EM FAMÍLIA
SOB O MESMO TETO
AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DE RELAÇÕES AFETIVAS DESAFIAM O CONCEITO TRADICIONAL DE FAMÍLIA
as que bagunça é essa? O mundo está de cabeça virada! Talvez você já tenha ouvido ou falado isso. Às vezes, confesso, penso assim também. E tenho boas razões para me questionar. Depois de um dia inteiro de atendimentos ouvindo sobre virgindade sendo leiloada, solidão no casamento, divórcio litigioso, filhos que abandonam os pais, depressão pós-parto, agressão física entre cônjuges e negligência emocional de crianças, eu realmente me pergunto se há esperança para a instituição família. Como projeto original, família é uma perfeição, mas, na prática, dá bastante trabalho. Antigamente somente um tipo de família era aceito e ninguém pensava muito em qualquer forma de variação. A “família margarina”, como conhecida nos comerciais de TV, tinha um pai, uma mãe, um filho e uma filha – u nidos, felizes, bem alimentados e bonitos. O ponto é que nem nas propagandas esse ideal de família está aparecendo mais. A razão é simples: ela não existe. As famílias reais, por mais estruturadas que sejam, vivenciam diversos e complexos problemas. E nem sempre encontram a melhor saída. Sentem-se impotentes diante da avalanche de desafios que a vida lhes impõe. É importante falar sobre isso, porque muita gente se sente frustrada achando que só na sua casa as coisas não dão certo. Outra coisa que machuca as pessoas é acreditar que, se não tiverem uma família tradicional, não são uma família. Isso também não é verdade. O que acontece é que a sociedade muda constantemente e, sendo a família uma das instituições mais importantes do tecido social, ela também sofre transformações com o tempo.
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FAMÍLIA PODE SER DEFINIDA COMO UM GRUPO DE ANCESTRALIDADE COMUM OU QUE VIVE SOB O MESMO TETO
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Do ponto de vista formal, família pode ser definida como um grupo de pessoas com ancestralidade comum ou um grupo de pessoas que vive sob o mesmo teto. Porém, quando se fala de família, é comum pensar na estrutura que surge a partir do casamento entre um homem e uma mulher, com os filhos gerados dessa união. Contudo, desde a Constituição Federal de 1988, outras formas de família passaram a ser reconhecidas. Por exemplo: monoparental (qualquer um dos pais e seus filhos), anaparental (apenas os irmãos), unipessoal (pessoa só), mosaico (casal num novo relacionamento com filhos de relacionamentos anteriores) e eudemonista (organizada pelo afeto, uma parentalidade socioafetiva). Não importa o tipo, o fato é que existe família para todos. Porém, a maioria dos cristãos, com base na interpretação da bíblia, entende que há um ideal de família e que esse modelo permanece inalterado apesar das mudanças pelas quais o mundo passa. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Agosto 2019
Foto: Adobe Stock
TALITA CASTELÃO