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A variante audaciosa
Luiz Alberto Oliveira
Tal como antevisto por Marx há cerca de 150 anos, o triunfo global do capitalismo implica sua ultrapassagem, em virtude de um fato incontornável – os limites espaciais, temporais e funcionais do sistema complexo Terra não permitem a conversão exponencial de recursos em bens (e resíduos) que permitiria manter, como um ponto de fuga no infinito, a acumulação incessante e crescente do capital. O capitalismo, plenamente vitorioso, assume hoje a feição de uma moléstia planetária, e não parece dispor dos meios de adaptar seu ímpeto motriz para atender as emergências atuais, isto é, de transformar sua voracidade expansiva em flexibilidade perdurável, de modo a assimilar a aproximação iminente de diversos limiares críticos de ciclos naturais essenciais e coordenar suas atividades tendo em vista os extensos prazos desses ciclos. Um dos indícios mais significativos dessa disfuncionalidade é precisamente a concentração acelerada da maior parte dos recursos em circulação para um pequeno número de entidades bilionárias, drenando e sufocando a operação dos micro-e-meso-empreendimentos que formam a imensa maioria do “mercado”. A construção de caminhos viáveis para que a civilização humana possa vir a alcançar um estatuto verdadeiramente planetário constitui portanto um desafio, sobretudo político, de caráter existencial – exigindo estruturas que engendrem derivas inovadoras e sínteses imprevistas para responder criativamente às demandas da mutação revolucionária que se vive.
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