Por Lizânia Castro
A reprodução de falsos estereótipos na música ‘Nega do Cabelo Duro’ Desde os tempos mais remotos, a música se mostra como uma forte ferramenta que permite a liberdade para expressar-se. Dessa forma, a arte de se expressar através dela é muito apreciada pelas mais variadas parcelas da sociedade. Ainda, permite que o autor tenha maior facilidade em atingir demasiadamente um grande público. Assim, a partir desse fenômeno, esse objeto de expressão tornase também um objeto de representação artística. No entanto, ao utilizar esse meio para ditar e propagar falsos estereótipos acaba condenando e ridicularizando as vítimas dessa ação no contexto social. Nos anos 1980, um novo hit estava na “boca do povão”. A música Nega do Cabelo Duro, do baiano Luiz Caldas, marcou uma geração e ainda hoje é lembrada por aqueles que viveram, e até mesmo os que não, como recordação de um tempo que não volta mais. No entanto, ela é predominantemente racista e ridiculariza o cabelo afro-brasileiro. Por possuir um ritmo contagiante, escondia a explicitude da fala preconceituosa e, por esse fator, parte da comunidade negra deixou passar batido esse evento. Com um Brasil, que usa da estética eurocêntrica para medir seus padrões de beleza, a permanência de obras como essa só menospreza ainda mais aqueles que nasceram com uma beleza totalmente oposta, que nada puderam fazer a não ser submeterem-se a vigência de caráter branco. Ao usar essa ferramenta de expressão para falar sobre as madeixas da comunidade negra, é possível perceber que até mesmo músicas, de pessoas que também são negras, contribuem para a perpetuação de uma visão banalizada a respeito de si próprios. Isso, por si só, é uma chave de engajamento que fomenta a vontade de passar por procedimentos capilares, a fim de não mais sofrer com ideias equivocadas e enviesadas, como as apresentadas na canção. Logo, o país vem, desde muito tempo, tentando usar desses procedimentos com o objetivo de “domesticar” os padrões de beleza de uma parcela da sociedade ao adotar como sendo “duro” o cabelo crespo. Canções desse tipo, só reforçam uma ideia antiquada, torta e sem nexo, que a comunidade branca do país tem sobre a negra. E, torna ainda mais forte o sentimento de distanciamento entre o negro de cabelo liso e o negro de cabelo crespo e/ou cacheado, sendo o primeiro isento de receber a denominação a respeito de seu cabelo em relação ao segundo. Já existe muita segregação entre pessoas de diferentes cores, e essa música só fortalece a segregação dentro de um mesmo grupo: o negro. Se o mundo para eles já é tão complicado, seria ainda pior se houvesse tamanho distanciamento entre membros do mesmo time. Por isso, manifestações como essas devem ser refutadas e questionadas para 33