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Do Paraíso perdido à terra prometida: coragem e exílio

Olgária Matos

Trata-se de interrogar sobre a aventura do emigrado e do exílio voluntário ou forçado, a coragem daqueles que se arriscam, enfrentando o desconhecido, na ruptura com o mundo familiar, lançando-se na incerteza do futuro e na alteridade radical. Nesse sentido, o exilado é simultaneamente um pós-exilado, fora de um território e fora de sua identidade, sob o espectro da terra perdida. Como observa Shmuel Trigano: “Não há consciência imediata do exílio, já que é só depois, depois da partida, que o exílio revela que se habitava um lugar”.

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Por isso, ela não se reduz à “ciência do que é preciso temer e do que é preciso ousar”. Se, para Aristóteles, os marinheiros que enfrentam um mar tempestuoso não são verdadeiramente corajosos porque podem se apoiar em sua experiência e dominar o perigo, os emigrantes da contemporaneidade, enfrentando as distâncias, os desertos e os mares em precárias condições, dão prova de coragem porque não se encontram mais em condição de qualquer segurança. A coragem é o enigma da decisão da partida. Nela, não é que a coragem vença o medo; antes, o medo não conta mais. Ela é um passo no vazio: “No vazio não se pode avançar sem aquele elemento de loucura de que Kierkegaard suspeitava em Abraão”. Por isso, Derrida observou que “o instante da decisão é uma loucura [...]. Sem essa desolação, se se pudesse propriamente contar com aquilo que virá, a esperança não seria senão o cálculo de um programa”. A coragem é a capacidade de agir depois que a catástrofe aconteceu. É inovar correndo riscos.

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