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Coragem de entrar no novo mundo
Pedro Duarte
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O filósofo italiano Giorgio Agamben afirma que “ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem”. Por que, entretanto, ser contemporâneo exigiria de nós a coragem? Desde o começo de 2020, o mundo contemporâneo todo foi trazido a uma experiência comum com espantosa velocidade: a pandemia de Covid-19. O novo coronavírus espalhou-se aceleradamente, aproveitando e explicitando a mutação do mundo globalizado, que nos lança cada vez mais diante da tarefa de “pensar sem corrimão”, como dizia Hannah Arendt, ou seja, sem os amparos das “categorias cediças e puídas” da tradição. O medo do contágio e a angústia pela maior proximidade da morte incitaram, porém, um recuo diante do mundo. Viver junto teria se tornado uma ameaça à saúde. Como o filósofo português José Gil observou, o sentimento do medo nos afetou profundamente. O medo, como ele aponta, pode ser relevante, pois traz lucidez, mas também pode nos paralisar e isolar. Por isso, José Gil defende que, além do medo, é bom ter medo do medo. Será isso uma forma de coragem de que precisamos? Por um lado, a pandemia transformou nossa experiência com o mundo e traz medo. Por outro lado, ela intensificou a mutação já em curso no mundo e exige coragem. Guimarães Rosa escreveu que a vida quer da gente é coragem. Clarice Lispector escreveu sobre a coragem que há em, ao invés de buscar saídas, achar um meio de entrada. O objetivo desta conferência é abordar a coragem como a virtude exigida para se entrar na mutação em que vivemos e pensá-la em sua radicalidade sem precedentes.
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