Revista Kéramica n.º 381 Março / Abril 2023

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KÉRAMICA

revista da indústria cerâmica portuguesa

DESIGN PORTUGUÊS / CRIATIVIDADE

Edição Março/Abril . 2023 Publicação Bimestral €8.00 nº381

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Pode-me dimensionar de forma ótima e reduzir o número de variantes devido à minha elevada capacidade de sobrecarga, elevada gama de velocidades e binário constante em toda a gama de velocidade.

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Questões?

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SEW-EURODRIVE—Driving the world

Destaque . 04

O Design na Indústria Cerâmica - o que Influencia a Criatividade?

Criatividade . 08

Desconstrução e Reinvenção. Actualidade e desafios no Design Português

Entrevista . 10

À conversa com Bela Silva - Artista Internacional À conversa com Elsa Almeida, - CEO da PPA - Perpétua, Pereira e Almeida, Ld

Design . 15

Laboratório d´Estórias, um espaço experimental de design

Arquitectura . 20

Dois Arquitectos Vencem Concurso de Ideias para a zona da Antiga Lota de Aveiro

Energia . 23

Descarbonização do Setor da Cerâmica - State of the Art do uso do Hidrogénio Verde

Secção Jurídica . 26

A Protecção Legal dos Desenhos ou Modelos

Notícias & Informações . 27

Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas

Calendário de Eventos . 32

Propriedade e Edição

APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria

NIF: 503904023

Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo

Hub A - nº 40, 1º Piso

3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt

Tiragem 500 exemplares

Diretor Marco Mussini

Editor e Coordenação

Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt

Conselho Editorial

Albertina Sequeira, António Oliveira, Marco Mussini, Martim Chichorro e Susana Rodrigues

Capa

Nuno Ruano

Colaboradores

Albertina Sequeira, Bela Silva, Catarina Nogueira Pacheco, Duarte Galo, Elsa Almeida, Filipa Ricardo, Filomena Girão, Isabel Maia e Silva e Mariana Bem-Haja.

Paginação

Nuno Ruano

Impressão

Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com

Distribuição

Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números) ; Portugal €36,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00

Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal

Notas

Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores.

Esta edição vem acompanhada da Revista Técnica da Indústria da Fileira do Habitat nº 19 Maio . Junho . 2023 | Bimestral

Índice de Anunciantes AXPO (Página 17) • CERTIF (Verso Contra-Capa) • GOLDENERGY (Página 1) • INDUZIR (Contra-Capa) • SMARTENERGY (Página 23) • SEW (Verso Capa)

Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem

Publicação Bimestral nº 381 . Ano XLVIII . Março . Abril . 2023

Depósito legal nº 21079/88 Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X

Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php

Março . Abril . 2023 Index Editorial . 03
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p.2 . Kéramica . Index

DESIGN.

Design é o tema base da revista Keramica de março/abril, onde vou tentar enquadrar este editorial. Design é “tudo um pouco” como costumo dizer e vou tentar explicar.

A origem da palavra design parece ter origem no latim, designare , não tendo, pelo menos nas línguas que nos são mais familiares, outra tradução que não seja o termo inglês design

Design será assim um processo criativo, vasto e complexo e os autores destes processos criativos e complexos são os designers. Parece-me que esta forma simples de identificar o conceito não será polémica e poderá ser próxima do consensual.

Mesmo estando o design presente em vários momentos, no passado da história das civilizações, tentando cruzar a estética e as formas dos objetos às suas funcionalidades, os processos criativos e complexos que caracterizam o design moderno remetem-nos para a revolução industrial, para a produção em série centralizada em grandes unidades industriais sendo esse estatuto esporádico inicial, elevado a necessidade no meio cultural e industrial inglês, alemão e francês e um pouco por todo o mundo industrial da primeira década do século vinte.

A transformação, dito de forma muito simplificada, do desenho no design, dos desenhadores nos designers, é um processo que não terá mais fim.

Design será cada vez mais “tudo um pouco”.

Idealizar, discutir a ideia, reformular, criar, desenvolver, conceber um protótipo, especificar o detalhe, ouvir que não é fazível, que tecnicamente tem falhas fatais, que ninguém vai comprar e… finalmente aparecer um produto novo que vai ser um sucesso, ou um flop total será sempre o caminho do design e dos designers. Logo de seguida, no mesmo local ou noutro, vai renascer tudo de novo, com o mesmo processo de criatividade, de analise, de sucesso ou de insucesso a criação de um produto ou a resolução de um problema.

O design, hoje, é uma criação orientada em função de objetivos económicos, contrariamente à criação artística arbitrária e pessoal, sem objectivo ou de baixa complexidade, mesmo que esteticamente seja deslumbrante.

Atualmente os designers especializam-se – como acontece com todas as áreas do saber – em determinadas áreas. Design de produto, gráfico, cerâmico, têxtil, calçado, interiores, web… e usam cada mais a interdisciplinaridade do conhecimento com a sociologia, economia, engenharia, ecologia, ergonomia…

Gostaria de abordar um pouco mais o “ design for Manufacturing ” dado que na indústria cerâmica e na cristalaria esta é uma questão completamente essencial.

No fabrico do produto cerâmico ou de cristalaria, o custo mínimo de produção, sem comprometer a sua qualidade e funcionalidade, faz parte de todo o ciclo do mesmo. Para que no decurso do processo de fabrico não apareçam más surpresas a fase do design tem de levar as especificações ao limite da clareza.

O processo/conceito de “ Design for Manufacturing ” é uma prática de engenharia que pretende que o processo de fabrico seja o mais eficiente possível e tem como princípio de gestão e filosófico que é na fase inicial do design que devem ser evitados e corrigidos erros, substituindo-se o design por um novo, se necessário, tendo sempre em vista a redução de custos de produção.

O “ Design for Manufacturing ” é assim uma ferramenta “LEAN” importante para que na fase de conceção de um produto sejam tidos em conta aspetos como os processos de fabrico, manuseamento, montagem, custos da não qualidade, embalagem, armazenagem, circulação interna, transporte logístico, exposição, fim útil que irão afetar o custo do produto ao longo do seu ciclo de produção e com vendas maximizadas garantindo uma elevada satisfação do cliente.

Repito pela terceira vez: Design será cada vez mais “ tudo um pouco ”.

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Editorial Editorial . Kéramica . p.3

Destaque

O DESIGN NA INDÚSTRIA CERÂMICA - O QUE INFLUENCIA A CRIATIVIDADE?

A última década foi marcada pelo exponencial aumento da exportação de produtos cerâmicos de origem nacional. Consequência da procura de peças de alta qualidade e que correspondam às tendências de mercado, veio também aumentar o nível de competitividade das empresas. Além da capacidade de resposta, eficiência de produção e adaptabilidade na gestão, estas empresas contam com o papel do Design para corresponder à crescente procura.

Falar de Design apontando a questão estética pode ser a primeira mais-valia a ser considerada, no entanto, não é de todo a única a introduzir valor aos produtos cerâmicos. O design influencia também aspetos como a funcionalidade, a adaptabilidade ao mercado, o ciclo de vida do produto e a experiência generalizada do utilizador.

Analisando a origem da cerâmica, sabemos que as primeiras peças conhecidas, foram encontradas numa gruta na China estimando-se que tenham cerca de 20.000 anos. É óbvia a determinante evolução que a produção teve ao longo dos séculos, no entanto, a sua base mantém-se inalterada: pasta, modelação e temperatura seguidas por decoração e vidragem (ou vice-versa). Avançando no tempo, durante a pós-Revolução Industrial deu-se uma mudança tecnológica na indústria cerâmica, a roda de oleiro foi substituída por moldes de conformação e os protótipos passaram a ser desenhados com vista à produção em série.

Em ambientes criativos, como a Bauhaus, foi possível assistir-se a uma determinante influência do design e a sua intervenção na preparação para a produção em série. Foi em 1919 que o *Ceramics Workshop* da Bauhaus se estreou com duas abordagens, uma mais experimental (e artística) e outra mais técnica em que se desenvolveram peças para produção através de moldes de conformação, e onde os designers desenharam e prepararam inclusive protótipos para que viriam a ser usados a nível industrial. Esta “escola de cerâmica” manteve durante anos protocolos de proximidade dos seus alunos com várias fábricas de porcelana e faiança, apresentando regularmente novos produtos em eventos comerciais na Alemanha.

Naquele momento de transição industrial, tal como hoje, a presença do designer como criativo e especializado em cerâmica é crucial para que as indústrias se preparem antevendo momentos decisivos. Estes momentos podem ser uma combinação de fatores económicos, culturais, sociais ou tecnológicos que normalmente influenciam os custos de produção, as matérias-primas, o mercado, as tendências e a procura pelos produtos.

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p.4 . Kéramica . Destaque
1 www.filiparicardo.com
Filipa Ricardo

A intervenção do design numa empresa cerâmica implica que haja também uma abertura da parte dos orgãos de gestão que acredite, incentive e facilite abordagens inovadoras, muitas vezes fora dos padrões até então definidos. Desta forma é possível estabelecer o ambiente perfeito para se assumir a responsabilidade de, em sintonia com os vários departamentos internos, se trabalharem propostas únicas que não só cumpram os requisitos estéticos e funcionais como também carreguem a identidade da empresa (e/ou marca), sejam sustentáveis, de elevada qualidade e estejam alinhados com as necessidades dos clientes.

As fábricas de cerâmica podem, à primeira vista, parecer bastante semelhantes, no entanto, cada uma tem inúmeros fatores que a caracterizam. No caso da cerâmica de mesa podemos ter fábricas mais artesanais, onde há vários momentos manuais em fases da produção, outras têm um processo continuo e automatizado onde é minima a intervenção humana. Ambas podem fazer pratos, taças e travessas, mas o produto final é extremamente influenciado pelo correspondente processo de fabrico. A espessura de cada peça, a delicadeza, a atenção ao detalhe, a aplicação da decoração ou dos efeitos do

Destaque

vidro, tudo isso tem consequências físicas e visuais na peça final, que vai transportar com ela a identidade da empresa. O design intervém nestes fatores e, são também estas as evidências que levam um cliente a escolher o seu fornecedor para as peças que idealizou para a sua loja (a sua marca ou a sua casa).

Quando o Designer (ou a equipa) tem presença quotidiana na produção, este constrói inevitavelmente um mapa mental da localização de cada pessoa, cada tarefa que associada, cada máquina, a sua posição geográfica e função na linha de produção, quais os gestos que repete em cada peça que toca, quais as limitações da máquina (e da pessoa), estes e tantos outros fatores são micro-pistas (quase imperceptíveis) que contribuem de forma exponencial para a criação de propostas inovadoras, e até de introdução de novas técnicas, e que vão tirar partido único do potencial tecnológico e humano existente na empresa.

É preciso conhecer e praticar as regras para as poder quebrar (melhorar ou alterar). É desta “quebra” que se alimenta a criatividade. Pablo Picasso, por exemplo, teve uma formação académica de desenho clássico, com normas inquestionáveis e de abordagem extremamente realista. Foi esta base rígida que ele dominou exaustivamente, e que lhe proporcionaram ferramentas que ele se propôs a fragmentar para criar todo o seu universo artístico.

O mesmo acontece quando uma empresa tem um designer *in-house*, ou uma equipa de design e desenvolvimento, é esse o ambiente criativo ideal, para que este conheça a produção como um mapa que segue de olhos fechados para ter depois, instrumentos e *inputs* que o levem a desconstruir e inovar dentro do potencial interno de desenvolvimento.

O designer, não estando confinado ao seu gabinete, conhecendo o chão de fábrica e tendo à vontade com as pessoas terá a possibilidade de se movimentar num ambiente multidisciplinar, recebendo informação da equipa comercial, traduzindo os objetivos da gestão, mantendo um diálogo próximo com os responsáveis pelas várias fases de produção e em especial com a engenharia de desenvolvimento que, em limite, detém o controlo de toda a parte técnica e operacional relacionada com a produção, com a qualidade e com o nível de atenção ao detalhe em cada peça.

Por outro lado, é também essencial para que as indústrias se mantenham relevantes internacionalmente, que proporcionem o habitat ideal onde o designer

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Destaque . Kéramica . p.5
1_Forma DesenvolvimentoArquivo Filipa Ricardoprotótipos em gesso

tenha oportunidade de acrescentar valor, ser criativo e sentir que existe liberdade de expressão. Estando reunidas estas condições as empresas têm possibilidade de reter talento e manter os seus recursos humanos qualificados, essenciais para se afirmarem como empresas competitivas, e absolutamente imprescindível para se manterem relevantes no panorama profissional actual.

Até aqui mencionei apenas aspectos relacionados com *inputs* internos, com a proximidade do designer ao ambiente industrial, mas a equação criativa inclui também fatores externos que se vão somar de forma relevante no desempenho profissional do designer.

Com a exponencial tendência de exportação de peças cerâmicas de produção nacional para os mais diversos mercados internacionais os fatores externos multiplicam-se e, cabe ao designer traduzir os *inputs* recebidos para peças finais que sirvam os vários cenários, assegurando que a indústria nacional continua relevante e competitiva. Com a introdução de propostas inovado -

ras as empresas têm a possibilidade de se fazer notar no mercado bem como destacar-se da concorrência, ir ao encontro das necessidades dos mercados e corresponder à evolução das tendências para manter o standard de inovação e design.

A percepção destas tendências e a identificação de fatores culturais no desenvolvimento de peças de mesa para mercados internacionais, têm uma influência relevante na medida da criatividade. Quando falamos em peças de mesa – sejam cerâmica, cutelaria ou vidraria – visualizamos elementos distintos que fazem parte fundamental da experiência de uma refeição, é por isso que o design e a funcionalidade de cada peça são essenciais para o sucesso de um produto.

A velocidade a que as tendências evoluem e mudam é incontornável e, no caso da cerâmica de mesa, gira em torno de quatro eixos: cores, padrões, texturas e formas. Como designers exploramos as tendências nestes eixos garantindo que os produtos são desejáveis para os consumidores e simultaneamente afirmem a competitividade da empresa (ou da marca).

A verdade é que desenhar para os mercados internacionais requer da parte do designer um conhecimento extenso sobre as diferentes culturas, tradições, hábitos e utilizações. Lembro-me de, à uns anos, assistir a uma palestra com duas designers do IKEA que nos deram um exemplo concreto sobre como as diferenças geográficas e culturais têm impacto nas vendas de um produto quando se trata de uma marca com presença internacional. Tinham em loja uma jarra de vidro para colocar flores, quando a jarra foi introduzida no mercado americano as vendas desta peça decorativa aumentaram de tal forma que foi necessário tentar compreender o fenómeno. A equipa de marketing e vendas chegou à conclusão que na América estas jarras eram usadas como copos para refrigerante. Por serem de vidro o seu tamanho “jumbo” fez com que os clientes lhe tenham atribuído outra função, o que veio justificar a enorme procura e venda em volume tão elevado destas peças.

Ora, trabalhar para mercados internacionais é, sem dúvida um desafio, mas é também uma excelente oportunidade para as empresas aumentarem a carteira de clientes e o volume de negócios, e permite aos designers explorarem diferentes abordagens culturais com o objetivo de alcançar uma audiência mais alargada.

Termino reafirmando que a presença do designer no ambiente de fábrica é fundamental e, deve ser possível proporcionar que este esteja profundamente familia-

Março . Abril . 2023 p.6 . Kéramica . Destaque Destaque
2_ Forma ModeloArquivo Filipa Ricardodetalhes do modelo em finalização 3_east-riding-archives Arquivo East Riding em unsplash.comlinha de produção, enchimento de moldes com pasta liquidaFábrica Hornsea Pottery (Inglaterra, anos 60)

rizado com o processo, não só para que a metodologia de projeto seja a mais indicada como para que a produção das peças em desenvolvimento seja a mais eficiente para a empresa. A essa familiaridade deve somar-se o conhecimento cultural dos diferentes mercados bem como manter-se atento às tendências emergentes antevendo o seu impacto na procura dos produtos. Esta “receita para a criatividade” é valida não só para a indústria cerâmica, mas também para outras como o mobiliário, a cutelaria, os têxteis, ou o calçado, por ser uma forma de germinar internamente a criatividade de quem está na área de criação de produtos para produção em série e propagação internacional.

Todas as indústrias fazem esforços para produzir de forma financeiramente eficiente, todas sem exceção, produzem para vender. Todas desejam que os seus produtos atinjam máximos de vendas, desejam entrar

em novos mercados, exportar para o maior número de países e ter encomendas recorrentes de clientes. Mais, que os clientes não só valorizem os produtos como os desejem – é aqui que a criatividade e o design têm uma grande influência. No entanto, um designer não o faz de todo sozinho, fechado numa sala e em exclusivo no computador, fá-lo tendo lugar numa equipa multidisciplinar com a qual estabelece um diálogo, e até um canal de comunicação, que liga pontos e ilustra ideias e encaminha a sua realização usando as suas ferramentas.

É esta soma de informações a que o designer está exposto, juntamente com a sua curiosidade, sensibilidade e experiência profissional, que se vai traduzir em criatividade, sob a forma de materialização de um produto comercialmente viável, inovador e que apele ao cliente final.

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Destaque

Criatividade

DESCONSTRUÇÃO E REINVENÇÃO.

Partimos com a ideia que a ponte (o design) para uma nova cerâmica, a dos dias de hoje, tem como alicerces estes dois princípios.

Faço deles o mote para a criação do meu trabalho, nunca esquecendo a Cor como protagonista – na tentativa de criar uma premissa que assenta na harmonia entre forma e cor – onde existe o apreciar e gostar fácil com formas simples de peças que são quotidiano, mas também a desconstrução literal de um objecto intemporal, com o propósito de o destacar, de fazer com que seja notado, ao contrário do que acontece em diversas ocasiões preterindo a sua importância pelo seu conteúdo (garrafa de vinho).

O meu percurso na cerâmica começa numa tentativa falhada de conhecer o material, mas que ganhou outros contornos aquando da entrada na instituição de ensi-

no cerâmico, o Cencal – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica – onde sem esperar surge uma paixão por esta arte mutável e única.

Na incessante busca pelo diferente, sabendo à partida que nada será inventado, desconstruindo invenções, esmiuçando referências e influências artísticas de pessoas e lugares, que originou na criação da marca DuarteGalo Ceramics.

A cerâmica de hoje será sempre igualmente boa ou melhor que a de ontem, penso que a evolução dos tempos agrega a si própria essa descoberta positiva, não pelo que é melhor, mas sim pelo que é diferente. Desmistificando a ideia de que, o que é a cerâmica tem de ser feito na roda de oleiro, transmitindo erradamente a ideia de que qualquer peça feita principalmente por molde ou qualquer outra técnica tem o seu valor imaterial reduzido, não tendo a percepção nas infinitas possibilidades não só técnicas, mas de pensamento criativo associados às mesmas.

Vivemos tempos cerâmicos promissores que ao mesmo tempo parecem inquietantes para quem trabalha em pequena escala, e é de fácil conhecimento a dimensão que esta arte singular alcançou nos últimos anos, muito por boa culpa do mundo digital catapultando-a para outros públicos, de onde surgiu uma vaga de recentes artistas, designers, pequenos produtores que de uma ou outra forma foram reinventando e realçando as potencialidades da arte.

O termo inquietante sugerido anteriormente não surge por mero acaso, vamos partir do princípio de que a cerâmica é um infinito universo de possibilidades e de conhecimento total inalcançável mesmo para o mais sábio mestre. E fazendo a relação com os novos ceramistas está o conhecimento real e o entender dos princípios base que esta arte tem e da errada passagem dos mesmos a quem quer aprender a usá-los de forma correcta, não diremos

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Duarte Galo

que as regras e leis técnicas associadas a ela deverão ser cumpridas, até porque o desconhecido pode levar-nos a novos caminhos, mas os princípios teóricos são fundamentais para tirar o máximo de proveito e compreender o que de melhor a cerâmica nos pode dar para chegar a uma maior diversidade.

E essa diversidade de produtos cerâmicos vistos nos últimos anos são a prova disso mesmo, consequência das constantes mudanças de tendências positivas a nível estético e visual tem enriquecido o nosso saber.

O design muito contribui para este acontecimento veloz de reinvenção temporal e material. É inegável a influência no nosso inconsciente de ceramistas como Bordallo Pinheiro, de Querubim Lapa, Ferreira da Silva e da própria referência que é Daciano da Costa, entre outros, mas também de quem lá fora faz fruto desse mesmo tsunami digital que nos engole diariamente, seja a influência holandesa através da cor, japonesa da intemporalidade ou escandinava pela simplicidade e naturalidade.

A verdade é que há muito que se nota o destaque de Portugal no que toca à inovação, mesmo que haja ainda uma grande lacuna na contratação de jovens designers por

parte de fábricas do sector, existe um notório talento em Portugal que por vezes infortúnio dos tempos ou condições, é sujeito a reprimir as suas qualidades devido à má interpretação de quem contrata. Tem de existir uma maior consciencialização das capacidades e ferramentas que as fábricas possam oferecer, é sabido que muitas fábricas só produzem para externos e há pouca aposta na criação de gabinetes criativos internos para não depender só de terceiros.

O surgimento de novos designers, ceramistas, artistas tem ajudado também na promoção e de um maior alcance do melhor que se faz em Portugal.

O foco no ensino, mas também de escolas especializadas, como o Cencal – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica – e na partilha de conhecimentos entre homólogos. Tem sido fundamental para a promoção e a cada vez maior criação de trabalhos diversificados que despontam por todas as cidades.

E é importante que estas vagas de novos caminhos continuem a emergir cada vez com mais frequência, influenciado e ditando novas desconstruções daquilo que se daria por esquecido.

Março . Abril . 2023 Criatividade . Kéramica . p.9 Criatividade

Entrevista

À CONVERSA COM BELA SILVA ARTISTA INTERNACIONAL

Keramica – Fale-nos um pouco do seu percurso profissional e o início da sua ligação à cerâmica e o seu trajeto no universo da cerâmica.

Bela Silva - Iniciei a cerâmica muito jovem. Em criança já brincava com o barro, mais tarde nas Belas Artes dei continuação a este paixão que desenvolvi em seguida no ARCO, onde participei em vários workshopa com artistas estrangeiros convidados. Não foi um percurso simples porque na altura a cerâmica era considerada uma forma artística menos atrativa, até menor. Era pouco estimulada e apoiada. Vejo com grande satisfação que essa realidade mudou completamente.

Kéramica - A maneira como trabalha a cerâmica, no design das peças, na conjugação das formas tridimensionais simples, fazem com que o seu trabalho seja um trabalho mais

artístico para projetos arquitetónicos ou de design de interiores?

Bela Silva - O meu trabalho tem várias vertentes. Tudo depende do projeto. Faço obviamente peças escultóricas de maneira mais livre para exposições em galerias e museus. Mas também desenvolvo projetos com arquitetos, em escalas naturalmente maiores. Estes são projetos de que gosto imenso, para além dos desafios que constituem, obrigam-me a sair do atelier e ir ao encontro das pessoas. São verdadeiros trabalhos de equipa o que é muito gratificante e enriquecedor.

Keramica – O seu trabalho será sempre um «fato feito por medida» ou antevê que ele possa ganhar a dimensão da grande produção industrial?

Bela Silva - Tudo depende muito do projeto e do que se pretende. Tenho um trabalho artístico próprio, tanto no desenho como na escultura, mas também trabalhei com várias marcas, onde a produção é um pouco mais industrial. Criei em 2018 um Carré de Soie para a Hermes, fiz uma grande colaboração com a Monoprix e com a Serax. Este tipo de projetos dão-me particular satisfação porque é uma maneira de expor o meu trabalho a públicos diversos.

Keramica - Portugal é também conhecido pelo património cultural exposto nas fachadas de edifícios e monumentos, nomeadamente com os azulejos. Acha que este património poderá estar em risco ou identifica alguma capacidade regeneradora em novos ceramistas e designers?

Bela Silva - Penso que durante muito tempo esse património esteve de facto em risco, mas recentemente houve uma tomada de consciência da riqueza e importância da azulejaria. Neste momento assistimos a um ressurgimento destas práticas com novos talentos e novas estéticas, o que considero muito positivo.

Keramica – Há mais de 20 anos a trabalhar como artista-residente na Fábrica Viúva Lamego, uma fábrica centenária e com uma vasta história e reputação. Na sua perspetiva, qual

Março . Abril . 2023 p.10 . Kéramica . Entrevista
Bela Silva

a importância desta ligação? O que poderá resultar dessa colaboração?

Bela Silva - A Viúva Lamego permite-me desenvolver projetos de outra dimensão. Esta longa colaboração permitiu-me encontrar artistas que por lá passaram tais como Querubim Lapa, Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Bartolomeu Cid dos Santos ou Rogério Ribeiro. Outro ponto importante foi desenvolver uma relação de proximidade com os funcionários da fábrica, pessoas de muito talento e conhecimento, que são de facto o motivo da reputação e qualidade da Viúva Lamego. O património humano.

Keramica – Sente o crescimento do interesse dos jovens pela cerâmica? Qual o perfil do aluno que estuda/ trabalha este material? Acha que a formação existente em Portugal está adequada às necessidades?

Bela Silva - Confesso que já saí há muitos anos de Portugal e estou afastada um pouco do ensino. Não tenho portanto uma opinião formada sobre esse assunto. No entanto posso dizer algo que acaba por ser uma generalidade, qualquer formação por muito boa que seja necessita de prática, disciplina e muita pesquisa individual.

Keramica – Que fatores contribuíram para o reconhecimento internacional, do seu trabalho?

Bela Silva - No meu caso prende-se por ter vivido muitos anos fora de Portugal. Partindo de uma base de ensino em Lisboa e no Porto, o facto de viajar e de ter integrado o Chicago Art Instituite, aprender outras práticas, outras formas de fazer as coisas. O meu interesse não só pela cerâmica ou o desenho mas também pela joalharia, a moda, a fotografia, a fundição, a gravura. A multidisciplinaridade permitiu-me ampliar conhecimentos e deu-me ferramentas para continuar a explorar técnicas e temáticas.

Keramica – Quais as temáticas com que mais se identifica na sua obra?

Bela Silva - A natureza é certamente o meu tema de predileção. De facto na natureza há de tudo: cor, forma, textura, proporções. É uma questão de observação.

Kéramica – Acha que o design português é bem percecionado lá fora? E a cerâmica portuguesa?

Bela Silva - Penso que ainda há muito a fazer nesse campo. Deveria haver um maior investimento na promoção dos talentos nacionais.

Keramica – Para terminar, identifique uma obra que pessoalmente a impressiona na arquitetura ou no design português, em que os elementos cerâmicos são claramente marcantes.

Bela Silva - Sem sombra de dúvida a chaminé da cozinha do Mosteiro de Alcobaça.

Março . Abril . 2023 Entrevista . Kéramica . p.11 Entrevista Foto Margaux Nieto © Courtesy Atelier Bela Silva Foto Margaux Nieto © Courtesy Atelier Bela Silva

Criatividade

ACTUALIDADE E DESAFIOS NO DESIGN PORTUGUÊS

Estamos a atravessar uma fase no Design Português de uma grande efervescência criativa. Existe uma diversidade de designers, marcas e projetos em Portugal que expandem e nutrem as possibilidades da disciplina na área dos objetos, mobiliário e homeware, tanto de designers portugueses baseados no território e os que colaboram com Portugal.

Refira-se que muita produção de objectos e mobiliário em Portugal tem o contributo da diáspora portuguesa pela

conexão da língua e do contexto. Simultaneamente, nos últimos anos, instalaram-se em Lisboa e outras zonas de Portugal, designers e empreendedores criativos de outros lugares do mundo que nos trazem novas perspectivas, técnicas e conhecimento e com isso geram novas dinâmicas e uma energia vibrante na design scene: seja por abrir estúdios de design, criar novas marcas, galerias, concept stores, lojas online, centros de produção ao nível artesanal e industrial, ou na relocalização ou produção dos objectos.

Ao longo do meu percurso académico e profissional, passei por Inglaterra e Suíça em que a indústria criativa é mais madura e sólida. Observo, contudo, que em Portugal, o nível qualitativo está a elevar-se nos últimos anos e se abrem mais e novas formas de ‘estar’ na disciplina.

Apesar deste amadurecimento, há um grande caminho a percorrer para que as empresas, marcas e indústria valorizem o contributo dos designers independentes a acrescentarem valor aos seus produtos. A relação entre as partes poderia ser mais equilibrada e de valorização mútua – em que a criatividade e a visão dos designers é complementada por outras disciplinas como a direcção de arte, branding, fotografia, vídeo, entre outras – onde todo este expertise criativo deveria ser mais respeitado ao nível de trabalho organizacional e de remuneração financeira, justas para ambas as partes.

Para além disso, acho importante que os designers, enquanto classe profissional, invistam na sua formação em áreas de negociação e sustentabilidade financeira dos projectos e da sua actividade, como forma de não perpetuação de más práticas de trabalho – e assim possam sentir-se mais empoderados a questionar os seus interlocutores a fim de serem mais valorizados.

Vivemos tempos difíceis, numa economia empobrecida em que a maioria dos portugueses não tem fôlego financeiro para consumir bens de qualidade com assinatura por-

Março . Abril . 2023 p.12 . Kéramica . Criatividade
por Catarina Nogueira Pacheco¹, Designer e consultora criativa
www.catarinapacheco.com
Catarina Nogueira Pacheco
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tuguesa, complementando-se com um desinvestimento na cultura e sensibilidade da sociedade. Considero, contudo, que a valorização do design nos seus diferentes aspectos está a crescer.

Seria fundamental também que o Estado suavizasse a carga fiscal e anulasse processos altamente burocráticos de modo a facilitar e apoiar quem quer concretizar - tanto criativos independentes como as empresas de maior ou menor dimensão.

Outro aspecto importante no contexto de design luso é a existência de uma certa desconexão entre as várias partes: há muitos designers, criativos, indústrias, oficinas iniciativas e projectos que não se conhecem entre si, como se os vários circuitos estivessem um pouco fechados. Seria importante que estes diferentes ‘actores’ que contribuem para a disciplina, se encontrem, se conheçam, e se desenvolva uma rede que possibilite oportunidades como a criação de parcerias, colaborações, novos negócios ou projetos com veia criativa.

O Design no Vidro: contexto e novos designers

Enquanto designer, trabalhei em projetos com vários materiais e noto que em Portugal, o design autoral no vidro não é tão expressivo, ou seja, não existe muita diversidade em termos criativos como em outros materiais (a cerâmica por exemplo).

Apesar de tudo, considero que há espaço para crescer, existe potencial, e sou suspeita - pois tenho uma grande paixão e fascínio por este material. Na verdade, experienciei como é difícil o acesso à indústria vidreira em Portugal, sobretudo, quem quer trabalhar com baixos volumes.

Curiosamente em termos internacionais, observo que existe uma grande tendência e ‘frescura’ no vidro enquanto matéria: muitos designers, criativos e produtores espalhados pela Europa e Estados Unidos estão a desenvolver marcas, objectos utilitários, mobiliário e peças mais experimentais onde este material ganhou um novo protagonismo e expressividade nas suas diferentes técnicas.

Actualmente existem também alguns programas de residências e produção criativa em vários pontos do país para jovens designers, o que é muito bom, mas acho que seria necessário haver também programas a médio e longo prazo porque é necessário tempo e espaço para pensar, criar e acompanhar o desenvolvimento dos projectos, incluindo sinergias com empresas, indústrias, artesãos e marcas. (Tendo como referência o prémio da Villa Noailles da Design Parade em França para jovens designers)

Março . Abril . 2023 Criatividade . Kéramica . p.13 Criatividade
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Um caminho válido para os designers e novos vidreiros/makers baseados em Portugal se iniciarem no campo do vidro é o centro de formação do Cencal, o qual possui várias possibilidades de estrutura formativa e exploração de técnicas, e que no meu caso foi decisivo em 2021 enquanto designer, para despoletar mais tarde, as minhas edições independentes em vidro.

As minhas edições – Colour Conversations & Light Echoes

O meu caminho no vidro começou de uma forma gradual. Em 2021 fiz um workshop com mestres vidreiros onde explorei a cor no processo livre e vivo do vidro soprado, o qual iria originar a minha primeira colecção - Colour Conversations - que explora a forma que as cores falam entre si. Esta colecção de peças únicas e numeradas, reflete a interação resultante entre a transparência e a intensidade de tons.

Em 2022, lancei novas peças dessa coleção. Mais tarde, no Outono do mesmo ano, lancei uma nova abordagemLight Echoes - uma edição limitada de peças lapidadas inspiradas no reflexo da luz e da cor no espaço.

As peças da Colour Conversations e Light Echoes, são fabricadas na região da Marinha Grande, uma cidade conhecida pela produção de vidro desde o século XVIII. Aí encontrei vários parceiros de produção, entre os quais alguns Mestres do vidro com décadas de experiência.

Utilizo técnicas distintas consoante os conceitos das colecções. Considero que estão muito ligadas à minha visão e sensibilidade criativa e ao contexto onde me encontro: pelo facto de serem concebidas a partir do meu desejo de criar, de explorar a cor e a luz no vidro, das minhas referências como Joseph Albers e Hella Jongerius, criativos e especialistas da cor, e das múltiplas viagens que tenho feito ao longo dos anos a fabricantes de vidro que me inspiram e levam a experimentar e conceber novas peças. Quanto mais conheço as potencialidades e caminhos do vidro, mais possibilidades se desenham na minha imaginação.

Estas colecções independentes estão disponíveis em www.catarinapacheco.com e em concept stores selecionadas em Lisboa, Algarve e Porto, tais como a Banema Studio em ambas as cidades, na Portugal Manual no Centro Cultural de Belém, na Kintu Studio em São Bento, Lisboa e no Vila Vita Parc, um 5* Hotel no Algarve.)

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Criatividade
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Design

LABORATÓRIO D´ESTÓRIAS, UM ESPAÇO EXPERIMENTAL DE DESIGN

Enquadramento

Na última década o design português tem ancorado uma forte defesa das tradições e das técnicas ancestrais nacionais no fabrico de peças artesanais, de origem tradicional ou contemporânea, gerando uma narrativa de produções criativas, em diferentes tipologias de produtos, em especial na área da cerâmica. Estes oferecem para além da função, uma vivência individualizada de emoções, sensações e memórias, atribuindo ao design nacional uma particularidade e notoriedade internacional. Podemos testemunhá-lo com a criação de várias marcas fundadas nos últimos anos por diversos designers produtores nacionais que decidiram afirmar o desenho e a valorização dos saberes do fabrico manufaturado português.

O Laboratório d’Estórias Laboratório d´Estórias é um caso. Fundado em junho de 2013 nas Caldas da Rainha, este ano celebra 10 anos, nasce de uma vontade própria dos fundadores, Rute Rosa e Sérgio Vieira, ambos licenciados em Design pela Escola Superior de Design das Caldas da Rainha, de colocar em prática um conhecimento adquirido no período académico e desenvolvido no profissional, durante mais de vinte anos.

O seu espaço é um local aberto e autónomo, no centro da cidade, onde desenvolve a sua prática criativa a partir da recriação de iconografias portuguesas e das memórias de infância, para desenhar uma coleção de peças, recetiva de toda a influência do meio onde é fabricada – Caldas da Rainha, criando a história da marca.

O resultado desta experimentação é uma abordagem conceptual muito própria. Onde a história local da cerâmica das Caldas da Rainha se cruza com o experimentalismo de outras matérias, de novos processos produtivos e de colaborações com outras áreas artísticas - a escrita e a ilustração. Através de convites pontuais, como a Adélia Carvalho, o

Afonso Cruz, a Catarina Sobral, a Inês Fonseca e Santos, o Mantraste, (…).

Submetendo cada peça de cerâmica muito mais além, do seu propósito, do que meramente decorativo ou funcional, procura contar uma outra história de Portugal e manter viva uma produção autoral da cerâmica portuguesa.

A Faiança e a sua herança histórica são a premissa do LDE

Acredita que num mundo de tendências globais, o conhecimento da herança cultural local poderá ser a melhor “matéria-prima” para a criatividade, conferindo ao designer a responsabilidade social como criador e transmissor de cultura. Inventar um mundo próprio, uma nova realidade, no qual os objetos se tornem universais, será provavelmente o melhor fator de diferenciação do design português à escala global. Conferindo-lhe, intemporalidade, afetividade e um desafio à memória, permitindo estabelecer uma ligação emocional entre consumidor e objeto através de uma leitura atenta das várias camadas do objeto. Assim como, também acredita, na mudança por parte do consumidor, na desvalorização da massificação por uma valorização na limitação. Esta mudança abre um novo caminho e uma imposição para o surgimento de cada vez mais objetos diferenciadores e com valor simbólico, distintos por uma verdadeira autenticidade, exclusividade e singularidade. Fatores decisivos para a competitividade do design nacional.

Março . Abril . 2023 Design . Kéramica . p.15
por Laboratório d´Estórias¹.
1 www.laboratoriodestorias.com | Hemiciclo João Paulo II – 12B | 2500-212 Caldas da Rainha

Design

Laboratório d´Estórias só se enriquecerá e crescerá pela pluralidade. E, ainda por uma verdadeira cooperação, por uma extraordinária disponibilidade e por uma cordialidade com os diferentes atores intervenientes.

A atividade da marca tem vindo a expandir-se de forma muito progressiva, como um processo de aprendizagem se tratasse, onde a autorreflexão e a autoavaliação são uma constante. É consciente da carência de especialistas e, da importância, do conhecimento e domínio em áreas como na comunicação e na comercialização digital, para fortalecer o negócio internacionalmente. Num futuro próximo, será inevitável excluir-se desta explosão digital, na apresentação da sua coleção.

Internacionalização da Marca

Em janeiro de 2015, iniciou o processo de internacionalização, de forma empírica, com uma participação autónoma na Maison et Objet. A partir desta primeira experiência positiva, dada a recetividade do mercado internacional, decide repeti-la e expandi-la a outras participações internacionais, no total de onze, até janeiro de 2020, início da pandemia.

Defende com veemência que as características históricas e identitária de um local na prática do design, contribuem para a valorização de um património cultural e de um incentivo ao repensamento de novos processos e métodos para um verdadeiro fabrico sustentável, no domínio ambiental, social e económico. Provavelmente, a melhor direção, para atingir uma linguagem de prevalecimento de um pensamento inovador no design português contemporâneo.

Colaborações desde o artesão à indústria

O LDE procura para cada projeto uma colaboração assertiva e metodológica - com os artesões e com a indústria, contribuindo para o estabelecimento da hegemonia de profissionais, fortalecimento e consolidação de um verdadeiro objeto identitário. Considera que a abertura à colaboração com diferentes unidades de fabrico é essencial. Estas podem proporcionar novas experiências, a descoberta de novos saberes e abrir novos caminhos na disciplina do design. O

Atualmente, pondera o regresso à participação em feiras internacionais, devido à exigência de um esforço financeiro e humano segundo a natureza do projeto. A presença em feiras internacionais consente, naturalmente, descobrir os gostos e os costumes de outras culturas, por conversas simples e sem formalismos e gerar laços emocionais entre quem desenha e compra. Esta experiência, ao longo de cinco anos, foi certamente, uma das maiores fontes de riqueza para ter audácia de continuar a progredir no negócio. A questão que existia, na fase inicial, era saber se a expressão da herança cultural de uma localidade portuguesa num produto constitui um fator de diferenciação e de aceitação num mundo global. Hoje a marca pensa que sim! Cada vez mais, sente-se que existe uma preferência por peças exclusivas, que transportam realidades culturais e sociais, fabricadas em pequena escala, por diferentes mercados internacionais. A marca sente muitas dificuldades, que são entendidas como desafios, na procura por um crescimento mais consistente e sólido. A limitação da produtividade, que considerava até ao tempo atrás ser um entrave à afirmação da marca, hoje é entendida como uma particularidade valorativa. A identidade por um saber fazer das mãos de quem produz é um repositório de saberes e de uma identidade social e cultural tornando-se um património vivo transmitido, entre gerações, que convidamos a descobrir ao adquirir uma peça do Laboratório d´Estórias.

Março . Abril . 2023
p.16 . Kéramica . Design
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À CONVERSA COM ELSA ALMEIDA, CEO DA PPA - PERPÉTUA, PEREIRA E ALMEIDA, LDA

Keramica – Fale-nos um pouco da marca CLARAVAL, a sua origem, o seu propósito.

Elsa Almeida – Para falar da origem da Claraval é necessário recuar um pouco até ao início de 2022, quando tivemos o primeiro contacto com o Mark Lloyd e a Skopelab, especialista em transformar sons em formas geométricas e formas 3D. Fomos então abordados pelo Mark que nos apresentou este método de produção de formas a partir dos sons, o qual nos deixou bastante interessados, principalmente dado as propriedades das formas, que são naturalmente fluidas, orgânicas e particularmente intrigantes. Seguiram-se alguns desenvolvimentos e trabalhos em conjuntos até que a certo ponto sentimos a necessidade de dar uma vida própria a este projeto, pelo que achámos que seria interessante criar os próprios meios de comunicação e comercialização destas únicas e singulares peças de cerâmica. Achámos que todo este processo criativo de produção do produto merecia um palco próprio e que seríamos capazes de comunicar mais eficazmente se criássemos algo novo, de raiz. Isto levou-nos à criação da marca Claraval.

A verdade é que a marca Claraval já era nossa, da Perpétua, Pereira e Almeida. A marca já estava registada por nós, ainda que não lhe déssemos uso. Sentimos, portanto, que seria a altura perfeita para a reativar. Sentimos que faria todo o sentido, dado a beleza do nome, as suas fortes conexões com Alcobaça, com o Mosteiro e com a própria história da PP&A. Não podíamos ignorar toda esta sinergia e o potencial a explorar.

Kéramica – Qual a relação com o Mosteiro da Alcobaça?

Elsa Almeida – A marca e o Mosteiro de Alcobaça estarão sempre conectados etimologicamente, uma vez que o nome Claraval vem de São Bernardo de Claraval, um abade francês que fundou a ordem de Cister. Como

Março . Abril . 2023 p.18 . Kéramica . Entrevista
Entrevista
Sónia Tavares

se sabe, a ordem de Cister teve um papel fundamental, quer na construção do Mosteiro de Alcobaça, quer na sua ocupação posterior e desenvolvimento do mesmo e da própria cidade de Alcobaça. A nossa empresa, Perpétua, Pereira e Almeida, detentora das duas marcas “S. Bernardo” e “Claraval”, que no nosso entender encaixam perfeitamente, carrega consigo uma grande componente histórica e local, prestando uma grande homenagem às raízes da nossa cidade, Alcobaça.

Uma das maiores relações com o mosteiro é feita através da importância do som e da criatividade. Para entender melhor esta relação, sugiro a leitura da entrevista que fizemos à Dra. Ana Pagará, Diretora do Mosteiro de Alcobaça, que pode ser consultada no nosso website. A Dra. explica que quando viu as peças, fê-la pensar no modo em que os monges se conectavam com Deus, que era através da música. Apesar da Ordem de Cister ser conhecida pelo silêncio, este silêncio era rompido através da música. Esta e outras conexões podem ser lidas em melhor detalhe através das fantásticas palavras da Dra. Pagará. Não querendo estar aqui a citar repetidamente as suas palavras, volto, portanto, a reiterar a recomendação de leitura no nosso website: www.claraval.pt.

Kéramica – Fale-nos da diferenciação e do posicionamento, a que esta marca se propõe?

Elsa Almeida – A nível de diferenciação penso que seja bastante claro. Produzir cerâmicas deste modo é pioneiro no mundo. É uma proposição de valor única. É uma forma de experienciar o produto cerâmico de uma maneira completamente diferente e nova. É disruptivo. Quando paramos para apreciar a conexão entre, por exemplo, a voz da Sónia Tavares a ecoar no mosteiro e as formas produzidas em resultado disso, toca-nos de uma maneira diferente. Esta foi apenas a primeira coleção, nós preten-

demos explorar não apenas os sons humanos, como são exemplos a voz e a música, mas também os sons do mundo natural, de locais específicos, eventos específicos, etc. Em Portugal, já nos imaginamos a captar sons do rio Douro, por exemplo, ao longo do seu extenso leito. Ao longo da costa portuguesa, de norte a sul, em diferentes tipos de costa, inclusive já fizemos captações dos sons das ondas. Há muita coisa a explorar, pois cada um destes locais tem as suas propriedades e produz um conjunto único de sons que nos permitem transformar em requintadas peças de cerâmica.

Posto isto, queremo-nos posicionar como uma marca que combina a inovação tecnológica ao nível do design computacional e impressão 3d da Skopelab, com as técnicas de fabricação tradicional de cerâmicas e know-how da PP&A. Queremos explorar o património cultural e natural através da captação de sons, oferecendo uma proposta de valor capaz de revolucionar o setor das cerâmicas.

Keramica – Esta marca está destinada a um segmento em particular de clientes ou a um mercado específico?

Elsa Almeida – Relativamente à segmentação, claramente o segmento médio-alto é onde queremos estar. A Claraval junta à elevada qualidade dos produtos da S. Bernardo, as técnicas inovadoras da Skopelab, pelo que temos noção da nossa proposta de valor.

Pretendemos apontar ao mercado B2B, sendo que é nossa intenção também vender diretamente a lojas e a outros espaços comerciais. Algo que está pendente de análise é também a venda direta ao público, no entanto sem nada concreto para já. Existem várias possibilidades que, com o avançar do tempo e análise aos padrões de mercado e aceitação aos nossos produtos e à própria marca, terão de ser analisados.

Keramica – Como vão coexistir a marca CLARAVAL e a marca S. Bernardo?

Elsa Almeida – A Claraval e a S. Bernardo são na verdade bastante diferentes entre si. Há uma diferenciação clara entre ambas as marcas uma vez que a S. Bernardo atua principalmente em projetos de co-criação e produção com os nossos clientes. Temos as nossas próprias criações e coleções, claro, mas mesmo estas são vendidas muitas das vezes em “private label”. Com a Claraval é diferente, é uma parceria com a Skopelab em que nos propomos a criar peças de arte únicas de cerâmica. Todas as peças serão criações únicas e próprias, não havendo a possibilidade de alterações e customizações como acontece,

Março . Abril . 2023 Entrevista . Kéramica . p.19 Entrevista

Entrevista

por exemplo, com a S. Bernardo, onde tentamos sempre ir ao máximo de encontro àquilo que o cliente deseja. Para além disto, convém referir também que os mercados em que iremos comercializar ambas as marcas são diferentes e distintas entre si.

Keramica – A primeira coleção da marca CLARAVAL, Monastery, foi lançada muito recentemente. Esta coleção tem um processo de criação das peças muito inovador. Fale-nos um pouco sobre esse processo.

Elsa Almeida – Sim, a primeira coleção oficial da marca Claraval chama-se “Monastery Collection”. Desde o início da sua conceção, sempre foi ponto assente que esta teria de ser algo com uma grande componente cultural e local, que representasse as raízes da empresa e do próprio nome da marca. Como tal, para dar vida ao projeto contámos com uma artista oriunda de Alcobaça que dispensa apresentações – Sónia Tavares - vocalista dos “The Gift”. No início o processo envolve a captação de sons, e fizemo-lo através da gravação da Sónia a cantar em plenos pulmões no Mosteiro de Alcobaça. O que acontece depois é um processo algorítmico, que nos permite transformar os sons gravados em geometria 3D. É um processo que é, claro, computacional, mas que não deixa de ser um processo criativo porque cada peça é esculpida ao vivo, em tempo real, enquanto o som é reproduzido. Não é uma simples transformação matemática de sons para geometrias. Estas geometrias, estas formas, são depois reproduzidas através de impressão 3D avançada. A partir disto conseguimos ter as madres e posteriormente os moldes para podermos proceder à tradicional produção cerâmica de enchimento.

A verdade é que o som é um aspeto fulcral do mundo que nos rodeia, num mundo que é na maior parte das vezes mais visual. Ainda assim, o som tem um tremen-

do impacto nas nossas vidas, somos movidos por música, por sons, por aquilo que ouvimos, talvez mais do que por aquilo que vemos. Foi esta perceção que levou a Skopelab a investigar a ideia de transformar as harmonias e os ritmos do som em harmonias e ritmos de formas geométricas.

Keramica – O facto de esta Marca estar relacionada com o Mosteiro de Alcobaça, local emblemático do Gótico e da Ordem de Cister e considerado Património da Humanidade pela UNESCO, irá acrescentar mais-valia à marca? A cerâmica em Alcobaça como um todo, pode beneficiar com a criação desta marca?

Elsa Almeida – Sim, eu penso que a conexão entre o Mosteiro de Alcobaça e a marca é importante. Não apenas pelo que já referi acerca da origem do nome da marca, mas também porque é o sítio mais emblemático de Alcobaça e é um local que sempre esteve ligado à criatividade. O Mosteiro serviu de berço para inúmeras correntes e movimentos artísticos ao longo dos séculos. Como tal, creio que tendo em conta os valores e inspirações que sustentam a Claraval, bem como todas as conexões que já tive oportunidade de referir, conseguimos representar e homenagear da melhor maneira este marco emblemático da cidade de Alcobaça.

Penso que sempre que alguma empresa ou indivíduo tenta trazer algo inovador à cidade, temos de tentar olhar para isso de maneira positiva. Para além de atrair novos olhos e atenções para a cidade ou para o setor da cerâmica, neste caso, é uma oportunidade para todos tentarmos evoluir e ser melhores a cada dia que passa. É isso que nos move e penso que a indústria da cerâmica em Alcobaça pensa do mesmo modo.

Keramica – Pode identificar iniciativas futuras, desta marca?

Elsa Almeida – Posso dizer que isto é apenas o início. Temos imensas ideias e projetos em mente. A marca foi lançada no final do mês de abril, no Salone del Mobile, em Milão, com uma grande aceitação por parte dos visitantes, o que nos leva a estar bastante otimistas em relação ao futuro.

As nossas intenções futuras passam por explorar o significado do som, tanto do mundo natural como cultural. Explorar geografias. Explorar morfologias. Explorar a costa. Explorar a voz humana. Explorar a música. Explorar eventos naturais de modo a conseguir produzir constantemente novas e únicas peças. Temos uma grande crença no potencial desta ideia, desta marca, e de toda a equipa que está por trás.

Março . Abril . 2023 p.20 . Kéramica . Entrevista

DOIS ARQUITECTOS VENCE CONCURSO DE IDEIAS PARA A ZONA DA ANTIGA LOTA DE AVEIRO

O gabinete Dois Arquitectos , liderado pelos arquitetos Nuno Costa e Cátia Alexandre, venceu o 1º lugar no “Concurso de Ideias Estudo Urbanístico da Zona da Antiga Lota de Aveiro – Living Places Lab” lançado pela Câmara de Aveiro no passado mês de Setembro.

Ideia a concurso que arrecadou um prémio de 50 mil euros e o sonho de ver aproveitada a aposta numa ocupação que, segundo os promotores, quer explorar o conceito de Parque Urbano.

O local de intervenção definido para o “Concurso de Ideias - Estudo Urbanístico da Zona da Antiga Lota de Aveiro – Living Places Lab” caracteriza-se por ser uma zona limite da cidade, que se encontra maioritariamente devoluta e invadida pela natureza.

O gabinete Dois Arquitectos assume a importância deste trabalho criativo, entretanto realizado. Diz que tratando-se de uma área nobre da sua própria cidade, procurou defender a visão de residentes com uma exploração de um conceito que permite o funcionamento da área como ponto de encontro, área comercial, residencial e hoteleira e espaço de lazer onde será possível encontrar espaço para ancoradouro náutico.

O projeto vencedor do concurso de ideias para a antiga lota, lançado pela Câmara de Aveiro, foi apresentado em pormenor pelo gabinete aveirense Dois Arquitectos. A apresentação do chamado “Parque Urbano das Marinhas” veio acompanhada com números. Para habitação estão destinados 15.400 metros quadrados e outros oito mil para um hotel. O edifício da lota, atualmente devoluto, será remodelado e ampliado e ocupará 2.250 metros quadrados, ficando destinado à venda de produtos locais, a comércio e restauração. Para as associações náuticas e culturais serão construídos armazéns de seis mil metros quadrados e o Living Places Lab, um

equipamento vocacionado para a interpretação ambiental e a investigação, terá 2.350 metros quadrados. A zona de parque urbano propriamente dita, um espaço «agregador e polivalente», segundo o arquiteto Miguel Melo, será dotada com 22.500 metros quadrados. Haverá, ainda, um ancoradouro com 13.400 metros quadrados, capaz de receber embarcações até 40 metros.

“É com orgulho que apresentamos a nossa proposta para o lugar da antiga lota de Aveiro. Caracterizada por ser uma zona limite da cidade, maioritariamente devoluta e invadida pela natureza, pode ser um local de partida para os mais aventureiros que rompem mar adentro na procura de atividade física ou, simplesmente, paz de espírito. Aveiro é uma cidade com história, uma história muito ligada à água, às safras, às tradições e às suas gentes e proporcionar uma melhoria na qualidade de vida nos seus habitantes e visitantes é uma forma de a homenagear. Modernidade, sustentabilidade e inclusão, a par com o respeito pela história e cultura do lugar, uma proposta que valoriza um património muito nosso.” Dois Arquitectos

Março . Abril . 2023 Arquitectura
Aqruitectura . Kéramica . p.21

DESCARBONIZAÇÃO DO SETOR DA CERÂMICA - STATE OF THE ART DO USO DO HIDROGÉNIO VERDE

A luta contra as alterações climáticas é imperativa para o futuro da Europa e do mundo.

A União Europeia estabeleceu objetivos climáticos ambiciosos e demonstrou liderança mundial na luta contra as alterações climáticas. Com o Pacto Ecológico Europeu e a Lei Europeia do Clima, juridicamente vinculativa, a UE colocou o continente numa via clara para a descarbonização.

A Lei Europeia do Clima legisla o objetivo estabelecido no Pacto Ecológico Europeu para que a economia e a sociedade europeia se tornem neutras em termos climáticos até 2050.

A lei estabelece também o objetivo intermédio de redução de 55% das emissões de CO2 até 2030, em comparação com os níveis de 1990. A Lei Europeia do Clima entrou em vigor em 29 de Julho de 2021.

A cerâmica é um setor intensivo em energia, sendo que esta última representa em média cerca de 30% dos custos desta indústria na União Europeia (UE). As emissões totais da indústria cerâmica europeia ascendem a 19 milhões de toneladas de CO2 por ano (valores de 2020), o que representam cerca de 1% do total das emissões industriais da Europa abrangidas pelo Sistema de Comércio de Licenças de Emissão da União Europeia (CELE).

Por outro lado, as instalações de fabricação de produtos com base cerâmica, sendo maioritariamente compostas por Pequenas e Médias Empresas (PME) e pequenos emissores, representam 10% de todas as instalações industriais abrangidas pelo CELE.

Na UE, aproximadamente 83% das emissões de CO2 do setor da cerâmica estão relacionadas com o consumo de energia. O mix do consumo energético industrial é composto de cerca de 85% de gás natural e 15% de eletricidade. Os 83% podem ser desagregados entre o que é devido à combustão de combustíveis fósseis (64%), e os

restantes 19% que advém da composição da matriz energética da eletricidade consumida.

Os restantes 17% das emissões de CO2 estão intrinsecamente associadas aos processos industriais, causadas pela decomposição de carbonatos em matérias-primas como calcário, dolomite ou magnesite.

A indústria cerâmica precisa de descarbonizar em duas frentes, (i) reduzindo o consumo de energia para o mesmo output recorrendo a medidas de eficiência energética, e (ii) através da transição para o consumo de energia de base renovável.

É possível alcançar melhorias de eficiência energética através de sistemas com recuperação de calor, reduzindo o consumo de combustível, que poderá ser realizado através da captura de gases do forno para pré-aquecer a combustão ou o secador. A conceção inteligente das instalações de fabrico é também importante, porque a distância física entre os diferentes processos, como a cozedura e a secagem, pode conduzir a poupanças de energia.

A transição para as energias renováveis será feita gradualmente e dependerá do tipo de instalação e das opções localmente disponíveis. Algumas instalações poderão passar a utilizar eletricidade renovável, enquanto outras poderão eventualmente utilizar biocombustíveis, hidrogénio verde (produzido por eletrólise da água a partir de fontes renováveis) ou gás verde sintético.

Março . Abril . 2023 Energia p.22 . Kéramica . Energia
smartenergy.net Leading the way in green hydrogen. Green Hydrogen Solar PV Wind Power

Energia

No caso do hidrogénio verde, os esforços centram-se nas modificações que devem ser efetuadas nos queimadores para ultrapassar o limite de 5 a 20% de blend de hidrogénio com o gás natural. A influência da integração deste novo vetor energético na qualidade do produto está ainda a ser investigada, embora ao nível de laboratório, e por um fabricante tenham sido testados com uma substituição até 50% e os resultados indicarem que não afeta a qualidade no que se refere a pavimentos e revestimentos. Outro exemplo: em 2022, a Michelmersh anunciou ter obtido aprovação de uma candidatura para mudança de combustível na indústria, por parte do Governo do Reino Unido, para a realização de um estudo de viabilidade para substituir o gás natural por hidrogénio no processo de fabrico de tijolos (Hybrick). Se o estudo for bem-sucedido, será o primeiro tijolo de barro no mundo cozido com 100% de hidrogénio.

No caso da eletrificação direta, existe atualmente a possibilidade de substituir a atomização por uma secagem eletrificada, com a necessidade de modificar o equipamento, num TRL (Technology Readiness Level) de 7. A cozedura encontra-se num TRL inferior (3).

No que respeita à implementação da captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) e apesar do nível TRL ser elevado, esta não é uma opção viável devido

à baixa concentração de CO2 nos gases de emissão, à variabilidade e dimensão das fontes (a maioria das empresas é PME), à falta de uma infraestrutura de transporte e armazenamento e ao custo da tecnologia.

É possível aplicar medidas relativas às emissões de processo, tais como a redução dos aditivos que contêm carbono e a minimização do teor de carbono das misturas de argila, assegurando simultaneamente que tal não conduza a um aumento das emissões relacionadas com os transportes.

O hidrogénio verde pode desempenhar um papel importante no setor da cerâmica como vetor energético, substituindo o gás natural nos fornos e secadores da indústria cerâmica, uma vez verificada a ausência de impactos negativos na qualidade do produto final.

O setor da cerâmica espera que até 2030 apenas pequenas quantidades de hidrogénio verde estejam disponíveis para a indústria cerâmica, devido essencialmente (i) à elevada procura por parte de outros setores, (ii) a questões de preços e (iii) à falta de infraestruturas, e que só a partir de 2040 haja uma disponibilidade crescente de hidrogénio verde. Mas, diversas iniciativas tomadas a nível da UE e dos Estados Membros, quer a nível de financiamento público (Planos de Recuperação e Resiliência nacionais, o anúncio dos leilões de Hidrogénio pelo Euro-

Março . Abril . 2023 p.24 . Kéramica . Energia
Aveiro Green H2 Valley

pean Hydrogen Bank, recentemente criado pela UE, etc.), quer ao nível regulamentar e regulatório, alavancadas em dois drivers principais – a transição climática e a autonomia energética – levam-nos a crer que o hidrogénio verde a preços competitivos e acessível possa estar disponível muito mais cedo. Acresce ainda que o aumento dos preços do gás natural, causado pela invasão russa da Ucrânia, tornou o hidrogénio verde mais competitivo do que anteriormente, o que levou a um aumento do investimento e do interesse do setor privado neste setor que pode ajudar a Europa a reduzir as suas emissões de CO2.

Em Espanha, a Smartenergy está a liderar um consórcio internacional e a investir no desenvolvimento do projeto ORANGE.BAT, que tem como objetivo descarbonizar um dos maiores clusters cerâmicos da Europa, localizado em Castellón, na região de Valência. Este projeto estabelece o caminho para a total descarbonização de um setor industrial intensivo em termos de energia, e consequentemente em emissões de CO2, substituindo o gás natural por hidrogénio verde como combustível. O projeto já tem assegurado a maior parte do terreno para a construção da central solar fotovoltaica e o terreno para a instalação da unidade de produção de hidrogénio e aguarda aprovação relativa aos licenciamentos ambientais. Também existe agora uma maior predisposição por parte dos empresários industriais do setor cerâmico na adesão ao projeto do que há um ano, sobretudo porque estes perceberam que a transição para o hidrogénio verde será feita com o recurso a blend de H2/ GN, que será progressivamente maior em quantidade de H2.

E o que está a ser feito para a adaptação das indústrias ao hidrogénio verde? A título de exemplo, e no âmbito do projeto ORANGE.BAT, está a ser preparado um projeto piloto numa das indústrias participantes, que passa pelo redesenho do processo de aquecimento através da implementação do hidrogénio como combustível. Para poder alimentar os queimadores com hidrogénio, ir-se-á começar com o aumento gradual de H2 no blend com o gás natural, até atingir uma substituição de 100%. Ir-se-á proceder à modificação dos queimadores para obter uma nova chama, estável e otimizada, sem afetar a geometria e a estrutura do forno. Também se fará a integração de novos sistemas de medição para monitorizar o processo e far-se-á a avaliação do comportamento dos refratários sob H2 e a investigação sobre materiais que resistam ao ataque da água e do H2. Será ainda concebido um ecossistema para instrumentação de controlo adicional para regular os fluxos de H2 e a chama (invisível), para os quais

são implementados detetores de chama baseados em infravermelhos (IR) e ultra-violetas (UV).

Em Portugal, também estão a ser desenvolvidos vários estudos e projetos piloto, por exemplo, com o apoio de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, para estudar a reconversão das infraestruturas (industriais) de distribuição do blend H2/ GN e do forno no setor cerâmico.

A Smartenergy tem vindo a desenvolver diligências em Portugal, no sentido de explorar oportunidades semelhantes ao ORANGE.BAT, junto de setores (incluindo o setor cerâmico) que necessitam igualmente de adotar medidas para contribuir para a descarbonização.

Assim, a Smartenergy está a desenvolver um projeto – Aveiro Green H2 Valley – no qual irá instalar um electrolisador de cerca de 100 MW, que produzirá H2 verde em Oliveira do Bairro. Este projeto servirá várias indústrias de cerâmica e espera-se possa estar operacional em 2025 (dependendo de financiamento público parcial e dos processos de licenciamento). O projeto contribuirá para a descarbonização da indústria, fornecendo H2 verde como vetor energético e matéria-prima, para injeção na rede de gás natural, e para o setor da mobilidade (sobretudo veículos pesados). A eletricidade renovável será proveniente de uma central fotovoltaica da Smartenergy localizada no distrito de Aveiro. A Smartenergy tem estabelecido parcerias com os principais agentes tecnológicos da indústria do Hidrogénio, e outros fornecedores de equipamento, e tem em curso conversações avançadas com parceiros da cadeia de valor, por exemplo, potenciais offtakers, alguns dos quais players importantes da indústria cerâmica. Em resumo, os fatores energéticos têm um papel relevante nas limitações ao desempenho ambiental e económico da indústria cerâmica. O hidrogénio verde pode desempenhar um papel importante no setor da cerâmica enquanto vetor energético, substituindo o gás natural nos seus fornos e secadores. Começam a existir estudos, testes e projetos piloto para adaptação das indústrias cerâmicas a este vetor energético. O hidrogénio verde em quantidade e a preços competitivos e acessível pode estar disponível para a indústria cerâmica mais cedo do que o previsto pelo setor. Vários projetos, na Europa e em Portugal, para produção de hidrogénio verde estão a ser desenvolvidos e podem estar em condições de servir a indústria cerâmica antes de 2030. A indústria cerâmica em Portugal pode, e deve, beneficiar desta mudança de paradigma em curso e tirar partido do financiamento público disponível para a sua descarbonização.

Março . Abril . 2023 Energia . Kéramica . p.25 Energia

Secção Jurídica

A PROTECÇÃO LEGAL DOS DESENHOS OU MODELOS

A Propriedade Industrial, onde se integram as invenções (ou patentes), as marcas, os desenhos e modelos industriais e as denominações de origem, tem como primordial função a garantia da lealdade da concorrência, através da atribuição de direitos privativos incidentes sobre os diversos processos técnicos de produção e desenvolvimento de riqueza.

O desenho ou modelo é, nos termos do disposto no Código de Propriedade Industrial, aquilo que “designa a aparência da totalidade, ou de parte, de um produto resultante das características de, nomeadamente, linhas, contornos, cores, forma, textura ou materiais do próprio produto e da sua ornamentação”, incidindo, portanto, sobre as suas características visíveis, o aspecto exterior dos produtos, das particularidades que afectam esse mesmo aspecto.

Para que seja concedida protecção legal aos desenhos ou modelos é necessário que estes tenham carácter singular e sejam novidade, ou que, não sendo inteiramente novos, realizem combinações novas de elementos já conhecidos ou disposições alternativas de elementos já utilizados, de modo a conferirem ao produto o carácter singular.

A novidade existirá quando o desenho ou modelo em questão ou outro idêntico não tenha sido divulgado ao público, antes do pedido de registo ou da prioridade reivindicada. O carácter singular é avaliado conforme a percepção global que suscite no utilizador médio, e caso esta se afaste da impressão global causada a esse utilizador por qualquer outro modelo ou desenho divulgado ao público antes da data do pedido de registo ou da prioridade.

Estando preenchidos os requisitos de novidade e de carácter singular, é possível principiar o processo de registo de um desenho ou modelo industrial. Como impulso inicial, é necessária a apresentação de um requerimento

junto do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no qual, entre outros elementos, se incluem informações detalhadas sobre o desenho ou modelo, incluindo imagens e especificações técnicas, que pode ser submetido presencialmente ou através do portal do INPI. O pedido é analisado pelo INPI, no prazo máximo de um mês, prorrogável por igual período, que verifica se o desenho ou modelo cumpre os requisitos legais e se, como tal, é elegível para registo. Sendo verificada alguma desconformidade, é o requerente convidado a corrigir ou complementar o seu pedido.

Após a análise do pedido, e caso este seja aceite, o mesmo é publicado no Boletim da Propriedade Industrial, para que terceiros se possam opor ao pedido de registo. Não havendo oposição, ou se as oposições não forem aceites, o registo é concedido e é emitido um certificado de registo para o titular.

O registo do modelo ou desenho impede o uso não autorizado por terceiros, considerando que concede ao seu titular o direito de utilizar, produzir, vender ou distribuir o produto baseado no modelo ou desenho, a título exclusivo. Este é concedido pelo prazo de 5 anos contados a partir da data do depósito do pedido, podendo ser renovado por períodos consecutivos de 5 anos até um máximo de 25 anos.

Março . Abril . 2023
p.26 . Kéramica . Secção Jurídica

Notícias & Informações

NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS

CASAFINA

Campanha Primavera - Time of Renewal

A estação da renovação. A primavera é altura de novos começos. Largar o velho e abrir espaço para o novo… uma prática antiga com ainda grande valor nas casas modernas.

Introduzimos uma das nossas novidades para 2023: a coleção Monterosa. Uma coleção de pequenos grandes detalhes que a distinguem a um nível superior.

A ode aos estilos minimalistas escandinavos e japoneses que leva a uma inspiração dos sentidos.

Destaque a crueza e pureza da coleção na sua mesa. A sua simplicidade fará com que se adapte a qualquer ambiente.

Sobre a Casafina

Criada em 1981, a Casafina é uma marca de referência

Manufaturadas em Portugal, as coleções em grés fino da Casafina são cuidadosamente idealizadas e cada peça tem velando uma autenticidade que só encontramos quando os

Secção Jurídica . Kéramica . p.27
CasaFina CasaFina

Notícias & Informações

Estas coleções, de carácter único e intemporal são complementadas com outros artigos de fabrico português, como têxteis de elevada qualidade, artigos em cortiça e madeira, peças em terracota pintadas à mão e, também, coleções de copos manufaturadas na Europa. Porque o quotidiano pode e deve ser apreciado com peças que façam parte de todos os momentos vividos em casa e que perdurem.

GRES PANARIA PORTUGAL

Cerâmica Gresart adquirida pela Gres Panaria Portugal

A Gres Panaria Portugal, detentora das marcas nacionais Margres e Love Tiles, adquiriu a totalidade do capital social da cerâmica de Oliveira do Bairro, Gresart, S.A. Esta aquisição insere-se na estratégia de crescimento do Panariagroup Industrie Ceramiche em Portugal. Desta forma, a empresa vê fortalecida a diversificação de mercados e clientes, atingindo todos os segmentos de mercado, que passarão a contar com um portefólio de produtos e soluções ainda mais completo.

Esta operação permitirá potenciar a capacidade de crescimento a nível produtivo e tecnológico bem como reforçar a quota de mercado no setor de pavimentos e revestimentos cerâmicos em Portugal, no qual já é líder.

Marco Mussini, presidente do conselho de administração da Gres Panaria Portugal, considera que esta aquisição vai permitir alargar a oferta de produtos cerâmicos aos clientes e criar um posicionamento estratégico nos vários segmentos de mercado.

Esta é a terceira aquisição da multinacional italiana Panariagroup Industrie Ceramiche S.p.A em Portugal. Com mais de 20 anos de atividade comercial no mercado português, através das marcas Love Tiles e Margres e uma presença em mais de 100 países, este investimento é uma demonstração do compromisso da empresa mãe com Portugal e do empenho no desenvolvimento de um tecido empresarial cada vez mais sólido.

Com a aquisição da Gresart, prevê-se que a capacidade produtiva total instalada em Portugal possa ultrapassar os 10 milhões de metros quadrados e alcance um volume de faturação superior a 110 milhões de euros em vendas consolidadas, consubstanciando desta forma o plano de crescimento e diversificação da Gres Panaria Portugal.

A Gresart Cerâmica Industrial, S.A., fundada em 1981, está sediada em Oliveira do Bairro e a sua unidade industrial produz, sobretudo, grés porcelânico e monoporosa pasta branca. Em 2022, o volume de faturação da empresa foi de 15 milhões de euros.

Com esta aquisição Marco Mussini define como objetivo um crescimento sustentado das vendas e dos resultados, fruto de uma oferta completa de soluções de revestimento e pavimento cerâmico e dos 50 anos de experiência do Panariagroup na gestão e desenvolvimento de marcas no setor cerâmico.

MARGRES

Lançamento da 6ª edição do Margres Architetcure Award

Abril marca o regresso da 6ª edição do Margres Architecture Award. A Margres, no ano que celebra o seu vigésimo aniversário, lança mais uma edição do prémio que premeia a arquitetura nacional.

Na edição passada o grande vencedor foi o gabinete Risco Singular, com o seu projeto residencial ‘Santos House’. Foram mais de 25 projetos a concurso, com obras nacionais e internacionais, o que comprova o sucesso, o prestígio e a notoriedade deste prémio.

Podem candidatar-se ao prémio as obras construídas em território nacional e internacional, da autoria de arquitetos portugueses e estrangeiros, inscritos nos Organismos de Arquitetura dos respetivos países e que contenham produtos cerâmicos da Margres.

O concurso está a decorrer desde o início de abril e a inscrição e submissão das candidaturas é toda feita online através do website da marca:

Março . Abril . 2023 p.28 . Kéramica . Notícias & Informações

http://margresarchitectureaward.com

O vencedor do Margres Architecture Award receberá um prémio monetário no valor de 10 mil euros.

REVIGRÉS

Central Fotovoltaica da REVIGRÉS inaugurada pelo Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro

A segunda fase da Central Fotovoltaica para Autoconsumo da Revigrés foi inaugurada no dia, 12 de abril, com a presença do Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, do Presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, da Secretária de Estado da Energia e do Clima, Ana Fontoura Gouveia, do Presidente da APICER, José Pratas, e do Presidente da Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários, Hugo Santos Ferreira.

Victor Ribeiro, CEO da Revigrés refere que “A segunda fase da instalação da Central Fotovoltaica de Autoconsumo da Revigrés permitiu-nos reforçar a produção de energia limpa de 1,2GWh/ano para cerca de 4GWh/ano. Com esta aposta, perto de 20% da energia consumida nas nossas unidades fabris provem de fontes renováveis, evitando a emissão de 1826 toneladas de CO2 por ano. Mais um marco importante, numa já de si ampla política de sustentabilidade, o que nos permite afirmar que a nossa cerâmica é mesmo verde.”

A Helexia foi a empresa parceira responsável pela projeção, concretização e implantação desta nova fase da central fotovoltaica, possibilitando à Revigrés a duplicação da sua capacidade de produção de energia limpa. Em funcionamento estão 7.328 painéis fotovoltaicos e uma potência de 2.9MWp, que resultam numa produção de energia solar de 4 GWh/ano. Com o novo parque fotovoltaico é também possível uma redução nas emissões de CO2 em 1826 toneladas/ano, o que corresponde à plantação de cerca de 47 mil árvores.

“O setor da indústria em Portugal tem um enorme potencial para melhorar a competitividade através da descar-

bonização da geração de energia, que progressivamente pode ser local e renovável devido à evolução da tecnologia e da regulamentação. O setor onde se insere a Indústria da Cerâmica teve em 2021 um autoconsumo de eletricidade abaixo de 0.9%, de acordo com dados oficiais, quando o potencial global é da ordem dos 13%, segundo um estudo publicado pela Helexia. Atingir um autoconsumo perto dos 20%, permite à Revigrés beneficiar de um custo de eletricidade competitivo e de aumentar a sua independência energética a longo prazo.” comentou Pedro Antão Alves, Diretor Comercial da Helexia.

O caminho da Revigrés para a sustentabilidade

Num contexto altamente desafiador para as empresas em termos sociais e económicos, a Revigrés planeia um futuro assente numa estratégia de otimização de processos e em objetivos comerciais ambiciosos, apoiados na inovação tecnológica e em soluções cerâmicas diferenciadoras, com foco na sustentabilidade.

Destaque para a co-promoção de dois projetos integrados nas Agendas Mobilizadoras e Agendas Verdes para a Inovação Empresarial do PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, tendo em vista o cumprimento das metas da Neutralidade Carbónica através de 1) novas tecnologias, 2) formas de energia mais eficientes e 3) desenvolvimento de produtos inovadores, resultantes de processos mais sustentáveis e ecoeficientes.

Descarbonizar a indústria para a sustentabilidade

A Helexia tem o compromisso de ajudar as empresas nos seus roteiros de descarbonização contribuindo assim para uma economia de baixo carbono. Neste caminho, tem em operação 25MWp que produzem 60 GWh/ano de energia limpa, o que corresponde a 27% das necessidades energéticas dos clientes.

O trabalho desenvolvido pela Helexia junto com os clientes já evitou a emissão de 28 471 toneladas de CO2/ano,

Março . Abril . 2023 Notícias & Informações Kéramica p.29 Notícias & Informações
Central Fotovoltaica Revigres

Notícias & Informações

o equivalente a plantar 730 000 árvores. Ao nível dos custos energéticos, as parcerias com a Helexia permitiram aos clientes poupanças anuais superiores a 2M€.

Atualmente, tem em construção 52MWp e vários projetos de eficiência energética e mobilidade elétrica que reforçam o compromisso com a descarbonização.

Dados sobre a evolução da UPAC Revigrés

SOBRE A REVIGRÉS

A Revigrés é uma empresa especializada na produção de revestimentos e pavimentos cerâmicos que reveste o mundo com histórias, inspiração e arte, há mais de 45 anos.

Presente em mais de 50 países, mantém uma relação de estreita parceria e colaboração com os profissionais no mercado nacional e internacional, sendo frequentemente selecionada para obras de grande impacto, com projetos exclusivos.

Destaque para o Harrods, em Londres, e a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, para a qual tem vindo a desenvolver, em exclusivo, cores da Coleção Cromática, uma das coleções em grés porcelânico mais completas, a nível mundial.

A nossa cerâmica é verde

Reduzir o impacto ambiental é uma preocupação global que, na Revigrés se materializa numa Política Ambiental estruturada, apoiada no investimento em inovação e na adoção de um comportamento eco-eficiente.

As coleções de revestimentos e pavimentos em grés porcelânico da Revigrés são certificadas com uma Declaração Ambiental de Produto (tipo III) – segundo a Norma ISO 14025 e EN 15804 – contribuindo para a obtenção das certificações ambientais de edifícios e, consequentemente, para a sustentabilidade da construção.

A Revigrés é ainda a única empresa portuguesa no setor cerâmico com a quádrupla certificação dos seus sistemas

de gestão integrados, nos seguintes referenciais: Qualidade; Ambiente; Responsabilidade Social; Investigação, Desenvolvimento e Inovação.

ROCA

Design e Sustentabilidade saem mais uma vez vencedores da 7.ª edição do Roca One Day Design Challenge

No passado dia 11 de março, decorreu, em Lisboa, na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, a sétima edição em Portugal do Roca One Day Design Challenge (ODDC), que, este ano regressou ao formato presencial. Os participantes foram desafiados a apresentar, em apenas 8 horas, ideias inovadoras para o espaço de banho, em resposta a um briefing partilhado no início do evento.

Este ano, os participantes foram convidados a criar uma solução de banho que ajude as pessoas a realizar as suas funções básicas de higiene num cenário de catástrofe natural. O briefing, apresentado no início do dia, baseou-se na premissa de que num cenário de catástrofe natural, como terramotos, furacões, inundações e incêndios, podem provocar interrupções no fornecimento de água potável, assim como no saneamento básico. Em contrarrelógio, os participantes tiveram de desenvolver uma solução que ajude as pessoas a realizar as suas atividades de higiene nestes cenários, permitindo privacidade e garantindo a sustentabilidade da solução, tendo apenas oito horas para submetê-la no final do concurso.

Os projetos foram avaliados pelo júri constituído pela Roca e profissionais de renome no mundo do design e da arquitetura: Jorge Vieira, Managing Diretor da Roca S.A., Pedro Novo, fundador do atelier Pedro Novo arquitetos, Profª. Isabel Dâmaso, Professora na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Susan Cabeceiras, Fundadora da Konceptness, e as vencedoras da edição anterior, Rosana Sousa, com

Março . Abril . 2023 p.30 . Kéramica . Notícias & Informações
Projeto 1º Fase UPAC 2º Fase UPAC TOTAL Data maio 2019 novembro 2022 Painéis 3 628 3 700 7 328 Potência - MWp 0,9 2 2,9 Produção Energia Solar/ano GWh 1,2 2,7 3,9 % sobre total consumido 6,5% 13,5% 20,0% Redução emissões CO2/ton/ano 526 1300 1826

formação académica no Instituto Politécnico do Cávado, e Sofia Vieira com formação académica em Belas Artes da Universidade do Porto.

Hygibucket foi o projeto vencedor do Roca ODDC 2023, com o primeiro prémio, no valor de 2.000€. A avaliação do júri sobre o trabalho criado por João Queirós, da Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, foi unanime, dado que o projeto refletia o espírito de catástrofe, traduzindo-se numa solução prática e versátil e com grande atenção aos detalhes, ao nível da execução.

O segundo prémio, no valor de 1.500€, foi atribuído à equipa composta pela dupla Bernardo Pereira e Rodrigo Santa Rita, alunos da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. O projeto Emergency Hygiene Unit foi avaliado pela sua boa apresentação, bom design, facilidade na compreensão da solução, bem como pela facilidade de transportar e desmontar enquanto objeto.

O projeto On the go, criado por Joana Gonçalves e Miguel Lamas da Faculdade de Belas Artes de Lisboa foi galardoado com o terceiro prémio (1.000€). O júri destacou neste trabalho a multifuncionalidade da peça, traduzindo-se numa solução compacta, excelente para armazenamento e fácil de transportar.

Organizado pela Roca, esta edição do Roca One Day Design Challenge, contou com a participação de estudantes de 8 nacionalidades diferentes, e convidou os estudantes, designers e arquitetos profissionais, com menos de 30 anos e de todo o país, a conceberem, em apenas oito horas, novas e diferentes soluções para o espaço de banho que contribuam para um futuro mais consciente e sustentável, ao mesmo tempo que respondem ao desafio apresentado.

O concurso, em conformidade com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, é um exemplo do compromisso da Roca para com o talento, a inovação e

a sustentabilidade, com o objetivo de promover a importância do design na resposta aos principais desafios globais, como a emergência climática e a neutralidade carbónica.

O concurso Roca One Day Design Challenge teve origem em Espanha, em 2012, e para 2023, estão previstas edições em mais 8 países: Argentina, Bulgária, Omã, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Marrocos, Indonésia e China

Março . Abril . 2023 Notícias & Informações . Kéramica . p.31 Notícias & Informações

Calendário de eventos

TEKTONICA’2023 (Construção)

Anual – Lisboa (Portugal)

De 04 a 07 de Maio de 2023 tektonica.fil.pt/

BATIMATEC’2023 (Construção)

Anual – Argel (Argélia)

De 07 a 11 de Maio de 2023 batimatecexpo.com

BERLIN DESIGN WEEK’2023 (Design/Tendências)

Anual - Berlin (Alemanha)

De 08 a 17 de Maio de 2023 https://berlindesignweek.com

THE HOTEL SHOW’2023 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

AAnual – Dubai (EAU)

De 23 a 25 de Maio de 2023 thehotelshow.com/

CONSTRUMAT’2023 (Construção)

Anual – Barcelona (Espanha)

De 23 a 25 de Maio de 2023 construmat.com

IMM’2023 (Interiores)

Anual – Colónia (Alemanha)

De 04 a 07 de Junho de 2023 imm-cologne.com

NEOCON’ 2023 (Design/Tendências)

Anual – Chicago (USA)

De 12 a 14 de Junho de 2023 neocon.com//

MAISON & OBJET’2023 (Cerâmica Utilitária e Decorativa

Bianual - Paris (França)

De 07 a 11 de Setembro de 2023 maison-objet.com

DESIGN London 2023 (Design/Tendências)

Anual – Londres (R.U.)

De 20 a 23 de Setembro de 2023 designlondon.co.uk/

CERSAIE’2023 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Bolonha (Itália)

De 25 a 29 de Setembro de 2023 cersaie.it

INTERIOR LIFESTYLE CHINA’2023 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Anual – Shangai (China) Setembro de 2023 interior-lifestyle-china.hk.messefrankfurt.com

THE NEW YORK TABLETOP SHOW´2023 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Anual – New York (EUA)

De 10 a 13 de Outubro de 2023 41madison.com/

LONDON BUILD ‘2023 (Materiais de Construção)

Anual – Londres (UK)

De 15 a 16 de Novembro de 2023 www.londonbuildexpo.com

BIG 5 SHOW´2023 (Materiais de Construção)

Anual – Dubai (EAU)

De 04 a 07 de Dezembro de 2023 www.thebig5.ae/

MAISON & OBJET’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Bianual - Paris (França)

De 18 a 22 de Janeiro de 2024 maison-objet.com

AMBIENTE’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Anual – Frankfurt (Alemanha)

De 26 a 30 de Janeiro de 2024 ambiente.messefrankfurt.com

SURFACE DESIGN SHOW’2024 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Londres (R.U.)

De 6 a 8 de Fevereiro de 2024 surfacedesignshow.com/

CEVISAMA’2024

(Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Valencia (Espanha)

De 26 Fevereiro a 01 de Março de 2024 cevisama.feriavalencia.com

EXPOREVESTIR’2024 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – São Paulo (Brasil)

De 19 a 22 de Março de 2024 exporevestir.com.br/

MOSBUILD 2024 (Materiais de Construção)

Anual – Moscovo (Rússia)

De 02 a 05 de Abril de 2024 mosbuild.com

SALONE DEL MOBILI’2024 (Design/Tendências)

Anual – Milão (Itália)

De 16 a 21 de Abril de 2024 salonemilano.it

COVERINGS’2024 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Atlanta (USA)

De 22 a 25 de Abril de 2024 coverings.com/

ARBE, AUSBAU & FASSADE2024 (Materiais de Construção)

Anual – Colónia (Alemanha)

De 23 a 26 de Abril de 2024 https://www.faf-messe.de

BATIMAT’2024 (Materiais de Construção)

Bienal - Paris (França)

De 30 Setembro a 06 de Outubro de 2024 batimat.com

EQUIPHOTEL’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Bienal - Paris (França)

De 03 a 07 de Novembro de 2024 equiphotel.com

BAU’2025 (Materiais de Construção)

Anual – Munique (Alemanha)

De 13 a 18 de Janeiro de 2025 bau-muenchen.com/en/

ISH’2025 (Cerâmica de Louça Sanitária)

Bienal - Frankfurt (Alemanha)

De 17 a 21 de Março de 2025 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html

Março . Abril . 2023 p.32 . Kéramica . Calendario de Eventos

Parceiro de Confiança no seu Negócio

CREDIBILIDADE - IMPARCIALIDADE - RIGOR

reconhecidos na certificação de produtos e serviços e de sistemas de gestão

Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo

Presente em 25 países

Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão

R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – E-mail: mail@certif.pt – www.certif.pt
© TRAÇO E MEIO –DESIGN Foto: 34033571 © Rangizzz | Dreamstime.com

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