Recursos
P R O B L E M ÁT I C A S D O S R E C U R S O S E M M AT É R I A S-P R I M A S CERÂMICAS E A NECESSIDADE DA SUA DEFINIÇÃO NO TERRITÓRIO
p o r Jo sé V í t o r Li sbo a , Inv e sti g ador da Uni d a d e d e Re cur s o s Mi ne rai s e G e of í si ca, L NE G e Ma ch a d o Le i t e , Vo g a l d o Con ce lh o Di re ti vo d o LN E G
Relevância do conhecimento dos recursos em matérias-primas cerâmicas no território Na atualidade, a constatação de que os recursos minerais constituem a base do desenvolvimento económico das nações, tende a ser cada vez mais percecionada pelo público em geral e não só por aqueles de algum modo envolvidos nas atividades relativas a estes recursos. Contudo, persistem muitos problemas nas atividades relacionadas com a indústria extrativa, parte deles antigos e recorrentes, mas também outros mais recentes, derivados do próprio desenvolvimento tecnológico, da crescente competição pelo uso do território, consciencialização ambiental e do maior acesso a informação, muitas vezes deturpada, que gera dificuldades na aceitação social e política da atividade. No que respeita ao sector dos recursos minerais com aplicação na indústria cerâmica, nas duas décadas anteriores operou-se uma mudança na conceção da pesquisa e exploração desses recursos, orientada para a focalização na caracterização mineralógica e tecnológica dos recursos (qualidade) na origem com vista ao seu melhor encaminhamento para a fileira industrial. Este movimento de mudança tem hoje continuidade nas novas iniciativas e diretivas no âmbito da economia circular, que motivam a reformulação do processo industrial desde a extração à manufaturação dos cerâmicos. No que respeita ao ciclo de vida e reciclagem de produtos cerâmicos, nomeadamente da cerâmica de construção, embora esta já se pratique em certa percentagem (e.g. reincorporação do caco cerâmico no próprio processo produtivo), a reciclagem destes produtos é baixa. Basta pensar-se no período de vida de uma construção em tijolo. Assim, e embora hoje em dia exista uma variedade crescente de produtos cerâmicos com uma baixa fração ou mesmo sem argila, a necessidade de grandes volumes de matéria-prima argilosa vai persistir.
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Paralelamente, a evolução tecnológica dos processos produtivos, requerendo o cumprimento de especificações composicionais cada vez mais apertadas, granulométricas e outras, exige conhecimento prévio cada vez mais aprofundado da qualidade da matéria-prima mineral nos seus jazigos que permita a gestão otimizada das explorações, evitando a diminuição de reservas da matéria-prima para fins específicos, motivada por encaminhamento para usos menos adequados. Finalmente, o acesso aos recursos tende a ser mais limitado por condicionamentos vários, destacando-se aqueles relacionados com a competição pelos usos do território e os ambientais, implicando estes a adoção de tecnologias e práticas harmonizadas com os princípios da proteção e preservação. Além de produtor e exportador, Portugal é simultaneamente consumidor e importador de matérias-primas cerâmicas. A necessidade de garantir o fornecimento de matérias-primas em quantidade e qualidade constantes, requer cadeias de distribuição estáveis, que garantam estas premissas. As cadeias de distribuição de matérias-primas maioritariamente importadas, caso das argilas plásticas ou do feldspato sódico, podem sofrer interrupções ou diminuições de fluxo, por restrições à circulação, causadas por razões políticas ou conflitos, como já sucedeu em passado recente, ou mesmo escassez na origem. Isto pode constituir oportunidades para o sector extrativo ver possibilidades de incrementar o escoamento de matérias-primas in situ ou mesmo em stocks, normalmente preteridas em relação a outras importadas, por razões sobretudo económicas (ou composicionais). Este é também um dos aspetos pelo qual é importante a salvaguarda de recursos considerados não económicos em dada fase temporal, mas que podem passar a sê-lo em função de circunstâncias externas.
Novembro . Dezembro . 2020