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MERCADOS: ONDE PROCURAR SOLUÇÕES NUM MUNDO PARADO PELA PANDEMIA

É com preocupação que Carlos Seabra, da Simoldes, olha para a indústria de moldes, não apenas em Portugal, mas no mundo: a quebra na atividade, sentida já o ano passado, acentuouse muito com a pandemia. "A situação começa a ser algo dramática", considera, sublinhando que "por inércia da atividade que já vinha de trás com a redução de encomendas, e agora com a pandemia, estamos numa situação em que os potenciais dadores de projeto estão parados. E também eles estão sem grande visibilidade do futuro". Exemplifica com o sector automóvel, dizendo que, devido à Covid-19, "teve uma quebra imediata com a paragem de linhas de montagem".

Mas a atividade tem de regressar, considera, afirmando que, por isso, os clientes, fabricantes de plásticos, “estão a retomar os negócios”. O problema é que estão a fazê-lo “muito lentamente”, esclarece. E os novos projetos, diz, “estão, para já, em stand by”.

O grupo Simoldes sente bastante esta situação, uma vez que tem a sua produção centrada entre 95 a 98% no mercado automóvel. “Temos também a embalagem e esta não tem tido grande alteração”, admite. Contudo, até pelo peso que tem, o sector automóvel é o que preocupa mais.

E o panorama, salienta, “não é animador”.

O que são neste momento as necessidades das empresas, por um lado, e as definições sobre a mobilidade e a condução automóvel, por outro, estão com os ritmos esmagadoramente desfasados. Essa indefinição já se vinha sentindo, com consequências de quebra de atividade para muitas empresas. Com a pandemia, “chegámos a uma indefinição sem fim à vista”, considera. E isto não atinge, apenas, as empresas nacionais. Trata-se de uma questão que afeta o sector de forma generalizada, diz.

O AUTOMÓVEL

Para que a situação se altere, não tem dúvidas de que a venda de automóveis necessita de recomeçar. Destaca o exemplo da China, afirmando que “está, aparentemente, numa fase mais adiantada nesta questão da mobilidade, a optar pelo seu próprio carro para fugir a outras opções e a apostar em carros pequenos”.

Isto, no seu entender, pode ter uma consequência positiva. “Pode despoletar nas OEM ocidentais a aposta em veículos mais pequenos e mais focados no elétrico”, defende, adiantando que “se assim for, isto pode criar novas dinâmicas”. E elas são necessárias. No entanto, também admite que, face ao desconhecimento sobre a evolução da pandemia, “há uma dificuldade muito grande em vaticinar seja o que for”.

Apesar das nuvens escuras que pairam sobre o sector, Carlos Seabra afirma-se “um otimista”. E é por isso que acredita que “a economia tem de funcionar. Não pode ficar assim muito mais tempo. Tem de começar a dar passos e acelerar”.

Recorda que ainda antes da pandemia chegar à Europa, quando estava ainda centrada na China, começou a ser propagado um discurso dando conta da importância de apostar em produtos europeus. Sem grande surpresa, considera, “rapidamente o discurso mudou e agora nota-se ainda mais, uma vez que o fator ‘preço’ acaba por ser o que fala mais alto”.

Mas isso nem é problema, admite, considerando que os europeus estão sensíveis à questão de “fazer mais barato”. Contudo, porque primam por assegurar a qualidade, possivelmente nunca conseguirão preços comparáveis aos asiáticos. “É uma dura realidade que vamos ter de enfrentar e para a qual temos de estar preparados”, defende. Não acredita que possam vir a existir acordos entre países que consigam alterar isso. Nem mesmo as restrições impostas pelos Estados Unidos.

RECUPERAR ANTIGOS SECTORES

Apesar de tudo, explica, as empresas “vão tendo projetos e propostas”. Mas, em alguns casos, “quando fazemos os nossos cálculos, o que nos propõem não dá, muitas vezes, nem para pagar as matérias-primas”.

Face a isto, que podem então, fazer as empresas? “Vamos ter de apertar o cinto e esperar que os clientes tenham a mesma atitude que tinham connosco, mas com projetos novos”, considera.

Para Carlos Seabra, “esta pressão de preços, este estrangulamento e esta estagnação não são completamente novos”. A grande diferença que diz sentir é “o congelamento de projetos”. E, no seu entender, isso só será ultrapassado com uma nova atitude. “Temos de conseguir ser mais eficazes na nossa produção e tentar recuperar sectores que, nos últimos anos, estavam mais arredados, como os eletrodomésticos e outros”, explica.

Lembra que a indústria nacional de moldes já passou, ao longo da sua história, por vários momentos difíceis. “Essas situações que tivemos no passado, permitem-nos ter otimismo. Vivemos situações de grande choque e conseguimos sempre dar a volta”, salienta, exemplificando com situações como a Guerra do Golfo que, recorda, “causou um arrefecimento enorme”. E prossegue, lembrando que, aliada a isso, surgiu nessa época a descoberta de Taiwan como produtor de moldes dos brinquedos que, na época, eram fabricados em Portugal. “Fomos conseguindo dar a volta e acredito que vamos conseguir”, afirma.

Volta a usar a indústria automóvel como exemplo, sublinhando que, na questão da mobilidade e tendo presente o elétrico como opção de futuro, “é preciso repensar os veículos e apostar em novos produtos, mais leves”. O sector dos plásticos, sustenta, “tem aqui um potencial enorme para explorar”. “Toda a cadeia de produção está dependente desta decisão”, reforça, frisando que “é preciso andar e rapidamente para dar a volta a isto”.

No caso das empresas de moldes, defende que este é o momento para que intensifiquem “o pensamento criativo”. E avançar, até, com a criação de produtos próprios. “Todas as hipóteses são válidas. Só o ‘estar parado à espera’ é que não é uma possibilidade”, remata.

Helena Silva* * Revista “O Molde”

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