O Molde n.º 126 - julho 2020

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O MOLDE N126 | 07.2020

DESTAQUE HIGHLIGHT

MERCADOS: ONDE PROCURAR SOLUÇÕES NUM MUNDO PARADO PELA PANDEMIA Helena Silva* * Revista “O Molde”

Mercados e clientes da indústria portuguesa de moldes foram afetados pela Covid-19. A economia está a demorar demasiado a reagir ao efeito da pandemia. Por entre projetos adiados ou cancelados, sectores estagnados - como é o caso da indústria automóvel, o maior cliente dos moldes portugueses – e com as viagens de negócios suspensas pelas restrições à mobilidade entre países, as empresas procuram soluções que lhes permitam retomar a normal atividade. É com preocupação que Carlos Seabra, da Simoldes, olha para a indústria de moldes, não apenas em Portugal, mas no mundo: a quebra na atividade, sentida já o ano passado, acentuouse muito com a pandemia. “A situação começa a ser algo dramática”, considera, sublinhando que “por inércia da atividade que já vinha de trás com a redução de encomendas, e agora com a pandemia, estamos Carlos Seabra, Simoldes numa situação em que os potenciais dadores de projetos estão parados. E também eles estão sem grande visibilidade do futuro”. Exemplifica com o sector automóvel, dizendo que, devido à Covid-19, “teve uma quebra imediata com a paragem de linhas de montagem”. Mas a atividade tem de regressar, considera, afirmando que, por isso, os clientes, fabricantes de plásticos, “estão a retomar os negócios”. O problema é que estão a fazê-lo “muito lentamente”, esclarece. E os novos projetos, diz, “estão, para já, em stand by”. O grupo Simoldes sente bastante esta situação, uma vez que tem a sua produção centrada entre 95 a 98% no mercado automóvel. “Temos também a embalagem e esta não tem tido grande alteração”, admite. Contudo, até pelo peso que tem, o sector automóvel é o que preocupa mais. E o panorama, salienta, “não é animador”. O que são neste momento as necessidades das empresas, por um lado, e as definições sobre a mobilidade e a condução automóvel, por outro, estão com os ritmos esmagadoramente desfasados. Essa indefinição já se vinha sentindo, com consequências de quebra de atividade para muitas empresas. Com a pandemia, “chegámos a uma indefinição sem fim à vista”, considera. E isto não atinge, apenas, as empresas nacionais. Trata-se de uma questão que afeta o sector de forma generalizada, diz.

O AUTOMÓVEL Para que a situação se altere, não tem dúvidas de que a venda de automóveis necessita de recomeçar. Destaca o exemplo da China, afirmando que “está, aparentemente, numa fase mais adiantada nesta questão da mobilidade, a optar pelo seu próprio carro para fugir a outras opções e a apostar em carros pequenos”. Isto, no seu entender, pode ter uma consequência positiva. “Pode despoletar nas OEM ocidentais a aposta em veículos mais pequenos e mais focados no elétrico”, defende, adiantando que “se assim for, isto pode criar novas dinâmicas”. E elas são necessárias. No entanto, também admite que, face ao desconhecimento sobre a evolução da pandemia, “há uma dificuldade muito grande em vaticinar seja o que for”. Apesar das nuvens escuras que pairam sobre o sector, Carlos Seabra afirma-se “um otimista”. E é por isso que acredita que “a economia tem de funcionar. Não pode ficar assim muito mais tempo. Tem de começar a dar passos e acelerar”. Recorda que ainda antes da pandemia chegar à Europa, quando estava ainda centrada na China, começou a ser propagado um discurso dando conta da importância de apostar em produtos europeus. Sem grande surpresa, considera, “rapidamente o discurso mudou e agora nota-se ainda mais, uma vez que o fator ‘preço’ acaba por ser o que fala mais alto”. Mas isso nem é problema, admite, considerando que os europeus estão sensíveis à questão de “fazer mais barato”. Contudo, porque primam por assegurar a qualidade, possivelmente nunca conseguirão preços comparáveis aos asiáticos. “É uma dura realidade que vamos ter de enfrentar e para a qual temos de estar preparados”, defende. Não acredita que possam vir a existir acordos entre países que consigam alterar isso. Nem mesmo as restrições impostas pelos Estados Unidos. RECUPERAR ANTIGOS SECTORES Apesar de tudo, explica, as empresas “vão tendo projetos e propostas”. Mas, em alguns casos, “quando fazemos os nossos cálculos, o que nos propõem não dá, muitas vezes, nem para pagar as matérias-primas”. Face a isto, que podem então, fazer as empresas? “Vamos ter de apertar o cinto e esperar que os clientes tenham a mesma atitude que tinham connosco, mas com projetos novos”, considera. Para Carlos Seabra, “esta pressão de preços, este estrangulamento e esta estagnação não são completamente novos”. A grande diferença que diz sentir é “o congelamento de projetos”. E, no seu entender, isso só será ultrapassado com uma nova atitude. “Temos de conseguir ser mais eficazes na nossa produção e tentar recuperar sectores que, nos últimos anos, estavam mais arredados, como os eletrodomésticos e outros”, explica.


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