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As ambiguidades da coragem

Jorge Coli

Coragem, impulso da alma, do coração (de onde, etimologicamente, a palavra deriva), tem uma natureza original masculina: coragem viril, coragem guerreira: Platão, noLaques, começa definindo a coragem como a virtude do soldado. A coragem seria uma força, instintiva e cega, que busca o perigo por amor a ele? Essa energia militar do caráter possui suas ambiguidades. Seria ela de fato positiva ou inteiramente positiva? Essa questão parece, de imediato, absurda, pois a pulsão da coragem é considerada de maneira tão positiva, que seu oposto, a covardia, configura-se como uma injúria intolerável. É importante refletir sobre o valor positivo ou negativo dessas pulsões, cuja força é pontual. A coragem pressupõe o instante e o enfrentamento; associa-se menos à constância, a não ser que surja como explosão a partir de um eixo temporal. Nesse sentido, poderia se distinguir a coragem da firmeza moral? Mais ainda, a própria tensão impulsionada pela coragem não significa um aumento de processos destruidores? Numa batalha, são duas coragens, de mesma natureza, que se confrontam, uma precisa da outra para existir. O medo surge como um pressuposto para a explosão da coragem, ele deve ser vencido para que a energia combativa se manifeste. Um consequente, no entanto, é o prazer do ato corajoso, por si próprio, mesmo quando inútil ou daninho. As carnificinas guerreiras, celebradas nas artes, na literatura, na música, como valores heroicos (herói, esse ser que encarna a coragem) não são elas horrores produzidos pelas volúpias corajosas? Por outro lado, a covardia é forçosamente negativa? Não haveria no temor que induz ao recolhimento dimensões positivas?

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