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Abordagem Geral

Sexto Congresso Mundial da Liberdade Religiosa, Cidade do Cabo, África do Sul, 27 de Fevereiro a 1 de Março de 2007 Enfrentar o ódio Religioso

Apanhado Geral*

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Cerca de seiscentos participantes entre os quais representantes de governos, embaixadores, personalidades do mundo religioso ou secular e peritos na liberdade religiosa assistiram ao Sexto Congresso Mundial da International Religious Liberty Association (IRLA), organizada na Cidade do Cabo, África do Sul, de 27 de Fevereiro a 1 de Março de 2007, para estudar o tema “Enfrentar o Ódio Religioso”.

“Este não é um congresso tradicional”, comentou o Dr. Jonathan Gallagher, Vice-secretário Geral para a imprensa, da IRLA. Nós lutamos contra um flagelo real, o ódio religioso, e procuramos respostas e soluções concretas. A noção das realidades e a necessidade imperiosa de agir levam os delegados a querer que as coisas mudem radicalmente. A coisa mais difícil no mundo é mudar as mentes (a nossa e a dos outros) mas isso é essencial se desejamos ver crescer e desenvolver-se uma verdadeira liberdade religiosa. A violência motivada pela religião está a aumentar, o extremismo e a intolerância tornam-se a norma. Acreditamos que este Congresso dará a oportunidade para as pessoas, qualquer que seja a sua fé, se aliarem e procurem, em conjunto em soluções para os diversos problemas relacionados com a Liberdade Religiosa e os Direitos do Homem ao redor do globo, acrescentou Gallagher. A maioria das perseguições acontece em segredo. Organizando um Congresso como este, chamamos a atenção sobre lugares onde intolerância religiosa existe, para que as pessoas tomem consciência de que isso é inaceitável”.

Na sua introdução John Graz Secretário General IRLA explicou até que ponto um tal congresso era essencial. “Como há muito tempo que o direito de escolher a sua religião não é respeitado, a como há muito tempo que inocentes são vítimas de discriminação, perseguidas, e privadas dos seus direitos naturais por causa das sua convicções, precisamos de congressos, como este, sobre liberdade religiosa”. Depois precisou que a escolha da Cidade do Cabo – é o primeiro Congresso Mundial sobre a liberdade religiosa que se realiza no continente africano – foi um

A sala de conferências do edifício do Congresso da Cidade do Cabo, na África do Sul. Foto Glen Mitchell

acto deliberado com o objectivo de tratar dos assuntos que existem em África e por todo o lado. O propósito deste Congresso, como dos cinco anteriores, é chamar a atenção para a necessidade da liberdade religiosa para todos, no mundo. Foi a isto que John Graz, se referiu quando falou “de um congresso sobre a liberdade religiosa […] e não um congresso religioso.

“A nossa vinda à Cidade do Cabo não mudará o mundo num dia, mas contribuirá para mostrar ao mundo que discriminação religiosa e perseguição não são inevitáveis. Há aqui pessoas vindas de todos os horizontes, cuja fé e as tradições diferem, que querem demonstrar que há outro modo de lidar com as diferenças. Há as que escolheram vir a este Congresso porque estão determinados em promover a paz e a justiça através da liberdade religiosa para todos e por todo o lado.

No seu discurso de abertura, Denton Lotz, Presidente da IRLA, definiu o primeiro objectivo deste Congresso que “contribuirá para a liberdade religiosa assim como para a harmonia e a paz entre as nações e as religiões. Mais do que a simples “pro-existência” isto é, viver em conjunto na verdade, para uma sociedade justa e equitativa para com todos, incluindo os pobres, os perseguidos e os oprimidos. […] Se, a partir deste Congresso, o nosso trabalho de investigação e de defesa da liberdade religiosa conduzir a um tal estilo de vida, então poderemos combater os ódios religiosos seja qual for o local onde nos encontramos”.

O discurso de Ela Ghandi, vice-presidente da Conferência Mundial das Religiões para a Paz – World Conference on Religion and Peace (WCRP) – e neta do Mahatma Ghandi, desenvolveu a noção de liberdade. Declarou que “nenhuma crença se pode colocar num plano superior a uma outra” e que, ‘”enquanto podermos praticar livremente a nossa religião, não haverá nenhum problema no mundo”.

O extremismo religioso foi condenado por vários intervenientes. O reverendo John Oliver falou abertamente sobre a forma como muitas denominações propagam e alimentam a ideia de que eles fazem parte dos “eleitos” e os outros dos “perdidos”. O vice-presidente de IRLA, Bert B. Beach exprimiu a sua preocupação em relação aos John Graz, Secretário-Geral da IRLA, entregando fundamentalistas, e descreveu-os uma lembrança ao Primeiro Ministro da Província como usando “uma canga ideolódo Cabo Oeste, Ibrahim Rasool. Foto Glen Mitchell gica das mais apertadas – para não dizer paralisantes”. Termos como “perigoso”, “domínio”, “inflexível” e “controlador” foram usados para definir o que muitos chamaram “violações dos direitos humanos”.

Quanto ao professor Jaime Contreras da Universidade de Alcala, Espanha, considerou que a união da religião e do governo mina a importância da consciência humana.

Voltando ao carácter único de cada crença, Nokuzola Mndende lamentou que a Religião Tradicional africana tenha “ainda necessidade de ser liberta”, no sentido em que os tradicionalistas africanos são sempre representados oficialmente por porta-vozes cristãos. “Uma vez que falamos sobre liberdade religiosa, que se deixe falar as religiões indígenas; que não se fale em seu nome”.

Foi com uma abordagem decididamente Sul-africana que o professor Aslam Fataar da Universidade do Cabo-Ocidental fez o seu discurso inspirando-se na luta contra o Apartheid. O seu objectivo era, naquela época, impressionar os dirigentes que se encontravam à cabeça das comunidades desfavorecidas, e oferecer a sua ajuda onde fosse necessária. “Devemos escutar”, disse ele. E teve a aprova-

ção do dr. Mongezi Guma, presidente da Comissão para a Protecção e Promoção dos Direitos Culturais, Religiosos e Linguísticos da África do Sul. Sobre “a herança diminuída” este último insistiu em que as pessoas de diversos meios religiosos sejam tratadas com digSrª Helen Zille, Presidente da Câmara da Cidade do Cabo, dando as boas vindas aos participantes. Foto IRLA nidade sejam quais forem as suas convicções.

Robert Seiple antigo presidente da organização humanitária World Vision, antigo primeiro embaixador extraordinário do Departamento de Estado americano para as questões da liberdade religiosa internacional, e que foi, durante longos anos, membro do conselho de especialistas da IRLA fez um jogo de palavras a partir da expressão bem conhecida “separação entre a Igreja e o Estado” (church and state) pedindo a todos os participantes do Congresso para promoverem “a separação entre a Igreja e o ódio” (church and hate). E acrescentou: “Este foi um ano extraordinário para as questões da liberdade religiosa, em termos de publicidade”. Sob a aprovação da assembleia, passou em revista as Srª Ela Gandhi, neta do Mahatma Gandhi, que é Presidente da principais circunstâncias World Conference on Religion and Peace (WCRP) e membro em que durante o ano de de várias organizações que trabalham em favor da paz. 2006, a religião inspirou a intolerância e a violência.

A importância do diálogo. À esquerda o reverendo John Oliver, pastor da Igreja Anglicana, membro fundador de Interfaith Iniciative da Cidade do Cabo e director da organização de beneficência Chair of St. Anne’s Homes, que cuida dos sem abrigo assim como de mulheres maltratadas e dos seus filhos. À direita Seyed Mohammed Ali Abtati, antigo vice-presidente especializado nas questões jurídicas no Parlamento Iraniano (2000), antido conselheiro do presidente Khatami (2004) e autor de diversas publicações sobre o diálogo inter-religioso. Foto IRLA.

Entremeando o seu balanço com comentários amargos, falou de uma “liberdade de imprensa terrivelmente abusiva” a propósito da controvérsia sobre as caricaturas dinamarquesas. Depois evocou a condenação à morte de Abdul Rahman, no Afeganistão, por se ter convertido do islamismo ao cristianismo, os conflitos entre os esquadrões da morte xiitas e sunitas (“uns e outros tiveram de pagar um preço bem alto em termos de terror e brutalidade”), a guerra de trinta e quatro dias entre o Hezbollah e Israel durante o ano de 2006 (“uma guerra absurda entre os descendentes de Abraão, os povos do Livro”) e, por fim, a controvérsia que adquiriu um nível mundial quando o Papa Bento XVI utilizou um obscuro texto medieval num dos seus sermões.

Pare resumir o seu objectivo, Robert Seiple declarou ainda: “Há as pessoas que estão prontas a morrer pela sua fé, mas infelizmente há da mesma maneira muitos que estão prontos a matar pela sua religião. Nós negligenciamos este assunto assim como os cálculos geopolíticos, mas os riscos e os perigos são nossos (e eles são consideráveis!).”

Como actual presidente do Council for America’s Freedom, felicitou o Congresso pelo seu trabalho de incitamento ao respeito entre pessoas de hori-

Jean-Paul Barqon (2º a partir da direita) secretário-geral da secção francesa da AIDLR. Foto Karel Nowak

zontes muito diversos, sublinhando a necessidade para encorajar, também, um melhor conhecimento mútuo. “É por falta de conhecimento uns dos outros que se instala a falta de respeito” insistiu. Se não nos preocupamos com os outros, como podemos respeitá-los?”

Robert Seiple também encorajou os membros do Congresso a irem além da mera tolerância perante as diferenças. “Tolerância é uma palavra inconsistente”, afirmou. Tolerar o outro é apenas suportá-lo; Eu não tenho que gostar de si; Apenas tenho de o tolerar”. Recordou que se os que têm fé querem combater o ódio religioso, têm que promover mais a liberdade de acreditar. Devem promover um “ministério de presença” – isto é, a difícil tarefa de estar “suficientemente perto para tocar, compreender, e abraçar as pessoas que talvez ontem fossem, talvez, seus inimigos”.

Numa intervenção cheia de entusiasmo, Ibrahim Rasool, Primeiro-Ministro da Província do Cabo Ocidental, falou com ênfase sobre as suas convicções de liberdade religiosa. O que devia ser apenas uma mensagem de boas-vindas aos delegados ao Congresso Mundial da IRLA transformou-se numa declaração argumentativa de apoio aos direitos religiosos que ultrapassaram, em muito, os discursos habituais. Ibrahim Rasool declarou que para combater o ódio religioso, “aquilo de que precisamos não são apenas de discussões entre muçulmanos, judeus, ou cristãos […].

Precisamos sobretudo de discutir as mentalidades que reinam nas diferentes religiões”. A propósito do problema da violência e do terrorismo inspirados pela religião, falou de “um mundo perturbado que se justifica baseando-se na reliMonzegi Guma, membro do comité para a protecção e a promoção dos gião. Segundo direitos culturais, religiosos e linguísticos dos grupos, antigo director dos ele é necessário programas de desenvolvimento do Conselho Ecuménico da África do Sul. compreender Foto IRLA. que a incerteza causada pelo mundo moderno provoca, por sua vez, um dogmatismo ainda maior. “É então que nasce o extremismo: cataloga-se, porque não se pode debater nem discutir; luta-se porque se esqueceu como amar. Isola-se e condena-se porque não se sabe como unir e encontrar um terreno de entendimento; E aperfeiçoou-se a arte de morrer por uma causa, porque não pode viver por essa causa”.

Para Ibrahim Rasool, a liberdade religiosa “significa mais do que a liberdade de acreditar – é igualmente a liberdade de deixar acreditar. A liberdade religiosa significa, mais do que a liberdade de evangelizar – é também a responsabilidade de encontrar pontos comuns com o outro, mesmo evangelizando.

“Creio que, no seu combate contra o ódio religioso, esta assembleia é uma bênção num mundo em profundo sofrimento, um sofrimento cuja origem se encontra muito frequentemente, nas convicções e nos comportamentos religiosos” […]. Reconhecer que cada um de nós tem em si o Espírito de Deus não pode senão fazer-nos progredir”, observou. Os delegados demonstraram a sua aprovação através de acenos com a cabeça e os aplausos. “Quando falamos uns com os outros”, concluiu o Primeiro-Ministro, “não falamos às suas roupas, mas ao que há de divino em cada um de nós. Mesmo se temos aparências diferentes, o nosso ponto comum é que cada um de nós tem em si o Espírito de Deus e Ele é digno de respeito, digno de amor e – no mínimo – de tolerância”.

A Presidente da Câmara da Cidade do Cabo, Helen Zille assistiu ao Congresso Mundial da IRLA a 1 de Março e pediu mais do que tolerância. Ela qualificou

Da direita para a esquerda, Rosa Maria Martinez de Codes, professora de História da Universidade Complutense de Madir, Espanha; Srª Bongiwe Kunene, que foi encarregada de ler a mensdagem de boas vindas do vice-presidente da África do Sul, Srª Phumzile Mlambo-Ngcuka e Robert A. Seiple, presidente do Council for America’s First Freedom em Richmond, Virgínia, Estados Unidos, antigo presidente da World Vision e antigo relator especial dos Estados Unidos para a liberdade religiosa, a nível internacional. Foto Glen Michell.

o Congresso como um “encontro muito enriquecedor, em que tantas crenças diferentes estão representadas” E declarou que a International Religious Liberty Association tinha um nome magnífico. Agradeceu à IRLA ter vindo à Cidade do Cabo, acrescentando que o tema Enfrentando o Ódio Religioso se aplica bem ao seu próprio país, porque resumia muito bem a situação que existiu durante muitos séculos.

Segundo Helen Zille “a tolerância contêm a ideia de que se suporta uma coisa porque ela faz parte da vida, mais do que a celebra como parte da nossa diversidade religiosa”. Apoiando o trabalho do Congresso, concluiu esperando que todos serão “capazes de ser uma fonte de inspiração para fazer coabitar um bom governo e a liberdade religiosa. Obrigado por promoverem a liberdade religiosa na África do Sul e ao redor do mundo”.

* Extracto do Relatório da IRLA

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