência espiritual inesquecível. Embora tenham se passado mais de 40 anos, ainda guardo aquele pequeno livro usado, com muitas frases sublinhadas e anotações nas margens. Já li esse livro outras vezes e sempre com o mesmo resultado: renovação espiritual. Quando leio os escritos de Ellen White, sinto que Deus fala diretamente comigo. Às vezes, em minhas leituras devocionais, percebo claramente a repreensão gentil e amorosa do Senhor. Sinto que Ele conhece tudo sobre mim, inclusive meus medos e limitações. Geralmente me alegro ao vislumbrar o amor mais profundo e insuperável de Deus. Ele é a garantia de perdão completo, aceitação incondicional e poder transformador. Nesses escritos, tenho encontrado muitas promessas divinas que me ajudam a enfrentar os desafios do dia a dia. A promessa de Deus é tão válida hoje como no passado: se crermos Nele, seremos sustentados; se crermos nos Seus profetas, prosperaremos (2Cr 20:20). Convido você a apreciar, ler, aplicar e compartilhar o maravilhoso tesouro que recebemos por meio do dom outorgado a Ellen White. ] CARLOS A. STEGER aposentou-se recentemente após ter servido como pastor, professor, editor e administrador. Ele e a esposa, Ethel, vivem na Argentina
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BEM-ESTAR
O CORAÇÃO NÃO PREENCHIDO É INCAPAZ DE DISTRIBUIR SANGUE E SUSTENTAR A VIDA
SAIBA QUAL É A CAUSA DE INFLAMAÇÃO E EXCESSO DE LÍQUIDO AO REDOR DO ÓRGÃO QUE BOMBEIA O SANGUE PARA O CORPO PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL
S
eu s l i ndos ol hos castanhos estavam cheios de medo e dúvidas. Sua respiração era rápida e superficial; o pulso, fraco e rápido. Ela estava doente havia algum tempo e precisava de tratamento urgente. Uma agulha longa e fina foi inserida cuidadosamente à esquerda do osso esterno, na direção do ombro esquerdo. O líquido começou a fluir de volta para a seringa. Foi inserido um cateter pigtail (rabo de porco) através da agulha. Esse dispositivo é assim chamado porque se enrola como a cauda de um porco quando o fioguia, mais rígido, é removido. Lentamente, e de forma calculada, foi sendo retirado o fluido que enchia o invólucro ao redor do coração (derrame pericárdico). O coração começou a encher e a esvaziar mais efetivamente, a pressão sanguínea melhorou, a força do pulso voltou, e a esperança encheu o semblante daquela mulher. 34
Fomos for mados de modo assombrosamente maravilhoso. O coração é um exemplo extraordinário de design e função. Ele é uma bomba muscular que sustenta a vida bombeando sangue rico em nutrientes e oxigênio para todos os tecidos do corpo, que depois coleta o dióxido de carbono para ser expelido pelos pulmões, e outros resíduos a ser eliminados por órgãos como o fígado e os rins. A ação de bombeamento ocorre de forma rítmica ao longo da vida, desde algumas semanas após a concepção até o dia da morte. Para bombear o sangue, o coração deve ser capaz de recebê-lo e ficar cheio. Ao redor do coração há uma estrutura fibrosa em forma de saco chamada pericárdio. Sua função é basicamente proteger o coração da hiperdistensão (alongamento excessivo quando está cheio de sangue) e mantê-lo eficiente, apesar dos órgãos e estruturas circundantes. Pode-se viver
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse ministério
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Foto: Robina Weermeijer
PROBLEMAS NO CORAÇÃO
normalmente sem o saco pericárdico se o coração estiver normal. Isso ocorre quando há ausência congênita do saco pericárdico ou quando este foi removido cirurgicamente. Muitas doenças inflamatórias de órgãos ou tecidos do corpo são identificadas com o sufixo característico “ite”. Por exemplo, pericardite indica uma inflamação do saco pericárdico ao redor do coração e apendicite é a inflamação do apêndice. Derrame pericárdico é o acúmulo de líquido ao redor do coração resultante de inflamação, infecção (viral ou bacteriana), trauma ou cicatrização muscular devido a um ataque cardíaco ou mesmo de parasitas. Algumas vezes, é utilizado o termo miopericardite para indicar o acometimento tanto do saco pericárdico quanto do músculo cardíaco. A causa do derrame massivo no pericárdio de nossa paciente foi tuberculose ativa; ela também estava infectada pelo HIV. Outra forma de doença do pericárdio, chamada de pericardite constritiva, pode ser causada por uma doença inflamatória, trauma ou radiação. A cicatrização ao redor do coração prejudica a função cardíaca. Qual é o tratamento? Aliviar qualquer desconforto agudo, drenando o derrame do pericárdio. Faz-se então um diagnóstico e a causa subjacente é tratada especificamente. Essa doença ilustra um princípio espiritual: o coração não preenchido é incapaz de distribuir sangue e sustentar a vida. Que nossa vida e nosso coração sejam preenchidos todos os dias pelo Espírito sustentador de Deus! ]
BOA PERGUNTA
DEUS INVISÍVEL
O CRIADOR PODE SER VISTO OU A INVISIBILIDADE FAZ PARTE DE SUA NATUREZA? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
Foto: Adobe Stock
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inha primeira reação à pergunta acima foi ignorá-la, principalmente porque ela poderia facilmente levar a especulações que não alimentam a vida espiritual. Então pensei em discutir a questão, pois talvez possa glorificar a Deus e a Cristo. A seguir estão algumas ideias. 1. Criado à semelhança de Deus. Gênesis 1:26 declara que Deus criou o ser humano à Sua “imagem” e “semelhança”, dois substantivos usados alternadamente em outras passagens do Antigo Testamento. A própria terminologia inclui a ideia de uma expressão concreta. O ser humano, como unidade indivisível, foi criado à imagem de Deus; portanto, na realidade, é imagem. Esse pensamento ousado levanta na mente de alguns a questão da existência material de Deus. Tal estado não é negado na Bíblia, mas a ênfase do nosso texto está na singularidade dos seres humanos, não na aparência exterior de Deus. Em outras palavras, não podemos explorar a existência material humana para definir a existência divina. Podemos afirmar a presença divina sem nos aprofundarmos no mistério de Sua inescrutabilidade. Talvez sem especular sobre a natureza da existência material de Deus, possamos dizer que Ele não tem um corpo, mas que é um corpo. 2. Visível-invisível. Muitas vezes a invisibilidade é atribuída a Deus, sugerindo que Ele não tem uma forma visível. Paulo se referiu a Deus como “o Deus invisível [grego aoratos]” (Cl 1:15) e “o Deus único, imortal, invisível” (1Tm 1:17). João acrescenta: “Ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1:18). No entanto, a palavra grega aoratos não descreve o que por natureza precisa
de visibilidade, mas o que não pode ser visto imediatamente. Por exemplo, para os gregos a face da Lua era invisível durante um período de tempo. O mesmo conceito vale para o futuro. Quando descrevemos Deus como invisível, falamos sobre algo muito mais profundo, isto é, a transcendência divina ou a distância infinita entre o Criador e a criatura. A forma corpórea da criatura não pode abranger a plenitude de Deus como Ele é em Si mesmo. Aqui o papel de Jesus como mediador se torna indispensável, porque Ele torna visível Aquele a quem ninguém pode ver (Jo 1:18; 14:8, 9), mas a quem desejamos ver (cf. Mt 5:8). Tanto o Antigo como o Novo Testamento (Êx 24:17; 1Tm 6:16) declaram que Deus habita em luz impenetrável. A luz da Sua glória ao mesmo tempo revela e esconde Seu Eu visível e torna as criaturas conscientes da Sua presença. Talvez o exemplo mais ousado desse fenômeno se encontre em Ezequiel, que viu no trono divino “uma figura semelhante a um homem” coberta por um brilho que “parecia metal brilhante”, ou “cheia de fogo”, e uma “luz brilhante” que “O cercava” (1:26, 27). Ezequiel viu a luz indescritível, a glória que cobre a presença visível de Deus. Não há necessidade de especular sobre a natureza da corporalidade de Deus. O mais importante é reconhecer a natureza única do Criador e a promessa de um dia, deslumbrado pelo Seu brilho, estar diante da luz impenetrável da Sua glória para adorá-Lo. Tudo se tornou possível por meio de Jesus, que nos revelou o amor de Deus e que irá glorificar nosso corpo e permitir que fiquemos de pé para ver a glória de Deus. ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
O PAPEL DE JESUS COMO MEDIADOR É INDISPENSÁVEL, PORQUE ELE TORNA VISÍVEL AQUELE A QUEM NINGUÉM PODE VER
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NOVA GERAÇÃO
OUVINTE SILENCIOSO "
NOS PERÍODOS DE SILÊNCIO, DEUS SUSSURROU AO MEU OUVIDO QUE EU DEVERIA APRENDER A SER FIEL, MESMO QUANDO NÃO VISSE RESULTADOS IMEDIATOS
LIÇÕES QUE APRENDI AO DEIXAR A SALA DE AULA PARA APRESENTAR UM PROGRAMA EVANGELÍSTICO DE RÁDIO EM LONDRES LYNETTE ALLCOCK
Nesses períodos de silêncio, Deus costuma sussurrar ao meu ouvido que devo aprender a ser fiel, mesmo quando não vejo resultados imediatos. Se apenas uma pessoa ouvir a voz de Deus por meio do meu programa, isso já é o suficiente. E testemunhos animadores também me ajudaram a entender isso. Ouvintes não adventistas já solicitaram cursos bíblicos e livros doados no programa. Certo verão, meu namorado e eu visitamos alguns amigos no norte da Inglaterra. De repente, enquanto perambulávamos pelas ruas de uma cidade desconhecida, percebemos que do outro lado da rua alguém nos observava. Quando começamos a atravessar a faixa de pedestres, um estranho se aproximou e me perguntou se eu trabalhava na Rádio Adventista de Londres. Ele disse que ouvia nossos programas. Rimos e conversamos por algum tempo com ele, e ficamos impressionados com o fato de que, do outro lado do país, havia alguém que nos reconheceu. As pessoas estão nos ouvindo e nos vendo. Não falo somente do meu trabalho diretamente evangelístico na rádio, mas também de sua influência, na esfera profissional e pessoal. Conforme a frase atribuída ao escritor britânico William J. Toms, podemos ser a única “Bíblia” a ser lida por alguém. Por isso, tenho me perguntado se estou representando bem a Deus e se sou o tipo de pessoa cuja vida incentivará alguém a pegar uma Bíblia e a olhar para o cristianismo ou adventismo com o coração aberto. Acredito que se enxergar como uma embaixadora de Cristo (2Co 5:20) é uma séria responsabilidade, mas também uma ideia confortadora. Até porque, quando nos questionamos se o que fazemos é eficaz, é preciso lembrar que sempre fará diferença ser um verdadeiro representante de Jesus. Alguém sempre está nos observando e nos ouvindo. ] LYNETTE ALLCOCK é produtora e apresentadora na Rádio Adventista de Londres, no Reino Unido
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Foto: Arquivo pessoal
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lguma vez você pensou em mudar de profissão?” A pergunta me assustou, principalmente porque essa era minha intenção. Assim foi o início da minha jornada para me tornar produtora e apresentadora da Rádio Adventista de Londres, emissora que busca evangelizar a população cosmopolita da capital britânica. Gostei de aprender a trabalhar no rádio, mas uma das etapas mais desafiadoras da transição foi ter que conversar com um estúdio vazio. Eu era professora. Estava acostumada a ter alunos diante de mim, que interagiam imediatamente comigo e cuja linguagem corporal me levava a adaptar minha comunicação. Contudo, no estúdio de rádio, eu não conseguia ver quem estava me ouvindo. Com o passar do tempo, descobri que, às vezes, as pessoas respondem no ar minhas perguntas e fazem pedidos de oração. Quando isso ocorria, gostava de interagir com o público, mas em boa parte da programação os ouvintes ficavam em silêncio. Isso me fez pensar várias vezes se realmente o que eu fazia estava alcançando e ajudando alguém.
PRIMEIROS PASSOS
BOLA DE CHICLETE APRENDER A LER A BÍBLIA TODOS OS DIAS EXIGE TREINO, MAS É MAIS FÁCIL E IMPORTANTE DO QUE QUEBRAR CERTO RECORDE MUNDIAL SHAWNA CAMPBELL
had Fell se tornou famoso por ter feito a maior bola de chiclete da história. Sem usar as mãos, ele fez uma bola de 45 cm de diâmetro. Não é incrível? Esse recorde foi registrado no Guinness, livro dos recordes mundiais, edição de 2004. Ele só conseguiu fazer isso porque treinou muitas vezes. Imagino que muitas bolas de chiclete devem ter arrebentado e grudado no seu rosto e cabelo. Pense em algo que levou muito tempo para você aprender, como amarrar o tênis ou jogar futebol. No início, deve ter sido difícil descobrir o que fazer com os cadarços. Porém, depois de formar algumas vezes um laço, foi ficando cada vez mais fácil. Agora você já nem precisa olhar para os cadarços para amarrá-los nem se concentrar para fazer isso. De tanto praticar, você formou um padrão no seu cérebro. Isso é chamado de hábito. Só formamos hábitos repetindo uma atividade.
Ilustração: Xuan Le
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A fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo (Rm 10:17)
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Toda hora é um bom momento para começar um hábito positivo. O que você poderia aprender que o transformaria numa pessoa melhor para seus amigos e família? Deus pede que criemos o hábito de passar um tempo especial a sós com Ele. A melhor maneira de aprender isso é separando para Ele, todos os dias, uma hora específica. Para conhecer Jesus e tornar esse tempo devocional interessante, experimente coisas criativas. Por exemplo: fazer uma corrente de oração por aqueles que estão doentes ou desabrigados; por seus amigos, professores, familiares e pastores de igrejas. Ou você pode desenhar parte de uma história bíblica que seja muito especial para você. Ou talvez escrever um diário com seus textos bíblicos preferidos ou ouvir a letra de uma música cristã que toca seu coração. Começar o hábito de passar tempo com Jesus todos os dias não tem como dar errado. Será muito melhor do que ter chicletes grudados na cara! Este artigo foi publicado na revista KidsView de janeiro de 2016. ] SHAWNA CAMPBELL é pastora das crianças na Igreja da Universidade de Loma Linda, Califórnia (EUA)
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LIBERDADE RELIGIOSA
CONQUISTA JUDICIAL
Decisão da Suprema Corte da Coreia do Sul abre precedente favorável à prestação alternativa BETTINA KRAUSE
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“Esse veredito é historicamente importante para os adventistas sul-coreanos e fornece um precedente legal para futuros processos judiciais sobre questões relacionadas à guarda do sábado”, disse Sun Hwan Kim, diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da sede administrativa da Igreja Adventista para a região do Pacífico Norte-Asiático. “Mas essa decisão milagrosa não teria acontecido se esse jovem adventista não tivesse permanecido firme na fé”, ele acrescenta. Há muito tempo os adventistas da Coreia do Sul enfrentam dificuldades devido aos exames de certificação universitária e profissional marcados para os sábados. Ao longo dos anos, muitos membros da igreja têm sacrificado oportunidades de crescimento acadêmico e profissional para se manterem fiéis às suas convicções. Embora a Constituição da Coreia do Sul proíba a discriminação religiosa, até o início deste ano os tribunais do país não haviam estendido essa proteção para a questão da guarda do sábado. 38
A batalha legal de Han Ji Man começou quando ele estava no primeiro ano da faculdade de Medicina. Já no início do curso, vários exames importantes foram marcados para o sábado. Ele buscou dialogar com os professores e administradores da escola, mas não encontrou apoio. Então decidiu apelar para a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coreia. Como último recurso, entrou com uma ação judicial. Apesar de ter perdido a causa no tribunal inferior, Han Ji Man apelou para o Alto Tribunal da Coreia e obteve decisão favorável. No entanto, a escola de Medicina recorreu e o caso foi parar na Suprema Corte. No julgamento em última instância, os ministros ratificaram a decisão que havia sido tomada pelo Alto Tribunal da Coreia, dando, assim, vitória a Han Ji Man e defendendo uma proteção constitucional mais robusta para a liberdade religiosa. “A vitória na Suprema Corte não foi obtida por acaso”, disse Sun Hwan Kim. Ele ressalta, em
No fim de janeiro, a mais alta corte do país reconheceu o direito de um estudante adventista de Medicina realizar provas em horários alternativos
particular, as orações incansáveis dos membros da igreja coreana e de todo o mundo, que apoiaram Han Ji Man durante sua batalha judicial. Ele também destacou o trabalho diligente do advogado Shin Myung Cheol, que cuidou do caso, os esforços da União Coreana em angariar recursos e o apoio da Sociedade para a Liberdade Religiosa e Igualdade de Oportunidades, grupo formado principalmente por médicos adventistas. Com essa decisão, os adventistas na Coreia do Sul esperam que a guarda do sábado finalmente se torne menos difícil para os membros da igreja em muitas áreas da sociedade. Mas, segundo Sun Hwan Kim, igualmente importante foi o exemplo poderoso de fidelidade a Deus que o caso oferece. “Oro para que o ato corajoso de fé de Han seja um exemplo a ser seguido por outros jovens adventistas em sua jornada de fé”, ele frisa. ] BETTINA KRAUSE é assessora de comunicação do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da sede mundial adventista
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Fotos: International Religious Liberty Association
longa batalha judicial envolvendo um estudante adventista de Medicina na Coreia do Sul terminou no início deste ano quando a Suprema Corte reconheceu o direito de Han Ji Man realizar exames em horário alternativo. Os adventistas sul-coreanos comemoraram a decisão que pode representar um divisor de águas para a liberdade religiosa no país asiático.
DESASTRE
AJUDA PARA MOÇAMBIQUE
A população e a igreja do país africano necessitam de apoio para reconstruir o que o ciclone Idai levou MÁRCIO TONETTI
randes desastres naturais atingem tanto os países ricos como os pobres. Mas é evidente que os menos desenvolvidos e vulneráveis são os que mais sofrem e enfrentam dificuldades para se reerguer. Esse é o caso de Moçambique, nono país com o menor IDH do mundo, segundo a ONU, e um dos dois mais afetados pelo ciclone Idai, que varreu três países do continente em março, deixando mais de 800 mortos, milhões de desabrigados e um rastro de prejuízo incalculável. O poder destrutivo de um ciclone vai muito além de seu efeito imediato. Além de levar o que encontra pela frente, ele muitas vezes deixa comunidades inteiras em condições totalmente insalubres. No país africano de fala portuguesa, um dos reflexos foi o surto de cólera
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após o desastre. Poucos dias depois da passagem do ciclone já haviam sido registrados mais de 1,4 mil casos da doença, o que levou o governo a iniciar uma campanha de vacinação emergencial. A catástrofe que provocou uma das piores crises humanitárias da história recente de Moçambique também trouxe enormes perdas para a igreja. A maioria dos templos que estavam na rota do Idai sofreu grandes danos. O mesmo aconteceu com a Universidade Adventista de Moçambique (UAM), localizada em Beira, cidade portuária de 500 mil habitantes que foi quase toda devastada. “Fechamos a universidade por pelo menos 15 dias. Para que não perdêssemos alunos, improvisamos lugares e retomamos as aulas no início de abril”, relata o pastor Heraldo Pereira Lopes, brasileiro que desde 2016 dirige o campus. Embora a igreja mundial pretenda direcionar para a universidade parte das ofertas missionárias mundiais do primeiro trimestre, será grande a necessidade de mais recursos para reconstruir o que o vento levou. “Os recursos das ofertas serão usados da melhor maneira possível para atender o plano previsto, bem como as necessidades urgentes”, ressalta o pastor Heraldo. “Levamos quatro anos para reestruturar a UAM e agora foi tudo embora. Mas vamos recomeçar. Precisamos de doações e orações”, ele completa. O diretor-geral do campus estima que serão necessários cerca de 1,25 milhão de dólares para consertar os danos. A destruição provocada pelo ciclone também trouxe à tona o debate sobre a localização da universidade, situada na rota dos furacões. “O plano é procurar um novo local, pois o atual não é o melhor, conforme pudemos perceber”, realça o pastor Heraldo. COMO DOAR As doações para a reconstrução da Universidade Adventista de Moçambique serão contabilizadas e processadas pela Associação Geral, por meio do Departamento de Missão Global. Qualquer pessoa e igreja podem doar sua contribuição. É possível fazer doações diretas em dinheiro através do seguinte endereço: gm.adventistmission.org/ giving. Para isso, é preciso seguir os seguintes passos: (1) clique na opção “Donate”; (2) depois, no menu intitulado “My donation is for*”, clique na opção “Other – Put details in comments below”; (3) abaixo de “Payment Information”, preencha o campo “Comments” com a seguinte informação: “Mozambique Adventist University Storm Relief – Cyclone IDAI”; (4) por fim, insira os dados do doador. A ADRA internacional também lançou uma campanha que beneficiará os países afetados. Para colaborar, acesse: donations.adra. org/CycloneIdai-ws. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
O ciclone que atingiu o sul da África em março destruiu pelo menos 50 igrejas, duas escolas e a única universidade adventista do país de fala portuguesa R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2019
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MEMÓRIA
Alfredo Knoener, aos 90 anos, em São Francisco do Sul (SC), vítima de infarto. Era filho do professor Henrique Knoener, pioneiro da rede educacional adventista no Rio Grande do Sul. Foi sepultado em Xaxim (SC), cidade em que foi pioneiro do adventismo, tendo sido ancião por mais de 30 anos. Gostava de ministrar estudos bíblicos e levou muitas pessoas ao batismo. Foi vereador por dois mandatos e presidente da Câmara de Vereadores de Xaxim. Deixa três filhos, cinco netos e sete bisnetos. Anísio Chagas, aos 90 anos, em Indaial (SC), vítima de pneumonia. Mineiro de Santa Maria do Salto, ele foi criado no trabalho duro com a terra no Vale do Jequitinhonha. Alfabetizado apenas aos 12 anos de idade, foi um leitor assíduo das revistas e livros da CPB e escritor influente na imprensa secular, destacandose também como um pastor de grandes congregações e um dos pioneiros das relações públicas na igreja. No Rio de Janeiro, tornouse membro da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP) e, em Santa Catarina, também manteve contato com autoridades políticas. Defensor da liberdade religiosa, influenciou a aprovação de uma lei estadual que contemplava os estudantes adventistas. De 1986 a 1992, foi colunista nos jornais Diário Catarinense e Zero Hora, sempre procurando relacionar os valores cristãos
com os fatos diários. Foi apresentador também dos programas televisivos Encontro
com a Vida, na RBS TV, e Gotas de Fé, na Band. Anísio foi pastor da Igreja Central de Recife e de Brasília, professor de ensino religioso no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS) e trabalhou nas áreas de publicações, comunicação, família e assistência social em sedes administrativas da igreja em Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Depois de aposentado, dedicou-se intensamente a um ministério para idosos e chegou a fazer parte da Associação Nacional de Gerontologia. Foi enterrado no Cemitério da Esperança, em Gaspar Alto (SC). Deixa a esposa, Jurema, três filhos e cinco netos. Cristielleyn Vitória Muniz da Silva, aos 14 anos, em Vitória da Conquista (BA), vítima de insuficiência renal crônica. Nascida em lar adventista, foi membro do Clube de Aventureiros e Desbravadores. Frequentava a Igreja de Renato Magalhães. Deixa os pais e um irmão. Francisco Evangelista de Araújo, aos 71 anos, em Bauru (SP), vítima de dengue. Conheceu a mensagem adventista em 2008 por meio de um curso antitabagista. O irmão Chico, como era conhecido, serviu fielmente como diácono em sua igreja, sendo sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Era funcionário público aposentado e membro da Igreja
de Green Ville. Francisco perdeu seu único filho havia dois anos. Deixa a esposa, Yosiko Saito. Itamy Bessa, aos 67 anos, em Belo Horizonte (MG), vítima de um câncer contra o qual lutou por quatro anos. Era filho do pastor José Bessa. Trabalhou por 38 anos como cirurgião ortopedista. Gostava de cantar e tocar trompete na igreja. Deixa a esposa, filhos e netas. João Batista Domingos, aos 72 anos, em Itajaí (SC), vítima de câncer de próstata. Batizado em 2006, era membro da Igreja de Cidade Nova, onde exercia a função de diácono. Deixa a esposa, Ana, três filhos e sete netos. José Elias Sliba, aos 76 anos, vítima do mal de Alzheimer. Foi membro e um dos fundadores da Igreja de Aparecida (SP). Profundo conhecedor das Escrituras, leu a Bíblia 67 vezes e era ganhador frequente em concursos bíblicos. Filho de pai judeu e mãe cigana, sua impressionante história de conversão e participação no evangelismo é contada no livro Promessa Cumprida (CPB, 2018). Deixa a esposa, Rosa Maria, a filha e dois netos. Mauro Rodrigues dos Santos, aos 82 anos, em Aracaju (SE), vítima de AVC hemorrágico. Foi um dos construtores da Igreja de Carira (SE), cidade
em que nasceu e foi batizado. Ali serviu como diácono e líder do ministério de lar e família. Deixa a esposa, Jandira (com quem foi casado por 58 anos), cinco filhos, 11 netos e três bisnetos (esta nota está sendo republicada com correções). Ruy Dutra Barreto, aos 93 anos, em Brasília (DF), vítima de falência de múltiplos órgãos. Natural de Caçapava do Sul (RS), por 23 anos lecionou em várias escolas adventistas do Rio Grande do Sul e foi preceptor nos internatos IAP e IASP. Deixa a esposa, Marina (com quem foi casado por 69 anos), cinco filhas, seis netos e sete bisnetos. Ruth de Freitas Souza, aos 83 anos, em Araçoiaba da Serra (SP). Sempre realizou os cultos familiares em casa. Deixa o esposo, dois filhos e duas netas. Yonê Nonato de Souza, aos 85 anos, em Canavieiras (BA), vítima de AVC. Foi uma das pioneiras da mensagem adventista nessa cidade, sua terra natal, no sul da Bahia. Figura carismática, serviu à igreja no Ministério Jovem, dos Adolescentes, da Mulher, Pessoal, na assistência social e no diaconato feminino. Viúva, deixa dois filhos e dois netos.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” 40
(APOCALIPSE 14:13)
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LITERATURA
OITO DÉCADAS DE VIDA E SAÚDE Conheça a história de pioneirismo e a filosofia da revista que tem promovido o estilo de vida adventista há várias gerações AGATHA LEMOS
ocê já notou que as pessoas se interessam cada vez mais pela saúde? Ao mesmo tempo, a ciência avança trazendo novidades e confirmações sobre o estilo de vida saudável mais adequado para nossa época. Chama a atenção o fato de que muitas das recomendações da atualidade têm que ver com um retorno ao natural, à simplificação da vida e à adoção de hábitos preventivos. Por outro lado, há sempre algumas doses de exagero aqui e ali. Se, de um lado, a prevenção se tornou uma boa aposta, de outro, a hiperprevenção tem ganhado espaço por meio do consumo de bens, serviços e produtos tecnocientíficos que prometem vida longa e saudável. Em meio a tudo isso, o que não falta é conteúdo de saúde circulando por várias plataformas. Das páginas impressas às eletrônicas, e também nas redes sociais, as pessoas trocam informações e conselhos, nem sempre orientadas, sobre dietas, medicações, receitas culinárias e muito mais. Sim, a saúde está no imaginário social. O problema é que isso ocorre nem sempre com responsabilidade. Como saber se a fonte da informação recebida é confiável ou se determinada pesquisa tem relevância do ponto de vista de sua abrangência e metodologia? Como identificar que determinado tema não se trata apenas de modismo? Para quem não é especialista na área fica difícil perceber tais questões. Fica difícil também escolher em qual veículo de comunicação investir a fim de que seja possível acompanhar as notícias de saúde com segurança. Felizmente, há oito décadas a revista Vida e Saúde oferece divulgação científica com solidez.
V
HISTÓRICO O periódico circula ininterruptamente no Brasil desde 1939. No entanto, a primeira tentativa de criar o veículo ocorreu 25 anos antes, quando a Casa Publicadora Brasileira lançou R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
a Saúde e Vida. “Nessa época, a CPB, cuja sede ficava em Santo André (SP), ensaiava os primeiros passos no mercado editorial nacional. Assim, em 1914 lançou a primeira revista de saúde para o público brasileiro, durante o auge da Primeira Guerra Mundial. O primeiro número, com 16 páginas, trazia temas como os efeitos maléficos do álcool e do cigarro, orientações para portadores de tuberculose, alimentação infantil, primeiros socorros em caso de queimaduras e outros temas de prevenção”, afirma Francisco Lemos, que foi editor da revista e estudou a influência do periódico sobre os leitores em sua dissertação de mestrado apresentada em 2012. Apesar de não haver nenhum registro oficial de que Vida e Saúde seja a primeira revista popular do Brasil sobre estilo de vida saudável, muitas evidências levam a crer que ela seja a precursora do jornalismo em saúde. “Foi só a partir da década de 1980, com a preocupação sobre o cuidado do corpo, que começaram a surgir publicações semelhantes em outras editoras”, analisa Marília Scalzo no livro Jornalismo de Revista (Editora Contexto, 2003). Outros indícios de que a revista Vida e Saúde provavelmente seja a mais antiga do segmento vêm dos assinantes. Alguns contam que, desde muitas décadas atrás, já se interessavam por assuntos de saúde, mas não encontravam material popular de divulgação científica. É o caso do cirurgião-dentista Ângelo Roccella, de 87 anos e assinante há 62. “Em 1955, quando me tornei assinante da Vida e Saúde, esta era a única revista que trazia informação sobre prevenção, saúde e alimentação. No mercado editorial brasileiro não 41
havia outra publicação com informação confiável sobre o estilo de vida natural” (Vida e Saúde, julho de 2013, p. 8-9). Em períodos em que estudar não era privilégio de todos e a saúde não tinha o mesmo destaque que tem nos dias de hoje, suas orientações, até então inovadoras, chamavam a atenção das pessoas comuns. Por se tratar de um veículo que sempre buscou tornar o conhecimento acessível, a revista desde o início procurou interagir com o leitor e contextualizar as informações. FILOSOFIA EDITORIAL Promover a saúde por meio da reeducação dos hábitos sempre foi sua proposta. Fundamentando-se em oito remédios naturais (alimentação vegetariana, exercício físico, água, ar puro, luz solar, abstinência de substâncias nocivas e de sentimentos ruins, repouso e confiança em Deus), a revista se propõe a difundir um estilo de vida saudável e, ao mesmo tempo, simples. Alertar a sociedade quanto aos riscos da destruição do planeta e promover atitudes que protejam pessoas, animais, rios, fontes de água, o ar e as florestas também faz parte do seu conjunto discursivo sobre medidas preventivas de saúde.
Numa época em que falar de saúde ainda não estava na moda, a revista Vida e Saúde nasceu com o propósito de divulgar informações sobre estilo de vida com rigor científico, linguagem acessível e viés preventivo 42
A revista Vida e Saúde parte do princípio de que a saúde é muito mais do que a ausência de doença. Antes, a saúde é um estado de bem-estar integral, em que vários fatores concorrem para esse fim. Com base nessa filosofia, em 1939, quando a obesidade ainda não era um problema de saúde pública nacional e internacional, a revista já tratava desse assunto. No mês de setembro do referido ano, uma matéria de duas páginas convidava: “Combatamos a obesidade”. Considerando a atualidade do tema, é no mínimo curioso o fato de a revista ter começado a explorar o assunto há 80 anos. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo pode chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. Ainda em 1939, no mês de maio, a revista tratou sobre o valor nutricional e até medicinal das frutas. Naquela época, ainda não conhecíamos flavonoides, fitoquímicos, antocianinas, nem antioxidantes. Reconhecia-se que a uva faz muito bem, mas desconhecia-se o resveratrol, que combate radicais livres e faz da uva um alimento nutracêutico, ou seja, que além de nutrir também age como remédio, principalmente para o coração. O mesmo se pode dizer sobre o tomate e a melancia, ricos em licopeno, outro nutracêutico que previne o câncer de próstata. O movimento para o corpo também desde cedo ocupou as páginas da publicação. Muito antes de as academias se tornarem tão comuns do cenário urbano, a edição de novembro de 1939 apresentava uma matéria com o título: “Exercícios para pessoas de vida sedentária”. A autora da matéria dizia que a pessoa inativa envelhece rapidamente por falta de atividade física. Outro ponto em que a revista se destaca se deve aos seus colaboradores. Textos e reportagens são assinados por especialistas, mestres e doutores em saúde. Em janeiro de 2015, a revista passou por uma atualização gráfica e apresentou novidades editoriais, como as seções Pediatria, Sexualidade, Corpo Humano e Beleza Saudável. Além disso, a seção de receitas passou a ter caráter educativo, com dicas de um chef, e houve uma aproximação maior do leitor, inclusive pela presença da revista nas redes sociais e com a criação do site revistavidaesaude.com.br. “Quando assumi a revista, há quatro anos, o grande desafio foi tornar ainda melhor um produto que já era muito bom e que tem uma rica tradição no Brasil”, declara Michelson Borges, editor do periódico. Reconhecendo seu legado octogenário, em março a Câmara Municipal de Tatuí, cidade em que está localizada a editora que produz e imprime o material, aprovou uma moção de aplauso e congratulações à equipe do periódico, “pelo seu bilhante serviço de informar, instruir e trabalhar para a construção de uma mentalidade brasileira pró-saúde”. ] AGATHA LEMOS é jornalista, mestre em Ciência e editora associada de Vida e Saúde
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
EVANGELISMO
COLHEITA EM SOLO GAÚCHO
Esforço conjunto em cem pontos de pregação em Porto Alegre leva centenas de pessoas ao batismo na Páscoa JÉSSICA GUIDOLIN
s portões do estádio Beira-Rio, às margens do G uaíba, se abriram no dia 20 de abril para receber cerca de 9 mil pessoas. Porém, dessa vez, a casa do Sport Clube Internacional, um dos principais clubes do Brasil, não sediou uma partida de futebol, e sim testemunhou o poder da mensagem da cruz de Cristo.
Foto: Rafael Fischer
O
A celebração marcou o encerramento do programa de Semana Santa realizado em cem pontos de pregação na região metropolitana de Porto Alegre. A mobilização, que vinha sendo planejada havia dois anos, contou com a participação de pastores da Rede Novo Tempo de Comunicação, Casa Publicadora Brasileira e sedes administrativas da igreja. O esforço evangelístico resultou no batismo de 540 pessoas e na decisão de outros milhares para estudar a Bíblia. Em toda a América do Sul, estima-se que tivemos 105 mil pontos de pregação durante a Páscoa. “Olhamos para as grandes cidades e sentimos que a igreja precisa crescer. Nós tínhamos que mudar o paradigma aqui em Porto Alegre. Na região metropolitana, a presença da igreja é forte, mas na capital não é tão forte assim. Não podemos nos prender às dificuldades, devemos olhar para as oportunidades, e vimos que uma R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
página foi virada na história da igreja nesta cidade. Porto Alegre tem potencial”, avaliou o pastor Erton Köhler, líder dos adventistas sul-americanos. “Os pastores se envolveram, a igreja acreditou e esteve presente, tivemos muitas visitas, batismos e milhares de pessoas que continuarão estudando a Bíblia. O programa de Semana Santa completa 49 anos em 2019, mas está mais vivo do que nunca. Há sede e carência da Bíblia, e a igreja entendeu que nossa missão é chegar próximo das pessoas que têm interesse pela Palavra”, resumiu o pastor Marlinton Lopes, líder dos adventistas do Sul do Brasil. Além da exposição da Palavra e de bastismos, a semana foi marcada por inaugurações de igrejas, centros de influência e escolas, prédios e instituições que darão suporte para a missão adventista na região. Na oportunidade foi lançada também a pedra fundamental
Pastor Luís Gonçalves fala sobre a volta de Jesus para 9 mil pessoas no estádio Beira-Rio, no encerramento da Semana Santa em Porto Alegre (RS)
da sede da Missão Norte do Rio Grande do Sul, em Novo Hamburgo. Uma das histórias de transformação testemunhadas durante a Semana Santa foi a de Gilmar de Brito. Preso há pouco mais de seis anos na Penitenciária Estadual de Canoas (PECAN), ele teve o primeiro contato com a mensagem adventista por meio da rádio Novo Tempo. Foi na prisão também que ele conheceu um senhor adventista de 81 anos que visitava o filho na penitenciária, e pediu a ele um curso bíblico. Do lado de fora da detenção, a mãe de Gilmar localizou uma igreja adventista por meio de uma mulher que foi à sua porta arrecadar alimentos para a campanha do Mutirão de Natal. “Quando recebi permissão para passeio, fui numa quarta-feira à igreja que minha mãe descobriu. Nesse dia havia um coral de crianças cantando. Nunca tinha visto aquilo! Gostei bastante e fiquei muito emocionado. Comecei a ir outros dias e a participar. Deus persistiu comigo e preencheu o vazio que eu sentia”, conta. Quando passou para o regime semiaberto, Gilmar começou a receber estudos bíblicos, reforçando o que havia aprendido na prisão. Ele tomou sua decisão e foi batizado junto com o filho, Robert Eduardo, de 9 anos, no dia 13 de abril. No Beira-Rio, a arquibancada celebrou decisões de pessoas como Gilmar. Isso foi o que Deus fez e fará por grandes cidades como Porto Alegre. ] JÉSSICA GUIDOLIN é jornalista e assessora de comunicação da sede da Igreja Adventista para a região Sul do Brasil
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LOGOS
A PALAVRA viva E ELIAS BRASIL DE SOUZA
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A
verdade proposicional se tornou uma das moedas mais desvalorizadas no mercado da vida cristã atual. Certo evangélico reclamou que muitos púlpitos foram tomados por “terapeutas”, mais preocupados em promover bons sentimentos do que em apresentar a verdade bíblica (David F. Wells, No Place for Truth [Eerdmans, 1993], p. 65). Enquanto isso, um número cada vez maior de cristãos parece preferir uma caminhada mais “doce” com Jesus a se esforçar para compreender os ensinos doutrinários das Escrituras. A experiência, os sentimentos e as percepções individuais se transformaram em alguns dos marcos do mundo pós-moderno, que contribuiu para a ascensão da chamada “pós-verdade”. Em parte, o cenário religioso e social pode explicar por que, para um número crescente de membros da igreja, a dimensão cognitiva da fé adventista do sétimo dia, conforme expressa na declaração de crenças fundamentais da igreja, parece menos relevante para a experiência cristã do que no passado. Com f requência, Jesus é colocado em contraponto com as doutrinas, fazendo parecer que o conteúdo doutrinário das Escrituras seja mais um impedimento do que um guia para um relacionamento genuíno com o Senhor. Embora esteja na moda, essa percepção incorreta contradiz tanto a Bíblia quanto muitas das declarações mais explícitas de Jesus sobre o conteúdo cognitivo da fé (Mt 21:42; 22:29; Mc 12:24; Lc 24:45; Jo 8:32; 14:6; 17:17). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Ilustrações: Adobe Stock
JESUS E AS 28 CRENÇAS FUNDAMENTAIS SÃO COMPATÍVEIS?
A PALAVRA escrita REVELAÇÃO PESSOAL E PROPOSICIONAL As Escrituras retratam Jesus como o “Verbo” encarnado de Deus (Jo 1:1). O termo grego logos, embora costume ser traduzido por “verbo” ou “palavra”, não se refere, em geral, a um único vocábulo, mas sim a uma série de palavras compostas de sujeito e predicado que formam uma frase ou até mesmo um discurso. A pessoa de Jesus e Seus ensinos são declarações ou discursos salvadores de Deus para a humanidade. Cristo passou a vida na Terra realizando obras de amor e, por meio de palavras/declarações, Ele explicou os privilégios e as responsabilidades da cidadania no reino de Deus. Jesus também reafirmou a relevância das Escrituras como um testemunho a respeito Dele e deixou claro que a Palavra de Deus permanece em vigor (Lc 16:17; Jo 5:39). Logo, a verdade, conforme entendida e ensinada por Jesus, é não somente pessoal, mas também proposicional. Não faz nenhum sentido afirmar que Jesus é seu Salvador pessoal e ao mesmo tempo rejeitar as verdades proposicionais relacionadas à Sua Pessoa e obra. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
Ellen G. White afirmou: “Os que pensam não ser importante se creem na doutrina, contanto que creiam em Jesus Cristo, encontram-se em terreno perigoso” (Cristo Triunfante, p. 257). Um relacionamento genuíno com Jesus inclui aceitação de Sua pessoa e conformidade com Seus ensinos (Mt 7:21-27). A ideia de aceitar Jesus e desconsiderar as Escrituras é paradoxal, pois é somente por meio das Escrituras que Jesus pode ser identificado e conhecido como Salvador e Senhor. Sem a primazia das Escrituras como a revelação proposicional de Deus, não haveria maneira de identificar o verdadeiro Messias em meio aos muitos pretendentes que têm reivindicado a messianidade, desde o judaísmo do segundo templo até hoje. Além disso, somente por meio da Bíblia é possível saber a diferença entre o Verbo que Se fez carne, morrendo por nós na cruz, e os retratos ficcionais de Jesus feitos pelos evangelhos gnósticos. Sem o testemunho das Escrituras, nosso conceito de Jesus dependeria
de reconstruções subjetivas, como as propostas pelas diversas pesquisas sobre o Jesus histórico. Ambientes culturais e intelectuais diferentes produzem retratos de Cristo segundo a respectiva agenda política e os interesses culturais do momento. Jesus já foi retratado como um filósofo cínico, um homem santo cheio do Espírito, um revolucionário social, um profeta escatológico ou o Messias. Assim, parece claro que o verdadeiro retrato de Jesus só pode emergir do estudo cuidadoso da Bíblia, sob a guia do Espírito Santo. AS 28 CRENÇAS FUNDAMENTAIS Qual seria, então, a natureza e o papel das nossas 28 crenças fundamentais, conforme expressas nas declarações votadas pela 45
igreja durante as assembleias da Associação Geral? Em primeiro lugar, tais declarações não têm o objetivo de funcionar como credos. Somente a Bíblia é nosso credo (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 416). Os credos, conforme elaborados por tradições religiosas, muitas vezes se transformam em expressões imutáveis e fossilizadas da fé de determinada geração e, por isso, se tornam barreiras para uma compreensão adequada das Escrituras. No entanto, nossas declarações de crenças consistem em expressões dinâmicas da sabedoria coletiva da igreja, guiada pelo Espírito Santo. Elas podem ser melhoradas, expandidas, resumidas ou esclarecidas à medida que a igreja cresce em sua compreensão das Escrituras. Da maneira que se encontram, porém, elas expressam nossa melhor compreensão bíblica atual do amor de Deus e de Sua obra de salvação por intermédio de Jesus Cristo, da natureza e condição da humanidade, da igreja, da vida cristã e da esperança escatológica na segunda vinda. Declarações claras acerca do conhecimento de Jesus e de Sua vontade para nós são de importância suprema “nesta era de engano, pluralismo doutrinário e apatia. Semelhante conhecimento de Cristo é a única salvaguarda contra aqueles que, parecendo ‘lobos vorazes’, ‘se levantarão [...] falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles’ (At 20:29, 30)” (Nisto Cremos [CPB, 2018], p. 10). Além disso, tal declaração também tem o objetivo “de auxiliar aqueles que estão interessados em saber por que cremos no que cremos” (ibid.). Uma vez que as crenças fundamentais expressam nossa melhor compreensão atual acerca de ensinos bíblicos cruciais, menosprezar ou denegrir essas declarações acaba apontando para uma atitude mais problemática em relação à Bíblia em si. Uma vez que as crenças fundamentais não são um credo – e é bom que seja assim –, a discordância delas sempre deve ser tratada à luz de seu fundamento bíblico correspondente. Em outras palavras, o grande critério para avaliar o compromisso de qualquer indivíduo com as crenças fundamentais permanece sendo a Bíblia e a Bíblia somente. A importância das doutrinas de modo geral e de nossas crenças fundamentais de maneira particular foi resumida de forma sucinta nas seguintes palavras: “A doutrina é parte essencial da cola que mantém unidas as instituições nas quais a maioria de nós adquire as habilidades necessárias para nos engajar na aventura da teologia. Se a cola for neutralizada, 46
LONGE DE SER UMA LISTA ÁRIDA DE PROPOSIÇÕES INTELECTUAIS, NOSSAS CRENÇAS FUNDAMENTAIS APONTAM PARA O JESUS DAS ESCRITURAS COMO O GRANDE CENTRO, QUE MANTÉM A IGREJA UNIDA NA FORMA DE UM CORPO MUNDIAL DE CRENTES
as instituições caem por terra. E, se as instituições desaparecerem, a igreja perderá uma parte de extrema importância na conexão entre gerações. Se descartarmos nossa doutrina, a igreja precisará da estrutura de que nossos filhos necessitarão quando chegar sua vez de transmitir a fé para seus descendentes” (John McLarty, “Doctrine and Theology: What’s the Difference?”, Adventist Today, janeiro-fevereiro de 1998, p. 21).
O CENTRO DA DOUTRINA Embora possamos discordar em relação a detalhes e não ter respostas para todas as perguntas, à medida que crescemos no entendimento e na aplicação das Escrituras, devemos permanecer unidos nas declarações que a igreja mundial votou como expressões de nossa melhor compreensão atual dos ensinos bíblicos. Longe de ser uma lista árida de proposições intelectuais, nossas crenças fundamentais apontam para o Jesus das Escrituras como o grande centro, que mantém a igreja unida na forma de um corpo mundial de crentes. Conforme Ellen G. White observou: “Cristo é o centro de toda verdadeira doutrina. Toda religião genuína se encontra em Sua Palavra e na natureza” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 453). Portanto, para os adventistas do sétimo dia, as Escrituras continuam a ser a fonte da doutrina, enquanto Cristo é o centro de toda crença que adotamos como igreja mundial. Somos chamados a aderir tanto a Cristo, a Palavra Viva, quanto à Sua Palavra escrita, com “a mente e o coração, pensamentos e sentimentos, razão e fé, teologia e doxologia, esforço mental e o ministério do amor”, como escreveu John Piper (Think: The Life of the Mind and the Love of God [Crossway, 2010], p. 15). Mas, ao lidar com oposição ou mesmo rejeição ferrenha às nossas crenças fundamentais, devemos manter na lembrança esta sábia declaração de Ellen G. White em The Advent Review and Sabbath Herald (4 de dezembro de 1900, parágrafo 10): “A verdade defendida com injustiça é a maior maldição que pode sobrevir ao mundo. Mas a verdade como é em Jesus é um sabor de vida para vida. Vale a pena possuí-la. Vale a pena vivê-la. Vale a pena defendê-la.” ] ELIAS BRASIL DE SOUZA, doutor em Teologia, é diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica na sede mundial da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA)
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PÁGINAS DE ESPERANÇA
DE PAI PARA FILHO PASTOR METODISTA FALA DA CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA ADVENTISTA PARA A FORMAÇÃO RELIGIOSA DA SUA FAMÍLIA WENDEL LIMA
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onheci as publicações adventistas ainda na juventude, em Santos (SP). Eu era membro da Igreja Metodista e tinha um amigo adventista que, vez ou outra, me presenteava com a Revista Adventista. Isso foi na década de 1970”, conta o pastor Nicanor Lopes, de 60 anos. Até ali sua impressão sobre a Igreja Adventista refletia um pouco da discussão apologética existente entre a juventude cristã da época. Para ele, os adventistas tinham jeito de evangélicos, mas o fato de não guardarem o domingo era algo que gerava desconfiança nele. A despeito isso, Nicanor via com bons olhos as publicações adventistas infantis e sobre saúde. Foi em meados da década de 1980, quando ele trabalhava como pastor em Rondonópolis (MT), que um colportor chegou até sua casa por intermédio da escola adventista local. Naquele tempo e contexto, o acesso a produtos cristãos era bem mais difícil do que hoje. “Como eu gostava muito da música dos Arautos do Rei, comprei uma coleção de LPs do grupo e, logo depois, uma coleção de As Belas Histórias da Bíblia”, lembra Nicanor, que é casado com uma musicista e diz ser admirador também do grupo Novo Tom. “Eles conseguiram unir musicalidade contemporânea e responsabilidade teológica nas letras”, justifica. No fim dos anos 1980, ele ainda assinava as revistas Nosso Amiguinho e Vida e Saúde.
Foto: Arquivo pessoal
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NICANOR USOU A COLEÇÃO AS BELAS HISTÓRIAS DA BÍBLIA COM OS FILHOS E DEPOIS GUARDOU O MATERIAL POR DÉCADAS PARA PRESENTEAR OS NETOS Porém, é da obra As Belas Histórias da Bíblia que a família Lopes guarda as recordações mais especiais. Esse material foi útil principalmente nos quatro anos (1993-1997) em que Nicanor e sua família serviram na Alemanha. No intuito de que seus dois filhos conhecessem bem as narrativas bíblicas e não perdessem o contato com a língua portuguesa, Lúcia Helena, a mãe, contava histórias para as crianças antes de dormir. Quando voltaram para o Brasil, os filhos já estavam maiores e não se interessavam mais pelo material. Porém, a coleção foi guardada na biblioteca do pai. O tempo passou, e os filhos dele se casaram e acabaram se tornando pais no mesmo ano, em 2015. “No dia do batizado do meu neto Mathias e da minha neta Luna, surpreendi meus filhos e noras dando de presente cinco
volumes da coleção As Belas Histórias da Bíblia para cada família. E os desafiei a conceder aos meus netos o mesmo direito que eles tiveram de conhecer as narrativas bíblicas. Foi um momento de comoção na família, porque muitas memórias vieram à tona”, ele relata. Dos 37 anos de ministério de Nicanor, que se aposentou em dezembro, 18 deles foram vividos como professor da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo. No programa de mestrado e doutorado da Umesp, ele teve a oportunidade de lecionar para adventistas e orientar pesquisas sobre o adventismo, o que classifica como uma experiência enriquecedora. Ele destaca o interesse de alguns adventistas em entender melhor os desafios missiológicos atuais. Os estudos acadêmicos indicam que as igrejas protestantes de missão usaram as publicações, a educação e a ação social como suas principais estratégias de expansão no Brasil. Contudo, segundo o professor, talvez o adventismo se destaque por ter mantido o ministério da colportagem, se atualizado no ensino confessional e inovado em musicalidade e no uso das mídias digitais. ] WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista
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MATERNIDADE MADURA MUITAS MULHERES ESTÃO ENGRAVIDANDO MAIS TARDE E TENDO FILHOS APÓS OS 40 ANOS. QUE VANTAGENS E DESVANTAGENS EXISTEM NESSA ESCOLHA? TALITA CASTELÃO
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desejo de ser mãe está presente na maioria das mulheres. Se no passado nossa função era basicamente ter filhos e cuidar deles, hoje as demandas da vida feminina mudaram completamente. Carreira, estudo, mudanças físicas e companheiro são levados em consideração quando a decisão é engravidar. Mas o relógio biológico pressiona, e muitas mulheres vivem um conflito sobre o momento de ter um filho. Foi na década de 1990 que o IBGE constatou o primeiro aumento na participação de mulheres de 40 a 49 anos de idade sendo mães pela primeira vez. De lá para cá, a maternidade nesse extremo do período reprodutivo tem sido uma prática cada vez mais comum. Isso é bom ou ruim? Em termos biológicos, consideramos que gestações até os 35 anos de idade são mais 48
INDEPENDENTEMENTE DA IDADE, SE UMA MULHER DECIDE SER MÃE, PRECISA ESTAR DISPOSTA A VIVENCIAR A MATERNIDADE E A MATERNAGEM COM RESPONSABILIDADE E AMOR
viáveis no sentido de a mulher possuir maior reserva de óvulos e também pelo menor risco de o bebê apresentar algum problema genético. Diabetes e hipertensão também são mais comuns nas gestantes com mais idade, e isso pode predispor ao parto prematuro. Os níveis de TSH (hormônio estimulante da tireoide que é produzido na hipófise) devem ser acompanhados porque o envelhecimento aumenta o risco de hipotireoidismo (baixa produção dos hormônios da tireoide, responsáveis pelo metabolismo) na mãe, fazendo com que ela ganhe muito peso e até sofra um aborto. Apesar dos cuidados que uma gestação em idade avançada requer, os benefícios emocionais podem ser grandes. A mulher mais madura tende a estar profissionalmente mais estabilizada e num núcleo familiar mais sólido. Isso permite um olhar diferenciado para o filho, sem as preocupações que a mãe mais jovem normalmente apresenta. Além disso, mães jovens costumam ser mais inseguras e instáveis quando submetidas a grande pressão de lidar com um recém-nascido. Um estudo na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, aponta inclusive que mães com mais idade educam sem tanto castigo e com menos violência verbal. Tudo isso favorece a saúde emocional e o vínculo da criança com a mãe. O estudo mais curioso, contudo, foi realizado na Universidade de Boston (EUA). Contrariando a crença de que “mães mais idosas não verão os filhos crescerem”, a investigação concluiu que mulheres que engravidam tardiamente têm até o dobro de chance de chegar aos 95 anos de idade, quando comparadas às que têm o último filho antes dos 30 anos. Independentemente da idade, a relação mãe-filho é um tema que requer afeto. Não há problema em não ter filhos, mas, se uma mulher decide ser mãe, precisa realmente estar disposta a vivenciar a maternidade e a maternagem com responsabilidade e amor. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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Foto: Adobe Stock
EM FAMÍLIA
ESTANTE
SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS
NOVO LIVRO LANÇADO PELA CPB MOSTRA QUE O CULTO FAMILIAR É O PROPÓSITO DIVINO PARA AS FAMÍLIAS ADRIANA SERATTO
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e acordo com a escritora Ellen G. White, se há um tempo em que cada casa deve ser um lugar de oração, esse tempo é hoje (Orientação da Criança, p. 517). Para fortalecer os lares nesse propósito e facilitar tal prática, a CPB acaba de lançar a obra O Altar da Família (2019, 204 páginas). Em linguagem acessível, o livro reúne métodos e técnicas para o estudo da Bíblia em grupos familiares. Os autores o fundamentaram em pesquisas e na experiência deles como auxiliadores de relacionamento de casais. O material é dividido em quatro capítulos, que apresentam um tema central dividido em tópicos. Na sequência de cada tópico, é disponibilizada uma ficha com perguntas que orientam a reflexão e a oração em família. Os autores apontam os desafios enfrentados pela família do século 21: nem todos os membros da família tomam as refeições no mesmo horário, tampouco têm os mesmos horários de saída e chegada em casa; falta tempo para os membros da família se reunirem para o culto familiar; falta conhecimento para elaborar e dirigir o culto familiar; falta preparação adequada para esse momento; muitos têm dificuldades para orar em voz alta e apresentar as reflexões de forma interessante; existe a ideia de que o culto familiar seja responsabilidade da mulher; nota-se um sentimento de vergonha perante os jovens, as crianças e outros. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
A fim de se contrapor a esses desafios, o livro apresenta vários recursos: • Planilhas para a realização do culto familiar. • Planejamento de textos bíblicos para meditações temáticas. • Textos bíblicos para estudo utilizando o método pictóricoindutivo. • Plano de leitura da Bíblia e do Espírito de Profecia. • Modelos de meditações bíblicas ilustradas. • Recursos e métodos para contação de histórias ou parábolas rabínicas. • Guia para utilizar trabalhos manuais e artísticos no culto familiar. Entretanto, o livro está longe de ser apenas um manual. Indispensável para os que desejam superar os desafios e reunir a família para erigir um altar a Deus, ele mostra que o culto familiar é o propósito divino para as famílias. Os autores enfatizam que o plano original de Deus, desde o Éden, era estabelecer comunicação direta com o ser humano, tendo um encontro diário com o casal “pela viração do dia” (Gn 3:8). Por meio desse encontro, Deus tinha a oportunidade de instruir Seus filhos. Em nossos dias, é ainda maior a necessidade de conhecer a vontade divina e ter nosso caráter moldado por Seus ensinos. ] ADRIANA SERATTO, formada em Letras, é pós-graduada em Estudos Adventistas e trabalha como revisora de livros na CPB
TRECHO
“Marido, olhe hoje para a sua esposa lembrando-se do desígnio de Deus para o seu casamento, deixando esse pensamento se transformar em sentimentos de alegria: ‘Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne’ (Gn 2:23). Esta é uma parte de mim. Uma pessoa sobre quem não tenho direitos de posse, mas de quem conquisto diariamente os afetos unificadores, pela partilha do amor de Deus. Uma pessoa unida à minha pessoa, formando nessa partilha espiritual, física e emocional ‘a unidade’ segundo o desígnio de Deus. Esposa, imagine a força dessa certeza do desígnio de Deus para o seu relacionamento conjugal em plena simetria de pensamento, atitude e ação. Numa lógica de paridade, procure também construir e atingir esse relacionamento harmonizador e unificador.” 49
ENFIM
A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA PARA IGREJAS ENVOLVE UMA QUESTÃO MAIS PROFUNDA DO QUE MUITA GENTE PENSA FELIPE LEMOS
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assunto é polêmico para alguns, mas pouco entendido por grande parte da sociedade. O tema da imunidade tributária para instituições religiosas, prevista na Constituição Federal de 1988, foi discutido em seminário realizado no final de março na sede sul-americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Brasília. Alguns pontos chamam a atenção de quem olha o tema pelo prisma da finalidade das instituições religiosas e compreende que a abordagem precisa ser mais profunda. Em uma rápida análise, costumeiramente feita por críticos ao papel e função das organizações religiosas, a imunidade tributária soa como absurda e inaceitável. Aqueles que são contrários ao direito constitucional advogam a ideia de que as igrejas não precisam de um instrumento especial de proteção por parte do Estado laico brasileiro. Há ainda os que insistem em generalizar usando o argumento de que muitas igrejas ou entidades religiosas cometem abusos e ilegalidades financeiras e, assim, não são dignas da imunidade. No entanto, quando o tema é visto no contexto da finalidade e da função social das entidades religiosas, a percepção se modifica. É bem verdade que, historicamente, a imunidade de tributos foi criada para beneficiar a nobreza, o clero e outros privilegiados. 50
CALCULA-SE QUE O SETOR FILANTRÓPICO BRASILEIRO, ENGLOBANDO 11 MIL ORGANIZAÇÕES, DEVOLVA À POPULAÇÃO 7,39 VEZES MAIS DO QUE PAGARIA EM IMPOSTOS PARA O GOVERNO Mas isso ocorreu na antiga Roma e em velhos tempos na França. O real sentido da imunidade tributária, como o conhecemos hoje no Brasil, é bem claro. Tem o propósito de garantir a liberdade de culto e de expressão religiosa. Além disso, significa permitir que uma entidade dessa natureza (enquadrada no chamado terceiro setor) cumpra sua finalidade de melhorar a vida das pessoas por meio de programas, projetos, bolsas e demais ações sociais. Dados do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif) demonstram a abrangência e relevância do papel desempenhado por essas organizações,
FELIPE LEMOS, jornalista e especialista em marketing, é gerente da assessoria de comunicação da sede sul-americana da Igreja Adventista
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2019
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PAGAR OU NÃO PAGAR?
que somam 11 mil no território nacional. Atestam, por exemplo, que, em média, os hospitais filantrópicos representam 59% de todas as internações de alta complexidade no Sistema Único de Saúde. Estimase que 15% de todos os alunos do país matriculados na educação superior estudem em instituições filantrópicas. E temos ainda outro dado significativo: 47% das vagas oferecidas pela rede socioassistencial privada provêm do setor filantrópico. O cálculo mais comum é de que o setor filantrópico brasileiro devolva à população 7,39 vezes mais do que pagaria em impostos para o governo. Ou seja, ao abrir mão dos tributos não cobrados dessas instituições, o Estado não sai perdendo. Até porque nem condições estruturais possui para realizar boa parte dessas atividades. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma dessas instituições. Com sua rede hospitalar, educacional e agência humanitária (ADRA), ela atende essas finalidades filantrópicas. Faz isso por uma questão filosófica. Ao mesmo tempo, a igreja consegue desenvolver muitos projetos por conta da imunidade tributária. Ao deixar de recolher alguns impostos, aplica os recursos nesse tipo de atividade. Pense em um projeto social da ADRA que beneficia muitas pessoas, independentemente de afiliação religiosa, e que, em muitos casos, vivem em situação de vulnerabilidade. Ou então nas bolsas concedidas a estudantes de algum colégio ou escola adventista. Não se trata de privilégio, benesse, vantagem ou mesmo isenção. A imunidade tributária é um dispositivo que nações como o Brasil criaram para dar possibilidade de as instituições religiosas cumprirem um papel social importante. ]
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Esta obra começa nas Escrituras, passa aos escritos de Ellen G. White, aos hinários adventistas e aos documentos da igreja, visando encontrar fundamentos em que possa se estabelecer um ministério musical para a glória de Deus. Desse encontro com Deus e Sua Palavra, surge o desejo de oferecer um serviço de adoração, de amor e edificação por meio de vozes e sons. A música se converte, finalmente, em um ministério inspirado e guiado por Deus para Sua honra eterna e para a redenção da humanidade.
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Valendo-se de uma rica experiência profissional e um amplo material de pesquisa, os autores apresentam técnicas simples e práticas para restaurar o altar da família e ajudar essa instituição divina a se aproximar de Deus em um nível mais pleno. Este livro fornece as ferramentas adequadas para tornar eficaz a comunicação entre a família e o Criador. É um material indispensável para aqueles que desejam superar os desafios e viver segundo o coração de Deus.
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Formato especial para as crianças Toda grande história precisa de um grande começo. Esta não seria diferente. Os personagens que você vai conhecer são incríveis e viveram aventuras impressionantes: um ser vivo criado a partir do barro, uma família que enfrentou uma tempestade, um irmão que fingiu ser o outro, e até um homem que interpretava o significado dos sonhos. Nada disso é fruto da imaginação. Tudo aconteceu de verdade. Está preparado para viver essa aventura? É só abrir este livro. A história já vai começar.
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