Por Júlia Carvalho
O livro ‘’Americanah’’ O livro Americanah, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, publicado em 2013, conta essencialmente a história da jovem Ifemelu, em tom quase bibliográfico, e sua trajetória tanto na Nigéria quanto nos Estados Unidos. A narrativa envolve uma série de assuntos importantes, dentre eles está a transição capilar. A protagonista sempre teve os cabelos naturais, crespos, mas quando se mudou para estudar nos EUA, viu-se pela primeira vez como uma pessoa negra, tendo que redescobrir sua identidade, e é claro que nesse contexto, os fios são fundamentais. Em uma das partes do romance, Ifemelu decide alisar os cabelos depois que Curtis, seu namorado, consegue uma entrevista de emprego para ela. Foi um processo doloroso, e com o alisamento, Ifemelu não se reconhecia mais. A química dos produtos devastou seu cabelo, ele logo começou a cair, sem contar com as queimaduras da chapinha que deixaram seu couro cabelo em carne viva. Após essa etapa angustiante, Ifemelu decide recuperar o crespo, mas passa pelas fases difíceis da transição, como o corte das mechas alisadas. Outros momentos do livro também mostram as dificuldades e preconceitos que os cabelos crespos e cacheados sofrem. A tia Uju, por exemplo, precisou tirar suas tranças para trabalhar em um hospital, caso contrário, não teria pacientes. Os salões voltados para as madeixas afro ficavam muito longe dos centros urbanos, às margens das cidades. E, no blog de Ifemelu, ela questiona se o expresidente Barack Obama teria de fato sido eleito se sua esposa, Michelle, usasse os fios naturais em coletivas de imprensa, discursos e eventos. Americanah mostra as etapas que vão desde a coerção social e racista até o alisamento, e a caminhada árdua da transição capilar até a aceitação. Mostra a perspectiva de Ifemelu, uma mulher, negra, africana e de cabelo crespo. Sem sombra de dúvidas, trata-se de uma narrativa cativante e necessária. A obra ainda fala sobre imigração e relações inter-raciais, é um antro de representatividade negra
31