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Teletrabalho como recurso e não por sistema

A MP Tool introduziu, pela primeira vez na sua história, o teletrabalho. Dos 63 trabalhadores, 26 trabalharam a partir de casa entre o dia 16 de março e o mês de maio, quando começaram, gradualmente, a regressar aos seus postos de trabalho.

“Foi a primeira vez que a empresa implementou esta medida. Já tinha softwares que teve de incrementar, como, por exemplo, a escolha de plataformas para poder continuar a realizar as reuniões diárias (entre as chefias) e os colaboradores”, conta Nuno Vieira.

O grupo Vangest criou um gabinete de crise que frequentemente ajustava o nosso plano contingência, acompanhando as restrições, conforme diretivas da DGS, e o desenvolvimento diário da pandemia. E destaca que o que foi verdadeiramente desafiante neste processo foi a velocidade com que todo o sistema teve de ser implementado, devido ao avanço rápido que a pandemia de Covid-19 estava a ter no nosso país. “Em dois, três dias, tivemos de adaptar tudo. Investimos em licenças e equipamos a empresa para essa possibilidade”, conta, salientando que, “os técnicos de informática trabalharam em ritmo alucinante durante esses dias para conseguirmos. E, em uma semana, estava o teletrabalho a funcionar”.

Depois, houve necessidade também de “preparar os colaboradores para essa mudança”. É que não tinham qualquer experiência de trabalhar neste modelo. Talvez por isso, conta, a rentabilidade dos colaboradores sofreu algumas alterações. Explica que todas as 14 pessoas do departamento de projeto foram para teletrabalho e, nesse grupo, “notámos cerca de 20% de quebra na rentabilidade”. Mas isso, salienta, tem uma explicação. “Esta é uma equipa mista. Uma parte são jovens, ainda sem uma grande experiência e precisam de orientação dos seniores. Na sala, na empresa, tinham-nos ali ao lado e era só pedir ajuda. Em casa, era necessário contactá-los, ligar-se, esperar pela resposta”. Em conclusão, considera, “alguma comunicação perdeu-se com este sistema”.

Quanto aos outros departamentos em teletrabalho foram a gestão de molde (a equipa que comunica com o cliente e acompanha o molde), os administrativos e 50% do pessoal das compras. Aí, constata não ter notado diferenças com o desempenho habitual.

O que notaram neste período de pico de pandemia foi uma outra questão, sentida por outras empresas do sector. “A resposta dos nossos fornecedores nem sempre foi a que necessitávamos, sentimos alguns atrasos”, explica, adiantando ter sentido sobretudo nos aços, uma vez que as empresas também reduziram a sua atividade.

INVESTIMENTO

Para concretizar este modelo de trabalho à distância, para além do investimento em software, a empresa teve de investir também em algum hardware. Nuno Vieira relata que o número de casos não foi significativo. 80% dos colaboradores levaram para casa os equipamentos com que trabalham, havendo apenas a necessidade de adquirir alguns portáteis.

E enquanto uma parte trabalhava a partir de casa, outros colaboradores mantiveram a sua rotina de se deslocar à empresa. Houve necessidade de criar procedimentos, explica, contando que foram estabelecidos dois turnos, com paragem de uma hora entre ambos, para garantir a segurança das equipas.

Já assustados devido à pandemia, os colaboradores sentiram também algum receio devido à mudança, antes de ser instalado o teletrabalho. “Por um lado, as pessoas, como estavam assustadas, tinham vontade de se isolar. No entanto, não queriam deixar de trabalhar”, conta Nuno Vieira. E, ainda que a ritmo mais brando, o trabalho foi prosseguindo. “Fomos tendo projetos. Não houve layoff, nem houve paragens”, sublinha, adiantando que “a produtividade reduziu um bocadinho”.

A determinado momento, sobretudo a partir do segundo mês, parte significativa dos colaboradores começava a demonstrar alguma saturação do trabalho a partir de casa e manifestava o desejo de regressar à empresa. “Fomos mantendo apenas os que tinham mesmo de ficar”, explica, frisando que “a nossa prioridade não era a produtividade, mas sim a segurança de todos”.

A partir do mês de maio, os colaboradores foram regressando à empresa para uma nova realidade onde a segurança é garantida por “regras muito rígidas”. As equipas foram separadas por mais salas e os horários sofreram algumas alterações. Foi lentamente que a atividade foi retomando a normalidade possível.

OPÇÃO DE RECURSO

Como vantagem desta experiência, Nuno Vieira sublinha que, se não fosse o teletrabalho, a empresa “teria, possivelmente, parado”. E a única desvantagem, considera, foi “essa quebra de cerca de 20% de produtividade”. Mas isso, esclarece, não se deveu a quebras de ritmo dos trabalhadores. “A postura dos colaboradores em casa não mudou muito”, explica, frisando que “na sala da fábrica, as pessoas sentem a pressão que é o cumprir dos objetivos da equipa. Uma vez em casa, não sabíamos como iriam reagir. Mas conseguiram manter essa postura e essa forma de sentir”.

Por isto, defende o teletrabalho como opção de recurso. Mas não como sistema. “Não pensamos nele dessa forma”, sustenta. “Trabalhámos bem estes dois meses. A situação não foi imposta às pessoas. Não havia alternativa. Mas se houvesse opção, eles prefeririam trabalhar na empresa”, declara.

Recorda que, sem a pandemia, a empresa recebe a visita frequente de clientes. Todo o grupo Vangest, sublinha, pode receber, por semana, cerca de três dezenas de clientes. E isso é algo que pretendem que se mantenha. “Ter as equipas em casa e receber os nossos clientes é, para nós, muito importante”, afirma. “O cliente sente-se mais seguro nestas visitas. Vê a fábrica. Vê as equipas”, reforça.

Helena Silva* * Revista “O Molde”

Leia o artigo completo na versão digital da revista O MOLDE, disponível em www.cefamol.pt.

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