Molde N.º 127 - outubro 2020

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10.2020 Periocidade Trimestral

ESPECIAL /

CIBERSEGURANÇA LOCALIZAÇÃO DE PEÇAS, PRODUTOS E MATERIAIS FABRICO ADITIVO HÍBRIDO POTENCIA AUMENTO DA VIDA ÚTIL DOS MOLDES

DESAFIOS COMPETITIVOS EM 2020

Nº ISSN 1647-6557

ANO 31 . N127 . €4,50

CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES

Tebis



ÍNDICE / CONTENTS

28 CIBERSEGURANÇA DESTAQUE / HIGHLIGHT

50 INOVAÇÃO / INNOVATION

O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY

62 TECNOLOGIA / TECHNOLOGY

03

Editorial

04

Notícias

10

Notícias dos Associados

18

A Indústria à Lupa

20

Formação na Indústria

29

Desafios da cibersegurança na indústria de moldes

32

Desafios da gestão e segurança dos dados nas empresas

35

Empresas devem apostar em apoio informático especializado

38

Entrevista: Lino Santos Coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança

40

Prevenção: a única solução na luta contra ataques informáticos

46

Fornecedores garantem segurança das soluções disponibilizadas

48

Webinar: desafios e boas práticas na cibersegurança

51

Localização de peças, produtos e materiais

56

Fabrico aditivo híbrido potencia aumento da vida útil de moldes

58

Projeto mobilizador S4Plast - Um contributo com soluções avançadas para a sustentabilidade

60

HPC - High Performance Computing Colocar a supercomputação ao serviço da competitividade das empresas

63

Inovatools aposta na criação de inovadoras soluções de corte

66

TJ Moldes e Moldmak desenvolvem máquina em conjunto

69

Desafios competitivos em 2020

85

Decisão e incerteza

89

O novo normal da formação

91

Criar ambientes de trabalho saudáveis

EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENT . PROCESSES . EXPERTISE

68 NEGÓCIOS / BUSINESS

ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS

88 GESTÃO DE PESSOAS / PEOPLE MANAGEMENT

92 REFLEXÕES FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE CEFAMOL - Associação Nacional da Indústria de Moldes • CONTRIBUINTE 500330212 • SEDE DO EDITOR, REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Av. D.Dinis, 17 / 2430-263 MARINHA GRANDE - PORTUGAL / T: 244 575 150 / F: 244 575 159 / E: revista_omolde@ cefamol.pt / www.cefamol.pt • FUNDADOR Fernando Pedro • DIRETOR Manuel Oliveira • CONSELHO EDITORIAL António Rato, Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Manuel Oliveira, Maria Arminda • TEXTOS Ana Timóteo, António Baptista, António Pontes, Artur Ferraz, Carlos

Neves, Carlos Rabadão, Dulcínia Santos, Helena Silva, Hugo Gomes, Hugo Rosa, Isaac Ferreira, João Faustino, João Pereira, José Ferro Camacho, Mário Antunes, Mihail Fontul, Pedro Vieira Alberto, Rui Tocha, Rui Vasco Monteiro, Sílvio Mendes, Vítor Ferreira • PUBLICIDADE Rui Joaquim • PRODUÇÃO GRÁFICA Colorestúdio – Artes Gráficas, Lda / Zona Industrial Casal da Azeiteira, Pav. 3 - Quintas do Sirol - 2420-345 St.ª Eufémia - Leiria / T: 244 813 685 / E: colorestudio.lda@gmail.com • PERIODICIDADE Trimestral • TIRAGEM 500 exemplares • DEPÓSITO LEGAL 22499/88 • REGISTO ERC 113 153 • Nº ISSN 1647-6557 • Estatuto Editorial encontra-se disponível em www.cefamol.pt

ANUNCIANTES TTO 2 / Hasco 5 / Istma 7 / TecMill 9 / Balzers 11 / TCA 13 / RTC 17 / Trumpf 23 / S3D 27; 53 / Schunk 29 / Eurocumsa 31 / DNC Técnica 33 / Fluxoterm 35 / Cheto 43 / Talentum 45 / Fuchs 57 / FerrolMarinha 61 / Knarr 63 / Maq Center 65 / Moldmak 67 / Sew Eurodrive 69 / Newserve 73 / GrandeSoft 75 / Tecnirolo 79 / SB Molde 81 / Norelem 85 / Yudo 87 / Simulflow 89 / Millutensil 91 / Centimfe capa interior / Open Mind contracapa interior / Tebis contracapa



REVISTA MOLDE CEFAMOL

NEWS /

EDITORIAL

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Manuel Oliveira Secretário-geral da CEFAMOL

O DIGITAL E A SEGURANÇA É comum ouvir dizer que o mundo está mais digital, que esta é a transformação mais importante para a sociedade verificada nos últimos anos (ou décadas, para ser mais preciso), que a comunicação é cada vez mais instantânea, que o mercado se rege pela “proximidade” e “acompanhamento” constante do cliente, mesmo que este esteja a uns milhares de quilómetros, que tudo acontece à distância de um clique. Tal é, sem dúvida, uma realidade que absorve a nossa vida, quer ao nível pessoal, quer profissional, e que as empresas têm vindo a interiorizar e a promover com grande velocidade e dinamismo, mas que trás, a todos, um novo conjunto de desafios para os quais devemos estar preparados. Proteção de dados e informação nas empresas é hoje um tema regularmente debatido em diferentes fóruns e para o qual as organizações estão mais atentas, não apenas pelos riscos de ataques externos, mas também pela possibilidade de informação sujeita a um alto grau de confidencialidade, como é o caso dos projetos para novas peças ou componentes que as empresas de moldes recebem

Neste contexto, a cibersegurança assume todo um novo relevo e importância para as empresas e para a sociedade em geral. E a mesma começa na sensibilização e formação sistemática dos colaboradores, de todos os níveis hierárquicos, para o tema, reforçando procedimentos para uma utilização cuidada e segura de sistemas ou equipamentos e um comportamento responsável no acesso e transmissão de informação ou conteúdos digitais. Este será um trabalho fundamental e preponderante, mas que deverá ser suportado por meios tecnológicos (software e hardware) que limite as possibilidades de erro ou acessos desaconselháveis que ponham em risco a informação existente. Um outro nível de exposição para o qual as organizações se devem salvaguardar e precaver são os ciberataques, que na nossa indústria já causaram danos e grandes constrangimentos, impossibilitando empresas de aceder a ficheiros, desenhos ou histórico de relacionamento com clientes que poderiam ser “desbloqueados” em troca de um pagamento aos “hackers”. Em virtude destas situações, temas como o

ransomware, phishing ou malware, estão também já no léxico e foco de atenção dos responsáveis das nossas empresas.

dos seus clientes, poderem, por omissão ou incúria, cair em “mãos

É certo, e a experiência ou noticias com que normalmente somos

erradas”. No fundo, falamos de confiança e credibilidade que é

confrontados assim revelam, que não há sistemas de defesa cem por

necessário reforçar e assegurar junto daqueles que acreditam nas

cento eficazes, mas devemos encarar este tema como um sério risco

nossas competências e capacidades para dar forma a novos produtos

para o negócio e, por tal, apostar em sistemas de segurança fiáveis e,

ou conceitos.

principalmente, comportamentos preventivos, seguindo sempre os procedimentos estabelecidos internamente e alertando as entidades

Com o advento do ciberespaço, do armazenamento de dados em sistemas “cloud”, da crescente digitalização das empresas, da sua interação online com parceiros e com o mercado e até o mais recente recurso ao regime de teletrabalho, a que muitas organizações foram sujeitas pelos efeitos da pandemia, mas que se poderá configurar como uma nova tendência para os próximos anos, todos estamos muito mais expostos à perda de informação e às consequências nefastas que tal pode originar.

competentes sempre que algo menos usual aconteça. Será fundamental que as empresas promovam uma análise estratégica e detalhada sobre este tema tendo em consideração que estas situações não acontecem apenas aos outros. A cibersegurança é, sem dúvida, um investimento que deve ser colocado no topo das prioridades, pois, como é comum referir, a questão não é se a empresa vai ser atacada, mas sim quando tal irá acontecer.

Estaremos preparados para esta situação?


N 127 OUTUBRO 2020

/ NOTÍCIAS

CEFAMOL E LUA FILMES JUNTOS NA PROMOÇÃO DA INDÚSTRIA 04 Chama-se ‘365 Days Inside The Industry’ e junta a CEFAMOL e a produtora LUA Filmes num novo projeto, cujo objetivo é a promoção da Indústria de Moldes Portuguesa. Esta iniciativa tem prevista a duração de um ano e, no final, uma das empresas será premiada. Durante uma semana, uma empresa nacional terá os seus conteúdos divulgados nas mais diversas plataformas. São pequenos filmes, cinco por empresa, que dão a conhecer ao mundo as competências, projetos e as potencialidades de cada organização. Este é, em resumo, o objetivo do projeto ‘365 Days Inside The Industry’, criado pela produtora LUA Filmes e que tem já como parceiros a CEFAMOL, a AICEP, o IAPMEI e o Município da Marinha Grande. Estes parceiros, através das suas plataformas digitais e meios de divulgação, funcionarão como impulsionadores da imagem das empresas, numa iniciativa inédita que reforçará a campanha de imagem da indústria de moldes no mundo. Mas não serão apenas estes os meios de divulgação. Carlos Barros, da LUA Filmes, conta que a produtora está em contacto com outras entidades, de forma a alargar esta rede de parceiros, até a nível internacional. Para além disso, o projeto terá plataformas próprias e canais de promoção. A indústria de moldes foi a selecionada para dar o pontapé de saída no novo projeto que tem como meta ser adaptado a outras indústrias: a cada ano, uma indústria diferente. A seleção deste sector para começar este novo projeto teve, segundo Carlos Barros, duas razões principais: por um lado, o seu dinamismo e inovação; por outro, o conhecimento que a produtora – com sede na incubadora Open, na Marinha Grande – tem desta indústria, com a qual trabalha há muitos dos nove anos que leva de atividade.

“No total, serão cinco dias em que cada empresa verá lançados e promovidos filmes desenvolvidos de raiz, para divulgarem a sua atividade e os seus elementos distintivos podendo, posteriormente, usufruir dos mesmos para promoção própria”, explica Carlos Barros, sublinhando que os associados da CEFAMOL “terão ao seu dispor condições especiais de participação”. O objetivo, salienta, “é apoiar esta indústria a projetar a sua imagem cada vez mais longe”. A divulgação através deste projeto, considera, “ganha mais força do que se for uma empresa individualmente a avançar com os seus meios de divulgação próprios”.

PRÉMIO FINAL O cronograma do ‘365 Days Inside The Industry’ prevê o início das filmagens a partir deste outono, estando a primeira estreia programada para o mês de outubro. Os conteúdos das empresas participantes serão produzidos por ordem de adjudicação. No final do ano de projeto, está previsto um prémio. A empresa que consiga alcançar o maior número de visualizações nos conteúdos lançados nas plataformas, será distinguida, em 2021, com a oferta de um novo filme institucional produzido pela LUA Filmes. Este, contará com a participação do conhecido ator Rúben Gomes e com a composição de uma banda sonora original pelo compositor André Barros. Criada há nove anos, a LUA Filmes tem hoje sete colaboradores e já leva mais de 800 produções próprias, grande parte das quais dedicada à indústria. É conhecida pelos seus projetos inovadores de promoção, como o ‘Portugal in 150 seconds’ que, entre outros parceiros, conta com a TAP. Pela qualidade reconhecida do seu trabalho, esta produtora foi a escolhida, no ano passado, para acompanhar e retratar o ‘Cascade’19’, um exercício europeu da Proteção Civil. E já este ano, este organismo voltou a contactar a LUA Filmes para a realização de uma nova produção.



N 127 OUTUBRO 2020

/ NOTÍCIAS

MINISTRA DA COESÃO TERRITORIAL VISITA PROJETO “COVID PORTA ABERTA” 06

A Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, esteve em Pombal de visita à empresa Shapetek no passado dia 08 de setembro, onde teve a oportunidade de conhecer o projeto de I&DT “Covid Porta Aberta”, que está a ser desenvolvido em parceria com o Centimfe, o Instituto Politécnico de Coimbra e a empresa Sandredy.

Este projeto consiste no desenvolvimento de um mecanismo que permite a abertura de portas sem usar as mãos e destina-se a locais de grande afluência de pessoas como centros de saúde, hospitais, zonas comerciais, escolas, centros de dia, lares, entre outros.

REUNIÃO DE TRABALHO COM A MAKINO

O cluster “Engineering & Tooling” e o Centimfe receberam a Makino para uma visita e reunião de trabalho no passado dia 08 de setembro, para conhecimento e dinamização das ações estratégicas futuras com o cluster e em Portugal.


WEBINAR PROJETO IDERCEXA

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NEWS /

07

No âmbito do projeto IDERCEXA, do qual o Centimfe é parceiro, foi promovido pela Universidade da Extremadura, um webinar subordinado ao tema “Os benefícios da energia solar na sua empresa - desafios para o presente e para o futuro”.

Projeto Co-financiado por:


N 127 OUTUBRO 2020

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CAPACITAR I4.0: FORMAÇÃO ON-LINE NA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS 08

O cluster “Engineering & Tooling”, coordenado pela Pool-Net, conjuntamente com o Centimfe, irá promover um programa de formação no domínio da “Indústria 4.0”. Esta iniciativa é desenvolvida no âmbito do Projeto 4ZEROPlAST, em articulação com outros clusters europeus da indústria de plásticos, AVEP – Associação Valenciana de Empresários de Plásticos (coordenador) e Nunsys, SL, de Espanha; e PROPLAST – Consórcio para a promoção da cultura plástica e Politécnico de Milão, de Itália.

Esta formação conta com a validação de um grupo piloto da indústria de plásticos, e segue uma abordagem de aprendizagem colaborativa, através de itinerários de formação, com acesso a conteúdos, estruturados em MOOC – Massive Open Online Course, e dispondo de casos de estudo/entrevistas, micro-pílulas informativas, e materiais de referência diversos, facilitando a aprendizagem e integração do conhecimento. A formação é gratuita, com uma duração aproximada de três semanas, ao ritmo de cada formando, e aborda ao longo de três módulos os seguintes tópicos principais: - Impacto da “Indústria 4.0” nas PME de plásticos; - Bases da “Indústria 4.0”; - Gestão da Inovação Estratégica; Cada participante obterá, ainda, um relatório personalizado de suporte à definição de estratégia e aplicabilidade da “Indústria 4.0” no seio da sua empresa. Caso esteja interessado em participar no grupo piloto, consulte o website: www.4zeroplast.eu, ou entre em contato direto com a Equipa Técnica da Pool-Net (info@toolingportugal.com) ou do Centimfe (inovacao@centimfe.com). Consórcio:

O programa de formação 4ZEROPLAST, online, visa o reforço de competências dos gestores da indústria de plásticos (PME) a novos modelos de negócio e desafios lançados ao nível da Indústria 4.0, que será facilitado através de uma ferramenta de aprendizagem guiada (app), suportada numa plataforma de e-learning, e que apresenta os seguintes objetivos: - Compreender a aplicabilidade das tecnologias da “Indústria 4.0” nos processos das PME de plásticos; - A avaliação do impacto das tecnologias “Indústria 4.0” no modelo de negócio das PME de plásticos; - Suportar o desenvolvimento de um Plano Estratégico de Inovação para a implementação da “Indústria 4.0” na empresa;

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SCHNEIDER FORM: NOVAS INSTALAÇÕES PERMITEM CRESCER E AUMENTAR CAPACIDADE INSTALADA 10

Integrada no grupo Schneider Form em 2006, a SF Moldes, em Oliveira de Azeméis, assinala estes 14 anos com a inauguração de novas instalações, na área de acolhimento empresarial de Ul/ Loureiro. Inserida no sector da produção de moldes para a injeção de plásticos, a empresa vê ampliado, com esta mudança, o seu carácter inovador, de alta intensidade tecnológica e dinamismo no acompanhamento da evolução dos mercados, correspondendo aos desafios e adaptando-se às necessidades dos clientes. A SF Moldes foi criada na década de 80, vindo a ser, em 2006 adquirida e integrada no grupo Schneider Form. Este ano, prepara-se para uma nova e profunda mudança: a inauguração de novas instalações, construídas de raiz. Uma das grandes alterações que o novo espaço proporciona, conta Hernani Silva, é a criação de condições para a empresa entrar no mercado das peças exteriores de grande dimensão, um nicho associado a moldes de valores interessantes em termos comerciais e que permitem distinguir os pequenos dos grandes moldistas. A SF Moldes passa a ter, agora, capacidade para fazer moldes que podem chegar às 50 toneladas. Este novo segmento permitirá ainda à empresa distinguir-se precisamente pelo ‘know-how’ que tem vindo a alcançar nos moldes de pequena e média dimensão, tendo em conta o seu grau de pormenor. “Dentro do grupo já temos o ‘know-how’; agora passamos a ter também equipamento e instalações com dimensão suficiente para isso”, afirma. Em Portugal, a SF Moldes tem 123 colaboradores (num universo de mais de 300 que compõem o grupo, com sede na Alemanha e representações no Reino Unido e na China). A construção das novas

instalações teve início o ano passado, em junho, e a mudança foi sendo feita, gradualmente, nos últimos meses, prevendo-se que esteja concluída até final do mês de outubro. As anteriores instalações, adianta Hernani Silva, “estavam sobreutilizadas, não havia espaço e nem capacidade de crescimento”. Desta forma, a empresa ganha, também, “melhores condições de trabalho”, afirma, contando que o total do terreno ascende a 14 mil metros quadrados, dos quais 6.100 são o edificado, onde a área produtiva ocupa 4.500 metros quadrados. “A área total da empresa mais do que duplicou; e a área produtiva passou para quase o triplo”, salienta. Assim, o conjunto dos avanços tecnológicos, juntamente com a sua equipa jovem, dinâmica, qualificada, experiente e em formação técnico-profissional contínua, consubstanciam os ingredientes essenciais para a entrega ao cliente de um produto final de alta qualidade e confiabilidade, adianta. E o crescimento do espaço pode, no futuro, vir a traduzir-se num aumento no número de colaboradores. “Tudo depende de como o mercado evoluir nos próximos tempos”, explica.

NOVOS EQUIPAMENTOS As novas instalações foram, apenas, parte do investimento. A mudança estendeu-se também à aquisição de novo equipamento. Ou seja, dos cerca de nove milhões investidos em todo este projeto (parte dos quais são fundos próprios), cinco destinaram-se à compra de novas máquinas, sobretudo fresadoras e de grande dimensão. Esta mudança, salienta Hernani Silva, permite à empresa projetar o futuro pensando não apenas no sector automóvel (que representa hoje a maioria da produção) mas alimentando expectativas de abraçar


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outras áreas sectoriais. Geograficamente, conta ainda, a grande maioria dos clientes da SF Moldes está localizada na Europa. E aí deverá manter-se no futuro próximo. “Eventualmente, podemos vir a explorar mercados diferentes”, admite, frisando que “o nosso foco agora passa por esta aposta na maior dimensão dos moldes e na inovação do produto”.

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Hernani Silva conta que, por forma a consolidar e expandir a sua posição atual, a SF Moldes apresenta um conjunto muito bem definido de objetivos estratégicos, os quais funcionam como os pilares da sua ação presente e futura no mercado. Desde logo, pretende posicionarse como um produtor de referência ao nível do fabrico de moldes de média e de grande dimensão, moldes caraterizados pelo elevado rigor, funcionalidade e precisão. A aposta contínua na diversificação do seu portfólio de produtos/projetos, de modo a garantir o reconhecimento da sua capacidade técnica, a satisfação e a diversificação de clientes e segmentos de mercado, reveste-se de uma importância igualmente muito expressiva. Paralelamente, por um lado, a aposta em níveis crescentes de inovação, investigação e desenvolvimento tecnológico, a introdução de inovações e novos paradigmas nos processos produtivos, por via da “Indústria 4.0” e em tecnologia ‘estado da arte’, são pontos essenciais que suportam o objetivo de aumento a jusante da cadeia de valor da empresa, disponibilizando serviços e soluções do valor acrescentado. Por outro lado, pretende, igualmente, aumentar a sua cadeia de valor a montante, desde logo através de uma aposta na área de desenvolvimento de peça, idealizando o produto inicial consoante as necessidades do cliente. Finalmente, de modo a dar seguimento a

esta visão integrada, a capacitação dos colaboradores e a promoção e endogeneização de novos conhecimentos assume-se como algo imperativo. Em relação aos negócios, neste ano marcado pela pandemia de Covid-19, Hernani Silva conta que estes têm mantido “um nível positivo”. O ano de 2021 é esperado com alguma expectativa. “Neste contexto pandémico, é muito difícil fazer previsões; no entanto, esperamos que seja um ano de recuperação da atividade económica”, conclui.


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TECNIJUSTA AMPLIA INSTALAÇÕES E INAUGURA NOVA FÁBRICA 12

Este é um ano de mudança para a Tecnijusta que acaba de ampliar as suas instalações, na Marinha Grande, e constituiu, uma nova unidade de injeção de plásticos, a MJ3K. O investimento permite dotar a empresa de condições para assegurar uma resposta completa no fabrico de moldes: da conceção aos testes e pré-séries. A Tecnijusta iniciou atividade em 2006 e tem, desde então, pautado o seu percurso por um crescimento sustentado. Concluiu este ano a ampliação das instalações, onde se dedica ao fabrico de moldes. As várias secções foram divididas pelo novo espaço que tem, agora, 1.200 metros quadrados, o que permitiu aumentar o número de colaboradores para 50. A ampliação do espaço foi acompanhada pela aquisição de novas máquinas para fabricação de moldes médios e grandes. Mas a grande novidade, que permitirá melhorar a resposta aos seus clientes, é a inauguração de uma nova unidade, dedicada à injeção de plásticos para testes e pré-séries. Designa-se MJ3K, e está dotada – para já – com três máquinas com 130T, 350T e 600T, possibilitando a injeção de três matérias diferentes (3K). De acordo com Pedro Mateus, administrador, a nova unidade “tem já dois funcionários, mas está calculada para vir a ter entre seis a oito, até meio do ano que vem”. A MJ3K foi constituída em 2019 e, em outubro desse ano, fez as primeiras injeções. Dedica-se, sobretudo, há execução de testes/ ensaios e pré-séries. Tem vindo a trabalhar essencialmente para projetos da Tecnijusta mas, “está preparada para ser usada por outras empresas, seja em testes, seja em pré-séries”, salienta o responsável. Pedro Mateus afirma ainda que a nova empresa “Com esta nova unidade, complementa a oferta dos seus serviços ao mercado, fechando o ciclo de produção do molde, uma vez que tem capacidade para fazer desde a conceção à injeção para testes”.

CONFORTO E ESPAÇO Salientando que a criação desta unidade não tem o propósito de constituir um grupo empresarial, mas antes ter cada uma das empresas a funcionar de forma independente, Pedro Mateus conta que, a Tecnijusta e a MJ3K, fomentam parcerias que detém com outros fornecedores O responsável mostra-se satisfeito com a evolução da Tecnijusta, considerando que “todas as áreas têm hoje conforto e espaço” e, sublinha, esta mudança “veio traduzir-se também em melhorias visíveis na produtividade”. Com o volume de negócios a aumentar nos últimos anos, o administrador revela ter sido surpreendido – como a generalidade da indústria – pela situação decorrente da pandemia de Covid-19. Defende, por isso, que “este não é o ano para tirar ilações sobre o nosso crescimento”. Contudo, e apesar da estagnação económica resultante da pandemia, afirma que a empresa espera “um volume de negócios igual, ou mesmo superior, ao verificado no ano passado”. É que durante todo o período pandémico, esclarece, “nunca parámos a produção”, sublinhando que, “em março, 18 pessoas foram para layoff mas isso deveu-se, sobretudo, à falta de matéria-prima (aço), mas, acima de tudo, uma estratégia de segurança”. De acordo com Pedro Mateus, os negócios têm-se concretizado e isso deve-se, no seu entender, ao facto de “ao contrário do passado, hoje a Tecnijusta ter, apenas, 60% da sua produção ligada ao sector automóvel”. A maior parte da produção é exportada para vários países europeus, mas a empresa tem clientes também na América Latina, África e Emirados Árabes. “Apesar da Covid, conseguimos conquistar clientes novos este ano”, salienta. E defende que, em tempo de dificuldades, como este que vive a economia mundial, “é preciso investir, mas também persistir e preservar os clientes”.


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NOVOS PRODUTOS

Um outro projeto adiado devido à pandemia foi a criação de uma

Considerando que, após as obras, a empresa tem, neste momento, a “dimensão ideal”, afirma ainda que a estagnação da economia levou a que a Tecnijusta “tirasse da gaveta” alguns projetos próprios. São novos produtos que, ainda este ano, vai lançar no mercado, nas áreas agrícola, jardim e material hospitalar.

academia de formação, no interior da empresa. Já tem espaço destinado e terá início no decorrer do próximo ano, se a pandemia assim o permitir. “Há, no mercado, um défice grande de técnicos e queremos contribuir, criando condições para a sua formação”, defende. Por tudo isto, e quando questionado sobre o futuro, Pedro Mateus afirma-se “cauteloso”, mas “otimista”.

O crescimento permitiu desenvolver este produto próprio e inovador, desde a conceção à injeção. “Era algo que tínhamos como sonho lançar um dia. O dia chegou”, sustenta, frisando que “o objetivo é partir em busca de novas oportunidades”. Os novos produtos destinam-se, quer ao mercado nacional, quer para exportação.


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MOLDES 2000: UMA NOVA REALIDADE 14 Com inspiração em 1999, ano em que foi fundada, mas com os olhos postos no futuro, a Moldes 2000, empresa de sólida e comprovada experiência técnica que se dedica à fabricação de moldes técnicos para a injeção de plásticos, está a abraçar toda uma nova realidade após ter sido adquirida em março deste ano pela Gura Group. Liderada por dois jovens que – não se deixem enganar – trabalham na indústria de moldes há mais 20 anos, a Moldes 2000 está a trilhar o seu novo rumo. A experiência de vida e trabalho destes dois sócios, que receberam a sua formação com gerações que dinamizaram a Indústria de Moldes Portuguesa, permite-lhes ter uma visão abrangente do passado, mas também do futuro do sector. E é para aí que está orientado o seu pensamento e estratégia. É esta dicotomia de conhecimento que lhes permite implementar aquela que é a sua visão de uma nova geração da Moldes 2000, através de objetivos bem definidos e ambiciosos, mas igualmente sensatos e ponderados. O seu plano estratégico passa pela aposta na formação da sua equipa e pela criação de novas instalações, para onde irão mudar-se no início de 2021. Simultaneamente, com a aquisição de software e maquinaria de precisão (centros de maquinação, controlo dimensional por digitalização, entre outros), a nova gerência prevê otimizar os seus processos e os resultados, que resultarão em benefícios operacionais, mas também em benefício dos seus clientes.

Cientes das exigências atuais e futuras do mercado e do sector, deu-se igualmente início ao processo de certificação para as normas ISO 9001 e 14001, que irá cimentar a confiança que lhes vem sendo depositada há duas décadas. Ao dar continuidade ao legado dos antigos sócios, respeitando o seu trabalho, a Moldes 2000 procura consolidar a relação de confiança com os seus clientes, reposicionando-se e fortalecendo a sua presença nos mercados nacional e internacional, aumentando a sua capacidade de resposta técnica que considera, entre outros fatores, essencial ao seu crescimento e evolução.


NSB ACOMPANHA INDÚSTRIA DE MOLDES NA VANGUARDA TECNOLÓGICA

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A NSB é uma empresa especializada na fabricação e comercialização de processos, equipamentos e acessórios para a indústria de moldes e de plásticos. Líder na técnica de injeção com gás N2, a NSB tem uma experiência de mais de 20 anos atuando no mercado nacional e internacional, oferecendo uma ampla gama de equipamentos nesta área, desde controladores, injetores, acessórios, assistência em testes com os seus controladores e técnicos, projetos chave na mão em fábrica com a instalação de estacão completa de geração e formação dos operadores. Na dinâmica da persecução de uma indústria ambientalmente sustentável, os seus clientes apostam cada vez mais neste processo que tem como princípio básico a obtenção de peças plásticas de excelente qualidade, pois o gás, quando injetado no plástico fundido, segue o caminho de menor resistência para formar canais ocos contínuos, podendo ser usado em secções com grandes espessuras, combinando paredes espessas com paredes finas, reduzindo as tensões internas de altas para baixas pressões e flui até ao último ponto de enchimento, permitindo peças com estabilidade dimensional e acabamentos de superfície classe “A”. Permite ainda uma economia de escala, possibilitando a redução do peso da peça, do tempo de ciclo e da tonelagem da máquina de injeção, reduzindo substancialmente, quer os custos de matéria-prima, quer os custos energéticos. Sempre na dianteira de novas tecnologias que permitam aos seus clientes obter produtos de excelência, a NSB oferece também equipamentos e apoio técnico aos sistemas Heat & Cool (Rich),

// Nelson Bernardo - NSB

processo de aquecer previamente e arrefecer posteriormente a superfície de um molde, de forma rápida e precisa durante o processo de injeção, permitindo a remoção das linhas visíveis de união/fluxo e dos raiados prateados e a eliminação da visibilidade das fibras de vidro nas peças plásticas, obtendo superfícies de alto brilho mesmo com matéria-prima de classe standard e, na maior parte das peças estéticas, suprimindo a necessidade de pintura. Sendo a indústria de moldes altamente tecnológica e sempre na vanguarda das técnicas, equipamentos e acessórios que agilizem o processo de fabricação e performance dos moldes, a NSB é a representante ibérica de cilindros de bloqueio e acessórios da marca germânica CYTEC, prestando toda a assistência técnica inerente. Os cilindros garantem o bloqueio sem necessidade de pressão hidráulica, não sendo afetados por quebras de pressão hidráulica da máquina de injeção, permitindo a desmoldação rápida de elementos complexos e peças plásticas livres de rebarba, de simples integração no design e na ­­­arquitetura do molde. A NSB, tem-se afirmado nas indústrias de moldes e de plásticos pelo know-how dos seus técnicos altamente qualificados, pela qualidade dos seus produtos e por uma assistência pós-venda de excelência.


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RTC COUPLINGS: NOVAS INSTALAÇÕES AMPLIAM APOSTA NO CONTACTO DIRETO COM CLIENTES 16

É um conceito inovador que pretende que cada cliente se sinta ‘em casa’, no interior das novas instalações que a RTC Couplings inaugura, ainda este mês de outubro, na zona industrial da Jardoeira, Batalha. Para isso, o novo espaço está dotado de uma área que mantém um equilíbrio entre o ‘aconchegante’ e ‘seguro’ no que aos cuidados com a pandemia de Covid-19 diz respeito. Este espaço destina-se a acolher um número selecionado de clientes, seja para sessões de apresentação dos produtos ou reuniões. Foi o impacto da pandemia que levou a RTC a dar o passo e apostar neste novo conceito, de forma a tornar mais completo o apoio aos seus clientes. André Queirós conta que “entendemos que haveria uma necessidade diferente de explorar a nossa potencialidade e fazer chegar, de uma outra forma, a mensagem aos nossos clientes”. Assim foi crescendo a ideia da conceção de um novo local onde, para além de aumentar o espaço para acolher o stock de produtos, fosse criada uma zona dedicada a seminários e formações, ou sessões técnicas de esclarecimento sobre a atividade da empresa. “O mais importante foi conseguir criar um ambiente seguro para que os nossos clientes se possam deslocar às instalações e conhecer-nos sem o medo da pandemia”, salienta. André Queirós adianta que a filosofia empresarial da RTC não se coaduna com a existência de uma loja aberta ao público, com balcão para vendas. “Pelo contrário, o nosso objetivo foi sempre visitar o cliente em sua casa, conhecer as suas reais necessidades e providenciar as soluções mais adequadas”, explica. Ora, a pandemia veio colocar grandes restrições a essa forma de atuar. Por isso, em julho de 2020, foi criado o projeto que é agora inaugurado. “A partir de agora, vamos convidar e abrir a empresa aos nossos clientes. Estaremos, como sempre, capacitados para poder satisfazer as necessidades, esclarecer questões e dúvidas. E tudo isto num

ambiente controlado e seguro. Isso é para nós o principal, uma vez que temos de assegurar o distanciamento social, continuando a ser uma empresa comercial que não quer impor a presença nas instalações dos seus clientes”, salienta. E assim se chegou a este novo conceito que possibilita que “as partes interessadas se juntem num sítio agradável, que está a ser preparado para tal, com as condições necessárias, técnicas e comerciais, de forma a que consigamos fazer chegar o nosso conceito ao mercado”.

PROXIMIDADE Uma ação técnica assinalará a inauguração do novo espaço. André Queirós conta que ainda está a ser definida a forma como se realizará, podendo ser online, e juntando parceiros de mercado e outras empresas inseridas nas indústrias dos moldes e da injeção. “Não existem feiras internacionais, não existem visitas. O que existe é uma grande limitação aos contactos. Por isso, vamos tentar aproximar a RTC dos seus parceiros”, sublinha. Uma vez ultrapassada a pandemia, o novo espaço da empresa manterá a sua filosofia, mas abrindo as portas a um maior número de pessoas em simultâneo. “Esperamos que esse dia chegue breve”, afirma. Fundada em 2014, a RTC Couplings tem, em Portugal, dois escritórios técnicos e centros logísticos, nas zonas de Oliveira de Azeméis e nas novas instalações da Batalha, sendo composta por uma equipa de sete pessoas. A marca, um dos principais fabricantes de acoplamentos do mundo, está presente em mais de 25 países, contando com cerca de 250 colaboradores. Além de um portfólio completo de soluções de acoplamentos rápidos, a RTC como fabricante certificado projeta também e fabrica outros componentes e sistemas para uma variedade de aplicações, incluindo mangueiras, coletores e controladores de fluxo e soluções técnicas dedicadas. Em Portugal, a empresa dedicou-se desde cedo ao desenvolvimento e fabrico de soluções para a indústria de moldes e injeção no controlo de fluxos, verificação de circuitos e grupos hidráulicos de apoio sequencial para máquinas de injeção. Num momento em que o mundo atravessa uma fase de alguma estagnação económica devido à pandemia de Covid-19, André Queirós admite que este investimento possa ser visto como “uma ação contra a corrente atual”. No entanto, salienta, “o nosso objetivo é demonstrarmos que estamos e continuamos aqui, com vontade de trabalhar e cooperar de forma a galvanizar ainda mais a indústria portuguesa”. Por isso, “o futuro tem de ser encarado com positividade e um ‘arregaçar as mangas’ muito forte”, defende, considerando que “é preciso resiliência para resistir às dificuldades, mas também um espírito de entreajuda entre todos os que estão na indústria”.


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NOVOS ASSOCIADOS /

JORGE CASTANHO, LDA: NOVA SOLUÇÃO NO SECTOR DOS MOLDES EM ALUMÍNIO

17 “A pandemia não está a ter um impacto negativo na nossa atividade”, sublinha, acreditando que isso se deve, sobretudo, “a alguma preparação” resultante da vasta experiência que tem no sector, marcada pelas quase três décadas de trabalho que leva no mundo dos moldes de alumínio.

Uma nova empresa, dedicada ao fabrico de moldes em alumínio e moldes protótipos, acaba de nascer na Marinha Grande. A Jorge Castanho, Lda. tem o nome do seu fundador, Jorge Castanho, mas é um projeto familiar e, até final do ano, está localizada provisoriamente em Picassinos (nas antigas instalações da Moldes Gaspar). A empresa foi constituída em junho último, tendo iniciado a atividade no mês de julho. Tem, atualmente, 13 colaboradores, incluindo o fundador. Apesar de ter tido o seu arranque num ano marcado pela pandemia, a empresa tem feito um percurso “bastante positivo”, salienta Jorge Castanho, contando que, nos dois primeiros meses de atividade, o número de moldes executados ascendeu a uma dezena. Por isso, afirma-se otimista, acreditando que, até final do ano, o número poderá mais do que duplicar.

O produto final da empresa destina-se, sobretudo, a clientes internacionais (a maioria oriundos dos Estados Unidos, mercado que Jorge Castanho conhece há 30 anos), mas espera vir a desenvolver, também, algum trabalho para clientes nacionais. Os primeiros projetos que a Jorge Castanho, Lda tem desenvolvido são, essencialmente, moldes para merchandising e indústria médica. O responsável conta ter também iniciado alguma produção para uma área nova, do sector dos transportes rodoviários. A partir do próximo ano, a empresa projeta crescer. Mudará de instalações para um espaço mais amplo e serão adquiridas mais máquinas de forma a aumentar a capacidade instalada, num investimento que, no total, ascenderá a mais de 600 mil euros. “Queremos crescer, de forma sustentada, e vir a ser uma referência neste sector”, assegura Jorge Castanho.


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LEOMÁVEL: MAIS DE TRÊS DÉCADAS DE APOSTA NUM SERVIÇO DE EXCELÊNCIA 18 A Leomável, criada há 36 anos, tem centrado a sua orientação na missão de proporcionar a todos os clientes um serviço de excelência, sustentado em elevados padrões de qualidade e rigor. Fabricante de moldes de pequena e média dimensão, a empresa tem 26 colaboradores e olha o futuro com otimismo e determinação em manter o seu percurso de crescimento. Longe vai o ano de 1984 e o tempo em que a Leomável era uma pequena empresa, a funcionar num pavilhão, na zona de Maceira (Leiria). Foi a dedicação dos seus administradores, Leonel e Fátima Caetano, que conduziu a empresa numa rota de crescimento contínuo e sustentado que lhe permitiu chegar aos dias de hoje com umas instalações próprias, construídas de raiz na Estrada dos Guilhermes, Maceira (logo após a zona industrial da Marinha Grande). É hoje uma das empresas de referência na região. Fabrica todo o tipo de moldes para injeção de plásticos e fundição injetada, incluindo moldes protótipo. No entanto, especializou-se em peças pequenas e altamente técnicas. Fátima Caetano recorda os primeiros momentos da empresa, na época em que trabalhava sozinha com o marido, Leonel. “Tínhamos de nos revezar: ele trabalhava durante o dia e eu, de noite, ficava de vigilância às máquinas de erosão que não tinham a tecnologia de hoje e corriam o risco de incendiar”, relata, sublinhando que “foi um período difícil, mas que nos ajudou a ganhar a resistência que foi necessária para ir fazendo a empresa crescer”. E assim foi. De passo em passo, a Leomável foi crescendo. De início, dedicava-se apenas à eletro-erosão, mas acalentava o sonho de vir a produzir moldes. Essa ambição tornou-se realidade a partir de 1995 e em 2000 a empresa mudou-se para as atuais instalações (que vieram a ser ampliadas em 2015). Para além da ampliação, a mudança permitiu adquirir novas máquinas e novas valências, com a contratação de pessoal especializado nas diversas fases de fabrico do molde. Hoje, a Leomável assegura toda a produção, desde a conceção à expedição do molde. Tem 26 colaboradores. A empresa especializou-se em produtos para as áreas elétrica e eletrónica. Desenvolve também alguns moldes para o ramo automóvel, mas este representa menos de 50% do total da produção. Tem na Alemanha e Suíça os seus principais mercados, seguidos de França e Espanha.

PERSEVERANÇA Como tantas outras, a Leomável foi surpreendida pela pandemia de Covid-19 e procura soluções para, diz Fátima Caetano, “ultrapassar este período”. Admite que “a conjuntura atual está a ser difícil para as empresas”, explicando que se assiste a uma ‘luta’ de preços nada salutar para a indústria. “Não podemos acompanhar financeiramente os países de mão-de-obra mais barata, mas é isso que o mercado nos pede que façamos”, adianta. Considera, por isso, ser necessária “perseverança” e “estratégias mais agressivas de prospeção de mercados”. É isso que a empresa tem procurado fazer. “Estamos aqui há 36 anos e já passámos por várias crises, algumas que podem ser comparadas a esta, pela profundidade que atingiram. O mundo dos negócios está parado, mas também esteve, por exemplo, depois do 11 de setembro, em 2001. Em 2008 com a queda do banco Lehman Brothers. Conseguimos superar essas e outras crises e havemos de superar esta também”, afirma. Até porque a empresa olha para o futuro com o desejo de se manter “saudável e competitiva” e a assegurar “um produto de elevada qualidade aos seus clientes”. Fátima Caetano sublinha ainda que a equipa “é experiente e cheia de dinamismo” e que isso é meio caminho andado para o sucesso.


A INDÚSTRIA À LUPA /

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MOLDI: RIGOR NA PRODUÇÃO DE ESTRUTURAS GARANTE QUALIDADE NOS MOLDES 19 Moldes Dionísio (Moldi) é uma empresa de cariz familiar, que iniciou a sua atividade em 1997, em Vale do Horto (Leiria). Constituída por uma equipa de 38 profissionais qualificados, é especializada em estruturas que são, no sector, o garante da qualidade nos moldes. Os fabricantes portugueses são os principais clientes da empresa que se rege por um conjunto de valores que, na ótica dos administradores, são os fatores chave do sucesso: profissionalismo, trabalho em equipa, ética, rigor e inovação. 1997. Foi logo no início do ano, em janeiro, que a Moldes Dionísio iniciou a sua atividade. Este projeto familiar começou com a associação de um casal (Dionísio Soares e Maria Olinda Carreira) e os seus dois filhos (Nelson e Rute Soares) que se dedicaram ao projeto com paixão e entusiasmo. Aproveitando o vasto conhecimento de Dionísio Soares no fabrico de estruturas foi essa a área que escolheram e na qual se foram especializando. Desde sempre, a empresa procurou trilhar a sua rota, no sentido de ser reconhecida pela excelência do seu serviço e dos seus profissionais, comprometida com a melhoria contínua e mantendo-se sempre na vanguarda tecnológica. Hoje, a Moldi executa todo o processo de fabrico de estruturas (das mais variadas dimensões), desde o galgamento, furações horizontais até ao acabamento, passando pela retificação. Nelson Soares, administrador, adianta que a empresa, hoje dividida em dois edifícios, “dispõe de equipamento tecnológico de ponta nos diversos sectores de produção”. Na prática, sublinha, a área produtiva está dividida por quatro naves: na primeira, nas instalações mais antigas, tem lugar o trabalho de galgamento e desbaste. Já no novo edifício, têm lugar as outras três: furação (trabalhos horizontais), retificação, acabamento e controlo. Recentemente, a empresa apostou no serviço de metrologia, assegurando medições de todas as peças.

A equipa é jovem e composta por 38 colaboradores, com uma média etária de cerca de 30 anos, tendo sido nos últimos anos distinguida, várias vezes, com os galardões ‘PME Líder’ e ‘PME Excelência’. O trabalho que a empresa executa destina-se aos fabricantes de moldes. Assim, a larga maioria dos seus clientes (quase 90%) está localizada em Portugal. Durante algum tempo, o mercado nacional absorveu a totalidade da produção da empresa, contudo na última década, esta desenvolveu também algum trabalho para fora do país, sobretudo para Espanha.

ATIVIDADE Até 2018, a Moldi funcionou nas instalações onde iniciou a sua atividade. A partir desse ano, no entanto, uma parte significativa da produção mudou-se para o novo edifício, situado em frente ao antigo. A mudança, esclarece Nelson Soares, teve como principal objetivo “dar mais conforto e qualidade ao trabalho”. No âmbito desse crescimento, conta, a Moldi planeava, também, “iniciar um trabalho de prospeção comercial mais intenso no estrangeiro, de forma a aumentar as exportações”. Mas os planos foram alterados devido à pandemia de Covid-19. Também a atividade da empresa se ressentiu com a estagnação económica mundial. Nelson Soares conta que, apesar da larga maioria dos clientes não ter as ferramentas necessárias para o trabalho das estruturas, “alguns, face à redução de projetos novos, procuram fazer tudo internamente e só recorrem aos nossos serviços quando não têm opção dentro de casa”. Sublinha que, para executar, com rigor e qualidade, o trabalho no qual é especializada, a Moldi necessita de máquinas e ferramentas, mas sobretudo do “conhecimento técnico” que levou tempo a alcançar. Adverte, por isso, os fabricantes de moldes que, por vezes, a solução que parece a que assegura maior poupança, pode acabar por sair mais cara. Em relação ao futuro, afirma esperar que “não tardem muito a vir projetos do exterior em maior quantidade para as empresas de moldes retomarem a atividade normal”. E que, com estes, “regressem também aos valores que tinham, questões que são hoje desafiantes, como os preços”. “É difícil fazer previsões ou imaginar o futuro na atual situação pandémica, mas acreditamos que, no nosso caso, passará por encontrar novos clientes e novos projetos, dentro, mas, sobretudo, fora de Portugal”, sublinha.


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UNIVERSIDADE DO MINHO E POLITÉCNICO DE LEIRIA CRIAM DOUTORAMENTO EM FABRICO DIGITAL DIRETO 20

É uma associação inovadora no ensino superior em Portugal. A Universidade do Minho e o Politécnico de Leiria criaram e vão lecionar em conjunto, o doutoramento em ‘Fabrico Digital Direto para as Indústrias de Polímeros e Moldes’. Com capacidade para 15 alunos nesta fase, tem início previsto para fevereiro de 2021, estendendo-se por seis semestres, com aulas presenciais e online a decorrer simultaneamente nas instalações de ambas as instituições. As candidaturas serão abertas entre 7 e 18 de dezembro de 2020. Com acreditação atribuída pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) para vigorar por um período de seis anos, o Doutoramento em Fabrico Digital Direto para as Indústrias de Polímeros e Moldes começou a ser pensado e concebido pelas duas instituições (que já desenvolvem projetos em parceria) há cerca de dois anos. O ciclo de estudos será ministrado na Universidade do Minho, Campus de Azurém, em Guimarães, e no Politécnico de Leiria, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), envolvendo também diretamente dois centros de investigação, o Instituto de Polímeros e Compósitos da Universidade do Minho (IPC) e o Centro para Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto do Politécnico de Leiria (CDRSP), avaliados pela Fundação pela Ciência e a Tecnologia com ‘Muito Bom’ e ‘ Excelente ’, respetivamente. As atividades letivas e de investigação serão partilhadas por professores e investigadores da Universidade do Minho e do Politécnico de Leiria. O grau de doutor será conferido pela Universidade do Minho, no ramo de doutoramento em Ciência e Engenharia de Polímeros e Compósitos, Especialidade em Processamento e Projeto com Polímeros. A este ciclo de estudos poder-se-ão candidatar os titulares do grau de Mestre em Engenharia ou equivalente legal, os licenciados em Engenharia em áreas afins, detentores de um currículo escolar ou científico especialmente relevante, e quem apresente um currículo escolar, científico ou profissional, que seja reconhecido pelo Conselho Científico da Escola de Engenharia da Universidade do Minho como atestando capacidade para a realização deste doutoramento.

Júlio Viana (Universidade do Minho) e Joel Vasco (Politécnico de Leiria) serão, respetivamente, o Diretor e Vice-Diretor do curso que tem ainda na sua direção António Pontes e Mário Correia, docentes em cada uma das instituições de ensino. António Pontes, professor da Universidade do Minho, esclarece que este Programa Doutoral reflete, por um lado, “a atualidade e a importância da progressiva digitalização da indústria” e, por outro, “pretende também responder à necessidade do ensino centrado no aluno”.

TECNOLOGIAS RELEVANTES “A produção industrial, cada vez mais orientada para produtos funcionais ‘inteligentes’, muitas vezes ao nível do comportamento do(s) material(ais), com desempenhos nalguns casos dependentes do meio envolvente e de estímulos externos, leva a que diversos processos de fabrico integrados sejam estabelecidos ou que algumas tecnologias incluam diversos processos num só ciclo de manufatura”, salienta, lembrando que “neste contexto, têm emergido novas tecnologias, incluindo a descrição multiescala e digital de produtos, materiais, objetos e processos”. Por tudo isto, este Programa Doutoral “incorpora o fabrico aditivo, incluindo também outros tipos (subtrativo, híbrido), desde que a informação para produção possa ser transmitida de forma digital direta”, afirma. Ora, estas tecnologias têm “grande relevância na indústria dos polímeros (e.g., impressão 3D) e dos moldes (p.e., impressão de insertos e componentes metálicos para moldes), e representam um desafio futuro”, considera ainda António Pontes, sublinhando que “estas indústrias necessitam de desenvolver e endogeneizar novos conhecimentos avançados, e formar e qualificar recursos humanos, que as adaptem às mudanças de paradigma de produção de peças com materiais poliméricos e compósitos”. Joel Vasco começa por sublinhar que esta associação entre as duas instituições de ensino só foi possível “conjugando vontades”. Lembra, contudo, que a Universidade do Minho e o Politécnico de Leiria têm já “relações de longa data”, trabalhando em conjunto, há vários anos,


no desenvolvimento de projetos, muitos deles para as indústrias de moldes e plásticos. Para Joel Vasco, esta associação entre as duas instituições permite dar um passo maior, uma vez que possibilita um prosseguimento dos estudos para muitos alunos, em particular os que frequentam o Mestrado em Engenharia para a Fabricação Digital Direta (já em funcionamento). Por outro lado, reforça o docente, tratase de um curso que pretende também “potenciar a nossa indústria nacional neste sector”. Ou seja, responde aos desejos de levar o fabrico digital diretamente para o chão de fábrica.

CAPACITAR EMPRESAS Para que este curso tenha êxito, reforça Joel Vasco, o papel das empresas é determinante. “As empresas têm tido uma importância enorme neste processo, desde o momento de preparação e aprovação do curso, através das ‘cartas de conforto’ que nos passaram”, afirma, considerando ainda que foi também a indústria que “nos auxiliou a entender e definir algumas áreas deste doutoramento”. Para além disto, as empresas têm ainda um outro papel: assegurar a ligação à inserção em contexto de trabalho e ao desenvolvimento das próprias teses de doutoramento. “Esta inserção em contexto de trabalho tem uma particularidade importante: assenta muito na procura de desafios que possam ser resolvidos pelo fabrico digital direto”, adianta o docente. E o curso trará benefícios de vária ordem para os sectores de moldes e plásticos. No caso das empresas que, de alguma forma, já integram o fabrico digital direto, Joel Vasco considera que “irão beneficiar claramente, ao terem um conjunto de pessoas que recebeu uma pequena resenha de conhecimentos importantes naquela área e que servirão para otimizar equipamentos ou metodologias que já estejam instaladas na empresa”. No caso das outras empresas, as que não estão ainda nesse patamar, “estes alunos, sejam já colaboradores da empresa ou que venham a integrar os seus quadros, terão como função dar-lhe o ‘kickstart’, para que possam começar a desenvolver e trabalhar estas competências”.

AULAS PRESENCIAIS E À DISTÂNCIA Júlio Viana explica que, ao conceber o curso, isso foi feito de forma a acolher, quer profissionais das empresas, quer alunos que desejem prosseguir os seus estudos. “Esperamos ter as duas vertentes”, afirma. “Temos cerca de 15 vagas por ano. Se conseguíssemos ir buscar, por exemplo, um terço dos alunos à indústria, isso seria muito interessante”, adianta.

As aulas foram pensadas para funcionar de forma mista, entre o presencial e o online. “Não tendo a ver com as questões da pandemia, até porque foi concebido anteriormente, o programa vai ser lecionado na Universidade do Minho e no Politécnico de Leiria. As aulas decorrerão num ou noutro local, mas com assistência remota para otimizar os recursos”, explica, sublinhando que desta forma, os alunos “não necessitam de deslocar-se de uma instituição para a outra”. Contudo, este funcionamento “vai trazer desafios aos alunos, sobretudo aqueles que estão a trabalhar e a tirar o doutoramento ao mesmo tempo”. Esta forma de lecionar, salienta, é, até, “uma prática que já usámos algumas vezes e decidimos incrementar neste curso”. E sendo este um curso único a nível nacional, “as expectativas são imensas”, considera, contando que “vamos aproveitar as competências que existem, quer na universidade, quer no politécnico para dar um curso numa área muito transversal, que engloba, entre outras áreas, os os materiais, os processos de fabrico, e os processos de conceção ou design do produto”. O objetivo final é “formar doutorados, técnico qualificados que possam ajudar a desenvolver as empresas” e por isso, reforça, “é muito importante termos o envolvimento da indústria”. A integração destes novos técnicos, sublinha, “permitirá às empresas tirar partido destas tecnologias, algumas delas emergentes, de forma a que possibilitem novas experiências e até a criação de novos produtos, em particular para a indústria de polímeros”.

“MARCO HISTÓRICO” Este doutoramento é considerado por Rui Pedrosa, Presidente do Politécnico de Leiria como “um marco histórico e um devido reconhecimento da capacidade científica do Politécnico de Leiria, da ESTG e do CDRSP – Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentável do Produto”. Rui Pedrosa defende que se trata de “um doutoramento de interface que será suportado pelo desenvolvimento de investigação orientada para a criação de soluções para as empresas numa área de ponta e de futuro como é a fabricação digital direta”. Para o responsável, esta parceria com a Universidade do Minho “reforça a colaboração histórica entre as nossas instituições, nomeadamente na investigação e inovação que temos feito em conjunto em muitos projetos com empresas, principalmente nos sectores de moldes e dos polímeros. Por essa razão, este programa doutoral, que consideramos de interface, contou com o suporte de diversas empresas e instituições não empresariais”. Já Rui Vieira de Castro, Reitor da Universidade do Minho, considera que o trabalho conjunto entre as duas instituições, que dura desde 1997, tem permitido que “os tópicos de interesse científico do IPC, da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, e da ESTG e do CDRSP, do Politécnico de Leiria, se cruzem e permitem sinergias que se têm vindo a revelar catalisadoras de novas ideias e projetos”. Nas suas palavras, o programa de doutoramento “permitirá multiplicar as atividades conjuntas e obter resultados científico-tecnológicos cuja transferência para as empresas contribuirá seguramente para a sua valorização e das regiões abrangidas por estas duas instituições de ensino superior”. Terá também, no seu entender, “um efeito multiplicador ao nível nacional e internacional”.

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MANUFATURA ADITIVA: NOVO MESTRADO EM AVEIRO 22

O curso foi acreditado para 25 vagas e o seu carácter inovador poderá ser motivo de atração para estudantes internacionais. “Este é claramente um mestrado internacional”, defende.

MUDANÇA NA INDÚSTRIA Manufatura Aditiva é o novo mestrado que tem início já este ano letivo, na Universidade de Aveiro. Desta forma, a instituição torna-se pioneira no nosso país na formação de profissionais nesta que é uma área emergente, seja na indústria de moldes, seja noutros sectores de atividade. Paula Vilarinho, diretora deste mestrado, justifica a sua conceção com a necessidade de criar, na indústria, quadros que “introduzem a necessidade da mudança”. O novo curso resulta de uma oferta conjunta de três unidades orgânicas da Universidade de Aveiro (UA): o Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (DEMaC), o Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) e a Escola Superior Aveiro Norte (ESAN). Na sua génese esteve a constatação de que é necessário “desenvolver programas de formação universitária (e até eventualmente outros) para aumentar o conhecimento, a conscientização e educar a próxima geração de técnicos, trabalhadores e estudantes na utilização produtiva de tecnologias de fabrico aditivo, naturalmente gerando alguma ‘atração’ social para tecnologias, processos de fabrico e formas de pensar o projeto em engenharia baseado em Manufatura Aditiva”. O mestrado é um programa de formação universitária, com dois anos de duração, que visa preparar a transformação tecnológica e formar engenheiros, investigadores e empreendedores na área do fabrico aditivo, desde o projeto à produção. Ou seja, o curso está aberto à participação seja de estudantes sem experiência profissional, seja de profissionais integrados no mundo laboral e que desejem alargar as suas competências nestas áreas. E apesar da aposta que muitas empresas têm feito nos últimos tempos na tecnologia aditiva, Paula Vilarinho considera que, no entanto, “as oportunidades de negócios criadas pela manufatura aditiva ainda não são completamente entendidas, bem como os desafios encontrados pela indústria no seu uso efetivo”. A responsável explica que o plano curricular “garante a formação na temática da manufatura aditiva de uma forma integradora, desde a conceptualização até ao produto final, passando pelos materiais, tecnologias, modelação e simulação numérica, o controlo de qualidade e a verificação de requisitos de funcionalidade e de resistência mecânica, bem como análise de ciclos de vida e sustentabilidade”. Assegura ainda o contacto do aluno com o meio industrial no decorrer da formação o que, frisa, “garante a capacitação nas várias áreas, consideradas como essenciais, para um quadro superior técnico em manufatura aditiva”. Esse carácter integrador, sublinha, “é assim uma marca diferenciadora da presente proposta de formação no panorama nacional e internacional”.

“Há falta de quadros na indústria que introduzam na própria indústria a necessidade da mudança”, considera Paula Vilarinho. E quem se deve (e pode) candidatar ao novo mestrado? De acordo com a UA, qualquer licenciado em Ciências da Engenharia, Materiais, Mecânica, Eletrotecnia, Eletrónica, Design de Produto, Tecnologias e Sistemas da Produção, Automação Industrial, ou áreas afins, e que detenha na sua formação um número mínimo de 30 ECTS no conjunto das áreas disciplinares de matemática, e (ou) de física, e (ou) de ciências da engenharia. O programa foi desenvolvido para profissionais ou estudantes que possuam um diploma de licenciatura nestas áreas e que procuram oportunidades de desenvolvimento de carreira ou saída profissional numa área de tecnologia de ponta, de modo a melhorar ou adquirir conhecimentos na área do desenho e fabricação aditivos. Com o arranque previsto num momento em que a pandemia de Covid-19 assola o mundo, está previsto que as aulas possam funcionar de forma mista, entre algumas horas presenciais e outras online.

INDÚSTRIA DO FUTURO Paula Vilarinho defende ainda que a indústria de moldes irá beneficiar com este mestrado. “A indústria de moldes, pelas suas características e requisitos, dos quais se salientam o rigoroso controlo de qualidade, a necessidade de investimento em alta tecnologia, de cumprimento dos prazos de entrega, de versatilidade em termos de design e exigências cada vez maiores de fabrico de moldes complexos e de design ‘intrincado’, para além de um tempo de vida cada vez mais curto dos produtos, entre outras, necessita de recorrer a tecnologias que respondam a estes desafios, e uma destas é precisamente a manufatura aditiva”, defende, sublinhando que “não vejo a indústria do futuro sem a manufatura aditiva”. Lembra ainda que o nosso país “é deficitário em formações superiores nesta área, assim o sector do fabrico aditivo beneficiará diretamente desta formação, podendo contar a partir de agora com quadros especializados para incorporar nas empresas e unidades de interface e até na investigação”. Desta forma, “aumentar-se-á o número de atores conhecedores na área da manufatura aditiva, o que é atualmente no panorama industrial nacional e até europeu, relevante; consequentemente, a massa crítica no assunto, aumentará com todos os benefícios que daí advêm”, sustenta, considerando que “o sector da manufatura aditiva sairá fortemente reforçado, aumentando a probabilidade de investimentos e desenvolvimentos e contribuindo para a efetiva implementação da manufatura aditiva na indústria. E no seu entender, esta tecnologia será “um pilar na economia circular e na sustentabilidade da vida no planeta Terra”.



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AULAS EM TEMPO DE PANDEMIA 24

Helena Silva * * Revista “Molde”

Apanhadas de surpresa com a chegada da pandemia de Covid-19 ao nosso país, as escolas tiveram, no ano letivo passado e rapidamente, de criar e colocar em prática mecanismos que permitissem aos alunos prosseguir a sua formação. Algumas dessas alterações vão manter-se neste início de ano letivo, de forma a proteger a saúde dos jovens e dos funcionários das instituições. Procurámos apurar, junto de duas escolas que formam técnicos para o sector, quais serão as principais mudanças, sobretudo em cursos com uma componente muito prática e que contemplam períodos fora da escola, em contexto de trabalho. De uma maneira geral, Escola Profissional e Artística da Marinha Grande (EPAMG) e núcleo do Cenfim da Marinha Grande preparam-se para o que admitem vir a ser um ano “muito diferente” dos demais, no qual a incerteza ocupa lugar de destaque. Foi a 18 de maio que o núcleo da Marinha Grande do Cenfim retomou a atividade formativa presencial, depois de um período de confinamento causado pela pandemia de Covid-19 que não permitiu a formação nas instalações da escola. Carlos Manuel Silva, diretor do Núcleo do Cenfim da Marinha Grande, conta que “o correto comportamento social e o respeito pelas restrições impostas pelo estado de emergência, na altura, deram resultados positivos, o que permitiu ao Cenfim começar a retoma da atividade formativa presencial, a partir dessa data, mas redobrando os cuidados preventivos e informativos imprescindíveis”. O responsável esclarece ainda que este regresso foi feito de “forma faseada” e integrado com “a estratégia de Formação à Distância que esteve em desenvolvimento (e estará sempre disponível a partir de agora nas nossas metodologias pedagógicas formativas, quando e se se justificar)”. Esta foi, sublinha, “a única forma de conciliarmos a formação presencial e a necessária redução de potenciais contactos físicos entre a nossa comunidade, desafio este que requereu (e requer) um esforço redobrado”.

Esse período serviu para afinar alguns procedimentos que são colocados em prática, agora, neste novo ano letivo. Trata-se de medidas gerais de higiene pessoal que constituem as atitudes mais importantes para evitar a propagação da doença: procedimentos básicos para higienização das mãos; procedimentos de etiqueta respiratória, nomeadamente, o uso obrigatório de máscara dentro das instalações do núcleo e em todos os espaços formativos (salas, laboratórios e oficinas); procedimentos de conduta social; circuitos de circulação devidamente identificados; instrumentos, ferramentas e máquinas regularmente limpas e higienizadas; entre outras medidas consideradas fundamentais para a garantia da segurança e saúde. No entanto, salienta Carlos Silva, o Cenfim está permanentemente atento às recomendações das entidades de saúde, nacionais e internacionais, de forma a afinar e alterar procedimentos sempre que seja necessário.

MENOR ADESÃO Focado, estruturado e preparado para ministrar cursos de profissões diretamente relacionadas com a indústria de moldes (seja a jovens, seja, numa outra vertente, a adultos), Carlos Silva conta, ainda, ter registado “com muita apreensão” a diminuição na adesão por parte dos jovens. A procura, explica, não correspondeu “à oferta disponibilizada e às nossas expectativas no âmbito do que tínhamos planeado e programado executar”. Uma das razões para isto se verificar, considera o responsável, estará diretamente relacionada com a pandemia. “O receio dos jovens e dos pais e encarregados de educação mudarem os filhos de escola, e o facto de muitos deles, ao virem para o Cenfim provenientes de concelhos limítrofes, não quererem deslocar-se em transporte público e, também por isso, a vontade dos pais os desejarem ter mais perto da sua área de residência, podem ter sido fatores relevantes na tomada de decisão, o que se compreende”, considera. No entanto, reforça que esta diminuição irá naturalmente traduzir-se numa redução da oferta futura de jovens profissionais para o sector. Com uma vertente muito prática, os cursos do Cenfim têm a particular de incluir um elevado número de horas em contexto laboral, nas empresas. E este aspeto foi, de acordo com o responsável, “complexo de gerir e de concretizar nesta fase”, sobretudo devido a alguns condicionalismos existentes nas empresas. Muitas delas, enfatiza, “passam por um período extraordinariamente difícil”. Isso levou a que algumas não conseguissem aceitar os formandos. Foram, contudo, casos pontuais, revela.

// Núcleo do Cenfim da Marinha Grande


Uma vez em estágio, os jovens acabam por se integrar nos planos de contingência levados a cabo por cada organização. “As empresas, na generalidade, implementaram, elas próprias, rigorosos e exigentes planos de contingência - foram, diria até, exemplares nessa matéria -, o que comprova bem a exigência e relevância do nosso sector (no panorama regional, nacional e internacional)”, considera, adiantando que, na generalidade dos casos, as instruções e regras são muito claras. E este é um aspeto que tem de ser devidamente acautelado, uma vez que os estágios “resultam numa experiência única e muito marcante” para o processo formativo futuro dos jovens. Carlos Silva considera ainda, que face a esta situação pandémica, “o sector está a passar por um período da maior complexidade”, mostrando-se convicto de que “daremos a volta e sairemos por cima, pois foi isso que já aconteceu no passado por diversas vezes e é isso que agora vai acontecer, conforme todos o ambicionamos”.

EPAMG: TURMAS PEQUENAS GRANDES MUDANÇAS

NÃO

OBRIGAM A

Com um único curso direcionado diretamente à área dos moldes, a Escola Profissional e Artística da Marinha Grande (EPAMG) teve, também, de alterar vários procedimentos como consequência da pandemia de Covid-19. Patrícia Rosa, diretora da escola, esclarece que, tratando-se de uma turma pequena (com cerca de 15 alunos em cada um dos três anos), não precisa de ser dividida, ao contrário do que acontecerá este ano letivo com muitas outras da escola. Está previsto também que estes alunos possam ter todas as suas aulas na escola. Por outro lado, e devido ao número reduzido de alunos, desde há algum tempo que estas turmas orientadas para a indústria de moldes se juntam com as de Eletrónica, Automação e Comando, na vertente letiva sociocultural e científica, separando-se, apenas na área técnica. Este formato, considera a responsável, deverá manter-se este ano letivo. Marco Ruivo, coordenador do curso de moldes, explica que o período “mais difícil” foi vivido no momento em que surgiu a pandemia, uma vez que não havia regras e procedimentos instituídos. “Agora que sabemos como é e o que esperar, será mais fácil”, defende, salientando que o trabalho com computadores que se verifica nas salas de aula, pode, a qualquer momento e em caso de necessidade, ser transferido para a casa de cada aluno. “Da forma como temos a formação perspetivada, trabalhar da escola ou de casa, é igual”, sublinha, lembrando que esse ‘trabalho à distância’ é algo que “nem é estranho à indústria de moldes, na qual os seus quadros estão habituados a estar no estrangeiro e trabalhar de forma remota”. Diz mesmo que “até é bom os alunos terem a noção do que é trabalhar lá fora, à distância”, pois isso “acaba por enriquecer a sua formação”.

Para além de todos os procedimentos de segurança enquadrados nas recomendações das entidades sanitárias, Patrícia Rosa conta ainda que uma das mudanças preconizada diz respeito ao último período letivo. “O que estabelecemos é que os alunos teriam, nessa altura, um terço de aulas síncronas e os dois terços de trabalho autónomo, em casa, sozinhos”, explica.

OS ESTÁGIOS A pandemia, adianta Marco Ruivo, surgiu num momento em que o curso de moldes ministrado na EPAMG está a passar por algumas alterações que, mantendo os conteúdos, procuram torná-lo mais próximo da realidade industrial. Nesse sentido, os estágios assumem um carácter muito importante. E no entender do coordenador do curso “não deverão ter grandes alterações por causa da pandemia”. Mas no ano letivo passado acabaram por ter. Com o surgimento da pandemia, a escola teve necessidade de reduzir o plano de horas de formação de 840 para 600. Para que tudo corra da melhor forma, explica que, em conjunto com as empresas, estão já a ser pensadas as melhores soluções. Uma das possibilidades é criar, nos primeiros anos de curso, um sistema misto entre aulas e estágios que se estenda por todo o ano letivo e não concentrando os estágios, apenas, num período de tempo contínuo. “Os alunos podem, por exemplo, ter aulas de segunda a quinta-feira e, na sexta-feira, ter formação nas empresas”, esclarece, sublinhando que se trata de “uma possibilidade em estudo, mas que poderá ser mais confortável para as empresas e mais aliciante para os nossos jovens”. Marco Ruivo considera que “a pandemia pode alterar as coisas quando estamos a falar de um trabalho que é feito, por exemplo, em termos operacionais”. Ilustra com um caso prático: “se um aluno no estágio tem de acompanhar um vendedor e este teve de mudar a sua estratégia de venda, deixando de visitar as empresas, é natural que o aluno tenha de adotar a mesma estratégia e fazer tudo à distância”. Mas essas são, no seu entender, “as contingências da pandemia” com as quais a escola e as empresas terão de saber viver. “O sucesso da escola é que os alunos saiam bem formados. E para isso temos de nos adaptar à realidade”, defende. Em dúvida para este ano está também a forma como decorrerão os estágios internacionais, cancelados o ano passado devido à pandemia. Patrícia Rosa sustenta que a escola vai fazer o possível para os manter, considerando “fundamental” que os jovens passem por estas experiências internacionais. De resto, destaca que a nível de ligação com as empresas não se têm notado grandes alterações. “Os alunos que terminaram o curso este ano têm recebido propostas para trabalhar nas empresas. Nesta questão, a pandemia não está a afetar em nada”, exemplifica. Uma outra situação que regista, com agrado, é a quantidade de alunos que, este ano letivo se inscreveram na escola. “Tivemos mais inscrições, este ano, comparativamente ao passado, no geral, em todos os cursos da escola”, explica, considerando que, no caso específico dos moldes, “acreditamos que esse interesse está ligado às mudanças de estratégia que começaram este ano a ser postas em prática”. De uma maneira geral, salienta, o ano letivo decorrerá “passo a passo”, com a introdução de todas as medidas que vierem a ser necessárias para garantir a segurança e a saúde de todos.

// Epamg

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FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA / CEFAMOL NEWS /

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OS JOVENS NA INDÚSTRIA 26

Helena Silva * * Revista “Molde”

São dois jovens acabados de chegar ao mercado de trabalho. A indústria de moldes foi a opção profissional de ambos. Colocados em empresas diferentes e com tarefas e interesses díspares, Ana Carolina e Francisco Sousa são unânimes num aspeto: para os dois, a indústria de moldes é “aliciante” porque está “sempre a inovar”. É uma mulher num sector onde os homens ainda predominam. Mas isso não constitui, para si, qualquer tipo de problema ou entrave. Como em muitas outras coisas da sua vida, revela, uma vez escolhido o caminho, os obstáculos são facilmente contornáveis. Ana Carolina Jorge de Sá tem 22 anos, é desenhadora e trabalha no departamento técnico do grupo Simoldes. Está na empresa há pouco mais de um ano, tendo começado por fazer, ali, um estágio de quatro meses. “Gostei muito do estágio, por isso, quando me deram a oportunidade de continuar nem pensei duas vezes”, admite. E em que momento da sua vida surgiu o gosto pela indústria de moldes? É com muita sinceridade que admite ter sido, apenas, no momento em que teve de decidir, após o 12º ano (que completou na área de Ciências e Tecnologia), qual a área que seguiria. “Como muitos alunos, não tinha decisões tomadas, não sabia o que fazer”, recorda, sublinhando que, ao constatar isso, o pai, que prestava serviço numa empresa do grupo Simoldes, desafiou-a a fazer uma visita à empresa. “Nessa visita, fiquei fascinada com o que vi e achei que teria facilidade em integrar-me numa área que me pareceu tão interessante”, admite. Tomou nesse momento a decisão e ingressou num Curso Técnico Superior Profissional (TESP), em ‘Projeto de Moldes’, na Universidade de Aveiro-Norte. Conta, com muita graça, ter iniciado o curso com grande entusiasmo e apenas no decorrer das aulas ter percebido o que era, afinal, um molde. “Tinha a imagem da empresa na cabeça, mas não fazia ideia do que era um molde até ver, já na escola”, conta.

O fascínio não esmoreceu. Concluiu o TESP e está, neste momento, a fazer a licenciatura em Engenharia de Produção Industrial, no Instituto Superior de Entre o Douro e Vouga (ISVOUGA), em Santa Maria da Feira.

SECTOR DINÂMICO Entusiasmou-se com o curso. De tal forma que, no final do primeiro ano, solicitou ao grupo Simoldes a possibilidade de estagiar na empresa MDA. “Tudo era, para mim, muito interessante. Queria conhecer melhor o ambiente e, sobretudo, o processo de fabrico de um molde”, relata. E este foi, no seu entender, um passo decisivo para o que se seguiu. “Esta experiência permitiu sentir-me mais preparada para o curso porque, depois desse estágio, tinha experiência para juntar à teoria”, conta, adiantando que, de qualquer forma, “o curso já era muito prático, o que me permitiu aprender rapidamente sobre uma área que, à partida, mal conhecia”. No final do curso, conseguiu um estágio na Simoldes. “Acho que tive muita sorte em atirar-me assim para esta área, escolher de ‘olhos fechados’ porque, afinal, gosto muito”, salienta. E gosta, sobretudo, do projeto, a área onde iniciou o estágio e onde ainda hoje continua. Classificando o sector como “muito dinâmico, sempre em grande mudança”, Ana Carolina considera que isso faz com que esteja sempre a aprender. “Tenho aprendido muito, mas sei que tenho muito mais para aprender. E quero”, assegura. No futuro, algo que ainda não pensa muito, diz que se vê “com naturalidade” a manter-se a trabalhar no mesmo local. Até porque se acomodou com gosto à área onde está integrada. Por outro lado, diz, “tenho noção da importância deste grupo empresarial e quero dar o meu melhor para confiarem no meu trabalho”, afirma.

CURIOSIDADE SOBRE O SECTOR Não muito longe, na empresa Moldit, encontrámos um outro jovem que se afirma também fascinado pelo sector. Francisco Sousa tem 25 anos, e um percurso algo diferente da jovem Ana Carolina. Antes de concluir o 12º ano (em Ciências e Tecnologia), já tinha presente a decisão de vir a cursar engenharia mecânica. Assim fez. E ao iniciar esse curso tinha já presente a forte possibilidade de vir a ingressar na indústria de moldes, sobre a qual já conhecia muitos aspetos, sobretudo “o seu carácter inovador”.

// Ana Carolina Sá - MDA

“Sempre tive grande curiosidade em relação aos moldes principalmente porque, por aquilo que fui ouvindo contar e pelo que fui conhecendo, era uma indústria muito dinâmica e isso agradava-me”, explica.


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FORMAÇÃO NA INDÚSTRIA /

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// Francisco Sousa - Moldit

Foi por isso que, quase com naturalidade, concluiu a ‘sua’ engenharia na Universidade de Aveiro. E o tema da sua tese foi orientado precisamente para a indústria de moldes: ‘ferramentas e metodologias estruturais de dimensionamento de moldes metálicos (simulação na injeção)’. Foi ainda no decorrer do processo da tese que, em 2018, teve oportunidade de estagiar na Moldit. Ali cumpriu nove meses de estágio profissional. “Gostei logo da empresa. Mas já tinha conhecimento dela, quer por pesquisas que fiz, quer por ouvir falar”, recorda, frisando que o contacto direto surgiu, apenas, no decorrer do estágio, no qual percorreu várias áreas da empresa, tendo-se deixado fascinar mais por uma delas: a injeção de polímeros. No entanto, admite que as outras áreas também lhe despertam interesse e curiosidade. “Este é, sem dúvida, um sector muito aliciante. E esta indústria, tal como eu imaginava, é muito dinâmica, sempre em desenvolvimento e mudança”, relata.

INTEGRAÇÃO É num tom de grande naturalidade que diz ter, provavelmente, encontrado a profissão com que sempre sonhou. “Já de há muito tempo, desde que me lembro, sempre tive muita curiosidade em perceber a conceção e o fabrico das peças, dos produtos que me rodeavam”, explica. Ora, a curiosidade foi agora satisfeita. E, salienta Francisco Sousa, “toda esta experiência tem correspondido às minhas expectativas”. Após os nove meses de estágio, acabou por permanecer na Moldit. “Já lá vão dois anos. Passaram depressa”, conta, admitindo estar a gostar bastante da experiência. Até porque tem tido oportunidade de conhecer vários departamentos. “Desde o início da pandemia, estou mais ligado à produção e ao controlo e tem sido, também, desafiante”, afirma. Desde o momento em que entrou, Francisco diz ter sentido que “a empresa tem apostado em mim”. E sente isso porque, explica, “temme sido dada cada vez mais responsabilidade e mais oportunidades de me desenvolver na indústria. Sinto-me cada vez mais integrado na equipa e isso é muito bom”, adianta. É por isso que remata: “sem pensar muito no futuro, é aqui que me vejo a permanecer nos próximos tempos”.


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CIBERSEGURANÇA

DESAFIOS DA CIBERSEGURANÇA NA INDÚSTRIA DE MOLDES DESAFIOS DA GESTÃO E SEGURANÇA DOS DADOS NAS EMPRESAS

EMPRESAS DEVEM APOSTAR EM APOIO INFORMÁTICO ESPECIALIZADO ENTREVISTA: LINO SANTOS COORDENADOR DO CENTRO NACIONAL DE CIBERSEGURANÇA

PREVENÇÃO: A ÚNICA SOLUÇÃO NA LUTA CONTRA ATAQUES INFORMÁTICOS FORNECEDORES GARANTEM SEGURANÇA DAS SOLUÇÕES DISPONIBILIZADAS

WEBINAR: DESAFIOS E BOAS PRÁTICAS NA CIBERSEGURANÇA


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HIGHLIGHT /

DESAFIOS DA CIBERSEGURANÇA NA INDÚSTRIA DE MOLDES Carlos Manuel da Silva Rabadão * * Professor Coordenador; Departamento de Engenharia Informática; Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Leiria

ENQUADRAMENTO A “Internet das Coisas” (IoT – Internet Of Things) está progressivamente a invadir o espaço onde vivemos, onde trabalhamos e onde nos divertimos. De acordo com estudos recentes, o número total de dispositivos IoT ligados chegará a 75 mil milhões até 2025, com quase 30% deles instalados em ambientes industriais. Apesar dos desafios técnicos inerentes ao IoT, um grande número de indústrias tem vindo a adotar soluções Industrial IoT (IIoT), um dos principais pilares do paradigma “Indústria 4.0”, como veículo para melhorar as suas operações, nomeadamente ao nível da manutenção preditiva, da gestão de inventários e monitorização de ativos, da gestão de frotas e da previsão da procura. Atualmente, um dos mais importantes processos no mercado de IIoT é a convergência das tecnologias da informação (IT) e das tecnologias operacionais (OT) utilizada no chão de fábrica, tais como sistemas ICS (Industrial Control Systems), SCADA (Suspervisory Control and Data

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Acquisition), PLC (Programming Logic Controllers) e interfaces homemmáquina (HMI – Human-Machine Interface). Uma das considerações principais a ter em conta neste processo é que a convergência IT/ OT não se deve limitar à mistura destas duas tecnologias, mas sim à fusão de duas realidades inteiramente distintas, o que também requer formas completamente novas de conceber os sistemas industriais. A adotação de tecnologia IIoT, a par com a convergência bem-sucedida de IT/OT, permitem um melhor nível de automação, um desempenho mais otimizado, uma redução significativa de custos e uma visibilidade total de todo o processo operacional. Estas contribuições positivas devem-se, em larga medida, a uma maior interação e relacionamento entre os sistemas interligados no chão de fábrica e à recolha de dados numa escala nunca vista, permitindo assim tirar partido da informação e do conhecimento deles extraído, para apoio à decisão e definição de novos processos de produção. Embora os benefícios sejam significativos, este novo paradigma aumenta significativamente a exposição do ambiente operacional a ataques cibernéticos.


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NOVOS DESAFIOS DE CIBERSEGURANÇA NA INDÚSTRIA Estudos recentes indicam que quase metade dos fabricantes de dispositivos IoT adotam tecnologia vulnerável a ataques cibernéticos, nomeadamente a utilização de aplicações móveis (App) para interagir com esses equipamentos, e que 75% utilizam redes sem fios para transmitir dados de e para esses dispositivos. É igualmente conhecido que o firmware embebido nos dispositivos IoT, e que constitui o cerne do respetivo controlo, não é atualizado regularmente pelos respetivos fabricantes, de modo a resolver vulnerabilidades entretanto identificadas. É importante ainda notar que os sistemas de IT do sector produtivo são vitais na adoção da “Indústria 4.0”. Estes sistemas não servem apenas para os funcionários verificarem e-mails, efetuarem consultas na Internet, criarem projetos e lidarem com tarefas de engenharia; é também a rede por onde circulam os dados de produção que vão sendo reportados, designadamente os referentes a pedidos de produção, entrega e logística. Como consequência da inevitável utilização de tecnologia IIoT no chão de fábrica e da integração IT/OT, a indústria tem de saber lidar com um conjunto de aspetos que contribuem para a insegurança do IIoT: 1. Deficiente análise e mitigação de riscos – Os operadores e engenheiros que operam e gerem os equipamentos de chão de fábrica não têm um conhecimento abrangente e profundo sobre as questões associadas à cibersegurança. O espaço de operação tradicional dos sistemas OT é frequentemente tido como seguro e imune a ataques cibernéticos. Por outro lado, é frequente os profissionais de IT não estarem familiarizados com os sistemas instalados no chão de fábrica, e os sistemas de segurança com que lidam diariamente nas redes IT não preverem as especificidades dos protocolos industriais e dos dispositivos IoT. Este cenário leva a que não exista uma estratégia coerente e integrada para a avaliação de risco e consequente mitigação de vulnerabilidades nos ambientes IT e OT. 2. Vulnerabilidades dos sistemas industriais – Os fabricantes de sistemas industriais tradicionais não consideravam a cibersegurança como um requisito fundamental na conceção e desenvolvimento dos seus produtos. Tal pode justificar-se pelo facto de estes dispositivos se destinarem a ser instalados em redes fechadas e muitas das vezes proprietárias, tidas como seguras e “inatingíveis” a partir da Internet. A mudança para um paradigma de redes abertas, integradas com a redes IT e com a Internet, veio colocar a claro muitas vulnerabilidades existentes nos sistemas tradicionais em operação. Para agravar esta situação, muitas destas vulnerabilidades devem-se a falhas na conceção destes sistemas que não podem ser solucionadas. 3. Falta de atualizações de segurança – Muitas das atualizações de segurança implicam a paragem dos sistemas industriais. Outras, embora possam ser aplicadas com os sistemas em operação, poderão correr mal e colocar os sistemas fora de serviço. Qualquer destas situações é inaceitável em ambientes produtivos onde se privilegiam tempos de uptime perto dos 100%. Como consequência, raramente são aplicadas as atualizações necessárias para resolver as vulnerabilidades dos sistemas. 4. Utilização de sistemas operativos sem manutenção – Mais de 70% dos equipamentos que usam sistemas operativos Windows estão desatualizados, como o Windows 2000, XP e 7, uma vez que

estas versões deixaram de receber atualizações de segurança da Microsoft. Esses sistemas operativos Windows são a base para o funcionamento de muitos equipamentos industriais, nomeadamente os relacionados com a interação homem-máquina, utilizados para monitorizar e controlar processos OT, as estações de trabalho de engenharia, utilizadas para programar controladores, e os sistemas de bases de dados relacionais, onde são guardadas informações sobre os processos de produção. Esta situação leva a que vulnerabilidades conhecidas e já debeladas em versões mais recentes dos sistemas operativos, se continuem a manifestar nas versões sem suporte do fabricante, tais como o WannaCry e NotPetya. Esta situação pode ser agravada se estes sistemas estiverem diretamente ligados à Internet. 5. Protocolos OT inseguros – Os equipamentos industriais comunicam através de redes e utilizam protocolos de utilização específica em ambientes industriais, nomeadamente o Modbus, DNP3 e PROFINET. Estes protocolos apresentam falhas ao nível da segurança da informação, nomeadamente ao nível da autenticação de entidades, da autorização de acesso a recursos e processos, e da confidencialidade da informação.

MELHORIA DA SEGURANÇA DOS SISTEMAS INDUSTRIAIS A maioria das organizações reconhece que não existe uma solução única capaz de garantir a cibersegurança. Pelo contrário, é necessário dispor de uma estratégia de segurança integrada, baseada em abordagens complementares para melhorar a segurança dos sistemas IIoT, que considerem, nomeadamente, as seguintes medidas: 1. Adoção de processos de gestão de riscos e ameaças específicos para os ambientes industriais, no sentido de acautelar a proteção dos ativos críticos para a empresa. 2. Utilização de aplicações de gestão de ativos para descobrir e identificar ativos industriais relevantes, com vista a acompanhar a sua atualização relativamente a vulnerabilidades de segurança. 3. Utilização de sistemas de monitorização de ameaças de malware nas redes IT, já que os atacantes podem sabotar todo o pipeline produtivo, quer invadindo servidores críticos e, a partir daí, atingirem a rede OT, quer roubando propriedade intelectual (e.g. patentes) armazenada em servidores de ficheiros, partilhas de rede ou unidades de backup. 4. Implementação de metodologias de segurança de dispositivos terminais com base na abordagem de security by design, exigindo aos fabricantes dos dispositivos evidências da adoção deste conceito. 5. Realização de ações de sensibilização dos funcionários internos e das empresas prestadoras de serviços, para as boas práticas de cibersegurança, no sentido de mitigar comportamentos inadequados e que podem ser uma das portas de entrada de um ciberataque. A implementação eficiente destas medidas implica necessariamente um investimento efetivo e substancial em cibersegurança. Devemos ter presente que quando os sistemas industriais são atacados, o efeito pode ser catastrófico – paragem das linhas de produção e consequente perda de rendimentos, roubo de propriedade industrial, grandes danos no equipamento e até mesmo lesões corporais nos operadores de equipamentos industriais.



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DESAFIOS DA GESTÃO E SEGURANÇA DOS DADOS NAS EMPRESAS 32

Mário Antunes * * Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria); Centro de Investigação em Informática e Comunicações (CIIC - IPLeiria) Center for Research in Advanced Computing Systems (CRACS – INESC-TEC)

ENQUADRAMENTO A gestão e a tomada de decisões nas empresas fazem-se com recurso a informação credível, relevante, íntegra e que esteja atempadamente disponível. A digitalização crescente das empresas, transversal aos vários sectores de atividade, originou o aumento exponencial do volume de dados produzidos e, consequentemente, da informação que daí se pode extrair. A globalização das empresas neste ambiente digital tem potenciado a competitividade dos negócios, mas também a necessidade de implementar mecanismos cada vez mais eficazes de segurança da informação, que evitem a exfiltração dos dados e o acesso indevido. Os dados e a informação são ativos muito importantes para as empresas. Além dos dados referentes às atividades do negócio (por exemplo, faturação, indicadores de produção, clientes e fornecedores), são igualmente relevantes os que estão relacionados com os registos de atividade dos servidores (vulgarmente designados por logs), os documentos referentes à propriedade intelectual e industrial e os dados pessoais dos colaboradores e de outras entidades que se relacionam direta ou indiretamente com as empresas. A localização dos dados assenta atualmente em soluções descentralizadas, onde a cloud assume um papel de complementaridade aos servidores locais. Por estas razões torna-se importante quantificar com rigor o valor dos dados e definir estratégias concertadas para a sua proteção.

O VALOR DOS DADOS E OS PRINCÍPIOS DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO O valor dos dados e, consequentemente, da informação, é de difícil quantificação e envolve várias dimensões, como a área de atuação das empresas, a sua dimensão ou o volume de negócios. Em cada caso importa quantificar o valor que uma determinada informação terá nas tomadas de decisão por parte do gestor e, não menos importante, quanto poderá valer essa informação para as empresas concorrentes. Esta quantificação é particularmente importante, no sentido de definir e implementar estratégias realistas de gestão e proteção dos dados, assentes nos princípios básicos de segurança da informação. A Figura 1.a ilustra os três princípios básicos de segurança da informação, designadamente a confidencialidade, integridade e disponibilidade.

// F-1 . Princípios de segurança da Informação - Adaptado de Cryptography and Network Security: Principles and Practice (7th Edition); William Stallings; Editor: Pearson.


O princípio da confidencialidade garante que o acesso à informação é limitado apenas a quem tenha autorização prévia. A integridade consiste em garantir que a informação mantém as características iniciais após o acesso e manuseio pelos utilizadores. Por fim, o princípio da disponibilidade consiste em garantir que a informação está disponível para os utilizadores autorizados. A esta tríade são frequentemente adicionados mais dois princípios (Figura 1.b), designadamente a autenticidade e o registo (accountability), que se referem respetivamente à garantia de incorruptibilidade dos dados desde a sua criação e à capacidade de registo e controlo da atividade dos utilizadores no acesso aos dados.

O CICLO DE VIDA DOS DADOS E AS ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA Em cada momento, os dados poderão estar numa das fases do seu ciclo de vida, ilustrado na Figura 2. Para cada um desses estados é possível identificar ameaças e vulnerabilidades, bem como um conjunto de correspondentes medidas de proteção que poderão ser aplicadas.

// F-2 . ciclo de vida dos dados.

Os dados são criados através do sistema de informação (por exemplo, a inserção de um novo cliente na base de dados) ou pela recolha através de uma fonte específica (por exemplo, a leitura através de um sensor). É fundamental identificar a localização onde os dados são criados, que funções poderão ser realizadas (por exemplo, apenas leitura ou leitura e escrita) e quem lhes poderá aceder. A classificação correta dos conteúdos, de acordo com o nível de sensibilidade e o valor para a empresa, é fundamental, já que permitirá definir controlos de segurança fortes e eficazes e, consequentemente, mitigar situações de acesso indevido. O armazenamento dos dados ocorre imediatamente após a fase de criação e pode ser realizado de múltiplas formas, como seja num disco do servidor ou num repositório na cloud. Nesta fase os dados deverão ser protegidos de acordo com a sua classificação, nomeadamente através da utilização de mecanismos de encriptação, de políticas de acesso e de estratégias de monitorização e de backups. O uso ineficiente de listas de controlo de acessos (ACL – Access Control List), a inexistência de mecanismos de scanning de vírus aos ficheiros ou a sua incorreta classificação de acordo com o grau de sensibilidade, poderão potenciar o ataque externo aos dados armazenados. Reforça-se o papel dos backups, não apenas na fase de armazenamento, mas também no arquivamento. Numa situação de exfiltração de dados, erro humano, ou ainda após um ciberataque, a existência de uma política de backups (online e offsite) bem delineada e que contemple todos os dados armazenados e/ou arquivados, tendo em conta o seu valor para a organização, minimizará os riscos de perda permanente e de downtime do sistema de informação e do negócio.

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A utilização dos dados corresponde a todas as atividades relacionadas com a sua visualização, processamento e tratamento. Os dados podem igualmente ser transferidos ou partilhados, ficando assim disponíveis para outros utilizadores que poderão estar fisicamente distantes. A utilização dos dados acarreta alguns riscos, como o processamento em estações de trabalho inseguras e eventualmente de forma não encriptada. Quanto aos dados em trânsito, deverão negar-se acessos não autorizados através da rede, recorrendo entre outros mecanismos, a estratégias de monitorização constante dos ficheiros e dos serviços de rede, a sistemas de deteção e prevenção de intrusões e à instalação de firewalls. Ao longo do tempo, a necessidade da utilização regular de alguns dados torna-se reduzida. Neste caso, há lugar ao arquivamento a longo prazo, normalmente em suporte magnético, tendo em conta que poderá haver imposições legais que impliquem a sua consulta num horizonte temporal alargado. A fase de arquivamento constitui desafios ao nível da necessidade de recuperação. Ou seja, quando os dados são arquivados a longo prazo, é necessário ter em conta que poderá haver necessidade de os repor, seja por questões de ordem jurídico-legal, por destruição acidental ou ainda pela necessidade de realizar uma análise digital forense. Em qualquer das situações é necessário assegurar que a empresa detém os meios tecnológicos adequados para efetuar essa recuperação, caso contrário os dados arquivados de pouco servirão. Por exemplo, quando se arquivam dados em suporte de banda magnética num horizonte temporal de dez anos, deverá haver a preocupação de

assegurar que existirão equipamentos adequados para realizar uma eventual recuperação. O ciclo de vida encerra-se com a fase de destruição, que pode consistir na destruição lógica dos apontadores para os ficheiros ou na destruição física do suporte em que os dados estão armazenados. Nesta fase deverão sempre respeitar-se os prazos estipulados para os dados arquivados a longo prazo. Na destruição física do suporte (por exemplo, discos ou pen), além do respeito pelas normas ambientais e de sustentabilidade, deverá haver o cuidado de evitar a possibilidade de recuperação posterior dos dados através de aplicações específicas para o efeito. A definição de uma política de segurança da informação é fundamental para proteger os ativos da empresa. A mitigação do acesso ilegítimo e não autorizado aos dados contribui positivamente para a continuidade dos serviços das empresas e para a competitividade dos seus negócios. A auditoria e a validação de controlos de segurança ao longo do ciclo de vida dos dados, usando boas práticas internacionais (por exemplo, a norma ISO 27001:2013), terão um impacto positivo na gestão proativa do sistema de informação e da infraestrutura de rede e de servidores que suportam o negócio da empresa. A formação dos colaboradores em questões relacionadas com a cibersegurança deve igualmente ser encarada como um investimento, já que contribuirá para a proteção de um dos ativos muito valiosos das empresas: os dados.


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EMPRESAS DEVEM APOSTAR EM APOIO INFORMÁTICO ESPECIALIZADO Helena Silva * * Revista “Molde”

A defesa é o melhor ataque. A expressão usada na gíria futebolística, resume, na essência, a atitude que deve ser assumida pelas empresas no que diz respeito à cibersegurança: proteger-se antes para não lamentar os prejuízos mais tarde. É que, de acordo com fonte da Polícia Judiciária, quando falamos de ataques informáticos, a questão não é “saber se vai acontecer”, mas antes “quando vai acontecer”. De acordo com as autoridades, há muitas empresas que têm sido atacadas, mas nem todas apresentam queixas. E quando o fazem, muitas vezes já passou tanto tempo em relação ao ataque, que a investigação se torna mais difícil. Ainda por cima quando, na generalidade dos casos, esses ataques são oriundos de países estrangeiros, o que implica uma união entre polícias na investigação que não é tão célere quanto seria desejável devido aos muitos processos burocráticos que existem. Na área geográfica de intervenção do Departamento de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Judiciária de Leiria (que se estende do Bombarral a Leiria, chegando até Mação), é na zona de Leiria-

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Marinha Grande que tem acontecido o maior número de ataques informáticos a empresas. Fonte da Brigada de Investigação da Criminalidade Informática do DIC de Leiria explica que isso é natural, uma vez que, por um lado, se concentra nesta zona uma grande quantidade de empresas e, por outro, grande parte delas centra a sua atividade na exportação/ importação. “Ao trabalharem com muitas organizações estrangeiras, isso torna as empresas desta região mais vulneráveis a este tipo de ataques”, afirma. Não são indicados números concretos, até porque, sublinha, muitas das empresas atacadas não chegam, sequer, a apresentar queixa. “Não temos dúvidas de que todos os dias, as empresas são vítimas de tentativas de ataque. E das que são atacadas, sabemos também que só uma parte – normalmente, quando há prejuízo elevado – é que contacta a PJ”, esclarece.


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E o papel da PJ é, nestes casos, identificar os autores e recolher prova do crime. Atendendo a que a grande maioria dos ataques tem origem em países estrangeiros, o desfecho positivo acaba por se tornar “relativamente difícil de conseguir”. Desde logo porque tendo a PJ a sua capacidade de ação limitada ao território nacional, torna-se difícil a recolha de informação fora do país que permita rastrear, em tempo útil, os ataques. Levar a investigação a países estrangeiros implica “vários procedimentos legais que são morosos”. Ora, em contrapartida, um ataque informático demora segundos a acontecer. A cooperação internacional funciona, de acordo com a PJ, mas é lenta. Quando o atacante está em Portugal, a investigação “é relativamente mais fácil”, adianta. O objetivo da Polícia é sempre recolher prova suficiente para que o atacante seja punido não apenas por um ataque, mas por vários, uma vez que, normalmente, este tipo de criminosos atua em várias frentes em simultâneo.

SEGURANÇA Das empresas que têm apresentado queixa, os prejuízos têm sido variáveis, com valores desde os mil euros até 300 mil ou mais. A experiência da PJ nesta questão é que, na generalidade dos casos, quem pratica estes ataques fá-lo com a intenção de retirar dinheiro. “Não há praticamente situações de roubo de informação, nem patentes, nem espionagem empresarial: são ataques dirigidos à parte financeira das empresas”, relata a mesma fonte. A PJ revela ainda que, em vários países estrangeiros, “há toda uma indústria e crime organizado, dedicados ao cibercrime”, o que torna a situação complexa. É que, por exemplo, se o dinheiro retirado de uma empresa tiver como destino uma conta em Portugal, a investigação consegue com relativa facilidade rastrear a situação e chegar ao criminoso. Se isso se passar com contas no estrangeiro, a investigação torna-se muito mais complicada. E, na maioria dos casos, o dinheiro é passado de conta em conta, percorrendo geograficamente o planeta, o que torna praticamente impossível identificar os autores do crime. É uma situação preocupante, no entender da PJ, tanto mais que, hoje, “não há, praticamente, crimes que não tenham uma componente informática, uma vez que todos estamos ligados informaticamente e todos estamos na internet”. E face a esta realidade, o que pode uma empresa fazer? A resposta é simples, de acordo com a nossa fonte policial: apostar na proteção e segurança dos seus sistemas.

“Quem tem uma empresa tem de estar protegido, porque um crime informático demora segundos a praticar, mas, muitas vezes, leva dias ou meses a ser detetado pela vítima. Por isso, quando a Polícia parte para a investigação já leva muito tempo de atraso”, sublinha. Ora, a grande maioria das empresas tem falhas graves a este nível. Fonte da PJ salienta que, muitas, “não têm sequer um administrador de sistema [informático]”. Mas tê-lo pode, efetivamente, fazer a diferença entre um ataque vir a ser, ou não, bem-sucedido.

ATENÇÃO PERMANENTE Para além de estar permanentemente a vigiar o sistema informático e zelar pela sua proteção, um administrador de sistema numa empresa tem, segundo a Polícia, uma outra grande mais-valia: está perto dos utilizadores para responder às suas dúvidas em tempo real e evitar que se cometam erros (como acessos online indevidos) que podem sair caros. Desta forma, “o utilizador começa a criar sensibilidade para algo que não tinha”, adverte. De igual forma, as empresas devem, com regularidade, assegurar alguma formação nesta área para os seus colaboradores, de modo a que estes estejam despertos para um conjunto de situações que, controladas ou evitadas, servirão de proteção à organização. No entanto, sublinha a mesma fonte da PJ, “não há sistemas totalmente seguros” e a verdadeira questão que se coloca não é “se a empresa será atacada”, mas antes, “quando será atacada”. É que, sustenta, “não há empresas imunes a ataques informáticos”. Deixa, por isso, alguns conselhos no que diz respeito a atitudes que poderão ser tomadas como forma de prevenir danos maiores. Ou seja, proteger-se dos crimes informáticos mais frequentes. Desde logo, a necessidade de efetuar cópias de toda a informação da empresa, mas guardá-las desligadas da rede. Uma das opções, diz, é escolher ‘tapes’ e fazer gravações periódicas, uma por tape. Desta forma, se houver um ciberataque, é possível recuperar informação muito recente e, com isso, sofrer menos prejuízos. A PJ deixa também a sugestão de se recorrer a algumas aplicações gratuitas que podem ajudar a aumentar a segurança. Uma delas é a Scrollout1 (que aumenta a segurança do servidor do correio eletrónico) e outra a Gpg4win2 (para cifrar a informação das mensagens de correio eletrónico desde o remetente e o destinatário). A mesma fonte refere que, para além da investigação dos casos, a PJ está disponível também para, quando solicitado e em função da sua disponibilidade, conduzir sessões de sensibilização e informação sobre este tema, seja em associações ou escolas.

FUTURO De acordo com a PJ, se hoje em dia as empresas já sentem problemas graves com os ciberataques, a situação vai ser ainda mais problemática no futuro. “O alvo dos ataques serão as máquinas das linhas de montagem e haverá empresas paradas”, adverte, lembrando que, cada vez mais, a internet está presente em todas as fases de produção e, de uma maneira geral, em todas as empresas.

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Sublinha ainda que “os processadores das máquinas não têm a mesma capacidade de defesa que os computadores” e, mesmo com todos os investimentos em inteligência artificial, esta acabará por funcionar para os dois lados: ajudará as empresas, mas também os cibercriminosos a desenvolver melhor os seus ataques. Por isso, a PJ recomenda que “a comunicação entre todas as máquinas e dispositivos de comando e computadores, seja cifrada e com certificados digitais”. E sobretudo que os utilizadores “não usem as credenciais por defeito (códigos) que vêm originalmente com as máquinas”.


OS CIBERATAQUES MAIS FREQUENTES

OS CIBERATAQUES MENOS FREQUENTES

RANSOMWARE Trata-se de um ataque de cifragem de dados com posterior pedido de resgate e é, também, uma forma frequente de ataque às empresas. Neste esquema, os ataques começam por falhas no sistema devido, sobretudo, ao desconhecimento dos utilizadores. Chega, por exemplo, um email a dizer que há uma fatura por pagar de um qualquer cliente. A partir do momento em que o anexo (a suposta fatura) é aberto, é executado um ficheiro executável que estava camuflado e que permite aceder à rede informática da empresa. Os atacantes estudamna, fazem uma topologia e a determinado momento começam a cifrar alguns dos dados, deixando os sistemas operativos dos computadores a funcionar. Deixam então uma mensagem a pedir valores financeiros para dar a palavra passe para desbloquear os dados.

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Muitas empresas acabam por pagar, algo que a PJ não aconselha. Até porque, em muitos dos casos, a empresa paga e os dados permanecem bloqueados. Para evitar isto, adverte a Polícia, é preciso proteger os dados, de preferência com sistemas que mantenham uma cópia sempre desligada da rede. Há antivírus que conseguem detetar este tipo de intrusão, mas nem todos e nem sempre atempadamente.

De acordo com a PJ, já aconteceram casos muito graves com prejuízos muito avultados. Tal como muitos dos ataques, estes acontecem com maior frequência às sextas-feiras porque isso permite ao criminoso ter 48 horas (até segunda-feira) para ‘limpar’ o seu percurso. A Polícia aconselha, portanto, a que se duvide de tudo o que chega por correio eletrónico. É preciso desconfiar e confirmar a veracidade.

EXFILTRAÇÃO DE DADOS É uma forma de ataque pouco vulgar, mas que também acontece às empresas e consiste no roubo de dados, normalmente por extrabalhadores ou ex-gerentes que, ao sair de uma empresa, conseguem continuar a ter acesso a dados ou mesmo desviar dados. Aproveitam este acesso para prejudicar a empresa ou para ganhar dinheiro.

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A PJ adverte que este ‘esquema’ está muito assente no correio eletrónico que, da forma como é utilizado não é seguro. As empresas devem evitar enviar informação confidencial por e-mail, mas, se o fizerem, esta tem de ser cifrada (cifragem ponto-a-ponto). E devem também confirmar os negócios usando outros sistemas de confirmação da informação alternativos, que não apenas o e-mail.

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PHISHING Este tipo de ataque é usado, maioritariamente, em utilizadores domésticos, mas também acontece, por vezes, em empresas. Trata-se, basicamente, de mensagens de correio eletrónico com conteúdos maliciosos (links ou ficheiros anexos). As mensagens são das mais diversas proveniências, anunciando desde prémios a pedidos de atualização de dados bancários. A partir do momento em que consegue entrar no perfil do utilizador, bancário ou outro, o atacante tem acesso a todos os dados e pode controlar tudo, inclusivamente o acesso às contas bancárias.

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MAN IN THE MIDDLE Este é o ataque mais comum às empresas. Na prática, o cibercriminoso consegue aceder ao servidor de correio eletrónico de uma das empresas e às comunicações (e-mails) entre um fornecedor e o seu cliente. A determinado momento, quando o negócio está praticamente concluído, é o atacante que assume o controlo da negociação e as respostas que as empresas recebem são por ele produzidas. Dessa forma, consegue que o valor monetário do negócio seja depositado na conta bancária que quiser. Cliente e fornecedor só percebem o ataque muitas semanas depois, quando uma das empresas estranha não receber o dinheiro e a outra a mercadoria. Quando o esquema é percebido, o atacante já está muito longe.

A Polícia adverte que a segurança da informação de cada empresa é uma questão muito importante e é preciso definir bem o critério de acesso aos dados, atribuindo o mínimo privilégio possível. Assim que haja cessação de funções, é preciso retirar logo os privilégios. Um outro cuidado que a PJ aconselha as empresas a ter diz respeito à alienação de material informático obsoleto. Tudo o que serviu para armazenamento de dados deve ser totalmente destruído, desfeito ou prensado. ____________ 1 - http://www.scrolloutf1.com/ 2 - https://www.gpg4win.org/

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ENTREVISTA: LINO SANTOS COORDENADOR DO CENTRO NACIONAL DE CIBERSEGURANÇA 38

Quais são as medidas mais básicas que uma empresa deve adotar para acautelar melhor a utilização do ciberespaço? Sendo as empresas um importante elo no desenvolvimento económico e social, a crescente dependência da tecnologia e do ciberespaço para o seu funcionamento torna-as, também, mais expostas a ameaças e agentes maliciosos, tanto externos como internos. O CNCS advoga que a proteção das empresas deve seguir uma abordagem holística, presente no plano estratégico da organização e que compreenda as pessoas, os processos e a tecnologia.

// Lino Santos - CNCS

O Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) desenvolve um conjunto alargado de atividades, de forma a contribuir para uma utilização livre, confiável e segura do ciberespaço. Lino Santos, coordenador deste organismo explica que, enquanto autoridade nacional de cibersegurança, o CNCS é responsável pela definição e respetiva supervisão das medidas de cibersegurança obrigatórias para as entidades do Estado, operadores de infraestruturas críticas nacionais, de serviços essenciais e prestadores de serviços digitais. Por outro lado, desenvolve atividades de índole mais pedagógica, dirigidas a cidadãos e a empresas, independentemente da sua dimensão e sector de atividade. Um dos exemplos é a elaboração e publicação de boletins, recomendações técnicas e produção de normativos e referenciais dirigidos exclusivamente às organizações (como são os casos do Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança (QNRCS), o Quadro de Avaliação de Capacidades de Cibersegurança ou o Roteiro para as Capacidades Mínimas em Cibersegurança). Num momento em que a dependência do ciberespaço como forma de comunicação ficou evidenciada pela Covid-19, procuramos saber como podem as empresas tornar a sua utilização mais segura.

“Empresas devem considerar a cibersegurança como um investimento no seu futuro e não como um custo”

Recorde-se que a inexistência de uma cultura de cibersegurança na organização é, muitas vezes, a maior fragilidade, criando o ponto de entrada para agentes de ameaça. Neste sentido, as empresas devem adotar políticas vocacionadas na sensibilização e formação contínua dos seus recursos humanos, no que diz respeito à utilização segura de equipamentos e infraestruturas, bem como em relação aos comportamentos e atitudes no contexto digital, em especial quando confrontados com situações que possam representar uma ameaça ou um risco para a organização. Também devem criar as bases necessárias para incluir instrumentos de avaliação de risco de cibersegurança nos seus processos de transição digital e, finalmente, devem adotar as melhores práticas nacionais e internacionais nesta matéria, também do ponto de vista tecnológico.

De uma maneira geral, por aquilo que conhece do tecido empresarial do país, a ideia que tem é que as empresas estão bem preparadas e valorizam esta questão? O nosso tecido económico é composto maioritariamente por pequenas e médias empresas (PME). Se falarmos de preocupação para o tema, praticamente todas o têm. Com regularidade, os órgãos de comunicação social dão ênfase aos temas da ciberintrusão, empresas que têm grandes dificuldades financeiras por causa de ciberataques ou que foram alvo de esquemas de extorsão (como o ransomware). Por isso, a noção do risco online e da cibersegurança está cada vez mais presente no nosso quotidiano e, consequentemente, nas empresas. O primeiro passo que as empresas devem dar no sentido de estarem melhor protegidas no ciberespaço é considerarem a cibersegurança, não como um custo, mas sim como um investimento no seu futuro e, por outro lado, não partirem do princípio de que “só acontece aos outros”. Para isso, o CNCS desenvolveu, por exemplo, um Roteiro para as Capacidades Mínimas em Cibersegurança, o qual apresenta um conjunto de ações que se dividem em cinco fases, sendo que estas foram pensadas para uma adaptação gradual, a implementar em cada organização, quer seja por meios próprios internos, ou mesmo recorrendo a subcontratação ou externalização de soluções. É ainda de referir que este conjunto de atividades, enquadradas no âmbito


do Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança, constitui a composição de uma capacidade mínima em cibersegurança, fornecendo assim às organizações visadas os instrumentos necessários para que estas possam fazer face às ameaças e perigos do Mundo Digital.

AUMENTAR A SEGURANÇA Para as empresas que estejam muito preocupadas e desejem acautelar bem as situações, há algum sistema que seja 100% seguro?

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Não há sistemas perfeitos. Tal como acontece no “mundo físico”, a

PANDEMIA POTENCIA ATAQUES Nestes tempos de pandemia, com o incremento enorme do uso de sistemas de comunicação online, houve algum acréscimo de situações problemáticas que tenham sido reportadas ao Centro Nacional de Cibersegurança? Antes de mais, importa realçar que os contextos de crise são, tradicionalmente, explorados por atores hostis do ciberespaço para sustentarem as suas campanhas de ciberataques no alarmismo social e na atenção mediática global sobre o tema. Neste sentido, a atual pandemia associada à propagação da Covid-19 não tem sido exceção, tendo este contexto sido selecionado por um número elevado de agentes de ciberameaças como oportunidade para as suas campanhas de ciberataques.

capacidade humana tanto é capaz de desenvolver e inovar, como de tirar proveito das novas tecnologias para práticas ilícitas e criminais. Uma empresa que pretenda melhorar a sua cibersegurança deve pensar em três linhas de ação: (1) apostar na sensibilização e formação dos seus colaboradores; (2) centrar a cibersegurança fora do IT (informática) numa lógica de risco de negócio; e (3) adotar um referencial normativo (eg.: Quadro Nacional de Referência em Cibersegurança) e conduzir análises de risco periódicas. Do ponto de vista do utilizador, é sempre possível melhorar a segurança. Por exemplo, tendo passwords fortes, uma diferente por cada plataforma e alterada frequentemente; mantendo o software atualizado; não clicando em links ou anexos suspeitos em emails ou SMS; não partilhando informação pessoal ou sensível nas redes sociais; entre outros aspetos. Quando falamos em plataformas de

Entre os ciberataques observados desde o início de fevereiro de 2020 e associados ao tema Covid-19, destacam-se as plataformas de videoconferência, e neste sentido, foram reportadas ao CNCS/CERT.PT algumas situações que se traduziram na exploração de vulnerabilidades dessas mesmas plataformas, tendo em conta o contexto em questão. No que diz respeito às tipologias de incidentes que o CNCS teve conhecimento, realçam-se as campanhas de phishing (que aproveitaram a oportunidade da pandemia como contexto). Neste sentido, denota-se um predomínio destas campanhas a entidades bancárias, mas também a empresas de serviços de streaming, ao sector dos transportes de entregas, entre outros. Ainda neste âmbito, destacam-se as campanhas de smishing, onde se percecionou um incremento de incidentes neste contexto. Também assistimos à divulgação de plataformas digitais ou de aplicações para dispositivos móveis que aparentam divulgar informação em real time sobre a pandemia (e.g. mapas dinâmicos de contágio) mas que procuravam, na realidade, a infeção de equipamentos com malware, inclusive da tipologia ransomware. E por último, salientar ainda os esquemas de fraude digital partilhados por email ou através de redes sociais, que divulgam iniciativas de crowdsourcing para a recolha de donativos para falsas campanhas de compra de material médico ou de proteção pessoal. Houve, durante a pandemia, recomendações especiais no uso do online? Sim, o CNCS desenvolveu várias campanhas, divulgadas nas nossas plataformas (site e redes sociais), precisamente com o objetivo de alertar para as recomendações necessárias tendo em conta o contexto da Covid 19, bem como os perigos iminentes durante esta fase em que o teletrabalho se tornou uma prática adotada, e por conseguinte, denota-se uma maior exposição online dos colaboradores e das empresas. Paralelamente, é aconselhável extrema prudência no acesso, na receção e na partilha de conteúdos digitais associados à temática da pandemia de Covid-19, devendo dar-se prioridade a fontes oficiais e com reputação de informação. Desta forma, para quem procura informações sobre a Covid-19 e pretende manter-se atualizado sobre o tema, é recomendável que consulte informação em sites de fontes credíveis, como a Direção-Geral de Saúde e a Organização Mundial de Saúde.

videoconferência, do ponto de vista da usabilidade são bastante práticas, no entanto, podem apresentar vulnerabilidades, como qualquer peça de software. Devemos escolher aquelas que permitam a configuração de mecanismos de segurança: as que disponibilizam o uso de uma palavra-passe única e de uma autenticação para entrar numa reunião e não apenas um link; as que fornecem a opção de desfocar o fundo do enquadramento; ou as que permitam impedir a gravação da reunião por parte dos participantes. Que conselhos podem dar aos empresários para tornar mais eficaz a sua aposta em soluções de defesa contra o cibercrime? Para responder aos desafios ligados à cibersegurança, o CNCS tem vindo a publicar um conjunto de referenciais para orientar as nossas organizações na sua ação. Neste contexto, é de destacar o Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança, que permite às organizações reduzir o risco associado às ameaças no ciberespaço, disponibilizando as bases para o cumprimento de requisitos de segurança das redes e sistemas de informação. E ainda o Quadro de Avaliação de Capacidades de Cibersegurança, que apresenta para cada uma das medidas de cibersegurança inscritas no QNRCS, a definição de três níveis de maturidade (Inicial, Intermédio e Avançado), para que as organizações consigam cumprir os cinco objetivos de cibersegurança: (1) identificar, (2) proteger, (3) detetar, (4) responder e (5) recuperar. Em matéria de oferta formativa, focada nos comportamentos e atitudes de recursos humanos, paralelamente àquela disponível no mercado, o CNCS também disponibiliza às empresas o Programa de Sensibilização e Treino com recursos formativos dirigidos aos seus colaboradores e ainda os MOOCs (Cursos Abertos Massivos Online) ‘Cidadão Ciberseguro’ e ‘Cidadão Ciberinformado’.

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PREVENÇÃO: A ÚNICA SOLUÇÃO NA LUTA CONTRA ATAQUES INFORMÁTICOS

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É uma realidade que, atualmente, os ciberataques rendem mais, a nível mundial, do que o tráfico de estupefacientes. E, na maior parte dos casos, os responsáveis por esta criminalidade não chegam, sequer, a ser apanhados pelas autoridades. É natural, por isso, que este tipo de crimes cresça a cada dia. As empresas são, na maioria dos casos, os alvos preferenciais dos atacantes que procuram transformar o roubo de dados em dinheiro fácil. A digitalização, imprescindível à evolução da indústria, acarreta riscos e exige segurança. Contra este tipo de crime, que é cada vez mais organizado, não há soluções milagrosas: a prevenção é a única arma. Os especialistas aconselham a que cada empresa se rodeie de técnicos qualificados nesta matéria e que aposte em proteções. É importante fazer auditorias que permitem, com clareza, perceber as fragilidades. Mas o fundamental é manter um sistema de vigilância constante e que assegure formação e consciencialização adequadas, não apenas aos colaboradores, mas, e sobretudo, a quem gere as organizações. É que ‘depois de casa roubada’, muito pouco acabam por fazer ‘as trancas nas portas’. Em janeiro de 2019, a empresa Geocam passou por uma experiência que podia, perfeitamente, servir de guião a um filme de Hollywood. Ao chegarem aos locais de trabalho, os funcionários deparam-se com os computadores bloqueados, todas as máquinas paradas e uma mensagem nos monitores dando nota de que a empresa havia sido alvo de ataque. Os programas e ficheiros tinham sido bloqueados e era pedido um resgate, de várias bitcoins. Eugénio Santos recorda essa experiência como um dos grandes pesadelos que diz ter tido na vida. Foram necessários muitos dias,

semanas e até meses para recuperar a maioria do que se perdeu com essa intrusão. A Geocam foi mantendo uma “postura de negociação com os piratas quando, na verdade, ia procurando recuperar alguma informação”, relata. Muito acabou por se perder. Contudo, com esta aterradora experiência, a empresa “aprendeu muito”, sublinha. “Pensávamos que as nossas proteções eram suficientes, mas comprovamos, da pior forma, que não”, adianta. Um dos pormenores para o qual chama a atenção é um “pequeno erro” que, de uma maneira geral, todos cometemos: deixar os computadores ligados quando não estão a ser usados. No caso da Geocam, salienta, “fez toda a diferença porque foram os que estavam desligados que nos permitiram salvar alguma informação”. Nos restantes, os atacantes tinham bloqueado todo o tipo de acessos.

EQUIPA INFORMÁTICA Desde há muito que a empresa tem o suporte informático dividido por mais do que um fornecedor. Pouco depois de detetado o ataque, toda essa equipa se reuniu e procurou encontrar formas de salvar os dados da empresa. Os criminosos tinham conseguido, até, formatar o sistema de cópias de segurança. A equipa dividiu tarefas e conseguiu salvar uma parte da informação. A partir daí, todo o sistema de proteção foi repensado. Neste aspeto, refere Eugénio Santos, teve um peso muito importante uma auditoria realizada por uma empresa especializada e que elencou as principais fragilidades. Ao mesmo tempo, lembra ainda, foi contactada a Polícia Judiciária, entidades como Segurança Social e Autoridade Tributária e até outras empresas, dando conta do ataque para que se precavessem. “Perdemos muita coisa, na verdade, mas fomos conseguindo recuperar o mais importante, de forma a conseguirmos voltar a trabalhar e assegurar todos os nossos compromissos”, conta. Mais tarde, os clientes foram informados, não apenas do ataque, mas, e sobretudo, das medidas que a empresa tomou para se tornar ainda mais segura. E desde então muita coisa mudou. Desde logo, a colocação de várias restrições aos acessos online dos colaboradores e uma aposta mais forte na sua formação sobre estas questões. Uma outra mudança, conta, são as cópias de segurança da empresa que são, hoje, feitas de forma mais cautelosa. “O caricato é que nós tínhamos investido muito, há relativamente pouco tempo, em hardware e software para nossa segurança. Mas aprendemos que não basta ter esse material à nossa disposição. É preciso estar alerta para todas as configurações que são necessárias”, explica Eugénio Santos.

// Eugénio Santos - Geocam


Por isso, salienta, “continuamos, todos os dias, a afinar processos e não podemos parar nunca”. Na sua opinião, se uma empresa não aposta na sua cibersegurança “está a trabalhar correndo um grande risco”. Por isso, aconselha cada organização a considerar “um acompanhamento constante, seja externo ou interno, para cuidar do seu parque informático”. “Esta é uma situação que não acontece apenas aos outros. Temos de procurar proteger-nos, mesmo sabendo que não há sistemas 100% seguros”, adverte, adiantando que “criar formas de dificultar o acesso, sobretudo através da alteração de comportamentos menos seguros no ciberespaço, é a única opção”.

CADMOLD: ATUALIZAÇÃO E ATENÇÃO PERMANENTES Desde há muito tempo que a Cadmold lida com os seus clientes de forma remota. O recurso à internet é uma prática habitual. Por isso, é também com “muita atenção” que a empresa olha para as questões relacionadas com a cibersegurança. Leonel Calças conta que “lidamos com ficheiros pesados, temos os computadores todos ligados à rede externa e isso obrigou-nos, já há muitos anos, a ter licenças anti-vírus que estamos, constantemente, a atualizar”. Até hoje, sublinha, “não tivemos nenhum problema”. Para assegurar a manutenção e vigilância do sistema, a empresa escolheu um fornecedor externo e qualificado. “Ele está sempre atento a estas questões dos ciberataques, vai-nos avisando das necessidades de mudança e assegura-nos sempre as soluções mais atualizadas”, conta. É por isso que, desde há bastante tempo, uma das prioridades é dada aos backups, que têm várias proteções internas e externas. “O objetivo é que, se formos atacados de um lado, podemos sempre ir buscar a informação a outro”, explica. E essa informação está guardada em vários locais, até fora da rede. “Com estas medidas sentimo-nos minimamente seguros”, afirma, sublinhando que “todos sabemos que não há sistemas que nos protejam a 100%”. E dá um exemplo: “se os criminosos conseguem entrar nos bancos, em organismos do Estado e nas grandes empresas, que têm sistemas de segurança de topo, é impossível que não consigam entrar numa das nossas empresas que têm uma dimensão tão pequena. No nosso caso, são dez pessoas”. “Fazemos o que temos ao nosso alcance para seguros. Mas ninguém está”, salienta.

// Cadmold

SENHAS A proteção, acrescenta, representa “um investimento que não diria volumoso, mas que é constante”. Isto porque, lembra, “estão sempre a aparecer coisas novas: quer do lado dos maus, quer do que nos protegem”. Por isso, “é preciso ter uma atenção quase diária e estar sempre atento”. Os cuidados são extensivos a cada colaborador da empresa. Uma das preocupações é a utilização dos emails. “Os colaboradores estão alertados para isso e têm cuidado”, considera. Para Leonel Calças, o sistema de proteção pode ainda ser melhorado, sobretudo no que diz respeito à comunicação com os clientes. “Podemos, por exemplo, vir a aplicar o que já faz a banca, que são as senhas de validação. Se cada cliente tiver uma senha de validação e nós também, a comunicação torna-se muito mais segura”, defende. Por enquanto, ainda não introduziram esse procedimento até porque, sublinha, “com a quantidade de informação que temos de trocar por dia com vários clientes, a introdução de senhas tornaria essa comunicação mais lenta”. Contudo, admite que nos casos dos emails com anexos, essa proteção faria sentido e pode ser, até, uma solução a ser estudada. “Teria de ser segura, fácil e acontecer, naturalmente, com a concordância dos nossos clientes”, remata.

VSV MOLDES: “PERMANENTEMENTE ATENTOS E ATUALIZADOS” “Se a pandemia de Covid-19 nos mostrou algo, é a nossa dependência das tecnologias. É uma coisa positiva porque nos ajuda a ser melhores, mas que traz consigo alguns riscos”. Alberto Vinagre, da VSV, sintetiza desta forma a importância que a empresa dá à questão da cibersegurança. “Temos de estar permanentemente atentos e atualizados nas proteções contra os intrusos”, sublinha. E foi precisamente a atenção redobrada que, no início deste ano, fez o empresário perceber que algo de anormal se passava na conta bancária da empresa. Detetou movimentos anormais. Mais precisamente “um ataque em pequena escala no nosso sistema bancário”, explica. Na prática, alguém – viria a perceber mais tarde que se tratava de uma empresa fictícia com sede na Irlanda – entrara na conta e estava a retirar quantias pouco avultadas de dinheiro. “Quando nos apercebemos, tinham já conseguido fazer vinte levantamentos, num curto espaço de tempo”, explica.

// Alberto Vinagre - VSV

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A falha, salienta, foi, neste caso, na própria entidade bancária. O que leva o responsável a concluir que “se até essas entidades, que estão mais protegidas, são atacadas, quem é que se pode sentir seguro”. Por isso, explica, a VSV vai-se munindo das ferramentas que considera serem as melhores para se proteger. “Dentro daquilo que sabemos e que podemos fazer, temos segurança”, diz, adiantando que, no entanto, “sabemos que essas pessoas (hackers) andam sempre mais à frente, procuram qualquer descuido. E esse, infelizmente, pode acontecer em qualquer momento”.

CRIAR DIFICULDADES E se o caminho não permite atingir uma proteção a 100% pode, pelo menos, aumentar a dificuldade de acesso aos intrusos. A VSV depositou, numa entidade externa e especializada, o cuidado com as questões informáticas da empresa, entre as quais, a cibersegurança. “Temos a máxima confiança no trabalho deles e vamos acatando as suas recomendações: temos as coisas muito divididas por vários servidores e backups em vários locais, para além de outras questões”, conta. Mas, adianta logo de seguida que “isso não nos dá garantia de segurança plena”. O objetivo é, portanto, “dificultar a vida a esses piratas”. E se com isso ganham tranquilidade, salienta, o valor que destinam a essa proteção “não é um gasto, é um investimento, do qual certamente temos o retorno”. E esse mede-se, para já, na não existência de problemas. “Não sabemos, na verdade, quantas vezes tentaram entrar e não conseguiram. À partida, encontraram as barreiras que temos. Ora, se não tivéssemos nenhumas, eles certamente entravam”, adianta. Foi a partir do relato de casos de ataques a outras empresas que incrementaram os cuidados que hoje têm e que vão aumentando a cada dia que passa. Até porque, sustenta, esta será também uma questão que preocupa os clientes da empresa. “Sem abordarmos a questão, sabemos que a segurança informática é algo que preocupa os nossos clientes. Se não tivermos sistemas seguros, isso pode por em risco todo o nosso trabalho e relação com eles”, defende. Para Alberto Vinagre, mesmo com acesso dificultado e as melhores proteções, “quem quer entrar nas empresas, entra”. Por isso, conclui, “é preciso é ter a sorte de não sermos os escolhidos para um ataque”.

EROFIO: DE OLHO NAS FRAGILIDADES A TEMPO DE AS CONSERTAR “Todas as empresas têm vulnerabilidades. Temos de ter isso sempre presente. E temos de ter consciência, também, de que nem sempre conseguimos chegar a elas a tempo de as corrigir”. O alerta é de Miguel Neves, security manager do grupo Erofio, para quem o que é essencial “é ir tentando, sempre, encontrar essas fragilidades e corrigi-las”. Miguel Neves fala com conhecimento de causa, contando que a empresa foi atacada em 2016. A produção parou. “150 utilizadores ficaram parados e não podiam trabalhar”, recorda, adiantando que ao final do dia do ataque “já tínhamos conseguido por tudo a funcionar porque conseguimos travar o ataque”. No entanto, os cibercriminosos deixaram sequelas e, relata, “15 dias depois, ainda estávamos a trabalhar nisso e a tentar salvar informação, por um lado, e aumentar a segurança por outro”. A experiência foi de tal forma traumatizante que levou a empresa a repensar toda a questão da segurança informática.

// Miguel Neves - Erofio

Muitos passos foram dados e muita coisa mudou. Hoje, a Erofio está a trabalhar para obter a certificação pela norma 27001 (respeitante ao sistema de gestão de segurança da informação). Para se obter este certificado, é preciso, antes de mais, proceder a uma auditoria exaustiva que permita perceber as fragilidades. Uma vez encontradas, é possível implementar medidas para melhorar a proteção. Estas medidas, salienta, serão úteis também para normalizar o regulamento relativo à Proteção de Dados. Estas ações que, sustenta o responsável, têm vindo a ser colocadas em prática de forma gradual para “não dificultar o trabalho aos colaboradores”. Passam, no essencial, por um maior controlo de acesso físico aos dados, passwords fortes, entre outras. “A sensibilização dos colaboradores é fundamental (uma parte considerável dos ataques chega às empresas através de falhas deles). Por isso, têm de entender as medidas e a sua implementação. Só depois as soluções de segurança surtem efeito”, defende.

CONFIANÇA DOS CLIENTES “Não há soluções perfeitas”, adverte, considerando que o essencial é dificultar o acesso dos criminosos às empresas. “Se não asseguramos isto, estamos a colocar em causa a continuidade do negócio”, alerta, defendendo que as medidas, sejam elas quais forem, têm de ser pensadas e colocadas em prática numa lógica de controlo permanente. Exemplifica: “o que acontece a uma empresa se perde dados relativos, por exemplo à confidencialidade dos projetos? Uma fuga de informação é algo mau para a imagem da empresa, mas tem, sobretudo, consequências financeiras”. Para Miguel Neves, atualmente não faltam opções no mercado. Há muitos fornecedores e soluções. Cada empresa deve procurar selecionar o que mais lhe convém, à medida da sua realidade. Uma questão que, no seu entender, as empresas devem ter sempre presente é a necessidade de assegurar backups online, mas também offline. “Os dois são válidos e necessários”, adverte.


HIGHLIGHT / Todas as medidas que venham a ser tomadas terão, desde logo, e no seu entender, uma consequência muito positiva: “os clientes sentemse mais seguros quando percebem que esta é uma questão que preocupa o seu fornecedor e que este está bem preparado e sempre atento”.

MD GROUP: REFORÇO DA INTERVENÇÃO NA ÁREA DA CIBERSEGURANÇA A proliferação de casos de ciberataques, sobretudo o aumento da quantidade de ‘ransomware’ (ataques a empresas com pedido de resgate), causou alguma apreensão acrescida no grupo MD. De tal forma que a organização, que há muito se preocupava com a questão da cibersegurança, decidiu ampliar a intervenção da sua equipa técnica para as áreas da prevenção e análise das questões do ciberespaço. Hoje, conta Pedro Jorge (IT Manager), “o grupo MD possui elementos da empresa que se dedicam à ciberproteção, dentro da nossa escala”. A medida surgiu também como resposta a uma evidência que caracteriza os nossos dias: os sistemas informáticos evoluem a uma velocidade enorme e, como tal “nenhum sistema pode ser considerado seguro se não acompanhar essa evolução”. Pedro Jorge enfatiza que, “da mesma forma que vão surgindo soluções de segurança mais robustas, também vão surgindo cada vez mais ferramentas e mecanismos que contornam essa mesma segurança”. A solução é, portanto, estar atento e dotar as organizações de sistemas de proteção capazes de dar a melhor resposta possível. “Existem inúmeras soluções de mercado para todos os tipos de carteira”, esclarece, sublinhando que “as mais comuns são as ‘firewalls’ de última geração que protegem o perímetro da nossa rede interna. Estas podem existir em diferentes níveis de segurança e conter diferentes layers de proteção, tais como, por exemplo, bloqueios de acesso a serviços e deteção de intrusão (IPS), entre outros”. Mas esta solução deve ser acompanhada por outras medidas. “Temos as soluções de antivírus que também podem atuar em várias layers de proteção tais como vírus, malware, ransomware, etc”, salienta. Contudo, no entender deste responsável, o “papel vital de segurança” de uma empresa é garantido, em grande medida, pelos seus sistemas de backup. É que são estes que “garantem a reposição (dos dados) em caso de falha (no sistema)”, frisa Pedro Jorge. “A regra de ouro nos backups é denominada de 3-2-1, ou seja, pelo menos 3 cópias em 2 tipos diferentes de arquivo, sendo que uma das cópias esteja numa localização remota”, adianta.


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No seu conjunto, salienta, “talvez estas sejam as três componentes mais caras de um sistema de segurança”. Para além delas, “temos muitas outras soluções que complementam este sistema e muitas delas são meras definições de políticas de sistema, tais como a utilização de passwords fortes, bloqueio de acessos a serviços potencialmente perigosos, manter os sistemas com as últimas atualizações instaladas, etc”.

SEGURANÇA COMO UM TODO Para Pedro Jorge, a melhor abordagem à questão da cibersegurança é “ver sempre a segurança como um todo”, sublinhando que “embora possamos ter software ou hardware de fornecedores diferentes, eles têm de encaixar no mesmo ‘puzzle’, independentemente se estamos a proteger conteúdos na ‘cloud’ ou localmente”.

Por outro lado, defende ainda que “as empresas terão que entender as soluções de segurança como algo contínuo, que vai ficando ultrapassado e que terá que ser renovado acompanhando a evolução dos tempos”. E deixa um exemplo final: “basta comparar as ‘firewalls’ de hoje em dia com as que existiam há alguns anos, para vermos uma evolução enorme em tão pouco tempo”.

PORTUGAL E O CIBERCRIME Os crimes informáticos cresceram, em Portugal, 42,7% entre 2018 e 2019. Os dados são do Centro Nacional de Cibersegurança que revela ainda que, no mesmo período, se registaram mais 21% de denúncias.

E nesta matéria, salienta que um passo fundamental é “escolher um parceiro de confiança e com experiência no sector”. Desta forma, constituirá uma resposta mais eficaz e ajudará a “identificar as necessidades da empresa e o melhor enquadramento de segurança possível, desenhando uma solução que abranja toda a infraestrutura de informática”.

Já entre 2019 e 2020, segundo a mesma fonte, houve uma duplicação de incidentes relacionados com o cibercrime no primeiro semestre (algo que também se verificou a nível internacional). A tendência de crescimento tem sido uma constante na última década. Entre os anos de 2009 e 2018, subiu a percentagem deste tipo de crimes: no nosso país, representava 0,6% em 2009 e passou para 3,4% em 2018.

É certo, admite, que muito já foi feito no que diz respeito à cibersegurança e que, no mercado, existem muitas opções. Contudo, considera que “existe ainda muito a fazer”. Sobretudo “ao nível da formação e divulgação junto do meio empresarial (principalmente das pequenas e médias empresas) e dos próprios cidadãos”. É que, frisa, “ter utilizadores formados e informados acerca da cibersegurança é um enorme passo”.

Por outro lado, a média de portugueses informados sobre estes crimes é muito menor do que no total dos países da União Europeia (EU). Em 2019, os estudos apontavam que na União Europeia, a média de pessoas informadas era de 11%, enquanto em Portugal, o número era de 2%. Portugal é também o país da EU onde as pessoas menos alteram as passwords do ano anterior. No nosso país, a média é de 48%, enquanto na EU é de 31%.



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FORNECEDORES GARANTEM SEGURANÇA DAS SOLUÇÕES DISPONIBILIZADAS

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Helena Silva * * Revista Molde

É uma dupla preocupação. Por um lado, têm de garantir a segurança das soluções que fornecem ao mercado e que são, muitas vezes, softwares ou equipamentos informáticos. Por outro, têm de zelar, ‘em casa’, pela proteção dos seus equipamentos e sistemas de trabalho. Os fornecedores da indústria de moldes partilham a preocupação que é, no seu dia a dia, a questão da cibersegurança. Desde formação intensiva aos utilizadores a sistemas intrincados de segurança, há todo um trabalho que é necessário criar para dificultar o sucesso de ataques online. A formação dos utilizadores é um elemento imprescindível quando se pensa em garantir a segurança dos sistemas informáticos contra os ataques cibernéticos. É que “os colaboradores continuam a ser o elo mais fácil de quebrar para granjear o acesso a partir do interior das empresas”. O alerta é de Francisco Coelho, da empresa S3D, para quem é necessário, também assegurar que os produtos que são comercializados (ou adquiridos) estão “atualizados”. A empresa, como as outras que participam nesta reportagem, não é especializada em soluções de cibersegurança. Mas tem de garantir que os produtos que coloca no mercado são seguros. Por isso, a cibersegurança, garante, é uma questão à qual a sua organização dá “muita importância”. “Tentamos que todos os colaboradores e utilizadores tenham consciência dos perigos e prejuízos inerentes à perda de dados, divulgação indevida ou quebra de serviços”, adianta. Francisco Coelho revela ainda que as investidas de ataque “acontecem diariamente, seja por tentativas de ligação a serviços disponibilizados na Internet, seja através de ataques dirigidos aos colaboradores, por email ou SMS”, sublinhando que “os ataques de ‘força bruta’ normalmente são automaticamente debelados (tempos de espera ou bloqueios)”, enquanto “os ataques por email, ou instalação de aplicações não confiáveis, são minimizados com a formação e consciencialização dos colaboradores”.

A atenção que a S3D tem com estas questões, procura passá-la aos seus clientes, aos quais faz, com regularidade, vários alertas. “Manter os sistemas atualizados (sistema operativo, aplicações, anti-vírus, etc.), fazer salvaguarda(s) dos dados, não instalar programas desconhecidos ou que muitas vezes trazem ‘extras’ para os financiar (podem, por exemplo, instalar ‘add ons’ nos ‘browsers’ para garantir que aparecem determinadas publicidades, mas também podem fazer muito pior do que isso...)”, refere, como exemplo, sublinhando ser necessário “informar ou relembrar, periodicamente, os utilizadores dos cuidados que devem ter ao abrir os e-mails (ou ao instalar programas, se tiverem permissões)”. Destaca ainda a importância de fazer com que os colaboradores se sintam confortáveis para, em caso de dúvida sobre alguma questão relacionada com o ciberespaço, “pedir uma segunda opinião e isolar os casos suspeitos”. Dessa forma, frisa, é possível “tentar impedir a propagação enquanto não forem devidamente verificados”. Um outro conselho que Francisco Coelho deixa é que as empresas “limitem o acesso de cada utilizador ou grupo” para o que é estritamente necessário no âmbito da sua função.

DESATENÇÃO Apesar de considerar que “cada vez menos” há empresas a descurar esta questão, adianta, contudo, que há “ainda mais do que seria de esperar”. E dá conta que algumas empresas “ainda consideram que o tempo e o dinheiro despendidos na manutenção do parque informático, arquitetura da rede e sistemas de segurança não são prioritários”. E há, até, as que acreditam que “os contratos de manutenção e atualizações de software são dinheiro perdido”. Em alguns dos casos, salienta, estas empresas “não têm ninguém responsável pela informática ou então é alguém que faz isso nos tempos livres”. Ora, o resultado desta ‘desatenção’ é que “resulta, normalmente, em situações em que a segurança é baseada no princípio de não ter acesso a nada, que não é suficiente, ou em simplesmente ter acesso a tudo”. Este tipo de atitude, adverte “retira agilidade ao trabalho e a todo o tipo de comunicação o que, muitas vezes, inviabiliza a prestação de assistência em tempo útil”. O resultado é que as coisas acabam por correr mal e, por exemplo, “um simples vírus faz perder o trabalho de uma semana ou um mês, além do tempo e custo de reparação dos sistemas afetados”.

// Francisco Coelho - S3D

Francisco Coelho afirma ainda que, pela experiência da S3D, “as empresas mais saudáveis e bem posicionadas do mercado, mantêm as atualizações e manutenções em dia, e têm departamentos de manutenção e segurança informática para assistir, desenvolver e melhorar a produtividade de cada um dos restantes departamentos”. “É esta filosofia de inovação permanente e melhoria constante que lhes permite manter a sua posição de vanguarda”, conclui.


TEBIS: SEGURANÇA FECHADA A CHAVES Enquanto marca conceituada de soluções informáticas de processos industriais de CAD, CAM e MES, a TEBIS “tem bem patente nos produtos que comercializa a preocupação com a segurança, não só do software, mas também das bases de dados utilizadas no software”, afiança Pedro Bernardo, gerente da empresa em Portugal. Neste pressuposto, a TEBIS “assegura a proteção do software disponibilizando-o ao cliente através de uma chave física de segurança”. Na prática, o produto só está operacional “após leitura do ficheiro de licença (que está na posse da empresa)”.

// Pedro Bernardo - Tebis

A cibersegurança é uma questão que preocupa este fornecedor de soluções à indústria e, com este procedimento, a TEBIS acredita estar a zelar pela segurança do que ‘entra’ em casa dos seus clientes. Pedro Bernardo adianta ainda que no que se refere às Base de Dados de produção, como sejam ferramentas digitalizadas, máquinas virtuais e pós processadores ou sequências de produção normalizadas, “o cliente tem a possibilidade de os licenciar; ou seja, de garantir que não podem ser utilizados por terceiros, prevenindo-se a fuga ou o acesso externo a dados de produção da empresa”. No caso da sua empresa, salienta, a garantia de segurança dos dados é feita através da subcontratação de uma firma especializada. “Os dados são guardados em backups redundantes, através de vários servidores e suportes físicos independentes. Os backups são encriptados e os servidores estão localizados em várias áreas geográficas”, explica, adiantando que, no caso dos colaboradores, o acesso aos dados da empresa “é restrito, por níveis de acesso, e controlado por meio de password”. A TEBIS recorre ainda “a sistema de ‘cloud’ fornecidos por líderes de mercado que, por si só, já garantem a conformidade com as mais recentes tecnologias de segurança”, conta, frisando que “nesta área, podemos ainda destacar o facto de termos uma rede de WiFi exclusiva para pessoas externas, oferecendo Internet sem o acesso à rede interna da empresa”. Estes são os principais procedimentos de segurança que a empresa tem e que, em relação ao ciberespaço, deixam Pedro Bernardo mais descansado. Até à data, refere, “não temos conhecimento de qualquer ataque ou tentativas de ataque ao nosso sistema”. Salienta até “desconhecemos que existam versões ilegais das nossas soluções, também pelas medidas e procedimentos de segurança definidas pela equipa alemã que desenvolve o software”.

ATUALIZAÇÕES CONSTANTES Para garantir a segurança do software e das bases de dados de produção que a TEBIS fornece, “é crucial que os clientes mantenham o software atualizado”, adverte, lembrando que “o nosso software está em constante desenvolvimento, não só para responder e antever necessidades dos clientes, mas também para salvaguardar a sua proteção, a par dos desenvolvimentos tecnológicos na área da segurança”.

Destaca também ser “igualmente importante que as empresas invistam na formação contínua dos seus quadros técnicos, para garantir que as medidas de segurança sejam implementadas”. No dia-a-dia das empresas com as quais contacta, admite haver ainda casos de algumas que descuram muitas destas questões, como a importância de manter o software atualizado. “Tal representa um menor nível de segurança do software e da informação de produção utilizada na empresa, ou seja, do seu know-how”, adverte.

OPEN MIND: PROTEÇÃO CODIFICADA É DESENVOLVIDA INTERNAMENTE A cibersegurança é uma questão fulcral para a OPEN MIND. O melhor exemplo é a prática diária e, por isso, Marco Mendes faz referência às soluções que disponibiliza à indústria para ilustrar isso mesmo. “Todas as nossas versões do ‘hyperMILL’ lançadas no mercado são previamente testadas em diversos sistemas, de forma a ser o mais compatível e seguro com o que existe”, afirma, sublinhando que “o código base que suporta o nosso software é completamente desenvolvido internamente por nós, de forma a ser o mais seguro possível contra possíveis ataques que os nossos clientes possam sofrer”. Explica ainda que as licenças de software “têm dois níveis de segurança, sendo o primeiro através de uma ‘wibu’ local e o segundo através de um código emitido diretamente do nosso servidor, centralizado na OPEN MIND HQ, em Munique”. Mas não se fica por aqui. “Como último e não menos importante, todos os dados digitais instalados no cliente (software, drivers, base de dados …) são facilmente reinstaláveis sem perda de informação”, adianta. Marco Mendes reforça que a cibersegurança é, de facto, uma preocupação grande, uma vez que, lembra, o desenvolvimento de qualquer dos produtos que comercializam “envolve muitas horas de trabalho e investimento financeiro” e “qualquer perda de informação prejudica em muito a nossa produtividade e a dos nossos clientes”.

// Marco Mendes - Open Mind

FORA DA REDE Apesar da quantidade de ferramentas que permitem a segurança contra possíveis ataques, Marco Mendes deixa como conselho às empresas que dependem de sistemas informáticos para a sua produção diária, “que devem apostar numa rede interna dedicada à produção, completamente desconectada do acesso exterior”. A sua experiência no mercado leva-o a concluir que, nos últimos anos, “tem existido muito mais preocupação das empresas” em relação a esta questão, “quer a nível de investimento interno ou subcontratação de empresas especializadas”. Contudo, adverte que o que constata estar ainda em falta é alguma sensibilização e formação dos utilizadores. Conclui que, por vezes, são os utilizadores que, por desconhecimento, e com acesso para além do que necessitam, “abrem a porta a possíveis ataques externos” cujas consequências acabam por ser enormes para as organizações.

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WEBINAR: DESAFIOS E BOAS PRÁTICAS NA CIBERSEGURANÇA

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“A SEGURANÇA É UM PILAR DE PRODUTIVIDADE DAS EMPRESAS” Sensibilizar as empresas para os cuidados a ter no seu dia-a-dia, de forma a diminuir os riscos de ciberataques, foi o objetivo do webinar ‘Cibersegurança: Desafios e Boas Práticas’ que, organizado pela CEFAMOL no âmbito do projeto TECH-i9, decorreu no passado dia 24 de setembro. Juntou como oradores Carlos Rabadão, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Politécnico de Leiria, e Miguel Soares, da inCentea. Ambos defenderam a importância de preparar da melhor forma as pessoas das organizações sobre os procedimentos mais corretos de utilização do ciberespaço. Foram ainda unânimes em considerar que, no que toca a implementar medidas que aumentem a cibersegurança, as decisões têm de partir do topo de cada organização. E advertiram para a importância desta questão, enfatizando que “a segurança é um pilar da produtividade das empresas”. Num momento em que a “Indústria 4.0” é já uma realidade para a generalidade das empresas, Carlos Rabadão começou por salientar que “esta era marcada pelas tecnologias traz enormes desafios para as

organizações”. Explicando a forma como as Tecnologias de Informação (IT) convergiram com a Tecnologia Operacional (OT), alterando substancialmente a comunicação nas empresas, sobretudo a forma como as máquinas são comandadas no chão de fábrica, o professor sublinhou que esta alteração alargou exponencialmente a importância da cibersegurança nas organizações. “Hoje tudo está ligado, o que aumenta os desafios da segurança nas empresas”, considerou. E ressalvou que é preciso ter em conta que, ao dar o passo para a Internet das Coisas (IOT), existem vulnerabilidades. “A tecnologia é insegura”, salientou, lembrando que nem sempre se opta por sistemas de defesa fortes ou que, em muitos casos, não há sequer atualizações desses sistemas. Com isto, prosseguiu, surgem as ameaças. E tendo os sistemas todos ligados, basta que o IT seja atacado para que uma empresa seja parada por ataques informáticos. “Temos de estar conscientes das vulnerabilidades”, advertiu, sublinhando que uma das questões é que “existe uma deficiente análise e mitigação das vulnerabilidades”. Para alterar isto, defendeu, “é necessário fazer uma análise estratégica da avaliação dos riscos”.


Sem este passo, é possível encontrar nas empresas as mais variadas vulnerabilidades. “As empresas têm má preparação e não dão a atenção devida às ameaças informáticas”, defendeu, apresentando um estudo realizado pelo Centro de Estudos para Resposta e Tratamento de Incidentes em Computadores (CERT), dando conta de que 26,7% das ameaças de IT acontecem em ambiente industrial. “É importante tomar medidas até porque há informação sensível (nas empresas) e um ataque pode levar a perder negócios ou mesmo a ações em tribunal”, alertou, frisando que “o roubo desses ‘segredos’ pode pôr em causa a credibilidade de uma empresa”.

PASSOS SEGUROS Por isso, deu conta de cinco passos que, ao serem dados podem, no seu entender, tornar as organizações mais seguras. Em primeiro lugar, enfatizou a necessidade de se realizarem avaliações de risco; depois a implementação de aplicações de gestão de ativos e sistemas de monitorização de ameaças ‘malware’ nas redes IT. Os dois últimos pontos da sua lista são a garantia de segurança de dispositivos terminais com base na abordagem de ‘security by design’ e ações de formação e sensibilização dos funcionários internos e dos prestadores de serviços. Esta última, enfatizou, assume grande importância. Exemplificou, dando conta de um estudo, segundo o qual 62,3% das empresas assumiram que o elo mais fraco (nesta matéria) são as pessoas. Carlos Rabadão ressalvou, contudo, que estes cinco passos não ‘matam’ os ciberataques, até porque, afirmou, “nesta matéria, não existe segurança absoluta”. Por outro lado, lembrou a necessidade de manter de forma contínua uma estratégia de proteção, defendendo que “este deve ser um processo evolutivo”. E que, ao contrário do que temem ainda algumas organizações, não coloca em causa a produtividade. “Um ataque é que coloca em causa toda a organização e pode até levar ao seu encerramento”, considerou.

ATAQUES SEM FRONTEIRAS Miguel Soares, da inCentea, começou por centralizar esta questão da cibersegurança, salientando que os casos acontecem, não apenas no estrangeiro e nem só nas grandes organizações. Os ataques acontecem sempre que há fragilidades, não respeitando fronteiras. Para ilustrar a sua afirmação, apresentou diversos casos, revelando dados preocupantes de situações de vulnerabilidades de empresas. E chamou a atenção para um pormenor: a necessidade de verificar as parametrizações das soluções para ver se estão, ou não, a proteger a empresa.

“O nosso objetivo não é responder aos ataques: é prevenir e evitar que aconteçam”, advertiu. E deu nota de oito passos que cada organização deve adotar, de forma a aumentar a sua segurança. O primeiro, a que chamou ‘firewall humana’, defende a necessidade de se começar por formar e sensibilizar as pessoas para esta situação, sejam os colaboradores, sejam os empresários. “Tudo começa e acaba nas pessoas”, lembrou. Depois, defendeu que as empresas deverão ter alguém dedicado à questão da segurança. Ressalvou que deve ser alguém da área do IT, mas com ligação à administração, de forma a poder tomar decisões que, sublinhou, “nem sempre são bem entendidas”. O passo seguinte, defendeu, é adotar medidas ‘standard’ ou ‘framework’, ou seja, alinhar o IT com a gestão, de forma a que sejam entendidas e postas em prática por todos, mas que salvaguardem questões como a confidencialidade. Num momento seguinte, lembrou a necessidade de alinhar estes passos com os projetos e as políticas da empresa, de forma a que as práticas estejam documentadas. O passo seguinte é, no seu entender, a automatização que possibilita que a organização chegue a outra medida que defende: a criação de um ‘security operation center’, onde seja feita a gestão das vulnerabilidades e definidas medidas. O último ponto que considerou foi a necessidade de serem criadas métricas e indicadores porque, no seu entender, este é um processo que tem de ser constante e melhorado a cada momento.

COMPROMISSO Para além destes, considerou ainda de elementar necessidade, questões como as autenticações multifatoriais, os backups, os softwares atualizados e as passwords fortes, entre outros. “Com estes pontos afinados, as organizações estarão bastante mais seguras”, defendeu. Mas para que a estratégia seja eficaz, salientou, é preciso que “a gestão de topo esteja comprometida e a participar das decisões”. “Se assim não for, não há estratégia que funcione”, concluiu. Manuel Oliveira, secretário geral da CEFAMOL, logo no início da sessão, explicou que este é o primeiro de um conjunto de webinares que a associação tem previstos para os próximos meses e que abordarão diferentes vetores de competitividade, relacionados com a indústria de uma maneira geral, e com a indústria de moldes em particular. Na plateia (virtual) juntou-se cerca de meia centena de pessoas, uma grande parte, quadros de empresas de moldes.

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INOVAÇÃO

O QUE AS EMPRESAS CONCEBEM DE FORMA SINGULAR E INOVADORA WHAT OUR COMPANIES CONCIEVE IN A SINGULAR AND INNOVATIVE WAY

LOCALIZAÇÃO DE PEÇAS, PRODUTOS E MATERIAIS

FABRICO ADITIVO HÍBRIDO POTENCIA AUMENTO DA VIDA ÚTIL DE MOLDES PROJETO MOBILIZADOR S4PLAST - UM CONTRIBUTO COM SOLUÇÕES AVANÇADAS PARA A SUSTENTABILIDADE HPC - HIGH PERFORMANCE COMPUTING COLOCAR A SUPERCOMPUTAÇÃO AO SERVIÇO DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS


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INNOVATION /

LOCALIZAÇÃO DE PEÇAS, PRODUTOS E MATERIAIS Hugo Gomes, 1 João Pereira, 2 Sílvio Mendes, 2 Rui Vasco Monteiro, 3 Carlos Neves, 4 Hugo Rosa, 5 António Baptista IT|Instituto de Telecomunicações, ESTG, Politécnico de Leiria; 2 CIIC|Centro de Investigação em Informática e Comunicações, ESTG, Politécnico de Leiria; 3 INESC| Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores - Coimbra, ESTG, Politécnico de Leiria; 4 MOLDESRP; 5 CENTIMFE - Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos. 1 1

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O PROJETO MOBILIZADOR TOOLING 4G

LOCALIZAÇÃO DE PEÇAS, PRODUTOS E MATERIAIS

A globalização dos mercados é uma realidade bem presente e incontornável, em que as empresas conscientes desta realidade sabem que só podem ser competitivas se forem capazes de criar internamente condições de flexibilidade produtiva, de gestão e de partilha de conhecimento, de modo a ultrapassarem os desafios impostos diariamente por atuais e potenciais clientes em todo o mundo.

Nesta atividade, pretende-se solucionar o problema de localização de materiais dentro de uma unidade fabril ligada à indústria dos moldes. Estima-se que todos os anos muitas horas/homem sejam gastas na procura de produtos e/ou ferramentas dentro das unidades fabris, especialmente quando os fluxos de trabalho e produção são mais elevados. Este “desperdício” temporal leva a constrangimentos e interrupções de produção com custos muitas vezes elevados. Pretende-se, assim, procurar soluções tecnológicas de fácil implementação e baixo custo, capazes de localizar com alguma precisão muitas peças, produtos e materiais dentro de um ambiente fabril com grandes dimensões.

O projeto TOOLING 4G pretende dar um contributo importante para a capacitação das empresas do sector de moldes e plásticos, permitindolhes criar conhecimento interno que lhes possibilite concorrer a nível global e vencer os desafios do mercado. Juntando empresas dos sectores de moldes e plásticos, entidades não empresariais do Sistema Nacional de Investigação e Inovação, entidades do Ensino Superior e Centros de Interface Tecnológica, o consórcio agrega um conjunto alargado de valências e recursos humanos altamente qualificados, conhecedores das exigências do mercado e com know-how para o desenvolvimento de novos e melhorados sistemas, ferramentas e/ou metodologias de apoio à indústria de moldes e de injeção. O projeto mobilizador TOOLING 4G, sendo um consórcio com um elevado número de parceiros, encontra-se estruturado em sete grandes PPS (Produtos/Processos/Sistemas), nomeadamente: Processos de fabrico híbrido; Ferramentas/sistemas inteligentes; Ferramentas eficientes para fabrico de produtos multimaterial; Ferramentas multiprocesso; Digitalização da indústria; Cadeias de produção sustentável “zero defeitos”; Gestão e disseminação (ver figura 1). É dentro do PPS5 – “A digitalização da Indústria” - que se encontra inserida a Atividade n.º 20 – “Localização de Peças, Produtos e Materiais” - que analisa a problemática da localização de peças, ferramentas e produtos.

// F-1 . Estrutura do Projeto Tooling 4G - Estrutura de PPS (https://tooling4g.toolingportugal.com/)

Entre os muitos requisitos e objetivos do modelo de localização e identificação dos objetos encontra-se a facilidade e baixo custo de implementação do sistema, bem como o custo residual de cada forma de identificação; a localização em tempo “quase” real para uma melhor eficácia; a minimização de “zonas ou objetos sombra” onde não é possível a localização; a precisão de localização; a fiabilidade do sistema; a interoperabilidade com outros sistemas ou a necessidade de intervenção dos colaboradores no processo. Todas estas exigências colocam desafios que muito poucos sistemas atualmente utilizados conseguem satisfazer. Se os comuns e largamente difundidos códigos de barras têm uma eficácia comprovada na identificação de produtos, estes apresentam várias limitações na sua utilização em ambiente fabril, nomeadamente por necessitarem sempre de leitores de muito curta distância (não mais de 5-8cm) como por necessitarem sempre de estar em linha de vista para a sua identificação. Já os mais atuais e difundidos QRCodes, combinados com mais inovadoras técnicas de identificação baseada em câmaras de vídeo, apresentam uma maior eficácia na localização de peças e pessoas. No entanto estes sistemas não possuem a capacidade de identificação se não estiverem direcionados para as câmaras de identificação e em ambiente industrial nem sempre é possível ter todos os produtos e/ ou ferramentas em “linha de vista”. Ainda associado a este fator, para implementar um sistema baseado em identificação por vídeo, o número de câmaras e de equipamentos seria bastante elevado tornando assim o sistema pouco atrativo. Por este motivo, os promotores desta atividade selecionaram a RFID (Radio Frequency Identification – identificação por radiofrequência) como a tecnologia a explorar para a implementação dos sistemas de identificação e localização de produtos e ferramentas. A RFID é uma tecnologia sem fios que usa as ondas eletromagnéticas (vulgarmente designadas por ondas de rádio) como meio de envio e armazenamento de dados para circuitos integrados e compatíveis em radiofrequência, ou como um sistema que possibilita a identificação, a localização e a monitorização da posição de pessoas, animais ou


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/ INOVAÇÃO objetos. A sua versatilidade permite o seu uso em áreas tão distintas como controlo de acessos, identificação de pessoas e animais, gestão de stocks e/ou de tarefas ou, por exemplo, controlo migratório de espécies selvagens de animais.

IDENTIFICAÇÃO POR RADIOFREQUÊNCIA

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Como referido anteriormente, as possibilidades de aplicação da RFID são inúmeras e todos os dias aumentam os cenários de aplicação. Esta larga abrangência de aplicações e cenários de implementação deve-se, sobretudo, à simplicidade do sistema e às inúmeras variedades de elementos do mesmo, adaptáveis às várias realidades de aplicação, como alcance, consumo, custo, durabilidade, etc. Um sistema de RFID é basicamente constituído por dois grandes blocos: a Tag (ou etiqueta) e o Reader (ou leitor) apresentados na figura 2. A tag é um pequeno dispositivo que serve de identificador do objeto ao qual foi associado. Geralmente, quando solicitado pelo leitor, devolve a informação contida dentro do seu pequeno microchip. Note-se, contudo, que, apesar deste ser o método mais comum, existem tags ativas que transmitem informação sem a solicitação do leitor. O leitor é responsável pela ligação entre sistemas externos de processamento de dados (Edge Computing - unidades de processamento na periferia da rede) e as tags, bem como o controlo de acesso múltiplo (de várias tags), rejeição de repetições de dados e correção de erros. A razão da grande maioria destes processamentos serem colocados no leitor, advém do facto de a tag ser um dispositivo de tamanho reduzido e de baixa complexidade (baixo custo), pelo que todos os mecanismos de segurança, gestão e controlo do sistema deverão ser colocados no leitor. Por isso, o leitor é naturalmente de maior dimensão, de maior complexidade e de maior custo, pelo que, num sistema básico de RFID, pode existir apenas um leitor para dezenas ou centenas de tags. As diferenças existentes entre os sistemas RFID refletem-se sobretudo no tipo de tag selecionado, por ser a peça mais versátil e simultaneamente condicionadora do sistema. Apresentando imensas dimensões (desde o tamanho de um grão de arroz até dimensões similares a um smartphone), as tags podem ser passivas (sem fonte de energia interna), ativas ou semiativas, podem funcionar em várias frequências distintas (normalmente associadas às faixas de espectro livre – bandas ISM – espectro rádio reservado internacionalmente para fins industriais, científicos e médicos) ou terem custos, desde poucos cêntimos a várias dezenas de euros. Obviamente, o tipo de tag escolhido influencia diretamente o alcance e a precisão do sistema, o seu tempo de vida, a capacidade de monitorização de múltiplas tags e a informação armazenada e/ou enviada. Para o modelo de localização estudado e explorado neste projeto, era necessário um(a):

// F-2 . Diagrama de blocos de um típico sistema RFID

- Custo muito reduzido dos identificadores de peça; - Baixa manutenção desses identificadores e custo negligenciável em caso de perda; - Capacidade de localização dos objetos, mesmo sem ser em linha de vista; - Alcance razoável (alguns metros) mas com precisão suficiente para uma localização tão precisa quanto possível; - Facilidade de inserção e/ou remoção do identificador nos produtos; - Funcionamento em simultâneo com outros sistemas de radiofrequência comuns (ex. WiFi) sem problemas de interferência significativos; - Alguma robustez às interferências eletromagnéticas existentes em ambientes industriais. De forma a tentar cumprir todos os pressupostos foram selecionadas as tags passivas UHF (Ultra High Frequency). As vantagens destas tags face a outras são: funcionarem a frequências na gama dos 865 MHz (bandas pouco comuns em ambientes industriais), terem alcances até 15 metros, serem passivas e serem estandardizadas pelo padrão EPC (Electronic Product Code) UHF GEN 2, facilitando a escolha e aquisição. Por serem largamente difundidas e de uso generalizado, existem alguns tipos de tags mais ajustáveis à realidade da indústria de moldes (como é o caso das tags anti-metal). As distâncias de identificação típicas, que variam entre os 20 centímetros até 8 metros, são também uma característica importante, permitindo uma localização relativamente precisa sem um número muito elevado de leitores e/ou cálculos complexos.

MÉTODOS DE LOCALIZAÇÃO DE PRODUTOS Um dos principais desafios desta atividade é estudar métodos de localização dos objetos (leia-se colocação dos leitores), criando o mínimo impacto na unidade fabril, mas que simultaneamente maximizem o alcance e a precisão do sistema, sempre a um custo aceitável. A primeira decisão tomada pelo grupo de trabalho foi que seria importante dividir a localização de produtos em dois grandes tipos: seguimento lógico e seguimento físico. O seguimento lógico é um tipo de localização baseado em identificação por área. Não se pretende conhecer a localização precisa de um produto ou ferramenta, mas saber se a peça a localizar está presente numa determinada área, divisão ou sector. Este tipo de localização é menos complicada e exige menos recursos que os sistemas de localização física. Dentro deste tipo de localização podem ser agrupados a localização IN/OUT e a localização de ponte que serão apresentados mais à frente. O seguimento físico é um tipo de localização mais restritivo, onde a precisão de localização é importante, comprometendo para isso fortemente o alcance do sistema. Será mais indicado para localizações


INNOVATION /

// F-3 . Métodos de localização: 1 – Ponte (toda a fábrica); 2- IN/OUT (Controlo de entradas/saídas); 3 – Rotativo (localização precisa).

mais específicas em espaços compactos, estantes e armários de ferramentas e/ou confirmação pessoal. Na figura 3 são apresentados alguns exemplos dos métodos de localização implementados nesta atividade.

SEGUIMENTO LÓGICO No seguimento lógico está incluída a solução IN/OUT de tags. Esta solução consiste no controlo de saídas de materiais e ou ferramentas e pode ser colocada nas principais portas de acesso ao edifício ou entre secções/espaços individualizados. Serve essencialmente como informação se o produto se encontra ou não dentro das instalações monitorizadas. O sistema é constituído por 2 leitores que monitorizam a entrada e/ou saída dos produtos do edifício através da ordem de identificação de cada leitor. Se a tag for identificada primeiramente pelo leitor mais próximo da porta e a seguir pelo outro, significa que o produto entrou no edifício. Caso contrário, o produto saiu. Em caso dúbio (só foi identificado por apenas um leitor), assume-se que a tag se encontra parada dentro ou fora do edifício (figura 4).

// F-4 . Métodos de localização usando a ponte.

SEGUIMENTO FÍSICO No seguimento físico está incluída a solução com a Ponte e a solução Rotativa representadas na figura 3. A localização com a Ponte utiliza um par de leitores acoplados na ponte rolante da unidade fabril. A este conjunto são associados dois medidores laser de precisão para identificação da área onde se encontram os dois leitores (figura 4). À medida que a ponte é utilizada nas atividades regulares da empresa, os leitores “varrem” a zona para identificação das tags presentes na área. Quanto maior for a atividade da ponte maior será o número de tags possíveis de identificar dentro da unidade fabril. A localização das tags é conseguida através de um algoritmo de triangulação que


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// F-5 . Exemplo de uma implementação OPC UA // F-4 . Sistema de localização lógica IN/OUT

utiliza o nível de potência recebido por cada leitor, desenvolvido pela equipa de investigação e já alvo de publicação científica. São utilizados leitores de baixo custo, capazes de ler até 50 tags por segundo. São conectados com antenas de longo alcance (até 15 metros), permitindo leituras regulares até 6 metros com erros de localização reduzidos. Estes valores são suficientes para a leitura de tags ao nível do solo da unidade fabril, visto a altura das pontes tipicamente não ultrapassar os 5 metros. Para zonas com um elevado grau de concentração de produtos ou ferramentas a serem localizadas, o seguimento lógico tem bastantes dificuldades para identificar todas as peças dentro da área. Relembrase que as tags passivas não têm energia própria, pelo que o nível de potência de sinal que conseguem refletir depende diretamente do nível de potência sinal recebido do leitor. Num cenário onde existam muitas tags, as mais próximas do leitor irão enviar sinal de retorno com potências muito mais elevadas do que as estão mais longe, dificultando a deteção destas últimas pelo leitor. A este fenómeno (comum em sistemas de radiofrequência como as comunicações móveis) dá-se o nome de “mascaramento”. Este fenómeno é tão mais visível quanto maior é o alcance do sistema. Por esse motivo é necessário a implementação de sistemas de seguimento físico, de curto alcance, mas de melhor precisão. Para esse fim foram ponderadas duas soluções: a primeira (identificada na figura 3 como solução 3) utiliza um leitor inserido numa plataforma rotativa para uma abrangência de área de 360º. A localização das tags é conseguida através de um algoritmo matemático que relaciona o nível da potência recebido com o ângulo de chegada. A conjugação das duas varáveis permite uma localização precisa e a configuração do “tempo de vida” da localização é diretamente proporcional à velocidade de rotação do servomotor que controla a base rotativa. Este sistema poderá facilmente ser adaptado a outros cenários, nomeadamente para estantes “inteligentes” ou zonas “mais escuras” (não alcançáveis pelos sistemas do seguimento lógico). Estes sistemas usam o mesmo tipo de leitores, mas são-lhe acopladas antenas de curto alcance (até 2 metros). Com estas características conseguem-se erros de leitura reduzidos e o fenómeno do “mascaramento” anteriormente referido é praticamente inexistente (dentro do alcance da antena). O outro método de seguimento físico implementado é a leitura manual realizada pelo colaborador. São utilizados leitores portáteis que enviam a informação das tags identificadas para um smartphone. A ideia é permitir que o operador consiga diferenciar cada tag em grandes

concentrações de produtos identificados. Pretende-se que os métodos de localização explorados sejam utilizados em conjunto, para que permitam uma localização dos produtos quase em tempo real. Se com o seguimento lógico é possível saber a área onde se encontra a peça procurada, com o seguimento físico é possível saber a sua localização precisa.

AGREGAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS ADQUIRIDOS Após a aquisição da identificação e localização das peças ou ferramentas é essencial a disponibilização dessa informação ao sistema central para que a possa agregar a outros tipos de dados provenientes de outros sistemas existentes no chão de fábrica. Para realizar esta tarefa, foi decidido entre todos os intervenientes do PPS5 a utilização do protocolo OPC UA (Open Platform Communications Unified Architecture), protocolo esse já com alguma importância para a comunicação entre dispositivos controlados por autómatos.

OPC UA A arquitetura OPC UA é um conjunto de standards abertos que especifica a troca de informação em comunicações industriais. A OPC Foundation (Open Platform Communications) foi a organização responsável pelo desenvolvimento e lançamento, em 2008, do OPC UA, tendo a mesma evoluído da especificação original OPC de 1996. O OPC UA é funcionalmente equivalente ao OPC clássico, visando diversas melhorias, nomeadamente: na descoberta de servidores; informação armazenada em espaço de endereçamento hierárquico; leitura e escrita de dados/informação baseada em permissões de acesso; notificação de eventos baseada em critérios definidos no cliente e execução de métodos (programas) numa interface remota. Adicionalmente, o OPC UA tem especificações para o tornar multiplataforma (Linux, Windows, …); seguro (cifragem, autenticação e auditoria); extensível (criação de novas funcionalidades sem afetar as existentes) e incorporar um mecanismo de modelação de dados. Na generalidade o UPC UA pode ser definido como um protocolo de comunicação Máquina-Máquina (M2M – Machine-to-Machine). Com estas especificações, o OPC UA permite implementações flexíveis em ambientes empresariais/fabris distribuídos tal como se pode observar na Figura 5.


O OPC UA só por si representa toda uma infraestrutura de comunicação de baixo acoplamento, uma vez que permite acrescentar novos elementos sem alterar a infraestrutura já existente. Uma infraestrutura OPC UA pode funcionar como um sistema CEP (Complex Event Processing), o qual constitui um facilitadorchave para introdução de Inteligência Artificial (IA) em ambiente empresarial/fabril, dado que este possibilita o processamento de fluxo de dados heterogéneos de vários sensores de modo a automatizar processos. Para além disso, o TSN (Time-Sensitive Networking) para sistemas em tempo real já vem incorporado na infraestrutura OPC UA. O OPC UA permite flexibilidade da sua implementação. Distinguemse três tipos: 1) Modelo Clássico Cliente-Servidor que implementa uma interface remota no servidor; 2) Publish/Subcribe e 3) Secure Multicast. Do ponto de vista funcional, estes dois últimos são equivalentes, distinguindo-se na tecnologia de comunicação utilizada, em que tradicionalmente o papel de cliente e servidor é invertido, uma que vez que são usados clientes para Edge Computing (na periferia da rede).

TOPOLOGIA DO FUNCIONAMENTO OPC UA POR CADA CHÃO DE FÁBRICA Na figura 6 está representada a topologia da solução OPC UA em Secure Multicast por chão de fábrica. Nesta distinguem-se os seguintes componentes: 1) Cliente OPC UA IN/OUT, que se encontra em locais específicos (entradas/saídas) do chão de fábrica a fim de identificar a entrada e saída de peças, produtos e materiais por intermédio de dois leitores de tags RFID que lhe estão associados. O par de leitor IN-OUT é usado para identificar a direção do fluxo das tags, i.e., se o material está a entrar ou a sair do espaço físico (seguimento lógico). Esta parte da solução pode ser replicada consoante a quantidade de entradas e saídas existentes, garantindo a escalabilidade do sistema; 2) Clientes OPC UA de localização, em que cada um possui um par de leitores RFID para calcular a triangulação de tags (seguimento físico), permitindo a localização física de peças, produtos e materiais. Os dois componentes anteriormente identificados realizam o envio da informação para o Servidor OPC UA. O protótipo utilizado permitiu leituras das tags até uma distância de 15 metros em relação à posição dos leitores RFID;

3) Servidor OPC UA, que realiza o broadcast de todos os dados recebidos para clientes que tenham interesse em processar esses dados; 4) Clientes OPC UA, que recebem toda a informação do Servidor realizando a sua serialização (em tradicional Base de Dados relacional). A figura 6 apresenta dois clientes deste tipo, onde um se encontra no chão de fábrica e o outro está fisicamente afastado como, por exemplo, num escritório fora da área fabril. Nesta arquitetura podem ser acrescentados outros Clientes OPC UA consoante as necessidades da empresa/fábrica. A título de exemplo, pode ter-se um Cliente OPC UA que mostre a um utilizador humano a localização de uma determinada tag no chão de fábrica através de uma planta do edifício. Consoante as funcionalidades que se queiram adicionar, podem acrescentar-se outros clientes OPC UA sem comprometer a escalabilidade da solução. Caso a empresa possua mais do que um chão de fábrica é possível que o Servidor OPC UA funcione como cliente de outro Servidor OPC UA que se encontre na cloud. Esta é uma forma que permite ter um acesso unificado a diferentes chãos de fábrica.

CONCLUSÕES A atividade n.º 20 do projeto TOOLING 4G permite determinar o seguimento lógico e físico de peças, produtos e materiais em ambiente fabril recorrendo à tecnologia RFID. Para esse efeito, são utilizadas tags RFID que permitem que as peças, produtos e materiais possam ser localizadas em todo o chão de fábrica. Recorreu-se ao OPC UA para construir a infraestrutura de comunicação segura, dada a flexibilidade e vantagens que esta tecnologia apresenta. A infraestrutura é especificada por standards (incluindo estruturas de dados), tornando a sua manutenção mais objetiva. É possível expandir a rede e clientes sem pôr em causa o seu funcionamento (escalabilidade). Esta oferece um streaming de dados em toda a rede, em tempo real, podendo estes constituir os alicerces para a utilização de Inteligência Artificial. Durante a atividade foram já publicados em conferências internacionais dois artigos científicos [1] [2]. ____________ [1] J. Pereira, H. Gomes, S. P. Mendes, R. Santos, S. Faria, C. Neves, “Long Range RFID Indoor Positioning System with Passive Tags, Industry 4.0 Academia Conference”, Manchester, United Kingdom, April, 2019. [2] J. Pereira, S. Faria, S. P. Mendes, H. Gomes, C. Neves, “Array-based Approach for Indoor Positioning System using RFID Passive Tags”, Conference on Telecommunications - ConfTele, Lisbon, Portugal, June, 2019.

Este artigo foi realizado no âmbito das atividades do projeto TOOLING4G | Advanced Tools for Smart Manufacturing, projeto mobilizador Nº 24516.

Cofinanciado por:

// F-6 . Topologia da implementação da solução OPC UA em Secure Multicast por chão de fábrica

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FABRICO ADITIVO HÍBRIDO POTENCIA AUMENTO DA VIDA ÚTIL DE MOLDES 56

Isaac Ferreira * * Investigador do INEGI - Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial nas áreas de Fabrico Aditivo e Desenvolvimento de Processos

A capacidade produtiva da indústria nacional de moldes é afetada por um problema comum: o limitado ciclo de vida dos moldes de injeção. O ciclo de vida de um molde, a nível industrial, é determinado por um grande leque de fatores - como o material de construção, processo de fabrico, temperaturas, pressões, entre outros - que frequentemente forçam a sua reparação ou inutilização. Aumentar o tempo de vida útil dos moldes e reforçar a capacidade de os reparar, é, por isso, uma aposta que traz grandes ganhos a qualquer empresa. A manutenção é cada vez mais um processo crítico, essencial para evitar interrupções da produção, quer seja devido a desgaste prematuro, afinações, ou até para alterações decorrentes das necessidades de mercado. As matrizes usadas nestes processos, quando retificadas, são tipicamente reparadas através de soldadura com gás inerte de tungstênio (TIG). No entanto, os componentes reparados tendem a durar apenas, em média, 20,8% da vida útil da matriz original, sendo posteriormente necessárias novas intervenções1. Com o objetivo de melhorar este contexto, o INEGI, no âmbito de um projeto mobilizador, TOOLING4G, tem vindo a trabalhar numa nova solução. Trata-se de um processo de reparação híbrido, que envolve a maquinagem das áreas danificadas das cavidades moldantes, a sua consequente reconstrução através de fabrico aditivo recorrendo

à deposição de material DED (Directed Energy Deposition/Deposição Direta de Energia) e, subsequentemente, o acabamento superficial, por tecnologias de fabrico convencionais (fabrico subtrativo).

FABRICO HÍBRIDO OFERECE MAIOR CONTROLO DO PROCESSO Em comparação com os processos de reparação convencionais com soldadura manual, a reparação via DED apresenta distintas vantagens: menor aquecimento localizado, resultando numa menor deformação e distorção, e maior taxa de arrefecimento, menor diluição, excelente ligação metalúrgica entre as camadas depositadas, alta precisão e capacidade de automação total do processo. Na generalidade, através do DED é possível ter um melhor controlo do processo, desde o nível macro (quantidade de material a depositar) ao micro (microestrutural). Esta tecnologia permite criar revestimentos e reconstruir em zonas críticas, com materiais que conferem melhores propriedades mecânicas, de forma a estender a vida útil do molde, ou seja, o número de ciclos originais, reduzir custos, e tornar o processo de fabrico mais “verde”. O método de reparação proposta com base no DED poderá, assim, tornar-se extremamente atrativo para as indústrias com elevada dependência de moldes, diminuindo a necessidade de fabrico de novos moldes, a frequência das reparações, e, consequentemente, o tempo de inatividade de produção. Em zonas especificas dos moldes, mesmo em fase de desenvolvimento de produto, e havendo conhecimento prévio, é ainda possível aplicar a tecnologia em zonas de maior desgaste, de modo a obter um melhor compromisso entre o custo do molde e o número de ciclos de injeção. Adicionalmente, esta tecnologia permite às empresas realizar insertos com canais internos com geometrias complexas para refrigeração da zona moldante de forma mais eficaz. Esta tecnologia está a ser desenvolvida com o suporte de projetos de investigação e desenvolvimento, sendo que o TOOLING4G permite o avanço especifico para a aplicação desta nova tecnologia em moldes, partindo de uma base sólida de investigação e com uma parceria em consórcio que reúne toda a cadeia de valor.

CÉLULA LABORATORIAL DED INSTALADA NO INEGI É A PRIMEIRA NO PAÍS A tecnologia DED trata-se de uma tipologia de impressão 3D ou fabrico aditivo metálico, que tem vindo a provar ser de elevado valor acrescentado para a indústria. Consiste na deposição de um pó ou fio metálico, cuja fusão entre camadas é assegurada pela energia fornecida por um feixe de laser.


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Esta tecnologia está a ser desenvolvida pelo INEGI, que operacionalizou a primeira estação laboratorial DED no país, possibilitando o fabrico aditivo metálico para peças complexas de grande dimensão (2000x1000x500 mm), onde por adição de um pós-processamento subtrativo (normalmente aliado a este processo aditivo) confere alta qualidade, precisão dimensional e geométrica. No âmbito deste projeto, procura-se testar estas tecnologias para reparação de ferramentas, bem como para o fabrico mono e multimaterial de moldes.

A solução descrita está a ser desenvolvida no âmbito do projeto mobilizador TOOLING4G - Advanced Tools for Smart Manufacturing, que é financiado ao abrigo dos programas Compete 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. ____________ 1. Bennett, Jennifer & Garcia, Daniel & Kendrick, Marie & Hartman, Travis & Hyatt, Gregory & Ehmann, Kornel & You, Fengqi & Cao, Jian. (2018). Repairing Automotive Dies With Directed Energy Deposition: Industrial Application and Life Cycle Analysis. Journal of Manufacturing Science and Engineering. 141. 10.1115/1.4042078.


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PROJETO MOBILIZADOR S4PLAST: CONTRIBUTO COM SOLUÇÕES AVANÇADAS PARA A SUSTENTABILIDADE 58

* Mihail Fontul, ** António Baptista, ** Dulcínia Santos, ***António Pontes * IBER-OLEFF, ** CENTIMFE, *** Universidade do Minho

A indústria portuguesa é reconhecidamente uma mais-valia para o país, sendo responsável pelo crescimento das exportações, criação de emprego qualificado e pela produção de bens transacionáveis. Esta é uma realidade a nível mundial onde sectores industriais como o automóvel, o aeronáutico e o aeroespacial, o farmacêutico, o agroalimentar, o metalomecânico, entre outros, têm um impacto cada vez maior na economia dos países. O futuro da indústria portuguesa depende, em larga medida, da capacidade de desenvolver novas tecnologias, novos produtos sustentáveis de maior valor acrescentado e novos processos de fabrico baseados no conhecimento e que sejam ágeis, eficientes e sustentáveis (ambiental e economicamente), com utilização reduzida de recursos, assumindo-se como mais sustentável e mais compatível com subsistemas com que tenha de colaborar (i.e., interfaces e protocolos). Os materiais avançados e funcionais, os sensores, os processos e as tecnologias mais clean são fundamentais para atingir este desiderato, pois terão um papel cada vez mais preponderante nos processos de transformação e nos produtos. Acresce também a produção de produtos customizados em sistemas de produção ágeis que permitam maior eficiência, agilização, monitorização de funcionamento e manutenção, e maior liberdade para o engineering design, incluindo a incorporação de componentes/peças mais inteligentes. Os diversos sectores industriais, nomeadamente os processos de transformação de plásticos, são fortemente pressionados para serem mais eficientes ao nível da redução do consumo de matérias-primas e de desperdício, bem como do aumento da eficiência energética. Assim, é importante desde o início da cadeia de desenvolvimento de novos produtos e processos, acrescentar valor aos mesmos, incluindo uma característica primordial que é a sua sustentabilidade; desenhar os produtos tendo como foco a sua reciclagem e reutilização; ou produtos com maior durabilidade e funções, e altamente customizados nomeadamente através de software, permitindo suportar uma maior frequência de renovação, ou ainda através do design dos produtos, processos e sistemas que possa permitir a remanufactura sustentável e a reciclagem de materiais. Assim, foi constituído o consórcio do projeto mobilizador S4Plast | Sustainable Plastics Advanced Solutions, que tem como desiderato contribuir para que as empresas que se encontram na cadeia de valor do produto moldado sejam geradoras de riqueza, com benefícios para a sociedade em geral e para o meio ambiente em particular, e apostem na sustentabilidade pela utilização de sistemas de fabrico mais otimizados, de automação e manufatura de precisão, e garantia de qualidade com sistemas avançados de medição e teste.

É também objetivo do projeto mobilizador aumentar a posição competitiva do cluster Engineering & Tooling, pelo desenvolvimento de atividades de I&DT+I colaborativa entre empresas e Entidades Não Empresariais do Sistema de Investigação e Inovação para criar uma nova oferta de produtos de elevado valor acrescentado, caracterizados por um elevado nível de reciclabilidade, produtos mais leves e com maior resistência mecânica, com redução do número ou da diversidade de materiais, na reutilização de materiais e revalorização de resíduos para a sustentabilidade de recursos, numa perspetiva de resposta aos grandes desafios industriais. O projeto mobilizador S4Plast é liderado pela empresa IBER-OLEFF e conta com a participação, na qualidade de copromotores, de 8 entidades empresariais e 7 entidades não empresariais do sistema de investigação e inovação, apresentadas na tabela 1. Copromotor

Tipo de Entidade

1

IBER-OLEFF

Empresa

2

WEADD

Empresa

3

EDILÁSIO CARREIRA DA SILVA

Empresa

4

ITJ

Empresa

5

OLI

Empresa

6

EROFIO ATLÂNTICO

Empresa

7

CABOPOL

Empresa

8

3DTECH

Empresa

9

NEUTROPLAST

Empresa

10

CENTIMFE

Centro Tecnológico

11

UNIVERSIDADE DO MINHO

Universidade

12

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Universidade

13

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA

Politécnico

14

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Universidade

15

UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Universidade

16

POOL-NET

Associação

// T-1 . Lista de copromotores do projeto mobilizador S4Plast

A candidatura foi estruturada em 5 PPS (figura 1), segundo um plano de trabalhos composto por 19 atividades no qual se privilegia o trabalho colaborativo entre todos os copromotores, fomentando a complementaridade de competências, e promovendo a interação entre os PPS do projeto para elevar a eficiência produtiva do cluster numa perspetiva de produção zero defeitos e promover a sua sustentabilidade. O PPS1, que tem como designação Design para a circularidade, sustentabilidade e valorização, assume-se como um PPS orientador para criar e disseminar soluções sustentáveis, e também para agregar os desenvolvimentos dos vários PPS e criar inteligência e tecnologia


PPS1 . Design para a circularidade, sustentabilidade e valorização PPS2 . Novos materiais poliméricos avançados e multifuncionais PPS3 . Processos avançados de fabrico PPS4 . Integração inteligente de processos e produtos // F-1 . Estrutura de PPS do projeto mobilizador S4Plast.

para futura utilização pelos membros do consórcio. O PPS1 tem como objetivo geral a integração de metodologias de design englobando o completo ciclo de vida do produto (desenvolvimento, industrialização, produção e gestão de operações, utilização e fim de vida) materiais e processos, interligação com plataformas inteligentes, e sua padronização, para o projeto de excelência de produto moldado. O PPS2 Novos materiais poliméricos avançados e multifuncionais irá investigar e criar novos materiais a partir de resíduos de transformação de plástico e investigará novas formulações de materiais para produção de peças injetadas com características diferenciadas. Os materiais surgem como uma ferramenta crítica em toda a cadeia de processos do tooling, influenciando as decisões e escolhas críticas para as ferramentas e processos, e a forma com estes devem ser utilizados. O PPS2 irá desenvolver e aplicar uma metodologia sistematizada de valorização de resíduos termoplásticos provenientes da atividade industrial, que tenha em consideração a família do material de base e a sua composição (pigmentos e reforços, entre outros). Espera-se o aumento de 50% da reintrodução e valorização de resíduos resultantes da transformação dos plásticos. O PPS2 irá desenvolver e otimizar novos materiais para a obtenção de peças com aparência metalizada sem processos de pintura/ cromagem. O PPS3 Processos avançados de fabrico assenta no processo/ processamento/transformação do plástico e das suas condições, como forma de controlar as propriedades dos produtos plásticos. O PPS tem como objetivo a exploração dos limites das técnicas e tecnologias especiais de moldação com vista à internalização de conhecimento baseado em processos de projeto, simulação, exploração experimental e validação de características e funcionalidades fundamentais para o produto plástico da próxima geração. O PPS3 irá combinar processos avançados de fabrico para a reciclagem de resíduos plásticos com monitorização in-line e in-situ, com desenvolvimento e implementação de moldes/ferramentas recorrendo a monitorização in-line e in-situ para controlo efetivo da separação de materiais bem como do processamento e qualidade dos componentes reciclados moldados. O PPS3 irá combinar processos avançados de fabrico para a obtenção de produtos one-shot e zero defeitos, consolidando metodologias associadas ao processo de produção de peças poliméricas com aspeto metálico sem defeitos e sem recurso à cromagem comum, injetadas com pigmentos metálicos num processo one-shot. O PPS3 irá criar produtos com caraterísticas óticas e estruturais diferenciadoras numa abordagem monomaterial multipropriedades, feito através do trabalho de design e conceção de ferramentas inovadoras a integrar na moldação por processos avançados.

O PPS4 Integração inteligente de processos e produtos investigará novas formas de produzir, de forma flexível e ágil em pequena série, o mesmo produto com um elevado número de combinações de especificações do mesmo, e de acordo com a requisição do cliente, mas com características diferenciadas em tempo curto e sem defeitos. Serão investigadas novas soluções e sistemas para produzir peças complexas com a máxima qualidade e minimização de recursos. As soluções a desenvolver, adaptadas de coisas existentes, permitirão baixar significativamente os preços e resolver muitos dos problemas de agilidade (time to market, time from project to prototype). As atividades do projeto foram calendarizadas numa perspetiva de 36 meses de realização, tiveram início em 1 de julho de 2020 e têm término previsto para 30 de junho de 2023. O desenvolvimento do plano de atividades permitirá às empresas do cluster ganharem conhecimento e apropriarem soluções tecnológicas que lhes permitirão produzir peças com características diferenciadoras. Desta forma, o projeto habilitará os players nacionais para reforçar a sua habilidade, para exportar produtos de elevado valor acrescentado a novos sectores industriais para todo o globo cumprindo as melhores práticas e legislação em vigor, reforçando a incorporação nacional. O projeto está alinhado com os objetivos do cluster, nomeadamente o de reforçar a sua cadeia de valor e o de assegurar que mais empresas associadas avançam no fornecimento de produtos de maior valor acrescentado aos diferentes sectores como o automóvel, o da eletrónica, o da embalagem, o de dispositivos médicos, etc. Os desafios do projeto estão alinhados com as políticas nacionais e europeias sobre a economia circular e, em particular, com a “Estratégia Europeia para os Plásticos na Economia Circular”, estabelecida em 2018, e com a normativa REACH da União Europeia, adotada para prevenir a contaminação humana e ambiental de riscos colocados por químicos, onde se destaca o crómio hexavalente. Acresce ainda a diretiva 2019/904, de 5 junho 2019, do Parlamento Europeu, com vista à redução do impacto de certos produtos plásticos no ambiente. Estes temas têm por base alguns sectores industriais, nomeadamente o automóvel, houseware ou o de dispositivos médicos, mas cuja dificuldade é transversal a outros sectores que necessitam de peças moldadas.

“O desenvolvimento do plano de atividades permitirá às empresas do cluster ganharem conhecimento e apropriarem soluções tecnológicas que lhes permitirão produzir peças com características diferenciadoras.” Este texto foi realizado no âmbito das atividades de disseminação do projeto S4Plast | Sustainable Plastics Advanced Solutions, projeto mobilizador Nº46089.

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HPC - HIGH PERFORMANCE COMPUTING

COLOCAR A SUPERCOMPUTAÇÃO AO SERVIÇO DA COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS

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Rui Tocha *; Pedro Vieira Alberto ** * Diretor-geral do Centimfe e da Pool-Net / Cluster “Engineering & Tooling”; ** Responsável pelo Laboratório de Computação Avançada da Universidade de Coimbra

supercomputadores - Navigator e Navigator Plus. Ao todo, vão ser utilizados, pelo menos, 64 núcleos de processadores que, em conjunto, vão executar sofisticados e complexos cálculos a um ritmo “ultrassónico”, o equivalente a 250 mil horas de computação tradicional num só processador. O Centimfe - Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos e a Universidade de Coimbra (UC), vão desenvolver um projeto de investigação que pretende demonstrar que a Computação de Alto Desempenho (High Performance Computing, HPC), que representa uma das áreas prioritárias no Digital Europe Programme1, pode trazer grandes benefícios para as pequenas e médias empresas (PME). O TOOLING4G | Minimize the airflow generated noise on automotive HVAC systems, o primeiro projeto português com a chancela da iniciativa SHAPE da rede europeia PRACE (Partnership for Advanced Computing in Europe), vai funcionar como prova de conceito e foca-se no sector automóvel. Em concreto, o consórcio formado pelo Centimfe e pela Universidade de Coimbra pretende suportar uma empresa nacional no desenvolvimento de ventiladores inovadores que reduzam substancialmente o ruído dos sistemas de ar condicionado automóvel, que poderão ser integrados na próxima geração de automóveis elétricos. As simulações vão ser realizadas no Laboratório de Computação Avançada da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), usando os sistemas de computação avançada – os vulgarmente denominados

Na era da “Indústria 4.0” e da Digitalização, este projeto, com a duração de seis meses, poderá abrir caminhos para as PME, uma vez que está em linha com a evolução da oferta de vanguarda e de diferenciação tecnológica, em especial nos domínios do design for manufacturing, que caracteriza a competitividade internacional das empresas deste cluster, ao longo dos últimos 30 anos, no desenvolvimento de produtos globais da generalidade dos sectores industriais. Por outro lado, esta investigação pretende lançar sementes para um futuro próximo. A computação de alto desempenho pode fornecer uma grande vantagem competitiva às pequenas e médias empresas, permitindo-lhes obter produtos mais inovadores e sofisticados e de forma muito mais rápida, uma vez que, com o recurso aos supercomputadores, é possível otimizar processos e aumentar a produtividade, assim como reduzir custos e aumentar a qualidade e a velocidade da produção. Este projeto é uma prova de conceito, ou seja, o consórcio vai tentar demonstrar que este tipo de recursos [HPC] é realmente útil para as pequenas e médias empresas. De referir ainda que a iniciativa SHAPE tem por missão fornecer às PME europeias a experiência necessária para beneficiar das possibilidades de inovação criadas pela Computação de Alto Desempenho, aumentando assim sua competitividade. Neste contexto, o cluster “Engineering & Tooling” continua a apostar na dinamização de parcerias alargadas para explorar, desenvolver e integrar tecnologias e conhecimentos de fronteira tecnológica (ainda não maduros), contribuindo para a afirmação internacional competitiva e diferenciadora das suas empresas (Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos), no mercado global.

____________ 1 - https://ec.europa.eu/digital-single-market/en/europe-investing-digital-digital-europe-programme

// Nível de pressão sonora nas superfícies de conduta AVAC e representação de escoamento do ar



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EQUIPAMENTOS . PROCESSOS . CONHECIMENTO EQUIPMENTS . PROCESSES . EXPERTISE

INOVATOOLS APOSTA NA CRIAÇÃO DE INOVADORAS SOLUÇÕES DE CORTE TJ MOLDES E MOLDMAK DESENVOLVEM MÁQUINA EM CONJUNTO


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INOVATOOLS APOSTA NA CRIAÇÃO DE INOVADORAS SOLUÇÕES DE CORTE Helena Silva * * Revista “Molde”

Chama-se ‘MCTool21: Manufacturing of Cutting Tools for the 21st Century’ o projeto, no qual a Inovatools é promotora e que procura desenvolver soluções inovadoras no sector das ferramentas de corte. Liderado pela empresa, este projeto – que arrancou em abril último - reuniu para o seu desenvolvimento um consórcio, formado pelas Universidades de Coimbra e do Minho e ainda a Universidade de Austin, nos Estados Unidos. Foi a constatação de que “o sucessivo aumento das velocidades de corte e redução de líquidos lubrificantes em operações de corte de alta velocidade exigem novas propriedades dos materiais das ferramentas” que, conta o responsável da empresa, Nuno André, levou a organização a decidir dar o passo e procurar novas soluções. Assim surgiu o ‘MCTool21’ que, esclarece, “pretende criar uma ferramenta que tenha bom desempenho, sobretudo em titânio, que é um material abrasivo e difícil de maquinar”. Isto porque esse material e outros semelhantes são, cada vez mais utilizados e “os produtores das ferramentas de corte têm alguma dificuldade” em conseguir as melhores respostas.

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“Como as máquinas estão cada vez mais rápidas e os trabalhos têm de se terminar cada vez mais depressa, concluímos que será necessário fazer alguma coisa de diferente”, relata. Por isso, aproveitando a boa relação com as universidades que se estende desde anteriores projetos, em particular com as do Minho e Coimbra, ponderaram avançar com a criação de revestimentos nas ferramentas que conseguissem assegurar melhores respostas. A Universidade de Austin, com a qual as universidades portuguesas têm boa relação e que tem experiência nesta área, juntou-se ao projeto. Nasceu desta forma “uma equipa que trabalha em conjunto, onde cada um tem a sua função e o objetivo de encontrar a melhor solução”, explica. O projeto foi construído em 2019, aprovado e apresentado, no final do ano, à Agência Nacional de Inovação (ANI). Tratando-se de um projeto internacional, a sua avaliação é feita por técnicos internacionais de várias áreas.


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/ TECNOLOGIA Em abril deste ano, começou a ser desenvolvido e tem um período de execução de três anos. Apesar de ter arrancado em plena pandemia de Covid-19, Nuno André conta que está, até, a caminhar a uma velocidade mais rápida do que que se previa inicialmente.

INOVAÇÃO

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A solução preconizada por este projeto terá um impacto, por exemplo, em indústrias como a aeroespacial ou automóvel, onde, sublinha Nuno André, “a degradação prematura das ferramentas é observada durante o corte dos materiais considerados difíceis de maquinar”. Ainda de acordo com a Inovatools, diversas soluções têm vindo a ser implementadas e desenvolvidas para melhorar a maquinação dessas ligas, sendo a aplicação de filmes finos depositados por técnicas de pulverização catódica (uma técnica de deposição de materiais usada para recobrir uma superfície) as mais promissoras. No entanto, essas soluções não permitem atingir altas velocidades de corte e eliminação de lubrificação líquida. Novos sistemas de revestimentos capazes de melhorar a maquinação desses materiais poderão ser, portanto, a melhor resposta. Por isso, aproveitando o desenvolvimento que, a esse nível, tem demonstrado a Universidade de Austin, foi criado o consórcio que pretende, entre outras questões, transpor os revestimentos desenvolvidos em laboratório para uma escala industrial, desenvolver ferramentas de simulação que permitam otimizar a forma/geometria e prever os parâmetros de corte ideais que permitam maquinar eficientemente os materiais e aumentar o tempo de vida da ferramenta. E que benefícios terão, com esta solução, as empresas clientes? “Ganhos de produtividade e um aumento da competitividade, com redução de custos de produção e manutenção”, enfatiza Nuno André, sublinhando que o projeto desenvolverá novas ferramentas de corte com potencial para a produção de componentes na indústria automóvel e aeronáutica revestindo-se, por isso, de grande interesse para o sector dos moldes.

FORTALECER A MARCA O responsável adianta ainda que um outro objetivo “é oferecer uma solução fortemente inovadora que permita ampliar o portfólio de produtos e serviços, por forma a ganhar novos clientes e continuar a prestar um bom serviço aos clientes existentes”. Acrescenta que “os produtos resultantes deste projeto terão potencial para fortalecer a reputação da marca em mercados estrangeiros onde a concorrência é muito agressiva”.

// Nuno André - Inovatools

A empresa acredita que, com esta parceria, conseguirá crescer e reforçar a sua presença no mercado externo, possibilitando até a entrada em novos mercados. “Acreditamos que no decurso do projeto iremos adquirir novos conhecimentos e alcançar soluções inovadoras. O desenvolvimento de novas geometrias e um sistema de revestimentos superior, neste trabalho de copromoção, permitirá melhorar os nossos produtos e a resposta às necessidades dos nossos clientes”, sublinha Nuno André. Fundada em 2006, a Inovatools começou a produzir, na Marinha Grande, em 2007. Oferece ferramentas de corte de alto desempenho adaptadas às necessidades dos clientes e tem hoje 15 colaboradores. O ano passado, fabricou 95 mil ferramentas, todas tendo a Alemanha (sede da casa-mãe da marca) como destino. Nuno André destaca ainda que esta é uma empresa que investe em pesquisa e desenvolvimento de soluções inovadoras e de alto valor acrescentado, sendo esta área um fator crucial para o crescimento e sucesso no mercado. O projeto ‘MCTool21’ conta com o apoio do COMPETE 2020, no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Copromoção, na vertente de Parcerias Internacionais, envolvendo um investimento elegível de 886 mil de euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 648 mil euros.



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/ TECNOLOGIA

TJ MOLDES E MOLDMAK DESENVOLVEM MÁQUINA EM CONJUNTO 66

Helena Silva * * Revista “Molde”

A Moldmak Compact HMC é um centro de maquinação horizontal de alta velocidade HSC, de 6 eixos contínuos, para execução de zonas moldantes em peças até 850Kg. Este novo equipamento foi desenvolvido, nos últimos dois anos, pela Moldmak (fabricante de máquinas) em conjunto com a TJ Moldes. É uma máquina concebida à medida do fabrico de moldes que tem como particularidade o facto de acoplar várias etapas de fabrico num único equipamento.

A parceria com a TJ Moldes, explica ainda António Barbosa, insere-se na estratégia da Moldmak, de “fazermos algo diferente, mais arrojado, mais alinhado com aquilo que são as novas tendências”. João Faustino adianta que, ao longo deste processo de criação, “foi-se desenvolvendo um desenho e foi sendo alterado, em função das nossas necessidades”. Ou seja, a nova máquina “foi-se ajustando, com a introdução de melhorias, até chegar ao que ambas as empresas consideraram o ideal”.

“A indústria de moldes necessitava de uma máquina com estas características”, conta João Faustino, adiantando que, por isso, em setembro de 2018, a empresa lançou um desafio à Moldmak: a construção de uma nova e inovadora máquina. “Não havia nada deste tipo no mercado e, no caso da TJ, era necessário e fazia sentido que existisse”, sublinha.

E, feitos os testes finais de fiabilidade, a máquina demonstrou estar apta para iniciar a sua atividade no final do verão.

As principais características assentavam na “versatilidade” e “a concentração, no mesmo equipamento, de várias operações”. Com isto, os fabricantes de moldes ganhariam tempo e qualidade, reforça João Faustino. Já António Barbosa, da Moldmak, adianta que a experiência de há vários anos com a indústria de moldes levou a sua empresa a entender, com rigor, o que se pretendia alcançar. E, tendo em conta a “paixão” que afirma sentir pelo fabrico de moldes, o repto da TJ Moldes foi, naturalmente, aceite. É que, salienta, “quando a Moldmak nasceu, foi com uma vertente ajustada à realidade da indústria de moldes e orientada para esse sector”. “O nosso propósito é, no nosso mercado-alvo que é a indústria de moldes, desenvolver suporte tecnológico que torne este sector mais rentável, mais eficaz e mais eficiente”, afirma. O portfólio da empresa integra, por isso, máquinas que conseguem aglutinar vários processos, com um mínimo de ‘setups’ e que, no final, respondem a dois grandes objetivos: reduzir tempo e aumentar a qualidade do trabalho. Com esta estratégia perfeitamente afinada, as duas empresas estabeleceram uma parceria e, ao longo destes dois anos, foram trabalhando, testando, melhorando o equipamento que se propuseram criar. E nasceu assim a Moldmak Compact HMC que a TJ Moldes começou a integrar no seu processo produtivo no final do verão deste ano.

João Faustino considera que, com ela, a indústria ganhou “um poderoso aliado na fabricação”. Destaca como uma das suas principais características, o armazém de ferramentas associado, composto por cerca de 60 ferramentas. Para este responsável, estas parcerias – que no caso da TJ Moldes não são inéditas, uma vez que, há alguns anos, integrou uma outra com um fabricante internacional de máquinas – fazem todo o sentido. “Trata-se de um trabalho em conjunto para resolver uma carência do sector e, com isto, ganhar no processo produtivo”, salienta. E estas são, no seu entender, “parcerias que devem ser cultivadas”. Até porque “permitem à indústria melhorar e evoluir”.

A SOLUÇÃO E, afinal, o que é a Moldmak Compact HMC? António Barbosa explica. Trata-se de um centro de maquinação horizontal de alta velocidade HSC, de seis eixos contínuos, para execução de zonas moldantes em peças até 850Kg. Permite trabalhar a totalidade das 5 faces da peça no mesmo ‘setup’. É adequada à maquinação de postiços e elementos móveis fabricados em aços de elevada dureza, disponibilizando o uso de ferramentas destinadas à furação profunda com eixo dedicado “W”. A máquina, destaca ainda, pode equipar-se com sistema de paletização e troca de ferramenta automática. Em relação à capacidade, as características são as seguintes: Eixo Y - 860mm; Eixo X - 700mm; Eixo W - 950mm; Eixo Z - 520mm; Eixo A - +110º/-110 contínuo; Eixo B – 360º contínuo.


A Moldmak Compact HMC tem como aplicações a fresagem de alta velocidade (ligas duras e aços temperados), torneamento, furação, roscagem, furação profunda. Pelas suas características, esta máquina destina-se, não apenas à indústria de moldes, mas a outras como a aeronáutica e outros sectores da metalomecânica. O responsável adianta que, “atendendo às necessidades especificas do processo produtivo de moldes, a Moldmak identificou junto do seu parceiro e cliente TJ Moldes, uma oportunidade para desenvolver um equipamento que permitisse uma maior incorporação de operações de maquinação no mesmo equipamento”. Desta forma, a Moldmak Compact HMC foi desenvolvida para trabalhar com sistemas de paletização automáticos e medição de peça, entre outros sistemas integrados de produção. A mesa rotativa, acrescenta, possui elevada rigidez de duplo apoio e de elevada precisão, preparada para receber sistema de troca de paletes. Já a spindle está montada numa estrutura de aço fundido, projetada com um motor até 18.000 rpm. Possui rolamentos de pré-carga no conjunto frontal e junta rotativa CTS (coolant through spindle) cerâmica, para atender ao alto desempenho da gun-drill (alto fluxo / alta pressão). A proteção de ar frontal evita que a emulsão afete os rolamentos frontais da spindle e possui injetores frontais para projetarem emulsão e/ou ar comprimido na ferramenta. Estão disponíveis sensores dedicados para verificar a presença ou ausência da ferramenta.

DESAFIOS António Barbosa adianta que, com a TJ Moldes, “o que fizemos foi aceitar o desafio de entender o que há à volta da máquina, na envolvente do primeiro nível, seja manipulação de ferramentas seja manipulação de peças, e fazê-lo de uma forma automática”. Mas este foi, apenas, o primeiro nível. Depois disso, o equipamento teve como prioridades atender a questões como a rapidez e eficiência, “aglutinando processos e tornando a máquina fácil de operar”. “Precisão e velocidade são, aqui, as palavras de ordem”, sublinha. E conta com agrado que, após meses de desenvolvimento conjunto com a TJ, de forma a responder às reais necessidades do sector, “estamos numa franja de desenvolvimento tecnológico ao mais alto nível mundial”. Mas esta parceria estendeu-se a outras áreas, outras empresas, de forma a garantir a qualidade do produto final. António Barbosa destaca o papel dos ‘golden partners’ da Moldmak, quer na área da automação e do controlo numérico, quer na área das estruturas. “Estabelecemos relações de parceria tecnológica até nos permitir atingir esta qualidade do produto, desafiados a jusante por um cliente que reconhece em nós capacidade e que apostou e nos ajudou a definir o desafio que se tornou realidade com esta máquina”, salienta. E uma vez concluída, a máquina está pronta para fazer o seu percurso e passar a equipar empresas, dentro e fora de Portugal, esclarece. A Moldmak fabrica equipamentos totalmente nacionais, reforça. António Barbosa remata, dizendo que as suas máquinas são “100% feitas em Portugal”, mas têm, ainda, um valor acrescentado: “5% - que é o valor da paixão que colocamos nos nossos projetos”.

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TECHNOLOGY /

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/ NEGÓCIOS

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NEGÓCIOS

ECONOMIA . MERCADOS . ESTATÍSTICAS ECONOMY . MARKET INFORMATION . STATISTICS

DESAFIOS COMPETITIVOS EM 2020

DECISÃO E INCERTEZA


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BUSINESS /

DESAFIOS COMPETITIVOS EM 2020 José Ferro Camacho * * Professor de Economia e Gestão - IADE - Universidade Europeia

1. INTRODUÇÃO O recuo do consumo aparente de ferramentas especiais e de moldes na Europa está relacionado com um enquadramento complexo, em que a pandemia é o elemento mais recente, mas que tem a sua génese no período de tempo anterior. Em “O Molde” de julho de 20201 estes aspetos são desenvolvidos em profundidade. Incluem as alterações geoestratégicas resultantes da emergência da China como um oponente global, as transformações que incidem na exaustão de um período de desenvolvimento do multilateralismo e da expansão do comércio internacional. Contudo, resultam, igualmente, do esgotamento de um modelo de consumo e de produção. Este processo foi acelerado pela Covid-19, mas tinha lugar, não só em resultado de fatores de insatisfação nos mercados de trabalho, ou num ritmo insuficiente de transformação produtiva, mas também em mudanças crescentes nos sistemas

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políticos, em parte como resultado dessa insatisfação e da identificação da incapacidade desses sistemas em darem resposta a esse descontentamento. O fraquíssimo crescimento económico da Alemanha nos últimos anos é um indicador relevante. A reboque de uma resposta aos resultados da pandemia, a Europa conseguiu desenvolver uma solução política que envolve um pacote financeiro elevado disponibilizado numa fase imediata como recurso para os custos sociais e económicos da pandemia e, numa segunda etapa, como suporte à transformação industrial e ao investimento. Este empurrão é acompanhado da intenção de não só organizar as grandes linhas da política industrial da atual Comissão Europeia em torno de duas transições gémeas — a ecológica e a digital —, mas também de introduzir instrumentos legais e operativos que poderão produzir uma melhor regulação no investimento e no comércio internacional. A par dessa transformação política é acentuada a atenção dada às


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/ NEGÓCIOS políticas industriais como base para uma maior autonomia estratégica

2. A INDÚSTRIA PORTUGUESA

da Europa e para a produção de resultados associados às transições

Com exceção do último ano, a indústria portuguesa evidenciou um vigoroso desenvolvimento no período em avaliação, entre 2010 e 2020.

gémeas no trabalho e na inovação. Os resultados de mercado deste artigo evidenciam uma redução da atividade em 2019, que as estimativas confirmam em 2020. Esta situação resultou de uma diminuição do investimento em novos

70

produtos e do consequente abandono ou atraso de novos projetos. Existem dimensões positivas: a contínua melhoria da posição relativa da indústria portuguesa, quer do seu peso na produção europeia, quer da posição das suas exportações para a UE28 no consumo aparente europeu, apenas suavizada no último ano. O lado positivo integra, do mesmo modo, uma maior diversificação de destinos, de que são exemplos, entre outros, o crescimento dos fluxos para Marrocos ou para Itália. As dimensões negativas incluem a possibilidade de perda significativa de faturação — no pior cenário superior a EUR 200 milhões — quando comparada com os melhores anos, 2017 e 2018. O lado negativo inclui, também, o agravamento das condições competitivas, em particular no confronto com a sempre crescente posição das importações de origem chinesa. Este conjunto de factos e as dimensões políticas desenvolvidas criam

Ente 2010 e 2018, as estatísticas da produção de todas as categorias (ver nota final) cresceram a uma taxa média anual composta de 8,9%, em Euros correntes, para EUR 854,7 milhões. No mesmo período, as exportações aumentaram de 7,6%, para EUR 694,3 milhões e o consumo aparente evidenciou um incremento de 12,9%, para EUR 389,6 milhões. As importações apresentam o seu valor mais elevado em 2017, de EUR 257,8 milhões. Neste período, até 2017, cresceram 13,1%. Neste período, o mercado doméstico, representado pelo consumo aparente, quase quadriplicou. Contudo, entre 2018 e 2019, a produção, exportações e o consumo aparente diminuíram de -11,8%, -8,4% e -17,4%, respetivamente. As importações decresceram, entre 2017 e 2019, -20,8%. Apesar desta evolução em volume, os indicadores — produção, exportações, importações e consumo — permanecem singularmente especializados em torno dos moldes para borracha ou plástico, como a Tabela 1, para 2019, evidencia, entre 92,6%, exportação, e 76,2%, importação.

o enquadramento para a evolução do posicionamento competitivo.

Produção

Este resulta de uma combinação de fatores e da qualidade relativa das dimensões associadas. Por um lado, se o lead time (o tempo entre o início o fim do projeto) for determinante face ao desafio chinês, será necessário fortalecer um maior grau de automatização e implementar longos regimes de trabalho autónomo dos equipamentos. Este processo necessita de ser acompanhado pela geração de novos graus de eficiência, quer internos às empresas, quer a nível coletivo. Por outro lado, o caminho da transformação industrial será igualmente gerador de um maior grau de diversificação e da criação de serviços e produtos de maior valor. Mas esta discussão merece outros formatos e outros tempos de trabalho.

Designação Valor (1) Simplificada

Exportação

Importação

%

Valor (1)

%

Valor (1)

%

Consumo Aparente Valor (1)

%

7,650

2,3

Ferramentas de embutir, de estampar ou de puncionar

6,433

0,9%

22,363

3,5%

Caixas de fundição, placas de fundo para moldes, modelos para moldes

(3)

(3)

2,211

0,4%

3,402

1,8%

(2)

(2)

Modelos para moldes, de madeira

(3)

(3)

0,288

0,0%

0,043

0,0%

(2)

(2)

Moldes para metais ou carbonetos metálicos

46,896

6,2%

30,190

4,8%

10,091

5,2%

26,797

7,9

Moldes para vidro

(3)

(3)

14,407

2,3%

7,531

3,9%

(2)

(2)

Moldes para matérias minerais

2,464

0,3%

0,729

0,1%

1,318

0,7%

3,052

0,9

Moldes para borracha ou plástico

23,580 12,2%

697,742 92,6% 560,004 88,9% 146,969 76,2% 301,359 88,9%

// T-1 . Portugal – Especialização em 2019 Notas: 1) EUR milhões; 2) Valores inválidos; 3) Valores inexistentes Fonte: autor - dados INE e Eurostat

// F-1 . Portugal – Todas as Categorias, EUR milhões, 2010 a 2019 Fonte: autor - dados INE

A produção e as exportações apresentam uma elevada especialização em moldes para borracha ou plástico em torno de 90%, que se mantém ao longo do período e é estrutural à indústria. Em consumo aparente e em importação essa maior especialização é suavizada no final do período, em particular no ano de 2017. Este processo desenvolve-se a partir de continuo crescimento das importações em ferramentas para estampar, que em 2019 atingiram EUR 33,7 milhões, e a importações de modelos para moldes (HS848030) em 2017, com um valor de EUR 44,4 milhões.


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BUSINESS /

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// F-2 . Portugal – Especialização em Moldes para Plástico ou Borracha, %, 2010 a 2019 Fonte: autor - dados INE e Eurostat

// F-4 . UE28 – Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de eurostat Nota: produção para Itália estimada

Em Portugal, a produção de Moldes para Plástico ou Borracha (MPB) — Figura 3 — seguiu um caminho crescente até 2018, ano em que atingiu um máximo de EUR 784,5 milhões. Deste modo, entre 2010 e 2018, esta evolução deu lugar a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 12%. De 2018 para 2019, assistiu-se a um decréscimo de 11,1%, ano-a-ano.

Contudo, o comércio extracomunitário segue comportamentos diferentes, em particular, as importações que apresentam um crescimento em todo o período, embora de menor escala em 2019. Entre 2010 e 2019, as importações apresentaram um crescimento de 9,7% (CAGR), com um valor máximo de EUR 1,9 mil milhões.

As exportações evidenciaram um crescimento, entre 2010 e 2017, suportado numa taxa de crescimento anual composta de 11,6%. O ano de 2018 foi de quase estagnação e 2019 introduziu um decréscimo de 9,8%, ano-a-ano. O mercado doméstico — consumo aparente — é agora importante. Entre 2010 e 2018, esta evolução teve lugar a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 18,7%. Este crescimento foi suportado não só por importações, mas, principalmente, pela produção doméstica. Esta evolução permitiu a continuação do crescimento da produção em 2018, quando na Europa o seu valor já estava em queda. Na Europa – Figura 4 — teve lugar um crescimento acentuado do mercado até 2017, com um valor máximo de EUR 7,3 mil milhões e uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 7,5%. Entre este ano e 2019, assistiu-se a uma queda de 19,0%. A produção agregada na UE28 segue um padrão semelhante.

A abertura ao comércio extracomunitário — Figura 5 — tem aumentado ao longo do período. Em 2019, as importações extra UE28 representavam, em valor, 28,1% do consumo e as exportações 23,5% da produção. Os indicadores portugueses evidenciam uma boa evolução. Por um lado, a produção portuguesa representou, em 2019, 11,2% da europeia, culminando numa tendência crescente, apenas suavizada no último ano. Por outro lado, o papel das exportações portuguesas para a UE28 no consumo no mesmo espaço cresceu e atingiu 8,5% em 2019. Nestes elementos comparativos, somente o rácio relativo às importações extracomunitárias evidencia uma redução, significando que a taxa de crescimento das importações extracomunitárias tem sido superior ao crescimento das exportações portuguesas para a UE28 no mesmo período.

// F-5 . UE28 – Moldes para Plástico ou Borracha, Participação de Exportações e Importações ExtraUE28, 2010 – 19 Fonte: autor- dados eurostat

// F-3 . Portugal – Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: autor- dados2 eurostat

// F-6 . Portugal – Moldes para Plástico ou Borracha, Participação de Exportações e da Produção na UE28 , 2010 – 19 Fonte: autor - dados de eurostat


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/ NEGÓCIOS

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A Tabela 2 releva o destino da produção portuguesa de moldes para plástico ou borracha entre 2010 e 2019. Existiu uma contínua perda de importância dos três mercados principais — Espanha, Alemanha e França — de 53,1% em 2010 para 43,0% em 2019.

Todavia, o comércio externo seguiu desenvolvimentos diferentes com uma redução dos fluxos agregados a partir de 2017. Exportações: crescimento (CAGR) de 7,2% até 2017; redução de 8,3% entre esse ano e 2019.

Contudo, o consumo doméstico tornou-se o primeiro destino da produção, em 2018 e 2019, constituiu a principal alteração que teve lugar. Esta mudança sublinha, não só o crescente papel dos fornecedores automóveis na economia portuguesa, como também o lançamento da fase II da Autoeuropa.

Importações: crescimento (CAGR) de 7,0% até 2017; redução de 9,3% entre esse ano e 2019.

Consumo Aparente

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Portugal

9,5

8,5

16,0

5,3

10,1

14,1

15,6

12,6

20,9

19,7

Espanha

13,1

13,1

14,1

22,3

20,1

14,2

17,8

18,2

12,9

17,6

Alemanha

27,1

23,4

18,5

20,1

19,3

19,1

17,4

19,4

17,7

15,6

França

12,9

18,0

15,8

14,8

14,1

15,8

14,3

10,3

10,8

9,8

Rep. Checa

3,7

1,5

4,1

3,6

6,6

4,2

4,6

5,2

5,5

6,0

Polónia

1,5

2,3

2,8

4,6

3,0

3,4

5,6

4,8

3,9

3,7

Eslováquia

1,3

2,6

0,8

1,1

1,3

1,6

2,0

2,0

1,5

2,6

EUA

3,5

2,7

1,9

3,4

2,9

2,1

2,1

4,2

4,6

2,5

RU

3,6

2,7

3,3

2,7

3,5

5,2

3,2

2,7

3,6

2,5

Rússia

1,5

1,3

1,5

2,1

1,4

1,4

0,8

0,4

1,1

2,1

Itália

0,6

0,9

1,0

0,8

0,6

1,1

1,0

1,0

1,0

1,9

Resto do Mundo

21,6

22,9

20,2

19,3

17,1

17,9

15,7

19,0

16,6

15,8

Porém, uma análise das importações — Figura 8 e Figura 9 — revela que essa evolução impôs consequências diferenciadas nos principais exportadores para a Alemanha. O fluxo de importação com origem na China não foi afetado e continuou o seu percurso ascendente. O fluxo de entradas apresentou uma taxa de crescimento anual composta de 22,1% e, em 2019, atingiu o valor de EUR 327,5 milhões e uma quota de 29,5%.

/ / T-2 . Portugal – MPB - Destino da Produção, % Fonte: autor com base em dados INE e Eurostat

3. EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS MERCADOS DOS MOLDES PARA PLÁSTICO OU BORRACHA

// F-8 . Alemanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados3 de ITC - Trademap

ALEMANHA O mercado alemão — Figura 7 — seguiu uma tendência crescente do consumo aparente até 2018. Nesse ano, atingiu o valor máximo de EUR 2,7 mil milhões. Entre 2010 e 2017, essa evolução foi realizada a uma taxa de crescimento anual composta de 5,4%. De 2018 para 2019, teve lugar uma redução de 9%. A produção seguiu um padrão semelhante ao consumo aparente: crescimento de 5,6% até 2018; redução de 9,4% no ano seguinte.

// F-9 . Alemanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha,% , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap

// F-7 . Alemanha, Mercado, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap

A Itália evidencia uma quebra de EUR 113 milhões de 2017 para 2019, atingindo nesse ano o valor de EUR 197,6 milhões e 17,8% de quota. Também as importações com origem em Portugal registaram uma redução, neste caso entre 2018 e 2019, de EUR 47,5 milhões, acompanhada de uma redução de quota de 12,9% para 9,8% (mais à frente veremos que essa redução tem continuidade nos valores já conhecidos em 2020). A Áustria manteve ao longo do período uma tendência decrescente que termina com EUR 83,4 milhões e 7%. As importações com a origem na Suíça apresentam uma diferente especialização. Deste modo, não são importantes para efeitos de comparação.


BUSINESS / Contudo, devido a números diferentes de Valores Unitários4 (uma espécie de preço médio), é necessário proceder à análise da evolução em peso. O peso tem uma correspondência física não sujeita a orientações comerciais de preço. Deste modo, é possível caracterizar que as importações em peso com origem na China são superiores à soma dos quatro restantes países representados. Por um lado, uma avaliação de valores unitários evidencia uma diferença importante da Suíça, mas que não interessa para termos de comparação. Por outro, é possível identificar que a mudança de valor das importações austríacas é acompanhada certamente por uma mudança de especialização, que termina o intervalo com um valor unitário de 27,1 EUR / kg, muito longe dos cerca de 10 EUR / kg do início do período. Os restantes três países reportam, em 2019, os seguintes valores unitários: Portugal – 23,6 EUR / kg; Itália – 19,8 EUR / kg; e, China – 15,7 EUR / kg. No caso da China, a evolução deste valor unitário entre 2015 (18,4 EUR / kg) e 2019 é em tudo semelhante ao percurso da taxa de câmbio da moeda chinesa (CNY ou renminbi), isto é, durante o período em causa as exportações chinesas deixaram o seu território a preços médios constantes na sua moeda de origem. Os valores unitários das exportações portuguesas evidenciam um crescimento pequeno, mas contínuo ao longo do período como um patamar de resistência à competição. Interessa refletir que fatores competitivos podem melhorar este posicionamento face ao crescimento da rivalidade internacional e sectorial.

// F-10 . Alemanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, toneladas, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados5 de ITC - Trademap

// F-11 . Alemanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, valores unitários, EUR / kg , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap


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/ NEGÓCIOS

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ESPANHA O peso das importações no consumo aparente constitui a principal característica do mercado espanhol de moldes para plástico ou borracha — Figura 12. Assim, para um consumo aparente num patamar médio um pouco inferior a EUR 450 milhões (EUR 432 milhões, em 2019), as importações situam-se em valores um pouco superiores a EUR 300 milhões (EUR 358 milhões, em 2019) e a produção em torno dos EUR 200 milhões (EUR 204 milhões, em 2019). Com as exportações a evidenciarem uma tendência crescente e a produção um patamar constante, é previsível um aumento do peso das importações.

// F-14 . Espanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha,% , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap

A análise da Figura 15 permite a identificação de uma significativa evolução física (em peso) das importações, que inclui a natureza diferenciada dos valores unitários — Figura 16. Em peso, as importações da China representam cerca de 92% da soma dos restantes países representados, incluindo Portugal. No caso de Espanha, isto significa uma presença física clara nos processos produtivos dos moldes chineses.

// F-12 . Espanha, Mercado, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC - Trademap

As importações são disputadas por dois principais protagonistas — Portugal (34,4%) e China (28,5%) — que somados, em 2019, representaram 62,9 % das entradas, seguidos pela Itália (10,1%), pela Alemanha (7,8%) e pela França (4,4%). Contudo, Portugal e China apresentam percursos diferenciados. Enquanto Portugal tem mantido uma quota entre 30% e os 35%, a China tem crescido de forma regular para a posição atual.

// F-15 . Espanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, toneladas, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados7 de ITC - Trademap

// F-13 . Espanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados6 de ITC - Trademap

// F-16 . Espanha, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, valores unitários, EUR / kg , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap



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A evolução dos valores unitários — Figura 16— introduz dois patamares definidos – Portugal e China — com valores médios desde 2015 de 21 EUR / kg e 14 EUR / kg, respetivamente. A Alemanha e a Itália evidenciaram percursos mais sinuosos, mas superiores em valor. A evolução francesa não permite uma avaliação correta.

Seguiram-se Alemanha e Itália com valores próximos de EUR 40 milhões e 11% de quota. Por último Espanha exibiu, no intervalo, valores próximos de EUR 20 milhões e 5% de quota.

Como para o caso da Alemanha, a redução do valor unitário das exportações chinesas parece corresponder à correção devida à variação da taxa de câmbio da moeda.

FRANÇA No mercado francês — Figura 17 — a produção doméstica — EUR 612 milhões — manteve um papel dominante. Contudo, as importações, com EUR 362 milhões em 2019, desempenham, igualmente, um papel decisivo. Embora com uma ligeira descida, a produção e o consumo aparente mantiveram um nível constante, ao contrário dos outros dois mercados analisados.

// F-19 . França, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha,% , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap

// F-17 . França, Mercado, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC - Trademap

Uma análise da evolução das importações permite identificar Portugal e China como os dois principais protagonistas no domínio das entradas. Os dois países em conjunto representaram valores perto de 50% das importações desde 2015.

// F-20 . França, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, toneladas, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados9 de ITC - Trademap

Contudo, desde 2017, Portugal tem reduzido o seu valor e quota, em 2019: EUR 69 milhões e 18,8% respetivamente.

// F-1 . França, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, EUR milhões, 2010 – 19 Fonte: Autor - dados8 de ITC - Trademap

// F-21 . França, Importações, Moldes para Plástico ou Borracha, valores unitários, EUR / kg , 2010 – 19 Fonte: Autor - dados de ITC - Trademap


BUSINESS /

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EUA Os Estados Unidos são um mercado histórico para as empresas nacionais e continuam a constituir objeto de atenção embora, nos últimos anos, os fluxos de comércio tenham sido limitados. O conjunto do consumo das duas categorias NAICS10, 333511 (Industrial Molds) e 333514 (Special Die and Tool, Die Set, Jig, (…)), representou USD 18,6 mil milhões em 2018 e as importações USD 4 mil milhões em 2019.

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Por categorias, a NAICS333511, próxima da nossa especialização produtiva, apresenta um consumo aparente USD 8,1 mil milhões em 2018 e importações de USD 2,5 mil milhões em 2019. Este resultado representa uma redução de 9% em relação ao ano anterior, 2018. Apesar desta redução, este indicador continua expressivo no seu valor e, do mesmo modo, continua apelativo na sua dimensão. // F-24 . EUA, Mercado, NAICS333514 Special Die and Tool, Die Set, Jig, (…), USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap e www.census.gov Nota: valores de 2017 estimados

Dada a natureza da presença portuguesa — através de exportações — e da especialização — moldes para plástico ou borracha — interessa uma análise mais detalhada das importações dos EUA nesta categoria. Os EUA são um país importador — USD 2,4 mil milhões — e limitadamente exportador USD 0,7 mil milhões. Contudo, as exportações são fortemente continentais, 64% com destino o México

// F-22 . EUA, Mercado, NAICS 333511 + NAICS 333514, USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap e www.census.gov Nota: valores de 2017 estimados

// F-25 . EUA, Total Importações de Moldes para Plástico ou Borracha, USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap

// F-23 . EUA, Mercado, NAICS333511 Industrial Molds, USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap e www.census.gov Nota: valores de 2017 estimados

// F-26 . EUA, Total exportações de Moldes para Plástico ou Borracha, %, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap


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e 14,7% direcionadas ao Canadá. Os outros destinos são muitos fragmentados, como o exemplo dos seguintes países evidencia: 2,8% Alemanha; 2,1% China; e 0,9% Costa Rica. As importações de moldes para plástico ou borracha sofreram uma redução de 12,3% entre 2018 e 2019. As importações são dominadas pelo Canadá — USD 0,974 mil milhões em 2019 — e uma quota em torno dos 40% desde o ano de 2015. Contudo, a China tem feito o seu percurso crescente em todo o intervalo em análise. Em 2019, as importações com origem na China representavam USD 0,423 mil milhões e 17,9% de quota. De salientar que, apesar da redução do valor total das importações e das limitações ao comércio em resultado da guerra comercial, a quota de mercado da China ainda cresceu três décimas em relação ao ano anterior. // F-29 . EUA, Importação de Moldes para Plástico, Concorrentes, USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap Nota: valores em espelho

// F-27 . EUA, Importações de Moldes para Plástico ou Borracha, Países, USD milhões, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC11 – Trademap // F-30 . EUA, Importação de Moldes para Plástico, Concorrentes, milhares de Kg, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap Nota: valores em espelho

// F-28 . EUA, Importações de Moldes para Plástico ou Borracha, Países, %, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap

Uma avaliação das importações deverá levar em conta não só o fluxo em valor, mas também em peso. Embora estas comparações devam levar em conta as diferentes especializações dos países em comparação, a dimensão da amostra é suficiente para garantir a viabilidade da comparação. Em peso, as importações com origem na China são semelhantes às oriundas do Canadá. Esta observação atribui um papel muito superior aos moldes chineses do que uma mera observação do valor.

// F-31 . EUA, Importação de Moldes para Plástico, Concorrentes, USD/ Kg, 2010 – 19 Fonte: autor - dados de ITC – Trademap Nota: valores em espelho

Uma análise dos valores unitários evidencia três a quatro patamares: o mais elevado refere-se ao Canadá, com valores em torno dos 40 USD / kg e o mais baixo relativo à China, com valores de 18 USD / kg. As importações com origem no México estão reportadas num patamar dos 30 USD / Kg. As importações com base em Portugal apresentam, em geral, valores inferiores às mexicanas, o que nos deveria levar a uma reflexão sobre o seu posicionamento.



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4. PERSPETIVAS PARA 2020 O resultado deste ano é perspetivado a partir da informação mensal já existente, até ao mês de junho, e dos dados históricos de anos anteriores. A avaliação inclui dois instrumentos: 1. A análise do volume acumulado de exportações dos meses com dados existentes de 2020, de janeiro a junho, comparados com o valor acumulado dos anos anteriores; 2. A análise do volume acumulado dos 12 meses anteriores, isto é, de junho de 2019 a junho de 2020, quando comparado com períodos idênticos de anos anteriores.

4.1 PRINCIPAIS MERCADOS ALEMANHA

// F-35 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

As exportações para a Alemanha exibem um comportamento negativo, qualquer que seja o instrumento de análise. O valor acumulado nos primeiros seis meses é inferior aos anos anteriores, em particular, uma redução de 23% em relação ao mesmo período de 2019. Da mesma forma, a avaliação do valor acumulado de junho a junho é inferior em 21% ao período anterior correspondente. Perspetiva: com os dados atuais, -23% a -21% inferior a 2019.

ESPANHA

// F-32 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-36 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-33 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a Junho, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-34 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-37 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat


BUSINESS /

// F-38 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-39 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

As exportações para a Espanha exibem um comportamento negativo, qualquer que seja o instrumento de análise. O valor acumulado nos primeiros seis meses é inferior ao do ano de 2019 em -35%. Da mesma forma, a avaliação do valor acumulado no último período de junho a junho revela uma redução de -15%. Perspetiva: com os dados atuais, uma redução de -15% a -35%.

FRANÇA As exportações para a França apresentam um comportamento negativo em ambos os períodos em análise. O valor acumulado nos primeiros seis meses é inferior ao de 2019 em cerca de -14%. Da mesma forma, a avaliação do valor acumulado de junho a junho é de -24% quando comparado com o correspondente período anterior.

// F-40 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat


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// F-44 . Exportações, Moldes para Plástico ou Borracha, Principais Mercados, Estimativas, EUR milhões, 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-41 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-45 . Exportações, Moldes para Plástico ou Borracha, Principais Mercados, Estimativa Agregada, EUR milhões, 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

4.2 MERCADOS DO LESTE EUROPEU // F-42 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

EUROPA DO LESTE - REPÚBLICA CHECA, POLÓNIA, ESLOVÁQUIA, HUNGRIA, ROMÉNIA A análise conjunta das exportações para este grupo de países tem em conta que a maioria das encomendas é dirigida à indústria automóvel e que as indústrias destes países fazem parte dos sistemas produtivos automóveis europeus. No conjunto, a análise apresenta uma evolução positiva relativamente a 2019: +7,0% últimos seis meses; +3,1% de junho a junho.

// F-43 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

Perspetiva: com os dados atuais, entre -14% e -24%. Uma avaliação em conjunto dos três principais mercados permite uma caracterização negativa da evolução dos três mercados, embora com algumas diferenças. As exportações para a Alemanha e para a França evidenciam a continuação de uma tendência decrescente. Para o mercado espanhol, embora essa tendência decrescente se mantenha, parece ser matizada por um comportamento oscilante ao longo dos anos. De qualquer forma, parece ser evidente que as eventuais consequências da Covid-19 se entroncam com uma continuidade do passado. Como resultado, a evolução conjunta prevista destes três mercados, em 2020, representa uma redução de -30% a -39% quando comparado com o melhor valor de 2018.

// F-46 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat


4.3 MERCADOS DA AMÉRICA DO NORTE A análise conjunta das exportações para este grupo de países tem em conta a integração industrial existente. Contudo, as exportações portuguesas para o Canadá continuaram marginais. No conjunto, a análise apresenta um decréscimo relativa a 2019: -34,5% no primeiro semestre; -44,6% junho-a-junho. Contudo, existem evoluções diferentes. Por um lado, as exportações para os EUA apresentam uma dinâmica fortemente decrescente em todas as

// F-47 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-50 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-48 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-49 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

// F-51 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a junho, EUR milhões, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

Contudo, existem evoluções diferentes. A República Checa (+15,8% e ≈ EUR 20 milhões no primeiro semestre) e a Roménia (+172% e ≈ EUR 10 milhões no primeiro semestre) exibem um comportamento positivo. Os restantes países evidenciam percursos negativos: Polónia (-31,8% e ≈ EUR 10 milhões no primeiro semestre), a Eslováquia (-19,3% e ≈ EUR 5 milhões no primeiro semestre) e a Hungria (-13,6% e ≈ EUR 2 milhões no primeiro semestre). Perspetiva conjunta: com os dados atuais, entre +3,1% e 7,0%.

// F-52 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, Início em janeiro, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

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84 // F-54 . Perspetiva Integrada de Evolução para 2020, EUR milhões, 2010-2020 Fonte: autor // F-53 . Exportações Mensais Acumuladas, Moldes para Plástico ou Borracha, junho a Junho, Diferenças, %, 2017 a 2020 Fonte: autor - dados Eurostat

análises: -58,2% no primeiro semestre; -56,8% de junho-a-junho. No entanto, as exportações para o México evidenciam um carácter misto, negativo ao longo do ano (junho-a-junho) de -15,3%, mas positivo no primeiro semestre de +16,7%. Perspetiva conjunta: com os dados atuais, entre -44,6% e -34,5% (positiva para o México + 16,7%).

4.4 OUTROS MERCADOS Para completar a lista dos países apresentada, faltam Marrocos, a Itália, o Brasil e o Reino Unido, cujos gráficos não serão disponibilizados. Os três primeiros países apresentam evoluções positivas, ao contrário do último, que exibe uma redução das exportações: • Marrocos (+117,5% e EUR 8,2 milhões no primeiro semestre);

negativas, poderá ter lugar em 2020 uma redução superior a duas centenas de milhões de euros de faturação quando a comparação é realizada com os anos de 2017 e 2018.Da mesma forma, os dados confirmam um agravamento das condições competitivas, com um acentuar da rivalidade com as importações extracomunitárias com origem na China. Representadas com valores unitários (EUR / kg) mais baixos, as importações chinesas estão a par em valor com as portuguesas em mercados como o francês ou espanhol, e ultrapassam-nas como na Alemanha e também nos EUA. Quando avaliada em peso, a perceção da extensão da utilização industrial de moldes de origem chinesa acentua-se. Notas: 1 - Europa: Correspondência entre normas de produção e de comércio internacional

• Itália (+13,2% e EUR 9,9 milhões no primeiro semestre);

Produção (Prodcod)

Comércio Internacional (HS/CN)

Designação Simplificada

• Brasil (+255% e EUR 4,6 milhões no primeiro semestre);

25.73.50.20

8207 30 10

Ferramentas de embutir, de estampar ou de puncionar

25.73.50.13

8480[.10 + .20 + .30(.90)]

Caixas de fundição, placas de fundo para moldes, modelos para moldes

25.73.50.15

8480 30 10

Modelos para moldes, de madeira

25.73.50(.20 +.30)

8480(.41 + .49)

Moldes para metais ou carbonetos metálicos

25.73.50.50

8480 50

Moldes para vidro

• Reino Unido (-34,0% e EUR 7,5 milhões no primeiro semestre). A avaliação conjunta do Resto do Mundo exibe indicadores de -2,3% e EUR 49 milhões nos seis primeiros meses.

5. CONCLUSÕES Esta análise toma como indicador-base de evolução o valor mensal das exportações, disponibilizado pelos serviços estatísticos com um atraso médio de três meses. Este indicador é eficiente para a indústria portuguesa, caso em que o sector apresenta uma componente exportadora dominante. Como tivemos oportunidade de evidenciar, o mercado doméstico tem crescido e tornou-se, isoladamente, o principal destino da produção nacional. Deste modo, estas previsões podem ser melhoradas ou agravadas, em resultado do percurso do mercado doméstico, sem informação mensal oficial. De acordo com a análise realizada, o ano de 2020 vai confirmar uma tendência decrescente que se iniciou em 2019 — Figura 3. Esta redução vai ser mais acentuada se a pressão para a diminuição no primeiro semestre de 2020 se confirmar, - 15,6%, ou será menor se a linha descrita pelo percurso de junho-a-junho prevalecer. Independentemente do valor concreto da redução, esta avaliação confirma um decréscimo do mercado europeu. Uma avaliação conjunta das duas componentes deste artigo introduz uma perceção mista. Por um lado, — Figura 54 —, apesar da redução de mercado e de produção, a componente portuguesa (quota) relativa continuou a crescer, quer o rácio entre a produção portuguesa / produção UE28, quer o rácio entre as exportações nacionais para a UE28 / consumo aparente UE28. Esta evolução apenas foi suavizada no último ano. Por outro lado, a confirmarem-se as estimativas mais

25.73.50.60

8480 60

Moldes para matérias minerais

25.73.50(.70 + .80)

8480(.71 + .79)

Moldes para borracha ou plástico

2 - EUA: Correspondência entre normas de produção e de comércio internacional NAICS 333511 Industrial Molds Manufacturing 333514 Special Die and Tool, Die Set, Jig, and (…)

Fluxo

HS

Exportação

845611; 845612; 848041; 848049; 848050; 848060; 848071; 848079

Importação

845420; 848020; 848041; 848049; 848050; 848060; 848071; 848079

Exportação

820720; 820730; 846620

Importação

820720; 820730; 846620

____________ 1 - “A Covid 19: forte catalisador de mudança nas políticas industriais” 2 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores directos. 3 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 4 - Medida comum em comércio internacional que resulta da divisão do valor em EUR pelo correspondente valor em peso (EUR / kg). 5 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 6 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 7 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 8 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 9 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos. 10 - Consultar notas finais sobre a composição e correspondência às categorias usadas no comércio internacional — normas HS — . 11 - As importações obtidas em espelho, isto é, a partir das exportações declaradas por todos os países de origem, face aos erros grosseiros dos valores diretos.


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BUSINESS /

DECISÃO E INCERTEZA Vítor Ferreira * * Diretor Executivo Startup Leiria / Docente Politécnico de Leiria

Todos os dias tomamos milhares de pequenas decisões. A maioria delas é baseada na nossa experiência passada ou intuição. Algumas decisões envolvem um horizonte temporal alargado, outras um horizonte mais curto. Em gestão, cedo aprendemos que a qualidade e a quantidade das decisões que tomamos são essenciais para o sucesso da nossa organização e que o ambiente onde nos movemos não é isento de risco ou incerteza. No entanto, embora muitas vezes usados de forma intermutável, os conceitos de risco e incerteza são bastante diferentes. Esta distinção é particularmente importante quando pensamos em termos de gestão ou em termos económicos. Risco ocorre quando múltiplas alternativas são possíveis e conhecemos todas aquelas consideradas relevantes, as suas consequências e as probabilidades de as mesmas ocorrerem (por exemplo, na lotaria). Para este problema, o pensamento estatístico é útil.

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A incerteza ocorre quando não conhecemos todas as alternativas, as suas consequências e probabilidades. Ou seja, a maioria das atividades humanas encaixa no mundo da incerteza. Neste cenário, a intuição e heurística devem ser combinadas com pensamento estatístico (usamos dados históricos, modelos, para conseguir uma aproximação que permita ter probabilidades, com margens de erro). Na Economia faz-se ainda a distinção entre incerteza substantiva e processual. A primeira resulta da “falta de todas as informações que seriam necessárias para tomar decisões com previsões de certos resultados”. Em contraste, a incerteza processual surge das “limitações sobre os recursos computacionais e cognitivos dos agentes para perseguir inequivocamente os seus objetivos, dada a informação disponível”. Basicamente, vivemos num mundo onde não temos toda a informação necessária e, por outro lado, mesmo tendo milhões de pontos de dados, não conseguimos “computar” toda essa informação para chegar a uma resposta clara.


/ NEGÓCIOS

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Imagine o leitor que era o gestor de projetos da Bell Labs e decidia cancelar o projeto de William Shockley, anulando assim a invenção do transístor, que levaria mais tarde à criação dos semicondutores, na génese de todas as tecnologias que sustentam o mundo moderno. Ou que nos anos 30, decide manter a sua aposta em vidro soprado em vez de adotar a produção de garrafas industriais em moldes. Ou que acreditaria que o plástico nunca seria importante nas nossas vidas (qualquer destas decisões levaria a bloquear o desenvolvimento da indústria de moldes na Marinha Grande).

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Este tipo de incerteza crítica é particularmente relevante em momentos de transição tecnológica (o “Dilema do Inovador”), levando a que as empresas incumbentes acreditem mais num futuro conservador em que continuem líderes e desvalorizem a importância de tecnologias emergentes – no fundo, o que aconteceu à Kodak quando inventou a fotografia digital – como a empresa era líder da tecnologia química de imagem e todo o seu modelo de negócio era baseado em produzir máquinas baratas, mas ganhar dinheiro com a revelação/filme para fotografias, decidiu não apostar na nova tecnologia, deixando empresas mais pequenas explorar o que primeiro era apenas um nicho e depois um mercado inteiro, que “matou” o anterior (um pouco o que aconteceu com os grandes fabricantes automóveis e os carros elétricos).

Uma parte do pensamento económico sempre advogou a racionalidade perfeita e maximizadora dos agentes (sendo que apenas a assimetria de informação levaria a decisões que não atingiriam um determinado “ótimo”), quando parece evidente que a racionalidade é imperfeita ou limitada. Se usarmos o binómio conhecimento e consciência, teremos algo como: Known-Known: eventos conhecidos à partida e que podem por isso ser facilmente identificados, analisados, planeados, monitorizados e respondidos em conformidade. Neste caso podemos estudar e planear. Known-Unknown: é sabido que dado risco existe, mas o mesmo não é compreendido inteiramente, isto é, é difícil caracterizar a sua probabilidade ou impacto. Devemos explorar para antecipar. Unknown-Known: riscos que muitas vezes se manifestam por distração, pois são riscos ignorados não por impossibilidade de os prever, mas por falha na análise de informação histórica disponível. Esta é uma situação de amnésia e exige uma maior atenção do gestor. Unknown-Unknown: riscos sobre os quais existe um desconhecimento total, isto é, verifica-se um estado de inconsciência sobre este tipo de riscos. Estas são as situações de incerteza total e crítica. Serve esta introdução teórica para refletir sobre a natureza das nossas decisões enquanto gestores ou responsáveis políticos. Uma decisão de investimento em hotelaria, em dezembro de 2019, pareceria particularmente acertada face à tendência económica, dados históricos do turismo e outras previsões. Hoje sabemos que essa decisão, no curto-prazo, estava errada. Por outro lado, quem investiu em ações de empresas tecnológicas (do Zoom à Microsoft), teve um retorno muito superior ao que certamente antecipava. Por outro lado, ainda, decisões podem ter implicações de longo prazo complexas e cumulativas.

A propósito disso, Henry Ford costumava afirmar que se perguntassem a alguém o que gostaria de ter como meio de transporte no final do século XIX, a resposta seria “cavalos mais rápidos”, alertando assim para a necessidade de as empresas “criarem” o futuro. Quanto mais longínquo o horizonte temporal maior a incerteza. Grandes empresas hoje usam os seus recursos para fazer isso mesmo, explorar vários futuros alternativos em que continuam a ser líderes (ou uma versão disso, onde compram as empresas com tecnologias emergentes que lhes poderiam vir a fazer frente). A lição passa por prever, desenhar estratégias e construir cenários alternativos, sabendo sempre qual o caminho crítico da organização (e, sempre, ter uma boa dose de autonomia financeira para fazer face ao inesperado.) Bons gestores combinam heurística, intuição e modelos estatísticos para diminuir o risco, ou melhor, aproximar decisões de um ambiente de certeza. No final, se o inesperado acontecer, é preciso reerguer e traçar novos caminhos, sem se penitenciar por decisões passadas, porque nos negócios e na vida é possível fazer tudo bem e ter um mau resultado.

“Pequenas empresas, como as que caracterizam o nosso tecido empresarial, têm de estar duplamente atentas, quer às mudanças tecnológicas, quer a mudanças políticas, quer a problemas inesperados como a atual pandemia (um “cisne negro”).”



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/ GESTÃO DE PESSOAS

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GESTÃO DE PESSOAS

O NOVO NORMAL DA FORMAÇÃO CRIAR AMBIENTES DE TRABALHO SAUDÁVEIS


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PEOPLE MANAGEMENT /

O NOVO NORMAL DA FORMAÇÃO Ana Timóteo * * CEFAMOL

A pandemia funcionou como um acelerador de mudança e motivou a adoção de novas metodologias de aprendizagem. Urge pensar fora da caixa, antecipar, adaptar e redesenhar a formação nas empresas e, assim, continuar a acompanhar e a investir no desenvolvimento, atualização e aperfeiçoamento das competências dos recursos humanos. Em contexto de economia global, uma forma de as empresas assegurarem a sua competitividade assenta numa performance de qualidade por parte dos seus colaboradores, pelo que uma medida estratégica universalmente aceite incide na aposta em programas de formação eficientes, que ilustrem um planeamento detalhado e representem um desenvolvimento sistemático das competências dos recursos humanos, ao nível das soft e hard skills, para um eficaz desempenho das suas funções.

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Organizam-se e desenvolvem-se ações que respondem a necessidades previamente identificadas, mobilizando, para a sua conceção, equipas internas e externas de modo a garantirem o sucesso da estratégia inicialmente delineada. Contudo, nem o mais minucioso plano de formação conseguia ter antecipado a crise de saúde pública global e os seus efeitos no contexto corporativo. Se já todos ouvimos falar em momentos VUCA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade), os últimos meses são, indubitavelmente, o espelho disso. Mas será esta a “nova realidade”? O que aconteceu à formação, durante a pandemia de Covid-19? A CEFAMOL realizou uma breve auscultação aos Responsáveis de RH/Formação do sector e reuniu o feedback de várias empresas. Delas, 33% registaram uma redução do orçamento a alocar a projetos de formação e 16,7% viram mesmo suspensas as suas atividades


/ GESTÃO DE PESSOAS

N 127 OUTUBRO 2020

«Iremos optar pela formação híbrida, pois o objetivo será o mesmo» «Acredito na possibilidade de ser adotado um formato híbrido, nomeadamente as formações que se realizarem fora da zona geográfica e como forma de poupar tempo nas deslocações» «Assim que possível vamos voltar à formação presencial, quer porque algumas áreas assim o exigem, quer porque as empresas ainda não estão preparadas para formação online, exclusivamente. No entanto, considero que a modalidade digital nunca mais poderá ser descurada e será uma área a manter e desenvolver. A integração das duas modalidades será o caminho»

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«Formato híbrido, devido à facilidade de acesso à formação e a possibilidade de gestão do tempo de quem participa» «A modalidade digital provou ser eficaz, pelo que certamente continuará a ser adotada para situações específicas» / / Caixa 2 | Feedback sobre a modalidade de formação a adotar futuramente

formativas devido a fatores como o lay off, o próprio desconhecimento do vírus e o risco inerente de contágio. Para as restantes, a formação não parou, mas teve de ser, de facto, repensada. Repentinamente, as empresas começaram a explorar os recursos digitais e as ações presenciais deram lugar ao online, ao live training, ao e-learning, em que as comuns salas de formação se viram substituídas por plataformas virtuais como o Zoom, o Microsoft Teams ou outras desenvolvidas internamente, com capacidade para a dinamização de webinares, workshops, conferências ou outros eventos à distância. Mudanças que demorariam anos a acontecer, registaram-se em poucos dias, o que nos leva a questionar se terá sido a pandemia o gatilho necessário para acelerar a mudança na formação. E que dificuldades se verificaram? De acordo com a amostra de respondentes, a adaptação a esta nova modalidade foi de relativa facilidade, sem grandes constrangimentos a assinalar, embora tenha sido um grande desafio conseguir ajustar os conteúdos de caráter mais prático à esfera digital. Ainda assim, o balanço da experiência à distância é favorável, com uma percentagem esmagadora das empresas inquiridas (91%) a demonstrar a convicção de que a formação online veio para ficar. Esta solução não só permitiu economizar tempo e recursos financeiros, como também se revelou bastante positiva pela qualidade dos formadores e dos conteúdos programáticos, que correspondeu às expectativas dos formandos. Ilustrativa desta opinião é a caixa 1, com algumas transcrições originais. «Apresenta várias vantagens, como é exemplo a possibilidade de participar em ações de formação que pela distância seriam mais difíceis de frequentar, os custos são mais baixos e há uma maior rentabilidade do tempo» «É uma mais-valia, evita as deslocações, geralmente é mais barata» «A formação desenvolvida online, até ao momento, prendeu-se com a participação em seminários e workshops que corresponderam às expectativas» «Bons formadores, tendo os objetivos sido cumpridos» / / Caixa 1 | Feedback sobre a experiência de formação profissional online

Como será o novo normal da formação? É impossível clicar na tecla «pausa» na formação dos colaboradores, porque as suas funções tão-pouco deixam de lhes exigir competências pessoais e técnicas. Torna-se, por isso, imprescindível (re)formar para os desafios atuais e vindouros e um modelo de formação híbrido (blended learning), que integre as modalidades presencial e online, assumese como uma estratégia viável. E as empresas que participaram no estudo também partilham desta convicção, chegando a afirmar que se trata de uma alternativa que oferece o melhor dos dois mundos e que proporciona uma interessante e enriquecedora experiência de aprendizagem (ver caixa 2).

Existe um conjunto de boas práticas que pode e deve ser considerado para preparar as empresas para este «novo normal»: 1 - Constitua uma equipa de resposta: coordene esforços entre as equipas de recursos humanos e de informática, para que seja realizado um levantamento das mais recentes necessidades formativas dos colaboradores, para que se decida sobre o que tem de ser veiculado presencialmente e o que pode ser adaptado ao digital e para que sejam disponibilizadas as devidas ferramentas tecnológicas para a realização das ações de formação online; 2 - Proteja os seus colaboradores nas ações de formação presenciais: sensibilize-os para a importância da utilização de equipamentos de proteção individual e da manutenção do devido distanciamento, mesmo estando garantidas a segurança e higienização dos espaços onde serão realizadas as ações; 3 - Garanta que a formação online é user-friendly: os colaboradores não têm todos a mesma literacia informática, pelo que é importante garantir que as ferramentas online selecionadas são de fácil e intuitiva utilização; 4 - Humanize o digital: não devemos deixar que o distanciamento social imposto nos afaste também enquanto seres humanos. Canalize esforços para continuar a acompanhar os seus colaboradores e para reunir o seu feedback quanto às suas novas experiências de aprendizagem, ajustando-as mediante as necessidades; 5 - Tire partido dos programas de apoio, sempre que possível: o governo português, através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), concebeu e atribuiu apoios financeiros à gestão da formação empresarial, como o Apoio à Retoma - Formação Profissional e o Apoio Extraordinário de Formação. A formação dos colaboradores enfrenta uma realidade que exige adaptação, mas não pode parar, uma vez que a competitividade das empresas depende da qualidade da performance dos seus recursos humanos. Todos precisamos de nos reinventar, de reorganizar os nossos recursos e de lhes facultar as competências e os meios, para que, juntos, possamos enfrentar um mundo em permanente mudança. O blended learning (modelo de formação híbrido) parece ser o caminho a seguir, um caminho promissor que permitirá contornar constrangimentos e transformar os desafios apresentados pela Covid-19 em oportunidades desafiantes. Nesse sentido, a CEFAMOL, enquanto entidade formadora certificada, reagiu e tem vindo a reinventar a sua oferta formativa, através de um planeamento personalizado que responde eficazmente às necessidades identificadas, recorrendo à atividade online e trabalhando continuamente para garantir as devidas condições de segurança das sessões que vierem a ser realizadas presencialmente.


PEOPLE MANAGEMENT /

REVISTA MOLDE CEFAMOL

CRIAR AMBIENTES DE TRABALHO SAUDÁVEIS Artur Ferraz * * Consultor Gestão de Pessoas [IBC - International Business Consulting]

91 O “novo normal” tornou-se rapidamente uma das muitas expressões que começaram a fazer parte do nosso léxico este ano. Esta expressão sintetiza um conjunto de práticas diárias que constituem uma mudança drástica de hábitos de vida profissionais, sociais, familiares, pessoais. Num espaço de tempo muito curto tivemos de nos adaptar a essas práticas que consistem, sobretudo, em pequenas rotinas diárias diferentes das que utilizávamos antes da situação pandémica atual. O contexto atual é um contexto de mudança. Não uma mudança lenta e quase impercetível, mas uma mudança drástica e, em alguns casos, muito violenta, por exigir afastamento de pessoas que nos são muito próximas. Durante os últimos anos, temos trabalhado em muitas organizações as implicações da mudança e das exigências do mundo VUCA em que a volatilidade, a incerteza a complexidade e a ambiguidade, são constantes e, como tal, têm de ser sempre equacionadas nos processos de tomada de decisão. Como refere Herzog (1991), a chave para enfrentar com sucesso o processo de mudança é a gestão das pessoas. Para ele, o grande desafio nas organizações é mudar as pessoas e a cultura organizacional, renovando os valores para alcançar uma vantagem competitiva. Nas organizações, quando se operacionalizam estes processos de mudança, os resultados nem sempre são visíveis no curto prazo, os hábitos de trabalho não se mudam em dias, semanas ou anos, nem em ações de curto prazo. Nestes contextos, a paciência e a persistência são características fundamentais para garantir o sucesso nas ações.

Trata-se de um processo lento, mas direcionado para o desenvolvimento de hábitos e rotinas de trabalho que orientam as pessoas para a resolução de problemas e orientação para o cliente, privilegiando o trabalho de equipa e as competências relacionais e de cooperação. O impacto visível nas organizações está sempre direcionado para o desenvolvimento de canais de comunicação entre as diferentes áreas funcionais, habituadas muitas vezes a desenvolver a sua atividade em pequenas “quintas” funcionais. Ao serem desenvolvidas estas ligações, as pessoas tendem a expandir as suas competências técnicas obtendo resultados de performance muito significativos. Como muitas vezes nos referem as pessoas nestes processos, - os problemas continuam a existir e as situações complexas são mais do que muitas, mas agora as questões são tratadas com simplicidade e os problemas são resolvidos. Quando o nosso foco é a resolução dos problemas e não o encontrar culpados, os resultados tendem a ser mais eficazes e o ambiente organizacional é mais saudável. Ambientes de trabalho tóxicos criam pessoas apáticas e sem vontade de estabelecer relações de cooperação e resolução de problemas. Este acaba por ser um dos grandes desafios das organizações para o curto prazo - desenvolver ambientes de trabalho saudáveis e virados para a resolução dos problemas e das questões do dia a dia -, precisamos de preservar as pessoas e a sua energia para conseguirem lidar com a complexidade e volatilidade atual. Precisamos de ser facilitadores de ambientes de trabalho saudáveis!


N 127 OUTUBRO 2020

/ RFLEXÕES

UM MUNDO COM VÁRIOS MUNDOS 92

João Faustino * * Presidente da CEFAMOL

A população mundial, em pleno século XXI, vive o maior drama e ameaça ao que poderá ser a nossa vida futura, a curto, médio e longo prazo. Após vários anos de crescimento, de melhorias no bem-estar dos cidadãos (melhoria nos cuidados médicos, aumento da esperança média de vida, melhor ambiente social, maior abrangência de regalias para a generalidade das populações, etc.), eis que, assim, num estalar de dedos, tudo paralisou. O/s ambiente/s de modernização das infraestruturas de desenvolvimento de tecnologias que facilitam as operações no trabalho, tornando-as menos cansativas, mais otimizadas e mais automatizadas foram na sua grande maioria, suspensas. Os milhões de professores e estudantes que após o ensino básico, estudam assuntos mais complexos, mais estruturantes e mais inovadores, e que colocam, por vezes, em causa a teoria do conhecimento divulgado ao longo dos séculos, projetando-nos para um novo mundo, que continua a ser desafiante, promissor e expectante.

O mundo avançou e passaram 50 anos, com vantagens e desvantagens para a humanidade e para os povos. Afinal, nunca se pode ter tudo. Passados 50 anos da chegada à Lua existem, cada vez mais, novos desafios pela conquista do espaço. Atualmente, são vários os países que colocam todo o engenho, arte e saber para chegarem ao planeta Marte (Novo Mundo). São desafios ambiciosos, alicerçados por muita engenharia física e espacial para chegar ao planeta vermelho. Estes desafios têm como base, colocar em Marte sondas capazes de transportar robots que, com toda a tecnologia científica disponível, possam estudar e reportar-nos quanto à possibilidade da existência de água no subsolo, vida passada, entre muitos outros fatores. Estas viagens de cerca de 55 milhões de Km, que envolvem montantes de investimento astronómicos, capazes de erradicar a fome e a pobreza de muitos (mas muitos), milhões de pessoas no mundo atual, prometem a obtenção de conhecimento para proteger a humanidade e ultrapassar os dramas futuros com os quais certamente nos iremos deparar.

No entanto, o drama atual que passa pela proteção e pela desconfiança, entre uns e outros, porque ninguém sabe se…, baralha os sentidos de orientação de cada um de nós.

Quem sabe, talvez nesse local, seja possível fabricar moldes mais baratos, respondendo assim aos desígnios dos nossos clientes, que contribuem para a controvérsia atual na nossa atividade.

O mundo evoluiu e continua a evoluir em todas as frentes. Há 50 anos, o desafio de duas potências económicas em desbravar espaço e ir à Lua, foi atingido. Foi um feito, fora de contexto para uma época, onde a pobreza da maioria dos países ombreava com falta de condições a todos os níveis. Nesta altura vivia-se com poucas condições de trabalho, insegurança no emprego e a contestação da população fazia parte do dia-a-dia, em especial, na Europa.

Não é, e provavelmente nunca mais será como dantes, segundo a opinião dos que têm conhecimento na matéria. No entanto, o mundo gira diariamente na procura de soluções para podermos viver mais tempo, mas esse mais tempo será certamente também acompanhado por mais stress, mais nervos, mais ansiolíticos, mais guerras, mais lutas, mais adversidade e menos qualidade de vida.

O trabalho na nossa indústria, “a dos moldes”, era artesanal, muito valorizado para quem tinha jeito para trabalhar com o martelo e punção. Naturalmente que já existiam máquinas, mas os cálculos eram feitos com régua e esquadro, papel, lápis e borracha, sendo a prova dos nove, uma das grandes mais-valias para aferir se o cálculo estava de facto correto. Nesta altura não havia clusters, o conceito “Engineering & Tooling” ainda não tinha sido inventado, no entanto, o “from Portugal”, já estava na moda, um pouco pelos quatro cantos do mundo.

Neste mundo atual, nós, na indústria dos moldes, vamos tentando resistir e sobreviver em harmonia com o desenvolvimento paralelo de outros países, que procuram novas soluções capazes de trazer mais conhecimento para todos e, quem sabe, se dentro de algum tempo não estaremos a encomendar tratamentos térmicos em Marte, porque parece que as peças temperadas por ali, conservam eternamente a qualidade do brilho e ficam imunes de riscos, de acordo com os novos requisitos dos nossos clientes. São novos desafios dos novos mundos…



10.2020

CIBERSEGURANÇA LOCALIZAÇÃO DE PEÇAS, PRODUTOS E MATERIAIS FABRICO ADITIVO HÍBRIDO POTENCIA AUMENTO DA VIDA ÚTIL DOS MOLDES

DESAFIOS COMPETITIVOS EM 2020

Nº ISSN 1647-6557

ANO 31 . N127 . €4,50

CEFAMOL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE MOLDES

Periocidade Trimestral

ESPECIAL /


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