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Sobre a Virtude da Coragem e o Desafio da Verdade
Oswaldo Giacoia Junior
Coragem é a força com a qual pode-se enfrentar grandes perigos. Mas é também aquela força de resistência e constância, especialmente a fortaleza em face da paixão do medo, mesmo nas mais extremas circunstâncias. Vivemos em meio a uma conjuntura opressiva e desalentadora, num aturdimento em que a verdade parece ter sido reduzida a ‘um movimento no interior do falso’. Na desolação, é necessário coragem para recuperar o vínculo originário entre a filosofia, o exercício do pensamento e a exigência de verdade, inscrita no coração do lógos. “Mas existe algo, em mim, que chamo coragem: até agora, sempre matou em mim todo desânimo. A coragem também mata a vertigem ante os abismos: e onde o ser humano não estaria diante de abismos? O próprio ver
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não é - ver abismos?” 1 Como virtude, a coragem situa-se no centro nevrálgico do pensamento de Nietzsche, exigência incontornável de uma forma de vida lastreada na probidade intelectual, assumida na tensão máxima de seus comprometimentos.
Nós filósofos, escreve Nietzsche, “temos que parir nossos pensamentos em meio a nossa dor, dando-lhes maternalmente todo sangue, coração, fogo, prazer, paixão, tormento, consciência, destino e fatalidade que há em nós. Viver – isto significa, para nós, transformar continuamente em luz e flama tudo o que somos, e também tudo o que nos atinge; não podemos agir de outro modo”.2 Também Michel Foucault parece ter visado este mesmo compromisso originário, ao definir parresia como coragem para a verdade e o dizer verdadeiro: uma palavra que “do lado de quem a pronuncia, equivale a um compromisso, equivale a um nexo, constitui um determinado pacto entre o sujeito da enunciação e o sujeito da conduta. O sujeito que fala se compromete. No momento mesmo em que disse ‘digo a verdade’, ele se compromete a fazer o que diz e a ser sujeito de uma conduta obediente ponto por ponto à verdade que formula” 3. É a partir destas referências principais que esta palestra abordará o tema do desafio e da coragem para a verdade, com os quais somos hoje confrontados.
1 Nietzsche, F. Assim Falou Zaratustra. III. Da Visão e do Enigma. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:Companhia das Letras, 2011, p. 149. 2 Nietzsche, F. A Gaia Ciência. Prefácio, 3. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 13. 3 Foucault, M. HS, 248, 356.